DOM JOÃO WILK Bispo de Anápolis - GO Rua Bernardo Sayão, Q. I-1, Lt. 1 Vila N. Sra. D'Abadia 75120-675 ANÁPOLIS - GO Cx. Postal 178 (CEP 75001-970) TeleFax: (062) 3313.1868; E-mail: [email protected] 19o CONGRESSO TEOLÓGICO "DEUS FILHO E A CATEQUESE" 14 -17 de maio 2015 _________________________________________________________ Transmissão de Jesus Cristo na história da Igreja Dom João Wilk, Bispo de Anápolis «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14,6). "Se eu não houvesse conhecido o Cristo, Deus seria um vocábulo vazio de sentido... Era necessário que Deus se imergisse na humanidade..., pronunciasse certas palavras, cumprisse certos atos, para que eu me jogasse de joelhos." (François Mauriac, Vita di Gesù). Com o título "Transmissão de Jesus Cristo na história da Igreja" queremos expressar o itinerário da fé cristológica ao longo da história, como a fé se formulou, como foi acolhida, quais aspectos foram acentuados, como se expressou em nível doutrinal, litúrgico, pastoral, de piedade popular e na arte. Naturalmente, é um tema vasto. Mas, para o nosso fim, nos limitaremos aos tópicos selecionados. É um tema que se aproxima do conceito teológico da Tradição (com "T" maiúscula") e ds tradições (com "t" minúscula). Ambas, monumentos ou testemunhas ou transmissores do conteúdo da fé, mas em graus diferentes. Esses transmissores da fé são chamados também de "lugares teológicos", ou seja, fontes onde o teólogo procura o material para o seu trabalho de reflexão e sistematização. Quais são esses "lugares teológicos" ou "transmissores da fé" Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 1. Sagrada Escritura e Tradição Apostólica (kerygma apostólico); 2. Magistério da Igreja; 3. Símbolos da fé; 4. Liturgia; 5. Concílios e Sínodos; 6. Escritos dos Padres da Igreja; 7. Teologia em geral; 8. Catequese e Catecismos; 9. História da Igreja; 10. Sensus fidei dos fiéis, vivência da fé e piedade popular; 11. Arte sacra. Destes, para o nosso interesse, escolhemos os seguintes: kerygma apostólico, símbolos da fé, piedade popular, simbologia cristológica. 1. Kerygma Apostólico. Qual é o conteúdo básico, o núcleo central da pregação apostólica? Está expresso na primeira pregação de São Pedro, na praça pública, após a vinda do Espírito Santo: "Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem credenciado por Deus junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou entre vós por meio dele, como bem o sabeis. Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte. (...) De fato, Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas. E agora exaltado pela direita de Deus, ele recebeu o Espírito Santo e o derramou, como estais vendo. (...) Portanto, que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes" (At 2, 22ss). Portanto, o conteúdo da primeira pregação é: Jesus enviado pelo Pai, crucificado, ressuscitado, glorificado, constituído Senhor e Salvador. São Paulo evidencia o sumo e eterno sacerdócio de Jesus, o único mediador e pontífice entre Deus e a humanidade, crucificado, vencedor da morte, ressuscitado, primícias dos que morrem. São João destaca a natureza divina, o Verbo Eterno, encarnado, em quem tudo foi feito, luz e vida para os homens. 2. Símbolos da fé. Não se trata de sinais-símbolos, mas de profissões de fé concisas adotadas na Igreja. Entre os mais conhecidos encontram-se quatro: Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 a) Símbolo dos Apóstolos Compõe-se de três partes, correspondentes às três perguntas dirigidas aos que recebiam o Batismo. Constitui uma profissão fé no "Deus cristão", ou seja, na Santíssima Trindade. A forma mais primitiva do Credo remonta ao século II: "Creio em Deus Pai todo-poderoso e em Seu Filho único, nosso Senhor Jesus Cristo, e no Espírito Santo, e na ressurreição da carne, na santa Igreja católica". As especificações teológicas desse Credo parecem ter sido formuladas como uma refutação do gnosticismo, antiga heresia. Por exemplo, afirma que o Cristo, Jesus, nasceu, sofreu e morreu na cruz. Na forma como o