30/8/2010 O que é Semiologia afinal? Semiologia Farmacêutica Prof. Karine Amaral Farmacêutica Coordenadora do CAMMI-HSP Anamnese não é coisa de médico? O que o farmacêutico tem com essa matéria? Semiologia farmacêutica, isso eu nunca aprendi na faculdade.... Semiologia Semeîon = sinal Lógos = tratado, estudo Anamnese ana = trazer de novo mnesis = memória Médico fazendo uma anamnese. (The Doctor, por Samuel Luke Fildes, 1891) Conceitos Semiologia (estudo dos sinais e sintomas das doenças) Semiologia Farmacêutica Sintomas: informação subjetiva descrita pelo paciente Sinais: alteração objetiva percebida pelo examinador Anamnese (é a parte da semiologia que visa revelar, investigar e analisar os sinais e sintomas.) O conjunto de informações recolhidas que dizem respeito à vida do paciente através da anamnese é de grande valor para reconhecer as três dimensões do espaço diagnóstico – o paciente, a moléstia e as circunstâncias. Atenção Farmacêutica “É a provisão responsável da terapia farmacológica com objetivo de alcançar resultados definidos de saúde que melhorem a qualidade de vida do paciente. (...) Processo através do qual o farmacêutico coopera com o paciente e como outros profissionais mediante o delineamento, a execução e a monitorização de um plano terapêutico que representará resultados específicos para o paciente.” (Hepler e Strand, 1990) 1 30/8/2010 Atenção Farmacêutica Macro-componentes da Atenção Farmacêutica Segurança Promoção da saúde • Orientação Farmacêutica PACIENTE Efetividade Prevenção de doenças • Educação em saúde (incluindo promoção do uso racional de medicamentos) • Dispensação • Atendimento farmacêutico Monitorização da terapia • Acompanhamento / seguimento farmacoterapêutico • Registro sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados Integração com a equipe de saúde (Atenção Farmacêutica no Brasil: Trilhando caminhos, 2001.) Semiologia Farmacêutica Aplicação da semiologia e anamnese Princípios básicos da Anamnese • Ouvir com atenção • Evitar interrupções • Dispor de tempo • Observar o paciente Reações Adversas a Medicamentos (RAM) • Não fazer julgamentos precipitados • Não discutir com o paciente Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM) Identificação de problemas menores de saúde, com resolução ou encaminhamento ao médico Roteiro de perguntas • Vantagem: organiza “os pensamentos” • Desvantagem: pode transformar a entrevista em um ato mecânica – Observar o paciente – Anotar as informações após a narrativa do paciente Usar o roteiro de forma adequada!! • Saber interrogar • Ter conhecimento técnico Anamnese Identificação do paciente Nome, idade, sexo, raça, estado civil, local de trabalho, etc Queixa principal O que o senhor (a) está sentindo? Qual o seu problema? História da doença atual (HDA) Quando o senhor (a) começou a sentir? Evolução dos sintomas Interpretação e avaliação crítica do examinador 2 30/8/2010 Interrogatório Sintomatológico Revisão dos Sistemas Cabeça e pescoço Tórax Coluna vertebral e extremidades Antecedentes Pessoais Fisiológicos: gestações, ciclo menstrual, etc Patológicos: doenças, alergias, cirurgias, traumatismos, etc Antecedentes Familiares Hipertensão, diabetes, câncer, etc Abdômen Sistema Genito-urinário Sistema Hemolinfopoiético Sistema Endócrino Sistema Nervoso Condições emocionais Hábitos de vida e condições sócio-econômicas Uso de bebidas alcoólicas, chás, condições de higiene, tabagismo, alimentação Registro dos achados Objetivos a serem alcançados ao final da anamnese: • Registrar com precisão, clareza e concisão • Profissional de saúde: entender o real significado das palavras do paciente • Registrar data do achado • Atentar para grafia e gramática • Paciente: entender corretamente o que lhe foi perguntado • Evitar abreviações ou padronizá-las na equipe Tipos de pacientes • Paciente ansioso: inquietude, voz embaragada, mãos frias e suadas. – Começar