A INDÚSTRIA MINERADORA E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO

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A INDÚSTRIA MINERADORA E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM CATALÃO
1970/2000
Valdivino Borges de Lima- CAC/UFG [email protected]
As grandes transformações ocorridas no sistema capitalista, sobretudo, a partir
de meados do século XX alteraram profundamente as relações de trabalho e de produção e a partir
da década de 1970, principalmente, vão ter na cidade, o reflexo destas transformações. Segundo
Santos (1988, p. 90)
Após 1960 e, sobretudo 1970, a urbanização conhece um novo tempo. A
partir deste momento, novos fatores surgem, tornando mais complexo o
fenômeno de urbanização. Temos uma modernização e ampliação dos
transportes e das comunicações; uma expansão capitalista no campo e nas
demais atividades; um movimento de migrações muito forte; uma nova divisão
do trabalho social e territorial, que se sobrepõe à divisão do trabalho social e
territorial anterior, etc. Tudo isto tem como resultado, uma aceleração do
processo de urbanização.
No Brasil, estas transformações são o resultado do modelo de política
econômica adotado no país, inicialmente, pelo Regime Militar(1964/1989), que por sua vez estava
economicamente subordinado ao capital internacional. Na expectativa de elevar o Brasil à condição
de potência mundial, os governos militares adotam a política de abertura ao capital internacional, via
empresas, no sentido de promover e incentivar a industrialização e o desenvolvimento e, assim,
firmar-se como um Estado forte e empreendedor.
Mesmo admitindo uma incorporação da moderna tecnologia, trazidas pelas
empresas multinacionais, não há como entender este processo como desenvolvimento e, sim um
grande crescimento econômico, pois o que se buscava era exatamente isto, um grande crescimento
econômico, e não o atendimento das necessidades básicas da maioria da população, nem tampouco
da melhoria de seu padrão de vida. Não há preocupação com a distribuição da riqueza e sim com
sua produção (Brum, 1991). A dependência de capital e tecnologia torna-se patente. Na
reorganização da economia mundial, coube ao Brasil o papel de receptor de capitais para
investimentos disponíveis dos grandes centros do capitalismo mundial.
Esta orientação política de “Brasil Grande” coincide com a grande expansão das
empresas multinacionais no mundo, principalmente, as norte-americanas do ramo de equipamentos,
fertilizantes, herbicidas, etc., além do grande investimento em energia (grandes hidrelétricas, energia
nuclear, Proálcool...), e exploração mineral. A partir daí inicia-se o processo de modernização no
campo (empresas rurais , monocultura de exportação, eqipamentos e insumos) e com isso, a
liberação de mão-de-obra no campo que sem qualificação irá formar na cidade um grande
contingente de subempregados ou desempregados tornando-se um dos mais sérios problemas
sociais da sociedade contemporânea: o desemprego e consequentemente a precarização da vida.
Cidades maiores tornam-se centros de atração destas populações e o processo de urbanização é
acelerado, como na maioria das vezes, sem planejamento irá culminar com os grandes “problemas
urbanos”, os quais as cidades enfrentam, segundo Gonçalves (1984, p. 64):
[...] assim é chamado o conjunto de dificuldades encontradas pelo habitante
da cidade para conseguir reproduzir a sua existência e de sua família.
Estes problemas serão desencadeados a partir da questão do emprego e do
salário e estes serão determinantes quanto ao acesso à moradia, transporte, alimentação, saúde e
educação. Se a cidade não estiver dotada de infra-estrutura suficiente, as dificuldades serão ainda
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maiores. Neste contexto está inserida a cidade de Catalão em Goiás, com seu “desenvolvimento”,
crescimento e seus problemas.