conhecemos hoje, surgiu no século IV (na fala de S. Cesário de Arles). Em Roma se encontra na primeira metade do século IV, mas numa forma menos desenvolvida. É o mais comum que hoje nós usamos. É utilizado também por outras denominações cristãs, com suas variações. b) Símbolo de Nicéia-Constantinopla O Concílio de Nicéia (325), condenando as doutrinas errôneas de Ário, formulou uma profissão de fé em três partes, desenvolvendo a segunda parte, a cristológica. Enfatizou aquelas verdades que haviam sido falsificadas por Ário. A fé no Espírito Santo foi expressa de forma muito concisa. Trata-se do Símbolo de Nicéia. O Símbolo de Nicéia-Constantinopla (381), ou o nosso Credo da Missa mais longo, amplia a terceira parte, sobre o Espírito Santo. Resume de forma mais exata os principais artigos da fé. A profissão (o Símbolo) constituía o fruto dos debates conciliares. A partir do século V tornou-se o Símbolo oficial do Batismo da Igreja grega. Foi introduzido na liturgia da Missa primeiramente pelos monofisitas (séc. V). No Ocidente foi introduzido na Missa no século XI. c) Símbolo Atanasiano(Quicumque) Compõe-se de duas partes, ou duas profissões de fé: na Santíssima Trindade e na encarnação. Com certeza não provém de Sto. Atanásio. Surgiu provavelmente no início do séc. VI na Gália meridional. No séc. VII começa a ser atribuído a Sto. Atanásio. Desde o séc. IX era recitado no breviário para a Hora Prima do domingo. d) Credo do Paulo VI Como na antiguidade, na época do pós-Concílio, a fé sofria ameaças à sua Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 integridade. O Beato Paulo VI formulou a Profissão de fé que levava em conta as discussões teológicas do momento. O Papa proclamou-o no dia 30 de junho de 1968, para o encerramento do Ano da Fé. Formulou a fé da Igreja na Santíssima Trindade, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, em Maria sempre Virgem, no pecado original, na Igreja, na Eucaristia, nos anjos e na vida eterna. 3. Catequese e Catecismos O Antigo e o Novo Testamento, o Kerygma dos Apóstolos e a catequese da Igreja são cristocêntricos: Qui propter nós homines et propter nostram salutem descendit de coelis. É importante, em breves traços, apresentar o caminho da catequese e dos catecismos. A catequese (κατηχέω) significa "instruir a viva voz", o ensino oral, instrução religiosa, dos seus mistérios, princípios e código moral. É o processo de educação na fé, aprendizagem e aprofundamento no Kerygma, ou seja do primeiro anúncio da fé. É feita a viva voz, por um instrutor, o catequista, portanto, tem o aspecto comunitário. a) Nos Atos dos Apóstolos a catequese consta como uma das características dos primeiros cristãos: "Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações (At 2, 42). Variações da palavra catequese (catequizando) aparecem na carta aos Gálatas 6,6: "Aquele que recebe o ensinamento da Palavra torne quem o ensina participante de todos os bens". Assim, também, em Lucas 1, 4 se diz que Teófilo "foi catequizado": "Para que conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste". b) Didaquê É o primeiro catecismo propriamente dito da era cristã - Διδαχń, "ensino", "doutrina", "instrução" em grego clássico. É a Instrução do Senhor para as nações segundo os Doze Apóstolos (Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin) ou Doutrina dos Doze Apóstolos. O título lembra a referência aos Atos dos Apóstolos: "perseveravam na doutrina dos apóstolos" (At 2, 42).É um escrito anônimo, do primeiro século da era cristã, provavelmente entre anos 60-70 ou 80-90. Escrito na Palestina ou Síria. É uma compilação anônima de diversas fontes derivadas da tradição viva das comunidades eclesiais. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 É de senso comum que não foi escrito pelos doze Apóstolos. Contudo, os estudiosos acreditam na compilação de fontes orais dos ensinamentos que resultaram na elaboração do texto. Qual o seu conteúdo? Além da catequese e liturgia cristã, é recomendado o Evangelho de Jesus. A Didaquê também cita a oração do “Pai Nosso” como sendo “ensinada pelo Senhor” e termina com a afirmação em consonância com o livro do Apocalipse de que Jesus voltará: ... conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele". Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu." No texto da Didaquê também são reforçados o Batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo argumento para os que aceitam o dogma da Trindade, contrapondo-se aos não trinitários que afirmavam que não existiam escritos cristãos do primeiro século que defendessem o Batismo no nome de Jesus. A respeito de Jesus, ainda sobre o Batismo, diz que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor [Jesus] disse: "Não deem as coisas santas aos cães". A sua importância é que sustenta argumentos de que existiam escritos do primeiro século apoiando a defesa da tese teológica de que Jesus é Deus. Sobre questões polêmicas como o Batismo, adverte sobre o Batismo por imersão, sendo admitido por aspersão na inexistência de água corrente. A Didaquê também acentua a disposição ao jejum por parte do candidato ao Batismo e daquele que o vai batizar por cerca de três dias antes do Batismo. Na Didaquê há uma similaridade quando se refere ora ao Pai como o Senhor, ora a Jesus como o Senhor, o que é aceito por alguns como a interposição entre as duas Pessoas. Faz a distinção da Pessoa do Pai, chamando Jesus de "servo do Pai". A Didaquê faz registro da celebração da Eucaristia:"Reuni-vos no dia do Senhor, para a fração do pão e dardes graças..." Cita diretamente ou faz menção indireta a diversos livros do Novo Testamento: Mateus, Lucas, I Epístola aos Coríntios, Hebreus, I Epístola de Pedro, Atos dos Apóstolos, Romanos, Efésios, Carta aos Tessalonicenses e Apocalipse. c) Catecismos na Idade Média. Os catecismos dos tempos modernos encontram os seus primeiros Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 inspiradores no século XIII, quando por toda a Igreja soprava um forte desejo de reforma. O espírito de reforma manifestava-se nos movimentos "pauperísticos", inspirados no Cristo pobre, mas com forte sentido de heresia. Ao mesmo tempo, as Ordens Mendicantes (Franciscanos, Dominicanos, Carmelitas) dedicavam-se à pregação popular e à difusão de opúsculos com o intuito de instruir e vencer a ignorância religiosa do povo. Nessa época intensifica-se a arte a serviço da fé ou "bíblia páuperum", paredes das igrejas sendo decoradas com cenas bíblicas. Exemplos eloquentes disso podem se ver nos afrescos de Giotto, Cimabue, Lorenzetti na basílica de São Francisco em Assis. Entre outros, sirva como exemplo o afresco de Pedro Lorenzetti inspirado na pregação do Papa Gregório IX na cerimônia da canonização de São Francisco. Na formação humana e doutrinal há de se destacar a importância das escolas paroquiais e dos mosteiros. Pela primeira vez, porém, o nome de "catecismo" foi usado em 1375 pelo arcebispo de York (Inglaterra): "Lay folks Catechism. Meio século depois, o Concílio de Tortosa (1413) determinou que se elaborasse "breve compêndio" da doutrina cristã, inspirando-se nas obras de São Tomás de Aquino. d) Antes do Concílio de Trento. Já estava no ar o espírito da reforma de Martinho Lutero, que fazia muitas publicações para divulgar as suas teses reformadoras. A produção de catecismos se intensificou com a invenção da imprensa. Da parte católica são conhecidas as obras de apostolado e os catecismos elaborados por São Pedro Canísio e, depois do Concílio de Trento, os de São Roberto Belarmino. As suas grandes preocupações eram: combater a ignorância religiosa, a indiferença religiosa e iniciar os cristãos nas verdades fundamentais da fé. Alguns títulos: Summa da doutrina cristã em perguntas e respostas (1555), Catecismo mínimo (1556), Instruções cristãs (1589), de São Pedro Canísio, só de imagens e breves legendas. