A REESTRUTURAÇÃO DO PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA: AS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL (1990-1999) Josélia Elvira Teixeira (Mestre em Integração Latino-americana - UFSM/ Professora na UNICAMPO, e-mail: [email protected]) Palavras-chave: Reestruturação, Estado, Privatização. Resumo: Este artigo analisa os principais fatores que desencadearam a reestruturação do papel do Estado no Brasil e por conseqüência a privatização das empresas estatais, no período de 1990 a 1999. Nesse período, foi colocado em prática o Plano Nacional de Desestatização (PND). Desde então, além de várias empresas serem privatizadas, nos mais diferentes setores econômicos, foram cortados subsídios aos setores privados, com o objetivo de cortar os gastos públicos. Entretanto, as privatizações colaboraram também para a estabilidade da moeda. Introdução As privatizações no Brasil foram extremamente modestas na década de 80, e só em 1990 começaram a ser implantadas com a criação do Programa Nacional de Desestatização (PND), que foi levado adiante pelos presidentes subseqüentes ao governo de Fernando Collor de Melo, que deu início ao programa. No início dos anos noventa ocorreu um reordenamento do papel do Estado, derivado das amplas transformações na conjuntura internacional. O Brasil precisava resolver seus problemas domésticos para se inserir na economia mundial e participar da nova fase de expansão do capital financeiro. No entanto, primeiro precisava reestruturar a sua economia, já que os fundamentos macroeconômicos estavam profundamente abalados. Nessa perspectiva, o presente artigo destaca os principais fatores que causaram a crise do Estado, enquanto investidor, motivando o processo de privatização no Brasil, especialmente a partir de 1990, quando o mesmo foi acelerado e utilizado como instrumento auxiliar de política econômica e eixo da reestruturação do papel do Estado. Materiais e Métodos Vários fatores contribuíram para a crise de investimento do estado brasileiro. A Figura 1 apresenta os principais fatores externos e internos que desencadearam os problemas macroeconômicos gerando a crise do estado, enquanto investidor. Nela, pode-se verificar que os principais fatores externos que determinaram as condições internas das economias foram: a dolarização da economia mundial, a política do dólar forte e os choques do petróleo. Com a inflação, déficit público e dívida pública apresentando-se ascendentes, a estatização estava contribuindo para o aumento dos gastos públicos, instaurando-se assim, uma forte crise econômica, comprometendo a capacidade de investimento do Estado. Fatores internos Déficit público Estatização Dividas externa e interna Inflação Fatores externos Dolarização da economia mundial Política do dólar forte Choques do petróleo Propostas do Consenso de Washington Disciplina fiscal CRISE DO Reordenamento do gasto ESTADO público INVESTIDOR Reforma tributária Liberalização das taxas de juros Taxa de câmbio competitiva Privatizações Abertura da economia PRIVATIZAÇÕES Liberalização do IED Desregulamentação Direitos de Propriedade Figura 1 – Modelo analítico proposto Fonte: TEIXEIRA, 2006, p. 33. Baseando-se neste modelo analítico, o trabalho analisa a privatização como uma das sugestões do consenso de Washington que se tornou epicentro da reestruturação do papel do Estado restringindo sua atuação nas atividades produtivas. Resultados e Discussão Os projetos de privatização das estatais efetuados no Brasil foram justificados pelos governantes dos respectivos países como uma necessidade de financiar a dívida externa, que se elevou consideravelmente após o aumento da taxa de juro norteamericana (em 1979). Além do mais, as estatais estavam com passivos acumulados devido à má gestão e a utilização pelos governantes como instrumento de política econômica, para manter preços e conter a inflação (na década de 80), gerando déficits às contas públicas. Naquele momento, o governo não dispunha de dotações orçamentárias para fazer novos investimentos nas mesmas, tornando-as obsoletas e, por conseqüência, menos competitivas, embora algumas delas fossem monopólios estatais. Fernando Collor surpreendeu à nação, na primeira semana de seu mandato (em 1990), extinguindo onze empresas estatais e treze outras agências. Paralelamente anunciou um ousado programa de privatização, o Programa Nacional de Desestatização (PND). Obrigou aos bancos a comprarem aproximadamente $500 milhões em Certificados de Privatização, o que consistia numa nova moeda que só poderia ser trocada por ações de empresas estatais. Além disso, até dezembro de 1990, seu governo havia extinguido 100 mil empregos, de um total de 1,7 milhões, no restante do governo federal (SCHNEIDER, 1992). O objetivo do PND seria redefinir o papel do Estado na economia, reduzindo seu tamanho, tornando-o mais dinâmico, restringindo a intervenção do setor empresarial estatal na atividade econômica e preparando as condições para a recuperação do crescimento econômico. O Presidente subseqüente, Itamar Franco, deu continuidade ao PND, e entre 1991 e 1994, foram privatizadas 33 empresas, principalmente dos setores de siderurgia, química e fertilizantes. Com a entrada de Fernando Henrique as privatizações iriam atingir uma nova fase, pois até o momento o setor de serviços havia permanecido intacto. O alcance das privatizações galgou mais espaço, atingindo a esfera estadual e municipal. O sucesso do plano Real possibilitou ao governo maior credibilidade para estender a privatização a setores como telecomunicações, gás, energia elétrica, portos, financeiro, mineração, entre outros. Esta ampla gama de estatais privatizadas correspondeu a receitas aproximadas de US$ 71. 891 bilhões (não incluindo as dívidas transferidas). Conclusões No Brasil, embora a população não fosse simpatizante das privatizações para efetuar pagamentos de obrigações da dívida, porém, sob a égide dos ideais liberais o processo de privatização foi avançando, aliado ao discurso de tirar das mãos ineficientes do Estado para iniciativa privada, portanto nas mãos dos seus cidadãos. Todavia, o processo de privatização representou uma tentativa desesperada de seus governantes de eximir-se de suas obrigações administrativas e se desfizeram de um patrimônio público, que apresentava alta rentabilidade e potencialidade de mercado a preços extremamente baixos e condições que favoreceram o capital privado estrangeiro de auto financiar-se. A privatização por si só não foi capaz de solucionar o problema da dívida externa, demonstrando a necessidade do emprego de outros instrumentos de política econômica aliados a mesma. Mas, a privatização colaborou para a estabilidade da moeda. Embora não se possa afirmar que a instituição Estado tenha saído da crise. Porém, ainda após um longo processo de reestruturação, o Estado continuou “player” fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Referências BIONDI, Aloysio. O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999. BIZ, Osvaldo; GIRARDI, Leopoldo J. A dívida externa brasileira e o FMI. 7° ed. Porto Alegre: Emejota, 1988. BNDES. Privatização no Brasil. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/publicacoes/catalogo/Priv_Gov.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2006. HANKE, Steve H. Privatizar para crescer. Rio de Janeiro: Nórdica, 1989. MODIANO, Eduardo. Um balanço da privatização nos anos 90. BNDES: Fev. 2000. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/ocde/ocde01.pdf>. Acesso: 30 nov. 2005. SCHNEIDER, Ben Ross. A privatização no governo Collor: triunfo do liberalismo ou colapso do Estado desenvolvimentista? 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