a conversa de forma amena para diminuir a tensão • Paciente sugestinável: muito impressionável – Conversa deve ser cuidadosa • Paciente hipocondríaco: queixa-se de muitos sintomas – Não desprezar as queixas, mas ser orientativo • Paciente deprimido: cabisbaixo, sem motivação de falar, olhos sem brilho, chora facilmente – Ter paciência para desenrolar a conversa • Paciente eufórico: fala e movimenta-se demasiadamente, pensamentos rápidos e muda de assunto inesperadamente – Difícil compreensão, ter paciência para desenrolar a conversa • Paciente hostil: respostas e insinuações hostis. – Não revidar, entender a situação do paciente 3 30/8/2010 • Paciente tímido: fala baixo, não olha nos olhos, não se sente a vontade – Cuidar para não fazer perguntas que induzam • Paciente psicótico: fala confusa, com histórias “incríveis”. – Difícil abordagem, pode ser necessário conversar com o cuidador • Paciente em estado grave – Conversa com pergunta simples, diretas e objetivas. Minimizar o sofrimento do paciente • Paciente com pouca inteligência – Usar linguagem simples • Paciente surdo-mudo – Não subestimar o paciente, tratar com naturalidade; pode ser necessário conversar com o cuidador • Pacientes pediátricos – Conquistar a confiança e simpatia; pode ser necessário conversar com o cuidador • Pacientes geriátricos – Agir com paciência e delicadeza, porém não subestimar o seu entendimento Reações adversas Reações adversas Reação Adversa (RAM): “Qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não intencional, a um medicamento, a qual se manifesta após administração de doses normalmente utilizadas no homem” Evento Adverso: “Qualquer ocorrência médica não desejável, que pode estar presente durante um tratamento com um produto farmacêutico, sem necessariamente possui uma relação causal com o tratamento. Todo evento adverso pode ser considerado como uma suspeita de reação adversa a um medicamento” Reações adversas • Problema importante na prática do profissional da área da saúde. • As RAM são causas significativas de hospitalização, de aumento do tempo de permanência hospitalar e, até mesmo de óbito. • Afetam negativamente a qualidade de vida do paciente, aumentam custos, podendo, atrasar o tratamento por assemelhar-se a enfermidades. Reações adversas Dependente do paciente: – Previsíveis – fatores de risco (idade, sexo, polimedicação) Classificação: • Gravidade (letal, grave, gravidade moderada, leve) – Imprevisíveis (intolerância, alergias) • Causalidade (comprovada, provável, possível, Dependentes do medicamento: duvidosa) – Por efeito farmacológico – Por efeito tóxico – Por interações 4 30/8/2010 Reações adversas Podem ser preveníveis ou não! Reações adversas Principais reações adversas: • Náuseas e vômitos • As preveníveis: podem ser antecipadas a partir dos conhecimentos da farmacologia do fármaco ou decorrentes de interações medicamentosas; • Arritmias cardíacas • Constipação • Sonolência • Secura na boca • As imprevisíveis: englobam as reações imunologicamente mediadas e as reações idiossincrásicas. Reações Hematológicas • Leucopenia (linfopenia e neutropenia): carmustina, cisplatina, citarabina, doxorrubicina, etoposido; • Trombocitopenia ou Plaquetopenia: carboplatina, paclitaxel, cisplatina, doxorrubicina; • Anemia: docetaxel, irinotecano, interferon, gemcitabina • Urticárias • Irritação gástrica • Hipotensão arterial Reações Gastrointestinais • Náuseas e Vômitos: ciclofosfamida, etoposido, irinotecano, citarabina, rituximabe; • Mucosite e estomatite: bleomicina, metotrexato, vincristina, 5-fluorouracil, vinorelbine. Aproximadamente 45% dos pacientes submetidos à quimioterapia desenvolvem mucosite em graus variáveis (Almeida, JRC. 2004) Requer avaliação laboratorial Reações Gastrointestinais • Anorexia: asparaginase, idarubicina, interferon, raltitrexato; • Alterações no paladar: cisplatina e paclitaxel • Constipação: