PROCESSO DE VENDA DE SOFTWARE: DA ANÁLISE DE MERCADO AO PÓSVENDAS Débora Witt1 Magda Desordi Tegner 2 Everaldo Luis Daronco3 Resumo: O presente artigo visa a analisar o processo de venda de software, desde a análise de mercado até a pós-venda. Para tanto, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica, principalmente das literaturas de marketing e vendas, como resultado obteve uma análise dos processos que incluem segmentação, posicionamento, definição de preço, prospecção, visitas e demonstrações, negociação e fechamento. Por se tratar de um produto intangível e muitas vezes ser uma venda complexa, o objetivo foi analisar os macro-processos deste tipo de venda, destacando suas particularidades. Palavras-chave: Venda de Software. Segmentação. Prospecção. Negociação. Pós- Vendas. Abstract: This paper aims at analyzing software sales, since the market analysis, segmentation, positioning, pricing, prospection, visits, demonstrations, negotiations up to closing and after-sales. For that reason, it has been made use of bibliography review, mainly from marketing and sales literature. Because it refers to an intangible product and several times it has been a complex sale, the main goal of the research has been to analyze the macro processes of this kind of sale, standing out its particularities. Key-words: Software Sale. Segmentation. Prospection. Negotiation. After-sales. 1 INTRODUÇÃO Num cenário altamente competitivo como o atual, para todos os tipos de produtos enfrenta-se forte concorrência. No mercado de software não é diferente, há muitos concorrentes disputando a mesma fatia de mercado, com um agravante, é uma venda de produto intangível, muitas vezes cara e com serviços de instalação, implementação e treinamentos agregados, o que a torna bastante complexa. Os clientes têm dificuldade de avaliação, pois a maioria dos softwares têm uma amplitude e complexidade elevadas, o que impossibilita apresentar todas as funcionalidades e aplicações, inclusive por dificuldade de reproduzir o cenário do cliente de forma efetiva, por que depende de uma série de avaliações que em muitos casos somente durante a implementação poderão ser analisadas, em conjunto com o cliente. O objetivo deste artigo é analisar os macro-processos de uma venda de software, iniciando pela análise de mercado, segmentação, posicionamento da empresa e do produto, definição de preço, prospecção, visitas e demonstrações, negociação e fechamento e concluindo com pós-vendas, identificando as particularidades deste tipo de venda a fim de buscar um melhor entendimento sobre o assunto. 1 Bacharel em Administração de Empresas. Representante propagandista. Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Vendas. Bacharel em Administração de Empresas. Representante propagandista. 2 Bacharel em Ciências Contábeis e Administração de Empresas. Consultora Comercial. Acadêmica do Curso de PósGraduação em Gestão de Vendas. 3 Mestre em Ciência da Computação. Professor Titular da Faculdade da Serra Gaúcha. 2 A partir da pesquisa bibliográfica, foram feitos estudos que conceituam os macro-processos gerais de vendas e a partir deles, em cada processo, se direcionará o contexto para as necessidades específicas do mercado de software. O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa exploratória, adotando-se o delineamento de pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo ampliar a base teórica, de modo a enriquecer o artigo com situações e fatos já estudados por autores renomados. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Análise do Mercado A análise de mercado deve fazer parte do planejamento estratégico das empresas, o qual define as diretrizes, objetivos e planos de ações. A empresa tanto pode partir de um produto e analisar como ele se encaixa no mercado, ou pode partir da análise de mercado para detectar oportunidades e desenvolver novos produtos. Ao pensarmos em mercados, necessitamos antes de tudo traçar uma clara definição do que vêm a ser esses mercados. Uma empresa poderá vender seus produtos aos consumidores se alguns requisitos forem preenchidos. Um deles é o de existir alguma pessoa com necessidade que seja satisfeita com a compra dos produtos da empresa. Se não existir essa necessidade, mesmo que latente, não haverá possibilidade de negociação. Entretanto, além disto esta pessoa deverá ter poder aquisitivo para comprar. (LAS CASAS, 1997, p. 103). Para uma empresa definir sua segmentação ou nicho de atuação, antes é necessário fazer uma análise geral do mercado para o tipo de produto que será ofertado. As empresas muitas vezes não fazem isto de forma planejada ou organizada, mas alguma análise existe, nem que seja pelo feeling4 de seu administrador. É importante visualizar o todo para que se possa escolher com que parte do mercado se trabalhará, avaliando oportunidades, como necessidades não atendidas, concorrência, tamanho do mercado, comportamento de consumo, entre outras. Para tanto, a forma mais eficaz de se chegar a estes dados é por meio de uma pesquisa de mercado, a qual poderá ser atribuída a uma instituição especializada ou realizada pela própria empresa interessada. Conforme Las Casas (1997), um dos primeiros passos de uma organização é determinar de maneira bem ampla qual o mercado visado para posteriormente selecionar o grupo que ela tem maior interesse em atingir, o chamado mercado-alvo. 4 Em tradução livre – sentimento. Refere-se à experiência do administrador. 