Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de

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Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
INTRODUÇÃO
É cada vez mais frequente nos consultórios pediátricos nos depararmos com a preocupação dos
pais acerca do desempenho acadêmico de seus filhos. Assim como é papel do pediatra manejar um
quadro de tosse ou febre, é importante que saiba como conduzir e orientar uma criança ou adolescente
que apresenta dificuldade de aprendizado.
Trata-se de um importante problema social, com prevalência estimada em 15 a 20% das crianças
na primeira série, podendo atingir até 50% das crianças nos seis primeiros anos de escolaridade1.
A causa da dificuldade de aprendizado nem sempre é atribuível às alterações neurológicas. Aqui se
faz necessária uma importante distinção entre dificuldade de aprendizado e transtorno de aprendizado.
Existem diversos fatores envolvidos no processo de aprendizagem e alterações na dinâmica de
qualquer um desses fatores podem dificultar o processo educacional, mesmo em uma criança que não
apresenta nenhuma alteração neurológica. Sendo assim, podemos definir dificuldade de aprendizado
como um termo genérico que abrange um grupo heterogêneo de problemas que podem alterar a
capacidade da criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para tal. Entre os
fatores que podem estar envolvidos na gênese da dificuldade escolar podemos citar fatores relacionados à
escola, à família, fatores emocionais e transtornos orgânicos1.
Já os transtornos de aprendizado compreendem uma inabilidade específica, como de leitura,
escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam uma performance significativamente abaixo do
esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual1.
O DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) classificava os transtornos de
aprendizagem em “Transtorno de leitura”, “Transtorno da matemática”, “Transtorno na expressão escrita” e
“Transtorno da Aprendizagem sem outra especificação”2 (Tabela 1).
O recém publicado DSM-5 traz uma nova abordagem dos transtornos de aprendizado, ampliando a
categoria com o intuito de aumentar a precisão do diagnóstico. Dessa forma, o “Transtorno de
aprendizagem específico” é agora um único diagnóstico global, que incorpora todos os déficits que
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afetam o desempenho acadêmico, embora disponibilize especificadores para “prejuízo em leitura”,
“prejuízo na expressão escrita” e “prejuízo em matemática”3.
Já a Classificação Internacional das Doenças (CID-10) traz uma classificação geral de
“Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares” (CID-10: F81)4 também com
subdivisões referentes às habilidades acometidas.
Tabela 1: Classificações dos Transtornos de Aprendizado segundo o DSM e o CID-10
DSM-IV
DSM-5
CID-10
315.00: Transtorno da leitura
315. Transtorno de aprendizagem
F81: Transtornos específicos do
315.1: Transtorno da
específico
desenvolvimento das habilidades escolares
F81.0: Transtorno específico da leitura
matemática
315.2: Transtorno da expressão
Especificadores:
F81.1: Transtorno específico do soletrar
escrita
315.00: com prejuízo na leitura
F81.2:Transtorno específico de habilidades
315.9: Transtorno da
315.1: com prejuízo em
aritméticas
aprendizagem sem outra
matemática
F81.3: Transtorno misto das habilidades
especificação
315.2: com prejuízo na expressão
escolares
escrita
F81.8: Outros transtornos do
desenvolvimento das habilidades escolares
Especificadores pela gravidade:
F81.9: Transtornos do desenvolvimento
- Leve
das habilidades escolares, não
- Moderado
especificado
- Grave
Sabe-se que quanto mais precoce for o diagnóstico de um transtorno de aprendizado e quanto
antes forem iniciadas as devidas intervenções, melhor é o prognóstico do paciente. Por se tratar de uma
alteração neurológica, o indivíduo sempre terá algum grau de disfunção, porém, com a intervenção
adequada, o impacto desta disfunção na funcionalidade do indivíduo passa a ser bem menor. Por outro
lado, diagnósticos tardios podem trazer graves repercussões. Estudos mostram que indivíduos portadores
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de transtornos de aprendizado tendem a se sentir desmoralizados, com baixa autoestima, e apresentam
déficits nas habilidades sociais. A taxa de evasão escolar pode chegar a 40% e na fase adulta podem
ocorrer dificuldades significativas no emprego e no ajustamento social. Há forte correlação com outros
transtornos psiquiátricos, como transtorno depressivo, transtorno de conduta, transtorno opositor
desafiador e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade2,5.
