O OLHAR E A ESCUTA DO PSICÓLOGO DENTRO DE UMA

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O OLHAR E A ESCUTA DO PSICÓLOGO DENTRO DE UMA INSTITUIÇÃO
PSIQUIÁTRICA
ADAME, Alcione¹
DREHMER, Diana Taís²
DAL BERTO, Gerli Diane³
BAUER, Angela4
RESUMO EXPANDIDO – EIXO 8: Psicologia e Direito: Por uma Psicologia no Direito.
Resumo: Em Psicanálise se privilegia a palavra e escuta, mas com psicóticos, onde se tem
uma mobilidade maior, onde o setting se diferencia daquele do neurótico, onde as atuações
tem status de palavras, cabe bem situar a dimensão do olhar do analista. . O tema de reflexão
deste trabalho foi escolhido a partir de experiências vivenciadas como estagiária de Psicologia
em um Hospital Psiquiátrico, bem como as dúvidas, entraves e possibilidades ali
experimentados. Seu objetivo principal é refletir acerca da atuação do profissional de
Psicologia dentro de uma Instituição Psiquiátrica, buscando abordar a importância da escuta e
do olhar do Psicólogo diante do atendimento aos usuários. A reflexão foi sendo direcionada
de acordo com os paradigmas da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial do Brasil, o
enfrentamento desses movimentos para um Hospital Psiquiátrico, bem como a história da
loucura, lógica antimanicomial, desinstitucionalização e a atuação do Psicólogo no
atendimento a psicóticos. Para um bom desempenho na realização do trabalho, o profissional
precisa estar com a mente aberta e disposta a atender o usuário que necessita de seus
cuidados. Foi possível perceber a diferença entre o trabalho realizado com neuróticos e com
psicóticos, como também a importância do trabalho multiprofissional e em equipe.
Palavras-chave: Hospital Psiquiátrico; Luta antimanicomial; Atenção Psicossocial.
Abstract: Summary: In psychoanalysis is privileged to speak and listen, but with psychotic,
where you have greater mobility, where the setting is different from that of the neurotic,
where performances have status words, it is well to place the size of the look of the analyst. .
The theme of reflection of this work was chosen from experiences as an intern Psychology in
a Psychiatric Hospital, as well as the doubts, obstacles and possibilities experienced there. Its
main objective is to study the performance of professional psychology in a psychiatric
institution, seeking to address the importance of listening and looking Psychologist before the
service to users. The reflection was being directed according to the paradigms of the
Psychiatric Reform and Anti-Asylum of Brazil, facing these movements into a Psychiatric
Hospital, as well as the history of madness, logic asylums, deinstitutionalization and the role
of the psychologist in attendance psychotic. For a good performance on the job, the
professional must be open-minded and willing to meet the user that needs their care. It was
possible to tell the difference between the work done with neurotic and psychotic, as well as
the importance of multidisciplinary work and team.
Keywords: Psychiatric Hospital; Fight asylums; Psychosocial Care.
Introdução
Introduzindo um breve relato acerca história da loucura, dado um primeiro momento,
o poder religioso e a persuasão dos filósofos predominavam sobre a medicina. Eram
considerados loucos todos aqueles que apresentassem algum tipo de comportamento desviante
dos padrões normais impostos pela sociedade. Como por exemplo: alcoólatras, dependentes
químicos, homossexuais, jovens mães solteiras, dentre outros. A loucura era considerada
como a ausência de razão e a forma de tratamento era por internação involuntária em
manicômios1.
Em seguida, a loucura, considerada como doença, foi aprisionada pelo saber médico.
Só o médico podia dizer se o paciente era ou não louco. Os pacientes, submetidos a práticas
cruéis como eletrochoques, foram expostos a supostos tratamentos em Hospitais Psiquiátricos
e sofreram com “sossega-leões” que os deixavam dopados e sem reação .
Num terceiro momento, ao final dos anos 70, contemporâneo à eclosão do
“Movimento Sanitário” no Brasil, principiou-se o Movimento da Reforma Psiquiátrica. Surge,
então, em 1978 o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), o qual
determinava acabar com a instituição psiquiátrica, criar novos dispositivos de tratamento para
extinguir os manicômios e hospitais psiquiátricos.
Apenas em 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Paulo
Delgado foi sancionada no país, a lei redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando
o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas com transtornos mentais e impõe novo impulso e novo ritmo para o
processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.
É nesse contexto que se dá a realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental
(2001), o que contribui para que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com
as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, comece a consolidar-se como política oficial do SUS e
propõem a formação de uma rede articulada e comunitária de cuidados para as pessoas com
transtornos mentais. Fato que se faz fundamental para a solidificação da Reforma Psiquiátrica.
A articulação em rede dos diversos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico é
crucial para a constituição de um conjunto vivo e concreto de referências capazes de acolher a
pessoa em sofrimento mental.
Em 2002, essa frente ganha grande impulso no Brasil com uma série de normatizações
do Ministério da Saúde2. Uma dessas normatizações advém do Programa Nacional de
Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria), que permite aos gestores
um diagnóstico da qualidade da assistência dos hospitais psiquiátricos conveniados e públicos
existentes em sua rede de saúde, avaliando a estrutura física do hospital, a dinâmica de
funcionamento, os processos e os recursos terapêuticos da instituição, assim como a
adequação e inserção dos hospitais à rede de atenção em saúde mental em seu território e às
normas técnicas gerais do SUS.