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 e) Do Concílio de Trento ao Vaticano II O Concílio de Trento (1545-1563) foi convocado pelo Papa Paulo III, no desejo de reformar e fortalecer a Igreja, de definir a doutrina e promover a renovação da Igreja. Por decreto do Concílio foi elaborado um catecismo, denominado Catecismo Romano ou Catechismus ex Decreto Concilii Tridentini ad parochos. Foi publicado em 1566 por São Pio V. Pretendia-se que fosse elaborado a partir da Sagrada Escritura e dos Santos Padres. A sua redação, porém, não atingiu o povo; serviu mais como referência para os párocos. Surgiram, então, numerosos catecismos simplificados e os em perguntas e respostas. Catecismo Romano ou de São Pio V (1567). Na América Latina, particular atenção merece São Turíbio de Mongrovejo, Arcebispo de Lima (Perú), primeira jurisdição da América Latina (1581). Durante os 25 anos do episcopado fez três visitas pastorais no vastíssimo território da sua jurisdição, visitando as mais longínquas aldeias dos índios. Para a eficácia da missão aprendeu línguas indígenas e compôs o primeiro catecismo na língua indígena. Reformou os costumes dos espanhóis colonizadores e do clero. Aos que se justificavam: - Fazemos o que é costume fazer aqui..., respondia: Mas Cristo é verdade, e não costume! Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Catecismo Brasilico da Doutrina Cristã, com cerimonial dos Sacramentos e atos paroquiais. Composto por Padres da Companhia de Jesus, aperfeiçoado pelo Padre Antônio de Araújo, da mesma Companhia. Lisboa 1586. Catecismo na língua Timuquana e Castiliana (1627), no qual se instruem e catequizam os adultos infiéis que hão de ser cristãos. E não menos útil para os que já são cristãos. Composto pelo Pe. Frei Francisco Parejas, Religioso da Ordem de N. Seráfico Pai S. Francisco, e padre da Província de Santa Elena da Flórida, natural de Auñem diocese do Arcebispado de Toledo. Editado no México, 1627. Catecismo Histórico ou Compêndio da História Sagradae da doutrina cristã, para instrução das crianças, com perguntas, respostas e lições seguidas, para ler nas escolas. Composto por Abade Fleuri. Traduzido do francês para a utilidade da terna juventude e decorado com 16 belas gravuras. Havana 1862. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Catecismo Maior e Catecismo Menor de São Pio X (1905). Fruto de aproximação dos movimentos litúrgico, catequético, e bíblico. O Catecismo da Igreja Católica surgiu após a Assembleia Extraordinária do Sínodo dos bispos em comemoração do vigésimo ano do Concílio Vaticano II, em 1985. O desejo dos padres sinodais foi um catecismo que abordasse a doutrina católica de forma geral, servindo de referência para os catecismos a serem preparados em diversos lugares do mundo. O Papa São João Paulo II, em 1986, confiou ao cardeal Joseph Ratzinger a responsabilidade de presidir uma Comissão composta por doze cardeais e bispos para preparar um projeto para o catecismo. Foi entregue à Igreja em 11 de outubro de 1992. É expressiva a logomarca do Catecismo: Representa uma pedra sepulcral cristã das catacumbas de Domitila (Roma), do final do século III. Esta imagem é usada para simbolizar o repouso e a felicidade que Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 a alma do falecido encontra na Vida Eterna. A figura sugere alguns aspectos que caracterizam o Catecismo da Igreja Católica: Cristo Bom Pastor, que conduz e protege seus filhos (a ovelha) com sua autoridade (o cajado), os atrai pela melodiosa sinfonia da verdade (a flauta) e os faz repousar à sombra da "árvore da vida", sua cruz redentora que abre o paraíso. O Catecismo é dividido em quatro partes que se integram entre si: 1 – A profissão de fé (o que cremos); 2 – A celebração do Mistério salvífico (a fé celebrada - sacramentos); 3 –A vida em Cristo (a fé vivida – dimensão moral da fé); 4 – A oração cristã, a partir do Pai Nosso. O Compêndio do Catecismo é a versão breve, em forma de perguntas e respostas. O Youcat é o catecismo da juventude, com metodologia dinâmica, divulgado principalmente nas Jornadas Mundiais da Juventude. 