OBJETIVOS
Criar uma diretriz sistematizada, voltada para o pediatra geral, visando à avaliação do paciente com
queixa de dificuldade escolar.
POPULAÇÃO ALVO
Crianças em idade escolar e adolescentes que apresentam dificuldade de aprendizado.
POPULAÇÃO EXCLUÍDA
Crianças que ainda não foram alfabetizadas e indivíduos portadores de atrasos significativos no
desenvolvimento neuropsicomotor.
DEFINIÇÕES E CONCEITOS
Transtorno da leitura (dislexia): distúrbio específico do aprendizado, caracterizado por dificuldade no
reconhecimento adequado e fluente das palavras, na capacidade de soletrar e em outras funções
relacionadas à decodificação fonológica. Tem prevalência estimada: de 5 a 20% das crianças em idade
escolar 6-9 (Figuras 1 e 2).
•
Decodificação fonológica: implica na capacidade de dividir uma palavra em seus sons
constituintes, na conversão das letras em som e na combinação dos sons da fala para formar
palavras.
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•
Consciência fonológica: conjunto de habilidades que vão desde a simples percepção global do
tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas entre as palavras até a segmentação e
manipulação de sílabas e fonemas.
•
Pseudopalavras: junções de letras que, apesar de inexistentes na ortografia da língua do indivíduo
avaliado e não terem qualquer significado, obedecem às regras gerais de ortografia e pronúncia
desta língua (ex. muralito, cocarelo, borca).
Transtorno da matemática (discalculia): transtorno no qual o indivíduo tem dificuldade em adquirir
proficiência em matemática, a despeito de inteligência, oportunidade escolar, fatores emocionais e
motivação adequada. Não está relacionada com a ausência de habilidades matemáticas básicas, como
contagem, e sim à forma com que a criança associa essas habilidades com o mundo que a cerca. A
aquisição de conceitos matemáticos, bem como de outras atividades que exigem raciocínio, é afetada
nesse transtorno. Tem prevalência estimada: 3 a 6% das crianças em idade escolar1 (Figura 3).
Transtorno da expressão escrita (disgrafia): transtorno restrito a alterações da ortografia, ou caligrafia,
na ausência de outras dificuldades de expressão escrita. Trata-se de uma dificuldade de integração visualmotora que dificulta a transmissão de informações visuais ao sistema motor (a criança sabe o que quer
escrever, mas não consegue idealizar o plano motor)1.
Principais diagnósticos diferenciais que podem cursar com dificuldade de aprendizado1, 12-14:
•
Fatores escolares: metodologia de ensino inadequada às necessidades da criança ou
adolescente, condições físicas inadequadas da sala de aula, corpo docente despreparado, variação
normal do desempenho acadêmico.
•
Fatores socioambientais: ausência de estímulo adequado no ambiente domiciliar (ex. pais com
baixa escolaridade), história familiar de alcoolismo, drogadição ou violência doméstica, cobrança
desproporcional por parte dos pais quanto ao desempenho acadêmico da criança/adolescente.
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•
Fatores emocionais: depressão, ansiedade, fobias, transtorno opositor desafiador, conduta antisocial, bullying.
•
Fatores orgânicos:
o Dificuldades sensoriais (visual ou auditiva)
o Desordem no processamento auditivo central (DPAC): o processamento auditivo central
(PAC) refere-se aos mecanismos e processos realizados pelo sistema auditivo e é
responsável por: localização da fonte sonora, discriminação sonora, reconhecimento
auditivo, aspectos temporais da audição, desempenho auditivo com sinais acústicos em
competição e em situações acústicas desfavoráveis. A desordem do processamento
auditivo central pode ser definida como uma deficiência de uma ou mais dessas áreas. Não
é considerado um transtorno de aprendizado (e sim um transtorno sensorial), mas pode ser
causa adjacente de outros transtornos, principalmente ligados à linguagem. Segundo a
American Speech-Language Hearing Association (ASHA), o DPAC atinge 7% das crianças
em idade escolar, que costumam apresentar desatenção, dificuldade de memorização,
dificuldade de leitura, dificuldade em acompanhar uma conversa quando muitas pessoas
estão falando ao mesmo tempo, dificuldade em aprender a tocar instrumentos musicais e
costumam frequentemente solicitar a repetição de informações auditivas10,11.
