alfabetização e letramento: dificuldades na prática

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: DIFICULDADES NA
PRÁTICA PEDAGÓGICA
AUTORES:
Fabiana Alves de Oliveira
Graduada em Pedagogia/UNIMONTES
[email protected]
Luciana Alves de Oliveira e Silva,
Graduanda em Pedagogia pela UNIMONTES
[email protected]
RESUMO
A presente pesquisa cujo tema se intitula “Alfabetização e letramento: Dificuldades na
prática pedagógica” teve como principal objetivo conhecer as dificuldades encontradas
pelos professores das salas de alfabetização, no desenvolvimento da sua prática
pedagógica, para alfabetizarem crianças das escolas x do Município de Paracatu/MG. A
abordagem metodológica adotada foi à qualitativa, utilizou-se como instrumento de
coleta de dados o questionário a fim de conhecer, as dificuldades no processo da prática
pedagógica e a associação da alfabetização com letramento. O presente trabalho se
fundamenta sob a ótica de alguns autores como, Cagliari, (1998, 2004), Soares (2006),
Ferreiro (1999, 2001), Veiga (1989), entre outros que destacam a importância do ensino
da leitura e da escrita e o seu uso nas práticas sociais, levantando discussões em torno
do conceito e da articulação alfabetização e letramento, destacando as dificuldades na
prática pedagógica. Após a análise e interpretação dos dados coletados à luz do
referencial teórico adotado podemos afirmar que as dificuldades encontradas pelos
professores no desenvolvimento da prática pedagógica são: a falta de material didático
para atender a demanda escolar, a participação efetiva dos pais no desenvolvimento de
seus filhos no processo de ensino aprendizagem e a indisciplina dos alunos dentro da
sala de aula. Constatou-se que a prática analisada está de acordo com a perspectiva de
alfabetização e letramento. Esta pesquisa teve como propósito contribuir para que os
professores reflitam sobre seus conceitos e preferências metodológicas que realizam no
processo de alfabetização.
Palavras- Chave: Alfabetização, Letramento, metodologias.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a alfabetização tem sido alvo de muitas controvérsias
teóricas e metodológicas, exigindo que o alfabetizador se posicione em relação às
metodologias aplicada em sala de aula. Contudo, a pesquisa apresentada neste trabalho,
vem despertar reflexões em torno das práticas alfabetizadoras, dificuldades na
alfabetização tendo como alvo o tema Alfabetização e Letramento: Dificuldades na
Prática Pedagógica. Nesse sentido, Soares (2006) ressalta que a associação do
alfabetizar letrando é crucial no processo de aprendizagem, os dois são importantes e é
necessário que eles se desenvolvam juntos, mesmo que cada um tenha sua
especificidade, é preciso que o aluno faça o uso da leitura e escrita respondendo as
exigências que a sociedade faz continuamente. Portanto além de alfabetizar é preciso
que no processo de alfabetização o professor alfabetize as crianças letrando.
Assim sendo surgiu o seguinte questionamento: quais as dificuldades
encontradas pelos professores das salas de alfabetização no desenvolvimento de sua
prática pedagógica, para alfabetizarem crianças da escola x situada no Município de
Paracatu/MG? A essa observação enfatizamos as metodologias utilizadas por
professores alfabetizadores, em seu processo de ensino da leitura e escrita e quais as
dificuldades em aplicá-los.
Nessa proposta de estudo o objetivo geral é o de conhecer as dificuldades
encontradas pelos professores das salas de alfabetização, no desenvolvimento da sua
prática pedagógica, para alfabetizarem crianças das escolas x do Município de Paracatu.
A pesquisa foi realizada nas escolas Municipais de Paracatu na zona urbana, no
período de 4 a 22 de Setembro de 2010. Primeiro foi feito uma pesquisa para saber
quantas escolas municipais na zona urbana existem em Paracatu. Constatou que existem
sete e dessas sete escolas foram escolhido 30% para realizar a pesquisa que foi realizada
por meio de questionário destinado aos professores alfabetizadores das escolas x, onde
realiza seu trabalho no primeiro ano do ensino fundamental com alunos com idades de
seis anos da classe popular. Os questionários foram aplicados para conhecer as
atividades propostas pelos docentes no processo de ensino aprendizagem e as possíveis
dificuldades encontradas durante a prática pedagógica.