Catalão era em 1970 a principal cidade da região Sul Goiana. Sua rede de
equipamentos urbanos era a maior e a melhor que dos outros municípios e isto fez com que a cidade
se tornasse o principal centro de atração populacional da região (BARBOSA, 1997). Com a
implantação das empresas mineradoras em meados daquela década aumenta a possibilidade de
emprego e a partir daí a cidade passa a receber um grande contingente de migrantes o que
culminará com um crescimento vertiginoso de sua população como pode ser comprovado na análise
das tabelas 07, 08, 09,10 a seguir.
Tabela 07 – População Residente Segundo Municípios – 1970
MICRORREGIÃO DE CATALÃO
CIDADES
URBANA
RURAL
TOTAL
Anhangüera
993
144
1.137
Campo Alegre de Goiás
610
3.926
4.536
Catalão
15.674
12.135
27.809
Corumbaíba
2.482
5.179
7.661
Cumari
2.379
2.636
5.015
Davinópolis
556
2.718
3.274
Goiandira
3.597
2.549
6.146
Ipameri
12.878
8.039
20.917
Nova Aurora
1.093
1151
2.244
Ouvidor
705
3.236
3.941
Três Ranchos
1.080
2.182
3.262
Total
42.087
43.895
85.982
Fonte: IBGE – 1970. Org.: LIMA, V. B. 2000
Tabela 08 – População Residente Segundo Municípios - 1980
MICRORREGIÃO DE CATALÃO
CIDADES
Anhangüera
Campo Alegre de Goiás
Catalão
Corumbaíba
Cumari
Davinópolis
Goiandira
Ipameri
Nova Aurora
Ouvidor
Três Ranchos
Total
Fonte: IBGE – 1980. Org.: LIMA, V. B. 2002
URBANA
624
1.076
31.3433
33
3.169
2.498
628
4.424
15.276
1.160
1.543
946
62.687
RURAL
113
3.506
8.895
3.047
1.104
1.863
1.379
6.036
784
2.017
1.324
30.068
TOTAL
737
4.582
40.238
6.216
3.902
2.491
5.803
21.312
1.944
3.560
2.270
92.755
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2
Tabela 09 – População Residente Segundo Municípios - 1991
MICRORREGIÃO DE CATALÃO
MUNICÍPIO
Anhangüera
Campo Alegre de Goiás
Catalão
Corumbaíba
Cumari
Davinópolis
Goiandira
Ipameri
Nova Aurora
Ouvidor
Três Ranchos
URBANA
789
2.094
47.152
3.275
2.112
946
4.269
16.904
1.469
2.518
1.313
Total
82.841
Fonte: IBGE – 1991. Org.: LIMA, V. B. 2002
RURAL
80
2.442
7.373
2.254
771
1.172
1.099
3.890
376
1.185
947
21.589
TOTAL
869
4.536
54.525
5.529
2.883
2.118
5.368
20.794
1.845
3.703
2.260
104.430
Tabela 10 - População Residente Segundo Municípios - 2000
MICRORREGIÃO DE CATALÃO
MUNICÍPIO
Anhangüera
Campo Alegre de Goiás
Catalão
Corumbaíba
Cumari
Davinópolis
Goiandira
Ipameri
Nova Aurora
Ouvidor
Três Ranchos
URBANA
829
2.869
57.560
4.848
2.300
1.294
4.195
18.798
1.661
3.368
2.281
Total
100.003
Fonte: IBGE – 2000. Org.: LIMA, V. B. 2000
RURAL
55
1.656
6.730
1.789
804
815
775
3.771
262
885
544
18.086
TOTAL
884
4.525
64.290
6.637
3.104
2.109
4.970
22.569
1.923
4.253
2.825
118.089
Analisando estas tabelas é possível observar alguns dados importantes para o
entendimento do processo de urbanização da microrregião de Catalão e, especificamente, o
município e a cidade de Catalão em Goiás.
