NELSON SAADE AVALIAÇÃO DOS FATORES PROGNÓSTICOS DA CRANIECTOMIA DESCOMPRESSIVA NO TRATAMENTO DO TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO GRAVE Tese apresentada ao Curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Pesquisa em Cirurgia São Paulo- SP 2013 NELSON SAADE AVALIAÇÃO DOS FATORES PROGNÓSTICOS DA CRANIECTOMIA DESCOMPRESSIVA NO TRATAMENTO DO TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO GRAVE Tese apresentada ao Curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Pesquisa em Cirurgia Orientador: Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga Área de concentração: Reparação Tecidual São Paulo- SP 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Saade, Nelson Avaliação dos fatores prognósticos da craniectomia descompressiva no tratamento do traumatismo cranioencefálico grave./ Nelson Saade. São Paulo, 2013. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reparação Tecidual Orientador: José Carlos Esteves Veiga 1. Traumatismos craniocerebrais 2. Craniotomia/métodos 3. Craniectomia descompressiva 4. Hipertensão intracraniana/cirurgia 5. Edema encefálico/cirurgia 6. Prognóstico BC-FCMSCSP/66-13 DEDICATÓRIA Aos meus amados Cristiane e Gabriel, razões e incentivo de todo meu trabalho e dedicação, sem os quais nada na vida teria sentido... Aos meus pais Chalita Jorge Saade e Salwa Habib Barakat Rahmè Saade, in memoriam, por todos seus ensinamentos e amor transmitidos durante minha vida. “If there is no CSF pressure, but brain pressure exists, then pressure relief must be achieved by opening the skull.” Kocher E T, 1901 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, à Deus, que sempre esteve presente norteando meus caminhos e decisões. À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia da Santa Casa e à sua Faculdade de Ciências Médicas. Ao meu orientador, chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo e professor livre-docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga, que pelo seu exemplo e dedicação incansável ao ensino e pesquisa, incentiva continuamente a todos no caminho do aprimoramento acadêmico. Ao Prof. Dr. Rui Raul Dahas de Carvalho, pela minha formação acadêmica, pelos valores éticos e morais transmitidos ao longo da Residência Médica e pela minha acolhida junto a Disciplina de Neurocirurgia. Ao Professor Dr. Almir Ferreira de Andrade, professor livre-docente da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, assim como todos colegas do Neurotraumabrasil, Dr. Ruy Monteiro Castro Filho, Dr. Italo Capraro Suriano, Dr. Angelo Luiz Maset, Dr. Rodrigo Moreira Faleiro, Dr. Carlos Vinícius Melo e Dr. Marcelo Chioato pelo seu incondicional apoio e incentivo ao estudo da neurotraumatologia. À Comissão de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em especial ao Prof. Dr. Adhemar Pacheco Monteiro Júnior, Prof. Dr. Carlos Alberto Longui e Prof. Dr. Roberto Augusto Caffaro pelo inestimável incentivo. Aos assistentes da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo, principalmente pelo convívio e apoio diário do Dr. Bechara Mattar Neto, Dr. Luciano Haddad, Dr. Luiz Fernando Cannoni e Prof. Dr. Mário Luiz Marques Conti. Aos residentes da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo aplicados e dedicados na conduta e evolução diária destes pacientes e também todos os plantonistas, médicos ou paramédicos, do setor de Emergência, Unidade de Terapia Intensiva, centro cirúrgico e enfermarias da Santa Casa de São Paulo que direta ou indiretamente participaram da conduta dos pacientes aqui apresentados. Ao serviço de análise estatística da pós graduação, em especial à Prof. Erika Tiemi Fukunaga, pela presteza e ajuda na confecção deste trabalho. À todos funcionários do Serviço de Arquivamento Médico (SAME) pelo inestimável trabalho de levantamento de prontuários médicos. À bibliotecária Sra. Sabia Hussein Mustafa, pela presteza na elaboração da ficha catalográfica deste trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pelo apoio financeiro concedido na forma de bolsa de estudos. LISTAGEM DE ABREVIATURAS ATLS - Advanced trauma life support ATP - Adenosina trifosfato BHE - Barreira Hematoencefálica CD - Craniectomia descompressiva CO2 - Gás carbônico DLM - Desvio das estruturas da linha média DVE - Derivação ventricular externa ECGl - Escala de coma de Glasgow EEG - Eletroencefalografia ERGE - Escala de resultados de Glasgow estendida HEDA - Hematoma extradural agudo HIC - Hipertensão intracraniana HIP - Hematoma intraparenquimatoso HSDA - Hematoma subdural agudo HSAt - Hemorragia subaracnóidea traumática IMPAX - Sistema de comunicação e arquivamento de imagens Agfa® ISCMSP - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Kg - Quilograma l - Litro LAD - Lesão axonial difusa LCR - Líquido cefalorraquidiano mg - Miligrama ml - Mililitro mm - Milímetro mmHg - Milímetro de mercúrio mOsm - Miliosmol PAM - Pressão arterial média PEEP - Pressão positiva expiratória final PIC - Pressão intracraniana PPC - Pressão de perfusão cerebral PtiO2 - Pressão tissular de oxigênio SAME - Serviço de Arquivamento Médico e Estatística SjvO2 - Saturação venosa de oxigênio TC - Tomografia de crânio TCDB - Traumatic Coma Data Bank TCE - Traumatismo cranioencefálico TCHD - Tumefação cerebral hemisférica difusa TCR - Tumefação cerebral regional UTI - Unidade de terapia intensiva SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------- 1 1.1 Revisão da Literatura --------------------------------------------------------- 4 1.1.1 Hipertensão Intracraniana ----------------------------------------------- 4 1.1.2 Etiologia e patofisiologia ------------------------------------------------- 5 1.1.3 Monitoração da pressão intracraniana ------------------------------- 9 1.1.4 Tratamento da hipertensão intracraniana ---------------------------- 12 1.1.4.1 Medidas Clínicas ------------------------------------------------ 12 1.1.4.2 Tratamento cirúrgico --------------------------------------------- 15 1.1.4.2.1 Craniectomia descompressiva -------------------- 16 1.1.5 Fatores preditivos de prognóstico --------------------------------------- 20 1.1.5.1 Pontuação na Escala de Coma de Glasgow ---------------- 20 1.1.5.2 Idade ------------------------------------------------------------------ 21 1.1.5.3 Alterações pupilares --------------------------------------------- 21 1.1.5.4 Achados tomográficos ------------------------------------------- 22 OBJETIVOS------------------------------------------------------------------ 25 2.1 Objetivo geral ------------------------------------------------------------------- 26 2.2 Objetivos específicos --------------------------------------------------------- 26 3- CASUÍSTICA E MÉTODOS ---------------------------------------------- 27 3.1 Metodologia proposta -------------------------------------------------------- 28 2- 3.2 Critérios de Inclusão --------------------------------------------------------------- 28 3.3 Critérios de Exclusão -------------------------------------------------------------- 28 4- RESULTADOS ------------------------------------------------------------------ 31 5- DISCUSSÃO---------------------------------------------------------------------- 49 6- CONCLUSÕES------------------------------------------------------------------- 60 7- ANEXOS ------------------------------------------------------------------------ 62 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ---------------------------------------- 74 FONTES CONSULTADAS ------------------------------------------------------------ 85 RESUMO ---------------------------------------------------------------------------------- 87 ABSTRACT--------------------------------------------------------------------------------- 90 LISTAS E APÊNDICE ------------------------------------------------------------------- 93 1 1. INTRODUÇÃO . 2 A técnica de craniectomia descompressiva (CD) é conhecida há mais de um século e sua utilidade foi questionada ao longo da história. Inicialmente descrita em 1901 por Kocher, em 1905 por Cushing e em 1906 por Horsley. Rowbothan (1942) e Munro, Sisson Jr (1952) também foram defensores do método. Desde 1968, vários estudos (Kerr,1968; Kjellberg Prieto Jr,1971;Venes, Collins 1975; Yamaurak et al, 1979) têm demonstrado que a CD é uma estratégia viável para o tratamento da hipertensão intracraniana refratária em pacientes com traumatismo cranioencefálico grave, embora os resultados quanto à recuperação desencorajassem seu uso (Clark et al,1968). Em 1971, após a introdução da tomografia computadorizada, Ransohoff et al (1971) e Morantz et al (1973) apresentaram estudo que demonstrava 40% de sobrevivência com 27% dos pacientes retornando as suas atividades apesar dos problemas técnicos e estéticos do método. Seu uso reapareceu após os trabalhos de Guerra et al em 1999, sendo utilizada também em doenças cerebrovasculares (Schirmer et al, 2007; Rahme et al, 2012; Rajan Vivakaran et al, 2012). A craniectomia descompressiva consiste na retirada de amplo retalho ósseo, associada a durotomia e duroplastia de expansão, promovendo redução da pressão intracraniana de forma imediata e duradoura (Hutchinson et al, 2007), acomodando o cérebro tumefeito e evitando o desenvolvimento de hérnias cerebrais intracranianas, promovendo ainda aumento da velocidade do fluxo sanguíneo cerebral e diminuição da resistência vascular cerebral (Bor-Seng-Shu et al, 2006), sendo considerada medida de resgate em casos de hipertensão intracraniana aguda. Nesta última década houve interesse renovado no uso da CD, porém restam ainda muitas questões a respeito da seleção de pacientes, momento e técnica cirúrgica, intervalo de tempo até realização da cranioplastia, complicações relativas ao método, prognóstico e qualidade de vida dos pacientes que são submetidos a este tratamento (Stiver, 2009; Eghwrudjakpor, Allison, 2010; Huang, Wen, 2010; Cooper et al, 2011). Apesar de todo desenvolvimento científico recente aplicado à terapia neurológica intensiva, monitoração multimodal e conhecimento da patofisiologia relacionada ao edema cerebral pós-traumático, deve-se levar em consideração que a CD pode ser opção terapêutica adequada: 1) em vigência de pressão intracraniana elevada refratária 3 ao tratamento não cirúrgico, realizado com a utilização de medidas de primeiro nível, tais como: sedação, osmoterapia e hiperventilação otimizada (Rangel-Castilla et al, 2008); 2) na tumefação cerebral hemisférica difusa (TCHD); na tumefação cerebral difusa bilateral (TCDB) e na tumefação cerebral regional (TCR) principalmente associadas à lesões focais. Atualmente o European Brain Injury Consortium (EBIC) (Compagnone et al, 2005) e as diretrizes da Brain Trauma Foundation et al (2007) referem-se à craniotomia descompressiva como medida de segundo nível para tratamento de hipertensão intracraniana refratária. Sendo medida considerada de resgate, é de suma importância o conhecimento dos fatores preditivos de prognóstico, com a finalidade de racionalizar as indicações terapêuticas. 4 1.1 Revisão da Literatura 1.1.1 Hipertensão intracraniana A hipertensão intracraniana (HIC) é uma das causas mais frequentes de morte e de incapacidade relacionadas ao traumatismo cranioencefálico (TCE) (Marshall et al,1983; Marshall et al,1991b). Os TCEs podem levar a HIC por diversos mecanismos (Lobato et al,1988b), tais como: edema cerebral (vasogênico e citotóxico), hiperemia cerebral por perda da autorregulação do fluxo sanguineo cerebral, lesão intracraniana com efeito de massa, hidrocefalia por obstrução da circulação liquórica (secundária a hematomas da fossa posterior ou à hemorragia subaracnóidea), hipoventilação (que leva a vasodilatação cerebral), trombose de seios venosos, crises convulsivas e hipertensão arterial sistêmica em pacientes com autorregulação alterada. Em última análise, o aumento da pressão intracraniana determina ciclo deletério de diminuição de perfusão cerebral, isquemia, hipóxia e falha do metabolismo energético, que levam à lesão neuronal e pior prognóstico (Venes,Collins,1975). O crânio é um compartimento rígido, fechado que contém o cérebro, líquor, sangue arterial e venoso. O funcionamento das funções cerebrais depende da manutenção da circulação cerebral. A produção e absorção do líquor cria gradiente que é a pressão intracraniana (PIC) e a diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a PIC determina a pressão de perfusão cerebral (PPC). A PIC é a pressão do LCR dentro da cavidade craniana. É normalmente igual em qualquer ponto do eixo cranioespinhal, com o paciente em posição de decúbito lateral, desde que o mesmo ponto de referência seja usado. Na posição ereta a PIC é negativa e a pressão liquórica aumenta no sentido craniocaudal, sendo a cisterna magna o ponto zero. Se houver qualquer bloqueio à circulação do LCR no eixo cranioespinal, surgirá gradiente de pressão e assim, a PIC pode se exceder à pressão liquórica lombar (Langfitt et al 1964). O valor da pressão intracraniana no adulto é cerca de 10 a 15 mmHg, porém não é estática e varia com a pulsação arterial, respiração e alterações da pressão intra 5 abdominal. A doutrina de Monro* (1783) e Kellie** (1824), descrita em trabalho de Mokri em 2001, segundo a qual a partir do fechamento das fontanelas e suturas o conteúdo intracraniano consiste de cérebro e sangue, incompressíveis, dentro de arcabouço ósseo rígido (crânio). Em 1846, George Burrows acrescenta em seu tratado “On disorders of the cerebral circulation”,o líquido cefalorraquidiano (LCR) aos componentes intracranianos descritos e pressupõe a constância dos volumes intracranianos, sendo que, ocorrendo o aumento de um componente deverá ocorrer a diminuição de outro(s), a fim de manter a pressão intracraniana normal. Dois destes componentes, o líquor e o sangue venoso, estão conectados a sistemas de menor pressão extracranianos, podendo compensar o aumento dos demais componentes. O líquor é deslocado para o espaço subaracnóideo e o sangue venoso para as grandes veias torácicas. A PIC se eleva somente quando houver exaustão destes mecanismos compensatórios, até determinado limite, a partir do qual ocorre aumento exponencial da PIC e consequentemente ocorrência de hérnias cerebrais internas através do hiato tentorial e forâmen magno e compressão de estruturas vitais determinando bradicardia, hipertensão arterial e irregularidades respiratórias que podem culminar com apnéia. (Langfitt et al, 1964). 