Os principais referenciais que fundamentaram este estudo foram Cagliari, (1998,
2004), Soares (2003, 2004, 2006), Ferreiro (1999, 2001), Veiga (1989) entre outros. Os
autores apresentados, ressaltam a importância do ensino da leitura e da escrita e o seu
uso nas práticas sociais, levantando discussões em torno do conceito e da articulação
alfabetização e letramento, destacando as dificuldades na prática pedagógica.
A metodologia utilizada foi à pesquisa qualitativa para a análise dos dados. Para
a coleta de dados foram utilizados questionários. O questionário objetivou conhecer o
desenvolvimento da prática dos professores em sala de aula, suas dificuldades e os
recursos utilizados em busca do alfabetizar letrando. Também se trata de uma pesquisa
bibliográfica em que se colhem dados importantes referentes à alfabetização, a partir da
contribuição dos autores.
È importante ainda ressaltar a relevância deste trabalho para a sociedade que
reside na possibilidade de conhecer, discutir, divulgar os resultados da pesquisa e levar
os alfabetizadores a refletirem sobre a qualidade do trabalho realizado em sala de aula, a
e aguçar a reflexão na sua prática pedagógica em função da relação alfabetização e
letramento.
Conceituando Alfabetização e Letramento
Historicamente, o processo de ensino da leitura e escrita, era de responsabilidade
das famílias e ocorria no âmbito privado do lar, a escolarização iniciou-se somente a
partir do século XVIII. A partir do século XIX, a educação no Brasil passou a ganhar
mais importância, o saber ler e escrever tornou-se instrumento crucial para o
desenvolvimento social. A leitura e escrita que até então era restrita a poucos se tornou
fundamental para todos, tendo como obrigação da instituição escolar desenvolver as
práticas de leitura e escrita gratuitamente.
Ao olhar de Cagliari (2004), a alfabetização é o aprendizado da escrita e da
leitura e sem duvida o momento mais importante da formação escolar de uma pessoa,
visto que a compreensão da natureza da escrita, suas funções e o uso frequente é
indispensável no processo de alfabetização. Para Ferreiro (2001, p. 43), “a escrita não é
um produto escolar, mas sim, um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da
humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções sociais e tem
meios concretos de existência”. Contudo, a escrita e a fala devem ser tratadas
adequadamente para evitar que a escola encontre dificuldades para lidar com a leitura,
pois, a leitura se objetiva na escrita. Concordando com Ferreiro Cagliari (1998) ainda
vem afirmar que a escrita é um fato social que está ligado à leitura, pois a escrita se dar
através da leitura. Através da escrita e da linguagem é possível uma interação social.
O processo de aprendizagem da leitura é muito importante, a esse processo
Cagliari faz uma crítica à forma como a escola conduz essa questão.
A escola agi preconceituosamente em relação às crianças que pretendem se
alfabetizar, partindo do princípio de que elas não tiveram um passado, não
acumularam conhecimentos e habilidades. É como se todas essas crianças
estivessem no mesmo nível, nada soubessem e precisassem aprender tudo e
da mesma maneira. (CAGLIARI, 2004, p.14)
Nesse sentido, a criança é corrigida por falar seu dialeto, mas o professor
também comete erros no processo, por exemplo, ao denominar letras, acentos e
pontuações como objetos comparativos na forma ou som, alguns atribuem o acento
agudo como grampo, o circunflexo como chapéu, e etc. Segundo Cagliari (2004, p.14),
“algumas professoras julga que, para facilitar a aprendizagem e motivar os alunos,
precisa explicar, por exemplo, a letra u como um chifre de boi”, a esta questão ele
enfatiza que comparando o conteúdo a ilusões metafóricas está privando o aluno do
verdadeiro conhecimento, fazendo com que a alfabetização se torne em um faz de conta.
