RESUMO Os maus-tratos contra crianças acompanham a história da humanidade. Porém, somente a partir das últimas décadas a questão foi admitida como problema de saúde pública devido à ampla gama de conseqüências que pode gerar, nas diversas áreas do desenvolvimento humano. Esta pesquisa de levantamento bibliográfico teve por objetivo reunir as conseqüências dos maus-tratos para o desenvolvimento infantil, utilizando como fontes de pesquisa artigos publicados a partir de 1990 que contivessem as palavras-chave VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR, FAMILIAR ou DOMÉSTICA, ABUSO, NEGLIGÊNCIA, MAUS-TRATOS, INFÂNCIA, CRIANÇA e/ou DESENVOLVIMENTO INFANTL, pertinentes ao tema proposto. Os artigos foram levantados em sites científicos na internet e bibliotecas, em periódicos científicos categorizado pelos critérios CAPES QUALIS como A e B, e foram analisados quantitativamente e qualitativamente, por meio de um formulário elaborado para a pesquisa e qualitativamente. Foram encontradas várias menções a conseqüências, que constituíram três grandes categorias: transtornos mentais, sintomas de transtornos mentais e problemas ao longo do desenvolvimento. A categoria de sintomas de transtornos foi a mais mencionada na pesquisa, correspondendo a 51% das conseqüências encontradas nos artigos. A pesquisa também teve como objetivo analisar quantitativamente os diferentes tipos de estudos realizados acerca do tema proposto, dados estatísticos sobre a violência doméstica e suas possíveis causas e público-alvo dessas pesquisas. Concluiu-se que os dados existentes na produção científica brasileira são escassos e imprecisos, porém o levantamento das conseqüências não apontou discordâncias expressivas entre os autores. O dado mais controverso se referiu às causas da violência. Também foram constados os fatores mantenedores da violência, os quais fazem com que as pessoas e instituições acabem por contribuir para a perpetuação dos ciclos de agressão dentro da esfera familiar, que, fatalmente, terminam por prejudicar a sociedade como um todo. Palavras-chave: desenvolvimento, maus-tratos, violência. MARIANA GALESI BUENO DIVERSAS FACES DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO: UM LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA A PARTIR DE 1990 Orientadora: Profª Ms. Claudia Lúcia Menegatti Banca Examinadora: Profª. Drª. Andréia Schmidt Profª. Drª. Maria da Graça Saldanha Padilha 1 INTRODUÇÃO Atualmente a violência contra a criança, seja física, psicológica ou sexual, é considerada por diversos dos autores referidos neste trabalho como um problema de saúde pública, a qual pode gerar uma vasta gama de conseqüências, tanto para a vítima dos maustratos quanto para a sociedade. Tais conseqüências, que ocorrem nas mais diversas formas e variados graus, podem ir de insegurança, medo e ansiedade a condutas delinqüentes e suicídio, além da tendência de uma pessoa agredida tornar-se também um agressor, segundo o que a literatura aponta. No entanto, o presente tema mostra-se bastante complexo no campo da pesquisa científica no que tange a elaborar colocações enfáticas entre causa e efeito no âmbito do abuso e negligência devido às evidentes implicações éticas em se manipular variáveis que envolvam sofrimento para crianças (COZBY, 2003, p 54). Logo, as pesquisas precisam se utilizar de situações já existentes para realizar acompanhamentos ou outras formas de estudo que visem traçar paralelos entre maus-tratos na infância e conseqüências para o desenvolvimento global, como no caso do presente estudo. O primeiro passo dado para observar esta problemática foi a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) pela ONU e a ação mais efetiva foi proveniente do desdobramento desta lei, que originou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) transformado em lei no dia 13 de julho de 1990 no Brasil. No entanto, os artigos levantados para este trabalho indicaram que as crianças ainda não têm seus direitos plenamente respeitados, o que se traduz em estatísticas estarrecedoras sobre o número de menores de idade vitimados, principalmente, em suas próprias casas, por seus familiares (PNAD/ IBGE, 1991, citado por MINAYO e ASSIS, 1994, p 264; IBGE, 1989 citado por REICHENHEIN e cols, 1999, p 110). Para esta pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico visando condensar, explicar e discutir dados de pesquisa sobre violência doméstica contra crianças publicadas no Brasil desde o ECA, com o objetivo de verificar as diferentes conseqüências para os maustratos, suas causas e fatores que influenciam para o prognóstico de tais conseqüências para as vítimas. 2 OBJETIVO Esta pesquisa teve por objetivos: revisar artigos brasileiros publicados a partir do ano de 1990 sobre as diferentes formas de maus-tratos contra crianças e levantar as conseqüências para o desenvolvimento global infantil, suas causas e mantenedores da violência, além de verificar o impacto da publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente sobre essas publicações e analisar a realidade brasileira a partir dos dados apresentados. 3 MÉTODO O método adotado para esta pesquisa de levantamento bibliográfico envolve análises quantitativas e qualitativas. O instrumento utilizado para a análise quantitativa foi um formulário desenvolvido para este trabalho e será descrito logo adiante. Foram definidos critérios para a inclusão dos artigos que integraram a pesquisa finalizando obter informações confiáveis descritos no tópico ‘coleta de dados’. 3.1 DESENHO DA PESQUISA: levantamento bibliográfico. 3.2 INSTRUMENTO: um formulário elaborado para esta pesquisa, que consiste em 12 questões, sendo que as três últimas são dirigidas especificamente aos artigos referentes a pesquisas aplicadas (anexo A). Desta forma, a análise quantitativa dos artigos de revisão de literatura constará de nove questões e a dos artigos aplicados, 12 questões, sendo que as questões extras são relativas a dados de pesquisa, tais como tamanho da amostra, região geográfica onde foi realizada a pesquisa e perfil socioeconômico dos participantes. O formulário foi desenvolvido para analisar quantitativamente os artigos encontrados, verificando a presença ou ausência de dados sobre as conseqüências dos maus-tratos para o desenvolvimento, e dados epidemiológicos das conseqüências, as formas de maus-tratos e as causas da violência. Sua formatação objetiva o maior número possível de respostas fechadas e as questões abertas/ descritivas foram categorizadas para manter ao máximo o padrão numérico da primeira análise. Os critérios para a formação das categorias serão explicados na análise de dados. Com a finalidade de verificar possíveis diferenças nos resultados e enfoques, uma das questões do formulário é referente à distinção de desenho do estudo de artigos teóricos e aplicados e outra refere-se ao público-alvo do artigo, visto que alguns deles tratavam das especificidades de algumas profissões perante o problema da violência intrafamiliar. A opção “público geral/ outros” engloba os artigos que não evidenciaram no texto o direcionamento para uma classe profissional específica ou outra diferente das opções apresentadas. A questão referente à presença de dados de pesquisas anteriores foi formulada com o intuito de verificar se os artigos foram baseados em suposições não comprovadas dos autores ou em outras pesquisas já publicadas para aumentar a confiabilidade dos dados obtidos. Outra questão é relativa à modalidade de violência apresentada nos artigos (respondendo sim/não quanto haver ênfase em alguma das modalidades e, em se constatando tal ênfase, categorizando em violência sexual, violência física, violência psicológica ou negligência). E também foi formulada uma pergunta para o caso de artigos que expuseram a violência de maneira mais global, ou seja, falaram sobre mais de uma modalidade de violência. Nesta questão foi levantada a menção da violência psicológica como passível de causar danos, e as respostas possíveis descritas pelos autores dos artigos foram categorizadas em uma pequena escala de três graduações, observando que opção “não” foi marcada na ausência de menção ou indicadores da violência psicológica, a opção “razoavelmente” foi assinalada quando havia a menção desse tipo de violência, porém não era aprofundada ou não relatava possíveis conseqüências da mesma. A opção “sim” englobou os artigos que descreveram possíveis conseqüências da violência psicológica. 4 PROCEDIMENTOS 4.1 COLETA DE DADOS: A pesquisa foi realizada por meio de consultas a artigos científicos publicados em periódicos. Em seguida foram separados os artigos publicados em periódicos classificados pelos critérios CAPES QUALIS como A e B, e que retratam a realidade brasileira, por serem produzidos com dados locais, independente de terem sidos publicados em periódicos brasileiros ou estrangeiros. Todas as fontes tiveram como data limite a publicação a partir de 1990, (no entanto não foi encontrado nenhum artigo publicado anteriormente a 1992) e foram localizados a partir dos termos de pesquisa: VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR, FAMILIAR ou DOMÉSTICA, ABUSO, NEGLIGÊNCIA, MAUS-TRATOS, INFÂNCIA, CRIANÇA e DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Assim, os títulos de 39 artigos foram levantados e foi realizada a busca do texto na íntegra via internet (scielo, lilacs e bireme) bibliotecas locais (Curitiba) e em São Paulo e via comut no caso de artigos não encontrados nos locais apontados. Cada um dos artigos encontrados foi lido, analisado e um formulário correspondente foi respondido, de acordo com o desenho metodológico adotado pela pesquisa. Os dados obtidos no formulário foram tabulados e apresentados em tabelas e gráficos, e os resultados foram analisados de acordo com a freqüência de sua ocorrência. 4.2 ANÁLISE DE DADOS QUANTITATIVOS Os artigos científicos foram divididos nas categorias “revisão bibliográfica e “pesquisa de campo” sendo incluídos nesta as pesquisas aplicadas, básicas, levantamentos estatísticos, pesquisas de arquivo e estudos de caso. Segundo Cozby (2001, p 23) a pesquisa básica visa responder questões fundamentais sobre a natureza do comportamento, atendo-se à descrição e questões teóricas relativas a fenômenos como emoção, cognição e aprendizagem. Já as pesquisas aplicadas são propostas com o objetivo de examinar questões relativas a problemas práticos e suas potenciais soluções, além ter traçar correlações entre as variáveis estudadas (COZBY, 2001, p 24) Cada um dos artigos foi analisado quantitativamente, por meio do formulário geral elaborado para a presente pesquisa anteriormente descrito (anexo A) e qualitativamente. Os resultados numéricos foram tabulados e comparados. No caso de respostas fechadas do formulário e as respostas mais abrangentes foram analisadas de acordo com a possibilidade de se formar categorias. Os dados relativos às conseqüências dos maus-tratos foram divididos em categorias baseadas no DSM IV-TR (2003) e agrupadas de acordo com suas similaridades para serem expressas em gráficos, a saber: transtornos mentais, sintomas de transtornos mentais e problemas ao longo do desenvolvimento. Os transtornos mentais foram assim definidos de acordo com a descrição dos autores dos artigos (por exemplo, TEPT incluído na subcategoria ‘transtornos de ansiedade’) em concordância com as descrições fornecidas pelo DSM IV – TR. A categoria ‘sintomas de transtornos’ englobou todas as menções a características de transtornos mentais, quando o artigo não mencionava o transtorno como um todo, ou seja, os sintomas de transtornos emocionais, mas que por si só não descrevem uma psicopatologia (por exemplo, o autor mencionou “perda de interesse” e esta menção é um dos sintomas descritos nos transtornos de humor). Já a terceira categoria, mais abrangente, teve por objetivo enfocar as conseqüências no desenvolvimento interpessoal que podem se desenvolver no decorrer da vida da vítima e não são adequadamente descritas nas categorias anteriores (por exemplo, quando um autor menciona “déficit de habilidades sociais”). Nesta terceira categoria também foram incluídos os transtornos sexuais que, embora sejam transtornos que poderiam ser incluídos nas outras categorias, tais problemas estão muito ligados à vivência interpessoal e aspectos culturais onde a pessoa está inserida, logo optamos por incluir tais transtornos e sintomas na categoria ‘problemas ao longo do desenvolvimento’. Esta análise foi realizada pelo número de menções nas categorias descritas de acordo com as similaridades dos dados apresentados pelos autores dos artigos pesquisados (por exemplo, ansiedade incluída na subcategoria ‘sintomas de transtornos de ansiedade’ e cada menção foi contada e exposta no gráfico referente). O resultado numérico de cada uma das categorias totaliza 100%, referindo-se ao número total de menções feitas para aquela classe de conseqüências. O anexo B mostra em detalhes a quantidade de vezes que cada conseqüência foi mencionada nos artigos analisados e o total de menções em cada uma delas. Os dados epidemiológicos sobre as formas de maus-tratos encontrados foram apresentados numericamente em tabela (no quesito presença/ausência de dados) e as estatísticas levantadas foram apresentadas em texto no capítulo de resultados, assim como a análise dos dados epidemiológicos das conseqüências. A análise aprofundada da questão sobre as causas da violência foi também feita por meio da divisão das menções feitas nos artigos que foram agrupados de acordo com suas similaridades e divisão em quatro categorias, a saber: problemas sociais, problemas familiares, problemas psicológicos e fatores culturais, descritos em forma de texto. 