TRABALHO EM GRUPO E APRENDIZAGEM COOPERATIVA Maria Valgerlene de Souza Lima Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Química Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) Serra Talhada - Brasil [email protected] Eriosvaldo Florentino Gusmão Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Química Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) Serra Talhada - Brasil [email protected] Marília Gabriela de Menezes Guedes Professora Assistente no Curso de Licenciatura Plena em Química Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) Serra Talhada - Brasil [email protected] RESUMO: O presente trabalho mostra que a cooperação é essencial no processo de ensino- aprendizagem, sendo a aprendizagem cooperativa importante para criar condições para um melhor ensino, contribuir para a formação de uma cidadania consciente e estimular atitudes cooperativas na escola e no ambiente social. Palavras-chave: Aprendizagem cooperativa, trabalho em grupo. INTRODUÇÃO Desde os primórdios o ser humano tem a necessidade de viver em comunidade com outras pessoas, mesmo que em grupos pequenos. Nas sociedades primitivas a aprendizagem das crianças ocorria mediante a participação nas atividades dos adultos. (SACRISTÁN, GOMES, ?). Com o passar dos anos, os pequenos grupos passaram a viver em sociedades mais organizadas, sendo também necessária a criação de instituições de ensino, as quais passaram por muitas modificações adquirindo a estrutura hoje conhecida. A escola é responsável pela formação de cidadãos, que atuam ativamente na sociedade que estão inseridos, além de ser também responsável pela formação ética dos discentes. Para Bauer e Bassi (2006): É importante uma Educação em Valores e o Papel da Escola e do Educador no desenvolvimento do educando, por meio de práticas, conceitos e exemplos aplicados na escola junto ao currículo escolar já a partir do Ensino Fundamental, práticas essas que respeitem a diversidade cultural e social e as necessidades de cada comunidade em torno da escola e que apresentem os conceitos e os diálogos existentes sobre a capacitação dos alunos, de forma a aprenderem a conhecer, a fazer, a viver juntos, a entender, a respeitar e ajudar ao próximo, a ser, a ouvir, a dialogar, a questionar, a mudar e resolver os problemas do dia-a-dia. (BAUER, BASSI, 2006) “A aprendizagem escolar tem sido beneficiada pela cooperação entre pares, conforme apontam inúmeros estudos”. (BARBOSA, JOFILI, 2004). É nesse contexto de trabalho em grupo que se insere este trabalho, buscando mostrar a importância da realização de trabalho em grupos para uma aprendizagem significativa. TRABALHO EM GRUPO Nos trabalhos em grupo os membros devem agir ativamente e é essencial a interação de todos, para que todos os membros consigam atingir os objetivos em comum. A realização de um trabalho em grupo pode ser entendida como uma maneira de construir o conhecimento coletivamente. “Aprendizagem cooperativa é uma técnica através da qual os estudantes se ajudam no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o professor, e visando adquirir conhecimento sobre um dado objeto.” (SANTORO, BORGES, SANTOS, 1999). Os objetivos primeiros do trabalho em grupo, segundo Haidt (2006) são: “ a) Facilitar a construção do conhecimento; b) permitir a troca de idéias e opiniões; c) possibilitar a prática de cooperação para conseguir um fim comum.” (HAIDT, 2006). Vale ressaltar que é de fundamental importância a realização de trabalhos em equipe em sala de aula para que os alunos aprendam a dialogar uns com os outros, e a trocar idéias, respeitando as opiniões dos demais e expondo as suas próprias opiniões. Essa prática reporta ao aluno como ele deve se relacionar com outras pessoas, ao mesmo que ele tem uma nova concepção do saber. De acordo com Haidt, (2006), o trabalho em equipe auxilia o desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo, auxiliando no desenvolvimento dos esquemas cognitivos, ao mesmo tempo em que ele aprende a viver em sociedade. (HAIDT, 2006). É necessário que haja um bom convívio entre os pares, para que aprendam a dividir tarefas, compartilhar responsabilidades e informações, sendo que o professor pode auxiliar na hora das divisões de tarefas dentro do grupo. Para Fatareli et al. (2010) Para garantir a participação ativa de todos os membros dos grupos, o professor atribuiu a cada um deles os seguintes papéis: redator – redige as respostas do grupo; mediador – organiza as discussões no grupo, permitindo que todos possam se expressar e resolve os conflitos de opinião; relator – expõe os resultados da discussão; e