3 Em empresas de software é comum analisar quais as principais necessidades do mercado, que podem vir à tona por meio dos próprios clientes, verificando segmentos com grande crescimento, novas tendências tecnológicas ou até mesmo por exigências legais, como é o caso recente da nota fiscal eletrônica e do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) Contábil e Fiscal. O mercado das software-houses5 é basicamente o corporativo, já que os clientes são empresas, o chamado B2B (Business to business). No mercado organizacional há variáveis bem distintas dos mercados consumidores, Kotler e Keller (2006) citam algumas delas: menos compradores, porém de maior porte; relacionamento estreito entre fornecedor e cliente; compra profissional; diversas influências de compra; vários contatos de vendas; demanda derivada; demanda inelástica, demanda oscilante. A venda de software apresenta um ciclo longo, principalmente por ser direcionada ao mercado corporativo, muitas vezes há um comitê decisor do projeto, ou seja, muitas pessoas decidindo e influenciando o negócio, é uma compra que envolve muito mais análise do que emoção, diferentemente do mercado consumidor. As ações de vendas devem ser pautadas sempre pela segurança e atendimento, por que além do software, na maior parte dos casos, são necessários serviços de instalação, implementação e treinamentos. 2.2 - Segmentação Segmentação consiste em dividir o mercado em determinados grupos com necessidades e/ou características semelhantes, realmente é uma divisão, para que se possa focar o(s) segmento(s) escolhido(s), com ações mais precisas. De acordo com Las Casas (1997), após a divisão de um mercado em grupos menores, os administradores podem optar por concentrar seus esforços em apenas um ou então em vários destes grupos. Eles fazem o planejamento de apenas um programa de marketing e atuam no mercado-alvo selecionado. Esta abordagem é chamada abordagem de mercado segmentado concentrado. As vantagens desta abordagem são evidentes, já que a empresa poderá manter uma posição privilegiada, principalmente se outros concorrentes não estiverem atuando no segmento. Além disso, ela poderá tornar-se especializada conhecendo seus consumidores com maior profundidade. Kotler e Keller (2006) são mais abrangentes e revelam que ao avaliar diferentes segmentos de mercado a empresa deve examinar dois fatores: a atratividade global do segmento e os objetivos e recursos da própria empresa. Ela deve considerar se os segmentos 5 Empresas de desenvolvimento de software. 4 potenciais atendem os cinco critérios de utilidade: tamanho, crescimento, aproveitamento, economias de escala e baixo risco. Então, após esta avaliação, os autores sugerem que se faça um posicionamento de mercado, considerando cinco padrões de seleção de mercado-alvo: a) concentração em um único segmento – concentrando em um único segmento a empresa consegue atender com mais precisão as necessidades deste mercado e se fortalece com os clientes atuais e potenciais. Em contrapartida, seu risco é maior, pois fica vulnerável às oscilações econômicas deste único segmento; b) especialização seletiva – a empresa seleciona alguns segmentos atraentes, apropriados ao seu perfil. É uma estratégia multissegmentada que apresenta como principal vantagem a diversificação e minimização de riscos da investidora; c) especialização por produto – a empresa concentra-se em um único produto que possa ser vendido em vários segmentos, adquirindo uma sólida reputação na área específica do produto. O principal risco é o de novos entrantes, com maior nível de tecnologia, ou ainda com uma tecnologia totalmente nova, podendo tornar seu produto obsoleto e comprometer a viabilidade da empresa; d) especialização por mercado – a empresa especializa-se de acordo com as necessidades de um grupo específico de clientes, fornecendo todos os produtos afins. Nesse caso, o risco também acontece na oscilação econômica do grupo em questão e também por novos entrantes com o mesmo foco, o que pode diminuir o market share da empresa em um curto espaço de tempo; e e) cobertura total de mercado – consiste em atender a todos os grupos consumidores com todos os produtos que eles possam precisar. Apenas empresas muito grande podem adotar uma estratégia