4. A figura de Jesus Cristo no "imaginário religioso". Por "imaginário" não entendemos a imaginação, fantasia, mas a forma como o povo e os teólogos percebem a identidade de Jesus Cristo e a expressam com criatividade: com palavras, devoções, música e arte em geral. Percebe-se que nas diferentes épocas da nossa história a visão de Cristo se desloca, acentuando aspectos específicos. a) Na antiguidade, é acentuada a relação entre Cristo e os fiéis, os benefícios espirituais que traz a divindade de Jesus para a pessoa crente. Normalmente, esta relação é representada pelas imagens de Cristo Bom Pastor, segurando a ovelha nos ombros. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Outra forma de expressar esta relação é a figura "orante", em pé, com as mãos erguidas, abertas para receber as bênçãos, entregando-se à bondade de Deus, projetando a sua vida para o Deus infinito. Esse período é marcado pelas pinturas e esculturas principalmente nas Catacumbas. b) Na Era Constantiniana. Com a liberdade dada aos cristãos de professar e viver a sua Constantino, fé, Jesus concedida também pelo Imperador passa a ser compreendido como Imperador, Rei supremo, acima de qualquer rei, triunfante. Até na cruz, ele não é concebido como sofredor, mas como rei vitorioso, glorioso. c) Na Idade Média alta há uma radical mudança de atenção. O Evangelho é lido com um realismo humano. Jesus é Deus que se fez homem, despojado da sua majestade divina ("kénosis"), Cristo pobre e crucificado. Esta visão é diretamente ligada ao surgimento dos movimentos chamados pauperísticos – Christus pauper, Cristo que se fez pobre por nossa causa. Exemplo eloquente dessa visão é a espiritualidade de São Francisco de Assis: contempla a grandeza de CristoDeus na humildade e pobreza humana. Contempla Cristo na pobreza da Encarnação (Presépio), da Cruz e da Eucaristia. A escolha de viver a pobreza tem a inspiração cristológica-sobrenatural. É mais Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 do que a imitação do Cristo pobre. É a própria Pobreza que ele abraça e desposa. A pobreza é o sinônimo da divindade, assim como o amor: "Deus é amor" (1 Jo 4,8). d) Na Idade Média tardia e na Renascença aflora a espiritualidade da Cruz. Em boa parte também pela influência do movimento franciscano, mas não somente. Torna-se forte a representação do Cristo crucificado, desfigurado ao máximo, a contemplação da caveira, expressão do desprezo pela vida terrena em vista de ganhar a vida eterna pela cruz do Senhor. Na arte, São Francisco é representado como quem ajuda Jesus a descer da Cruz, ajuda Jesus na hora do sofrimento, assume o seu sofrimento, assume na própria carne a Paixão do Senhor. O Mistério da Salvação é celebrado como resgate pelo alto preço do sofrimento do Filho de Deus. Desenvolve-se a Teologia da Cruz. Esta espiritualidade marcou profundamente a Espanha e Portugal e, consequentemente, o Novo Continente. Ela ficou enraizada na vivência da fé católica. Até hoje, em todos os países da América Latina, a fé é compreendida e expressada como compaixão com o Cristo sofredor: tradições populares na Semana Santa, procissões do Encontro, do Senhor Morto, Via Sacra ao vivo etc. No sul da Polônia, p. ex., é comum encontrar nas encruzilhadas das estradas as capelinhas com a escultura do "Cristo aflito" – Cristo que se entristece pela pobreza extrema e pelo sofrimento do povo da Polônia ocupada pela Áustria, Prússia e Rússia. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 e) O Século XX e o Concílio Vaticano II acentuaram o Mistério da Salvação na sua integridade: Paixão, Morte e Ressurreição, ápice do Mistério da Salvação – a verdadeira Páscoa. Na liturgia, na reflexão teológica, na ação pastoral, na arte, acentua-se mais o aspecto da Ressurreição, que antes permanecia no segundo plano. 