4.3 ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS A análise qualitativa dos artigos foi norteada pelo tema da pesquisa e temas correlatos, sendo excluídos desta análise os artigos que, apesar de apresentarem os termos-chave eleitos para a busca dos artigos, não se relacionavam com a proposta da pesquisa. Assim, 16 dos 39 artigos foram excluídos desta parte da análise. Desta forma, as idéias expressas pelos autores em seus artigos sobre causas da violência, seus mantenedores, manifestações de conseqüências entre outras temáticas pertinentes ao tema desta pesquisa foram agrupadas, finalizando verificar a tendência das teorias e resultados de pesquisas nessa temática, por meio da comparação entre os diferentes autores. 5 RESULTADOS Os resultados obtidos serão apresentados na seqüência, sendo primeiramente apresentada a análise quantitativa dos 39 artigos estudados, que foi feita por meio do formulário em anexo (anexo A). Para uma apresentação mais objetiva, os resultados não estão expostos na ordem em que as questões são apresentadas no formulário, pois foram agrupados de acordo com a natureza de suas análises. Devida à extensa categorização das modalidades das conseqüências, esta parte será exibida como último tópico da análise quantitativa para não interromper a seqüência de números levantada nas outras questões. Em seguida consta uma análise qualitativa dos mesmos, que aborda pontos em comum e contrastantes dos dados trazidos pelos autores acerca do tema da pesquisa. 5.1 ANÁLISE QUANTITATIVA Quanto ao desenho dos estudos analisados, houve um predomínio de estudos de revisão de literatura (41.02%), seguido pelas pesquisas de arquivos (20.51%). No entanto, somando-se todas as pesquisas de caráter prático, elas totalizam 58.97% da amostra. A tabela 1 ilustra os tipos de estudos encontrados, seguindo a classificação dada pelos autores dos mesmos ou pelas características apresentadas, quando o(s) autor (es) não definem/ descrevem o desenho do estudo no método. Como base para fazer essa descrição dos estudos levantados foram utilizados os conceitos de Cozby (2001), referenciados no capítulo do método. TABELA 1 – MODALIDADES DE PESQUISAS LEVANTADAS TIPO DE PESQUISA N° DE ARTIGOS PORCENTAGEM Revisão de literatura 16 41.02 Pesquisa de arquivo 8 20.51 Levantamento 7 17.95 Estudo de caso 4 10.26 Pesquisa aplicada 3 7.69 Pesquisa básica 1 2.56 Total de pesquisas teóricas 16 41.03 Total de pesquisas práticas 23 58.97 Total 39 100 FONTE: DADOS DA AUTORA As questões 2, 3, 4, 5 e 6 do formulário foram condensadas em uma única tabela (tabela 2) devido ao modelo de suas respostas. Elas referiam-se à presença de descrições de conseqüências dos maus-tratos, de dados epidemiológicos das formas e de conseqüências dos diferentes tipos de abuso, sobre a fundamentação dos dados baseada em pesquisas anteriores e ao apontamento de causas para o fenômeno, com respostas “sim” ou “não”. No caso das questões 2, 3, 4 e 6 houve um detalhamento nas respostas que descreviam quais dados foram encontrados, expostos mais adiante. No presente estudo realizou-se um estudo quantitativo/qualitativo sobre as conseqüências, que será apresentado no item 6.1.7 da página 66. Deve-se destacar que a maior parte dos artigos (56.41%) não trazia dados sobre as conseqüências dos maus-tratos e que a ausência de dados epidemiológicos sobre as conseqüências em 89.74% doa artigos, bem como a ausência de dados sobre as causas da violência (66.67%), o que é relevante para a compreensão da nossa realidade brasileira sobre a pesquisa a respeito do tema aqui proposto. TABELA 2 – DADOS QUANTITATIVOS REFERENTES ÀS QUESTÕES 2, 3, 4 e 6 DO FORMULÁRIO SIM NÃO Conseqüências 43.58% 56.41% Dados sobre as formas de maus-tratos 20.51% 79.48% Dados sobre as conseqüências 10.26% 89.74% Dados baseados em outras pesquisas 43.59% 56.41% Causas da violência 33.33% 66.67% FONTE: DADOS DA AUTORA 6.1.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE AS FORMAS DE MAUS-TRATOS Os dados epidemiológicos mencionados nos artigos estudados são bastante escassos, como foi constatado na tabela 2, e também imprecisos. Os artigos apontaram o pai como o maior agressor sexual de suas filhas, oscilando entre 30% das ocorrências (DREZETT e cols, 2001, p 417) e 41,6% (AMARZARRAY e KOLLER, 1998, p?), seguidos do padrasto, cuja prevalência das agressões sexuais contra suas enteadas variaram entre 12% (DREZETT e cols, 2001, p 417) e 20% (AMARZARRAY e KOLLER, 1998, p?). Todos os artigos que traziam a prevalência de familiares como agressores de crianças apontavam que 80% das agressões cometidas contra crianças são perpetradas pelos pais (PNAD/IBGE, 1991, citado por MINAYO e ASSIS, 1994, p 264; IBGE, 1989 citado por REICHENHEIN e cols, 1999, p 110) . Sobre os números das vítimas de violência sexual, que foram os mais imprecisos, variaram entre 7% de abuso na população geral (Folha de São Paulo,18/01/1998 citado por Kerr-Corrêa e cols, 2000, p 259) e 36% no caso de meninas e entre 3 e 29% em meninos (PFEIFFER e SALVAGNI, 2005, p 98). É interessante destacar que são apresentadas ainda as estatísticas sobre uma estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que aponta para a possibilidade de 20% das meninas brasileiras entre 10-15 anos exercerem a prática da prostituição. (SAFFIOTI,1989 citada por ASSIS 1994, p 130). 6.1.2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE AS CONSEQÜÊNCIAS Apenas um artigo apontou dados epidemiológicos sobre as conseqüências dos maus tratos, descrevendo que alguns estudos apontam os traumas de infância como responsáveis por cerca de 50% das psicopatologias encontradas nos adultos (CRAINE e cols., 1988, apud ZAVASCHI e cols., 2002 citado por ADED e cols, 2006, p 206). 6.1.3 CAUSAS As causas da violência apontadas pelos artigos foram separadas em quatro categorias, complementando as respostas da questão 6 do formulário. Entre os 39 artigos analisados, 13 deles mencionaram 68 fatores de risco para a violência familiar, que foram agrupados de acordo com suas semelhanças. A categoria que engloba os problemas sociais compreende a pobreza, desemprego, falta de apoio social, relações de gênero e geração, urbanização, falta de alimentos, baixa escolaridade, violência na família de origem e isolamento social, representado 39.70% das menções de causas da violência. Os problemas familiares consistem na desestruturação familiar, idade da mãe inferior a 25 anos, autoritarismo, mãe passiva ou ausente, problemas no casamento, filhos sozinhos com o pai, muitos filhos, características pessoais da vítima, referenciados em 29.41% das menções. Na categoria problemas psicológicos estão inclusos o stress, drogas (lícitas e ilícitas), frustração, baixa auto-estima, doenças psicológicas e/ou psiquiátricas, com 20.59% das ocorrências. E a última categoria engloba os fatores culturais, onde foram incluídos a chamada cultura de massa, cultura local, valores pessoais e baixa religiosidade, presentes em 10.29% das menções. 6.1.4 PÚBLICO- ALVO DAS PUBLICAÇÕES A maioria dos artigos é dirigida ao público geral (89.74%), sem especificidades referentes ao público de determinada profissão ou área de saber. Já uma parcela referente a 10.26% da amostra avaliada mostrou-se especificamente voltada à classe médica, envolvendo atribuições específicas desta profissão. Não foram encontrados artigos que fossem dirigidos diretamente a psicólogos, enfermeiros ou assistentes sociais. 6.1.5 ANÁLISE DAS MODALIDADES DA VIOLÊNCIA No presente estudo foi também analisado se os artigos mencionavam modalidades específicas de violência. Assim, quando a modalidade esteve discriminada nos artigos (41.02% do total) foram quantificadas as freqüências de tais modalidades, a saber: violência física ou sexual. Não houve artigos específicos sobre violência psicológica ou negligência nos total de artigos avaliados. A análise das modalidades de violência presentes foi dividida em sim (quando há menção) e não, seguida da discriminação da modalidade enfocada. Dentre os artigos que especificavam uma modalidade de violência (16 do total de artigos) predominou a violência sexual, em 68.75% deles e a violência física em segundo lugar, com 31.25% dos artigos. Contrastando com as colocações teóricas, não houve nenhum artigo que enfocasse violência psicológica ou negligência. E 58.97% dos artigos não especificavam nenhuma modalidade de violência, apresentando uma visão mais generalista do tema. O gráfico 1 ilustra essa distribuição. 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Violência sexual Violência física Não mencionam GRÁFICO 1- MODALIDADE DE VIOLÊNCIA ENFOCADA PELOS ARTIGOS 6.1.6 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA A análise sobre relatos de violência psicológica como passível de causar danos foi realizada nos artigos que englobavam todos os tipos de violência, sem especificar uma modalidade como foi verificado na questão das análises das modalidades de violência. Como critério para esta classificação, foi considerada primeiramente a menção da violência psicológica no texto do artigo, entre ser citada ou não. Em seguida, os artigos que a mencionaram, porém sem descrever conseqüências ou não fazer nenhum aprofundamento foram descritos como “razoavelmente”, respondendo a pergunta nove do formulário (a violência psicológica é mencionada como passível de causar danos?). Artigos que discutiam e aprofundavam a questão da violência psicológica foram categorizados como “sim”, os que não mencionavam tal modalidade de maus-tratos integraram o subgrupo “não”. E, finalizando, a categoria “não se aplica” foi descrita para contabilizar os artigos que tratavam de uma modalidade específica de violência ou os artigos que foram incluídos na amostra por seus termos-chave, mas não trataram diretamente do assunto proposto. Os resultados encontram-se na tabela 3. TABELA 3 – A VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA É MENCIONADA COMO PASSÍVEL DE CAUSAR DANOS? Violência Psicológica N° artigos Porcentagem Não se aplica 23 58.97 Sim 9 23.08 Não 6 15.38 Razoavelmente 1 2.56 Total 39 100 FONTE: DADOS DA AUTORA As questões 10, 11 e 12 foram formuladas exclusivamente para analisar os artigos referentes a pesquisas práticas, que totalizam 23 dos 39 artigos pesquisados. Incluem todas as pesquisas com a exceção das bibliográficas, que, devido à sua natureza teórica, não respondem a tais perguntas. A tabela 4 é referente à separação dos participantes da pesquisa por regiões geográficas. Todos os artigos (n = 19) que apontam a localidade onde o estudo foi realizado foram sub-classificados na mesma tabela, representam em valor absoluto e porcentagem a quantidade de artigos publicados em cada região. Cabe ressaltar que não houve nenhum artigo aplicado com dados empíricos proveniente das regiões centro-oeste e norte. A região sudeste prevalece como a região de onde é proveniente a maior parte dos estudos, reunindo 78.95% dos artigos que apontam a região em que foram realizados. TABELA 4 – REGIÕES GEOGRÁFICAS Região Geográfica N° artigos Porcentagem Sim (subdivididos abaixo) Sudeste Sul Nordeste Não discrimina 19 15 2 2 4 82.61% 78.95% 10.53% 10.53% 17.39% FONTE: DADOS DA AUTORA Foi caracterizado também o tamanho da amostra dos estudos aplicados, denominado genericamente como ‘n’. Três das 23 pesquisas de campo não discriminaram quantos participantes integraram o estudo, e uma segunda análise dividiu também os diferentes tipos de participantes, seguindo a tabela. A análise dos artigos que mencionaram o tamanho da amostra (n) encontra-se na tabela 5: TABELA 5 - DIFERENTES SUJEITOS DE PESQUISA Tipo de n N° artigos Porcentagem Possui n 20 86.96% Fichas/laudos/arquivos 8 34.78% Pessoas/famílias 8 34.78% Profissionais da saúde 5 21.74% Programas 1 4.35% Escolas 1 4.35% Não se aplica Total FONTE: DADOS DA AUTORA 3 23 13.04% 100% A questão 12 do formulário era referente à distinção de segmento socioeconômico dos participantes. Embora muitos dos autores pesquisados apontassem a pobreza como um fator de risco importante, apenas um deles descreveu em seu método que seus participantes eram pertencentes à classe baixa. No entanto é necessário ressaltar que alguns sujeitos de pesquisa cuja caracterização dispensa a discriminação de segmento sócio-econômico (como no caso dos profissionais de saúde) ou tal caracterização não é pertinente (no caso de escolas e programas). Como análise paralela também foram tabulados os resultados pertinentes a formação profissional dos autores dos artigos e em que tipo de periódicos os mesmos foram publicados. Na tabela abaixo, constatamos que a maior parte dos artigos foi escrita por médicos (33.77%), seguida que equipes multidisciplinares que não apontavam a formação de seus participantes (28.20%). Não houve enfermeiros na autoria dos artigos, como exposto na tabela 6. Quanto ao periódico em que foram publicados, a maioria dos artigos é proveniente de revistas científicas voltadas à saúde de maneira geral (51.28%). Os resultados constam na tabela 7. TABELA 6 – FORMAÇÃO DOS AUTORES DOS ARTIGOS PESQUISADOS Autores N° artigos Porcentagem Médico 12 30.77 Não consta 11 28.20 Multidisciplinar 8 20.51 Psicólogos 5 12.82 Sociólogos 2 5.13 Dentistas 1 2.56 Total 39 100 FONTE: DADOS DA AUTORA TABELA 7 – ÁREA DE CONHECIMENTO DO PERIÓDICO ONDE OS ARTIGOS FORAM PUBLICADOS Periódicos N° artigos Porcentagem Geral* 20 51.28 Medicina 8 20.51 Psicologia 7 17.95 Enfermagem 4 10.26 Total 39 100 FONTE: DADOS DA AUTORA *Geral: refere-se a periódicos com publicações de diversas áreas da saúde. 