o Comprometimento cognitivo: síndrome alcóolica fetal, anóxia neonatal, icterícia neonatal
grave, infecções congênitas, retardo mental, desnutrição, malformações de sistema nervoso
central.
o Prematuridade
o Transtorno do espectro do autismo
o Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
o Distúrbios do sono
o Traumatismos cranianos
o Intoxicação por chumbo
o Distúrbios de tireoide
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o Epilepsia (principalmente crises de ausência)
o Doenças crônicas que levam a faltas excessivas na escola (ex. fibrose cística, anemia
falciforme)
o Síndromes genéticas (ex. Síndrome do X-frágil, Síndrome de Down, Síndrome de Turner,
Síndrome de Willians) (Tabela 2).
Tabela 2: Síndrome de Williams e Síndrome do X-frágil
Síndrome de Williams
Síndrome do X-frágil
Incidência 1:10.000
Incidência: 1:2.000 homens e 1:4.000 mulheres
Mutação no cromossomo 7 (7q11.23), onde está Mutação no gene FMRI no cromossomo X
localizado o gene elastina
Sintomas:
atrasos
do
desenvolvimento
Sintomas: alterações cardiovasculares, atrasos do neuropsicomotor, hipotonia, macro-orquidia
desenvolvimento neuropsicomotor e dificuldade de
leitura, escrita e aritmética
Face
característica:
lábios
grossos,
sulco
nasolabial, aspecto da íris, estrabismo
Face característica: alongada
Frequente associação com autismo
Diagnóstico: análise molecular de mutações no
Diagnóstico: Micro-array ou teste FISH para
gene FMRI
avaliar deleção no gene da elastina
RECOMENDAÇÕES PARA A ABORDAGEM DO INDIVÍDUO COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
A abordagem do indivíduo com dificuldade de aprendizagem deve ser iniciada a partir de uma
anamnese direcionada que visa afastar os principais diagnósticos diferenciais.
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Deve-se iniciar com o inquérito dos antecedentes gestacionais e neonatais, seguido da idade de
aquisição dos principais marcos do desenvolvimento, com foco em atrasos de fala, dificuldade no
reconhecimento de letras, fonemas e números, dificuldade em entender rimas e nos atrasos motores.
Ainda neste âmbito deve-se questionar o histórico de internações, traumatismos cranianos, crises
convulsivas, exposição ao chumbo, doenças pré-existentes e medicações de uso habitual.
No que diz respeito aos antecedentes familiares, é importante que se questione o histórico de
doenças psiquiátricas (depressão, ansiedade, autismo, TOC, transtorno afetivo bipolar, etc.) e de
dificuldades acadêmicas entre os pais, irmãos e parentes próximos.
Em relação ao comportamento e desenvolvimento atual é fundamental que se trace um perfil
psicológico sumário do indivíduo (é alegre? Triste? Desatento? Muito agitado? Desafiador? Impulsivo?),
seu relacionamento com outras crianças/adolescentes (tem “grandes amigos” ou apenas “colegas”?), e a
presença de hábitos e comportamentos não usuais (ex. tiques, interesses muito restritos e profundos sobre
um mesmo tema). Deve-se questionar também o padrão de sono do indivíduo (horas de sono, qualidade,
roncos).
Por fim, deve ser realizado um inquérito escolar que aborde o ano que o paciente está cursando
atualmente, horário das aulas, se a escola é bilíngue, como foi o processo de alfabetização, quando teve
início a dificuldade de aprendizado, se a dificuldade é específica para alguma matéria ou é global e se
houve algum fator importante na vida do indivíduo que precedeu esta dificuldade (ex. separação dos pais,
mudança de escola, perda de algum ente próximo).