5. Simbologia Cristológica. Na teologia é comum dizer: fides quaerens intellectum – a fé precisa de compreensão intelectual e de organização sistemática dos seus conteúdos. Por analogia, podemos também dizer: fides quaerens exprossionem – a fé procura se expressar, tornar-se visível e comunicativa. Esta necessidade se manifestou em todos os tempos em forma de numerosas expressões simbólicas dos mistérios de Jesus Cristo. O significado de um símbolo é diferente do significado de um sinal. O sinal indica diretamente aquilo que quer significar. Por exemplo: a água, indica o significado direto das suas qualidades: mata sede, lava, purifica, é pura etc. Assim a sua representação indica propriamente estas suas características, mesmo se figuradas. O símbolo, ao contrário, une as duas realidades aparentemente diferentes. A palavra mesma símbolo, do grego symbàllò, “posto junto”, exprime esta capacidade de unir. Somente um acordo, uma convenção mais ou menos concordada cria o legame que uma vez aceito torna-se também emotivamente significativo (por exemplo a bandeira ou o hino de uma nação, não são a Nação e todavia conseguem nos emocionar). Para os cristãos ortodoxos o símbolo representa a presença real (embora espiritual) daquilo que é representado. Por isso eles mostram tanta devoção pelas pinturas (ícones) que são consideradas sacros. O simbolismo religioso, por suas características de simplicidade, imediatez e universalidade, facilita a compreensão e a difusão de conceitos chaves. As imagens sacras (quadros, afrescos, estátuas) são igualmente símbolos que ajudam a oração e reforçam a devoção. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Privados dos lugares de culto público, a arte dos primeiros cristãos se desenvolveu nas casas privadas e nas catacumbas, adotando símbolos e atribuindo a eles um significado mais profundo de vida interior. Diga-se ainda que a este estágio as imagens não são objeto de culto: elas não são veneradas, porque não são representações diretas de Cristo ou da Virgem Maria, mas permanecem totalmente na esfera evocativa do simbolismo. a) Kyrios(Κύριος) É um símbolo-aclamação, um nome que os primeiros cristãos adotaram ao se referir a Jesus Cristo ressuscitado e glorificado, constituído Senhor. Inspira-se na Carta aos Filipenses 2, 9-11: 9 Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Neste texto combinaram entre si o esquema judaico da exaltação, isto é, a perspectiva escatológica, e a cristologia da preexistência, isto é, a perspectiva protológica. Na aclamação "Kyrios" Jesus se situa à mesma altura de Deus. Na última parte do hino se faz clara referência a Isaías 45,23: ante mim se dobrará todo joelho, jurará toda língua. Em Isaías é Deus mesmo aquele que fala. Diante Dele deve dobrarse todo joelho. Quando no hino se refere a estas sentenças de Isaías, é Jesus quem ocupa o lugar de Deus, porém no seguinte sentido: quando todo joelho se dobra ante Jesus, toda glória é dada a Deus Pai. Jesus é a palavra definitiva e a ação definitiva de Deus, determinante para a Criação, determinante para a história em sua totalidade. Ele é o Senhor! Nele se expressou Deus totalmente. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 b) Peixe (Ichthys) É o primeiro símbolo usado pelos cristãos e constitui uma profissão de fé. O termo Ichthys (ἰχϑύς, peixe) é um símbolo religioso do Cristianismo porque é o acrônimo de uma frase que constitui a profissão da fé. Cada letra da palavra Ichthys é inicial da seguinte frase: Ιησοῦς Χριστός Θεoῦ Υιός Σωτήρ (Iesùs CHristòs THeù HYiòs Sotèr) Jesus Cristo Filho de Deus Salvador A simbologia cristã dos tempos da perseguição no império romano (século I-IV) é muito rica. Por causa do perigo e da ameaça da qual eram objeto da parte das autoridades imperiais, os seguidores de Jesus sentiram a necessidade de inventar novos sistemas de identificação que sancionassem a sua pertença à comunidade sem despertar suspeitas entre os pagãos. O traço de peixe era empregado como sinal de reconhecimento: quando um cristão encontrava um desconhecido de quem tinha necessidade de conhecer a lealdade, traçava um sinal no chão, um dos arcos que compunham o ichthys. Se o outro completava o sinal, os dois indivíduos se reconheciam como seguidores de Cristo e sabiam que podiam confiar um no outro. Ainda: o peixe aparece sendo utilizado desde as origens, sobretudo na pintura e nas placas funerárias e tende a desaparecer já com o advento da era