ii a primeira parte do catecismo: crer

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I-b CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
JP II, 5 de maio de 2012 – + Karl Josef Romer
PRIMEIRA PARTE (1 b): CRER1
A UNIDADE FUNDAMENTAL DA IGREJA DE JESUS está na unidade e
unicidade da fé. Por isso há um só batismo, incorporando-nos no único Senhor
Jesus Cristo (cf. Ef 4,5). Em todos os tempos, a Igreja deve investir todas as forças,
todo o amor, para que todos fiquem um na fé única.
O tema da fé é iniciado, no Catecismo, pela DIGNIDADE incomparável da
pessoa humana. O “desejo de Deus” está inscrito, se o homem o sabe ou não, no seu
mais íntimo ser nn. 27ss. Isto corresponde a uma nata “capacidade” de perguntar por
Deus, de procurá-lo, e de ser interpelado, atingido, amado por ELE.
A esta dignidade do homem corresponde a interpelação por Deus que se
revela: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM (50-130). Esta divina
revelação se dá por etapas desde Noé, até chegar ao ponto alto, Jesus Cristo,
“Mediador e Plenitude de toda a Revelação”, citando DV 2 (50ss). O encontro que
Deus nos oferece continua vivo na história do Povo de Deus: Para isso devemos ver
e entender a TRADIÇÃO APOSTÓLICA (75-79), a relação entre Tradição e
Sagrada Escritura (80-83), a autorizada INTERPRETAÇÃO DO DEPÓSITO DA
FÉ (84-100), A SAGRADA ESCRITURA (101-141), e a função do Espírito Santo
que inspira (105) e interpreta (109) a Sagrada Escritura; é ELE que garantiu a
criação do CÂNON (120) e dá firmeza à FÉ e à VIDA DA IGREJA (131)].
Nos nn. 75-83, o Catecismo faz uma sábia colocação sobre a única fonte da
Revelação, na qual se baseia tanto a Escritura como a grande Tradição apostólica,
para falar, logo em seguida, do Magistério da Igreja (84-95). Em todas essas partes
sobre a Escritura, o Catecismo segue bem de perto o Concílio DV 7-10, e DV 21ss.
Veja-se especialmente: C. Schönborn, Leitgedanken und Hauptthemen in: Joseph Kardinal Ratzinger e
Christoph Schönborn, Kleine Einführung zum KKK, Neue3 Stadt 1993 p. 35ss. Joseph Kardinal
Ratzinger, Hinführung zum KKK, in: ibd. p. 7ss.
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É de grande importância perceber que o CIC não justapõe apenas verdades
ao lado de outras verdades. Mas se percebe em toda parte que se evidenciam
profundos nexos orgânicos entre as diversas verdades da fé (referindo-se às
afirmações já do Conc. Vaticano II (1870, DS 3016), e a “hierarquia das verdades”
(89s; cf. Conc. Vat. II, UR 11.3). Bela é a descrição da SAGRADA ESCRITURA
(101-141).
O HOMEM RESPONDE NA FÉ
O CIC descreve a fé como resposta do homem de modo muito sugestivo,
colocando exemplos fundamentais (142-184):
Abraão é o pai de nossa fé, segundo a palavra de S. Paulo (Rm 4,11.18).
Numa entrega confiante ele vai para a terra longínqua, que Deus indicará,
esperando contra toda esperança uma descendência, fruto da absoluta prodigalidade
de Deus. Sua entrega na fé recebe a promessa da infinita bênção (Gn 12,1-3).
MARIA “realiza de maneira mais perfeita a obediência da fé”, acolhendo
o anúncio e a promessa do anjo Gabriel, acreditando que “nada é impossível a
Deus” (Lc 1,37). Ela, protótipo de toda a Igreja é a “Bem-aventurada, porque
acreditou...” (Lc 1,38). Por esta fé, até à última provação junto à Cruz, “todas as
gerações a proclamarão bem-aventurada” (n. 148s).
