APLICAÇÃO DE METOTREXATO INJETÁVEL PARA DOENÇAS REUMÁTICAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL A artrite reumatóide é uma doença inflamatória grave e limitante que afeta aproximadamente 1% da população (1). Leva geralmente a deformidades articulares, perda da capacidade para o trabalho e redução da renda, principalmente se tratada de modo inadequado ou tardio (1). Entre os tratamentos da artrite reumatóide, o metotrexato (MTX, fármaco que é considerado imunomodulador, e não quimioterápico no uso para doenças reumáticas) é o principal medicamento (2). O MTX ocupa esse posto por sua grande eficácia, segurança, custo barato e grande experiência de uso (2). Mesmo pacientes que usam os modernos e caros “medicamentos biológicos” devem estar usando MTX para aumento da eficácia do tratamento (2). O MTX também é utilizado com efetividade comprovada na artrite psoriática, lúpus eritematoso sistêmico, dermatomiosite e polimiosite, esclerose sistêmica, artrites idiopática juvenis, artrites associadas a doença inflamatória intestinal. Evidências diversas apontam que o MTX injetável (intramuscular ou subcutâneo) apresenta significativa superioridade com relação ao MTX dado por via oral (3,4). O MTX oral apresenta biodisponibilidade de aproximadamente 64% em média, variando de 21 a 96% entre diferentes indivíduos (5). Isso significa que, daquilo que é oferecido ao paciente na forma de comprimidos, somente 2/3 (em média) está disponível para atuar em nível tecidual e exercer efeito terapêutico. Além disso, há pacientes em que somente pouco mais de 20% do oferecido por via oral atingem os órgãos alvo (articulações). Nessas circunstâncias, que na verdade são bastante comuns, o uso do MTX por via oral leva a uma resposta terapêutica inferior àquela que pode ser obtida com o MTX injetável, que apresenta 100% de biodisponibilidade. Estudos clínico-epidemiológicos recentes comprovam a maior eficácia do MTX injetável com relação ao oral na população geral de pacientes com artrite reumatóide (3,4) e artrites idiopáticas juvenis (6). Provavelmente, se utilizassem nesses estudos somente pacientes que tiveram falha de tratamento com o MTX oral, a diferença na eficácia seria ainda mais marcada. Há diversas evidências de que o uso do MTX injetável pode abreviar a necessidade de tratamentos adicionais muito caros, como a leflunomida e agentes anti-fator de necrose tumoral (antiTNFs) (3,4,7,8), que representam vultuosos gastos para o Governo Federal. O MTX injetável também é muito útil naqueles pacientes que tem intolerância ao MTX oral, situação também muito comum na prática clínica. O MTX injetável é oferecido gratuitamente, sem entraves burocráticos e sem falhas de abastecimento (até o momento), de modo seguro e eficaz há muitos anos pelo Serviço de Reumatologia do GHC. Recentemente, a distribuição de seringas pré-preenchidas fui substituída por frascos com 2 mL (50 mg) de MTX para aqueles pacientes que aplicam em casa ou postos de saúde. Isso veio a qualificar e organizar melhor a distribuição do medicamento, facilitando a vida dos pacientes que moram longe do hospital ou cidades do Interior. Considerando-se também que os pacientes muitas vezes apresentam importantes dificuldades para sair de casa devido à rigidez matinal e da falta de recursos financeiros, o fornecimento de MTX injetável por nosso serviço apresenta grande relevância. O MTX injetável a partir de frascos de 2 mL (50 mg) apresenta segurança de uso pelos pacientes. No canadá, a Canadian Rheumatology Association apresenta orientações detalhadas e didáticas para pacientes que queiram auto-aplicar a medicação (9). Estudo realizado na Capital da Inglaterra, estimulou os pais a aplicarem MTX injetável nos filhos com as mãos protegidas por luvas (10). Artigo de revisão sobre cuidados de enfermagem para pacientes com artrite reumatóide asseverou a necessidade de reforçar estratégicas de autoaplicação de MTX injetável (11). Um estudo canadense concluiu que a auto-aplicação de MTX injetável reduz a utilização de serviços de saúde, é conveniente e poupa tempo e custos para o paciente (12). O MTX injetável também é distribuído pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul (mas com mais dificuldades e entraves burocráticos para os pacientes) e consta na forma de frascos de 25 mg/ml (2 ml) para uso da artrite reumatóide e outras doenças reumáticas (18). Essa informação é encontrada na lista de componentes especializados na Assistência Farmacêutica. A liberação dessa medicação, que é paga pelo Governo Federal, CERTAMENTE NÃO PODERIA ATUAR CONTRA QUALQUER RECOMENDAÇÃO DA ANVISA. O metotrexato injetável faz parte do Componente de Medicamentos de Dispensação Excepcional (CMDE) do Ministério da Saúde (19) e está indicado nos casos de artrite reumatóide com "falha terapêutica aos corticosteróides, para uso hospitalar, ou em pacientes tratados ambulatorialmente que necessitam de atendimento especializado...". Nesse documento, não há comentários recomendando cabines de segurança biológica para os domicílios dos pacientes ou postos de saúde (19). Referências: 1: Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezende-Fronza LS, Bertolo MB, Freitas MV, Silva NA, Louzada-Júnior P, Giorgi RD, Lima RA, Pinheiro GD.Brazilian Society of Rheumatology Consensus for the treatment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol. 2012 Apr;52(2):152-174. 