1.1.2 Etiologia e patofisiologia A patofisiologia da HIC é complexa e depende do volume dos componentes intracranianos, da integridade da barreira hematoencefálica e da pressão de perfusão cerebral. Sob condições normais a barreira hematoencefálica (BHE) impede a passagem de fluidos dos capilares para o parênquima cerebral, agindo como uma membrana semipermeável, sendo moderadamente permeável à água e impermeável a pequenos solutos e proteínas. A pressão hidrostática transcapilar é contrabalanceada pelo gradiente de pressão osmótica determinando o fluxo para o parênquima cerebral. * Monro A . Observations on the structure and function of the nervous system. Edinburgh: Creech & Johnson; 1783 APUD Mokri B. "The Monro-Kellie hypothesis: applications in CSF volume depletion". Neurology. 2001; 56:1746–8. ** Kellie G. "Appearances observed in the dissection of two individuals; death from cold and congestion of the brain". Trans Med Chir Sci Edinb. 1824; 1:84–169. APUD Mokri B. "The Monro-Kellie hypothesis: applications in CSF volume depletion". Neurology. 2001; 56:1746–8. 6 Em áreas onde a BHE é rompida o equilíbrio desaparece, facilitando a passagem de proteínas e eletrólitos através da membrana, a pressão hidrostática passa a forçar a passagem de fluidos do espaço intravascular para o parênquima cerebral, este fato leva a edema cerebral, aumento da pressão intracraniana, diminuição da pressão de perfusão cerebral, hipóxia e lesão cerebral secundária (Rusmworth,1966). Causa importante de hipertensão intracraniana, o edema cerebral, inicialmente foi classificado por Klatzo (1987) em dois tipos principais: vasogênico e citotóxico. O edema vasogênico resulta da lesão da barreira hematoencefálica (BHE) com aumento da permeabilidade dos capilares cerebrais levando a passagem de fluido devido à pressão hidrostática, inicialmente para a substância branca e em seguida a cinzenta (devido à diferença das densidades) como ocorre em neoplasias, abscessos cerebrais e trauma cranioencefálico (fase precoce). O edema citotóxico ocorre após eventos hipóxicos ou isquêmicos, a diminuição da oferta de oxigênio resulta na falência da bomba intracelular de ATP dependente de sódio, levando ao seu acúmulo e em decorrência deste, de água intracelular. Existem descrições de outros tipos de edema, como o hidrostático, devido ao aumento da pressão intravascular transmitida ao leito capilar, a combinação de vasodilatação adicionado a hipertensão arterial pode levar ao extravasamento de fluidos mesmo com a BHE íntegra. O edema hiposmolar ocorre quando a osmolaridade sérica é menor que a cerebral, podendo ocorrer com a infusão endovenosa excessiva de soluções glicosadas associada à hiponatremia e em síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético. O edema intersticial ou transependimário ocorre associado a hidrocefalias obstrutivas de alta pressão, levando ao acúmulo de água em estruturas periventriculares (Klatzo,1987). Há cerca de 140 ml de líquor no adulto, sendo 25 a 30% no espaço intraventricular e o restante no espaço subaracnóideo, produzido por processo ativo que requer anidrase carbônica e bomba sódio/potássio ativada por ATPase em taxa de 0,4 ml/minuto a partir do plexo coróide dos ventrículos laterais sendo reabsorvido nas granulações aracnóides, necessitando de gradiente de pressão entre o líquor e a pressão venosa no seio sagital e normalmente esse processo necessita de equilíbrio de pressão e volume. (Davson et al, 1987). O bloqueio da circulação liquórica pode levar a hipertensão intracraniana em decorrência de diversas etiologias. 7 No tocante ao volume de sangue arterial, a cada pulsação arterial ocorre alteração na PIC, aumentando na sístole e diminuindo na diástole. Com o aumento da PIC e diminuição da complacência cerebral, as alterações do pulso arterial são mais significativas e o componente pulsátil do fluxo sanguíneo cerebral aumenta de modo inversamente proporcional à diminuição da PPC. Quando ocorre falha no mecanismo de autorregulação, qualquer alteração da PAM leva a alterações no fluxo sanguíneo cerebral e consequentemente da PIC. O volume de sangue venoso representa junto com o volume de líquor, mecanismo compensatório para manutenção da PIC a despeito da presença de lesões que ocupem espaço no interior da caixa craniana, pois a parede dos vasos venosos é compressível, podendo haver drenagem de volume sanguíneo para espaços extracranianos. A obstrução da drenagem venosa cerebral não só elimina este mecanismo compensatório como provoca aumento da PIC promovendo edema cerebral e pode ser causada por \posicionamento inadequado do segmento cefálico, ajuste insatisfatório da assistência ventilatória mecânica, manobra de Valsalva ou tosse e sedação insuficiente em pacientes sob assistência ventilatória (Miller et al, 1973). Os sinais e sintomas de hipertensão intracraniana podem coexistir, dividindo-se entre aqueles devidos à lesão que causa a HIC e aqueles resultantes das hérnias cerebrais (Fig.1) e isquemia. Cefaléia, vômitos, papiledema e diminuição do nível de consciência são atribuídos a HIC, enquanto outros sinais como alterações pupilares, bradicardia e hipertensão arterial resultariam da distorção do tronco encefálico ou isquemia cerebral. 8 Figura 1 – Representação esquemática das hérnias cerebrais internas em decorrência de processo expansivo intracraniano. Modificado de Kaye, 2006. 1) hérnia subfalcina, 2) hérnia de uncus, 3) hérnia central, com deslocamento inferior do encéfalo 4) hérnia de tonsilas cerebelares. A apresentação clínica é variável e depende de vários fatores: a causa da hipertensão intracraniana (pseudotumor cerebral, tumores, traumatismos), o tempo de instalação do quadro (agudo, subagudo ou crônico), o estado prévio do encéfalo (volume do encéfalo, elastância, complacência, anatomia do encéfalo) e a existência de outras situações agravantes como hipóxia e isquemia. A cefaléia é consequência de irritação de estruturas sensíveis á dor, como vasos, dura-máter e nervos cranianos. O papiledema bilateral parece ser o único sinal diretamente relacionado a HIC, porém leva algum tempo para ocorrer. Czosnyka e Pickard (2004) demonstraram que apenas quatro porcento dos pacientes que sofreram traumatismo cranioencefálico apresentavam edema de papila, embora 50% apresentassem HIC à monitoração, afirmaram então que muitos dos sinais tardios de HIC seriam resultantes de hérnia cerebral interna e que a monitoração da pressão 9 intracraniana levaria à possibilidade de detecção e tratamento precoce da HIC. O papiledema está diretamente relacionado com aumento da pressão no espaço subaracnóideo e sua continuação no espaço perióptico, este último anatomicamente formado pela extensão do espaço subaracnóideo intracraniano que envolve o nervo óptico em sua entrada no canal óptico. O processo pelo qual a ocupação do espaço intracraniano gradualmente leva a exaustão dos mecanismos compensatórios é ilustrado pela curva volume/pressão do conteúdo intracraniano (Fig. 2). Inicialmente o aumento de volume causado por uma lesão expansiva leva a pequenas alterações na PIC. Em estágio ulterior, o mesmo aumento de volume leva à aumento diverso na pressão. O estágio final da curva representa a situação em que os mecanismos compensatórios estão esgotados e o mesmo aumento de volume leva a aumento acentuado na PIC. Pressão Intracraniana (mmHg) Volume Figura 2 – Representação esquemática da curva volume X pressão de Langfitt, modificado de Dunn (2002). 1.1.3 Monitoração da pressão intracraniana A monitoração da pressão intracraniana é parte de série de técnicas empregadas em unidades de terapia neurológica intensiva que se complementam e permitem 10 otimização no emprego de medidas terapêuticas, visando a instituição precoce das mesmas, de forma mais racional minimizando os efeitos colaterais. A principal indicação de seu uso reside naqueles pacientes com hipótese de hipertensão intracraniana em tratamento nas unidades de terapia intensiva que se encontram sedados, intubados e sob uso de drogas depressoras do sistema nervoso central, ficando impossibilitada a avaliação neurológica completa. Temos como exemplos: hemorragia intracerebral espontânea, hidrocefalia de pressão normal, hemorragia subaracnóidea espontânea, infarto cerebral isquêmico, meningite e encefalite, encefalopatia hepática, Síndrome de Reye e principalmente pacientes com traumatismo cranioencefálico, cujas indicações específicas serão discorridas a seguir. As indicações para monitorar a pressão intracraniana em pacientes com traumatismo cranioencefálico são: 1) paciente em coma por mais de seis horas ou que necessite sedação, independentemente dos achados na tomografia de crânio (TC); 2) lesões encefálicas localizadas, que pelo volume, área ou desvio das estruturas da linha média, não são passíveis de cirurgia imediata; 3) lesões encefálicas difusas ou focais em pacientes em coma; 4) após tratamento cirúrgico em pacientes com sinais e sintomas de hipertensão intracraniana; 5) em pacientes com lesões vasculares cervicocranianas com TC anormal; 6) paciente em coma com TC anormal e que necessitam de PEEP (até 5cm de H2O); 7) paciente em coma com exame de Doppler transcraniano anormal e 8) tratamento de ventriculite associada à hidrocefalia pós-traumática. Os critérios para exclusão são: 1) ECGl ( Escala de coma de Glasgow) =15 sem sinais ou sintomas mesmo com TC anormal ; 2) fístula liquórica com débito ou presença de pneumocrânio na TC; 3) lesões intracranianas com indicação de tratamento cirúrgico imediato; 4) lesões por projétil de arma de fogo ou por arma branca sem correção acessível da lesão em dura-máter; 5) processo infeccioso no sistema nervoso central ou sistêmico exceto ventriculite com hidrocefalia e 6) distúrbios de coagulação ou plaquetopenia não controlados (Brain Trauma Foundation et al, 2007). Atualmente o método de escolha para monitoração da pressão intracraniana consiste na utilização de cateter ventricular conectado a sistema externo de medida de tensão. Os equipamentos utilizados devem obedecer às normas estabelecidas devendo ter as 11 seguintes especificações: medida de pressão variável de 0 a 100 mmHg, acurácia de +/- dois mmHg (medidas entre 0 a 20 mmHg) e erro máximo de leitura de 10% (medidas de 20 a 100 mmHg), segundo a Association for the Advancement of Medical Instrumentation (2010). A ausência de achados tomográficos certamente não exclui hipertensão intracraniana, mas quando evidenciadas as seguintes alterações, existe forte suspeita da existência de HIC: perda da transição entre substância branca e cinzenta, indicando edema cerebral, desvio de estruturas da linha mediana, sinais de hérnia cerebral interna, presença de lesões com efeito de massa e alterações do volume e morfologia do sistema ventricular. Miller et al (2004) demonstraram associação linear entre PIC e achados tomográficos (Miller et al,2004). A tomografia de crânio pode diagnosticar com eficácia hérnias cerebrais ( Fig.3). A B C Figura 3 – Em A) hematoma epidural agudo, em B) edema pós traumático, em C) Hematoma subdural agudo com sinais de HIC à tomografia. Fonte: Arquivo da Disciplina de Neurocirurgia da ISCMSP Esforços têm sido realizados na tentativa de correlacionar medidas quantitativas de herniação com imagens, ou seja, grau de deslocamento das estruturas, com prognóstico clínico. Quando há hérnia subfalcina, o grau de deslocamento do septo pelúcido a partir da linha mediana é preditivo do prognóstico do paciente. 12 Considerando que as medidas quantitativas de mensurações podem não ser precisas e de difícil uso na prática clínica, prefere-se a utilização de medidas qualitativas referentes à evolução do quadro neurológico para tomada de decisões terapêuticas. 1.1.4 Tratamento da hipertensão intracraniana O manejo da hipertensão intracraniana tem se modificado de forma substancial, desde a introdução das modernas técnicas de monitoração neurológica, sendo inadmissível o emprego de medidas terapêuticas sem justificação patofisiológica correspondente em cada caso específico. Basicamente serão revisadas medidas relacionadas à etiologia traumática. Os traumatismos cranioencefálicos (TCE) podem levar à HIC por diversos mecanismos, tais como: edema cerebral, congestão vascular cerebral, hematomas intracranianos e hidrocefalia (secundária a hematomas da fossa posterior ou à hemorragia subaracnóidea). O manejo intensivo do TCE através da monitoração da PIC, da monitoração hemometabólica e da pressão arterial média podem indicar a causa específica da HIC. 1.1.4.1 Medidas clínicas Posicionamento do paciente. Recomenda-se a elevação de 30º da cabeça, nos pacientes com traumas cranioencefálicos graves. Existem fatores hipotéticos que justificam tal conduta, o mais aceito refere que a elevacão da cabeça melhora a drenagem venosa intracraniana. O componente vascular venoso intracraniano está reduzido durante a hipertensão intracraniana pela compressão do sistema venoso superficial, porém há dúvidas que o mesmo aconteceria com os seios venosos, cujas paredes são de origem dural, sendo mais resistentes à compressão. Outro ponto a ser observado é a manutenção da posição neutra da cabeça, a fim de evitar a compressão das veias jugulares. 