Entendemos então, que a alfabetização não se baseia no ensino de denominação
de letras, ela consiste nos significados de cada uma onde precisa haver um constante
contado com leituras de diferenciados textos, pois, a alfabetização implica em aprender
a descobrir, reconhecer e utilizar sinais da linguagem. No entanto, a leitura tem grande
importância para o desenvolvimento social, como a escrita também é crucial, pois a
escrita tem muitas finalidades para o homem como a de se comunicar entre si, registrar
descobertas, histórias, ideias e pensamentos.
Dando ênfase na escrita como um instrumento importante para o homem, Feil
(1985, p.90) afirma que, “a escrita só tem valor educativo quando a criança já souber o
que está escrevendo, quando tiver condições de, antecipadamente, dizer o que irá
escrever. A escrita implica em prevê”. O homem tem o domínio da palavra, visto que o
ato de ler e escrever são de fundamental importância no uso da linguagem, pois, a partir
da leitura e escrita ele pode se expressar através de registros ou da fala, e com o domínio
destes tem facilidades de comunicar, acessar informações, defender pontos de vista e
produzir conhecimentos.
A pessoa que sabe ler e escrever é uma pessoa alfabetizada, logo ensinar a ler e
escrever faz parte do processo de alfabetização. De acordo com Soares (2006, p.19)
“alfabetizado é aquele que apenas aprendeu a ler e a escrever, não aquele que adquiriu o
estado ou a condição de quem se apropriou da leitura e da escrita, incorporando na
prática social”. Soares faz uma diferenciação entre a pessoa alfabetizada e a letrada, mas
considera que a alfabetização e o letramento fazem parte do processo de ensino
aprendizagem, os dois são importantes e é necessário que eles se desenvolvam juntos,
mesmo que cada um tenha sua especificidade, enquanto uma pessoa alfabetizada é
aquela que sabe ler e escrever, uma pessoa letrada é aquela que faz uso, compreende,
interpreta e incorpora nas práticas sociais a leitura e escrita.
A alfabetização é um processo que ainda que se inicie formalmente na escola,
começa de fato, antes de a criança chegar à escola, através das diversas
leituras que vai fazendo do mundo a cerca, desde o momento em que nasce e
apesar de se consolidar nas quatro primeiras series, continua pela vida a fora.
Este processo continua apesar da escola, fora da escola e paralelamente à
escola. (GARCIA, 2001, p. 66)
Para reforçar o que retrata Garcia, Cagliari (2004, p.16) afirma que “uma criança
que entra na escola para se alfabetizar já é capaz de entender e falar a língua portuguesa
com desembaraço e precisão”. Visto que no convívio com seus familiares e com o
mundo que a cerca aprendeu a falar e a entender o que lhe falam e desenvolveu sua
linguagem desde os primeiros anos.
Apesar disso, há diversos conceitos existentes sobre a alfabetização na qual esta
dar oportunidades ao indivíduo em construir habilidades da leitura e escrita de uma
determinada língua. Moll (1996, p. 68) define a alfabetização “como uma esfera
mecânica, na qual alfabetizar-se está vinculado a habilidades de codificação e de
decodificação”. Para Ferreiro e Teberosky (1999), a alfabetização não é um estado a que
se chega, mas sim um processo que muitas vezes se inicia antes da escola e continua
pelo resto da vida.
Ainda que a alfabetização consista num processo de aquisição da leitura e escrita
é indispensável que ela se desenvolva no contexto de letramento, não basta somente
saber ler e escrever, Soares afirma esta hipótese dizendo:
É preciso também fazer uso do ler e escrever, saber responder as exigências
de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente, daí atribui o recente
surgimento do termo letramento que vem se tornado uso corrente, em
detrimento do termo alfabetismo. (SOARES, 2006, p.20)
Portanto a contextualização da alfabetização e do letramento é de suma
importância, para a aprendizagem e o convívio social. Dissociar os dois no decorrer da
aprendizagem é incoerente, visto que a aquisição da escrita e o uso de suas habilidades
nas práticas sociais ocorrem por esses dois processos.