de cobertura total de mercado. O risco é a competição acirrada e margens reduzidas, pois é um mercado de gigantes. Nas software-houses o que se constata é a utilização de especializações por produto, na maior parte dos casos, e também a seletiva, devido à complexidade e particularidades de cada produto fica difícil utilizar estratégias de especialização por mercado ou cobertura total, e quanto à estratégia focada em único segmento, torna-se de alto risco. Estreitando ainda mais a segmentação, chega-se aos nichos de mercado, segundo Kotler e 5 Armstrong (2003), um nicho é um grupo definido mais estreitamente, geralmente identificado pela divisão de um segmento em subsegmentos ou pela definição de um grupo com um conjunto distinto de características que pode buscar uma combinação especial de benefícios. Enquanto os segmentos são amplos e geralmente atraem muitos concorrentes, os nichos são menores e em geral atraem apenas um concorrente ou bem poucos. Presumivelmente, as empresas que praticam o marketing de nicho entendem tão bem as necessidades de seus nichos que seus clientes estariam dispostos a pagar um preço premium6. A importância da segmentação de mercado é para a definição de público-alvo que a empresa irá atuar, dessa forma, todos os seus investimentos serão direcionados a atender este mercado trazendo especialização, credibilidade na marca, e podendo ganhar em escala. Pereira (2004) destaca que para a definição do público-alvo de uma empresa de software, deve-se fazer três perguntas essenciais: a) Quem a sua empresa tem mais interesse em servir? b) Quem pode mais se beneficiar com o seu produto ou serviço? c) A quem você tem mais fácil acesso? Quando as software-houses definem suas verticais de atuação, levam em conta principalmente os segmentos não atendidos ou com concorrência fraca, e então os investimentos deverão ser focados nestes segmentos, pois é importante criar uma referência, para que elas possam estar no conjunto evocado das empresas compradoras. A software-house terá uma chance muito maior de ampliar seu market share se conseguir a liderança naquele segmento, dessa forma como é dito na linguagem de mercado, ela será comprada, ou seja, não precisará de muitos esforços de venda. 2.3 Posicionamento da Empresa e do Produto Uma vez definida a segmentação de mercado em que a empresa atuará é necessário definir qual a estratégia de posicionamento da empresa e do produto. O posicionamento é desenvolvido para que as metas estabelecidas pela empresa sejam atingidas. Ao decidir em quais segmentos do mercado entrará, conforme Kotler e Armstrong (2003), a empresa deve analisar quais posições quer ocupar nesses segmentos. O posicionamento do produto é a maneira como o produto é definido pelos consumidores em relação a seus atributos importantes – o lugar que ele ocupa na mente dos consumidores em relação aos produtos concorrentes. 6 Alto valor agregado. 6 Porter (1989) afirma que embora uma empresa possa ter inúmeros pontos fortes e pontos fracos em comparação com os seus concorrentes, existem dois tipos básicos de vantagem competitiva que uma empresa pode apresentar: baixo custo ou diferenciação. A importância de qualquer ponto forte ou ponto fraco que uma empresa apresenta é, em última instância, uma função de seu impacto sobre o custo relativo ou a diferenciação. Nas empresas de software observa-se tanto posicionamentos de baixo custo como de diferenciação. As verticais de atuação (segmentação) permitem conhecer as necessidades daquele grupo de clientes e oferecer produtos aderentes, quanto mais específico for o nicho maior a chance de se utilizar a estratégia de diferenciação e de não competir focado em preço. Pereira (2004) aponta que no mercado de software a imagem institucional da empresa; a rede de relacionamentos de seus sócios e diretores; a saúde financeira e o período de atividade da empresa; a sua carteira de clientes; a tecnologia; marca da empresa; o nível de satisfação dos clientes; o nível de inovação da empresa; as experiências dos clientes em relação à sua empresa definem o posicionamento de uma empresa no mercado. Já o posicionamento de um produto ou serviço é definido em função da categoria do software, benefícios, funções, características técnicas, preço, abrangência ou foco de público-alvo. É importante saber quais os diferenciais da empresa em relação aos concorrentes para se elaborar uma matriz de atratividade dos negócios, as vendas serão facilitadas se os diferenciais ofertados são de relevância ao cliente. O mercado de software é bastante dinâmico, o que é um diferencial hoje pode não ser amanhã, então é de suma importância investir continuamente no produto, sempre avaliando as tendências de mercado, o que os seus clientes e prospects estão buscando. 