13 Hiperventilação Mecânica. O primeiro aspecto é a importância da manutenção de vias aéreas pérvias, permitindo ventilação adequada. Os pacientes que apresentam comprometimento do nível de consciência, frequentemente tem o estímulo autonômico diminuído, além da eventual obstrução das vias aéreas provocar aumento da pressão intratorácica e interferir com a drenagem venosa jugular. O problema fundamental da hipoventilação é a hipercapnia, que induz ao metabolismo anaeróbio com consequente acidose láctica e dano à membrana celular, além dos fenômenos de roubo vascular nas regiões do encéfalo com alteração da autorregulação, o que é comum nos traumatismos cranioencefálicos, onde a resposta do leito vascular às modificações da pressão de gás carbônico (CO2) não é uniforme. A vasoplegia causada pelo dano à capacidade de autorregulação provoca deslocamento de sangue do tecido lesado para o sadio como consequência da vasodilatação deste último diante da hipercapnia. Do ponto de vista teórico a hiperventilação deve provocar vasoconstrição induzida pela alcalose do meio interno resultando em diminuição do componente vascular. Nos pacientes com TCE a resposta a hipocapnia está reduzida e é efêmera. O objetivo é manter PCO2 entre 35-40mmHg, sendo que em HIC refratárias pode-se utilizar hiperventilação aguda para manter uma PCO2 até 30 mmHg, por no máximo duas horas, de preferência baseado em dados de monitoração hemometabólica (SjvO2) e pressão tissular cerebral de O2 (PtiO2). A hiperventilação profilática nas primeiras 24 horas é contra-indicada no TCE, pois geralmente há redução do fluxo sanguíneo cerebral nesta fase (Oertel et al, 2002; Brain Trauma Foundation et al, 2007). Administração de fluidos. O objetivo primordial do tratamento para HIC é, além de reduzir a pressão intracraniana, manter pressão arterial média que permita atingir pressão de perfusão cerebral adequada (60-70 mmHg). A mortalidade duplica quando existe hipotensão arterial nos pacientes com TCE devendo ser otimizado o manejo de fluidos para cada caso. 14 A utilização destes fluidos nas manobras de reanimação visam: incremento do volume circulante, hemodiluição e diminuição da PIC pela resposta vasoconstritora que desencadeam. Os compostos utilizados são: Ringer-lactato (40ml/kg), solução salina hipertônica 7,5% (4 ml/kg) e Dextran. Deve-se manter PA sistólica > ou igual a 90 mmHg e hematócrito acima de 30%. (Brain Trauma Foundation et al, 2007) Diuréticos osmóticos. Pode-se utilizar o manitol, pois além de promover diminuição da PIC, altera de forma substancial a homeostase intracraniana. Os efeitos vantajosos do manitol são: reduzir a resistência do parênquima cerebral (elastância), vasoconstrição cerebral, alterar as características reológicas do sangue (hemodiluição diminuindo a viscosidade sanguínea), diminuir a resistência vascular cerebral, aumentar o volume intravascular circulante e por consequência a PAM e a pressão de perfusão cerebral (PPC), reduzindo através destes mecanismos a PIC. Estas propriedades são mais significativas quando a autorregulação está intacta. Os efeitos adversos são: possibilidade de aparecimento de efeito rebote, quando utilizado por tempo prolongado e retirado de forma rápida, a osmolaridade sanguínea acima de 320mOsm/L pode provocar lesão renal, edema pulmonar, hipercalemia, acidose e desequilíbrio hidroeletrolítico. A dose recomendada de manitol a 20% é de 0.25ml/kg em infusão contínua ou em bolus fracionado a cada 6 horas, o pico de ação ocorre em 15 a 20 minutos e a utilização simultânea de furosemida potencializa sua ação, sendo utilizados 15 minutos após a infusão de manitol. A utilização de solução salina hipertônica substitui os diuréticos osmóticos em caso de hipotensão e hipovolemia e pode atingir os mesmos objetivos (Muizelaar et al, 1984; Brain Trauma Foundation et al, 2007) Barbitúricos. Utilizados na segunda fase do tratamento da HIC, possuem como efeitos vantajosos: vasoconstrição no tecido normal diminuindo a PIC, deslocamento do fluxo sanguíneo do tecido são para o lesionado, diminuição da atividade metabólica do encéfalo e consumo de oxigênio, diminuição de edema e acúmulo de cálcio intracelular, atuam 15 como coletor de radicais livres, estabilização das membranas lisossômicas e inibição formação de prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos. Quanto aos efeitos adversos temos: vasodilatação periférica com diminuição do retorno venoso e débito cardíaco, depressão miocárdica com diminuição de PPC e impossibilidade de avaliação clínica neurológica pela sedação. Seu uso necessita assistência ventilatória, monitoração da PAM e eletroencefalografia, nem sempre disponível. O uso de barbitúricos intervém nos mecanismos termorreguladores, induz a depressão leucocitária e não tem efeitos benéficos em HIC secundária a acidentes vasculares cerebrais. Caso se pretenda efeito rápido, dá-se preferência ao Thiopental, porém frequentemente utiliza-se o Pentobarbital com dose de ataque de 3-10 mgs/kg administrados em período entre 30 minutos a três horas, a dose de manutenção será de 0.5 - 3 mg/ kg./ hora (Brain Trauma Foundation et al, 2007; Roberts, Sydenham, 2012). Hipotermia. A hipotermia leve (34º - 35º C) pode ser utilizada também quando a HIC é refratária às medidas primárias. Sua utilização baseia-se na diminuição da atividade metabólica, consumo de oxigênio e fluxo sanguíneo cerebral. Sua aplicação clínica é minimizada pelas complicações clínicas (arritmias, pneumonias) e dificuldade técnica de manejo (Smrcka et al, 2005; Brain Trauma Foundation et al, 2007). 1.1.4.2 Tratamento cirúrgico. Os métodos cirúrgicos para o tratamento da HIC dividem-se em dois grupos: procedimentos para exérese de lesões com efeito expansivo e aqueles para tratamento de lesões não passíveis de exérese. No primeiro grupo incluem-se pacientes com hematomas intracranianos pós-traumáticos nos quais a remoção cirúrgica da lesão resolve parcial ou totalmente o aumento da PIC, são denominados tratamentos específicos (Bullock et al 2006). O tratamento cirúrgico de pacientes sem lesões passíveis de exérese é denominada inespecífica, indicada para pacientes com lesões difusas que levam a hipertensão intracraniana, sendo refratária às medidas primárias (Hutchinson et al, 2007; Olivecrona et al, 2007). A sequência que indica este tratamento pode ser observada na figura 4. 16 ECGla 4-8 Marshall I * ECGla 4-8 Marshall II Dois dos parâmetros : 40 anos Pelo menos um episódio PA sistólica < 90mmHg Postura motora anormal*** ECGla 4-8 Marshall III ECGla 5-8 Marshall III ECGla 4-8 Marshall IV ECGla 5-8 Marshall IV Zumkeller >2** PIC, DVE, PtiO2, SVJO2, EEG continuo Lesões focais associadas >25cc**** Hematoma Epidural associado Craniotomia bitemporal descompressiva com duroplastia de alargamento + PIC, DVE, PtiO2, SVJO2, EEG contínuo Craniotomia descompressiva com duroplastia de alargamento + PIC, DVE, PtiO2, SVJO2, EEG contínuo Craniotomia + PIC, DVE, PtiO2, SVJO2, EEG contínuo Figura 4. Fluxograma de manejo terapêutico em lesões difusas proposto pelo Neurotraumabrasil. (Marshall et al, 1991b*; Zumkeller et al, 1996**; Lobato et al, 1988a***, Lubillo et al, 2000****) 1.1.4.2 .1 Craniectomia descompressiva O propósito da craniectomia descompressiva é diminuir a pressão intracraniana quando há refratariedade ao tratamento pelas medidas clínicas, promovendo aumento do espaço intracraniano e prevenindo desta forma a ocorrência de hérnias cerebrais internas. Existem muitas variáveis na técnica da craniectomia descompressiva. (Csokay et al, 2002; Goettler, Tucci, 2007; Schmidt et al, 2007; Chibbaro et al, 2008; Balan, Alliez, 2009; Güresir et al, 2011). Os fatores que devem ser levados em consideração incluem o comprometimento dos hemisférios, o tamanho, a abertura e tipo de enxerto dural utilizado para duroplastia. A presença de desvio das estruturas da linha mediana no estudo tomográfico determina o maior comprometimento de um hemisfério cerebral, indicando craniectomia unilateral. Quando não existe desvio considerável, advoga-se a realização de craniectomia bitemporal ou craniectomia bifrontal a partir do assoalho da 17 fossa craniana anterior, até a sutura coronariana posteriormente e o ptérion lateralmente, proporcionando abertura arciforme da dura-máter com base no seio sagital. Em pacientes com edema cerebral hemisférico craniectomias pequenas podem causar risco de herniação transcalvárica levando a infarto venoso e aumento de edema nas margens da craniotomia (Hutchinson et al, 2007). Basicamente existem dois tipos principais de craniectomia descompressiva: aquelas que se caracterizam pela retirada de retalho ósseo unilateral para descomprimir um hemisfério cerebral, ditas hemicraniectomias e aquelas realizadas bilateralmente indicadas em lesões difusas que atingem ambos hemisférios. A hemicraniectomia envolve a retirada de retalho ósseo com extensão desde a fossa temporal tendo como limite o arco zigomático estendendose posteriormente a uma linha que conecta o trágus ao asterion, respeitando os limites horizontais do crânio na região parietal superior, proporcionando idealmente diâmetro mínimo de 12 centímetros, oferecendo desta forma volume suplementar mínimo de 86 ml, conforme mostrado na figura 5. Idealmente o crânio deve ser fixado utilizando-se suporte tipo Mayfield de forma que o eixo anteroposterior do crânio permaneça paralelo ao solo. Existem duas opções técnicas para que a incisão proporcione a maior exposição possível como exposto nas figuras 6 a e 6b representando as incisões em “question mark” e Kempe. Volume suplementar (ml) Volume suplementar em relação a craniectomia Diâmetro da craniectomia (cm) Figura 5. Volume suplementar em relação ao diâmetro da craniectomia. Modificado de Aschoff et al (2002). 18 A B Figura 6. Representação esquemática das descompressiva. Em A, incisão tipo incisões utilizadas para craniectomia “question mark” . Em B, incisão de Kempe, modificado de Balan, Alliez (2009). A primeira incisão (Fig. 6 a) é análoga à clássica incisão em “question mark”, porém com maior extensão posterior, tendo como objetivo manter a irrigação do retalho cutâneo pela preservação da artéria temporal superficial. A incisão de Kempe ( Fig. 6 b) proporciona maior exposição e evita isquemia no retalho cutâneo mesmo quando há lesão da artéria temporal superficial, pela preservação da artéria occipital. A craniectomia propriamente dita é realizada após abertura e afastamento da musculatura temporal, utilizando-se craniótomo com abertura rasante à fossa anterior e assoalho da fossa temporal, mantendo-se distância em cerca de um centímetro da linha média, como ilustrado na figura 7a que mostra a reconstrução tomográfica tridimensional e na figura 7b que ilustra o aspecto intra-operatório. A duroplastia de expansão é realizada preferencialmente com enxerto autólogo retirado da gálea aponeurótica ou utilizando enxerto heterólogo com substitutos de duramáter (Güresir et al, 2011) de forma a acomodar o cérebro tumefeito. Csokay et al (2002) descreveram 19 técnica com a criação de túnel vascular para prevenir a compressão das veias corticais na borda da craniectomia. Outras técnicas foram descritas e diferem das acima mencionadas pela preservação do retalho ósseo mantendo-o parcialmente fixo como na hinge craniectomy na qual a técnica utiliza placas de titânio para a fixação do retalho ósseo de forma articulada, mantendo a proteção cerebral, reduzindo complicações pós-operatórias e eliminando procedimentos subsequentes de cranioplastia (Schmidt et al, 2007). Na técnica Tucci flap, semelhante à técnica acima descrita, mantém-se o retalho ósseo fixo à musculatura temporal (Goettler et al 2007), ou com o retalho livre como na free floating (Trinh, Duckworth, 2011) e na In window craniotomy ( Valença et al, 2010). Alguns autores advogam que essas técnicas apresentam o mesmo resultado em comparação ao método clássico (Kenning et al, 2009). A B Figura 7. Em A, reconstrução tomográfica tridimensional realizada após craniectomia descompressiva. Em B, aspecto intra-operatório de craniectomia descompressiva unilateral previamente à abertura da dura-máter. 20 1.1.5 Fatores preditivos de prognóstico O processo de avaliar fatores preditivos de prognóstico envolve fazer colocações de probabilidades baseadas em relação lógica entre dados prévios e o desfecho encontrado. Desde a década de 1970 vários estudos internacionais e multicêntricos identificaram fatores relativos ao paciente, à lesão e às alterações no curso clínico inicial que se correlacionam de maneira consistente com o prognóstico (Jennett, Bond, 1975; Langfitt, 1978; Jennett et al, 1979; Marshall et al, 1983; Marshall et al,1991a). Deve-se levar em consideração que a estimativa do prognóstico do paciente nunca deve ser o único fator, e só raramente o principal fator, na influência de decisões clínicas. Ao invés, o prognóstico é simplesmente um dos muitos fatores que devem ser considerados no tratamento clínico do paciente com traumatismo cranioencefálico grave. 1.1.5.1 Pontuação na escala de coma de Glasgow Desde 1974, tem-se a medida clínica mais amplamente utilizada para avaliar a gravidade da lesão em pacientes com lesões cerebrais traumáticas. (Teasdale, Jennett, 1974). Alguns estudos confirmam razoável grau de confiabilidade inter e intraobservador da escala (Braakman et al, 1977; Fielding, Rowley,1990; Menegazzi et al, 1993). A escala de coma de Glasgow tem demonstrado correlação significativa com o prognóstico relacionado ao traumatismo craniencefálico, tanto na soma total, quanto na pontuação da melhor resposta motora isoladamente (Choi et al,1988; Choi et al,1994.) Em estudo prospectivo, Narayan et al (1981) demonstram valor preditivo positivo de 77% para prognóstico desfavorável (mortos, estado vegetativo, ou deficiência grave) em pacientes com pontuação de três a cinco. Em estudo com maior número de pacientes Gennarelli et al (1994), observam aumento progressivo na mortalidade em pacientes admitidos em Pronto Socorro com pontuação na ECGl pontos. entre três e oito 21 1.1.5.2 Idade O prognóstico para a recuperação do trauma em relação à idade é uma função não apenas das alterações que ocorrem com o envelhecimento cerebral, mas o tipo de lesão que ocorrem com maior frequência em cada faixa etária. Além disso, o declínio na saúde pode predispor o idoso a complicações sistêmicas após traumatismo cranioencefálico. Após análise de regressão logística multivariada do Traumatic coma data bank para avaliar o efeito independente da idade sobre o prognóstico de pacientes com traumatismo cranioencefálico grave, a idade foi preditor independente de prognóstico. Diversos autores também identificaram a idade como forte fator preditivo de prognóstico em pacientes com traumatismo cranioencefálico grave (Hernesniemi, 1979; Braakman et al,1980; Jennett, Teasdale, 1981; Teasdale et al, 1982; Edna,1983). Após realizar análises estatísticas em suas casuísticas há autores que não correlacionam a idade como fator preditivo de prognóstico (De Bonis et al, 2010) mas de modo geral, a idade é forte fator, influencianto tanto a mortalidade quanto a morbidade. Apesar de algumas contradições a maioria dos trabalhos na literatura demonstra que crianças tem melhores resultados em relação aos adultos com lesão cerebral grave. A significativa influência da idade sobre o resultado não é explicada pelo aumento da frequência de complicações sistêmicas ou hematomas intracerebrais. A idade é forte fator independente de prognóstico com aumento significativo de resultados desfavoráveis acima dos 60 anos de idade. 