É importante que durante a anamnese também sejam feitos alguns questionamentos a fim de se
buscar indícios da presença de um transtorno de aprendizado. Por exemplo, são sinais que devem chamar
atenção para um possível quadro de dislexia o fato de a criança ter dificuldade para compreender um texto
quando ela mesma lê, mas conseguir compreende-lo se for lido por outra pessoa, dificuldade em fazer
jogos de rima, dificuldade em nomear objetos. Por outro lado, sinais que chamam atenção para uma
possível disgrafia são letras com formato distorcido, espaçamento irregular das letras e das palavras, uso
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incorreto do lápis. Já com relação à discalculia, sintomas que devem ser questionados incluem dificuldade
em ler corretamente o valor de números com muitos dígitos, memória pobre para fatos numéricos básicos
e erros na formação de números (que frequentemente ficam invertidos).
Terminada a anamnese deve-se proceder um exame físico geral, com foco no estado nutricional da
criança/adolescente, força e equilíbrio e na presença de estigmas sindrômicos.
É interessante que se faça também uma avaliação sumária da leitura do indivíduo (com atenção
para a fluência e trocas de fonemas), jogos de rimas e leituras de pseudopalavras, que escreva algumas
frases para que se possa observar sua grafia e que realize algumas operações matemáticas e questões
relativas a noção de magnitude numérica.
EXAMES E AVALIAÇÕES COMPLEMENTARES
Terminada a avaliação inicial o médico deve traçar suas principais hipóteses diagnósticas e solicitar
exames e avaliações complementares que julgar necessários para confirmar ou descartar tais hipóteses.
Exames complementares
•
Hemograma, proteína total e frações: caso seja observada alteração nutricional
•
TSH e T4 livre: frente a suspeita de distúrbios da tireoide
•
Cariótipo: frente a suspeita de Síndrome de Down ou Síndrome de Turner
•
Micro-array ou teste FISH para avaliar deleção no gene da elastina: frente a suspeita de Síndrome
de Williams
•
Análise molecular de mutações no gene FMRI: frente a suspeita de Síndrome do X-frágil
•
Nível sérico de chumbo: frente a suspeita de intoxicação por este metal
•
Eletroencefalograma: frente a suspeita de crises epilépticas
•
Ressonância nuclear magnética de crânio: frente a suspeita de malformações ou lesões no SNC
que possam cursar com prejuízos cognitivos
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Avaliações complementares
•
Audiometria
•
Avaliação oftalmológica
•
Avaliação do processamento auditivo central: se houver suspeita de desordem no processamento
auditivo central
•
Avaliação neuropsicológica: pode auxiliar principalmente se houver suspeita de alteração cognitiva,
uma vez que faz parte desta avaliação o teste WISC, que estima o QI. Além disso, também são
avaliados memória, atenção, linguagem, funções visuais e motoras, planejamento e outras funções
executivas.
•
Avaliação fonoaudiológica: pode auxiliar caso haja suspeita de dislexia ou desordem no
processamento auditivo central
•
Avaliação por psicomotricista: pode auxiliar caso haja suspeita de disgrafia
Ferramentas complementares
Além de exames complementares e avaliações por outros profissionais, o médico pode utilizar
questionários de screening padronizados que podem auxiliar a direcionar suas hipóteses diagnósticas.
•
SNAP ou Vanderbilt: frente a suspeita de TDAH
(SNAP: http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/diagnostico-criancas.html)
(Vanderbilt: www.lacare.org/sites/default/files/files/Complete%20ADHD%20Toolkit.pdf)
•
PHQ-9: frente a suspeita de depressão
(http://www.phqscreeners.com/pdfs/02_PHQ-9/PHQ9_Portuguese%20for%20Brazil.pdf)
•
SCARED: frente a suspeita de transtorno de ansiedade
(Versão em inglês: http://www.pediatricbipolar.pitt.edu/content.asp?id=2333
Trad. português: http://www.psiquiatriainfantil.com.br/escalas/scared.htm)
•
PSC-35 (Pediatric Symptom Checklist): avaliação sócio-emocional e psicossocial geral
(http://www.massgeneral.org/psychiatry/assets/PSC_Portuguese.pdf)
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•
CRAFFT: frente a suspeita de abuso de álcool e drogas
(http://www.ceasar-boston.org/CRAFFT/pdf/CRAFFT_Portuguese.pdf)
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
É extremamente importante que se faça uma avaliação diagnóstica cuidadosa, uma vez que a
abordagem terapêutica da dificuldade de aprendizagem irá variar conforme a causa desta dificuldade.