2.4 Definição de Preço A determinação dos preços a serem praticados geralmente acontece com base nos custos e na margem de lucro que os sócios ou acionistas pretendem obter com o negócio. Porém, num cenário de alta competitividade como o atual, para produtos similares, o mercado é que baliza os preços, ou seja, o processo se inverte, a partir do que os clientes pagam por determinado produto ou serviço, a empresa tem de ajustar os seus custos ou reformular o produto para ser competitiva. No caso de empresas que utilizam a estratégia de diferenciação, o preço geralmente não é fator decisivo na compra, já que fica difícil fazer uma comparação direta com outros produtos. Dessa forma, os preços são definidos pela empresa, gerando margens mais atrativas. 7 Por isso, “Antes de estabelecer o preço, a empresa deve decidir qual será sua estratégia para o produto. Se ela escolheu cuidadosamente seu mercado-alvo e seu posicionamento, então sua estratégia para o mix de marketing, incluindo o preço será razoavelmente descomplicada.” (KOTLER; ARMSTRONG, 2003, p. 263). Pereira (2004) explica que enquanto na precificação de serviços é necessário considerar o custo de desenvolvimento e o custo do esforço envolvidos na elaboração de cada proposta, produtos de software podem ser vendidos por unidade/licença, pelo número de usuários simultâneos, número de servidores, por percentual de receita, pelo porte do cliente, por serviços e upgrades (atualização de versão). Além disso, em muitos casos os clientes pagam mensalmente pelo direito de uso do serviço, incluindo upgrades. A precificação das licenças de software muitas vezes são balizadas pela situação de mercado da empresa, por exemplo, se a marca for de expressão e o produto já tiver reconhecimento pelo mercado a empresa poderá cobrar um valor um pouco acima dos seus concorrentes. Em caso de empresas entrantes, geralmente os valores são mais baixos. A estratégia de preços está muito ligada com os objetivos da empresa, como por exemplo aumentar sua participação de mercado e obter melhores margens de lucro. A Oracle, por exemplo, empresa líder mundial em banco de dados, depois de dominar o mercado de grandes empresas, há alguns anos lança estratégias para atingir as pequenas e médias empresas por meio de políticas de comercialização com menor custo. Além disso, desde 2006 a empresa disponibiliza o banco de dados Oracle XE, que é um produto sem custo para aplicações leves. É uma estratégia contra a sua concorrente Microsoft, com o produto SQL Server. Em vendas de software, além das licenças de uso é necessário vender a implantação e treinamento para a utilização da nova ferramenta, esses são os serviços agregados ao produto. Na maior parte dos projetos, os serviços representam um valor maior do que as próprias licenças do software. No trabalho de vendas há o convencimento de que esse serviço gera valor ao cliente, porque muitas vezes não é compreensível o fato de o maior valor estar nos serviços agregados ao software, porém, é somente por meio dele que haverá uma real aplicação do recurso adquirido. Uma outra modalidade de comercialização de software é conhecida como SaaS (Software as a Service), que quer dizer software como um serviço. Nesse tipo de política, o cliente paga somente um valor mensal, sem o custo inicial de aquisição de licenças e em vários casos, até os serviços agregados entram nesse pacote. Nessas situações, o valor mensal 8 tende a ser maior do que no caso de compra de licenças, para que o fornecedor tenha a sua rentabilidade, ainda que seja em longo prazo. Simples, barato e flexível, o software como serviço – ou SaaS, do inglês softwareas-a-service – já virou realidade dentro das empresas. Em três anos, uma em cada quatro aplicações será negociada nesse modelo. A idéia básica prevê o fim das licenças e o pagamento de uma taxa que varia com o uso. De quebra, a TI ganha agilidade na atualização tecnológica. Mas o SaaS tem limites também. O principal é a dificuldade para customizar, o que torna o modelo pouco adequado para sistemas críticos.(SPOSITO, 2008, s.p.). O modelo SaaS é comumente utilizado para pequenas e médias empresas, cujo valor de investimento inicial pode tornar a compra do software inviável. A maior parte das software-houses que trabalha com o SaaS também tem a opção do modelo tradicional de aquisição de licenças, dessa forma, o cliente opta pela condição que melhor se adequar à sua realidade. 