vimblastina, temozolomida, mitomicina • Diarreia: 5-fluorouracil, irinotecano+oxaliplatina, docetaxel 75% dos pacientes em tratamento com medicamentos antineoplásicos desenvolvem diarreia (Cunningham D. 1990) Alterações Metabólicas • Hipomagnesemia: cisplatina, ácido zoledrônico, corticosteróides; • Hiponatremia: cisplatina, carboplatina, ciclofosfamida, vincristina; • Hipercalcemia: Complicação metabólica mais comum em Oncologia (30% dos pacientes) 5 30/8/2010 Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM) Problema de saúde relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário. 1. Tratamento farmacológico adicional 2. Tratamento farmacológico desnecessário 3. Medicamento incorreto 4. Dosagem muito baixa 5. Reação adversa a medicamento 6. Dosagem muito alta 7. Uso inapropriado Adesão Indicação Eficácia Segurança Identificação de problemas menores de saúde Avaliando alguns sinais/sintomas...... Febre/dor de cabeça/prurido/diarreia/constipação – Qual idade do paciente? – Tem alguma doença crônica? – Por quanto tempo? Ficha Farmacoterapêutica Instrumento de coleta de informações Perguntas que devem ser consideradas na prática farmacêutica PERMITE: Acompanhamento / seguimento farmacoterapêutico Registro sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados – Qual intensidade? – Está usando algum medicamento? Semiologia farmacêutica!! Guia de Orientação ao Paciente Informações que devem ser repassadas ao paciente Educação em saúde!! Orientação Farmacêutica!! 6 30/8/2010 Qual o nosso papel ? Quais habilidades, quais conhecimentos e quais atitudes devemos desenvolver ?! – saber comunicar – saber ouvir o paciente – saber perguntar – selecionar o tratamento baseado no critério da evidência de efetividade – assumir suas responsabilidades e saber o limite da sua competência Quando devemos encaminhar ao médico? 7 30/8/2010 Elementos do Aconselhamento Farmacêutico Requisitos para orientar um paciente... • Estabelecer a relação farmacêutico-paciente • o que o paciente precisa saber? – atenção às barreiras da comunicação !!! • Respeitar a autonomia do paciente • o que ele já sabe? – não queira dar mais do que o paciente espera receber, porém seja persuasivo... • identificar lacunas entre o que ele sabe e o que precisa saber • avaliar as dificuldades do paciente para compreender a • ser objetivo, criterioso e didático informação – talvez o paciente não seja tão paciente... • reforçar as medidas não-medicamentosas • determinar o melhor caminho a seguir • informar sobre o medicamento • determinar quanto tempo é preciso – enfatizar os benefícios, explicar a posologia, horário e freqüência de utilização e modo de usar • depois da orientação, assegurar-se de que o paciente – ser prudente quando informar sobre RAMs e efeitos colaterais, avaliar possíveis contra-indicações compreendeu o que foi dito – destacar os cuidados (inclusive com armazenamento!) Comunique-se com o paciente • Comunicar é negociar Referências Bibliográficas • Barthes,Roland. Elementos de Semiologia Ed. Pensamento-Cultrix 1997 • Porto Celmo Celeno. Exame Clínico. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. • Não pressione ou tente impor nada, mas eduque; • Veja o problema também sobre outra perspectiva. Coloque-se no lugar do paciente; • Koogan, 2001. 1428 p. • Bisson, Marcelo Polacow. Farmácia Clínica & Atenção Farmacêutica – 2. ed. Ed. Manole, 2007 • Aplique o seu conhecimento terapêutico, porém transmita as informações de forma clara e objetiva; Porto, Celmo Celeno. Semiologia médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara • Cipolle RJ, Strand LM, Morley PC. Pharmaceutical Care Practice New York: McGraw-Hill; 1998. Versão traduzida para português. • Seja claro na linguagem com o paciente; • Richard Finkel, W. Steven Pray. Guia de dispensação de produtos terapêuticos que não exigem prescrição. Porto Alegre: Artmed, 2008. 8