o desafio da clínica comportamental infantil

Propaganda
O DESAFIO DA CLÍNICA COMPORTAMENTAL INFANTIL
Sheila Estevão de Souza1
A clínica comportamental infantil inicialmente se relacionava, ao behaviorismo metodológico (comportamentos observáveis por várias pessoas, medidas objetivas e quantificáveis, uso
de estratégias comportamentais e de conhecimento científico
produzido até então. Neste momento o trabalho desenvolvido
era o de a partir da queixa (dos pais), trabalhar apenas os comportamentos desadaptativos observáveis da criança. ( CONTE
e REGRA, 2000, p. 84)
Para Conte e Regra (2000, p. 84-85), hoje se utiliza muitas
das descobertas do behaviorismo metodológico, porém de maneira totalmente diferente. Especificar os antecedentes e os consequentes dos comportamentos ajuda a levantar hipóteses sobre
as possíveis funções tanto do comportamento como dos estímulos e identificar se o comportamento pode ou não estar sensível
às contingências. Especificar as situações em que eles ocorrem
favorece também a análise do contexto e dos tipos de controle
de estímulos presentes. Assim, introduzir tal forma de análise,
inclui os comportamentos encobertos e a avaliação da relação
terapêutica não foi simples somatória no processo evolutivo da
psicoterapia comportamental infantil, mas uma grande mudança
qualitativa, que alterou em muito sua forma de trabalho.
Esse avanço é de suma importância para a clínica com crianças,
sendo que o foco de intervenção passa a ser a criança e não apenas
as queixas que os pais trazem sobre a forma como se comporta.
Lohr (1999) apresenta em seu trabalho alguns dos questionamentos mais freqüentes quando se trabalha com crianças. O primeiro deles seria quem seria o paciente? A criança? Os pais? E ainda qual
seria o repertório eficiente no mundo que a criança se e encontra?
Para Bandura (1978) apud Lohr (1999), muitas das dificuldades que ocorrem no trabalho com crianças estão ancoradas em
aspectos mais amplos do que na questão meramente pragmática,
transcendendo desta forma a idéia de intervenções específicas
para problemas específicos. Não há um tipo de intervenção padrão em terapia comportamental, seja ela dirigida a adultos ou
crianças. É necessário que o terapeuta tenha ética e com o maior
grau de neutralidade possível, analisar o caso, avaliando as dificuldades apresentadas, suas implicações para a vida do cliente,
recursos de que dispõe para o manejo destas, para, de posse de
um panorama da questão, delinear um programa de intervenção, que pode ser dirigido tanto à criança quanto a seus responsáveis, ou a toda a família.
Segundo Lohr (1999), a terapia comportamental infantil,
para viabilizar uma intervenção bem-estruturada e com maior
margem de acerto, deve buscar dados e pautar a atuação de forma a incluir o maior número de sistemas interatuantes possíveis.
Segundo Conte e Regra (2000) a evolução da análise funcional do problema-queixa evoluiu, incluindo mais eventos do que
apenas a tríplice relação contingência, embora esta tenha continuado a ser sua base. Passou a incluir as variáveis orgânicas (uma
vez que a relação organismo e comportamento foi se tornando cada vez mais conhecida), bem como eventos de contexto,
comportamentos encobertos e o papel do comportamento verbal, aberto ou encoberto, que ocorre, principalmente, durante
as sessões de atendimento direto aos pais à criança.
Segundo Lohr (1999), problemática freqüente dos terapeutas
comportamentais infantis se refere ao fato de outros trazerem o
problema da criança. Krumboltz e Thoresen (1969), citam as dificuldades em lidar com situação em que o problema é de outra pessoa.
O comportamento inadequado da criança (queixa dos pais)
trouxe ou traz, um ganho para o indivíduo e para sua família, e
pode ser determinado e mantido por contingências de reforçamento ou governado por regras. O contexto em que a criança
está, parece funcionar como estabelecedor de determinados tipos
de interação entre pais e filhos. ( CONTE E REGRA, 2000, p. 94)
Em terapia comportamental infantil, verificamos muitas vezes que são os professores ou os pais que encaminham a criança
por observarem dificuldades comportamentais na criança, como
agressividades, timidez, etc. (LOHR, 1999)
Diante deste contexto o desafio do terapeuta comportamental é o de discriminar a queixa dos pais, sobre o comportamento
que o filho emite em determinado ambiente, verificando como
é a resposta em outros contextos. Levando em conta ainda os
comportamentos encobertos da criança. Deixando claro para a
família que aquela comportamento tem função no ambiente em
que é emitido, podendo assim oferecer novas contingências para
a ampliação do repertório comportamental infantil.
Revista de Psicologia - Edição 1 l
85
REFERÊNCIAS
CONTE, Fátima Cristina; REGRA, Jaíde A. A psicoterapia comportamental infantil:
Novos aspectos. In: SILVARES, Edwigens. Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. Campinas: Papirus, 2000. 2 v.
LOHR, Suzane Schmidlin.Problemas na terapia comportamental infantil. In: WIELENSKA, Regina Christina. Sobre comportamento e cognição. Santo André:
Arbytes, 1999 4 v.
NOTA DE RODAPÉ
1 Aluna do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio
supervisionado pela professora Maria Regina.
86 l
Revista de Psicologia - Edição 1
Download