2.5 Prospecção Feita a análise de mercado, a segmentação do mesmo, o posicionamento da empresa e a sua definição de preços, passa-se para a etapa de venda propriamente dita. Para que uma venda aconteça é necessário que se tenha um comprador, esse levantamento e contato com potenciais clientes chama-se prospecção. Futrell (2003) salienta que a prospecção é a primeira etapa do processo de vendas. Um cliente potencial ou prospect é um indivíduo (ou organização) selecionado, com potencial para comprar o seu produto ou serviço. A prospecção é a força vital das vendas porque identifica os clientes potenciais. Há duas razões pelas quais um profissional de vendas deve procurar constantemente novos clientes potenciais: 1. para aumentar as vendas; 2. para substituir clientes que serão perdidos ao longo do tempo. Prospectar é, de modo geral, iniciar uma conversação com alguém para descobrir a viabilidade dessa pessoa, ou de sua empresa, adquirir um produto ou serviço que tenho para oferecer. Prospecção é uma palavra utilizada também na busca de petróleo, ouro ou pedras preciosas, o que nos dá uma analogia bastante clara da importância da prospecção em vendas. Prospectar é sair em busca do ouro. (PERSONA, 2009, s.p.) Há diversos meios de prospecção que podem ser utilizados pelas empresas, segundo Futrell (2003) varia muito o método pelo qual um profissional de vendas consegue clientes potenciais. Um deles é a prospecção eletrônica na Web, pode-se dizer que este é o mais recente avanço na prospecção, mediante a utilização da internet para encontrar potenciais 9 compradores. É uma forma rápida e fácil de encontrar informação sobre indivíduos e empresas por meio da tecnologia. Este método aplica-se perfeitamente na venda de software, pois a internet é um campo muito vasto, onde praticamente todas as empresas registram um site e onde é possível pesquisar de inúmeras formas, a fim de atingir o segmento ou públicoalvo em que se quer atuar. Além disso, os sites das empresas estão repletos de informações importantes para as software-houses, vão municiar a força de vendas para o primeiro contato com o potencial cliente. Outro meio bastante difundido é a prospecção a frio, um método que baseia-se na lei das medidas. Por exemplo, se a experiência passada revela que uma pessoa em cada dez comprará o produto, então cinquenta contatos de vendas devem resultar em cinco vendas. Assim, o vendedor contata pessoalmente, por telefone e/ou por correspondência o máximo possível de leads, sabendo que determinada porcentagem de pessoas abordadas irá comprar. Este método é bastante utilizado na venda de software, porém em muitos casos é difícil monitorar indicadores a partir do primeiro contato, o mais comum é que os indicadores sejam a partir do momento em que se gera uma proposta. O contato pessoal é uma das formas mais antigas de prospecção, mas que permanece muito forte no ambiente corporativo. Outro método bastante conhecido pelos vendedores é a cadeia sem fim. Segundo Futrell (2003), o cliente muitas vezes indica o vendedor para pessoas conhecidas, o que é chamado de método de cadeia sem fim de indicações na prospecção. Trata-se de um método muito eficiente de encontrar clientes. Clientes e indicações de clientes são as duas melhores fontes de vendas futuras. Esse é um dos mais eficientes meios de prospecção para a venda de software. Por ser um produto intangível e difícil de avaliar, a indicação de empresas satisfeitas que já o utilizam gera credibilidade e pode encurtar o ciclo de vendas. Outro meio que observa-se no mercado é o chamado Clientes órfãos, caso em que os profissionais de vendas mudam de empresa ou atuação e deixam seus clientes sem atendimento, esses “órfãos” são ótimos clientes potenciais. Porém não é muito aplicável na prospecção de software, pois tratam-se de vendas eventuais, complexas e que envolvem serviços agregados. São avaliações complexas em ambiente corporativo, dessa forma, o vendedor não tem tanta influência como em outros tipos de produtos. Há também o Clube de leads de vendas, mais modernamente conhecido como contatos de networking, caracteriza-se por um grupo de profissionais de vendas de áreas relacionadas, mas não concorrentes, que se encontram regularmente para trocar indicações de leads e dicas de prospecção. O clube de leads é uma das melhores formas de prospecção de software, porque muitas vezes outros fornecedores têm acesso a informações que a empresa 10 interessada não tem. Como exemplo, uma empresa de hardware pode indicar uma empresa que está trocando seu ERP para que a software-house desse nicho faça contato. Este tipo de informação é valiosa, pois se a empresa não for chamada para a seleção, provavelmente só terá chance de participar no caso de um novo processo, anos depois. Há também a prospecção de Lista de clientes potenciais, caso em que os profissionais de vendas fazem uma lista de como seriam seus clientes potenciais ideais. Este meio para as empresas de software é definido bem antes da etapa de prospecção, em que se trabalha com a segmentação e público-alvo desejados, nesse caso é interessante participar ou ter acesso a listas de associações e entidades desses nichos. Futrell (2003) menciona ainda como meio de prospecção as Publicações, afirmando que ao convencer um editor de que é especialista em seu campo, você se torna especialista. Se os clientes potenciais o considerarem