Letramento
O termo letramento é definido por Soares, como uma palavra recém-chegada ao
vocabulário da educação e das ciências linguísticas, é na segunda metade dos anos
oitenta que ela surge no discurso dos especialistas desta área. Além desta primeira
definição histórica, Soares (2006, p.72) destaca que, “letramento não é pura e
simplesmente um conjunto de habilidades individuais, é o conjunto de práticas sociais
ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social”.
Mortatti (2004, p.105) define o letramento como “um conjunto de práticas sociais que o
individuo se envolve de diferentes formas, de acordo com as demandas do contexto
social e das habilidades e conhecimentos de que dispõe”.
Soares (2006) enfatiza que a alfabetização e o letramento são instrumentos
distintos, mas não inseparáveis, para ela o ideal seria que as escolas alfabetizassem
letrando, que o ensino aprendizagem da leitura e escrita acontecesse num contexto de
práticas sociais, nesse sentido o indivíduo se tornaria ao mesmo tempo alfabetizado e
letrado.
No momento em que se aprende a ler e escrever entende-se que a pessoa pode
ser considerada alfabetizada, entretanto, para que ela seja letrada é essencial que
exercite a língua escrita na sociedade. Soares (2006) destaca que para definir uma
pessoa como letrada não é necessário que a mesma seja alfabetizada, pois existem
pessoas que sem ter o domínio da leitura e da escrita se interessam em ouvir leituras de
jornais, cartas, e existem também crianças analfabetas que folheiam livros, ouvem
histórias, brincam de escrever, em termos de letramento esses indivíduos estão inseridos
nesse seguimento. Ainda sob a ótica de Soares (2006, p.36), “a pessoa que aprende a ler
e a escrever se torna alfabetizado, e a pessoa que passa a fazer uso da leitura e escrita, e
a envolve nas práticas sociais se torna letrada”.
O letramento é importante, porque propicia capacidades de questionar, criticar,
criar, se inserir no mundo em que vive. Não adianta ser alfabetizado (saber ler e
escrever), é necessário que a leitura e escrita tenha um sentido, significado e que possa
fazer uso em sociedade.
A prática pedagógica: Construção e Dificuldades
Antes de passar por um processo de ensino na escola, a criança tem acesso a
diversos tipos de escrita na sociedade, no entanto, ao realizar a prática pedagógica o
professor precisa estar ciente disso, buscar compreender os processos de aprendizagem
que a criança vivenciou antes de frequentar o ensino na escola. Veiga (1989, p.16),
entende a prática pedagógica “como uma prática social orientada por objetivos,
finalidades, conhecimentos e inserida no contexto da prática social, onde a prática
pedagógica é uma dimensão da prática social que pressupõe a relação teoria – prática”.
A autora destaca que a prática pedagógica não deve esquecer a realidade concreta da
escola e dos alunos, que a teoria pedagógica é colocada em ação pelo professor, que tem
por finalidade a transformação real, objetiva de modo natural ou social, cabe ao
professor trabalhar com a teoria e a prática, pois uma não existe sem a outra e uma
depende da outra.
Segundo Garcia (2001, p.31), “é importante partir da prática, teorizar sobre ela e
voltar à prática para que as crianças de fato avancem na apropriação e construção de
novos conhecimentos”. Concordando com a posição de Garcia, Barreto (2004, p.59),
também vem afirmar que “a visão de conhecimento que o educador tem, repercute
diretamente na sua própria prática”.
Na visão de Paulo Freire o papel do educador não é propriamente falar ao
educando, sobre sua visão de mundo ou lhe impor esta visão, mas dialogar
com ele sobre a sua visão e a dele. Sua tarefa não é falar, dissertar, mas
problematizar a realidade concreta do educando, problematizando-se ao
mesmo tempo. ( BARRETO, 2004, p.65).
Não obstante, a educação tem papel fundamental na alfabetização do educando,
visto que o educador precisa sim dialogar com os alunos e deixá-los expor suas ideias,
visão de mundo e compartilhar entre si.