2: da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB, de Freitas MV, da Silva NA, Louzada-Junior P, Giorgi RD, Lima RA, Pinheiro Gda R; Brazilian Society of Rheumatology. 2011 Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for diagnosis and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol. 2011 Jun;51(3):199-219. 3: Braun J, Kästner P, Flaxenberg P, Währisch J, Hanke P, Demary W, von Hinüber U, Rockwitz K, Heitz W, Pichlmeier U, Guimbal-Schmolck C, Brandt A; MC-MTX.6/RH Study Group. Comparison of the clinical efficacy and safety of subcutaneous versus oral administration of methotrexate in patients with active rheumatoid arthritis: results of a six-month, multicenter, randomized, double-blind,controlled, phase IV trial. Arthritis Rheum. 2008 Jan;58(1):73-81. 4: Bakker MF, Jacobs JW, Welsing PM, van der Werf JH, Linn-Rasker SP, van der Veen MJ, Lafeber FP, Bijlsma JW; Utrecht Arthritis Cohort Study Group. Are switches from oral to subcutaneous methotrexate or addition of ciclosporin to methotrexate useful steps in a tight control treatment strategy for rheumatoid arthritis? A post hoc analysis of the CAMERA study. Ann Rheum Dis. 2010 Oct;69(10):1849-52. 5: Hoekstra M, Haagsma C, Neef C, Proost J, Knuif A, van de Laar M. Bioavailability of higher dose methotrexate comparing oral and subcutaneous administration in patients with rheumatoid arthritis. J Rheumatol. 2004 Apr;31(4):645-8. 6: Alsufyani K, Ortiz-Alvarez O, Cabral DA, Tucker LB, Petty RE, Malleson PN. The role of subcutaneous administration of methotrexate in children with juvenile idiopathic arthritis who have failed oral methotrexate. J Rheumatol. 2004 Jan;31(1):179-82. 7: Griffin AJ, Erkeller-Yuksel F. Parenteral methotrexate should be given before biological therapy. Rheumatology (Oxford). 2004 May;43(5):678. 8: Bharadwaj A, Agrawal S, Batley M, Hammond A. Use of parenteral methotrexate significantly reduces the need for biological therapy. Rheumatology (Oxford). 2008 Feb;47(2):222. 9: Thompson A, Craig-Chambers MJ. Learning to Self Inject Methotrexate at Home. 2011. http://rheuminfo.com/wpcontent/uploads/2011/04/METHOTREXATE_INJECTION_SHEET.pdf [acessado em 05/04/2012]. 10: Livermore P. Teaching home administration methotrexate. Paediatr Nurs. 2003 Apr;15(3):28-32. of sub-cutaneous 11: Oliver S. Understanding the needs of older people with rheumatoid arthritis: the role of the community nurse. Nurs Older People. 2009 Nov;21(9):30-7. 12: Arthur AB, Klinkhoff AV, Teufel A. Safety of self-injection of gold and methotrexate. J Rheumatol. 1999 Feb;26(2):302-5. 13: Arthur V, Jubb R, Homer D. A study of parenteral use of methotrexate in rheumatic conditions. J Clin Nurs. 2002 Mar;11(2):25663. 14: Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO). Informe técnico N1\2010 - Manipulação de antineoplásicos Em UBS, PAs e PS. 2010. http://www.crfes.org.br/downloads/INFORME_TECNICO_%20N1_ONCOLOGIA.pdf [acessado em 05/04/2012]. 15: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução - RDC Nº 220, de 21 de setembro de 2004. http://pnass.datasus.gov.br/documentos/normas/121.pdf [acessado em 09/04/2012]. 16: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da diretoria colegiada - RDC nº 67, de 8 de outubro de 2007. http://189.28.128.100/dab/docs/legislacao/resolucao67_08_10_07.pdf [acessado em 09/04/2012]. 17: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da diretoria colegiada - RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. http://www.unifesp.br/reitoria/residuos/legislacao/arquivos/RDC_306_ANV ISA.Pdf [acessado em 09/04/2012]. 18: Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. Componente Especializado Assistência Farmacêutica. 2012 http://www.saude.rs.gov.br/dados/1325851447737Lista%20de%20Comp.%20Esp ecializado%20CiD%20Color.pdf [acessado em 09/04/2012]. 19: Ministério da Saúde. Da excepcionalidade às linhas de cuidado: O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 2010. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/da_excepcionalidade_as_ linhas_de_cuidado_o_ceaf.pdf [acessado em 09/04/2012]. Bibliografia suplementar: ● Feagan BG, Rochon J, Fedorak RN, Irvine EJ, Wild G, Sutherland L, Steinhart AH, Greenberg GR, Gillies R, Hopkins M, et al. Methotrexate for the treatment of Crohn's disease. The North American Crohn's Study Group Investigators. N Engl J Med. 1995 Feb 2;332(5):292-7. ● Nathan DM, Iser JH, Gibson PR. A single center experience of methotrexate in the treatment of Crohn's disease and ulcerative colitis: a case for subcutaneous administration. J Gastroenterol Hepatol. 2008 Jun;23(6):954-8. Epub 2007 Jun 7. ● Clark CA, Mehta BH, Pruchnicki MC, Rodis JL. The pharmacist's role in teaching methotrexate injection for patients with Crohn's disease. Am J Health Syst Pharm. 2006 Oct 1;63(19):1792-4. ● Garrick V, Atwal P, Barclay AR, McGrogan P, Russell RK. Successful implementation of a nurse-led teaching programme to independently administer subcutaneous methotrexate in the community setting to children with Crohn's disease. Aliment Pharmacol Ther. 2009 Jan;29(1):90-6. ● http://www.youtube.com/watch?v=UbgxZwL09pA [vídeo educativo demonstrando como é fácil a auto-aplicação do metotrexate injetável, acessado em 21/04/2012].