Quanto ao número da população total, é interessante observar que enquanto o
número total de habitantes da região foi acrescido em trinta e dois mil cento e sete pessoas, o
município de Catalão recebeu trinta e seis mil quatrocentos e oitenta e uma pessoas. Quanto à
cidade, é interessante observar que esta recebeu um número maior do que o total do município, o
que se pode concluir que houve uma expressiva migração do campo para a cidade, mas também de
outras cidades, da região, ou não, pois foram acrescidas quarenta e um mil oitocentos e oitenta e
seis pessoas, demonstrando um crescimento populacional maior que todos os outros municípios
juntos, e que estes números foram aumentados nas décadas de 1970 quinze mil seiscentos e
sessenta e nove pessoas e 1980 quinze mil setecentos e setenta e oito pessoas e o restante na
década de 1990, justamente no período das instalações e início do funcionamento das empresas
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mineradoras no município e adjacências. Os municípios como Anhanguera, Corumbaíba, Cumari,
Nova Aurora, Davinópolis, Três Ranchos e Goiandira tiveram suas populações reduzidas neste
período, enquanto que Campo Alegre de Goiás foi o único que se manteve, em números absolutos,
enquanto Ipameri e Ouvidor tiveram sua população acrescida em torno de 10% no mesmo período.
Em termos percentuais, o município de Catalão teve um crescimento populacional
em torno de 120%, o que o torna diferenciado em relação aos demais municípios da microrregião.
Quanto à população rural da região, que em 1970 representava 51% do total, em 2000 não
ultrapassa 15,5%, (vinte e cinco mil oitocentos e nove pessoas deixaram a zona rural). É
interessante notar os casos dos municípios de Campo Alegre de Goiás e Ouvidor onde em 1970
eram municípios praticamente rurais e em 2000 pode ser observada uma inversão total destes
dados, mesmo que a população mantendo-se, em números absolutos, em Campo Alegre de Goiás e
um pequeno crescimento em Ouvidor.
Mesmo por estes números acima, não há como garantir que as pessoas que
chegaram à cidade de Catalão sejam oriundas das cidades da região ou da zona rural. O que deve
ter ocorrido é que, com a implantação das empresas mineradoras o afluxo à cidade aumentou, já
que a possibilidade de emprego era grande, gerando em torno de dois mil empregos diretos e
indiretos e isto passou a ser o principal fator de atração populacional.
O movimento migratório rumo à cidade é intensificado e passa a caracterizar não
apenas a migração campo/cidade ou intracidades, mas uma migração intra-regional. Dois exemplos
ilustram estas afirmações: a pedido de um partido político, o Instituto Holmes Pesquisa Assessoria
Ltda, fez uma pesquisa amostral (400 pessoas) em 1982 onde ficou demonstrado que 57% das
pessoas entrevistadas eram do próprio município e o restante de outras cidades, sendo que destes,
27% eram goianos e o restante de vários Estados brasileiros (BATISTA DE DEUS, 1996). O
segundo exemplo está publicado no Plano Diretor de Catalão – 2001, no qual em 1996, de um total
de três mil duzentos e cinqüenta e um imigrantes, um mil quinhentos e cinqüenta e um vieram de
outras unidades da federação, além de um mil seiscentos e oitenta e três que vieram de outras
cidades de Goiás, sete eram estrangeiros e dez de origem ignorada. Este total de imigrantes
representa quase a metade da emigração que ocorreu na microrregião no total de sete mil oitocentos
e cinqüenta e quatro.
Nas tabelas 11 e 12, a seguir, pode-se fazer uma comparação entre a evolução
da população urbana do Brasil e do município de Catalão.
Tabela 11- Brasil – População Urbana – 1970 – 2000
POPULAÇÃO
POPULAÇÃO
ÍNDICE DE URBANIZAÇÃO %
ANO
TOTAL
URBANA
1970
93.139.000
52.905.000
56,80
1980
119.099.000
82.013.000
68,86
1991
150.400.000
115.700.000
77,13
2000
169.799.170
137.876.926
81,20
Fonte: SANTOS, M. 1993 e IBGE (2000). Org.: LIMA, V. B. 2002.