1.1.5.3 Alterações pupilares A alteração pupilar que apresenta evidência classe I como fator preditivo de prognóstico desfavorável em 70% dos casos é o achado de reflexo fotomotor pupilar ausente bilateralmente. Em estudo prospectivo de 133 pacientes com traumatismo cranioencefálico grave a ausência de reflexo fotomotor bilateralmente foi observada em 35% dos casos, com prognóstico desfavorável ocorrendo em 70%. (Narayan et al,1981). Em estudo com maior casuística, em 305 pacientes, no que diz respeito à predição de prognóstico, o reflexo fotomotor bilateralmente ausente foi associado à 90% de mortalidade (Braakman et al,1980). Em grandes séries, o achado de pupilas 22 com reflexo fotomotor presente bilateralmente em pacientes com traumatismo cranioencefálico grave relaciona-se a prognósticos mais favoráveis (Levin et al, 1990). O prognóstico em relação à ausência de reflexo fotomotor bilateralmente é influenciado pela doença subjacente e tempo decorrido até o tratamento cirúrgico das lesões intracranianas. Em pacientes que apresentam pupilas fixas bilateralmente associadas à hematomas epidurais, a mortalidade é de 56%, em comparação com uma média de 88% em pacientes com hematomas subdurais (Phonprasert et al, 1980; Phuenpathom et al, 1993). Em outro estudo de pacientes que foram submetidos a tratamento cirúrgico para hematomas epidurais, estando as pupilas bilateralmente fixas, apenas 18% tiveram resultado desfavorável em comparação com 64% de resultados desfavoráveis em pacientes que foram operados por hematomas subdurais com pupilas bilateralmente fixas (Rivas et al, 1988; Sakas et al, 1995). Neste mesmo estudo, atraso de mais de três horas para realizar o tratamento cirúrgico de lesões intracranianas aumentaram a probabilidade de prognóstico desfavorável de 40% para 63%. Em conclusão, a reatividade das pupilas à luz pode ser fator preditivo de prognóstico. No entanto, trauma direto orbitário e hipotensão devem ser excluídos, antes da avaliação final. 1.1.5.4 Achados tomográficos As alterações clínicas clássicas com significado prognóstico em pacientes com TCE grave incluem idade, pontuação na escala de coma de Glasgow (ECGl), reatividade pupilar e presença de hipotensão. Muitos pacientes são admitidos no setor de emergência intubados, curarizados ou com sinais de intoxicação exógena. A estimativa precisa destas alterações nas primeiras horas após o trauma, portanto, são difíceis de obter. Em pesquisa realizada pela European Brain Injury Consortium, em pacientes com TCE grave e moderado, a pontuação total na ECGl foi avaliada somente em 56% dos pacientes admitidos (Murray et al, 1999). Levando em consideração essas informações, os dados de prognóstico com base em resultados de exames complementares são necessários. A TC é realizada rotineiramente em todos os pacientes com TCE grave fornecendo informações com 23 implicações terapêuticas importantes para intervenção cirúrgica ou indicações para monitoração da pressão intracraniana (PIC), e pode fornecer informações significativas sobre o prognóstico. Os achados tomográficos particularmente relevantes em termos de prognóstico são: patência das cisternas basais, hemorragia subaracnóidea traumática (HSAt), presença e grau de desvio da linha média e presença e tipo de lesões intracranianas. Gennarelli et al (1982) afirmam que o aspecto tomográfico pode ser fator independente de prognóstico. Lesões associadas a prognóstico desfavorável foram o HSDA, TCHD e hematoma intracerebral. Lobato et al (1983) demonstram que a tumefação hemisférica associada a hematoma extra-axial, como HSDA, associa-se a prognóstico desfavorável em todos os 27 pacientes estudados. Em sequência houve prognóstico desfavorável em 86% das LAD e 84% das contusões múltiplas unilaterais. Em estudo de revisão, Chesnut et al (2000) concluem que a TC inicial demonstra anormalidades em aproximadamente 90% dos pacientes com TCE grave, o prognóstico em pacientes com TCE grave é pior quando há alterações na TC de crânio; em pacientes com TC normal na admissão, o resultado está relacionado essencialmente com presença de lesões extracranianas concomitantes; e que ausência de anormalidades na TC da admissão não exclui a ocorrência de HIC, sendo que novas lesões significativas podem desenvolver-se em 40% dos pacientes. A análise realizada por Marshall et al (1991a) utilizando-se de dados do Traumatic Coma Data Bank demonstrou intracranianas clara correlação entre a classificação tomográfica das lesões difusas traumáticas e o prognóstico, sendo que 65% das lesões tipo II evoluíram com prognóstico desfavorável em comparação com 84% das lesões tipo III e 94% das lesões tipo IV. Estudo classe I publicado em 1983 por Van Dogen et al (1983), além de outros estudos classe II e III, descrevem a associação entre a compressão ou ausência de cisternas basais e desfecho desfavorável, No estudo realizado por Van Dogen et al (1983) em 116 pacientes com TCE, foi demonstrado 97% de valor preditivo positivo para o resultado desfavorável quando as cisternas estavam completamente obliteradas. Outros autores demonstram taxa de mortalidade de 77%, quando as cisternas estavam 24 ausentes, 39%, quando estavam comprimidas, e apenas 22% quando as cisternas estavam pérvias. A importância maior foi entre os pacientes com pontuação de seis a oito na ECGl (Toutant et al,1984). O desvio das estruturas da linha mediana, definido como a distância em milímetros em que as estruturas cerebrais se encontram deslocadas da linha média, mensurada ao nível do septo pelúcido, é considerado fator preditivo de prognóstico (Ross et al, 1989; Lobato et al, 1991; Fearnside et al, 1993). Kotwica e Brzezinski (1993) mostram 42% de resultados favoráveis e mortalidade de 39% quando o DLM foi menor que 15mm e taxa de mortalidade de 76% quando o DLM ultrapassou 30 mm. Zumkeller et al (1996), descrevem mortalidade de 70% com achado de DLM de 23 a 24 mm. Dados do Traumatic Coma Data Bank (Eisenberg et al,1990) mostram que DLM maior que 3mm foi evidenciado em 34% dos pacientes, com mortalidade de 70% quando o DLM foi de 15mm. Quanto ao achado de lesões intracranianas, Kotwica e Brzezinski (1993) descrevem mortalidade de 85% para hematoma subdural agudo associado a contusão unilateral e de 17% na inexistência de lesão contusional. No estudo de Wilberger et al (1991), pacientes com hematoma subdural agudo apresentavam taxa de mortalidade de 72%, quando associado a contusões versus 52% daqueles sem este achado. Estudos com evidência classe I mostram valor preditivo prognóstico de 67% de resultado desfavorável na presença de associação de lesões cerebrais intra e extra-axiais (Narayan et al,1981) e 79% de prognóstico desfavorável na presença de lesões com volume superior a 15 ml em pacientes com mais de 45 anos de idade (Vollmer et al,1991). Alguns trabalhos correlacionam o volume das lesões intracranianas com o prognóstico, estabelecendo-se relação inversamente proporcional. (Lobato et al, 1988a; Yanaka et al, 1993; Zumkeller et al, 1996). 25 2. OBJETIVOS 26 2.1 Objetivo geral O objetivo deste estudo craniectomia é determinar descompressiva em os fatores preditivos de prognóstico da pacientes com diagnóstico de traumatismo cranioencefálico grave. 2.2 Objetivos específicos Descrição dos achados epidemiológicos e das principais complicações da craniectomia descompressiva. 27 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 28 3.1 Metodologia proposta Trata-se de estudo retrospectivo mediante análise da evolução clínica e neurológica, com uso da escala de resultados estendida de Glasgow (ERGE) (Teasdale et al,1998) em 56 (cinquenta e seis) pacientes consecutivos atendidos pela Disciplina de Neurocirurgia no Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo e submetidos à craniectomia descompressiva no período de Fevereiro de 2004 a Julho de 2012, com diagnóstico de traumatismo cranioencefálico grave, definidos como aqueles que apresentaram pontuação entre 4 e 9 na escala de coma de Glasgow após o atendimento inicial com base no protocolo ATLS ( Advanced Trauma Life Support.) Os dados foram obtidos dos prontuários médicos por meio de protocolo específico anexado ao projeto e para avaliar a qualidade de vida dos pacientes, foi aplicado questionário utilizando a escala ERGE aos sobreviventes e informações prestadas por seus familiares mediante convocação em ambulatório próprio ou contato telefônico e quando não possível, por meio de análise dos prontuários médicos. Os achados tomográficos dos 56 pacientes foram obtidos por meio de avaliação do exame em arquivo no sistema IMPAX, dados constantes no prontuário médico e relatórios realizados pelo Serviço de Radiologia da ISCMSP. 3.2 Critérios de inclusão Os critérios de inclusão foram: 1) idade entre 18 a 65 anos; 2) início do tratamento até 72 horas após o trauma e 3) evidência de traumatismo cranioencefálico grave com lesão difusa associada ou não a lesão focal, caracterizado por pontuação igual ou menor a nove na escala de coma de Glasgow à admissão, exame de tomografia computadorizada de crânio que demonstre edema cerebral difuso, apagamento de cisternas basais e desvio de estruturas da linha mediana. 3.3 Critérios de exclusão Os critérios de exclusão utilizados foram: 1) hematoma intracraniano extra-axial com espessura maior que 3 centímetros; 2) contusão cerebral igual ou maior que 5 centímetros em seu maior eixo; 3) craniectomia prévia; 4) parada cardiorrespiratória; 5) pontuação 3 na escala de coma de Glasgow com pupilas midriáticas não fotorreagentes 29 e 6) coagulopatia grave definida como atividade de protrombina menor que 50% e/ou contagem de plaquetas < 70.000. Aplicou-se protocolo para obtenção de dados dos prontuários levantados pelo setor de arquivamento médico e estatística do Hospital Central da ISCMSP (SAME), conforme mostrado no Anexo I . a. Dados Epidemiológicos: Gênero, idade, mecanismo do trauma, doenças relatadas, escala de Coma de Glasgow (ECGl) à admissão e alterações pupilares. b. Dados Tomográficos: Tipo de lesão intracraniana, presença de lesões associadas, volume da lesão, desvio de estruturas da linha mediana, classificação tomográfica segundo escala de Marshall e Rotterdam (Maas et al, 2005). c. Dados operatórios: Intervalo de tempo entre a admissão e o tratamento cirúrgico, tipo de craniectomia descompressiva e duroplastia de expansão d. Dados pós-operatórios:. Tomografia pós-operatória precoce ou tardia, achados tomográficos, complicações, realização de cranioplastia, derivação ventrículo peritoneal e evolução segundo a escala estendida de resultados de Glasgow Quanto a ECGl à admissão, foi considerada a primeira pontuação descrita pelo neurocirurgião no prontuário de internação. No caso de paciente que chegou intubado e sedado, e sem descrição da ECGl nas evoluções subsequentes, aceitou-se a pontuação descrita pelo socorrista antes da intubação. Quanto aos dados tomográficos, classificaram-se os achados pré-operatórios em: HED (hematoma epidural), HSAT (hemorragia subaracnóidea traumática), HIP (hematoma intraparenquimatoso), TCDB (Tumefação encefálica difusa bilateral), LAD (lesão axonial difusa). A classificação nestes itens baseou-se na descrição tomográfica pela avaliação direta a partir de Outubro de 2010 no sistema IMPAX, pelo laudo do médico neurorradiologista ou descrição feita pelo neurocirurgião constando em prontuário. 30 Em relação aos dados operatórios, foram registrados Intervalo de tempo entre a admissão e o tratamento cirúrgico. Obteve-se o tempo cirúrgico em relação à admissão hospitalar comparando-se a hora da operação descrita em folha anestésica com a hora de admissão do paciente, presente na folha externa de admissão. Os pormenores técnicos da operação foram obtidos na folha de descrição operatória preenchida pelo neurocirurgião assistente. Para reduzir o número de variáveis na avaliação estatística, agruparam-se ERGE 1,2,3 e 4 como resultado desfavorável e ERGE 5,6,7 e 8 como resultado favorável. A técnica cirúrgica para aplicação da CD respeitou os princípios de ampla incisão de couro cabeludo, craniotomia ampla e abertura da dura-máter. Hematomas extra-axiais ou contusões foram submetidas à exérese. A dura-máter foi ampliada com gálea aponeurótica e sutura hermética. O retalho ósseo retirado, também segundo opção do cirurgião, foi armazenado em tecido subcutâneo abdominal, armazenado em banco de ossos ou desprezado e realizada cranioplastia em tempo posterior. Os dados obtidos foram passados à planilha Excel do computador, que permitiu o cálculo das frequências absolutas de cada dado individualmente. Procurou-se correlacionar fatores para prognóstico desfavorável à alta (ERGE), utilizando-se os testes do Qui-Quadrado de Independência e teste exato de Fisher. Todos os dados foram analisados usando o software estatístico qualificado (SPSS para Windows, versão 13, SPSS Inc., Chicago, Illinois, EUA). Considerou-se resultado significativo aqueles com p igual ou < 0,05. 