Segue, então, a ampla e muito aprofundada explicação da fé, seguindo o
O CREDO APOSTÓLICO
CAPÍTULO I CREIO EM DEUS PAI (198-421)
Aqui se fala do Deus único. “Sou Aquele que é” (206), Deus é Trindade (238-267),
Criador (céu, anjos, o homem, a queda (282-421).
São verdades densas, que aqui se seguem. “Creio em um só Deus” (200ss).
Após mencionar as manifestações da bondade paterna de Deus (201), encontramos
o momento supremo em que Deus revela a Moisés o SEU NOME (“SOU
AQUELE QUE SOU”) (204-209). Realço o n. 208, que mostra Moisés prostrado
diante da sarça ardente, e como Pedro, após a pesca milagrosa, cai aos pés do
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Mestre, clamando: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador” (Lc 5,8).
Antes da pesca, Pedro tinha chamado Jesus de “mestre” (epístata), mas agora o
chama: Senhor, isto é o Kýrie, que a Igreja durante todos os séculos repetirá,
adorando Jesus. Todavia, o final deste número lembra-nos que este Deus santo é
misericórdia e infinita bondade (cf. Os 11,9), citando a palavra do discípulo amado:
“Diante dele tranqüilizaremos nosso coração, se nosso coração nos acusa, porque
Deus é maior do que nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3,19-20).
Nos nn. 210 e 211 revela-se a inefável bondade de Deus em Jesus. Cada um
dos atributos (íntimos aspectos de Sua essência) deixa-nos em silêncio e nos
convida para a adoração: Deus “É”, Deus é Verdade, é Amor (212-221).
222-231: Crer no Deus único e amá-Lo tem conseqüências imensas:
Significa conhecer a grandeza e a majestade de Deus (223), viver em ação de
graças (224), conhecer a unidade e verdadeira dignidade de todos os homens,
imagens de Deus (226), exige que usemos corretamente das coisas criadas (226).
Aqui o Catecismo coloca a sublime oração do santo eremita das montanhas
suíças do século 15, Nicolaus de Flüe:
“Meu Senhor e meu Deus, tirai tudo de mim o que me afasta de vós. Meu
Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós. Meu Senhor e
meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a vós”
Falando agora de “Deus como um só Deus” (232-267), o Catecismo acentua
que “O mistério da santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É
o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios
da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental...” (234). Por isso,
em todas as partes da fé (e do Catecismo) com grande freqüência revelam-se
aspectos trinitários (em todos os sacramentos [não só no batismo], na oração
[rezamos ao Deus, que “faz em nós a sua morada” Jo 14,23], na liturgia [veja a
grande doxologia na Santa Missa: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...”]).
Outro exemplo da inesperada riqueza do Catecismo é a parte sobre a criação,
fiel à Bíblia e fiel às interrogações do homem moderno (279-327). “A criação é
obra da Santíssima Trindade” (título antes do n. 290). “O mundo foi criado para a
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Glória de Deus” (antes de n. 293). A criação é mistério (295-324). Após a criação
dos anjos (328ss), segue a maior aventura do universo, começando com a criação
do homem – imagem de Deus – e culminando na crucificação do homem que é o
próprio Deus em Jesus Cristo (355ss). Veja, por exemplo, as palavras sobre o
homem e a mulher (371, resp. 369-373). Após a queda dos anjos (391) segue o
pecado de Adão e suas conseqüências para a humanidade (385-409). Sob o signo da
Mulher aparece, então, o plano da graça, que Deus “não abandona o homem à
morte” (410-412).
CAPÍTULO II
CREIO EM JESUS CRISTO
Aqui se abre o segundo capítulo do CREDO (422-682). Além de se desenvolver o
mistério de Jesus neste rico capítulo, sua pessoa e seu mistério perpassam todas as
partes do catecismo, porque toda a vida na graça é vivida em Jesus: os sacramentos,
a oração, o sofrimento e sacrifício, a esperança e toda a fé existem n’ELE. “Não
existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”
(At 4,12; CIC 432).