O processo de aprendizagem não é necessariamente o mesmo que processo de
ensino, pois não existe um processo único de ensino – aprendizagem e sim dois
processos distintos. Para afirmar essa posição Abreu (2000, p.45), destaca:
que existem dois processos de ensino aprendizagem distintos, o de
aprendizagem desenvolvido pelo aluno, e o de ensino, pelo professor. São
dois processos que se comunicam, mas não se confundem: o sujeito do
processo de ensino é o professor, enquanto o do processo de aprendizagem é
o aluno. (ABREU, 2000, p.45)
Segundo Abreu (2000), quando uma criança não alfabetizada entra na escola, o
professor e a criança, ambos sabem que a mesma não consegue ler nem escrever,
compete ao professor propor a criança atividades baseadas na capacidade infantil de
jogar, de fazer de conta, ou seja, incentivar a criança a escrever do jeito que imagina. A
autora ainda destaca a importância de oferecer a criança oportunidades de se defrontar
com vários textos nas quais ela sabe o que está escrito ou pode deduzir a partir do
contexto. Fazendo assim, o professor estará oferecendo oportunidades para pensar sobre
a escrita, elaborar hipóteses, testá-las e reconstruí-las progressivamente com o apoio do
educador. Segundo Feil (1985), antes do professor realizar a prática pedagógica é
preciso que o mesmo faça uma sondagem, uma análise e levantamento da turma,
observando todos os aspectos, sócio econômico, social e intelectual, e a partir dessa
análise o educador definirá, o quê e como vai trabalhar. Esta etapa é a mais importante
ou mesmo decisiva para o processo de ensino- aprendizagem
Feil (1985), coloca que antes de iniciar o trabalho de alfabetização, o professor
deve ter um método definido e conhecer a situação do aluno, no entanto ela observa
que,
existem alguns professores que inicia seu trabalho sem ter um método
definido, não tem conhecimento das etapas e as fases evolutivas da
aprendizagem da clientela escolar em que irá atuar (linguagem, situação
sócio- econômica...), assim dificulta a interação professor x aluno. (FEIL,
1985, p.15)
Seguindo o pensamento de Feil (1985, p.16) “o processo de aprendizagem é
muito complexo, porque nele implicam não só a capacidade intelectual, mas também
fatores de ordem social, emocional, perceptual, física e psicológica”.
Compete ao professor procurar ter uma visão mais ampla com relação às
finalidades sociais da escola, ter uma postura crítica, que lhe permita perceber os
problemas que envolvem sua atividade e sua prática e procurar conseguir de seus alunos
melhores rendimentos propondo em seu trabalho a teoria- prática.
Segundo Garcia (2001) há muitas dificuldades para o professor realizar a prática
pedagógica, porém que ao se depararem com essas dificuldades como, por exemplo,
quando as crianças têm dificuldades em aprender às vogais, consoantes, sílabas,
encontros vocálicos, etc. ela recorre ao lúdico. Este procedimento é contestado por
Garcia, pois, ao mesmo tempo em que favorece as crianças que tem o convívio com a
cultura letrada, desfavorecem as crianças das classes populares, pois, elas tendem a se
perder no lúdico, sem dispor de sinalizações anteriores que lhes garantam o retorno ao
nível simbólico da escrita.
Desde o contato inicial da escrita a crianças precisa viver a experiência da
autoria. Da intimidade com a produção de textos, com a leitura dos textos dos
colegas, com textos presentes no cotidiano e trazido para a sala de aula, é que
vai construindo concretamente o conceito de código (GARCIA, 2001, p.26).
Garcia (2001) ainda destaca que, para que a ortografia seja encarada com
naturalidade, pelos alunos, é preciso que o professor crie situações que ponham ênfase
no código e não no erro, variedades de produções escritas como jornais, revistas, livros
e o dicionário em sala de aula é indispensável para as crianças, pois, responde a
curiosidade percebendo como se escreve. É indispensável incentivar as crianças
trazerem para sala de aula novos acontecimentos que envolvem seu cotidiano.
Quando as crianças tentam trazer para a sala de aula o que acontece fora da
escola, costumam encontrar barreiras: “não é assunto de aula”. A obrigação
de “dar a matéria” fundamenta-se na concepção de que ensinar corresponde à
mera transmissão de conhecimento em linha direta (GARCIA, 2001, p.27).