Tabela 12 - Catalão – População Urbana 1970 – 2000
POPULAÇÃO
POPULAÇÃO
ANO
TOTAL
URBANA
1970
27.809
15.674
1980
40.238
31.343
1991
54.525
47.152
ÍNDICE DE URBANIZAÇÃO %
56,36
77,89
86,47
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4
2000
64.290
57.560
Fonte: IBGE, 1992. Org.: LIMA, V. B. 2002.
89,53
Por estes dados pode ser observado que, em 1970, o índice da população
urbana brasileira e do município era equivalente e ultrapassa 50% da população total. Na década
seguinte, a população urbana do Brasil atinge mais 68% enquanto a do município, já ultrapassava a
77%. Os dados de 1991 mostram que o índice de urbanização no município está acima de 86%,
enquanto que o índice do país não chega a 80%. Na última década do século XX, o índice de
urbanização não foi tão grande, mas muito significativo: no país, o índice pouco ultrapassou 80%,
enquanto que no município quase chegou a 90%, o que confirma o índice de urbanização do
município ser maior do que o do país nas últimas três décadas, demonstrando que o fenômeno da
urbanização não foi privilégio apenas da cidade de Catalão, mas ali, o mesmo ocorreu de forma
mais intensa e diferenciada.
Em relação à microrregião, podemos observar grandes variações no que diz
respeito ao índice de urbanização (tabela 13).
Tabela 13 -Microrregião de Catalão 1970 – 2000
Índice de Urbanização Segundo Municípios (%)
Ano
MUNICÍPIO
1970
1980
1991
Anhanguera
87,33
84,66
90,79
Campo alegre de Goiás
13,44
23,48
46,16
Catalão
56,30
77,89
86,47
Corumbaíba
32,39
50,98
59,23
Cumari
47,43
69,35
73,25
Davinópolis
16,98
25,21
44,66
Goiandira
58,52
76,23
79,52
Ipameri
61,56
71,67
81,29
Nova Aurora
48,70
59,67
79,62
Ouvidor
17,88
43,34
67,99
Três Ranchos
33,10
41,67
58,09
Fonte: IBGE. Org.: LIMA, V. B. 2002
2000
93,77
63,40
89,53
73,04
74,09
61,31
84,40
83,29
86,37
79,19
80,74
Anhanguera, o município de menor população, que em 1970 já tinha um elevado
índice de urbanização, hoje comparece com mais de 90% deste índice, mesmo com sua população
tendo decrescido em números absolutos. Campo Alegre de Goiás, ao contrário, sai de uma situação
de população predominantemente agrária para uma condição que ultrapassa 60% de população
urbana, ainda muito aquém da média da região e do país. Os municípios de Corumbaíba e Cumari,
apesar da diferença de índice na década de 1970, hoje se equiparam quanto ao índice de
urbanização. Davinópolis tem seus dados similares aos de Campo Alegre de Goiás, enquanto que
os municípios de Goiandira, Ipameri, Nova Aurora, Ouvidor e Três Ranchos, também com
diferentes índices em 1970, hoje estão acima da média nacional. Quanto à média regional, esta
saltou de pouco mais de 48% para quase 85%, também um pouco acima da média nacional.
Estes números demonstram que o processo de urbanização no Brasil, na
microrregião de Catalão e, especificamente, na cidade acelerou-se na década de 1970 e 1980, num
momento de grandes transformações no capitalismo e no país, como a industrialização, a
modernização da agricultura e o crescimento do setor terciário, além do aumento da malha viária e
um grande avanço nas telecomunicações. Evidentemente que estes fatores ocorreram
concomitantemente, o que torna muito difícil apontar um ou outro como mais importante no
processo de urbanização, mas há alguns dados que podem nos servir de orientação para a análise
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de tal processo.