“No nome de Jesus está o cerne da oração cristã. Todas as orações
litúrgicas concluem pela fórmula por Nosso Senhor Jesus Cristo...” (434). Os nn
seguintes trazem ricas explicações e usos bíblicos do nome (título) de Cristo. - Ele o
único Filho de Deus não pode rezar “Pai nosso”, mas “meu Pai” (CIC 443; cf. Jo
20,17: “Meu Pai e vosso Pai”; cf. Gal 1,15-16).
“O nome inefável com o qual Deus se revelou a Moisés, Iahweh, é traduzido
já na versão grega do AT, por “Kýrios” (“Senhor”). Senhor torna-se desde então o
nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste
sentido forte que o NT utiliza o título de “Senhor” ao mesmo tempo para o Pai, mas
também – e aí está a (inaudita) novidade – para Jesus reconhecido assim como o
próprio Deus” (446; cf. 1Cor 2,8). “Jesus mesmo atribui-se de maneira velada este
título quando debate com os fariseus sobre o S 110, mas também de modo explícito
dirigindo-se aos seus apóstolos” (447; cf. Jo 13,13: “Vós me chameis Mestre e
Senhor: Dizeis bem. Eu o sou”; cf. Mt 22,41-46; At 2,34-36; Hb 1,13).
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A concepção de Jesus pelo Espírito Santo, e o nascimento da Virgem não é
em primeiro lugar um privilégio de Maria, mas é da íntima ordem divina: porque só
pode ser Filho do Pai eterno, também em sua humanidade (456-534ss).
Merecem muita atenção os mistérios da vida pública de Jesus e sua
relevância para nós e para a Igreja. Batismo de Jesus (535ss); tentação (538-540); o
Reino de Deus está perto (541-542); o anúncio do Reino de Deus (543-546); os
sinais do Reino de Deus (547-550); as chaves do reino (551-553); a transfiguração
como antegozo do Reino (554-556); a subida de Jesus a Jerusalém (557s); a entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém (559s). – O padecimento de Jesus, a crucifixão, a
morte e sepultura e ressurreição (571-679).
Capítulo III CREIO NO ESPÍRITO SANTO
Com esta confissão creio no Espírito Santo abre-se grande capítulo (683-1065),
abrangendo um tratado sobre o
ESPÍRITO SANTO,
a IGREJA CATÓLICA (748ss),
cujos sub-parágrafos são:
o desígnio divino da Igreja (751ss),
Igreja Povo de Deus, Corpo Místico e Templo do Espírito Santo (781- 810),
Igreja una, santa, católica e apostólica (811ss),
os FIEIS: HIERARQUIA, LEIGOS, VIDA CONSAGRADA (871-962),
a comunhão dos santos (946-962)
MARIA, membro eminente da Igreja (963ss),
o PERDÃO (976-987),
a RESSURREIÇÃO (988-1019),
a VIDA ETERNA (1020-1065)
juízo particular (1021s),
inferno(1033-1037),
céu (1023-1029),
purgatório (1030-32),
o juízo final (1038-1041),
a esperança dos céus novos e da terra nova (1042-1060). O AMÉM (1061-1065).
A missão do Espírito Santo é vista como “missão conjunta com a do Filho”
(antes de 689). Este Espírito, é claro, estará presente também na terceira e na
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última parte do catecismo, respectivamente na vida santa dos fieis e na sua oração.
Aqui é tratada a presença atuante do Espírito na história da salvação, como
“Espírito de Cristo na plenitude do tempo” (antes de 717).
Em seguida temos a longa e riquíssima parte sobre a Igreja. Ela, ‘Jerusalém
celeste’, ‘nossa Mãe’ (Gal 4,26), esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Ap
19,7; 21,2.9; 22,17), associada por uma aliança indissolúvel ao Cristo (Ef 5,29), é
formada, plasmada, intimamente aproximada ao Cristo pelo Espírito Santo. (cf.