Materiais e Métodos: O presente trabalho é fruto de reflexões disparadas dentro de
um Hospital Psiquiátrico no município de Rondonópolis-MT. Foi realizado estágio
supervisionado durante um ano, a estagiária acompanhou as funções e atuações da psicóloga
durante este período. o hospital psiquiátrico em que se deu o estágio divide-se em três
unidades: Unidade 1: Transtornos Mentais – Masculino; Unidade 2: Transtornos Mentais e
Dependência Química – Feminino; Unidade 3: Dependência Química - Masculino. Ao todo, o
1
CUNHA, Giane Alves de Melo e Assis; MACIEL, Silmara Cristina. Saúde Mental – Luta Antimanicomial,
Reforma Psiquiátrica e CERSAMs: Campo de Atuação das Políticas Públicas, 2008. Disponível em <
http://www.webartigos.com/artigos/saude-mental-luta-antimanicomial-reforma-psiquiatrica-e-cersams/11430/>.
Acesso em 07/09/2013
2
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental.
Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de
Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.
hospital contém cerca de 92 leitos, os profissionais dividem-se em: uma psicóloga, três
enfermeiros, duas assistentes sociais, três psiquiatras e uma nutricionista.
Resultados e Discussões:
Após o movimento da Reforma Psiquiátrica e a luta antimanicomial, os hospitais
psiquiátricos foram convocados a desenvolver sua lógica de assistência baseada nesses novos
conceitos, buscando a desinstitucionalização.
Algumas vezes fatores como regras rígidas e burocracias institucionais tornam-se
entraves no desenvolvimento da atuação do profissional que trabalha na instituição, pois ele
acaba ficando amarrado a essas questões, precisando remanejar seu trabalho em função de
normas e mudanças que ocorrem. Além disso, muitas vezes o profissional deixa de
desempenhar sua principal tarefa, que é o cuidado e atendimento ao usuário, para tratar de
questões institucionais e cumprir outras tarefas.
A psicologia e a medicina diferem no que diz respeito ao conceito de “cura” dos
transtornos mentais, ou seja, utilizam de procedimentos distintos. Na medicina busca-se a cura
através de medicamentos, no intuito de fazer o sintoma desaparecer. Ao contrário, a
psicanálise preocupa-se com o conteúdo e o deciframento da constituição do sintoma o que
permite seu esclarecimento e não busca a sua suspensão3.
Segundo Quinet³ , não se pode pretender curar o delírio, sendo ele mesmo uma
tentativa de cura da foraclusão do Nome-do-Pai. Freud, explicando em outras palavras, diz ser
o delírio uma peça que é colada onde houve uma falha da relação do sujeito com a realidade. 4
Deixando-se guiar pela estrutura, o psicanalista deve aprender com o delírio, o qual é
uma tentativa de cura, já que o curável na psicose é equivalente a tentar barrar, delimitar,
temperar, apaziguar o gozo que invade o sujeito. Para Quinet5, não se trata de o analista
delirar com o paciente, mas de usar o recurso da linguagem em direção do ciframento do gozo
e significantizar o real.
Nos atendimentos realizados na instituição através de grupos psicoterapêuticos e
também individuais, buscava-se ter sempre essa escuta alerta, sendo as falas muitas vezes
desconexas, delírios de todos os tipos (perseguição, grandeza, místicos, etc), mas era
importante ouvir o conteúdo de cada delírio para cifrar o sintoma justamente através do uso da
linguagem.
Em Psicanálise se privilegia a palavra e escuta, mas com psicóticos, onde se tem uma
mobilidade maior, onde o setting se diferencia daquele do neurótico, onde as atuações tem
status de palavras, cabe bem situar a dimensão do olhar do analista.
O analista precisa saber escutar o que o psicótico está manifestando de sua relação
com o significante, faz a função de secretariar e testemunhar a relação do sujeito com o Outro.
O que complica é que entre a posição de testemunha e de perseguidor, entre ser seu secretário
e ser o objeto de sua erotomania, não há uma grande distância. A “vantagem” que há de o
psicótico tender a colocar o analista na posição de Outro é que ele consiste em considerar que
o Outro está ali presentificado, possibilitando ao analista esvaziar o gozo do Outro que o
paciente lhe confere.³
Considerações Finais:
O estágio realizado na Instituição Psiquiátrica possibilitou uma aproximação da
estagiária com o estudo e prática da Psicologia diante a psicose. Os atendimentos aos
3
QUINET, Antonio. Teoria e Clinica na Psicose. 4ª edição Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
QUINET, Antonio apud Freud. Teoria e Clinica na Psicose. 4ª edição Rio de Janeiro: Forense Universitária, p.
97, 2009.
5
QUINET, Antonio. Psicose e Laço Socil: esquizofrenia, paranoia e melancolia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed,
2006.
4
usuários, realizados durante o Grupo Psicoterapêutico, individualmente em uma sala ou nos
corredores, leitos, pátio, durante o lanche, horário de visita, etc. eram desenvolvidos sempre
buscando a escuta e o olhar muito atentos por parte do profissional de psicologia, dando suma
importância à fala e atuação do usuário.
Para um bom desempenho na realização do trabalho, o profissional, seja de psicologia
ou não, precisa estar com a mente aberta e disposta a atender o usuário que necessita de seus
cuidados. Foi possível perceber a diferença entre o trabalho realizado com neuróticos e com
psicóticos, no caso da psicose, muitas vezes o profissional se esgota, principalmente se não
tem um colega para dividir as tarefas e contribuir na realização do atendimento aos usuários.
Também foi possível perceber a importância do trabalho em equipe, o que traz
benefícios, tais como: melhor atendimento e cuidado ao usuário, reflexões multiprofissionais
acerca dos casos, um ambiente de trabalho mais leve para funcionários e profissionais, o que,
consequentemente, atinge positivamente no acolhimento/atendimento aos pacientes.
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