especialista, será a você que recorrerão quando estiverem prontos para comprar. Além disso, os clientes potenciais que o procurarem em busca de conselhos podem vir a confiar em você e em seu produto. Assim, vocês atrai clientes potenciais sem ter de sair fazendo prospecção. Dessa forma, as publicações são interessantes para se tornar referência e valem também para a venda de software. Além de publicações as software-houses muitas vezes desenvolvem parcerias com instituições de ensino, na área de cursos técnicos, graduações e pós-graduações, em que levam informações pertinentes ao plano curricular e também têm a oportunidade de se apresentar e conseguir prospects interessados em seu produto. Outro meio bastante difundido no mercado é o de Feiras e exposições, onde as empresas apresentam seus produtos e serviços a novos leads, é um ambiente bastante propício para se fazer negócios e propagar a marca. Este método é largamente utilizado por empresas de software, onde se apresentam a um grande número de visitantes potenciais, geralmente são escolhidas feiras onde o público-alvo da software-house tenha interesse direto. É uma boa forma de conseguir contatos e agendar visitas e demonstrações. Utiliza-se ainda o método do Centro de Influência, o qual segundo Futrell (2003), consiste em encontrar e cultivar relacionamentos, numa comunidade ou território, com pessoas que estejam dispostas a cooperar com você, ajudando-o a encontrar clientes potenciais. É uma outra forma de networking, não tão formal como no Clube de Leads, mas que é muito utilizada na venda de software e faz com que as oportunidades venham até a empresa, muitas vezes, as software-houses pagam até comissão para os indicadores de negócios. A SAP, empresa alemã consagrada de ERP lançou oficialmente sua política: 11 O SAP Referral and Influencer Program é uma nova iniciativa que oferece recompensa financeira pela indicação de oportunidades qualificadas (leads), do Mercado SME, à SAP que se convertam em vendas dentro de um determinado período. Registre-se no programa e analise se em sua base de clientes e prospects há leads potenciais para a SAP, submeta a oportunidade e a SAP fará o restante. Quando um lead aceito pela SAP for convertido em uma venda, a sua empresa irá receber 5% ou 15% (dependendo do seu envolvimento) do valor líquido referente às licenças de software.7 Outro método de prospecção é a Mala direta, ou seja, anúncios que atingem um grande número de pessoas ou empresas, que podem estar espalhadas por uma área geográfica muito ampla, a um custo relativamente baixo se comparado ao trabalho de vendedores. Essa técnica evoluiu para o e-mail marketing, ou seja, mala direta via e-mail. Porém, assim como as malas diretas na maior parte dos casos vão para o lixo, as malas-diretas na maior parte dos casos vão direto para a lixeira da caixa de e-mails, já que são utilizadas amplamente e as empresas têm dificuldade em filtrar o que poderia ser interessante. É considerado um meio de investimento baixo mas também de resultado baixo. Mais um meio utilizado é o Telefone e Telemarketing, é uma forma de interação entre o vendedor e o lead, na qual o objetivo é qualificar ou rejeitar determinada pessoa ou empresa. Este método é bastante utilizado para a venda de software, já que é o primeiro contato direto em que a equipe de vendas da software-house vai buscar informações que lhe interessem sobre o potencial cliente, e se for uma real oportunidade, este contato visa também a agendar uma visita pessoal, uma demonstração ou até mesmo um envio de proposta. Futrell (2003) ainda aponta como um meio de prospecção a Observação. Este é mais um hábito do que um meio de prospecção, e é sem dúvida, bastante eficaz. Muitas vezes as oportunidades estão ao redor e é preciso atenção para identificá-las. É bastante utilizada por vendedores de software, como exemplo, se um vendedor aguarda na recepção o atendimento do seu contato na empresa começa a observar toda e qualquer informação disponível naquele ambiente, muitas vezes há informações de parceiros e fornecedores exclusivos, que podem se tornar prospects ou clientes da software-house em questão. Em restaurantes, aeroportos e outros locais públicos esse profissional pode escutar informações pertinentes a oportunidades em empresas da região e fazer um contato posterior. Por último, mas não menos importante, o meio do Trabalho em Rede. Futrell (2003, p. 178) argumenta que a 7 (retirado do site da SAP no dia 18/05 às 22h a partir do link http://www.sap.com/brazil/ecosystem/partners/referral.epx0). 