A criança apropria de novos conhecimentos a partir da troca, do diálogo, da
relação e da interação entre aluno x professor, aluno x aluno, professor x aluno. Sendo
assim, Lemle (2001) enfatiza que no início da alfabetização de uma criança
primeiramente, o professor precisa ensinar o que representam aqueles risquinhos pretos
na pagina branca, na qual esse conhecimento para aqueles que já sabem parece ser
simples, mas para quem está começando a ser alfabetizado não é nada simples, pois,
para a criança entender que os risquinhos pretos no papel são símbolos de sons da fala, é
necessário compreender primeiro o que é um símbolo. A autora ainda destaca, “uma
criança que ainda não consiga compreender o que é uma relação simbólica entre dois
objetos não conseguirá aprender a ler, o aprendiz precisa ser capaz de entender que cada
um daqueles riquinhos vale como símbolo de um som da fala”.
Para o aluno discriminar a idéia de símbolo (que os segmentos gráficos
representam segmentos de som, cada letra é símbolo de um som) o professor
pode trazer para a escola, bandeiras de clubes e de países, escudos de times
de futebol, sinais de transito e etc. (LEMLE, 2001, p.14).
As atividades que o professor realiza no processo de alfabetização, podem
favorecer um ambiente de confiança no grupo. A capacidade de observação e a
sensibilidade são necessárias no encaminhamento do processo educativo, que envolve
professor e alunos numa unidade dialética.
Dificuldades encontradas pelos professores das salas de alfabetização no
desenvolvimento de sua prática pedagógica, para alfabetizarem crianças da escola
x situada no Município de Paracatu/MG.
Esta seção tem como objetivo apresentar a análise dos dados coletados através
dos instrumentos utilizados, á luz do referencial teórico discutido anteriormente. A
coleta de dados foi realizada através de aplicação de um questionário contendo seis
questões. A escolha desse instrumento baseia nas ideias de Marconi e Lakatos (1999,
p.96), quando afirmam que “o questionário é um instrumento de coleta de dados
constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito
sem a presença do entrevistador”. Contudo, o questionário utilizado nesta pesquisa
consta de perguntas relacionadas às atividades aplicadas pelos professores
alfabetizadores e as dificuldades encontradas processo de alfabetização. A metodologia
utilizada neste estudo se fundamenta em uma abordagem de pesquisa qualitativa que
favorece os estudos em que o pesquisador tem a intenção de desenvolver ações que o
leve a interpretar, compreender, refletir a pesquisa.
A pesquisa foi realizada entre os dias quatro a vinte e dois de Setembro de 2010, na
qual o campo da coleta de dados foram três escolas do Município de Paracatu situadas na
zona urbana. Os questionários foram entregues aos professores alfabetizadores que atuam
no primeiro ano do ensino fundamental.
Assim, entre as três primeiras questões que retrata a identificação do profissional,
entre os professores da qual foram entrevistados todos atuam a mais de dez anos na
alfabetização sendo que 75% possuem curso de Graduação e Pós-Graduação e 25%
possuem Magistério.
Na questão quatro ao serem perguntados se eles alfabetizam letrando, eles
responderam:
100
90
90
80
Alfabetiza Letrando
70
60
% 50
40
30
20
Só alfabetiza
10
10
0
GRÁFICO I – Alfabetizar Letrando
FONTE: dados coletados no período de 04 a 22/09/2010
Esses dados demonstram que grande parte dos professores alfabetizam letrando,
para justificar esse processo os professores enfatizaram que a alfabetização encontra-se
ao lado do contexto social em que o aluno está inserido por isso é necessário alfabetizar
letrando. Os professores ainda argumentam que o aluno precisa desde cedo ser sujeito
ativo e consciente de sua história, por isso temos que oferecer caminhos que o faça
refletir, pensar e agir, ampliando sua visão para além do seu meio. Assim sendo, notase que as respostas dos professores estão condizentes com o que vem a ser o letramento.
De acordo com Soares (2006, p.36), “A pessoa que aprende a ler e a escrever se torna
alfabetizado, e a pessoa que passa a fazer uso da leitura e escrita, e a envolve nas
práticas sociais se torna letrada”.