constantiniana. Unido a um cesto de pães e a um cálice de vinho evoca a Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Eucaristia. O peixe pode representar também o fiel salvo por Cristo, o batizado. c) A âncora A âncora, imagem também muito antiga e frequentemente conexa ao peixe foi considerada como sinônimo da esperança da vida eterna e, por sua forma, como alusiva à cruz. A combinação âncora-peixe assaz significativa no plano dos conteúdos, recorre entre o fim do II e no início do III séculos em um grupo de inscrições gregas e latinas funerárias. A forma antiga da âncora cristã é aquela com dois braços que se entrecruzam, às vezes com um anel na parte superior onde se passava a corda. Mas, exatamente por sua forma característica, torna-se bem cedo um modo alternativo para representar a cruz cristã, especialmente naquele período no qual era perigoso revelar a própria pertença religiosa. Assim, bastou acrescentar uma barra à metade da haste, tornando-se de fato uma cruz velada. Pelos primeiros três séculos a encontramos muitas vezes retratada sobre as sepulturas e sobre os epitáfios. Depois de Constantino desapareceu quase completamente, sendo substituída pela cruz. d) A cruz cristã A cruz cristã é o símbolo cristão mais difundido, reconhecido em representação todo o mundo. É uma estilizada do instrumento usado pelos romanos para a tortura e execução capital através da crucificação, o suplício que foi infligido a Jesus Cristo. Todavia, trata-se de uma forma simbólica muito antiga, um arquétipo que antes do Cristianismo havia já assumido um significado universal: representa a união do céu com a terra, da dimensão horizontal com a vertical, ligando os quatro pontos cardeais e é usada para mensurar e organizar as plantas dos edifícios e das cidades. Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Com o Cristianismo assume significados novos e complexos como a recordação da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; e como advertência do convite evangélico a imitar Jesus em tudo e por tudo, aceitando pacientemente também o sofrimento. e) O Cristograma O Chi Rho é por antonomásia o monograma de Cristo (nome abreviado em chismom ou crismon). É um monograma constituído essencialmente pela sobreposição das primeiras duas letras do nome grego de Cristo: X (equivalente a “ch” no alfabeto latino) e P (que indica o som “r”). Algumas outras letras e símbolos são frequentemente acrescentadas. Largamente empregado principalmente em Roma e sobretudo na epigrafia funerária, no curso do século IV se enriquece progressivamente, na sua valência simbólica, com o acréscimo, aos seus lados, das letras apocalípticas A e Ω (princípio e fim). f) O Cordeiro É a imagem de Cristo. Símbolo de doçura, de simplicidade, de inocência, de pureza e de obediência. Pelo seu comportamento manso e por sua cor branca, o cordeiro em todos os tempos foi considerado o animal sacrifical por excelência. Depois da profecia de Isaías, "Deus fez recair sobre ele a iniquidade de nós todos. Maltratado e ele sofre e não abre a boca, semelhante ao cordeiro conduzido ao matadou ro", João Batista dirá de Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 Jesus que Ele vinha ao encontro no vale do Jordão: "Eis o cordeiro de Deus: eis Aquele que tira os pecados do mundo". Na sexta-feira Santa Jesus, como vítima expiatória, assume sobre si os pecados da humanidade e assume o sentido do sacrifício do cordeiro preparado pela páscoa hebraica e o papel salvífico do sangue com o qual os hebreus tinham assinalado as suas portas antes do extermínio. Por este padecer, as mais antigas imagens o mostram deitado e não em pé. O símbolo, porém, remete-se também ao Cristo ressuscitado e glorificado, como se lê mais vezes no Apocalipse. Neste caso, o dócil animal se afirma não como o purificador do mundo, mas também como o dominador, e a iconografia medieval o apresenta com uma cruz que lhe trespassa o corpo de parte a parte e em direção à qual a sua cabeça se volta com a boca semiaberta a convidar com as palavras do Senhor: “Vinde a mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis o repouso de vossas almas”. Estamos, naturalmente, habituados a escutar na Missa:"Eis o Cordeiro Deus, aquele que tira o pecado do mundo!"