12 construção de uma rede é importante, mas o cultivo dessa rede traz vendas. O segredo é o posicionamento, não a exposição. A meta para se cultivar uma é formar um nicho sólido na mente de cada um de seus contatos, de forma que quando um desses contatos, ou alguém que ele conheça, precisar de seu tipo de produto ou serviço, você seja o único recurso possível que lhe venha à mente. Também é uma forma de networking, empresas de software a utilizam a partir de participação em entidades de classe, associações comerciais e industriais, patrocínios em eventos, objetiva ser lembrado e estar no conjunto evocado quando da seleção de fornecedores, ou ainda fomentar ou criar oportunidades em potenciais clientes que desconheciam os seus produtos e benefícios. 2.6 Visitas e Demonstrações Após a fase de prospecção, iniciam-se as etapas de contato direto com o prospect, por meio de visitas para entender as suas reais necessidades e também para que se faça uma apresentação institucional da empresa e de seus produtos. Pereira (2004) afirma que o primeiro encontro é sempre um teste. Portanto, antes de se fazer um contato ao vivo com os prospects é necessário preparar-se pesquisando sobre a empresa, definindo seus objetivos para a primeira reunião, identificando os passos necessários para que você obtenha as informações necessárias e levando o kit do prospect na primeira visita, que é composto de casos de sucesso, brinde, cartão de visita e brochuras. Após a visita de vendas havendo interesse por parte do prospect iniciam-se as etapas de demonstração do software, ou ainda, em vendas mais complexas, é feito um diagnóstico para detectar a aderência do produto à empresa, essa fase é conhecida como prévenda. Em outros termos, Pereira (2004, p. 111) cita que Miko Matsumura diz “fazer demo é a prática do mostrar em vez do falar”. O demo ou demonstração da interface e do funcionamento do software é um meio poderoso de incentivar a compra. Fale menos e mostre mais: para comprar, o cliente precisa ver o software funcionando. Nessas etapas, é importante a atenção total ao prospect, por que em muitos casos é um assunto estranho ao seu dia-a-dia, ou seja, ele não o domina, tem muitas dúvidas e dificuldade de decidir. Deve-se criar uma interação entre os participantes da demonstração, para que questionem, sugiram exemplos, a fim de que o prospect consiga se visualizar naquela realidade, já que é um produto intangível. Em geral, quanto mais complexa e cara for uma compra para o cliente, mais pessoas ele tende a envolver na decisão e o ciclo de vendas também se estende. Podem entrar outros itens na avaliação, como visitas a clientes da 13 software-house que estejam utilizando o mesmo produto, várias demonstrações focando áreas específicas e levantamento de customizações. Em outros palavras, Se o seu produto ou serviço é novo ou complexo, o ciclo de venda tenderá a ser mais demorado. Nesses casos, você precisará educar seus clientes potenciais sobre os benefícios e as vantagens da sua linha de produtos e serviços por meio de reuniões, apresentações e demos. (PEREIRA, 2004, p.57). Vender software é vender confiança, por isso às referências de clientes satisfeitos são importantíssimas para dar segurança ao prospect, elas são muito mais consideradas do que tudo o que a equipe de vendas falar ou fizer. 2.7 Negociação e Fechamento A negociação é a etapa em que cliente e fornecedor estabelecem os seus acordos para os produtos e serviços em questão, geralmente é a fase em que se ajustam volumes, preços e prazos. Além de outros itens como tempo para a entrega, qualidade e garantia. O processo de negociação só inicia depois que o prospect já estiver convencido de que seu produto o atende, ou seja, todas as dúvidas técnicas já devem ter sido esclarecidas, e também objeções referentes a ele. Se não for dessa forma, corre-se o risco de retroagir no processo de vendas. Desse modo, a negociação pode ser entendida como a estratégia de: trabalhar para encontrar um acordo que seja mutuamente satisfatório para ambos, comprador e vendedor [...] o caminho para encontrar um entendimento comum dos elementos essenciais de uma transação. Como o papel atual do vendedor é atuar como um consultor de negócios ou de recursos para proporcionar soluções aos problemas de seus clientes, ele deve procurar estabelecer e manter relações de longo prazo com seus clientes. (COBRA, 2001, p.98) Se cliente e fornecedor conseguem chegar a um acordo, então fecham negócio. A etapa de fechamento é a formalização do pedido ou contrato negociado. A iniciativa do fechamento geralmente parte da empresa vendedora, por isso, tem que pedir o pedido, se não há mais dúvidas técnicas e nem comerciais, o momento é propício para fechar o negócio. Em vendas de software mais complexas, como por exemplo sistemas ERP, muitas vezes a etapa de negociação acontece após a escolha do fornecedor, porque o preço em si não é o fator determinante. O cliente vai avaliar se o produto lhe atende em suas necessidades, se tem aderência ao seu processo, se é uma empresa confiável, se tem referência de outras empresas. Por isso, em geral, os clientes negociam apenas com a empresa escolhida e o fechamento acontece em seguida. 