Singer (1977) já aponta para a relação desenvolvimento econômico e evolução
urbana tendo como maior impulsionador a indústria, algumas iniciadas no século XIX, e esta ao
mercado. Piquet (1998) discorre sobre as cidades criadas ou redimensionadas a partir de
instalações de indústrias de atividades variadas denominando-as “cidade-empresa”. Davidovich
(1987) nos aponta algumas cidades fundadas pela ação da indústria mineradora e que, ainda hoje,
vivem em função destas.
Estes autores confirmam a tese de que a indústria, por si só, é um dos principais
fatores de urbanização, pois vem ao encontro da nova fase do capitalismo internacional e explica a
evolução econômica do país nos últimos anos. Por este viés, entendemos que o processo de
urbanização da cidade de Catalão (GO) acelerou-se em um momento de grandes transformações
no país, como a industrialização e a modernização na agricultura, mas o que mais impulsionou este
processo foi à instalação das empresas mineradoras em meados da década de 1970.
Em Catalão, mesmo com a modernização da agricultura (MESQUITA, 1993) e
o crescimento do setor terciário (MOYA, 2000) o que se pode comprovar é que a cidade não
acolheu apenas o número correspondente aos que deixaram a zona rural, mas um contingente que
dobrou o número de sua população. Esta é uma particularidade que o diferenciará dos demais
municípios da microrregião. Com o aumento populacional, obviamente, aumentou também a malha
urbana da cidade e praticamente, dobrou sua extensão territorial em menos de três décadas, o que
tornou a cidade uma referência regional .
Daí se concluir que a
cidade de Catalão, não apenas cresceu territorialmente ou urbanizou-se, mas aumentou
significativamente sua população.
Crescimento Populacional: o espaço urbano se transforma
Quando ocorre um movimento migratório aumentando significativamente o
contingente populacional de uma cidade, as conseqüências fazem com que o Poder Público
Municipal seja obrigado a investir em infra-estrutura, no sentido de atender às necessidades básicas
desta população emergente. O Estado torna-se assim um dos agentes produtores e consumidores
do espaço urbano, sendo ao mesmo tempo “agente de regulação do uso do solo e alvo dos
chamados movimentos sociais urbanos” (CORRÊA, 1989, p. 24). Segundo o mesmo autor, os
outros agentes seriam basicamente os possuidores e não possuidores de capital o que é, em síntese,
a divisão da sociedade em classes sociais que se configurará no espaço urbano, pois a natureza ao
se tornar um bem econômico e como tal com um preço, sua ocupação será mediada pelo capital.
Esta divisão de classes também será refletida na atuação do setor público em relação à instalação de
infra-estrutura básica e equipamentos públicos. Segundo Scarlato (1996, p. 402).
as discrepâncias quanto à existência de saneamento básico, de
infra-estrutura em transportes, iluminação, saúde e educação, registradas
entre os bairros das cidades brasileiras,[...] estão associadas às diferenças
nas rendas das famílias. Os bairros onde se registram mais baixas rendas
são sempre os menos bem equipados.
No caso específico da cidade de Catalão (GO) este afluxo populacional traz
junto, toda essa problemática: a expansão horizontal da cidade com o surgimento de novos bairros,
alguns quase que totalmente destinados a trabalhadores, principalmente, na década de 1970 na fase
de implantação e início de funcionamento das empresas mineradoras.
 Na década de 1970 foram autorizados quarenta novos bairros na
cidade, e destes onze no ano de 1976.
 Os outros foram autorizados nos anos seguintes, ou seja, nove bairros
na década de1980 e dez na de1990 além do alguns destinados à
classe de maior poder aquisitivo como os condomínios.
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
Esta disposição vem expressar territorialmente as contradições sociais impostas
por este tipo de desenvolvimento, qual seja, de um lado os bairros chamados nobres dotados de
toda infra-estrutura e altamente valorizados e de outro os bairros mais pobres sem infra-estrutura
eficiente, distantes do centro e criando assim um interstício ou áreas como reserva de valor.