31 4. RESULTADOS 32 Foram incluídos cinquenta e seis sujeitos na pesquisa. Casualmente 47 (83,9%) eram do gênero masculino e nove (16,1%) do feminino ( tabela 1). Tabela 1. Distribuição dos pacientes submetidos à craniectomia descompressiva quanto ao gênero Genêro N % Masculino 47 83,9 Feminino 9 16,1 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Na figura 8, verificamos que a distribuição dos quartis para a idade apresenta frequência maior em jovens, até a quarta década de vida. Figura 8. Diagrama de caixa: distribuição dos pacientes em quartis quanto à idade 33 Os principais mecanismos de trauma encontram-se representados nas tabela 2 e na figura 9. Houve predomínio de lesões de alto impacto (atropelamentos) em 35,7%. Tabela 2. Distribuição dos pacientes submetidos à craniectomia descompressiva quanto aos mecanismos de trauma. Mecanismo de trauma N % Atropelamento 20 35,7 Queda de altura 11 19,6 Acidente motociclístico 10 17,9 Agressão 7 12,5 Queda da própria altura 5 8,9 Outros 2 3,6 Acidente automobilístico 1 1,8 Fonte: SAME ISCMSP Mecanismos N de trauma 25 Número de pacientes 20 15 10 5 0 Figura 9. Distribuição de frequência dos principais mecanismos de trauma 34 As principais comorbidades relatadas na casuística, obedeceram a distribuição expressa abaixo na tabela 3, predominando o etilismo. Tabela 3. Doenças relatadas em 56 pacientes submetidos à craniectomia descompressiva Doenças relatadas Não identificada Discrasia Eplepsia Etilismo Sindrome demencial Total N 38 1 1 15 1 56 % 67,9 1,8 1,8 26,8 1,8 100,0 Fonte: SAME ISCMSP A pontuação pela escala de coma de Glasgow avaliada à admissão mostrou que 44,6% dos pacientes apresentavam quatro pontos, 7,1% com cinco pontos, 12,5% seis pontos, 14,3% sete pontos, 8,9% oito pontos e 12,5% dos pacientes apresentavam nove pontos, conforme representado na tabela 4. Tabela 4. Distribuição da pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão. Pontuação na escala de Glasgow à admissão Pontuação N % 4 25 44,6 5 4 7,1 6 7 12,5 7 8 14,3 8 5 8,9 9 7 12,5 56 100,0 Total Fonte: SAME ISCMSP 35 Na tabela 5 abaixo, observa-se que devido à gravidade do quadro inicial à admissão, 71,4% dos pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico definitivo em prazo máximo de seis horas. Tabela 5. Intervalo de tempo entre a admissão e o tratamento cirúrgico. Tempo (horas) N % 1 a 6 horas 40 71,4 6 a 12 horas 11 19,6 12 a 24 horas 3 5,4 Acima de 24 horas 2 3,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP A seguir são descritos os achados quanto à simetria e reatividade pupilar evidenciados ao exame de admissão, conforme ficha de avaliação de entrada constante no prontuário médico de cada paciente. Vinte e sete dos pacientes apresentavam anisocoria, sendo que em dez pacientes foi observada midríase bilateral com fotorreatividade ausente e nos dezenove restantes as pupilas estavam isocóricas e fotorreagentes, conforme tabela 6. Tabela 6. Distribuição das alterações pupilares ao exame de admissão Alterações pupilares N % Ausente 19 33,9 Presença de anisocoria 27 48,2 Midriase não fotorreagente 10 17,9 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP 36 No tocante a distribuição das lesões intracranianas, observou-se que 78,6% dos pacientes apresentavam hematoma subdural agudo à tomografia de admissão, seguidos de contusão cerebral em 28,6%, hematoma epidural em 17,9%, hemorragia subaracnóidea traumática em 17,9%, hematoma intraparenquimatoso traumático em 8,9%, tumefação cerebral em 7,1% e lesão axonial difusa em 3,6% dos casos, como verificado na figura 10. Conforme representado na tabela 7, quanto a existência de lesões intracranianas observou-se que metade dos pacientes apresentavam lesões intracranianas associadas. Distribuição das lesões Intracranianas 50 78,6% 28,6% 17,9% 17,9% 8,9% HED HSAT HIP 7,1% 3,6% 45 Número de pacientes 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Subdural HSD Figura 10. Contusão Tce TCDB LAD Distribuição das lesões traumáticas intracranianas em 56 pacientes submetidos a craniectomia descompressiva. HED (hematoma epidural), HSAT (hemorragia subaracnóidea traumática), HIP (hematoma intraparenquimatoso), TCBD ( tumefação cerebral difusa bilateral), LAD ( lesão axonial difusa). 37 Tabela 7. Presença de lesões intracranianas ao exame de tomografia de crânio Lesão intracraniana N % Com 1 lesão 28 50,0 Mais de 1 lesão 28 50,0 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP A seguir, tabela 8, são descritas as características tomográficas quanto ao volume das lesões intracranianas em mililitros, evidenciando que 78,6 % apresentaram lesões com até 25 ml de volume, sendo consideradas lesões focais não cirúrgicas pela classificação tomográfica de Marshall. Tabela 8. Distribuição quanto ao volume das lesões intracranianas Volume da lesão intracraniana N % Até 25 ml 44 78,6 26 a 50 ml 12 21,4 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Foi avaliado o desvio das estruturas da linha mediana (DLM) ao nível do septo pelúcido, obtendo-se o seguinte resultado, expresso na tabela 9. 38 Tabela 9. Distribuição quanto ao desvio das estruturas da linha mediana avaliada pela tomografia de crânio em 56 pacientes com TCE grave. DLM N % 0 a 5 mm 6 10,7 5 a 10 mm 11 19,6 10 a 15 mm 17 30,4 15 a 20 mm 20 35,7 > 20 mm 2 3,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Os aspectos de neuroimagem encontram-se sumarizados na tabela 10, que utiliza a classificação de Marshall (Marshall et al, 1991b) e tabela 11 com dados relativos a escala de Rotterdam (Maas et al, 2005). Em ambas escalas houve predomínio da pontuação quatro. Tabela 10. Distribuição quanto a pontuação na Escala de Marshall Escala de Marshall N % 3 3 5,4 4 39 69,6 5 14 25,0 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP 39 Tabela 11. Distribuição quanto à pontuação na Escala de Rotterdam Escala de Rotterdam N % 2 1 1,8 3 7 12,5 4 39 69,6 5 8 14,3 6 1 1,8 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Quanto ao desfecho final após seis meses, utilizando-se a escala de coma estendida de Glasgow (ERGE) (Teasdale et al,1998), houve mortalidade elevada registrada em 58,9% dos casos. O prognóstico desfavorável, caracterizado com pontuação de 1 a 4 ocorreu em 78,5% dos casos e aqueles considerados de prognóstico favorável, com pontuação de 5 a 8, foi observado em 21,5%, conforme mostrado na tabela 12. Tabela 12. Distribuição quanto à pontuação na escala estendida de resultados de Glasgow (ERGE) após seis meses. ERGE N % 1 33 58,9 2 6 10,7 3 4 7,1 4 1 1,8 5 3 5,4 6 2 3,6 7 6 10,7 8 1 1,8 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP 40 Em sequência, foi avaliada a técnica de craniectomia descompressiva empregada, predominando a craniectomia unilateral com duroplastia, realizada à direita em 53,6% dos casos, à esquerda em 42,9% e bilateralmente em 3,6%. Tabela 13. Distribuição quanto ao tipo de craniectomia descompressiva em 56 casos de TCE grave. Craniectomia N % Unilateral 54 96,4 Bilateral 2 3,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Tabela 14 Distribuição quanto à duroplastia Duroplastia N % Não realizada Realizada 3 53 5,4 94,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP Tabela 15. Distribuiçao quanto à lateralidade da craniectomia. Lateralidade craniectomia N % Direito 30 53,6 Esquerdo 24 42,9 Bilateral 2 3,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP 41 Os controles tomográficos no pós-operatório foram realizados em 75% dos casos. A maioria, como representado na tabela 16, foram realizados até o décimo quinto dia de pós-operatório. Tabela 16. Intervalo de tempo em dias para o controle tomográfico no pós-operatório Controle tomográfico pos operatorio N % Não realizado 14 25,0 Até 3 dias 16 28,6 4 a 15 dias 22 39,3 Após 15 dias 4 7,1 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP A distribuição dos achados tomográficos avaliados no controle pós-operatório foi a seguinte: 58,9% dos casos apresentaram desvio das estruturas da linha média menor que 5 milímetros, demonstrando boa resolução do regime de hipertensão intracraniana e efeito expansivo após realização da craniectomia descompressiva ( tabela 17). Tabela 17. Distribuição quanto ao desvio das estruturas da linha mediana (DLM) no pós operatório avaliado à tomografia de crânio. DLM pós operatório N % Não realizou tomografia 14 25,0 < 5 mm 33 58,9 6 a 10 mm 6 10,7 11 a 15 mm 1 1,8 > 15 mm 2 3,6 Total 56 100,0 Fonte: SAME ISCMSP 42 As principais complicações decorrentes da craniectomia descompressiva para o tratamento da hipertensão intracraniana de etiologia traumática são apresentadas na figura 11, sendo as principais a hérniação transcalvárica, seguida do aumento das contusões e higroma. 12 Número de pacientes 10 17,9% 16,1% 16,1% 10,7% 7,1% 5,3% 5,3% 3,6% 3,6% 8 6 4 2 0 Figura 11. Distribuição por frequência das complicações no pós-operatório em 56 pacientes submetidos à craniectomia descompressiva O procedimento de cranioplastia e o intervalo de tempo decorrido entre a craniectomia descompressiva e sua realização seguiram a distribuição representada abaixo na tabela 18. Tabela 18. Intervalo de tempo entre a craniectomia descompressiva e a cranioplastia. Cranioplastia N % Não Realizada 40 71,4 Até 2meses 5 8,9 3 a 6 meses 4 7,1 Após 6 meses 7 12,5 56 100,0 Total Fonte: SAME ISCMSP 43 A análise realizada utilizando-se o software SPSS13, teste t de Student e teste estatístico exato de Fisher demonstrou as seguintes relações entre as escalas tomográficas de Marshall e Rotterdam em relação ao prognóstico dos pacientes com TCE grave (exclusos aqueles com pontuação de 3 na escala de coma de Glasgow) submetidos à craniectomia descompressiva demonstradas nas tabelas 19 e figura 12. Tabela 19 . Correlação entre a escala de Marshall e o prognóstico ERGE 3 Casos Porcentagem 4 Casos Marshall Porcentagem 5 Casos Porcentagem Total Casos Porcentagem Desfecho final Total Prognóstico Prognóstico desfavorável favorável 2 1 3 66,7% 33,3% 100,0% 30 9 39 76,9% 23,1% 100,0% 12 2 14 85,7% 14,3% 100,0% 44 12 56 78,6% 21,4% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP Figura 12. Gráfico de dispersão entre a Escala de Rotterdam e o prognóstico 44 Quanto a correlação entre a idade e o prognóstico avaliado pela escala de resultados de Glasgow, utilizou-se o teste t de Student e não foi observada significância estatística conforme demonstrado no figura 13. Prognóstico desfavorável Prognóstico favorável Escala estendida de resultados de Glasgow Figura 13. Diagrama de caixa da distribuição dos pacientes em quartis correlacionando idade ao prognóstico A tabela a seguir apresenta a distribuição referente ao tempo estimado em horas entre a admissão hospitalar e o tratamento definitivo levando-se em conta a pontuação na escala de coma de Glasgow, concluindo-se que os casos mais graves com pontuação até cinco, recebem tratamento definitivo em até seis horas, totalizando 57,5% da casuística. 45 Tabela 20. Distribuição os pacientes segundo o tempo estimado de atendimento e a pontuação na escala de coma de Glasgow. Pontuação na Escala de Coma de Glasgow 4 5 6 7 8 Casos Porcentagem 6 a 12 Casos Porcentagem 12 a Casos 24 Porcentagem Acima Casos de 24 Porcentagem Casos Total Porcentagem atendimento (hs) 1a6 21 52,5% 4 36,4% 0 0% 0 0% 25 44,6% 2 5,0% 1 9,1% 1 33,3% 0 0% 4 7,1% 5 12,5% 1 9,1% 0 0% 1 50,0% 7 12,5% 6 15,0% 1 9,1% 0 0% 1 50,0% 8 14,3% 9 Total 2 4 40 5,0% 10,0% 100,0% 2 2 11 18,2% 18,2% 100,0% 1 1 3 33,3% 33,3% 100,0% 0 0 2 0% 0% 100,0% 5 7 56 8,9% 12,5% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP Esta observação justifica o predomínio de prognóstico desfavorável (pontuação de 1 a 4 na Escala estendida de resultados de Glasgow) nos casos em que houve instituição precoce do tratamento definitivo, conforme observado na tabela abaixo, pois na realidade estes casos correspondem àqueles que apresentaram baixa pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão. Tabela 21. Correlação entre tempo decorrido entre a admissão o tratamento definitivo e o prognóstico Tempo (horas) 1 a 6 6 a 12 12 a 24 Acima de 24 Total Casos Porcentagem Casos Porcentagem casos porcentagem Casos Porcentagem Casos Porcentagem Prognóstico desfavorável 34 85,0% 7 63,6% 2 66,7% 1 50,0% 44 78,6% Prognóstico Total favorável 6 40 15,0% 100,0% 4 11 36,4% 100,0% 1 3 33,3% 100,0% 1 2 50,0% 100,0% 12 56 21,4% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP 46 Aplicando-se o teste exato de Fisher não se observa significância estatística quando comparados grupos com pontuação até cinco na escala de coma de Glasgow (crítico) e grupo com pontuação de seis a nove. Tabela 22. Correlação entre pontuação crítica na escala de coma de Glasgow e o prognóstico pela escala resultados de Glasgow estendida (ERGE) ERGE Prognóstico desfavorável 26 Prognóstico favorável 3 Total Porcentagem Casos 89,7% 18 10,3% 9 100,0% 27 Glasgow > 5 Porcentagem Casos Total Porcentagem 66,7% 44 33,3% 12 100,0% 56 78,6% 21,4% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP ECGl 4/5 crítico Casos 29 Levando-se em consideração apenas o desfecho final como óbito, pode-se estabelecer significância estatística após análise com teste exato de Fisher (p=0,02) e qui quadrado (p=0,01) quando comparamos o grupo com pontuação até cinco na escala de coma de Glasgow (crítico) com o grupo que apresentou pontuação superior a cinco à admissão, como demonstrado na tabela abaixo. Tabela 23. Correlação entre pontuação na escala de coma de Glasgow e óbito Desfecho Glasgow 4/5 crítico Glasgow > 5 Total Casos óbito 23 Não óbito 6 Total 29 Porcentagem Casos Porcentagem Casos 79,3% 10 37,0% 33 20,7% 17 63,0% 23 100,0% 27 100,0% 56 Porcentagem 58,9% 41,1% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP 47 Após aplicação do teste qui-quadrado observou-se significância estatística (p=0,05) entre a presença de lesões intracranianas múltiplas e o prognóstico avaliado pela escala estendida de resultados de Glasgow, conforme exposto na tabela 24. Tabela 24.Correlação entre prognóstico e a presença de lesões intracranianas múltiplas 1 lesão Lesão intracraniana Mais de 1 lesão Total Casos Porcentagem Casos Porcentagem Prognóstico desfavorável 19 67,9% 25 89,3% Casos Porcentagem 44 78,6% Após a aplicação dos testes qui quadrado Prognóstico favorável 9 32,1% 3 10,7% Total 28 100,0% 28 100,0% 12 56 21,4% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP e exato de Fisher não se observou correlação entre o prognóstico e o tipo de lesão intracraniana focal evidenciada nos exames tomográficos à admissão. Observou-se correlação, estatisticamente significante após aplicação dos testes qui quadrado e exato de Fisher, entre o desvio das estruturas da linha mediana observada na tomografia de crânio e o prognóstico. O desvio das estruturas da linha mediana quando superior a 15 milímetros demonstrou ser um fator preditivo de prognóstico desfavorável (p < 0,01) . Tabela 25. Correlação entre o prognóstico e o desvio das estruturas da linha mediana Total Prognóstico Casos Até 15 mm DLM > 15 mm Total Porcentagem Casos Porcentagem Casos Porcentagem Prognóstico desfavorável Prognóstico favorável 23 11 67,6% 21 95,5% 44 78,6% 34 32,4% 100,0% 1 22 4,5% 100,0% 12 56 21,4% 100,0% Fonte: SAME ISCMSP 48 Avaliando a correlação entre alterações pupilares e prognóstico após seis meses, utilizando a escala estendida de resultados de Glasgow, obteve-se significância estatística apenas com a presença de midríase bilateral com reflexo fotomotor ausente, sendo que em todos os casos a pontuação foi igual a um, correspondendo a óbito (p< 0,01). Tabela 26. Correlação entre as alterações pupilares e o prognóstico avaliado pela escala estendida de resultados de Glasgow (ERGE). Alterações pupilares Casos Sem alterações Porcentagem Casos Anisocoria Midríase bilateral Porcentagem