Caso tenha sido encontrado algum fator escolar, socioambiental, emocional ou orgânico que
justifique que o paciente venha apresentando um desempenho aquém do esperado, a conduta do médico
deve ser orientada no sentido de sanar este problema, seja através do aconselhamento referente à escola
ou ao ambiente socioambiental, seja por meio de intervenções psicológicas (caso tenham sido
identificados fatores emocionais) ou ainda do tratamento específico de um eventual transtorno orgânico1014
.
Caso a avaliação aponte para um transtorno do aprendizado, as abordagens terapêuticas
consistem em:
Dislexia: os programas de reabilitação devem incluir treinamento em decodificação fonológica, fluência,
vocabulário e compreensão. Mais tarde devem ser inseridos os conceitos de morfologia, sintaxe,
memorização de palavras e atividades de soletrar. Não há evidências científicas de que exercícios visuais
ou uso de lentes com filtros especiais tragam qualquer benefício no tratamento da dislexia. O tratamento
pode ser desenvolvido por um fonoaudiólogo, pedagogo ou outro profissional habilitado para tal.
Os professores devem ser orientados a não expor a criança à leitura em voz alta na sala de aula, a utilizar
estratégias de ensino multissensoriais (como gravuras, fotografias, músicas), se possível realizar algumas
avaliações orais e não apenas por escrito e permitir que o aluno utilize um tempo maior para desempenhar
atividades que exijam grande carga de leitura ou escrita.
Os pais devem ser orientados a estimular a leitura em casa, para treinamento da compreensão e da
fluência1,6,7.
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Disgrafia: as intervenções visam organizar a percepção e o controle corporal, através da dissociação de
movimentos, da representação mental do gesto necessário para o traço e da coordenação visuomotora.
Técnicas de relaxamento também podem ajudar. O tratamento pode ser desenvolvido por um
psicomotricista, terapeuta ocupacional ou outro profissional habilitado para tal.
Os
professores
devem
ser
orientados
a
corrigir
erros
específicos
do
grafismo,
como
a
forma/tamanho/inclinação das letras, o aspeto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das
margens/linhas, e a elogiar a criança pelo seu esforço, visando melhorar sua autoestima1.
Discalculia: as intervenções visam superar as dificuldades de percepção visuoespacial, através da
percepção de figuras e de formas, da observação de detalhes (semelhanças e diferenças) e da relação
com experiências do dia-a-dia. Os principais conteúdos que o indivíduo deve trabalhar são a percepção
espacial, ordens e sequencias, representação mental de tamanhos, conceitos de números e operações
aritméticas. O tratamento pode ser desenvolvido por um fonoaudiólogo, pedagogo ou outro profissional
habilitado para tal1.
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Fluxograma 1: Fluxograma de abordagem da dificuldade escolar
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Dificuldade de
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•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Anamnese:
Antecedentes gestacionais e neonatais
Marcos do desenvolvimento
Antecedentes pessoais (internações, TCE, crises convulsivas,
exposição à chumbo, doenças pré-existentes, medicações)
Antecedentes familiares (dificuldade escolar e psicopatologia)
Perfil psicológico, comportamentos não usuais
Sono
Dados referentes à escola e às dificuldades apresentadas
Exame físico (estado nutricional, força, equilíbrio, estigmas
sindrômicos)
Avaliação da leitura (fluência, troca de fonemas), jogos de
rimas, leitura de pseudopalavras
Avaliação da escrita
Resolução de algumas operações matemáticas e questões
relativas à magnitude numérica
Hipóteses
diagnósticas iniciais
Exames
complementares
Avaliações
complementares
Encaminhamento
para especialista
Sim
Transtorno de
aprendizado?