6.1.7 CONSEQÜÊNCIAS Para realizar a análise das conseqüências, estas foram divididas em três grandes grupos de categorias de conseqüências, sendo citadas em 17 artigos (43.58%), segundo consta a seguir: 6.1.7.1 Síndromes e/ou Transtornos Para a primeira categoria foram agrupadas todas as menções dos autores pesquisados referentes a transtornos mentais (entendidos como um conjunto de sintomas) e transformadas em porcentagem em relação ao número de menções da categoria (n total de menções nesta categoria = 45). Os transtornos mencionados nos artigos foram agrupados segundo os critérios o DSM-IV TR (2003) como: transtornos de humor, ansiedade, diruptivos (incluindo TDAH), sono, alimentares e, de maneira isolada, a personalidade borderline (único transtorno de personalidade mencionado) e transtornos dissociativos (os quadros dissociativos foram acrescentados à categoria de sintomas sem especificação, pois podem pertencer a mais de um grupo de patologias). A discriminação detalhada de cada transtorno citado e o número de menções encontram-se em anexo (anexo B). Os transtornos de déficit de atenção e diruptivos, embora incluídos pelo DSM-IV na categoria de transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância, em virtude da natureza da pesquisa e a alta incidência de menções de tais transtornos como conseqüências dos maustratos, serão categorizados à parte, incluindo na subcategoria “transtornos diruptivos” e também o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtornos de conduta. Para a compreensão desses agrupamentos, segue uma breve explanação de cada uma das categorias e transtornos que foram levantados nesta pesquisa. Os transtornos de humor englobam problemas como a depressão, distimia, transtorno bipolar I e II e ciclotimia. Sua principal característica é a perturbação do afeto, para mais ou para menos. Os transtornos depressivos são marcados pelo humor deprimido e perda de interesse, acompanhado por outros sintomas característicos, variando em intensidade, duração e presença de sintomas psicóticos. Os transtornos bipolares e ciclotímico são caracterizados pela presença de episódios maníacos ou hipomaníacos, onde o humor é exacerbado, expansivo ou irritável (DSM IV – TR, 2003, p 345-346). Os transtornos de ansiedade agrupam o pânico, fobias, transtorno obsessivocompulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e stress. São marcados pela súbita elevação da ansiedade, período no qual há intensa apreensão, temor ou terror, freqüentemente associados com sentimentos de catástrofe iminentes. Nessas crises estão presentes sintomas físicos, como falta de ar, palpitações, dor ou desconforto torácico, sensação de sufocamento e medo de enlouquecer ou perder o controle (DSM IV – TR, 2003, p 419). Sobre a categoria dos transtornos diruptivos; O transtorno de déficit de atenção consiste em um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade em nível clinicamente significativo. O transtorno só pode ser diagnosticado após os sete anos de idade. A desatenção é marcada pela dificuldade de focar a atenção, por cometer muitos erros por omissão e presença de dificuldades em persistir na tarefa até seu término. Já a hiperatividade pode manifestar-se na forma de inquietação motora, independente do ambiente onde a pessoa está; a impulsividade apresenta-se como impaciência, dificuldade de esperar e dificuldade para a expressão verbal. Tais manifestações normalmente aparecem em múltiplos contextos e os sintomas normalmente pioram em situações que demandam atenção ou esforço mental (DSM IV – TR, 2003, p 112-112). Dentro da mesma categoria encontram-se os transtornos de conduta, sendo importante salientar que ocorrem freqüentemente como comorbidade. Os transtornos de conduta consistem em um padrão repetitivo e persistente de comportamentos no qual são violados os direitos individuais dos outros ou normas ou regras sociais importantes próprios da idade, manifestando-se por no mínimo 12 meses e causar comprometimento clinicamente significativo. O padrão comportamental geralmente se manifesta em vários contextos. Os transtornos do sono são categorizados de acordo com sua etiologia presumida. Nesta pesquisa enfocaremos os transtornos primários do sono, que não são causados por substância, condição médica geral ou outro transtorno mental. Esses transtornos são subdivididos em dissonias (caracterizadas por anormalidades na quantidade ou qualidade do sono) e parassonias (caracterizada por eventos comportamentais ou fisiológicos anormais ocorrendo em associação com o sono. Fazem parte das dissonias a insônia primária, hipersonia primária, narcolepsia, transtornos de sono relacionado à respiração, transtorno do ritmo circadiano do sono e dissonia sem outra especificação. Integram as parassonias o transtorno de pesadelo, transtorno de terror noturno, sonambulismo e as parassonias sem outra especificação (DSM IV – TR, 2003, p 567). Os transtornos da alimentação compreendem a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. A anorexia nervosa compreende a recusa em se manter um peso mínimo aceitável para a faixa normal e uma perturbação significativa na forma ou tamanho do corpo. Já a bulimia nervosa é marcada pelos episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados, tais como vômitos induzidos e exercícios excessivos (DSM IV – TR, 2003, p 555). O transtorno de personalidade borderline é marcado por um padrão de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, além de acentuada impulsividade. São indivíduos que temem ser abandonados e muito sensíveis às circunstâncias ambientais (DSM IV – TR, 2003, p 660). Os transtornos somatoformes têm como característica principal a presença de sintomas físicos que sugerem uma condição médica geral, porém não são completamente explicados por ela. Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente relevante ou prejuízos ao funcionamento social (DSM IV – TR, 2003, p 469). Na categoria 1 foram incluídas as subclasses ‘transtorno dissociativo’ e ‘transtornos psiquiátricos’. Os transtornos dissociativos caracterizam-se pela perturbação nas funções habitualmente integradas de consciência, memória, identidade, ou percepção do ambiente. Deste grupo fazem parte a amnésia dissociativa, a fuga dissociativa, transtorno dissociativo da identidade, transtornos de despersonalização e transtornos dissociativo sem outra especificação (DSM IV – TR, 2003, p 497). Já os denominados como transtornos psiquiátricos foram assim descritos por não serem categorizados em nenhum grupo pelos autores, expostos de maneira genérica. No gráfico 2 está exposta a quantificação de cada um dos transtornos que foram citados pelos autores dos artigos e sua freqüência em porcentagem. Os transtornos mais freqüentemente encontrados nesta categoria são os transtornos de humor, mencionados em 36% dos dados relativos a esta categoria, e o menos encontrado foi o da personalidade borderline, com 5% das menções. 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Humor Ansiedade Diruptivos Sono Alimentares pers. Borderline trans. Dissociativo trans. Psiquiátricos (geral) transtornos GRÁFICO 2 – FREQÜÊNCIA DE CITAÇÕES DE TRANSTORNOS MENTAIS COMO CONSEQÜÊNCIAS DOS MAUS-TRATOS 6.1.7.2 Características de Transtornos As características de transtornos citados isoladamente pelos autores foram agrupadas quando citadas de forma literal e igual por diferentes autores ou quando expressavam claros sinônimos ou ainda terminologia bastante semelhante (por exemplo, as menções de raiva e hostilidade foram incluídas na categoria de sintomas de transtornos diruptivos). Para a segunda categoria, as menções a sintomas de doenças foram novamente agrupadas de acordo com os grupos de transtornos mentais descritos pelo DSM– IV TR. Outras classes, como a de transtornos somatoformes e doenças clínicas foram mantidas em separado pela impossibilidade de se determinar que as patologias clínicas se configurem ou não como sintomas somatoformes, uma vez que os autores não esclareciam essa diferença nos seus textos como, por exemplo, “cefaléia”, que tanto pode ser sintoma de diferentes problemas clínicos quanto sintoma de transtornos somatoformes. O grupo intitulado no gráfico como “não específicos” são sintomas descritos de maneira genéricas ou em desuso na literatura atual (por exemplo, ‘neurose’), não indicando claramente a que grupo são referentes ou ainda descrevem respostas que podem fazer parte do diagnóstico de transtornos de diferentes grupos. Os sintomas foram agrupados da mesma maneira que a categoria anterior, sendo que os números de menções de cada sintoma estão expostos de maneira mais detalhada no anexo B. O gráfico 3 apresenta os resultados obtidos nesta categoria. Os sintomas de transtornos de déficit de atenção e diruptivos somam 34.78% das menções totais deste grupo de conseqüências, sendo o grupo mais prevalente nesta categoria e as características de transtornos somatoformes totalizam 3.48% das menções de sintomas, somando o menor número de menções. O grupo referente a sintomas psicóticos engloba 8.69% das menções. Este grupo inclui características de transtornos tais como esquizofrenia, transtorno delirante, transtornos psicóticos e outros de igual natureza que não foram encontrados em um número estatisticamente relevante (houve apenas uma menção de transtorno psicótico enquanto síndrome). Historicamente esses transtornos estão ligados à presença de delírios e alucinações que ocorrem na ausência de insights para sua natureza patológica, embora o termo seja ampliado para incluir características tais como discurso desorganizado e comportamento desorganizado ou catatônico (DSM IV – TR, 2003, p 303). 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Diruptivos Humor Ansiedade Somatoformes Doenças clínicas Sono Sint. Psicóticos GRÁFICO 3 - CARACTERÍSTICAS OU SINTOMAS DE TRANSTORNOS 6.1.7.3 PROBLEMAS AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO Não específicos Nesta categoria foram agrupadas as menções aos os diferentes problemas que podem acometer o desenvolvimento da criança no decorrer de sua vida desencadeados por experiências de maus-tratos, incluindo desenvolvimento, aprendizagem, socialização e habilidades sociais, sexualidade e a repetição da violência contra seus filhos na vida adulta. Algumas das características são citadas de maneira bastante inespecífica(por exemplo, dificuldades vocacionais), no entanto não houve um número grande de menções. No gráfico constam as categorias mais mencionadas pelos autores, tomando como número mínimo de duas menções (relação no anexo B). Os problemas no desenvolvimento foram mencionados 15 vezes, sendo que dez foram pertencentes à esfera cognitiva (linguagem, cognição, memória), três sobre os aspectos afetivos e da personalidade e duas menções para motor e físico. Os problemas escolares e/ou de aprendizagem foram citados quatro vezes, podendo ou não estar relacionados com os problemas no desenvolvimento, geralmente manifesto por atrasos e funcionamento insuficiente. Esta subclasse obteve o maior número de menções, totalizando 38.33% das mesmas. Os transtornos sexuais foram descritos nesta categoria por serem pertinentes ao desenvolvimento global da pessoa envolvendo as esferas pessoais, sociais, culturais e interpessoais. Poderiam integrar a segunda categoria descrita nesse trabalho, porém, em virtude do exposto, a opção foi por incluí-la nos problemas relacionados ao desenvolvimento. Inclui disfunções sexuais, parafilias, transtornos da identidade de gênero e transtorno sexual sem outra especificação. Caracterizam-se pela perturbação no desejo sexual e alteração fisiopsicológica que caracteriza o ciclo de resposta sexual, causando sofrimento acentuado e dificuldades interpessoais (DSM IV – TR, 2003, p 511). Os transtornos sexuais somaram 35% das menções da terceira categoria de conseqüências, sendo que a mais prevalente foi o comportamento sexual inapropriado (nove menções), que inclui a conduta hipersexualizada e masturbação compulsiva e/ou em público. Cinco artigos traziam termos que denotavam problemas para a vivência da sexualidade ao longo da vida, sem especificar melhor o significado desta terminologia (que pode indicar disfunções sexuais). Os problemas relativos à identidade e ao papel sexual foram citados duas vezes, e envolvem dificuldades quanto ao gênero não explicada por uma condição médica geral (DSM IV – TR, 2003, p 547). Nos problemas interpessoais predominaram os déficits de habilidades sociais, expresso por dificuldades de expressão e sociais, totalizando sete menções e o fenômeno da repetição, mencionado em seis artigos que se manifesta da maneira como foi descrito na revisão bibliográfica, repetindo o ciclo de violência ao qual a criança foi exposta. 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% ão da fe nô m en o dé fic it d e se co m pt o. re pe tiç ci ai s ha bi lid ad es na pr xu al i se da a vê nc i vi na pr ob le m as so op r ia do xu al id ad e al se xu id en tid ad e na as pr ob le m es c pr ob le m as Pr ob le m as no ol ar es de s /a pr e en vo nd iz lv im ag em en to 0% Problemas ao longo do desenvolvimento GRÁFICO 4 - PROBLEMAS AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO No gráfico 5 é apresentada a soma de todas as menções de cada uma das categorias, cada uma delas representada por uma das colunas do gráfico. Totalizando 228 menções encontradas em 15 artigos (os quais descreviam conseqüências; dois artigos mencionavam possíveis conseqüências, mas sem discriminá-las), a categoria de sintomas de transtornos teve o maior número de menções, somando 51% (freqüência absoluta de 166 menções). 