Casos Porcentagem Prognóstico desfavorável 13 Prognóstico favorável 6 Total 68,4% 31,6% 100% 21 6 27 77,8% 22,2% 100,0% 10 0 10 100% 0% 100,0% 19 Fonte: SAME ISCMSP 49 5. Discussão 50 A craniectomia descompressiva (CD) consiste em procedimento cirúrgico utilizado para tratamento de segundo nível para controle de hipertensão intracraniana refratária, de etiologia traumática ou não. O benefício desta terapêutica é relacionado à melhora da oxigenação cerebral, da pressão de perfusão cerebral e da complacência cerebral devido ao controle da HIC (Chesnut et al, 2012). Apesar da CD ser utilizada há mais de um século, os efeitos no desfecho clínico não são bem conhecidos, necessitando de análise prospectiva e randomizada. Diversos estudos prospectivos e retrospectivos tem reportado prognóstico favorável em grupos selecionados de pacientes (Sahuquillo, Arikan, 2006; Aarabi et al, 2009; Aarabi, Simardi 2009), porém em nosso meio temos poucos estudos relacionando fatores preditivos de prognóstico no intuito de racionalizar as indicações em casos de traumatismo cranioencefálicos graves (Faleiro et al, 2008). No presente estudo, quanto ao desfecho final após seis meses, utilizando-se a escala de coma estendida de Glasgow (ERGE) (Teasdale et al,1998), houve mortalidade elevada registrada em 58,9% dos casos. O prognóstico desfavorável, caracterizado com pontuação de 1 a 4 ocorreu em 78,5% dos casos e aqueles considerados de prognóstico favorável, com pontuação de 5 a 8, foram observados em 21,5%, conforme mostrado na tabela 12. Estes achados assemelham-se aos resultados de prognóstico desfavorável demonstrados em estudos recentes (Cooper et al, 2011). Uma vez que o procedimento consiste em medida de resgate para o tratamento de HIC refratária às medidas iniciais, pouco se sabe sobre os resultados funcionais em seguimento a longo prazo. Danish et al (2009) em revisão sistemática da literatura para avaliar a qualidade de vida de pacientes submetidos à CD concluem que em média a mortalidade é de 28,2%, porém os resultados funcionais não são bons. Em estudo recente, Bor-Seng-Shu et al (2012), comprovam através de meta-análise os efeitos benéficos da CD em relação à redução da HIC e do aumento da PPC; de modo semelhante os resultados do estudo multicêntrico DECRA, demonstram menor tempo de internação em UTI e redução da HIC, porém com resultados funcionais desfavoráveis (Cooper et al, 2011). Outro estudo em fase de finalização é o RESCUEicp que questiona a análise dos resultados do DECRA diferindo deste quanto ao limite da PIC (25 mmHg versus 20 mmHg), momento da cirurgia (qualquer momento após a lesão versus até 72 horas após a lesão), inclusão de contusões cerebrais e 51 acompanhamento mais longo (2 anos). Os perfis de coorte e os critérios de inclusão e de distribuição aleatória entre o DECRA e o RESCUEicp são portanto muito diferentes e desta forma os resultados do estudo DECRA não devem influenciar os resultados do RESCUEicp. Levando-se em conta a técnica cirúrgica, a CD é procedimento relativamente simples, mas não isento de complicações. Alguns estudos avaliam este aspecto (Faleiro et al, 2008; Yang et al, 2008; Ban et al, 2010) e outos sugerem que a presença das complicações diminuam os potenciais benefícios da CD (Yang et al, 2008). Quanto aos dados epidemiológicos, vide tabelas 13 e 14, os achados nesta pesquisa demonstraram 96,4% dos casos sendo submetidos a CD unilateral com duroplastia de expansão, dos quais 53,6 % à direita, 42,9% à esquerda e 3,6% bilateralmente (tabela 15), com predomínio na população jovem, até quarta década de vida, como descrito na figura 8 e no gênero masculino (83,9%), exposto na tabela 1, sendo compatível com os achados em outras séries (Foulkes et al, 1991; Martins et al, 2003; Faul et al, 2010), devido ao fato desta população estar mais exposta a doenças traumáticas. O traumatismo cranioencefálico compromete justamente a parcela jovem e produtiva da população causando enormes repercussões médicas e socioeconômicas. Quanto à correlação entre a idade e o prognóstico avaliado na casuística pela escala estendida de resultados de Glasgow, utilizou-se o teste t de Student e não foi observada significância estatística, demonstrado no gráfico 7, diferentemente de outros estudos na literatura que apresentam mortalidade de 19,2% em pacientes com idade inferior a 35 anos, chegando a 80% naqueles pacientes com idade superior a 65 anos (Potts et al, 2008). Em contrapartida, há autores que não conseguem correlacionar a idade como fator preditivo de prognóstico naqueles pacientes submetidos à craniectomia descompressiva (De Bonis et al, 2010). Apesar de algumas contradições, a maior parte dos estudos na literatura demonstra que crianças têm melhores resultados do que adultos com lesão cerebral grave, inclusive quando avaliado o uso da craniectomia descompressiva (Sahuquillo, Arikan, 2006). 52 A significativa influência da idade sobre o resultado não é explicada pelo aumento da frequência de complicações sistêmicas ou hematomas intracerebrais. A maioria dos estudos indica que a idade é um forte fator independente de prognóstico com um aumento significativo de resultados desfavoráveis acima de 60 anos de idade. O mecanismo de trauma observado de forma mais frequente, em 35,7% dos casos, foi o atropelamento, como descrito na tabela 2 e gráfico 3, evidenciando a maior susceptibilidade dos pedestres ao traumatismo cranioencefálico grave, principalmente em grandes centros urbanos de países em desenvolvimento que apresentam crescimento exponencial da frota de veículos. O estudo nacional de Martins et al (2003) realizado nos moldes do Traumatic Coma Data Bank ressalta o mesmo predomínio em relação ao mecanismo de trauma (Martins et al, 2003) enquanto a análise original do TCDB aponta para acidentes automobilísticos (Foulkes et al, 1991). Dados atualizados do Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos colocam as quedas (35,2%) e os acidentes com veículos automotores (17,3%) como principais causas (Faul et al, 2010). Esta diferença ocorre também pelo fato do presente estudo estratificar apenas os pacientes com TCE grave. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até o ano 2020, acidentes automobilísticos contribuirão para a terceira principal causa de lesões traumáticas. Em estudo realizado por Wilberger et al (1991) é possível evidenciar prognóstico desfavorável com p < 0,05 em casos que tem como etiologia acidentes motociclísticos totalizando 71% . Na maior parte da casuística não foi possível identificar comorbidades à admissão, tabela 3, principalmente pelo fato destas informações contidas no prontuário médico terem sido fornecidas por terceiros. A predominância daquelas relatadas foi de ingestão de bebidas alcóolicas, computando 26,8% dos casos, embora não tenha sido realizada comprovação laboratorial e por este motivo, não foi possível realizar análise estatística para correlação com o prognóstico. Há na literatura estudos que correlacionam melhor prognóstico após TCE moderado e grave em pacientes que apresentaram níveis positivos de etanol à admissão, sugerindo efeito neuroprotetor (Berry et al, 2010), porém deve-se levar em conta que indivíduos sob efeito do álcool tem maior predisposição a eventos que envolvem TCE. 53 A distribuição verificada quanto à pontuação inicial na Escala de Coma de Glasgow, tabela 4, respeitando-se os critérios de inclusão, teve 44,6% dos pacientes avaliados com pontuação de 4, confirmando a gravidade extrema dos casos que foram submetidos à craniectomia descompressiva. Em geral a ECGl tem relação inversamente proporcional entre sua pontuação e o prognóstico dos pacientes com TCE (Choi et al, 1988; Choi et al,1994). É demonstrado por Narayan et al (1981), prognóstico desfavorável em 77% dos pacientes com pontuação entre 3 e 5, Potts et al em 2008, defendem que a escala de coma de Glasgow não apresenta valor preditivo importante em pacientes submetidos à CD, exceto naqueles com faixa etária específica entre 35 e 49 anos, havendo significância estatística com p= 0,011 (Potts et el, 2008). O presente estudo demonstrou prognóstico desfavorável em 89,7% dos casos que apresentaram pontuação de 4 e 5 na ECGl ,como exposto na tabela 22 e aplicando-se o teste exato de Fisher não se observou significância estatística quando comparados grupos com pontuação até 5 na escala de coma de Glasgow e grupo com pontuação de 6 a 9, porém levando em consideração apenas o desfecho final como óbito, pode-se estabelecer significância após análise com teste exato de Fisher (p= 0,02) e qui quadrado (p= 0,01) quando foram comparados estes dois grupos . Neste estudo observou-se que devido à gravidade do quadro à admissão, 71,4% dos pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico em prazo máximo de seis horas, tabela 5, sendo que os casos mais graves com pontuação na ECGl até cinco, receberam tratamento definitivo neste período totalizando 57,5% como evidenciado na tabela 20. Isto justifica o predomínio de prognóstico desfavorável nos casos em que houve instituição precoce do tratamento definitivo (85,6%) conforme tabela 21, pois estes casos correspondem àqueles que apresentaram baixa pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão. Portanto não se deve interpretar que os casos submetidos a tratamento tardio teriam melhor prognóstico. Esta explicação encontra concordância em estudo multicêntrico europeu (Compagnone et al, 2005). Estudo realizado para comparar prognóstico após seis meses em pacientes submetidos a CD precoce, tardia e terapia padrão não demonstra diferença estatística entre os grupos (Cianchi et al, 2012) porém apesar dos grupos serem comparáveis quanto a idade e 54 mecanismo de trauma, aqueles submetidos à CD precoce apresentam pontuação maior na escala de Marshall. O presente estudo mostrou que 66,1% dos pacientes apresentaram alterações pupilares ao exame inicial sendo que em 17,9% havia midríase bilateral de acordo com a tabela 6. Ao analisar estes achados em relação a prognóstico observou-se que não houve correlação com prognóstico desfavorável ao comparar o grupo que apresentou anisocoria com aquele sem alterações pupilares, houve ainda uma tendência não comprovada pela análise estatística (p=0,06), devido a amostragem pequena, a uma correlação entre o achado de midríase bilateral e prognóstico desfavorável. A totalidade de casos que apresentaram midríase bilateral com ausência de reflexo fotomotor à admissão teve prognóstico desfavorável, com apenas um ponto na escala estendida de resultados de Glasgow, ou seja, óbito. Foi comprovada significância estatística com p <0,01 entre este achado e óbito como desfecho final, como demonstrado na tabela 26. Estes achados são consonantes com dados de literatura como descritos por Narayan et al (1981), com 70% de prognóstico desfavorável e Braakman et al (1980), que descrevem 90% de mortalidade com este mesmo achado, portanto a ausência de fotorreatividade bilateralmente foi fator preditivo de prognóstico no presente estudo, havendo significância estatística quando utilizado óbito como desfecho. Quanto à presença de lesões intracranianas, metade da casuística apresentou associação de lesões, como exposto na tabela 7, sendo que houve claro predomínio (78,6%) de hematoma subdural agudo seguido por contusão cerebral em 28,6% dos casos como exposto na figura 10. As lesões focais quando presentes não excediam o volume de 25 ml em 78,6% dos casos, tabela 8, sendo consideradas lesões focais não cirúrgicas pela classificação tomográfica de Marshall et al, 1991b. Após a aplicação dos testes qui-quadrado e exato de Fisher não se observou correlação entre o prognóstico e o tipo de lesão intracraniana focal evidenciada nos exames tomográficos à admissão, porém notou-se uma diferença quanto a presença de lesões associadas, sendo que 89,3% destes casos evoluiu com prognóstico desfavorável em comparação a 67,9% daqueles que apresentavam lesão única. Após aplicação do teste qui-quadrado observou-se significância estatística (p=0,05) entre a presença de lesões intracranianas 55 associadas e o prognóstico avaliado pela escala de resultados de Glasgow, demonstrado na tabela 24. Os dados da literatura quanto a estes achados apontam mortalidade de 85% para hematoma subdural agudo associada a contusão unilateral e 17% na inexistência destas (Kotwica, Brzezinski, 1993). No estudo de Wilberger et al (1991), pacientes com hematoma subdural agudo apresentavam taxa de mortalidade de 72%, quando associado com contusões versus 52% daqueles sem este achado. Estudos com evidência classe I mostram valor preditivo prognóstico de 67% de resultado desfavorável na presença de combinação de lesões cerebrais intra e extraaxiais (Narayan et al, 1981). Foram avaliadas na casuística, alterações tomográficas quanto ao volume das lesões focais em mililitros (tabela 8), o DLM em milímetros (tabela 9) e as classificações tomográficas de Marshall e Rotterdam expostas nas tabelas 10 e 11 (Marshall et al, 1991b; Maas et al, 2005). A maioria das lesões, 78,6%, foi identificada com volume inferior a 25 ml conforme exposto na tabela 8, o que é esperado, pois a amostra foi composta principalmente por lesões classificadas como difusas. As lesões de maior volume foram excluídas pelos critérios mencionados na metodologia, portanto não houve condições de correlacionar este dado com prognóstico, embora diversos trabalhos correlacionem volume das lesões intracranianas com prognóstico, havendo relação inversamente proporcional. (Lobato et al,1988a; Yanaka et al, 1993; Zumkeller et al, 1996). A amostra teve, após análise tomográfica, 39,3% dos casos com DLM superior a 15mm como evidenciado na tabela 9. Observou-se correlação estatisticamente significante após aplicação dos testes qui-quadrado e exato de Fisher, entre o desvio das estruturas da linha mediana observada na tomografia de crânio e o prognóstico. O desvio das estruturas da linha mediana quando superior a 15 milímetros demonstrou ser fator preditivo de prognóstico desfavorável (p=0,01) utilizando-se a escala estendida de resultados de Glasgow. Nestes casos houve evolução com prognóstico desfavorável em 95,5% contra 67,6% daqueles com DLM menor que 15mm, como demonstrado na tabela 25. Alguns estudos referem que o desvio das estruturas da linha mediana, definido como a distância em milímetros em que as estruturas cerebrais se 56 encontram