Considerando, ainda, o relato dos 90% entrevistados, afirmaram que o processo
de ensino aprendizagem, hoje é voltado para o letramento devido às exigências da
sociedade, o trabalho do alfabetizador que alfabetiza letrando é caracterizado pelo uso
do diferentes gêneros textuais, geralmente utilizam de todos os recursos disponíveis
para o desenvolvimento do aluno onde a alfabetização e o letramento são termos
indissociáveis no processo de aprendizagem inicial da linguagem escrita, para que o
aluno possa responder as demandas sociais através da leitura e escrita. Diante dos
relatos dos entrevistados Soares (2006), considera que a alfabetização e o letramento
fazem parte do processo de aprendizagem, os dois são importantes e é necessário que
eles se desenvolvam juntos, mesmo que cada um tenha sua especificidade, enquanto
uma pessoa alfabetizada é aquela que sabe ler e escrever, uma pessoa letrada é aquela
que faz uso, compreende, interpreta e incorpora nas práticas sociais a leitura e escrita.
Os entrevistados ainda responderam que alfabetizam letrando seguindo as orientações
de Paulo Freire, ensina o aluno a fazer a leitura de mundo que o rodeia.
Na visão de Paulo Freire o papel do educador não é propriamente falar ao
educando, sobre sua visão de mundo ou lhe impor esta visão, mas dialogar
com ele sobre a sua visão e a dele. Sua tarefa não é falar, dissertar, mas
problematizar a realidade concreta do educando, problematizando-se ao
mesmo tempo. ( BARRETO,2004, p.65).
Todavia apenas 10% dos entrevistados só alfabetizam talvez isso se deva a falta
de interesse por parte dos professore em ajudar a criança a ser um sujeito ativo e o
desconhecimento ao que venha ser letramento. As suas respostas foram que a função
deles como alfabetizadores é somente de alfabetizar, o letramento é consequência do
convívio social. No que se refere à falta de esclarecimento da importância de alfabetizar
letrando, Soares (2006) ressalta que a associação da alfabetização com o letramento é
crucial no processo de aprendizagem, os dois são importantes no processo de aquisição
da língua oral e escrita.
Na questão de número 05 ao serem questionados sobre as dificuldades
encontradas na prática pedagógica. Os professores responderam:
100
90
80
70
60
Apoio Familiar
60
Indisciplina
% 50
40
30
20
25
Falta de material
15
10
0
GRÁFICO II - Dificuldades na Prática Pedagógica
FONTE: dados coletados no período de 04 a 22/09/2010
O gráfico II, mostra que as maiores dificuldades encontradas pelos professores
na realização da prática pedagógica, é a falta de apoio familiar e de material para
desenvolver a prática. Dos entrevistados, 60% definem que o apoio familiar é essencial
para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, visto que a assistência familiar fica
cada dia mais escasso, a família deixa toda a responsabilidade do educar sob a margem
da escola e do professor, tornando difícil o processo de aprendizagem. Responderam
que alguns pais só sabem criticar o professor e não tem participação ativa no
desenvolvimento de seu filho e que a criança que não tem apoio familiar acaba
apresentando dificuldades em compreender o sistema de leitura e escrita
Sobre esta abordagem, Feil (1985, p.16) acrescenta que “o processo de
aprendizagem é muito complexo, porque nele implicam não só a capacidade intelectual,
mas também fatores de ordem social, emocional, perceptual, física e psicológica”.
Entretanto, para que o individuo se desenvolva no processo de aprendizagem é preciso à
participação ativa da família. Com base na questão 05, 15% dos entrevistados atribuem
as dificuldades em realizar a prática pedagógica na indisciplina em sala de aula, visto
que alguns alunos vão para escola somente para brincar, são alunos desinteressados,
assim dificulta ainda mais o processo de alfabetização. A falta de material também é
uma das dificuldades encontradas pelos professores, já que 25% dos entrevistados
responderam que a carência de apoio material pedagógico por parte do sistema de
ensino torna a prática ainda mais difícil, uma vez que o professor precisa se desdobrar
para conseguir material para realizar sua prática.