Posteriormente estas áreas se tornaram alvo de grande especulação imobiliária transformando-se em
potencial fonte de capital ampliado.Estas transformações irão culminar na refuncionalização urbana e
à criação de subcentros no âmbito da cidade(FERREIRA,1998).
Segundo Davidovich (1994, p. 301)
Num sentido lato e até mesmo literal, a refuncionalização do espaço
geográfico faz pressupor a idéia de um novo papel deste espaço ou, melhor
dizendo, da elaboração de um novo espaço-tempo.
Este novo espaço tem na cidade um caráter funcional, ou melhor, um novo valor
de uso que vai se adequando na medida em que evoluem as forças produtivas. Para atender a estas
novas funções, este espaço é transformado pelas demolições ou supressões reformas ou
superposições e acréscimo ou acumulaçã.Mas pode ser que não haja necessidade destas
transformações na forma, ou que não sejam tão acentuadas, porque é o conteúdo que também
refuncionaliza . O novo e o velho se misturam, mudam-se as funções, criam-se espaços, modificam
outros. O centro e a periferia tornam espaços desejados por diferentes grupos sociais e o Estado,
através da implantação de infra-estrutura e políticas públicas, passa a determinar sua ocupação.
Pela observação simples na cidade não é difícil perceber o novo valor de uso, de cunho
funcional, da mesma. Tanto as formas como os conteúdos são alterados e adquirem novas funções,
adaptando-se ao momento de transformações por que passa a cidade. Residências são demolidas e
substituídas por modernas construções comerciais, outras são adaptadas a determinados usos,
outras simplesmente mudam suas funções originais. É a produção e reprodução do espaço
geográfico, do capital e da sociedade como um todo.
Moya (2000), em sua classificação funcional das cidades, aponta para Catalão como pólo
regional, afirmando que por ter a maior e melhor estrutura urbana acaba por influenciar as outras
cidades da região e ao mesmo tempo sua ligação com centros maiores como Goiânia, a capital do
Estado, e Uberlândia a cem quilômetros de distância, formando uma rede hierarquizada de cidades.
Esta influência se deve à quantidade de órgãos públicos e privados sediados na cidade, como
bancos (Bradesco, HSBC, Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Real), hospitais (Nars
Fayad, Santa Casa de Misericórdia,Centro Materno), escolas (estaduais, municipais e particulares),
faculdades como o Centro de Ensino Superior de Catalão (CESUC) e Universidade Federal de
Goiás (UFG) atualmente com vinte cursos de graduação. Há também na cidade algumas órgãos
públicos estaduais e federais como a Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas (AGETOP) e
o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA), Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística(IBGE), além de cursos profissionalizantes industrial e comercial ministrados
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC), Serviço Social da Indústria (SESI), além de órgãos suplementares como o
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), entre outros.
A Expansão Urbana e o Planejamento Municipal
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Em meados da década de 1970 o governo municipal percebeu que a população urbana
crescia de forma acelerada e com isso haveria a necessidade de organização e objetividade na
ocupação do solo urbano. As perspectivas de mudanças estavam explícitas, pois as empresas
mineradoras chegaram à região e a demanda por infra-estrutura aumentava significativamente.
Em 1977 o INDUR, órgão da Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás
elaborou o Plano Ordenador do Espaço Urbano de Catalão (P.O.E.U.) , e tinha como principal
finalidade ser o instrumento de orientação no planejamento da cidade, com vistas ao crescimento
que ora vislumbrava. A estimativa quanto à população era que esta chegaria a sessenta e cinco mil
pessoas no ano de 1990 e cento e vinte e nove mil em 2000 e, nesta perspectiva, tornara-se
necessário a intervenção do poder público para coordenar este crescimento.