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Sintomas Problemas no desenvolvimento Transtornos mentais Menções totais de consequências GRÁFICO 5 - TOTAL DE MENÇÕES POR CATEGORIA 6.2 ANÁLISE QUALITATIVA A análise qualitativa do presente trabalho foi elaborada de maneira a levantar e agrupar os autores que discorreram sobre temáticas pertencentes à violência contra crianças e adolescentes de acordo com a compatibilidade ou não de suas conclusões expressas nos artigos analisados. Os artigos estão numerados (de acordo com o anexo C) para evitar que artigos diferentes redigidos pelo mesmo autor sejam confundidos. Desta forma, a referência a cada artigo será feita pelo seu respectivo número. Foram encontrados grandes agrupamentos de temas nas discussões e conclusões dos artigos, tais como causas da violência, mantenedores, dificuldades dos profissionais para lidar com a violência entre outros. Inicialmente foi constatado que o próprio conceito de violência não é preciso. Sempre há diferenças e ponderações sobre o tema. No artigo 38 a violência é vista como uma forma de abuso de poder, estando presente em todas as classes sociais e sendo resultante do conflito de gênero e geração. No artigo 37, a violência é vista como uma transgressão do poder disciplinador do adulto, negação da liberdade da criança e um processo de vitimização enquanto forma de aprisionar a vontade da vítima e submetê-la ao desejo do adulto. No artigo 37 também são expostas teorias para a exploração da violência com base nos problemas sociais do final do século XIX e início do século XX. Em adendo, a revisão de literatura do artigo 7 cita Minayo e Souza (1999) sobre o início das mudanças para a percepção do problema da violência como um problema clínico-social e levantam importantes questionamentos sobre a possibilidade de preveni-la e sobre como trabalhar com famílias envolvidas em práticas de maus-tratos. Admitem que a exploração da violência contra crianças é bastante complexa por envolver uma rede de aspectos sócio-culturais, psicossociais, psicológicos e biológicos, ou seja, uma trama complexa de vários fatores. Tais definições não foram coerentes com todas as causas encontradas nos artigos. As causas da violência, em todas as modalidades em que se apresenta, aparentam ser o fator mais controverso das discussões, mostrando esta questão sob diferentes teorias. Um deles é a reprodução das experiências vividas na infância, fenômeno que é intitulado como “Fenômeno da Repetição”. Foi trazido pelos artigos 7, 10, 21, 35 e 36, com a ressalva de tal dado não ser baseado em pesquisas brasileiras, visto que não há estudos locais com a mesma amplitude e de maneira a evitar o determinismo, uma vez que há múltiplos fatores envolvidos, inclusive a resiliência. Os autores do artigo 1 apresentaram o modelo ecológico de Bronfrenbrenner para ilustrar a interação de fatores que fazem parte do desenvolvimento infantil enfatizando que “os múltiplos fatores envolvidos na determinação dos problemas de desenvolvimento e comportamento são mais dependentes da quantidade do que da natureza dos fatores de risco, visto que diferentes fatores de risco produzem resultados semelhantes”. A multiplicidade de fatores é enfatizada em outras pesquisas apresentadas neste artigo, que relacionou os seguintes principais aspectos determinantes da saúde mental; histórico de doença mental materna, alto nível de ansiedade materna, perspectivas parentais limitadas, chefe de família sem qualificação, baixa escolaridade materna, família de grupos étnicos minoritários, famílias monoparentais, eventos estressantes e quatro ou mais filhos, sendo que o múltiplo risco é diretamente proporcional ao dano. Outro aspecto enfatizado é a relação da pobreza com as doenças mentais (relacionando aos já citados fatores de risco). O artigo 37 descreve a “educação adultocêntrica”, que leva à completa objetalização da figura da criança, transmitindo-lhe premissas como: os pais merecem respeito, a priori por serem pais; crianças, a priori não merecem respeito algum; os pais sempre têm razão, etc. Da mesma forma, como boa parte dos estudos do artigo 7 e os dados levantados no artigo 36 buscam realizar uma análise macroestrutural que está por trás dos maus-tratos, como aspectos sociais, culturais, econômicos e dominação de gênero e geração (apontada nos artigos 7, 10, 20, 35 e 38), além de associar a violência doméstica ao contexto histórico, social, cultural e político em que ela ocorre. Tal constatação pode ser acrescida ao relato de experiência descrito no artigo 10, que aponta que problemas econômicos e sociais contribuem para a violência, mas por si só não explica o fenômeno além de descrever a cultura de massa e consumismo como fatores desencadeantes da violência. Portanto, concordando com a pesquisa de arquivo do artigo 21, que descreve ocorrências policiais de diversas naturezas que envolvem crianças, as análises apontaram que a violência doméstica não escolhe sexo, cor nem classe social. O artigo 18 fez esta mesma colocação, com o adendo de que a violência doméstica é mais ‘visível’ nas camadas sociais menos favorecidas. Um dos fatores que influenciam essa constatação foi trazido no artigo 25, que relata que o trabalho exclusivo no setor privado aumenta a chance do profissional não notificar o abuso. Outras explicações trazidas nos artigos 7, 35, 21 e 24 apontam na mesma direção, sendo por vezes repetidas ou descritas de maneira mais abrangente. A revisão de literatura do artigo 7 associou as causas da violência aos desajustes familiares, psíquicos e alcoolismo. Outros fatores que são apresentados na pesquisa aplicada exposta no artigo 35 colocam os fatores desencadeantes foram enumerados como: crise no casal (58%), características dos filhos (51%), dificuldades na imposição de limites (40%) e alcoolismo (32%). O artigo 20 descreveu que os agressores de sua amostra, que em sua maioria estavam desempregados e possuíam baixa escolaridade. Já a pesquisa de arquivo descrita no artigo 21 concorda em parte com os dados trazidos pelos artigos acima expostos, mapeando os fatores de risco para o abuso sexual de crianças, que são: uso de drogas, papéis sexuais rígidos, falta de comunicação na família, autoritarismo, stress, desemprego, mãe passiva ou ausente, dificuldades conjugais, famílias reestruturadas, isolamento social, transtornos psiquiátricos, doença, morte ou separação do cônjuge, mudança no comportamento da criança. O artigo 24, referente a uma pesquisa aplicada aponta o perfil de violência física conjugal e contra filhos e concluiu que mães com menos de vinte e cinco anos, baixa escolaridade do pai, duas ou mais crianças menores de cinco anos no domicílio e abuso de drogas são mais vulneráveis à violência. Projetou-se uma prevalência de 90,2% de violência em lares com todas essas características e, na ausência desses fatores, as estimativas diminuíram consideravelmente (18,9%). Note-se que muitos fatores de risco apontados em diferentes artigos se repetem, havendo concordância entre eles. Mas há também que se registrar que as causas da violência levantadas são múltiplas e variadas, se referindo a diversos eventos de caráter negativo na vida do casal e das famílias enquanto predisponentes à violência. Entretanto o artigo 7 apontou para o risco da estigmatização das famílias de organização diferente da tradicional e que não há pesquisas suficientes para estabelecer tal fato como fator de risco. Da mesma forma as relações positivas entre alcoolismo e violência também são de difícil conclusão, visto que não é possível prever se a violência ocorreria ou não em abstinência. É citado também o risco de criminalização da pobreza, já que tal aspecto é comumente relacionado à violência (como já foi constatado na análise quantitativa). No entanto, há um viés de notificação, pois as classes mais abastadas além de menos numerosas contam com mecanismos que lhes garantem o sigilo. O artigo 36, que traz a percepção de operadores de Direito, verificou a dificuldade de expressão sobre o tema violência e alguns traçam ligações com problemas socioeconômicos, o que as autoras definem como “uma visão reducionista” que restringem o problema às classes menos favorecidas, embora ele ocorra em todas as classes sociais. Outro fator bastante recorrente nos artigos analisados foram as relações que sustentam e mantêm a violência doméstica, no entanto todas as citações apontaram para motivos semelhantes ou que não se contradiziam. O artigo 10 apontou que a violência é mantida pela impunidade, pela ineficiência de políticas públicas e ineficácia das práticas de intervenção e prevenção. O artigo 21 apontou na mesma direção em uma pesquisa de levantamento que verificou que poucos inquéritos foram instaurados e apenas um resultou em processo, onde o réu foi inocentado (sendo que houve eventos fatais naquele caso). Uma das causas para tal foi a falta de provas, muitas vezes ocorrendo por conta da ineficiência da polícia, mostrando as contradições entre as leis e fatos. O autor do artigo 21 frisa que, na prática, a sociedade protege o agressor e desqualifica a criança, porque seu relato não é aceito como uma prova legítima. No artigo 20 foi apontado que, em 61,7% dos casos de abuso pesquisados, alguém sabia do ocorrido e não denunciou, representando a dificuldade que a família e a sociedade encontram para fazer estas denúncias, o que denota conivência com o abuso. Da mesma maneira, o artigo 3 apresentou em sua revisão de literatura que a sociedade acaba por aceitar e ser conivente com a prática do abuso sexual devido a impunidade ou princípios tais como o direito à privacidade, o direito à diferença cultural e um suposto consentimento do menor. As ações dos grupos que vêm trabalhando com o intento de prevenir e desvendar o abuso sexual de menores no âmbito familiar, que buscam estratégias para evitar a impunidade deparam-se com as práticas do silêncio por parte das vitimas, com o receio da denúncia por parte da família e a falta de atitude dos profissionais envolvidos. No abuso sexual existe toda a problemática da falta de evidências e provas e o relato da vítima acaba por ser desvalorizado pela percepção de que o menor precisa de um adulto responsável para fazer valer seus direitos (o que no abuso incestuoso pode não ocorrer, visto que o responsável é o abusador). A lei acaba por absolver o agressor devido à falta de provas, seguindo o princípio de que ‘todo suspeito é inocente até que se prove o contrário’. Enfatizando este problema da denúncia do agressor, o tema principal do artigo 37 é a chamada “Lei do Silêncio” que permeia a violência doméstica, referenciado por muitos dos autores que escrevem sobre o tema. Ela é evidenciada pelos profissionais que entram em contato com as vítimas e preferem se omitir e por parte das próprias vítimas, o que acaba por reforçar ainda mais as agressões e as conseqüências das mesmas. Um fator bastante próximo aos já apresentados é a subnotificação das agressões por parte dos profissionais da saúde aos órgãos responsáveis. O artigo 10 coloca que o atendimento do abuso sexual gera muita ansiedade nas equipes envolvidas, o que dificulta a intervenção. O artigo 25 apresenta um estudo com pediatras mostrando o despreparo da classe médica para lidar com situações de abuso, constatando-se a propensão a sub-avaliar a gravidade dos maus-tratos. Os sujeitos declararam não confiar nos órgãos de proteção à criança (mais de 50%) e 94,6% relatou temer sanções legais por notificar um caso de maustratos. Da mesma maneira, o artigo 33 também descreveu a descrença dos profissionais da saúde nos Conselhos Tutelares, motivada por más experiências na tentativa de notificação ou demora para a obtenção de respostas, ou ainda por temer a produção de efeitos negativos na vítima e represálias pessoais. Os artigos 18 e 19 também relataram a questão da subnotificação, seja por parte dos profissionais quanto de pessoas que têm o conhecimento do ocorrido e nada fazem. Os artigos que realizaram pesquisas com profissionais mostraram também o despreparo e dificuldade para lidar com a violência que não deixa marcas físicas. O artigo 33 apresenta um estudo de caso de análise qualitativa que analisou a percepção dos profissionais da saúde acerca dos maus-tratos. O estudo mostrou que a atitude do profissional frente a abordagem dos maus-tratos relaciona-se intimamente com a visibilidade ou não que o problema assume em seu cotidiano. O caso da negligência se destaca em todos os depoimentos e oscila entre aspectos visíveis e invisíveis, como por exemplo, a desnutrição severa, que é uma forma visível de negligência e a negligência psicológica, de difícil constatação. Há controvérsias no discurso dos profissionais na classificação da negligência como forma de violência. A violência psicológica é um campo em que os médicos relatam ter dificuldades no diagnóstico por não ter um preparo adequado. Os psicólogos também apontam dificuldades conceituais sobre como definir a violência, como já foi exposto anteriormente. Nessa pesquisa descrita no artigo 32 também é apontada a dificuldade de manejo com a violência que não deixa marcas evidentes ou visíveis. Os autores atribuem tal deficiência à formação dos profissionais da saúde, que enfatiza o binômio saúde-doença, e que focaliza os problemas mais “palpáveis” e/ou com soluções terapêuticas mais objetivas. Há outros fatores concomitantes, tais como descrença em poder ajudar ou não crer que seja atribuição sua realizar investigações no âmbito da violência familiar. Tal colocação é pertinente às colocações do artigo 5, que defendem que os conceitos atuais de violência excluem aquelas que não deixam marcas visíveis, mas deixam seqüelas. O artigo 27 retoma a obrigatoriedade legal da denúncia em casos de maus-tratos, enfatizando a responsabilidade do médico. São analisadas entrevistas com profissionais da saúde que evidenciam em suas falas a não-valorização dos sinais (até mesmo os físicos) de maus-tratos e suas atitudes frente à violência muitas vezes são limitadas ao questionamento dos responsáveis sobre os ferimentos e, em caso de negação, o caso é dado por encerrado. Os números sobre a violência são bastante variados, não havendo consenso sobre quem é o agressor ou a vítima. O artigo 10, 18 e 38 apontaram que as principais vítimas da violência doméstica são as crianças do sexo feminino, enquanto os artigos 26 apontou a prevalência da violência contra meninos nos casos analisados. O artigo 18 retratou diferentes