deslocadas da linha média, mensurada ao nível do septo pelúcido, é considerado fator preditivo de prognóstico (Ross et al,1989; Lobato et al,1991; Fearnside et al, 1993). Kotwica e Brzezinski (1993) mostram 42% de resultados favoráveis e mortalidade de 39% quando o DLM é menor do que 15mm e taxa de mortalidade de 76% quando o DLM ultrapassa 30 mm. Zumkeller et al (1996) descrevem mortalidade de 70% com achado de DLM de 23 a 24 mm. Dados do Traumatic Coma Data Bank mostram que DLM de 3 mm ou mais foi evidenciado em 34% dos pacientes, ocorrendo mortalidade de 70% quando o DLM é de 15mm ou mais (Eisenberg et al, 1990). Em ambas escalas, Marshall e Rotterdam, utilizadas para classificação dos achados tomográficos em nossa casuística, houve predominância (69,6%) dos resultados com quatro pontos, conforme tabela 10 e tabela 11, que indica desvio da linha média maior que 5 mm, ausência de lesão de densidade alta ou mista maior que 25 ml na Escala de Marshall, porém na escala de Rotterdam essa pontuação depende do somatório de diversos fatores, tais como: patência das cisternas basais, DLM, presença de lesão focal epidural, hemorragia intraventricular e HSA. A análise realizada utilizando-se o software SPSS13, teste t de Student e teste estatístico exato de Fisher demonstrou tendência à prognóstico desfavorável naqueles pacientes com maior pontuação na escala de Marshall tendo como achados 66,7% com pontuação de três, 76,9% com pontuação de quatro e 85,7% com pontuação de cinco, porém sem significância estatística com p > 0,05, talvez devido ao tamanho da amostra. De forma semelhante também não foi possível estabelecer correlação entre o prognóstico e a pontuação pela escala tomográfica de Rotterdam nos pacientes submetidos à craniectomia descompressiva, conforme demonstrado na figura 12. (Marshall et al, 1991b; Maas et al, 2005). Em 1983, Van Dogen et al mesmo antes das descrições das Escalas de Marshall e Rotterdam descreveram alterações tomográficas preditoras de prognóstico, principalmente a avaliação da patência das cisternas basais, Os autores demonstram 97% de valor preditivo positivo para o resultado desfavorável quando as cisternas estavam completamente obliteradas. Toutant et al (1984) encontraram taxa de 57 mortalidade de 77%, quando as cisternas estavam ausentes, 39% quando estavam comprimidas e apenas 22% quando as cisternas estavam pérvias. A importância maior foi entre os pacientes com pontuação na ECGl, de 6 a 8. (Toutant et al,1984). Em dado recente da literatura, Huang et al (2012) concluem que a escala de Rotterdam tem grande capacidade de ser fator preditor independente de prognóstico desfavorável em pacientes com TCE submetidos à CD. A relação entre a pontuação e prognóstico foi quantificada e a pontuação foi significativamente associada com mortalidade (p<0,001) e prognóstico desfavorável (p<0,001). Após o ajuste em regressão multivariada, a pontuação na escala de Rotterdam permanece como preditor independente de prognósticos desfavoráveis (p = 0,035). Nesta pesquisa, os controles tomográficos foram realizados em 75% dos casos, sendo a maioria em prazo de até 15 dias após a CD, quando se obteve condições clínicas para transporte e realização do exame, conforme exposto na tabela 16. A distribuição dos achados tomográficos avaliados no controle pós-operatório foi a seguinte: 58,9% dos casos apresentaram desvio das estruturas da linha média menor que cinco milímetros, mostrando boa resolução do regime de hipertensão intracraniana e do efeito expansivo após realização da craniectomia descompressiva. Outros achados descritos foram: herniação transcalvária (14,3%), hidrocefalia (7,1%), hematoma subdural (5,4%), isquemia cerebral (5,4 %), empiema (1,8%) e hematoma epidural (1,8%), conforme exposto na tabela 17. A análise da casuística em estudo demonstrou complicações em 46,4% dos casos contabilizando apresentação precoce e tardia evidenciado na figura 11. A complicação precoce mais frequente relativa à técnica foi hérnia transcalvárica em 17,9% dos casos, seguida de aumento do volume de contusões cerebrais (16,1%), higroma (16.1%), hidrocefalia (10,7%), aumento de volume de lesões contralaterais (5,3%) e dois casos com fístula liquórica (3,6%). Comparativamente aos dados de literatura temos que Faleiro et al (2008) descrevem 34,8% dos pacientes com complicações relativas a CD em pacientes com TCE assim distribuídos, coleção subdural em 11,2%, hidrocefalia em 7,9% e infecção em 15,7%. No presente estudo as complicações infecciosas evidenciadas em 8,9% dos casos foram meningite (5,3%) e empiema (3,6%). Em quatro 58 casos (7,1%), tardiamente foi observada reabsorção do retalho ósseo previamente armazenado no tecido celular subcutâneo do abdômen, embora em estudo de 2010, Baldo e Tacconi chegam a conclusão, apesar da pequena amostra empregada, que esta modalidade de armazenamento seja viável com bons resultados cosméticos, baixo custo e taxa de infecção desprezível. A hérnia transcalvárica observada em 17,9% dos casos é descrita na literatura em até 26% dos casos tendo como etiologia o edema induzido pelo aumento de perfusão e do gradiente hidrostático dos capilares após a descompressão (Stiver, 2009). Os potenciais efeitos adversos incluem compressão de veias corticais. Portanto, craniectomias mais extensas reduzem a chance de isquemia venosa, assim como a técnica de túneis vasculares descrita por Csokay et al, 2002). As alterações da circulação liquórica após a craniectomia descompressiva estão entre as complicações mais frequentes citadas na literatura, causando coleções subdurais e hidrocefalia. Após a CD, experimentalmente temos redução da resistência da circulação do líquor pela metade enquanto a complacência cerebral aumenta, utilizando-se índice pressão/volume (Shapiro et al, 1985). Kaen et al (2010) descrevem hidrocefalia em 27,4% dos casos, conseguindo estabelecer significância estatistica (p=0,0001) ao correlacionar casos com higroma inter-hemisférico e hidrocefalia. Choi et al (2008) relatam que a incidência de hidrocefalia pós-traumática aumenta de 2,4 % para 23,6% quando o tratamento inclui CD estando principalmente relacionada à craniectomias maiores e às reabordagens cirúrgicas. Em outros estudos, coleções subdurais aparecem como complicação em 23 a 37% dos casos (Flint et al, 2008; Aarabi et al, 2009) podendo ser localizadas ipsi ou contralaterais ao lado da CD, embora em alguns casos sejam bilaterais ou localizadas no espaço inter-hemisférico. No estudo de Kaen et al (2010), higromas subdurais são demonstrados na primeira semana após a CD, com aumento gradual em até quatro semanas e resolução espontânea em até 17 semanas. São descritas ainda, fase rebote e hidrodinâmica, não observadas de maneira inequívoca na presente casuística. Paredes et al descrevem em 2011, caso que ilustra a resolução da coleção subdural após realização da cranioplastia. 59 As complicações infecciosas são descritas na literatura em 2 a 6% dos casos submetidos a CD (Polin et al,1997; Aarabi et al, 2006; Yang et al, 2008; Baldo, Tacconi, 2010) e normalmente ocorrem tardiamente manifestando-se como meningite e empiemas. O aumento dos índices de infecção podem estar relacionados a presença de deiscências, fístula liquórica e cranioplastias precoces. O fato de realizar a cranioplastia representa nova abordagem cirúrgica aumentando a taxa de infecção, chegando a taxa de 12,1% no estudo de Walcott et al (2013). No presente estudo utilizamos osso autólogo na cranioplastia armazenado sempre que possível em banco de ossos. Chang et al (2010) demonstram menor taxa de infecção quando se utiliza osso autólogo, de 18.9% para 4,6%, (p=0.002). Nesta pesquisa, encontramos menor taxa de complicações quando o prazo de realização da cranioplastia ocorre em até 3 meses em relação aquelas realizadas após seis meses. Na casuística, o procedimento de cranioplastia não foi realizado em 71,4% dos casos como observado na tabela 18, fato principalmente devido à alta taxa de mortalidade encontrada (58,9%) conforme visto na tabela 12 e a reabsorção do retalho ósseo em 7,1% exposto no gráfico 5. A cranioplastia em 8,9% dos casos foi realizada em até 2 meses,em 7,1% entre 3 a 6 meses e em 12,5 % tardiamente após 6 meses, porém não foram avaliadas complicações em relação ao período de realização da cranioplastia. Dados de literatura apontam para necrose asséptica do retalho em 21,9% dos casos principalmente em pacientes jovens e naqueles onde houve fragmentação do retalho ósseo (Dünisch et al, 2013). Nas fases tardias após a CD, a síndrome do trefinado pode conduzir a alterações cognitivas, psicológicas e déficits neurológicos. Os pacientes podem desenvolver déficit motor, de início tardio em membro superior contralateral. Postula-se que estes déficits ocorram devido ao desenvolvimento de edema intersticial em áreas de contusão subjacente ao defeito ósseo. Estes déficits são rápida e completamente revertidos após cranioplastia (Joseph, Reilly, 2009; Stiver 2009). No presente estudo não foi registrado caso de síndrome do trefinado. 60 6. Conclusões 61 O presente estudo de 56 pacientes com TCE grave submetidos à craniectomia descompressiva para tratamento da hipertensão intracraniana em traumatismo cranioencefálico grave permite concluir que: Entre os fatores estudados: idade, presença de alterações pupilares, pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão, tempo decorrido entre a admissão e o tratamento definitivo, achado tomográfico quanto à volume, tipo e associação de lesões intracranianas, desvio das estruturas da linha média e classificação tomográfica pelas escalas de Marshall e Rotterdam, apenas a presença de midríase com ausência de reflexo fotomotor, pontuação de quatro e cinco na ECGl, associação de lesões intracranianas, DLM superior a 15 mm correlacionam-se estatisticamente como fator preditivo de prognóstico desfavorável. Quanto aos dados epidemiológicos: 96,4% dos casos foram submetidos a CD unilateral com duroplastia de expansão sendo 53,6 % dos casos à direita, 42,9% à esquerda e 3,6% bilateralmente com predomínio na população jovem, até quarta década de vida e gênero masculino (83,9%). O mecanismo de trauma mais frequente, em 35,7% dos casos, é o atropelamento, seguido por queda de altura (19,6%). As principais complicações descritas relativas à técnica são: herniação transcalvárica com 17,9%, seguida de aumento do volume de contusões cerebrais (16,1%), higroma (16.1%), hidrocefalia (10,7%), aumento de volume de lesões contralaterais (5,3%) e fístula liquórica (3,6%). 62 7. Anexos 63 Anexo 1 Protocolo utilizado para registro dos dados do grupo de pacientes com traumatismo cranioencefálico grave submetidos a craniectomia descompressiva PROTOCOLO PARA OBTENÇÃO DE DADOS CRANIECTOMIA DESCOMPRESSIVA 1) Identificação Nome: at. Rg. Idade: sexo: cor: Endereço: tel: 2) Mecanismo do trauma Ac. Auto ( ) ac. Moto ( ) queda altura ( ) queda própria altura ( ) agressão ( ) atropelamento ( ) cinto segurança ( ) capacete ( ) desconhecido ( ) 3) Tempo decorrido trauma – atendimento Até 1h( ) 1-6h ( ) 6-12h ( ) 12-24h( ) >24h ( ) 4) Doenças associadas Discrasia ( ) anticoagulantes ( ) DM ( ) epilepsia ( ) HAS ( ) AVC ( ) Etilismo ( ) Síndrome demencial ( ) 5) Tomografia – Ressonância Hsd agudo ( ) HED ( ) contusão ( ) hip traumatica ( ) hsat ( ) 64 Frontal ( ) temporal ( ) parietal ( ) occiptal ( ) esquerdo ( ) direito ( ) bilateral ( ) Dlm 0-5 mm ( ) 5-10 mm ( ) 10-15 mm ( ) 15-20 mm ( ) > 20mm ( ) Volume <30ml ( ) volume 30-50ml ( ) volume > 50ml ( ) marshall III ( ) marshal IV ( ) marshall V( ) rotterdam 2( ) rotterdam 3( ) rotterdam 4( ) rotterdam 5( ) rotterdam 6 ( ) Índice de Zumkeller + ( ) 6) Fratura de crânio Sim ( ) não ( ) frontal ( ) temporal ( ) parietal ( ) occiptal ( ) direita ( ) esquerda( ) 7) Lesões associadas Hed ( ) hsd agudo ( ) contusão ( ) hsat ( ) hip ( ) Frontal ( ) temporal ( ) parietal ( ) occiptal ( ) direita ( ) esquerda( ) 8) Escala de coma de glasgow à admissão ECGl 4-5 ( ) ECGl 6-7 ( ) ECGl 8-9 ( ) 9) sinais e sintomas Cefaléia ( ) tonturas ( ) naúseas-vômitos ( ) crise convulsiva ( ) Hemiparesia ( ) d ( ) e ( ) desorientação ( ) dim. Nível de consciência ( ) Alt. Linguagem ( ) anisocoria E>D ( ) anisocoria D>E ( ) midríase ( ) 10) Tratamento Craniectomia descompressiva FTPO ( ) direita ( ) esquerda ( ) Craniectomia descompressiva bifronto temporal( ) duroplastia expansão( ) 11) Controle pós operatório 65 Ct perioperatória ate 3dias ( ) ct precoce 4-15 dias ( ) Ct tardia após 15 dias ( ) Dlm <5mm ( ) dlm 5-10mm ( ) dlm 10-15mm ( ) dlm >15mm ( ) hidrocefalia( ) Empiema ( ) hed ( ) hsd ( ) herniação transcalvárica ( ) 12) Complicações precoces Meningite( ) empiema ( ) hip ( ) aumento de contusões ( ) crise convulsiva ( ) Aumento de lesão contralateral ( ) herniaçao transcalvárica ( ) 13) complicações tardias Coleção sub dural/higroma ( ) herniação paradoxal ( ) sindrome do trefinado ( ) Hidrocefalia ( ) meningite ( ) rebsorção retalho ósseo ( ) 14) Evolução (ERGE) 1( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6( ) 7 ( ) 8 ( ) 15) relocação retalho Até 2 meses ( ) 2 a 6 meses ( ) após 6 meses ( ) 66 Anexo 2 Protocolo utilizado para registro dos dados do grupo de pacientes com traumatismo cranioencefálico grave submetidos à craniectomia descompressiva obtidos a partir dos prontuários médicos, referente a prognóstico e qualidade de vida após seis meses utilizando-se a Escala Estendida de Resultados de Glasgow (ERGE). 