ENTEROLITÍASE NO CÓLON DORSAL DIREITO DE UM EQÜINO

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ENTEROLITÍASE NO CÓLON DORSAL DIREITO DE UM EQÜINO
ENTEROLITHIASIS DORSAL COLON IN A EQUINE
Alessandra Nazário Viana1, Arieli Kussler1, Pâmela Ayres Martinuzzi1, Ruan Carlos Reichert1,
Bruno Bortolotto Previatti1, Éder Lúcio Bernardi1, Jacson Alex Marafão1, Henrique Schraiber1
Rodrigo Otávio do Canto Cardona2 Rodrigo Bastos da Silva2
Resumo
Foi atendido no Hospital Veterinário – UNICRUZ um eqüino da raça Crioula, apresentando
sinais brandos de cólica. Com base nestes achados e histórico optou-se pelo tratamento
cirúrgico, ou seja, celiotomia exploratória. Durante a abordagem sistemática da cavidade
abdominal, foi encontrado um enterólito de grandes dimensões no cólon dorsal direito, o que
dificultou sua exteriorização e retirada devido a localização do mesmo. Por possuir forma
arredondada, não foi observado dano tecidual na víscera, o que contribui para a total
recuperação do paciente, o qual teve alta hospitalar após 10 dias de tratamento pós-operatório.
Palavras-chaves: equino – enterólito - cirurgia
Summary
Was seen at the Veterinary Hospital of the University of Cruz Alta – UNICRUZ a equine race
Crioulo, showing mild signs of colic. Based on these findings it was decided to perform
surgery, or exploratory celiotomy. During the systematic approach of the abdominal cavity,
was found a large enteroliths the right dorsal colon, which made its expression and
withdrawal due to the same location. By having a rounded shape, tissue damage was not
observed in the intestine, which contribute to the overall recovery of the patient, who was
discharged after 10 days of postoperative treatment.
Key-words: equine; enteroliths; surgery.
Os enterólitos são concrementos intestinais densos, que se encontram no lúmen
intestinal, sendo que sua formação pode demorar de meses a anos (SULINS, 1990). Estes
podem permanecer sem causar alterações até que atingem dimensões que possam obstruir o
lúmen intestinal total ou parcialmente (McILWRAITH, 1987, MAIR 2002). Os enterólitos
normalmente são formados por minerais como magnésio, amônia e ou cristais de fosfato que
se acumulam ao redor de objetos ingeridas acidentalmente como pequenas pedras, metais, ou
seja, objetos não digeríveis (WHITE, 1990; HANSON, 1990; JONES; SNIDER; SPIER,
2000; PHILIPS; FASCETTI, 2003), sendo que a Amônia é produzida constantemente no
cólon maior e os fosfatos e magnésio são encontrados em abundância na alimentação de
equinos (HANSON, 1992). Os enterólitos possuem dois formatos básicos, esféricos ou
tetraédricos, sendo que os danos teciduais estão ligados a forma destes concrementos
(McILWRAITH; TURNER, 1987; HANSON, 1992). Os animais afetados normalmente
apresentam episódios de cólica repetidos, dor intermitente discreta e moderada, anorexia e
depressão (HANSON, 1999; JONES; SNYDER; SPIER 2000). Com base nestes achados
como sinais, idade, tipo de manejo pode-se fechar o diagnóstico (HASSEL, 2001). O
tratamento clínico pode ser feito provisoriamente, sendo que a obstrução do cólon menor
raramente responde a este tratamento, sendo indicada a cirurgia para remoção do cálculo
(JONES; SNYDER; SPIER, 2000).
Foi encaminhado para o Hospital Veterinário - UNICRUZ, um eqüino macho da raça
1
Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ
Avenida Getúlio Vargas 1472 CEP 98801570 [email protected]
2
Professores Mestres do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ
Crioula, pesando aproximadamente 500 kg. O animal já vinha apresentando episódios de
cólica há 30 dias, controlados com analgésicos intravenosos. Ao exame clínico o paciente não
demonstrou alterações significativas nos parâmetros fisiológicos, embora apresentasse sinais
de desconforto abdominal contínuo. Optou-se pelo tratamento cirúrgico com base nos sinais
de desconforto. Na sala de preparo cirúrgico, o animal recebeu a medicação pré-anestésica a
base de Cloridrato de Xilazina 10% na dose de 0.5mg/kg pela via intravenosa, sendo
encaminhado para a sala de indução anestésica. Na indução da anestesia foi utilizado
Cetamina 5% na dose de 2.2 mg/kg associado ao Diazepan na dose de 1.0 mg/kg ambos pela
via intravenosa. Após a intubação endotraqueal a anestesia foi mantida com Isofluorano em
Oxigênio a 100% pela via inalatória. Depois de acomodado em decúbito dorsal na mesa
operatória, o animal foi preparado para cirurgia asséptica. Para o acesso a cavidade abdominal
foi feita uma incisão pré-umbilical longitudinal até a linha média ventral. Após exteriorização
e retirada do gás intraluminal as vísceras foram inspecionadas constatando-se a presença de
um grande enterólito no cólon dorsal direito próximo a flexura diafragmática. Devido a sua
localização a qual dificultava a exteriorização do segmento que continha o enterólito, optou-se
pela realização de uma enterotomia na flexura pélvica para a retirada do conteúdo intestinal
cranial a obstrução, facilitando a exteriorização e mobilização intraluminal do enterólito além
da incisão de celiotomia (Fig.1 e 2) Para a retirada da enterolitíase foi necessário uma segunda
enterotomia esta feita no cólon dorsal direito, o campo cirúrgico foi protegido com tampões
de laparotomia umedecidos em salina morna. Para evitar o extravasamento de conteúdo
intestinal oriundo da retirada do enterólito, em seguida foi realizado a enterorrafia com sutura
contínua invaginante em dois planos e fio absorvível sintético no caso o poliglicaprone 2.0
agulhado. Após lavagem abundante com salina morna, relocou-se as vísceras na cavidade. O
fechamento das demais camadas foi feito de maneira rotineira.