porta-voz – tira dúvidas com o professor. (FATARELI et al, 2010). O professor deve ainda orientar os alunos, estabelecendo, em conjunto com eles, os padrões de comportamento necessários para que todos os membros da equipe atinjam o máximo de rendimento individualmente e consequentemente coletivamente. Além disso, o professor deve definir de forma clara os objetivos a serem alcançados e explicar as técnicas de dinâmica de grupo que será utilizada no trabalho, para assim atingir o que se chama de sinestesia. (HAIDT, 2006). Os grupos podem ser divididos de acordo com o que é desejado do trabalho, e as técnicas de dinâmica de grupo, podendo ser em pequenos grupos, grupos de cochichos, discussão 66 ou Phillips 66, simpósio, painel, seminário, brainstorming ou tempestade cerebral. . (HAIDT, 2006). O último mencionado será discutido neste trabalho. O BRAINSTORMING OU TEMPESTADE CEREBRAL O Brainstorming ou tempestade cerebral é um método de aprendizagem cooperativa, no qual os alunos são deixados a vontade para apresentar as suas idéias livremente, os mesmo se sentem a vontade para expor as suas idéias sem sofrer influência dos demais, expondo assim a imaginação criativa. Só que logo após a apresentação dessas idéias por parte dos alunos o professor fará juntamente com os mesmos uma análise crítica. (HAIDT, 2006). O Brainstorming ou tempestade cerebral: é uma ferramenta que auxilia as pessoas a produzirem idéias para a resolução de um problema. Esta é uma das técnicas de dinâmica que o professor pode adotar, ressaltando que o professor deve saber que o fim de qualquer técnica é sempre a de auxiliar o processo de ensino aprendizagem, auxiliando e facilitando a comunicação entre os pares, ajudando na tomada de decisões. (HAIDT, 2006). É necessário para o trabalho em equipe que os membros se comuniquem e respeitem a opinião uns dos outros, segundo Blatt, 2010: A base do trabalho em equipe é a comunicação, um processo de interação que deve permitir clareza para seu receptor. A empatia, o “colocar-se” no lugar do outro, ter sensibilidade, auxilia a compreensão, a comunicação e, por conseguinte, pode vencer obstáculos interpostos pelos diferentes backgrounds dos participantes de uma equipe, fazendo com que esta diversidade seja colocada a favor do trabalho. (BLATT, 2010). APLICAÇÃO DO METÓDO Todo o procedimento foi aplicado para alunos do sexto período do curso de Licenciatura Plena em Química, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), ressaltando que o trabalho é para alunos da terceira série do Ensino Médio. O método de trabalho em grupo foi aplicado da seguinte maneira: na primeira etapa da aula, os alunos foram distribuídos em dois grupos (duração de 05 minutos aproximadamente). Na segunda etapa da aula (duração de 15 minutos aproximadamente), foi apresentado de forma sucinta para os alunos o assunto que seria trabalhado por eles, que foi uma análise de hidrocarbonetos (análise conformacional), através de aula expositiva usando slides em data-show com textos e imagens (Anexo A, Figura 1) Em seguida expomos aos alunos as estruturas dos hidrocarbonetos cíclicos (Anexo A, figura 2) que seriam por eles analisados e a partir dessa analise eles poderiam construir seus próprios modelos, usando material de baixo custo, como bolinhas de isopor, palitos ou canudos de plástico. Logo após a distribuição dos modelos para os alunos, os mesmos foram deixados a vontade para que as suas criatividades pudessem ser efetivamente usadas (aproximadamente 15 minutos), não limitamos a capacidade criativa deles com limites rígidos. Na próxima etapa os alunos apresentaram as suas considerações sem, no entanto, receberem críticas. Após as duas equipes terem apresentado as suas análises, foi debatido com a turma toda qual seria a melhor conformação para cada uma das estruturas usadas por eles, permitindo que os mesmos descobrissem os seus erros, e pudessem a partir destes construir seus conhecimentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A construção dos modelos químicos pelos grupos apresentou resultados satisfatórios mesmo perante as dificuldades enfrentadas, relativas principalmente ao tempo e a impossibilidade de uma pesquisa por parte dos próprios grupos. Resultados positivos puderam ser observados enquanto os alunos discutiam qual seria a melhor conformação para as estruturas a eles entregues, uma vez que eles tiveram oportunidade de ensinar e aprender uns com os outros, explicando e conduzindo a formação dos modelos, enquanto debatiam de forma dinâmica, descontraída, com companheirismo e interação total entre os componentes