(Jo 1, 29, 36) Sobre os lábios de João Batista talvez há um remeter-se ao cordeiro simbólico caro à literatura popular conhecida como “apocalíptica”: é, então, o cordeiro manso e indefeso que paradoxalmente dobra e derrota as feras do mal. Também no Apocalipse de João se lê que o seguidores da besta satânica “combaterão contra o Cordeiro (Cristo), mas o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis" (17,14). O símbolo remete-se espontaneamente também ao cordeiro pascal: é isso que o Evangelista reafirmará quando recordará que ao Cristo crucificado não foram quebradas as pernas, tal como acontecia ao cordeiro imolado na Páscoa que não tinha nenhum osso quebrado (Jo, 19, 36). Uma terceira alusão é, porém, ainda mais relevante: do Servo sofredor messiânico, cantado pelo profeta Isaías; se diz que "era como um cordeiro conduzido ao matadouro." (Is 53, 7). g) Pelicano Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 É símbolo da Eucaristia. Para compreender como deve ser vivida uma existência eucarística nos vem ao encontro o símbolo do pelicano, um pássaro que vive na Europa Oriental, na Ásia sul-ocidental e na África, e ao qual se atribui um importante significado alegórico. Simboliza Cristo que doa o próprio corpo como alimento e o próprio sangue como bebida durante a Última Ceia. A razão é ligada à compreensão, segundo a qual este pássaro nutria os seus pequenos filhotes com a própria carne e o próprio sangue. Com efeito, é curioso como este pássaro marinho retém o alimento pescado em uma bolsa que tem na parte inferior do bico e junto ao ninho nutre os seus pequenos filhotes, curvando o bico em direção ao peito para extrair os peixinhos. Os antigos pensavam que o animal dilacerava suas carnes para fazer sair o sangue com o qual nutrir os pequenos pelicanos famintos. Por isso, o pelicano se tornou, durante a Idade Média, o símbolo da abnegação com a qual se amam os filhos e tem de fato a alegoria do supremo sacrifício de Cristo, pregado na cruz e trespassado o lado do qual brotaram o sangue e a água, fonte de vida para a salvação dos homens. Eis porque ele comparece frequentemente esculpido em muitos altares ou pintado nas casulas dos sacerdotes ainda hoje. h) Pantocrátor Etimologicamente, o termo grego Pantocrator, significa Senhor do Universo. A tradução Septuaginta (LXX) traduziu habitualmente com este vocábulo o hebraico Sabaoth, que é um atributo de IHWH. Quando a profissão de fé dos cristãos era formulada em grego, o termo Pantocrator era aplicado a Deus Pai, foi traduzido em latim com Omnipotens. Assim, Pantocrator, terminou por Onipotente e não "Senhor do Universo". Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2 significar o A onipotência era atribuída também ao Espírito Santo, mas, de modo particular, ao Filho de Deus. A partir do século XII, este epíteto foi dado quase exclusivamente a Cristo. Cristo é representado como um homem majestoso, na flor da juventude, com uma barba curta e marcada e a longa folhagem que cresce sobre as costas, vestido com túnica e himation, a meio busto, com o Evangelho fechado (ou aberto) na mão esquerda e a mão direita em gesto de bênção. Este tipo iconográfico aparece a partir do século VI, não somente nos ícones mas também na pintura monumental e na arte plástica de pequenas dimensões, substituindo, assim, as representações simbólicas de Cristo típicas da arte paleocristã. A mesma imagem recorre nos ícones: o Museu do Hermitage de São Petersburg (Rússia) guarda um dos mais esplêndidos exemplares, que remonta ao ano 1363. REFERÊNCIAS C. WALTER, verbete «Pantocrator», in Dizionario enciclopedico del medioevo, A. VAUCHEZ (ed.), Edizione italiana di C. LEONARDI, Città Nuova/Cerf/James Clarke&Co, vol 3, 1389-1390. GERHARD LOHFINK, Jesús de Nazaret. Qué quiso, quién fue, M. 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