Como terapia analgésica e antiinflamatória utilizou-se o Flunixim meglumine na dose
de 1mg/kg a cada 24 horas pela via endoflébica. Na antibioticoterapia optou-se pela
associação de Gentamicina na dose de 6.6 mg/kg a cada 24 horas por 7 dias e Penicilina
potássica na dose 20 milhões de UI a cada 12 horas, ambos pela via intravenosa. Dieta
somente com volumoso do segundo ao sétimo dia pós operatório, e introdução e introdução
gradativa do concentrado. O paciente teve recuperação satisfatória recebendo (Fig. 3) alta no
décimo dia pós-operatório.
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Figura 1 e 2: Cólon dorsal direito exteriorizado contendo um enterólito intraluminal.
Figura 3: Paciente no dia da alta hospitalar
Conforme Sulins (1990), enterólitos podem levar de meses a anos para se formarem,
tal informação corrobora, com o caso relatado em que o paciente tinha 12 anos de idade,
sendo que dez anos o mesmo passou em cocheira, levando a formação de um enterólito de 2,
880 Kg (Fig.3), de forma arredondada, que por estar localizado no cólon dorsal permitia a
passagem parcial de gás e conteúdo intestinal, concordando com McWraith (1987) e Mair
(2002). Por possuir esta forma esférica, os danos teciduais foram minimizados no presente
caso, conforme McWraith e Turner (1992). O diagnóstico foi feito de acordo com os sinais
discretos de algia, resposta positiva temporária ao uso de analgésicos intravenosos e episódios
repetidos de cólica, de acordo com a afirmação de Hassel (2001) e Schumacher (2002). Com
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o tratamento clínico, obtém-se resolução momentânea do quadro, com probabilidade de
recidiva se ocorrer nova obstrução e até perfuração da alça, esta afirmação feita por Jones,
Snider e Spier (2000) foi observada no presente caso onde o animal apresentou repetidos
episódios de cólica sendo tratado clinicamente sem sucesso, até a remoção cirúrgica do
enterólito por meio de celiotomia exploradora na linha média ventral, conforme
recomendação de Hanson (1990).
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Figura 4: Enterólito retirado pesando 2, 880Kg.
Concluímos que o caso relatado teve uma evolução satisfatória devido a:
encaminhamento precoce para o centro cirúrgico baseado na ineficiência do tratamento
clínico. Forma arredondada do enterólito que evitou danos teciduais extensos à víscera.
Referências bibliográficas
FASCETTI, A. J. Nutritional therapy in gastrointestinal disease. In: ROBINSON, N. E.
Current therapy in equine medicine. Califórnia: editora Saunders.2003.p.722-726
HASSEL, M.D. Equine enterolithiasis: A review and results of a retropective analysis of 900
cases (1973-1996). In: AAEP PROCEEDINGS. V.43. p. 246-247.1997.
HANSON, R.R. Diseases of the Small Colon. In: COLAHAN, P.T. Equine medicine and
surgery. 5. Ed. Philadelphia: Mosby. 1999.p. 768-777.
JONES, S.L.; SNYDER, J.R.; SPIER, S.J. Condições obstrutivas do intestino grosso. In:
REED, S.M.; BAYLY, W.M. Medicina interna eqüina. Rio de janeiro: Guanabara
Koogan.2000. p.586-596
McWRAITH.C.W.; TURNER, A.S. Surgery of gastrointestinal tract. In: Equine surgery
advanced thecniques. Philadelphia: Editora Lea&Febiger. 1987.p. 285-287.
SULLINS, K.E. Diseases of the large colon. In: WHITE II, N.A. The equine acute abdômen.
Philadelphia: Editora Lea & Febiger. 1990. p.375-391
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