dados, onde foram descritas pesquisas que apontavam como principais vítimas as meninas e meninos, em amostras distintas. Quanto ao principal perpetrador, à quantidade de notificações feitas aos órgãos responsáveis e à distribuição das modalidades de maus-tratos, os resultados diferiram de acordo com a modalidade da violência praticada. O artigo 20 aponta o pai e padrasto como principais abusadores sexuais e as meninas como principais vítimas, sendo que o abuso se inicia entre os cinco e oito anos de idade. Cerca de 25% das meninas e 10% dos meninos são vitimados sexualmente. O artigo 20 descreveu o agressor como normalmente sendo do sexo masculino e exercendo papel de cuidador. O mesmo artigo 20 expôs que contexto onde a violência ocorre é a residência da vítima (66,7% dos casos) e em 67,8% dos casos teve a duração entre um e nove anos. Em 79,1% dos casos o abuso aconteceu mais de uma vez e em 41,9% a ocorrência era diária. Em concordância, o artigo 32 colocou a mãe como principal agressora física e psicológica, enquanto o pai é o maior perpetrador de violência sexual. O artigo 19 mostrou que o abuso sexual contra adolescentes é perpetrado por desconhecidos (72,3%) e no caso de crianças, 84,5% é perpetrado por agressores conhecidos, comumente do núcleo familiar. Outro dado relevante foi o índice de vítimas portadoras de deficiência mental (35,1%). Estima-se que cerca de metade das mulheres deficientes mentais são vitimadas pelo menos uma vez, ao longo de suas vidas. O artigo 35 apontou que a violência física é a mais notificada (58% dos casos) e as crianças do sexo feminino as maiores vítimas (60%). No entanto, a violência física e psicológica ocorre de maneira mais distribuída, com leve tendência ao feminino. Já na violência sexual e negligência há diferença significativa, sendo que a primeira acomete meninas na proporção de 1:7 e a segunda, meninos na proporção 1:2. Neste estudo a mãe figura como agressora em 49% dos casos e o pai em 40%. Porém, quando o pai foi o agressor, houve medida de proteção em 40%, contra 18,5% geradas por agressões perpetradas pela mãe. Os artigos 21 e 38 também descreveram pesquisas nas quais a mãe era a principal agressora. O artigo 38 analisa casos de violência doméstica atendidos pelo Conselho Tutelar de Niterói. O abuso físico é sempre o mais notificado e o sexual, o menos notificado. Também relatou que a negligência á a forma de violência mais comum cometida contra crianças até quatro anos. A partir dos cinco anos de idade, o abuso físico seguido do psicológico predominavam na amostra estudada. Em contrapartida, a revisão de literatura do artigo 5 apontou que a maioria das notificações de violência contra crianças e adolescentes é relativa a abuso sexual (dados relativos ao Rio Grande do Sul). Sobre as conseqüências da violência, o artigo 1 defendeu a proposta de que as raízes das doenças mentais estão muito mais calcadas no ambiente que no biológico, sendo fatores de risco o abuso, maus tratos, negligência e estimulação falha ou inadequada, pobreza, violência, falta de alimentos e aumento da urbanização. Desta forma, o ambiente seria fortemente responsável para a instalação de doenças mentais que teriam os maus-tratos como raiz. Nesse mesmo artigo foi descrito que condições adversas no ambiente podem comprometer as funções cerebrais quando há predisposição para tal, misturando e dinamizando as relações biológicas e ambientais para a instalação da psicopatologia. Foram encontradas algumas relações entre psicopatologia e maus-tratos, como no estudo de caso exposto no artigo 8, que relacionou a exposição freqüente à violência e abuso intrafamiliar a desenvolvimento de transtornos de humor, especialmente em pacientes que apresentam episódios maníacos (estes com níveis significantemente mais altos de abuso sexual). Estes dados complementam os encontrados no artigo 17, uma revisão de literatura que relaciona o abuso sexual e transtornos alimentares, depressão, síndrome do cólon irritável, dor crônica e refuta a relação com transtornos dissociativos. Uma das hipóteses levantadas no artigo 17 para o aumento da incidência de transtornos alimentares em vítimas de abuso sexual seria uma forma de defesa contra sentimentos que não podem ser elaborados após o trauma. No entanto, alguns artigos analisados não encontraram tal relação, porém, numericamente, mais autores constataram a relação entre abuso sexual e anorexia. Quanto à bulimia, há poucos trabalhos. A pesquisa aplicada do artigo 29 relacionou a agressividade em meninos com violência doméstica em comparação ao grupo controle. Tanto a incidência quanto a severidade foram mais prevalentes no grupo vítima de violência doméstica, o que contrapõe as informações do artigo 2, uma pesquisa de levantamento que constatou que “não parece haver uma relação causal linear entre exposição a situações de violência e intensificação de comportamentos agressivos e violentos”. Corroborando os dados encontrados na análise quantitativa sobre fatores culturais envolvidos na violência familiar, vários artigos (21, 26, 35, 38) apresentaram que, no Brasil, o castigo físico é visto como um mecanismo disciplinador legítimo, e estudos apontam que as vítimas referem-se à prática como tendo a intenção de educar, não se considerando como alvos de violência. Foram encontrados outros dados que, embora relevantes, só foram apresentados por um artigo, tais como o relato dos abusadores para justificar seus atos. O artigo 20 mostrou os poucos registros feitos em delegacias que mostravam os motivos dos abusadores para cometer tais atos. Os motivos apontados foram, em ordem: percepção da vítima como adulta e capaz (31,3%), questões religiosas (25%), desejo de ser responsável pela iniciação sexual da filha. Ademais, dos relatos que apresentavam a argumentação do agressor, 56,3% negavam a violência. Os que a assumiam, delegavam a culpa à vítima ou outra pessoa. Na direção de alterar esta realidade, a autora do artigo 10 acredita que a intervenção mais adequada é a terapia do grupo familiar para a resolução do problema. 7 DISCUSSÃO A partir dos resultados obtidos pode-se verificar que a violência intrafamiliar possui diversas manifestações, variadas causas e principalmente, múltiplas conseqüências, em diferentes graus. Neste levantamento bibliográfico pudemos constatar que a maioria dos artigos pesquisados corresponde a revisões de literatura, porém, somando todos os tipos de pesquisa de campo, estas totalizaram 58.97% da amostra, sendo mais numerosas sob a forma de pesquisas de levantamento e de arquivo. Este dado revela a falta de pesquisas que poderiam descrever mais apuradamente as conseqüências que podem decorrer dos maustratos, tais como estudos de caso retrospectivos e longitudinais. Muitos dos artigos estudados referenciavam as mesmas fontes, logo obtivemos muitas informações repetidas do mesmo autor (inclusive diferentes artigos que foram escritos baseados na mesma pesquisa). Mesmo seguindo o critério de inclusão descrito no método segundo os termos de pesquisa, a maioria dos artigos não expunha conseqüências decorrentes da violência familiar, dados epidemiológicos sobre as formas de maus-tratos e conseqüências das mesmas e possíveis causas, ou traziam dados estatísticos internacionais, o que indica como tais números são escassos no Brasil. Os dados obtidos na maioria dos artigos analisados eram referentes às pesquisas de levantamento e de arquivo, muitas vezes contando com amostras pequenas e muito localizadas (por exemplo, uma delegacia ou uma sede do Conselho Tutelar de determinada cidade), o que impede uma generalização do resultado, ainda mais levando em conta o quão heterogêneo é o Brasil, devido à sua extensão territorial, diferentes culturas que integraram a cultura local e problemas socioeconômicos, os quais diferem dependendo da região geográfica estudada. Em adendo, é interessante ressaltar que, dos artigos referentes a pesquisas de campo, a grande maioria dos artigos que discriminou a localidade geográfica onde o estudo foi realizado apontou que tais pesquisas são provenientes da região sudeste (82.61% do total de artigos que apontavam a região) e nenhum estudo realizado na região norte e centro – oeste foi encontrado na presente amostra. Sabe-se que as regiões têm problemas diferentes, índices de desenvolvimento humano diferentes, o que reflete diferentes problemas sociais. As informações epidemiológicas sobre abuso, tais como foram apresentadas no tópico dos resultados, são bastante escassas e imprecisas, variando enormemente, assim como nos números encontrados sobre violência sexual: oscilam entre 7% e 36% de prevalência nos artigos da amostra. Os dados epidemiológicos sobre as conseqüências só foram encontrados em uma pesquisa, que apontou os traumas de infância como responsáveis de cerca de 50% das psicopatologias encontradas nos adultos (CRAINE e cols., 1988, apud ZAVASCHI e cols., 2002 citado por ADED e cols, 2006 p 206). Apesar de ser a única menção a esse tipo de estatística, ela é relevante para apontar o quanto uma vivência traumática pode comprometer a saúde de uma pessoa. Segundo o que foi exposto na análise dos dados, não há consenso entre os autores sobre os fatores que levam os pais a perpetrar maus-tratos infantis, sendo um dos pontos mais controversos levantados na pesquisa. São apontados fatores tais como problemas sociais relativos à pobreza e culturais, tais como as relações de gênero e geração. A violência de gênero é um fenômeno extremamente complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero, na sexualidade, na identidade e nas instituições sociais, nas quais o “direito masculino de dominar a mulher é visto como a essência da masculinidade” (GIFFIN, 1994, p 148). Giffin (1994, p 150) aponta em suas análises de gênero que a visão da sexualidade como impulso biológico instintivo é historicamente aplicada muito mais à sexualidade masculina, que por sua vez é caracterizada como dominadora, controladora e violenta, justamente por ser dificilmente controlável por sua natureza instintiva. Como o ato sexual é tido como expressão natural da necessidade do macho em conquistar e dominar a fêmea, "a associação estreita entre sexualidade, poder e violência masculinos é uma necessidade biológica e, portanto, inevitável" (JACKSON, 1987, p 571 citado por GIFFIN, 1994, p 150). A socióloga Heleieth Saffioti (1989, p 16) associa a configuração capitalista da sociedade atual com as relações de gênero e de poder e coloca que existem dois sistemas estruturadores das relações de dominação no mundo ocidental, além das classes socioeconômicas: o patriarcado, que legitima a assimetria entre os gêneros e o racismo, que permite ao branco dominar o negro na estrutura social. Isso caracteriza o poder como “macho, branco e rico”, agregando o poder qualificativo adulto, pois, como já foi mencionado anteriormente, as crianças são os elementos mais vulneráveis na sociedade. Nessa hierarquia, o topo seria o homem branco, rico e adulto, detentor do que a autora definiu como grande poder ou macropoder. O último lugar é ocupado pela mulher criança, negra e pobre. No entanto, a vitimização de crianças ocorre porque o agressor possui uma pequena parcela de poder e aspira ao macropoder. Devido a essa aspiração, o agressor sente necessidade de exercer um poder maior do que o que detém, e exorbita sua autoridade, em forma de violência. Isso caracteriza a síndrome do pequeno poder, na qual a pessoa “vinga-se” da opressão que sofre dirigindo-a às figuras que possuem menos poder que ele. Desta forma, o sub-empregado desconta sua frustração na esposa e filhos e a esposa agredida exerce sua parcela de poder contra os filhos, pois essa é a única forma que a mulher pode exercer seu poder (SAFFIOTI em AZEVEDO e GUERRA, 1989, p 17-18). Essa teoria exposta por Saffioti e outras considerações tecidas pela mesma autora foram trazidas por muitos autores dos artigos levantados nessa pesquisa. Embora não sejam de fundamentação comportamental como a que é proposta neste trabalho, propõem uma visão bastante válida que indica a violência (não somente intrafamiliar, mas a violência como um todo) como um fenômeno baseado nos três pilares supracitados: opressão econômica, gênero e racismo, sendo que aqui a relação de gênero é ressaltada por ser pertencente à esfera doméstica, assim como a agressão contra crianças. Pode ser uma das explicações para a associação da violência contra crianças com pobreza e com a violência conjugal. Além desses fatores, problemas com drogadição e psicopatologia dos pais e o fenômeno da repetição também foram bastante mencionados pelos autores dos artigos analisados. No entanto, ao passo que a pobreza é bastante citada como uma das causas, Gomes (2002) trouxe no artigo 7 um ponto bastante relevante que pode gerar um viés de compreensão sobre a violência: a estigmatização da pobreza e os mecanismos que garantem o sigilo de casos de violência ocorridos em classes socioeconômicas mais abastadas. O próprio senso comum atesta e visão marginalizada da classe popular, expressa por declarações como “todo pobre é ladrão”, e há que se considerar o quão numerosa ela é no Brasil. Os dados epidemiológicos sobre a violência encontrados neste trabalho não apontavam um número que traduzisse a incidência dos maus-tratos nas camadas sociais baixa em comparação à média ou alta para atestar que o índice é mais alto entre as pessoas mais carentes ou refutar essa hipótese. Ademais, a maioria das notificações feitas a conselhos tutelares realmente são provenientes das classes mais baixas, até mesmo porque os notificadores da violência, na maioria das vezes, são professores das escolas municipais e estaduais e médicos do SUS, profissionais que, na grande maioria das vezes, trabalham em contatos com pessoas de renda mais baixa (informação obtida por meio de entrevista