De acordo com o P.O.E.U. a expansão horizontal da cidade se daria no sentido
Ribeirão Pirapitinga, de forma que esta não ultrapassaria a BR-050, evitando assim possíveis
transtornos quanto ao trânsito. As margens seriam destinadas às áreas verdes para recreação,
esportes e preservação ambiental.
Estava prevista também a construção de um anel viário ligando a GO-330 ao
norte à BR-050 ao sul, passando pela GO-210 a oeste da cidade, no sentido de retirar do centro o
trânsito pesado de caminhões que seguiam para São Paulo ou Goiânia.
Quanto ao centro da cidade estava prevista sua preservação como
residências-padrão de luxo, de forma a manter viva a história e a cultura dos pioneiros. Uma outra
providência a ser tomada era a retirada dos trilhos da estrada de ferro que cortava a cidade,
causando transtornos à população.
O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (P.D.D.U.) criado pela
Constituição Federal em 1988, tornando obrigatória sua instituição para cidades com mais de 20 mil
habitantes, transformou-se no instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana
para garantir um mínimo de organização, uso racional do solo, infra-estrutura eficiente e o bem-estar
dos habitantes. Este Plano Diretor estabelece a obrigatoriedade do Governo Municipal com o
planejamento e a expansão da cidade, entendendo como planejamento a resolução racional dos
problemas urbanos. O P.D.D.U. de Catalão – 1992 tem, basicamente, as mesmas proposições do
P.O.E.U. de 1997, com poucas alterações quanto às principais funções e tarefas a serem
implementadas.
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Quanto às proposições iniciais do P.O.E.U. pode ser observado que:
A expansão da cidade não seguiu orientação proposta, visto que foram criados 8
(oito) loteamentos ao sul da cidade após à BR-050, alguns bem recentes, e sem
muita preocupação com os pedestres, pois ao longo de quase dois quilômetros não
existem nem mesmo faixas de pedestres, muito menos passarelas. Portanto, o
P.D.D.U. legitimou uma situação irregular, quando deveria impedi-lo.
O anel viário nem foi iniciado, o que de certa forma torna o trânsito da cidade
confuso para o transporte de mercadorias em caminhões.
O centro residencial foi quase que totalmente refuncionalizado, tornando-se o centro
comercial mais importante da cidade, tornando rarefeitas as casas
residenciais,com seus moradores deslocando-se para as “periferias”.
O Clube do Povo,composto por um grande lago,ginásio internacional,centro
esportivo,além de uma área verde para recreação e esportes tornou-se apenas um
fator de valorização do solo urbano.A qualidade dos imóveis ali construidos
demonstra isto.
A antiga estrada de ferro que deveria ser retirada, foi revitalizada com ajuda de uma
empresa mineradora, tornado-se atração turística da cidade com passarelas ao
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longo dos trilhos e um museu na antiga estação ferroviária.
 As margens do Ribeirão Pirapitinga que seria área de preservação ambiental está
se tornando uma das principais avenidas da cidade , não observando os resquícios
da vegetação nativa, que isolado, tende-se ao desaparecimento.
Estas observações são importantes, pois são amostras das modificações ou adequações
introduzidas na cidade, buscando resolver as questões mais prementes da população, mas que fere
uma legislação criada pelo próprio poder público. São decisões políticas que atendem a um
pequeno grupo, não levando em conta as possíveis conseqüências desta forma de atuação.
. Neste caso o P.O.E.U. e o P.D.D.U. tornam-se inócuos e grande parte da população refém da
vontade política dos dirigentes. Como estas obras são bastante visíveis e muito divulgadas, a
impressão que fica é que as mesmas são necessárias e corretas, mas na verdade são omissas, como
nas questões ambientais e sociais, por exemplo. Segundo Silva et al (2000, p. 50):
[...] um Plano Diretor que é feito sem a participação dos maiores interessados
que é a população urbana e que é elaborado não tendo em vista a realidade
catalana inserida no processo global de urbanização e industrialização
brasileira, só serve para o Estado ter a pretensão de estar cumprindo o seu
papel de subsidiador dos interesses capitalistas e amortizador dos conflitos
sociais.