67 68 69 Anexo 3 Escala estendida de resultados de Glasgow – ERGE (Wilson et al,1997) A Escala de Resultados de Glasgow (ERG) é uma escala global para o resultado funcional do paciente em cinco categorias: Morto, estado vegetativo, incapacidade grave,incapacidade moderada ou boa recuperação. A Escala estendida de resultados de Glasgow (ERGE) fornece categorização mais detalhada em oito categorias, subdividindo as categorias de deficiência grave, moderada deficiência e boa recuperação em uma categoria inferior e superior: 1 Morte 2 Estado vegetativo 3 Deficiência grave inferior 4 Deficiência grave superior 5 Deficiência moderada inferior 6 Deficiência moderada superior 7 Boa recuperação inferior 8 Boa recuperação superior 70 Anexo 4 Classificação tomográfica de Rotterdam ( Maas et al, 2005) ______________________________________________________________ Características Pontuação ______________________________________________________________ Cisternas basais Normais 0 Comprimidas 1 Ausentes 2 0 a 5mm 0 > que 5mm 1 DLM Lesão focal epidural Presente 0 Ausente 1 Hemorragia intraventricular/HSA Somatório Presente 0 Ausente 1 +1 _____________________________________________________________ 71 Anexo 5 Classificação tomográfica de Marshall lesão cerebral difusa ( Marshall et al, 1991) Categoria I II III IV V VI Definição Ausência de lesão intracraniana visível na tomografia Cisternas presentes Desvio de linha média de 0 a 5 mm Ausência de lesão de densidade alta ou mista >25 ml Inclui fragmentos ósseos e corpos estranhos Cisternas comprimidas ou ausentes Desvio da linha média de 0 a 5 mm Ausência de lesão de densidade alta ou mista >25 ml Desvio da linha média >5 mm Ausência de lesão de densidade alta ou mista >25 ml Qualquer lesão submetida à tratamento cirúrgico Lesão > 25ml, densidade mista ou alta, não submetida à tratamento cirúrgico. 72 Anexo 6 Escala de Coma de Glasgow (Jennett, Bond, 1975) Resposta motora Obedece ordens 6 Localiza estímulos dolorosos 5 Flexão inespecífica 4 Decorticação 3 Descerebração 2 Sem resposta 1 Resposta verbal Orientado 5 Desorientado 4 Palavras desconexas 3 Sons incompreensíveis 2 Sem resposta 1 73 Abertura ocular Espontânea 4 À solicitação verbal 3 Aos estímulos dolorosos 2 Sem Resposta 1 74 8. 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Não há consenso na literatura sobre fatores prognósticos e complicações, apesar de trabalhos recentes randomizados e multicêntricos que demonstram efetividade no controle da HIC e diminuição da mortalidade, porém com prognósticos desfavoráveis quanto a recuperação funcional. O objetivo do estudo foi determinar fatores preditivos de prognóstico,descrevendo achados epidemiológicos e principais complicações nos pacientes que foram submetidos a CD para tratamento da HIC pós-traumática. Realizou-se estudo retrospectivo mediante análise da evolução clínica e neurológica, com uso da escala estendida de resultados de Glasgow (ERGE) de 56 (cinquenta e seis) pacientes consecutivos atendidos pela Disciplina de Neurocirurgia no Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo no período de Fevereiro de 2004 a Julho de 2012, com diagnóstico de TCE grave. Utilizaram-se testes Qui-quadrado e Exato de Fisher para análise de fatores independentes de prognóstico. Entre os fatores estudados: Idade,mecanismo de trauma, presença de alterações pupilares, pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão, tempo decorrido entre a admissão e tratamento definitivo, achado tomográfico quanto à volume, tipo e associação de lesões intracranianas, desvio das estruturas da linha média (DLM) e classificação tomográfica na escala de Marshall e Rotterdam, apenas a presença de midríase com ausência de reflexo fotomotor, pontuação de 4 e 5 na ECGl, associação de lesões intracranianas, DLM superior a 15 mm correlacionam-se estatisticamente como fator preditivo de prognóstico desfavorável. Quanto aos dados epidemiológicos os achados no estudo atual evidenciaram que 96,4% dos casos foram submetidos a CD unilateral com duroplastia de expansão sendo 53,6 % dos casos à direita, 42,9% à esquerda e 3,6% 89 bilateralmente com predomínio na população jovem, até quarta década de vida e gênero masculino (83,9%).As principais complicações descritas relativas à técnica foram: herniação transcalvárica (17,9%), seguida de aumento do volume de contusões cerebrais(16,1%), higroma (16,1%), hidrocefalia (10,7%), aumento de volume de lesões contralaterais (5,3%) e fístula liquórica (3,6%). Palavras chave: Traumatismos craniocerebrais, Craniotomia/métodos, Craniectomia descompressiva, Hipertensão intracraniana/cirurgia, Edema encefálico/cirurgia, Prognóstico 90 Abstract 91 Saade N. Evaluation of prognostic factors of decompressive craniectomy in the treatment of severe traumatic brain injury. Master [Dissertation. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2013. Intracranial hypertension (ICH) related to traumatic brain injury can cause catastrophic results in terms of prognosis including debilitating sequelae and death. In some cases, surgical treatment with drainage of focal lesions and even ventriculostomy associated with clinical management can control the ICH. A decompressive craniectomy (DC) consists of surgical procedure used as second level therapy for management of refractory ICH. There is no consensus in the literature on prognostic factors and complications, although recent randomized multicenter studies demonstrating effectiveness in controlling ICH, decreased mortality, but with unfavorable prognostic as functional recovery. The aim of the study was to determine predictors of prognosis, describing epidemiological findings and major complications in patients submitted to DC for treatment of post-traumatic ICH. A retrospective study was conducted by analyzing the clinical outcome, using the Glasgow outcome scale extended (GOSE) in 56 consecutive patients at the Emergency Center of Santa Casa de São Paulo from February 2004 to July 2012, with diagnosis of severe brain injury. We used chi-square test of independence and Fisher's exact analysis for independent prognostic factors. Among the factors studied: age, mechanism of injury, presence of pupillary changes, score on the Glasgow Coma Scale on admission, tomographic findings as volume, type and association of intracranial lesions,deviation of midline structures and tomographic scale of Marshall and Rotterdam; only the presence of mydriasis with no fotomotor reaction, scoring of 4-5 in GCS, association of intracranial lesions, DMS exceeding 15 mm correlate statistically as a predictor of poor prognosis. Regarding the epidemiological findings in the current study shows that 96.4% of patients underwent unilateral DC with expansion duraplasty with 53.6% of the cases on the right, 42.9% left and 3.6% bilaterally with predominance in the young population, until the fourth decade of life and males (83.9%). The major complications related to the technique described are transcalvaric herniation with 17.9% followed by increasing the volume of brain contusions (16.1%) higroma (16.1%), hydrocephalus (10.7%), increased volume contralateral lesions (5.3%) and CSF leak (3.6%). 92 Key words : Craniocerebral trauma, Craniotomy / methods, Decompressive craniectomy, Intracranial hypertension / surgery, Brain edema / surgery, Prognosis 93 Listas e Apêndices 94 Apêndice I - Aprovação do Comitê de Ética 95 96 Apêndice II TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O senhor(a) está sendo convidado(a) a participar do estudo “AVALIAÇÃO DOS FATORES PROGNÓSTICOS DA CRANIECTOMIA DESCOMPRESSIVA NO TRATAMENTO DO TRAUMATISMO CRANIENCEFÁLICO GRAVE” que tem como objetivo descrever os fatores associados ao prognóstico daqueles pacientes que foram submetidos ao método. A craniectomia descompressiva (CD) consiste em método cirúrgico indicado para redução imediata da pressão intracraniana (PIC). É geralmente indicada em casos de difícil controle da pressão intracraniana. Consiste em retirada de parte da calota craniana e ampliação de membrana denominada dura-máter para acomodar o cérebro inchado. O osso pode ser alojado temporariamente no tecido subcutâneo abdominal ou ser armazenado em banco de ossos para posterior reconstrução (cranioplastia) Os benefícios são: proporcionar um controle mais efetivo da pressão intracraniana evitando-se lesões secundárias a esta na tentativa de obter uma melhor evolução dos pacientes com trauma craniano grave. Os riscos de complicações são inferiores a 10%, consistindo em hemorragias locais , infecções relacionadas a cirurgia e desenvolvimento tardio de hidrocefalia (20%). O estudo será realizado mediante obtenção de dados por meio de análise do prontuário médico do paciente e aplicação de questionário para avaliar a qualidade de vida após o procedimento, por meio de entrevista direta com o paciente e/ou familiar ou via telefônica Haverá garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa e garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa; O sujeito da pesquisa pode se recusar ou mesmo pode desistir de participar da pesquisa sem riscos de ser penalizado no programa ou na instituição local de estudo . Os resultados da pesquisa serão posteriormente divulgados nesta instituição e publicados em revistas científicas; Este documento se encontra redigido em duas vias, sendo uma para o participante e outra para o pesquisador Telefone do pesquisador : 2176-7000 ramal 5574 97 Comitê de Ética em Pesquisa“ Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar do presente Projeto de Pesquisa.”; ______________________ Participante ___________________________ Responsável legal ___________________________________ Pesquisador DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA 1.Nome do sujeito de pesquisa ou responsável legal (no caso de responsável legal citar a natureza: grau de parentesco, tutor, curador, etc.); 2. Nº do documento de identidade; 3. Gênero; 4. Data de nascimento; 5. Endereço; 6. Telefone. 98 LISTAGEM DE FIGURAS Figura 1. Representação esquemática das hérnias cerebrais internas em decorrência de processo expansivo intracraniano -------------------------------------------------------------- 8 Figura 2. Representação esquemática do gráfico pressão X volume ------------------ 9 Figura 3a .Tomografia de crânio com hematoma epidural agudo --------------------- 11 Figura 3b. Tomografia de crânio com edema pós traumático e sinais de HIC.----- 11 Figura 3c. Tomografia de crânio com hematoma subdural agudo .--------------------- 11 Figura 4. Fluxograma de manejo terapêutico em lesões difusas---------------------- 16 Figura 5. Volume suplementar em relação ao diâmetro da craniectomia ----------- 17 Figura 6a. Representação esquemática de incisão tipo “question mark” ----------- 18 Figura 6b. Representação esquemática de incisão tipo Kempe ----------------------- 18 Figura 7a. Reconstrução tomográfica tridimensional pós CD --------------------------- 19 Figura 7b. Aspecto intra-operatório de craniectomia descompressiva unilateral previamente à abertura da duramáter ---------------------------------------------------------- 19 Figura 8. Distribuição dos pacientes em quartis quanto à idade ----------------------- 32 Figura 9. Distribuição de frequência dos principais mecanismos de trauma ----- 33 Figura 10. Distribuição das lesões traumáticas intracranianas em 56 pacientes submetidos a craniectomia descompressiva ----------------------------------------------------- 36 Figura 11. Distribuição por frequência das complicações no pós operatório em 56 pacientes submetidos a craniectomia descompressiva. ------------------------------- 42 99 Figura 12. Gráfico de dispersão entre escala de Rotterdam e prognóstico ----------- 43 Figura 13. Distribuiçao dos pacientes em quartis correlacionando idade ao prognóstico ---------------------------------------------------------------------------------------------- 44 100 LISTAGEM DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos pacientes submetidos a craniectomia descompressiva quanto ao gênero---------------------------------------------------------------------------------------- 32 Tabela 2. Distribuição dos pacientes submetidos a craniectomia descompressiva quanto aos mecanismos de trauma -------------------------------------------------------------- 33 Tabela 3. Doenças associadas em pacientes submetidos a craniectomia descompressiva ---------------------------------------------------------------------------------------- 34 Tabela 4. Distribuição da pontuação na escala de coma de Glasgow à admissão 34 Tabela 5. Intervalo de tempo entre admissão e tratamento cirúrgico ---------------- 35 Tabela 6. Distribuição das alterações pupilares ao exame de admissão -------------- 35 Tabela 7. Presença de lesões intracranianas ao exame de tomografia de crânio - 37 Tabela 8. Distribuição quanto ao volume das lesões intracranianas----------------------- 37 Tabela 9. Distribuição quanto ao desvio das estruturas da linha mediana avaliada pela tomografia de crânio ----------------------------------------------------------------------------------- 38 Tabela 10 . Distribuição quanto a pontuação na Escala de Marshall --------------------- 38 Tabela 11. Distribuição quanto a pontuação na Escala de Rotterdam ------------------- 39 Tabela 12. Distribuição quanto a pontuação na escala de Glasgow estendida após seis meses.------------------------------------------------------------------------------------------------------ 39 Tabela 13. Distribuição quanto ao tipo de craniectomia descompressiva --------------- 40 Tabela 14. Distribuição quanto ao tipo de duroplastia ---------------------------------------- 40 Tabela 15. Distribuiçao quanto a lateralidade da craniectomia ---------------------------- 40 101 Tabela 16. Intervalo de tempo em dias para controle tomográfico no pós operatório- 41 Tabela 17. Distribuição quanto ao desvio das estruturas da linha mediana (DLM) no pós operatório avaliado à tomografia de crânio ------------------------------------------------ 41 Tabela 18. Intervalo de tempo entre craniectomia descompressiva e cranioplastia-- 42 Tabela 19. Correlação entre escala de Marshall e prognóstico ----------------------------- 43 Tabela 20 . Distribuição os pacientes segundo o tempo estimado de atendimento e a pontuação na Escala de Coma de Glasgow ----------------------------------------------------- 45 Tabela 21. Correlação entre tempo decorrido entre a admissão e tratamento definitivo e prognóstico -------------------------------------------------------------------------------------------- 45 Tabela 22. Correlação entre pontuação crítica e Escala de coma de Glasgow e prognóstico pela escala resultados de Glasgow estendida (ERGE)---------------------- 46 Tabela 23. Correlação entre pontuação na escala de coma de Glasgow e óbito ---- 46 Tabela 24. Correlação entre prognóstico e presença de lesões intracranianas múltiplas ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 Tabela 25. Correlação entre prognóstico e desvio das estruturas da linha mediana *DLM ( Desvio das estruturas da linha mediana em mm à tomografia de crânio) ---- 47 Tabela 26. Correlação entre alterações pupilares e prognóstico avaliado pela escala estendida de resultados de Glasgow --------------------------------------------------- 48