de cada grupo. Após as duas equipes terem apresentado oralmente as suas concepções acerca da melhor conformação para cada uma das estruturas analisadas, iniciou-se um debate entre a orientadora e os aplicadores do método para se definir, a partir dos resultados obtidos, quais ações do trabalho poderiam ser mantidas e quais deveriam ser descartadas a fim de haver uma efetiva melhora do método, para que os alunos consigam alcançar os objetivos do grupo por meio do método de aprendizagem cooperativa através da utilização de trabalhos em grupo. Na análise das ações a serem modificadas ou totalmente substituídas, observouse que pela dificuldade do tema abordado seria mais adequado optar pela substituição por algo mais prático e que não gerasse a necessidade de serem ministradas muitas aulas para a total compreensão do assunto. Sendo assim optou-se pelo tema Geometria Molecular, para que além da interação dos grupos os alunos tenham uma visão tridimensional de algumas moléculas de difícil visualização somente no papel. Barbosa e Jofili (2004) consideram que, de acordo com a análise dos dados, o trabalho em grupo apresenta uma elevada eficácia como alternativa para ser utilizada em sala de aula, uma vez que desperta nos alunos valores de integração social, ferramentas indispensáveis para a formação de um indivíduo capaz de atuar ativamente no meio em que está inserido. CONCLUSÃO Após avaliarmos em conjunto com a orientadora, verificamos que este trabalho, apesar de ser uma excelente ferramenta em sala de aula deve ser reformulado devido às considerações, no que concerne ao conteúdo, terem-no apontado como complexo para ser trabalhado com uma turma de ensino médio. Concordamos com Barbosa e Jofili (2004) ao dizerem que: A cooperação entre os pares ainda não está presente de forma sistemática nas escolas. É uma virtude que precisa ser incentivada e, para isso, são necessárias intervenções do professor para desenvolver nos alunos o sentimento da importância dessa cooperação. Ao ajudar o sucesso do colega com mais dificuldade ambos serão beneficiados. No entanto, para superar a visão individualista ainda presente em nossa sociedade, faz-se necessária a utilização de estímulos. No início das aulas, são prestados esclarecimentos sobre o sistema de atribuições de nota, pois nesses métodos é importante o resgate do crescimento coletivo do grupo, uma vez que o crescimento individual não será ressaltado, mas estará condicionado ao desempenho do grupo. (BARBOSA e JOFILI, 2004) Diante do exposto sugerimos ao leitor que não se limite na utilização de um único método, mas que diante de cada situação em sala de aula ele possa ser flexível quanto às necessidades dos alunos e dos conteúdos trabalhados para que o processo de ensino-aprendizagem seja eficiente. REFERÊNCIAS BAUER, Patrícia N., BASSI, Tana. “Ética e Responsabilidade Social no Ensino Fundamental”. Qual o Papel da Escola na Formação de Valores Humanos? Revista Integração. São Paulo: CETS, FGV – EAESP, n. 63, jun. 2006. Disponível em: http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/etica_resp_social_ens_fund_patricia_tana.pdf . Acesso em: 27 de novembro de 2010. BARBOSA, Rejane Martins Novais; JOFILI, Zélia Maria Soares. APRENDIZAGEM COOPERATIVA E ENSINO DE QUIMICA - PARCERIA QUE DÁ CERTO. Ciência e Educação, Bauru, v. 10, n. 1, p.55-61, 2004. BLATT, Roberto. Desenvolvimento De Equipes - Heterogeneidade, Empatia, Estímulos E O Papel Da Liderança. 2010. Disponível em <http://www.consultores.com.br/artigos.asp?cod_artigo=731>. Acesso em: 28 de Nov. de 2010. FATARELI, Elton Fabrino et al. MÉTODO COOPERATIVODE APRENDIZAGEM JIGSAW NO ENSINO DE CINÉTICAQUÍMICA. Química Nova Na Escola, São Paulo, v. 32, n. 3, p.61-68, ago. 2010. Trimestral. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/>. Acesso em: 15 nov. 2010. HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006. SANTORO, Flávia Maria; BORGES, Marcos R. da Silva; SANTOS, Neide. Um Framework para Estudo de Ambientes de Suporte à. Revista Brasileira de Informática Na Educação, Florianópolis, v. 4, 4 fev. 1999. PEREIRA, Vivian Lane Souto et al. Análise do método jigsaw de aprendizagem cooperativa através da utilização de mapas conceituais. Disponível em: <http://200.169.53.89/download/CD%20congressos/2002/SBC%202002/PDF/ARQ003 1.PDF>. Acesso em: 14 nov. 2010. Anexo A: Apresentação em Slides e Estrutura dos Hidrocarbonetos Cíclicos. Figura 1: Apresentação em slides sobre Análise Conformacional de Hidrocarbonetos. Figura 2: Estrutura Cicloexilcicloexano. (A) dos Hidrocarbonetos Cíclicos: (B) (A) Biciclo [4,4,0) decano, (B)