Se a população não participa da elaboração e efetização dos Planos, estes não
sendo divulgados e a crescente demanda por serviços leva a este crescimento descontrolado e que
conclui Santana et al (2001, p. 147):
[...] a cidade continua crescendo e gerando o agravamento dos “problemas
urbanos”, de modo que nenhuma medida efetiva veio controlar esse
crescimento implementado desde a década de 70.
Estas são algumas mazelas do crescimento urbano da cidade de Catalão
decorrente em nível nacional das políticas públicas e do modelo econômico brasileiro e, em nível
local pela dinâmica interurbana. De outro lado, os impulsos econômicos proporcionados pela
grande indústria mineral e outras com maior arrecadação de impostos, incremento do setor terciário
e oferta de trabalho também foram responsáveis na (re) organização sócioespacial da cidade de
Catalão(GO).
Quanto à relação da cidade com as grandes empresas não há como negar a
importância destas no processo de urbanização da cidade e sua dinamização econômica. As
evidências podem ser comprovadas, através da criação de empregos diretos e indiretos, da riqueza
produzida, aumento populacional que podem ser medidos ao longo de seus 30 anos de existência.
Mas, também é preciso destacar as representações que a indústria mineradora e posteriormente
outras produziu no imaginário regional, particularmente nos primeiros anos de sua implantação.
Desse modo, precisamos aferir se as mesmas constituem no setor econômico
mais expressivo na economia local e regional.
Existem evidências que estas indústrias já não atuam sozinhas, e sim como parte
de um conjunto, onde a diversidade industrial e comercial forma o arcabouço da economia
(LIMAeSILVA,2008) . Empresas estrangeiras montadoras de veículos, de fertilizantes, químicos,
atacadistas, entre outras passaram a fazer parte do cenário urbano a partir de meados da década de
1990, com expressivos investimentos na expansão de suas unidades e, sendo assim implementando
uma nova dinâmica na economia local. Este processo pode ser considerado um prosseguimento do
impulso econômico trazido pelas empresas mineradoras em meados de 1970, que, por vários
motivos, encontraram na cidade de Catalão(GO) o lugar seguro para seus investimentos.
Desta forma, a cidade de Catalão em Goiás apresenta um significativo
crescimento econômico e espacial que não é de todo acompanhado pelo desenvolvimento social. O
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período analisado (1970-2000), foi inicialmente, provocado apenas por um fator exógeno, a
indústria mineral e atualmente a produção de bens de consumo duráveis, como veículos automotores
e implementos agrícolas, que acarretaram transformações nas atividades até então desenvolvidas.
Saliente-se que estes tipos de indústrias não têm nenhum vínculo com a sociedade local. São
grandes empresas transnacionais, com sede em diferentes países, não criando uma classe dominante
rica e influente, politicamente como em épocas e lugares diferentes, pois esta atividade ocorre num
sistema mundializado, onde o que o move é o capital, que é desterritorializado , mas que a
sociedade local adaptou-se a este momento modificando, expandindo, refuncionalizando a cidade e
suas atividades, inserindo-a, segundo propaganda oficial, entre “as melhores cidades para se viver
em Goiás”.
Mesmo diante destas transformações sócio-econômicas e espaciais, a população
catalana continua preservando sua cultura e tradições centenárias como as festas religiosas,
torcendo pelo CRAC (Clube Recreativo e Atlético Catalano), jogando “truco” e levando a vida
com seu jeito “bom demais” de viver, numa espécie de uma convivência pacífica entre o ''novo e o
velho,o moderno e o tradicional.'' Talvez esta dinâmica, seja o exemplo para repensarmos as
cidades do cerrado brasileiro no século XX.
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