757; 751ss; cf. 767-768).
Esta parte mostra a Igreja como “Mistério da união dos homens com Deus”
(antes de 752s), como “sacramento universal” da salvação (774ss). Depois,
certamente, fielmente seguindo o Concílio Vaticano II, mostra a Igreja como “povo
de Deus” (781-782), como povo sacerdotal, profético e régio (783-786), como
“Corpo de Cristo” (787-795), como “Esposa de Cristo” (796), como “Templo do
Espírito Santo” (797-801).
As Notas teológicas da Igreja são bem elaboradas: ela é “una” (813-822),
aliás com feridas na unidade (817ss), ela é “santa” (823-829), “católica” (830856), tratando também a salvação dos que não pertencem a ela visivelmente, e
todavia são salvos pelo mistério da Igreja (836-848), e ela é “apostólica” (857865).
No episcopado, pela sucessão apostólica, perpetua-se e renova-se
sempre a apostolicidade da Igreja.
Por uma conseqüência lógica, trata-se aqui a questão do episcopado e de
sua sucessão apostólica (858-862) e de todo apostolado na Igreja e pela Igreja no
mundo (863s). Nos nn. 871-913, o Catecismo trata a estrutura hierárquica e a
participação dos leigos na responsabilidade pela Igreja, por “sua participação no
múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo” (897-913). Denso e singularmente
preciosa é a parte da Igreja que chamamos “a vida consagrada” (914-933), que se
apresenta na Igreja como “árvore frondosa e admiravelmente variegada na seara do
Senhor” (917). Esta “consagração mais íntima radica-se no Batismo e se dedica
totalmente a Deus” (916 cf. PC 5). São identificadas as diversas formas de
consagração:os Eremitas (920s), as Virgens consagradas, que “desde os tempos
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apostólicos são chamadas pelo Senhor a apegar-se a ELE sem partilha” (922-914),
a Vida Religiosa (925-927), os Institutos Seculares (928s) e as sociedades de vida
apostólica (930).
Mereceria certamente maior reflexão o tema da “comunhão dos santos”
(946-948), “a comunhão dos bens espirituais” (949-953), “a comunhão entre a
Igreja do Céu e a da terra” (954-959).
Maria é a Mãe de Cristo e Mãe da Igreja (963-971), e ela é “o ícone
escatológico da Igreja. Cita-se o Vat. II (LG). Poder-se-ia acrescentar mais uma
citação: SC 103: “(a Santa Igreja) admira e exalta nela o mais excelente fruto da
Redenção e a contempla com alegria como uma puríssima imagem daquilo que ela
mesma anseia e espera ser”, i. é: Maria é o espelho daquilo que a Igreja será na
glória.
No ritmo do Credo, seguem ainda os artigos:
“Creio no perdão dos pecados” (976), “um só batismo” (977-980), e uma
explicação sobre “o poder das chaves” (981-983), para terminar com os números
sobre a “Ressurreição da carne” (988-1014), onde é tratada “a ressurreição de
Cristo e a nossa” (992-1001), o mais profundo sentido do batismo como inicial
inserção da força da ressurreição em nós (1002ss), e a partir daqui se entenderá o
“morrer em Cristo Jesus” (1005-1009) e “o sentido da morte cristã” (1010-1014).
A “Vida eterna”, na qual cremos, o “Juízo particular”, “o Céu”, “o
Purgatório”, a realidade do “Inferno” “o Juízo final” e “a Esperança dos céus novos
e da terra nova”; veja: nn.1020-1065.
Toda essa parte primeira do Catecismo sobre a Fé termina com um solene
AMÈM, nos nn. 1061-1065. O AMÉM é, aliás, a última palavra do Credo e a
última palavra de todo o Novo Testamento.
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