Na seguinte questão número 06, foram questionadas aos professores quais
atividades consideradas por eles a mais adequada e interessante no processo de
alfabetização, eles responderam:
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
50
20
15
15
Leitura de textos variados: poema, jornais, gibis, etc.
Ditados de sílabas e palavras
Produção de textos
Formação de palavras com sílabas
GRÁFICO III – Atividades adequadas para ensinar a ler e escrever
FONTE: dados coletados no período de 04 a 22/09/2010
O gráfico acima nos mostra que 50% dos entrevistados consideram que a leitura
de textos variados seja a forma mais adequada de se ensinar a ler e escrever, Garcia
(2001) participa da mesma ideia retratada pelos professores ao dizer que, para que a
ortografia seja encarada com naturalidade, pelos alunos, é preciso que o professor
utilize, variedades de produções escritas como jornais, revistas, livros e o dicionário em
sala de aula são indispensáveis para as crianças, pois, responde a curiosidade
percebendo como se escreve. É importante também, incentivar as crianças a trazerem
para sala de aula novos acontecimentos que envolvem seu cotidiano. Como decorrência,
e não menos importante, Cagliari (2004), fortalece que a alfabetização é o aprendizado
da escrita e da leitura e sem duvida o momento mais importante da formação escolar de
uma pessoa, visto que a compreensão da natureza da escrita, suas funções e o uso
frequente é indispensável no processo de alfabetização.
Nota-se que 15% dos
entrevistados aderem como atividades adequadas o ditado de sílabas e palavras, 20%
dos professores acham que ensinar a ler e escrever se baseia na produção de textos,
Ferreiro (2001, p. 43), traz mais detalhes mostrando que “a escrita não é um produto
escolar, mas sim, um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade”.
Contudo, a escrita e a fala devem ser tratadas adequadamente para evitar que a escola
encontre dificuldades para lidar com a leitura, pois o a leitura se objetiva na escrita.
Dando continuidade na questão, 15% dos entrevistados relataram que as atividades mais
adequadas para o processo de alfabetização é a formação de palavras com sílabas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema que esta pesquisa se propôs a investigar foi “quais as dificuldades
encontradas pelos professores das salas de alfabetização no desenvolvimento de sua
prática pedagógica, para alfabetizarem crianças da escola x situada no Município de
Paracatu/MG” e o seu principal objetivo foi conhecer as dificuldades encontradas pelos
professores das salas de alfabetização, no desenvolvimento da sua prática pedagógica,
para alfabetizarem crianças das escolas x do Município de Paracatu. A partir da análise
de dados apresentados, á luz do referencial teórico discutido nesse estudo, pode-se
afirmar que as dificuldades encontradas pelos professores das salas de alfabetização no
desenvolvimento da sua prática pedagógica para alfabetizarem crianças das escolas
públicas Municipais de Paracatu são: a falta de material didático para atender a
demanda escolar, a participação efetiva dos pais no desenvolvimento de seus filhos no
processo de ensino aprendizagem, a indisciplina dos alunos dentro da sala de aula que
também contribui para as dificuldades encontradas pelo professor ao realizar sua
prática.
A partir da pesquisa realizada nota-se que os professores da rede pública
Municipal das escolas x de Paracatu/MG, relacionam o processo de alfabetização com o
letramento, visto que são utilizados diversos gêneros textuais dentro de sala de aula
proporcionando aos alunos possibilidades de praticar a leitura baseado no que acontece
na sociedade. Mortatti (2004, p.105) traz seu parecer descrevendo que o letramento é
“um conjunto de práticas sociais que o individuo se envolve de diferentes formas, de
acordo com as demandas do contexto social e das habilidades e conhecimentos de que
dispõe”.
Contudo, este trabalho não teve a pretensão de dar uma resposta para a questão,
mas a presente pesquisa revelou tanto aos educadores quanto aos pesquisadores, a
grande necessidade de buscar novos estudos que tenham como objetivo propor
alternativas para minimizar as dificuldades encontradas pelos professores com relação a
prática pedagógica. Esta pesquisa teve como propósito contribuir para que os
educadores reflitam sobre seus conceitos e preferências metodológicas que realizam no
processo de alfabetização.
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