14 Há casos também em que a empresa compradora realiza negociações com vários fornecedores a fim de barganhar melhores condições com a software-house preferencial. Para vendas complexas de software cada etapa do processo tem muita importância, pois a todo o momento a empresa é avaliada, e se avaliação for positiva, o fechamento será a consequência natural dessas etapas. 2.8 Pós-Vendas O conceito de pós-vendas é alinhar se as expectativas do cliente foram atendidas pela compra do seu produto ou serviço, e fazer ajustes caso necessário. É importante fazer o atendimento ao cliente depois da venda, qualquer que seja o tipo de empresa, produto ou serviço que você represente, ressalta Futrell (2003, p.342). Algumas empresas não utilizam o termo Pós-Vendas e sim Relacionamento. Empresas de software fazem visitas de relacionamento após a implementação do sistema, isto é para garantir a satisfação e fidelidade do cliente, e também é claro, para identificar oportunidades e vender outros produtos. Futrell (2003) expõe que o marketing de relacionamento é a criação de fidelidade e retenção de clientes. As organizações usam combinações de produtos, preços, distribuição, promoções e serviços para alcançar essa meta. O marketing de relacionamento baseia-se na idéia de que clientes importantes precisam de atenção contínua. Kotler e Armstrong (2003) também seguem esta linha. Apontam que a teoria e a prática do marketing tradicional sempre se concentraram na atração de novos clientes e não na retenção dos existentes. Hoje, no entanto, embora atrair novos clientes continue sendo uma importante tarefa de marketing, a ênfase deslocou-se para o marketing de relacionamento – criar, manter e aprimorar fortes relacionamentos com os clientes e outros interessados. Além de elaborar estratégias para atrair novos clientes e criar transações com eles, as empresas empenham-se em reter os clientes existentes e continuar com eles relacionamentos lucrativos e duradouros. As empresas estão se dando conta de que perder uma venda é muito mais significativo do que possa parecer, pois se trata de perder toda a corrente de compras futuras. As software-houses em geral, tem isto muito claro, pois muitas delas recebem valores mensais dos seus clientes para a manutenção e continuidade do software e dos serviços. Então perder um cliente significa perder uma quantidade relevante de receita a longo prazo. Então o pós-vendas ou relacionamento não é um luxo, e sim uma necessidade para a blindagem de clientes. 15 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste artigo, pode-se concluir que os princípios gerais de vendas se aplicam ao mercado de software, porém, em alguns casos, com mais etapas e detalhamento, como por exemplo, diagnóstico detalhado para avaliar aderência, demonstração, visitas a clientes já implementados e condução de testes-pilotos. O software está muito ligado ao processo da empresa, por isso são vendas que não acontecem com frequência. O cliente só irá trocar se realmente não estiver bem atendido, pois a troca é trabalhosa e cara, e irá alterar a forma de trabalho da organização, que além de sua carga normal de obrigações terá todo um treinamento e implementação para executar. A venda de software, em geral, caracteriza-se por um ciclo de vendas longo, por tratar com o mercado corporativo, em que diversas pessoas se envolvem como influenciadoras ou decisoras da compra, e também por demandar diversas etapas, conforme discriminado acima. Portanto, para se obter maior eficácia na venda de software é recomendável que a software-house execute todos os processos, fazendo uma boa análise de mercado com o recurso de pesquisas, e escolhendo em que segmentos poderá ser competitiva, posicionando-se em relação aos concorrentes, definindo suas estratégias de mercado e só então partindo para a venda propriamente dita. Dessa forma, ela conhecerá melhor o seu mercado, seus investimentos serão direcionados para ele, obtendo um melhor índice de conversão de negócios, e consequentemente, proporcionando melhores resultados. 4 REFERÊNCIAS ADVANCE Marketing. Workshop Vendas Consultivas. Apostila do Workshop realizado nos dias 17 e 18 de julho de 2008, no Sebrae de Caxias do Sul/RS. CANDELORO, Raúl. Torne-se um Mestre da Prospecção. Disponível em: <http://www.igpromo.com.br/artigos16.asp>. Acesso em : 16 set. 2008. COBRA, Marcos. Administração de Vendas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994. COBRA, Marcos. Vendas: Use a Magia do Marketing e a Sedução da Venda. 3. ed. São Paulo: Marcos Cobra, 2001. FUTRELL, Charles M. Vendas – Fundamentos e Novas Práticas de Gestão. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 16 KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing: A Bíblia do Marketing. 12. ed. 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