no Conselho Tutelar de Curitiba – Regional Boa Vista). Os artigos 25 e 33 descrevem que, muito embora os profissionais da saúde vejam com desconfiança e descrença o Conselho Tutelar, grande parte das notificações provêm desta classe profissional e o trabalho exclusivo na rede privada de saúde diminui muito as chances de um profissional denunciar um abuso (PIRES e cols, 2005, p 103). Isso pode ser explicado com base na teoria anteriormente exposta por Saffioti sobre como as pessoas detentoras de melhores recursos financeiros possuem uma maior parcela de poder. E, de fato, uma pessoa com melhores condições econômicas teria possibilidade de contratar bons advogados e promover uma defesa boa o suficiente para conseguir a absolvição da acusação e comprometer a carreira do profissional que o denunciou, medo que é descrito nas pesquisas que entrevistaram profissionais da área da saúde. Uma das causa levantada nos artigos pesquisados é relativa à formação familiar, outro ponto que pode sofrer vieses pela discriminação social em relação às famílias reconstruídas ou das famílias de formação diferente da nuclear tradicional, com mãe, pai e filhos morando juntos, sendo os filhos todos do mesmo casamento, pois alguns artigos traziam o termo “famílias desestruturadas” ou “reestruturadas” como possíveis causas da violência familiar. Os dados epidemiológicos trouxeram a mãe e o pai como os principais agressores, e não padrastos e madrastas. Além disso, na revisão de literatura de Day e cols foi apontado que uma mãe jovem tem mais chances de ser negligente com seus filhos, e a prevalência de maustratos aumentaria com o número de crianças com menos de cinco anos na casa (DAY e cols, 2003, p 14), colocando a idade dos pais como fator preponderante para a violência. Os problemas sociais, tais como desemprego, falta de apoio social, isolamento social e urbanização também foram citados como causas da violência, mas novamente os mecanismos pelos quais isso ocorre não foram explicitados nos artigos revisados. Pode-se levantar a hipótese de que estressores sociais desencadeiam a violência em pais que possuem baixo repertório de respostas perante adversidades ou a educação dos filhos. Já a urbanização é uma causa que suscita uma série de questionamentos. Sabemos que a violência é um fenômeno muito anterior à urbanização dos grandes centros e há séculos está presente no desenvolvimento das crianças, como já foi descrito no tópico do histórico do problema por Ariès (1981) e Priore (2000), que descreve as situações vividas pelas primeiras crianças que vieram ao Brasil, após o descobrimento, no qual os portugueses trouxeram em sua bagagem cultural a agressão física como medida educativa. Sobre este tema, Skinner (1953/ 1976), já na década de 1950, mostrava-se contrário ao uso da punição corporal para ensinar comportamentos adequados. Apesar de a punição corporal produzir efeito imediato que mantém a utilização desta prática educativa, há efeitos nocivos, tais como emoções de raiva e medo e comportamentos de esquiva diante da pessoa que pune. Além disso, as respostas emocionais geradas pela punição podem ser condicionadas, por meio do condicionamento clássico, a aparecerem em outras ocasiões não punitivas (dependendo da generalização ou pareamento feitos, a resposta pode ocorrer perante uma pessoa do mesmo sexo do agressor, diante de determinada modulação de voz, etc.) (WEBER e cols, 2004, p 228). Outro problema levantado na aplicação da punição corporal é a possibilidade de ocorrer uma associação entre a dor que a criança sente e o amor em relação aos seus pais. Desta forma, por meio de emparelhamento de estímulos, a criança aprenderá a usar o mesmo método em outras situações de sua vida ou, ainda, a suportar situações aversivas e disfuncionais acreditando que elas ocorrem por amor (WEBER e cols, 2004, p 228). O dilema sobre o uso da punição física como medida educativa apresenta alguns complicadores. Primeiramente, as definições operacionais não diferenciam perfeitamente os termos palmada, surra, punição corporal, espancamento. “Enquanto a punição corporal é definida como ‘punição aplicada em qualquer parte do corpo e de qualquer tipo’, a famosa palmada (spanking) define-se como "um tapa, aplicado com a mão aberta, nas nádegas ou em extremidades do corpo, visando a modificação do comportamento" (BAUMRIND, 2001, p 1 citado por WEBER, 2004, p 229). Existe também a questão ética e os direitos da criança, visto que o ECA postula que as crianças não devem sofrer nenhum tipo de agressão. E, finalmente, a questão dos efeitos da palmada, da punição corporal, da surra leve, do psicotapa, é controversa entre leigos e especialistas de diversas culturas. É amplamente discutida a probabilidade de o comportamento de bater ser reforçador para os pais, pois "significa que uma pessoa, provavelmente, acha mais fácil aprender técnicas de controle aversivo do que técnicas de reforço. No entanto, isso não significa que as técnicas aversivas sejam melhores" (CATANIA, 1999, p 128). Nesse sentido, modificar os fatores culturais é um processo lento. O exposto sobre a palmada como medida educativa abre a discussão para temas que estão em voga atualmente, como as leis que pretendem proibir o uso de violência contra crianças com fins educativos. Elas já existem em alguns países, e no Brasil existe o projeto de lei n° 2.654 de 2003, apresentado pela deputada Maria do Rosário (PT/RS), que propõe a proibição de qualquer castigo físico contra crianças, mesmo que com finalidade pedagógica. Tal medida aponta que há uma demanda para diminuir o índice de agressões, até porque tal projeto de lei não seria necessário se o ECA fosse adequadamente cumprido. O artigo 3 apresentado na análise qualitativa traz que a sociedade acaba sendo conivente com a violência por colocar o direito à privacidade familiar. Pode-se perceber o quanto é culturalmente forte esse “direito”, na qual as pessoas julgam que terceiros erram ao intervir na maneira com a qual educam os filhos ou outras violências ocorridas no ambiente doméstico, como a violência conjugal (expresso em ditos tais como “em briga de marido e mulher não se mete a colher”). Esta convenção cultural reforça e é reforçada ainda mais pela chamada Lei do Silêncio, fenômeno que mantém o segredo sobre a agressão pela vítima e testemunhas. Assim, forma-se um círculo vicioso no qual os agressores tem a liberdade e o suposto “direito” de exercer diversas formas de violência dentro de suas casas, as testemunhas julgam que não podem fazer nada e as vítimas se calam. E, mesmo quando a vítima tenta contar sobre a agressão que sofreu, sua palavra de criança confronta com a palavra do adulto agressor e o culpado acaba isento de culpa por falta de provas, como é apresentado no artigo 21. A lei acaba por proteger o agressor, pois “todos são inocentes até que se prove o contrário”, e a fala da criança vitimizada muitas vezes não é prova suficiente para uma condenação. Um dos problemas apresentados nos artigos revisados foi a falta de preparo das equipes de saúde para lidar com situações de suspeita de abuso de crianças. As dificuldades vão da falta de preparo para reconhecer os sinais dos maus-tratos às dificuldades conceituais sobre violência, além da já mencionada desconfiança perante os órgãos responsáveis (ver artigos 25 e 33). O problema se intensifica na percepção da violência psicológica e da negligência emocional (a negligência física severa é mais facilmente percebida, traduzida em falta de higiene, desnutrição, não seguimento da prescrição médica e etc.). Algumas vezes a violência psicológica não é sequer considerada uma violência, pois suas marcas não são imediatamente visíveis (GOMES² e cols, 2002, p 277). Isso indica que os profissionais de saúde ainda enfatizam o binômio saúde-doença, sem valorizar adequadamente o bem-estar e saúde emocional, ou só se preocupando quando conseqüências mais graves já se instalaram. Nenhuma das fontes apontou de maneira objetiva a forma pela qual as conseqüências dos maus–tratos se instalam. Temos então uma série de hipóteses a respeito do tema, enfocando a teoria comportamental para seu embasamento. No entanto, muitas das conseqüências não podem ser entendidas como provenientes de uma relação de causa-efeito direta, principalmente os pertencentes à terceira categoria de análise, “problemas alo longo do desenvolvimento”. No entanto, a “etiologia da maioria dos transtornos mentais é universal e seu quadro clínico (é) variável a tal ponto que fatores de risco e protetores afetam o desenvolvimento ou não de um transtorno específico” (JORGE, 1998, p 334). A situação abusiva, evidentemente, pode gerar sintomas tais como ansiedade, raiva, tristeza e transtornos como TEPT, mas não é possível afirmar de forma linear que os atrasos no desenvolvimento cognitivo sejam causados pelo abuso, e talvez que o abuso seja um fator que predispõe transtornos emocionais, tendo como conseqüência as dificuldades de concentração, apatia, desinteresse e outros sintomas que podem prejudicar a aprendizagem. Tampouco é possível declarar que necessariamente uma situação de abuso acarretará em uma conseqüência que cause sofrimento clinicamente significante e persistente, uma vez que existem fatores de proteção, como a resiliência (MELLILO e OJEDA, 2005, p 23) e diferentes maneiras de se processar as situações possivelmente traumáticas. Outro tema que foi encontrado na revisão de literatura e nos artigos estudados foi a relação entre as conseqüências e idade em que o abuso ocorreu. Novamente é necessário levar em conta fatores tais como a intensidade da agressão, a duração, se a criança pôde contar para alguém e se acreditaram nela e principalmente a natureza do vínculo da vítima com o agressor. No caso de crianças bem pequenas, a violência pode comprometer a formação do vínculo, além de comprometer seu desenvolvimento global, pois pode acabar por inibir os comportamentos exploratórios, tão necessários às crianças que se encontram no estágio sensório-motor. Crianças de idade pré-escolar acabam por aprender formas pouco adequadas de se expressar, uma vez que lhe faltam modelos no ambiente familiar, além de poderem adquirir condutas hipersexualizadas quando expostas a estes estímulos, sendo incompatíveis com o desenvolvimento normal da faixa etária e comportamentos regressivos. As vítimas em idade escolar costumam ser mais conscientes da violência que sofrem, podendo adotar estratégias de defesa tais como a racionalização para justificar a agressão sofrida. Também é possível que a capacidade de aprendizagem seja rebaixada (pelos motivos já expostos) e também poderão identificar seus papéis nas relações de gênero, sendo o homem o agressor a mulher a vítima (Manual para educadores de infância, 2007). Juntamente ao que já foi discutido, é o conceito de desamparo aprendido, descrito por Martin Seligman (1977), que pode auxiliar na compreensão da problemática das conseqüências dos maus-tratos. O desamparo é o estado psicológico que frequentemente surge como resultado de eventos incontroláveis, ou seja, eventos sobre os quais nenhuma ação tem efetividade. Os experimentos de Seligman (1975, p 23) mostram que a vivência de um trauma pode diminuir a motivação para emitir qualquer resposta perante a repetição do evento traumático, fazendo prevalecer a depressão e ansiedade. Desta forma, é como se a pessoa desistisse de buscar uma resposta de fuga ou esquiva ao evento aversivo, submetendo-se a ele passivamente, uma vez que passa a perceber o evento aversivo como inevitável (mesmo que não o seja). Tal premissa pode ser uma explicação para a tendência de revitimização das vítimas de violência, seja de qual modalidade for, principalmente no caso de violência sistemática (o que aumentaria a sensação de incontrolabilidade sobre o abuso). O desamparo prejudica a capacidade de aprender. Weber e cols. (2004, p 228) colocam que se as punições, especialmente corporais, não são contingentes e dependem do humor dos pais, pode ocorrer o fenômeno de desamparo, e a criança não saberá qual resposta deverá emitir para evitar as punições, podendo generalizar esse comportamento para outras situações aversivas. Todos os conceitos teóricos expostos até agora são bases para uma possível explicação para as conseqüências, pois o mecanismo pelo qual as conseqüências se instalam não foi explanado nem na literatura consultada nem nos artigos levantados. Os resultados da presente pesquisa evidenciaram que os transtornos de humor e ansiedade são os transtornos mais prevalentes como conseqüências do abuso infantil, e possivelmente os que nos parecem mais “lógicos” de se instalarem, visto que os maus-tratos têm como resposta imediata os sintomas destes transtornos, como a tristeza, ansiedade e medo, fenômenos ligados ao desamparo aprendido. O mecanismo pode ser similar ao que gera o TEPT, descrito a seguir. A definição de "trauma", em sua raiz etimológica grega, significa lesão causada por um agente externo. Esse conceito foi apropriado pelo campo psicológico, e, conseqüentemente, supõe-se com freqüência que um trauma ocorre quando as defesas psicológicas naturais são transgredidas. É importante enfatizar que a maneira como as pessoas processam um evento estressante após sua ocorrência é determinante para que o trauma seja configurado ou não. A caracterização de um evento como traumático não depende somente do estímulo estressor, mas também da tendência do processamento perceptual do indivíduo (PERES e cols., 2005, p 133). Dentro do grupo dos transtornos de ansiedade o mais apontados pelos artigos revisados nesta pesquisa foi o transtorno do stress pós-traumático – TEPT (50% das menções de transtornos de ansiedade – ver anexo B), caracterizado pela exposição a um evento traumático que é persistentemente revivido, por meio de recordações, sonhos e/ou agir como se o evento estressor estivesse ocorrendo novamente (flashbacks dissociativos, alucinações, etc.), de duração superior a um mês (KRISTENSEN e cols. em CAMINHA, 2005, p 28). Oliveira e cols. (em CAMINHA, 2005, p 60) descrevem que no TEPT há uma atrofia neuronal, que gera alterações funcionais e estruturais no cérebro, porém não se sabe é se tais atrofias são anteriores ao trauma, modificadas pelo mesmo ou gerada por ele. Há uma hipótese que relaciona o tamanho do hipocampo (pequeno) com a predisposição ao stress póstraumático, porém esta não é a única teoria que explica o motivo de algumas pessoas desenvolverem o transtorno e outras não. Outras pesquisas apontaram que o trauma em si provocaria lesões no tecido cerebral, o que parece ainda mais problemático no caso de estressores vividos por crianças, que estão em pleno desenvolvimento de suas funções cerebrais. Outra explicação para a instalação do transtorno seria a alta presença de cortisol, liberado durante a vivência traumática, que geraria danos ao hipocampo (OLIVEIRA e cols. em CAMINHA, 2005, p 62). A segunda categoria de conseqüências descrita no tópico de resultados mostrou um número alarmante de sintomas diruptivos como conseqüência da violência doméstica, o que aproxima a relação entre abuso e delinqüência. A delinqüência juvenil tem sido considerada como um transtorno psicossocial, do desenvolvimento, que deve ser entendido pela sua complexidade, já que a sua manifestação ocorre a partir de variáveis biológicas, comportamentais e cognitivas do indivíduo; e contextuais, como características familiares, sociais e experiências de vida negativas (RUTTER, 2000; SCARAMELLA, CONGER, SPOTH e SIMONS, 2002 citados por LARANJEIRA, 2007, p 222). Na origem deste tipo de perturbações encontramos carências nas primeiras relações afetivas, corroboradas pelos estudos de Spitz e Bowlby, onde o sentimento de forte desvalorização acaba refletindo em um Eu desvalorizado e em um ideal do Eu grandioso. Assim há uma “compensação” das lacunas existentes geradas pelos maus-tratos infantis e outras vivências adversas com o desenvolvimento de padrões de comportamento anti-social. “Estas carências causariam grandes dificuldades na organização de parte da personalidade, cujo corolário seriam os problemas de comportamento e que submetidas a defesas maníacas, evitariam a depressão”. (LARANJEIRA, 2007, p 225). Esta visão mostra uma maneira pela qual a vítima torna-se o agressor, perpetuando novos ciclos de violência dentro e fora da família. A delinqüência é um excesso comportamental de natureza internalizante, no qual o comportamento é dirigido contra a sociedade (ao contrário da conduta externalizante, na qual o indivíduo dirige a si próprio os excessos comportamentais e/ou angústias). Peterson (1961, citado por ROSS, 1979, p 26) coloca que os problemas externalizantes ocorrem mais frequentemente com meninos, refletindo as diferenças de papéis sexuais (ROSS, 1979, p 30). A categoria de problemas ao longo do desenvolvimento é a mais abrangente das categorias descritas no presente trabalho, englobando diferentes aspectos do desenvolvimento. Porém, a explicação de cada um deles pode ser feita por meio dos conceitos já mencionados de maneira direta ou indireta, como no caso dos problemas de aprendizagem/escolares. As situações adversas, a falta de modelos parentais adequados e os outros sintomas decorrentes do abuso também podem dificultar a aquisição de habilidades sociais, estabelecendo um déficit que pode gerar muitas outras complicações para a vida do indivíduo, mostrando o efeito cumulativo que os maus-tratos podem acarretar. Problemas na vivência da sexualidade também podem ser hipoteticamente explicados por meio de aprendizagens distorcidas, alto nível de ansiedade ou depressão e baixo repertório de habilidades sociais. Há ainda outro fenômeno bastante descrito na literatura consultada porém pouco esclarecido, o fenômeno da repetição. Partindo dos mesmos princípios explicados nesta discussão, acreditamos que este fenômeno esteja ligado à aprendizagem e a reprodução de modelos. A criança que cresce sendo agredida (por vezes ouvindo que aquilo era feito por amor) aprende que este é o caminho para disciplinar uma criança e não desenvolve outras estratégias, pois não teve outros modelos sobre como enfrentar situações aversivas e controlar emoções negativas. Esta pesquisa mostrou o quanto a violência psicológica e negligência são menos valorizadas na literatura, como se fossem menos danosas em comparação com a violência física e sexual. Essa hipótese foi levantada inicialmente pela falta de pesquisas que enfatizassem essas modalidades de violência. Em seguida, foi constatado que o número de notificações feitas aos Conselhos Tutelares e instituições de proteção a crianças (GOMES², 2002, p 277; BRITO e cols, 2004, p145; MOURA e REICHENHEIM, 2005, p 1129) sobre elas é bastante inferior em comparação às outras modalidades de agressão contra crianças, até mesmo quando se relatava dois tipos de violência na mesma queixa. No entanto, a negligência e a violência psicológica são sempre antecessoras à violência física e/ou sexual uma vez que no momento em que a criança sofre um abuso concreto, o abusador evidencia que negligencia completamente as necessidades e direitos da vítima e sua percepção sobre ela não é a de uma pessoa que possui direitos, e sim um objeto que ele subjugará às suas vontades, frustrações ou quaisquer fatores que motivem o agressor a agredir. Entrementes, essas formas mais sutis de violência, que não produzem marcas visíveis a priori, só são denunciadas em casos extremos, quando certamente o dano será proporcional à violência sofrida. Por fim, é importante discutir a colocação do artigo 1 sobre que “os múltiplos fatores envolvidos na determinação dos problemas de desenvolvimento e comportamento são mais dependentes da quantidade do que da natureza dos fatores de risco, visto que diferentes fatores de risco produzem resultados semelhantes” (RAE-GRANT, 1989 citado por HALPERN E FIGUEIRAS, 2004, p 105). No decorrer dos resultados e discussão, assim como da revisão de literatura apresentada vimos que os maus-tratos, por mais distintos que sejam, geram conseqüências semelhantes, que variam dentro de um amplo espectro, desde uma conseqüência mais branda e de curta duração até um transtorno mental grave de prognóstico reservado. A citação de Halpern e Figueiras acima exposta aponta para a relação quantitativa de eventos traumáticos na vida de uma pessoa para predispor a conseqüências. Logo, uma pessoa exposta a apenas um evento aversivo estaria menos susceptível a conseqüências de longo prazo em comparação a uma pessoa vítima de agressões sistemáticas. Esta linha de raciocínio faz bastante sentido, porém é complicado afirmar taxativamente que isso seja uma regra, pois há muitos fatores envolvidos na instalação das conseqüências, e é necessário levar em conta, acima de tudo, as diferenças individuais das pessoas para lidar com adversidades. 8 CONCLUSÃO No decorrer das análises dos artigos levantados foi bastante clara a escassez de estudos brasileiros sobre o tema. De forma geral os artigos utilizam as mesmas fontes e reproduzem dados repetidos. O tema por si dificulta a pesquisa devido às questões éticas, ao preconceito e às dificuldades e, acessar essa população vítima de traumas, e as pesquisas necessárias para um melhor entendimento do tema seriam longas e dispendiosas. Devido a esse déficit na produção científica brasileira, não dispomos de dados epidemiológicos que retratem mais aprofundadamente a realidade em que vivemos. A modalidade de pesquisa eleita para a realização deste trabalho implicou na sujeição aos vieses de interpretação dos autores de cada um dos artigos e aos da autora da pesquisa. Vários termos utilizados para descrever as conseqüências caíram em desuso, tais como neurose, dificultando o entendimento da idéia expressa pelo autor. Porém, o levantamento bibliográfico permite comparar diversas conclusões de diferentes tipos de pesquisa e constatar quais resultados se repetem, aumentando assim a confiabilidade dos dados levantados. A discussão, em sua maior parte, foi composta de reflexões levantadas pela autora desta pesquisa, utilizando-se de conceitos básicos da psicologia comportamental. Contudo, tais reflexões que nos conduzem a hipóteses que precisariam ser testadas em pesquisas futuras. Foi constatado que os maus-tratos contra crianças podem acarretar em uma ampla gama de conseqüências, mas a maneira pelas quais as mesmas se instalam não foi bem elucidada. Não se sabe qual é a modalidade de violência mais danosa, nem quais são os fatores que possibilitam a melhora no prognóstico dessas vítimas. É inegável que vivências traumáticas comprometem o desenvolvimento de uma criança, principalmente nos aspectos emocionais. E, por sua vez, como as áreas do desenvolvimento são integradas, o desenvolvimento é comprometido como um todo, dependendo da fase em que a criança se encontra (REICHENHEIM, 1999, p 112). No entanto, talvez o mais importante não seja buscar descrever detalhadamente as relações entre os maus-tratos e as conseqüências, e sim observar os danos causados e procurar formas para romper com o círculo vicioso da violência. As causas da violência doméstica foram o ponto de maior discordância entre os autores, e todas as teorias por eles apresentadas podem ser contra-argumentadas. Os problemas da sociedade contemporânea, como o capitalismo e a cultura de massa foram apontados como causa, porém a criança enquanto vítima existe nos mais antigos relatos escritos, como no já exposto Código de Hamurábi (em DAY e cols, 2003, p 11). Talvez a raiz de toda a problemática trazida nesta pesquisa esteja na dificuldade do mundo adulto em conceber a criança como pessoa, e como tal provida de inteligência, necessidades e sentimentos. Foi necessário que houvesse uma lei específica para proteger as crianças, indicando que a existência da Declaração Universal dos Direitos Humanos não é suficientemente abrangente para protegê-las também, visto que a publicação do ECA não bastou para coibir a violência contra a criança, como foi possível constatar nos números de vítimas exposto nos artigos estudados . Assim sendo, toda a sociedade deveria ser conscientizada sobre os problemas que advém da violência familiar, até porque a parcela que não é perpetradora das agressões é conivente e se omite para permitir que as crianças continuem a ser abandonadas, humilhadas, espancadas e abusadas sexualmente pelas figuras que deveriam ser suas maiores referências afetivas. Com os resultados obtidos nesta pesquisa fica bastante clara a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema, em especial estudos de segmento e transversais que tenham por objetivo acompanhar as vítimas de violência e verificar as possíveis conseqüências decorrentes da violência sofrida. Estudos brasileiros visando elucidar os mecanismos do fenômeno da repetição e pesquisas de levantamento mais precisas sobre a incidência das diferentes formas de maus-tratos no país também seriam de grande valor para esclarecer esse fenômeno. REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 2ª edição, 1981 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM – IV – TR. Porto Alegre: Artmed, 2003 ARAÚJO, M. F. Violência e abuso sexual na família. Psicol. estud. Maringá, v. 7, n. 2, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. AZEVEDO, M.A. e GUERRA, V. N. A (org.) Crianças Vitimizadas: A Síndrome do Pequeno Poder. São Paulo: Iglu, 1989 BANDURA, A. 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Risco e proteção: em busca de um equilíbrio promotor de resiliência. Psic.: Teor. e Pesq. Brasília, v. 20, n. 2, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo PFEIFFER, Luci; SALVAGNI, Edila Pizzato. Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. J. Pediatr. (Rio de J.). Porto Alegre, v. 81, n. 5, 2005 PIRES, Joelza M. e cols. Barreiras, para a notificação pelo pediatra, de maus-tratos infantis. Revista Brasileira Saúde Materno-Infantil. , Recife, v. 5, n. 1, 2005 PRIORE, M. (org). História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000 REICHENHEIM, Michael E.; HASSELMANN, Maria Helena; MORAES, Claudia Leite. Conseqüências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 1999 ROSS, A. Distúrbios psicológicos na Infância. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil Ltda, 1979 SAPIENZA, Graziela; PEDROMONICO, Márcia Regina Marcondes. Risco, proteção e resiliência no desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicol. estud. Maringá, v. 10, n. 2, 2005 SELIGMAN, Martin E. P. Desamparo: sobre depressão, desenvolvimento e morte. São Paulo: Ed. Hucitec, 1977 WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj; VIEZZER, Ana Paula; BRANDENBURG, Olivia Justen. O uso de palmadas e surras como prática educativa. Estud. psicol. (Natal). Natal, v. 9, n. 2, 2004 SITES http://www.vrnet.com.br/pauline/docs/Guiga/Textos/A%20Vara%20e%20a%20Lei.pdf ANEXO A - FORMULÁRIO 1- Qual é o desenho do estudo? () revisão de literatura () pesquisa experimental ()pesquisa de levantamento () estudo de caso () pesquisa de arquivo () pesquisa aplicada () pesquisa básica 2- O artigo aponta conseqüências dos maus-tratos? Quais? () sim () não 3- O artigo traz dados epidemiológicos locais das formas de maus-tratos? Quais? () sim () não 4- O artigo traz dados epidemiológicos locais sobre as conseqüências? Quais? () sim () não 5- O artigo traz dados objetivos, embasados em pesquisas realizadas anteriormente? () sim () não 6- O artigo aponta as causas da violência? Se sim, quais? () sim () não 7- A qual público o artigo é dirigido? () Médicos () Psicólogos () Enfermeiros () público geral/outros () Assistentes Sociais 8- Há ênfase em uma modalidade específica de violência no artigo? Qual? () sim () não () violência sexual () violência física ()violência psicológica ()negligência 9 – A Violência psicológica é mencionada como passível de causar danos? (no caso de artigos que englobem todos os tipos de violência) () sim () razoavelmente () não () não se aplica 10- Nos artigos aplicados, os participantes são agrupados por regiões geográficas? Qual? () sim () não () Sul () Sudeste () Centro-Oeste () Norte () Nordeste 11- Qual é o tamanho da amostra? () n = () não se aplica 12- Há distinção de segmento socioeconômico dos participantes? Se sim, qual é o segmento apresentado? () sim () não () classe baixa ()classe média-baixa () classe média () classe média-alta ( ) classe alta * as questões 10, 11 e 12 referem-se apenas a artigos de pesquisa aplicada. ANEXO B – QUANTIFICAÇÃO DETALHADA DAS CONSEQUÊNCIAS LEVANTADAS Categoria 1 - Transtornos mentais: Transtornos da ansiedade: 2 + TEPT: 5 + TOC: 1 + Fobias: 2 = 10 Transtornos de humor: Depressão: 13 + Transtorno bipolar: 1 = 14 Transtorno Dissociativo da Personalidade: 3 Transtornos alimentares: 3 Transtorno de personalidade borderline: 2 Transtorno desafiador opositivo: 1 + Transtorno de conduta: 3 + TDAH: 1 = 5 Transtornos do sono: 3 Transtornos psicóticos: 1 Transtornos de conversão: 1 (Transtornos Mentais não-específicos): Transtornos de personalidade: 1 Transtornos psiquiátricos (geral): 5 Total da categoria: 48 Categoria 2 – Sintomas de transtornos Sintomas de transtornos de déficit de atenção e diruptivos: Idéias homicidas: 1 Sintomas agressivos: 9 Falta de limites: 1 Desordens de conduta: 7 + Atos ilegais: 6 = 13 Hiperatividade: 1 Fugas: 3 Abuso de substâncias: 6 Adultos anti-sociais:1 Dificuldade de ajustamento: 2 Problemas externalizantes em pré-escolares: 1 Raiva/hostilidade: 2 Total: 40 Sintomas de transtornos de humor: Sintomas depressivos: 4 + Baixa auto-estima: 5 + Perda de interesse em brincadeiras: 1 = 10 Suicídio (idéias ou tentativas): 9 Prostração: 1 Problemas de apetite: 1 Sentimentos de culpa: 1 Comportamento regressivo: 1 Isolamento: 5 Introversão/timidez: 2 Total: 30 Sintomas de transtornos de ansiedade: Ansiedade: 8 Medo: 3 Tiques ou manias: 1 Medo de adultos do mesmo sexo do abusador: 1 Total: 13 Sintomas de transtornos somatoformes: Queixas psicossomáticas: 3 Dor crônica: 1 Dores abdominais: 1 Total: 4 Sintomas de doenças clínicas (podem ou não ser parte de transtornos somatoformes): Síndrome do cólon irritável: 1 Doenças neurológicas: 1 Doenças reumáticas: 1 Distúrbio gastrintestinal: 1 Doenças somáticas crônicas: 1 Total: 5 Sintomas de transtornos do sono: Sonolência diurna: 1 Pesadelos: 3 Alterações no padrão do sono: 1 Total: 5 Sintomas psicóticos: Idéias paranóides: 1 Desconfiança: 1 Auto-agressão/auto-mutilação: 8 Total: 10 Características não-especificadas no texto dos autores (descritas em termos genéricos): Distúrbios neuróticos: 1 Sintomas psiquiátricos: 2 Sintomatologia psicológica/problemas emocionais: 3 Quadros dissociativos: 2 Total: 8 Total da categoria: 116 PROBLEMAS AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO Problemas diferentes em diferentes faixas etárias do abuso: 1 Problemas no desenvolvimento: cognitivo (linguagem, cognição, memória): 10 afetivo e da personalidade: 3 motor e físico: 2 Déficits de ajustamento na adolescência: 1 Problemas vocacionais: 1 Problemas escolares e/ou de aprendizagem: 4 Problemas globais no desenvolvimento da criança e da família: 1 Transtornos sexuais: Parafilias:1 Problemas relativos à identidade e ao papel sexual: 2 Problemas para a vivência da sexualidade ao longo da vida: 5 Comportamento sexual inapropriado: 9 Masturbação freqüente: 1 Risco de prostituição: 1 Confusão quanto a valores sexuais: 1 Tendência à revitimização: 1 Problemas interpessoais: (déficit de habilidades sociais) Dificuldades interpessoais e sociais: 6 + Problemas de habilidades sociais: 1 = 7 Sentir-se diferente dos pares: 1 Crenças disfuncionais: 1 Prejuízo na solução de problemas: 1 Fenômeno da repetição: Dificuldades no relacionamento futuro com os filhos: 1 + Perpetração do abuso: 1+Banalização e reprodução da violência: 2+Violência não-familiar:1 +Violência familiar: 1 = 6 Total da categoria: 50 Observação: as menções representadas entre as chaves compõem uma única sub-categoria ANEXO C – ARTIGOS UTILIZADOS NO LEVANTAMENTO 1 HALPERN, Ricardo; FIGUEIRAS, Amira C. M. Influências ambientais na mental da criança. Jornal de Pediatria , Porto Alegre, v. 80, n. 2, 2004 saúde 2 POLANCZYK, Guilherme Vanoni e cols . Violência sexual e sua prevalência em adolescentes de Porto Alegre, Brasil. Revista de Saúde Pública , São Paulo, v. 37, n. 1, 2003 3 MORALES, Álvaro E.; SCHRAMM, Fermin R. A moralidade do abuso sexual intrafamiliar em menores. Ciência saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, 2002 4 AMAZARRAY, Mayte Raya; KOLLER, Silvia Helena. Alguns aspectos observados no desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual. Psicol. Reflexão Crítica , Porto Alegre, v. 11, n. 3, 1998 5 PFEIFFER, Luci; SALVAGNI, Edila Pizzato. Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. Jornal de Pediatria. (Rio de Janeiro) , Porto Alegre, v. 81, n. 5, 2005 6 ASSIS, Simone G. de. Crianças e adolescentes violentados: passado, presente e perspectivas para o futuro. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, 2007 7 GOMES, Romeu e cols . Por que as crianças são maltratadas?: Explicações para a prática de maus-tratos infantis na literatura. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, 2002 8 ZAVASCHI, Maria Lucrécia Scherer e cols . Adult mood disorders and childhood psychological trauma. Revista Brasileira Psiquiatria , São Paulo, v. 28, n. 3, 2006 9 RIBEIRO, Márcia Aparecida; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho; REIS, Jair Naves dos. Violência sexual contra crianças e adolescentes: características relativas à vitimização nas relações familiares. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, 2004 10 ARAÚJO, Maria de Fátima. Violência e abuso sexual na família. Psicologia em estudo. , Maringá, v. 7, n. 2, 2002 11 BOARINI, Maria Lúcia; BORGES, Roselânia Francisconi. Demanda infantil por serviços de saúde mental: sinal de crise. Estud. psicol. (Natal) , Natal, v. 3, n. 1, 1998 12 HASSELMANN, Maria Helena; LOPES, Claudia S.; REICHENHEIM, Michael E. Confiabilidade das aferições de estudo sobre violência familiar e desnutrição severa na infância. Revista Saúde Pública , São Paulo, v. 32, n. 5, 1998 13 LANDINI, Tatiana Savoia. Violência sexual contra crianças na mídia impressa: gênero e geração. Caderno Pagu , Campinas, n. 26, 2006 14 ANDRADE, Susanne Anjos e cols. Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma abordagem epidemiológica. Revista Saúde Pública , São Paulo, v. 39, n. 4, 2005 . 15 GOMES, Romeu e cols. Êxitos e limites na prevenção da violência: estudo de caso de nove experiências brasileiras. Ciências e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, 2006 16 GONCALVES, Hebe Signorini; FERREIRA, Ana Lúcia. A notificação da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes por profissionais de saúde. Caderno Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, 2002 17 KERR-CORRÊA, Florence e cols. Abuso sexual, transtornos mentais e doenças físicas. Revista Psiquiatria Clínica, Botucatu, v .27 n. 5, 2000 18 CAVALCANTI, Alessandro Leite; DUARTE, Ricardo Cavalcanti. Perfil da Criança e do Adolescente Vítima de Violência Doméstica. Revista Brasileira de ciências da Saúde. v. 8 n. 2, 2004 19 DREZETT, Jefferson e cols. Estudo de mecanismos e fatores relacionados com o abuso sexual em crianças e adolescentes do sexo feminino. Jornal de Pediatria. (Rio de Janeiro) , Porto Alegre, v. 77, n. 5, 2001 20 HABIGZANG, Luísa F. e cols. Abuso sexual infantil e dinâmica familiar: aspectos observados em processos jurídicos. Psicologia: Teoria e Pesquisa Brasília, v. 21, n. 3, 2005 21 GOMES, Romeu. Da denúncia à impunidade: um estudo sobre a morbi-mortalidade de crianças vítimas de violência. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, 1998 22 GOMES, Romeu; SILVA, Cosme Marcelo Furtado Passos da; NJAINE, Kathie. Prevenção à violência contra a criança e o adolescente sob a ótica da saúde: um estudo bibliográfico. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 1999 23 MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Contextos de Desenvolvimento e Criança Desassistida. Psicologia: Teoria e Pesquisa Brasília, v. 10, n. 1, 1994 24 REICHENHEIM, Michael Eduardo; DIAS, Alessandra Silva; MORAES, Claudia Leite. Coocorrência de violência física conjugal e contra filhos em serviços de saúde. Revista Saúde Pública , São Paulo, v. 40, n. 4, 2006 25 PIRES, Joelza M. e cols. Barreiras, para a notificação pelo pediatra, de maus-tratos infantis. Revista Brasileira Saúde Materno-Infantil. , Recife, v. 5, n. 1, 2005 26 GOMES, Romeu e cols. A saúde e o direito da criança ameaçados pela violência. Revista Latino-Americana de Enfermagem , Ribeirão Preto, v. 7, n. 3, 1999 27 BRAZ, Marlene; CARDOSO, Maria Helena C.A. Em contato com a violência: os profissionais de saúde e seus pacientes vítimas de maus tratos. Revista Latino-Americana de Enfermagem , Ribeirão Preto, v. 8, n. 1, 2000 28 CAVALCANTI, Maria de Lourdes Tavares. Prevenção da violência doméstica na perspectiva dos profissionais de saúde da família. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 1999 29 MALDONADO, Daniela Patricia Ado; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. O comportamento agressivo de crianças do sexo masculino na escola e sua relação com a violência doméstica. Psicologia e Estudo , Maringá, v. 10, n. 3, 2005 30 SCHERER, Edson Arthur; SCHERER, Zeyne Alves Pires. A criança maltratada: uma revisão da literatura. Revista Latino-Americana de Enfermagem , Ribeirão Preto, v. 8, n. 4, 2000 31 REICHENHEIM, Michael E.; HASSELMANN, Maria Helena; MORAES, Claudia Leite. Conseqüências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 1999 32 MOURA, Anna Tereza M. Soares de; REICHENHEIM, Michael E. Estamos realmente detectando violência familiar contra a criança em serviços de saúde? A experiência de um serviço público do Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, 2005 33 GOMES, Romeu e cols. A abordagem dos maus-tratos contra a criança e o adolescente em uma unidade pública de saúde. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, 2002 34 ADED, Naura Liane de Oliveira e cols. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Revista Psiquiatria clínica, São Paulo, v. 33, n. 4, 2006 35 BRITO, Ana Maria M. e cols. Violência doméstica contra crianças e adolescentes: estudo de um programa de intervenção. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, 2005 36 ROQUE, Eliana Mendes de Souza Teixeira; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho. Desvendando a violência doméstica contra crianças e adolescentes sob a ótica dos operadores do direito na comarca de Jardinópolis-SP. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 3, 2002 37 GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo e cols. Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes e Políticas de Atendimento: Do Silêncio ao Compromisso. Revista Brasileira Crescimento e Desenvolvimento Humano. v. 11 n. 1, 1992 38 CAVALCANTI, Maria de Lourdes Tavares. Estudo descritivo dos Registros de Violência Doméstica no Conselho Tutelar de Niterói. Caderno de Saúde Coletiva v.7, n. 1, 1999 39 MINAYO, Maria Cecília de S; ASSIS, Simone G. Saúde e violência na infância e na adolescência. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 70, n. 5, 1994 PARECER DO ORIENTADOR: Venho por meio deste comunicado recomendar a monografia intitulada 'DIVERSAS FACES DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO: UM LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA A PARTIR DE 1990' desenvolvida pela aluna Mariana Galesi Bueno no último ano da graduação em Psicologia (2007) para concorrer ao prêmio Silvia Lane, devido à alta qualidade científica do trabalho, extrema relevância e atualidade do tema, assim como dos resultados obtidos. Claudia Lúcia Menegatti Professora e supervisora do curso de Psicologia da Universidade Positivo CRP 08/04989 MOTIVAÇÃO DA AUTORA: Muitos anos antes do início da minha graduação em Psicologia o tema 'violência' já chamava a minha atenção e provocava em mim diversas reflexões e questionamentos. Fosse a violência travestida de medidas educativas, ou aquela que não deixa marcas físicas ou qualquer uma das outras faces pelas quais este fenômeno se mostra perante a sociedade desde quando não se é possível precisar datas, ela não se mostra sem trazer consigo um profundo sentimento de mal-estar e desamparo, sem trazer o questionamento do “porquê”. Na graduação eu poderia dizer que todos os meus estágios e experiências práticas me confrontaram com a violência, em diversos níveis e diferentes graus, alguns tão assimilados pelo mundo em que vivemos que sequer são vistos como violência, porém deixam suas marcas e conseqüências. No entanto, nesse momento eu já possuía conhecimentos conceituais e metodológicos para tentar formular algumas respostas, embora as perguntas ainda sejam muito mais numerosas, então decidi realizar como monografia de conclusão da graduação uma pesquisa que objetivou verificar, entre outros aspectos, as causas e conseqüências da violência intrafamiliar, a qual eu acredito que seja o primeiro contato que as pessoas têm com o fenômeno da violência. Certamente ainda não tenho as respostas prontas nos resultados do meu trabalho, mas obtive dados que permitem fazer denúncias contundentes sobre a idéia de criação de filhos que temos como modelo, sobre o que acontece diariamente à nossa volta e ninguém faz nada (ou é impedido de fazer), entre outros aspectos que foram apontados no meu levantamento bibliográfico.