(dislexia, discalculia,
disgrafia)
Ferramentas de
screening
Não
• Terapia com profissional
habilitado
(fonoaudiólogo,
pedagogo,
psicomotricista, TO)
• Orientação do paciente,
pais e escola
Diag. diferenciais:
• Fatores escolares
• Fatores
socioambientais
• Fatores emocionais
• Fatores orgânicos
Conduta conforme a
causa encontrada
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Transtorno de aprendizado da leitura: Dislexia
Circuitos cerebrais envolvidos com a leitura
Porção posterior do giro temporal
superior, giros angular e
supramarginal: Área responsável pela
análise fonológica e segmentação das
unidades que a compõe a palavra
Circuito têmporo-parietal :
a→b+d
• Transformação do grafema em fonema
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• Formação da estrutura sonora
• A interpretação semântica da palavra, ocorre apenas
Área visual situada nos lobos DiretrizAssistencial
após a decodificação da mesma e é efetuada em áreas
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occipitais de ambos os
do giro temporal médio ventral inferior
hemisférios,
é
ativada
inicialmente
Avaliação de crianças e adolescentes com
dificuldade de aprendizado
durante a visualização da palavra a
Transtornos de
aprendizado
Dislexia
ser lida
Figura 1:
Circuito têmporo-occipital ou via direta:
Porção posterior do giro temporal superior,
giros angular e supramarginal,
ativadas principalmente durante o
processo de análise fonológica de
uma palavra, ou seja na segmentação das
unidades que a compõe
Área de Broca, participa
no processo de
decodificação fonológica
• A área C é ativada já no momento da análise visual da
palavra, permitindo transferência direta e praticamente
simultânea da análise ortográfica para o significado
• Esta via é ativada durante a leitura de palavras
regulares (que apresentam correspondência entre letra
e som) e mais comumente utilizadas em um momento
de maior experiência do aprendiz, que já teve contato
com elas inúmeras vezes
• Está região cerebral participa também na análise de
palavras irregulares (que não representam estrutura
sonora da língua, necessitando ser conhecidas por
processos de memorização)
Casella, Amaro & Costa, 2008
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PRATICA MEDICA
ASSISTENCIAL
MEDICO
Status
Aprovado
Versão
1
Data Criação
Data Revisão
DI.ASS.49.1
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Aprovado por
Elda Maria Stafuzza
Gonçalves Pires
Eduardo Juan Troster
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14/09/2014
Adriana Vada
Souza Ferreira |
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19/11/2014
Tipo Documental
DiretrizAssistencial
Título Documento
Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
Figura 2: Transtornos de aprendizado - Dislexia
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Transtorno de aprendizado da leitura: Dislexia
Teoria para etiologia dos transtornos de aprendizado: ausência
de dominância de um dos hemisférios cebebrais
Tipo Documental
Quando suspeitar de dislexia?
DiretrizAssistencial
Título Documento
Avaliação de crianças e adolescentes com •dificuldade
aprendizado
Dissociaçãode
entre
dificuldade de leitura e
•
•
•
•
•
Shaywitz & Shaywitz, 2008
Shaywitz, 2003
•
desempenho em outras áreas
acadêmicas
Consegue compreender um texto
quando outra pessoa lê
Dificuldade em compreender e fazer
jogos de rima
Muitos erros em ditados
Dificuldade em nomear objetos
Dificuldade em testes de subtrair letras
ou sílabas de uma palavra e identificar a
palavra que “sobra” (ex. “LUVA menos L”)
Dificuldade na leitura de pseudopalavras
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Transtorno de aprendizado da leitura: Discalculia
frente
Memória verbal
(cálculo exato,
multiplicação)
Área de
Broca
Discalculia
Tipo Documental
DiretrizAssistencial
Figura 3:
Dificuldade
Título Documento
Sulco
Avaliação
de crianças eem
adolescentes comTDAH
dificuldade
matemática
intraparietal
Transtornos
de aprendizado
(Discalculia)
nem sempre é
horizontal
discalculia!
Giro
angular
esquerdo
Ansiedade de
matemática
Magnitude numérica
- Não reconhece magnitude
numérica
- Dificuldade em lidar com números
- Dificuldade em ler números com
vários dígitos
- Troca sinais
- Esquece que “emprestou”
- Erros por “descuido”
de aprendizado
- Tensão e apreensão ao lidar com
operações matemáticas
- Ativação cerebral de áreas
relacionadas com ansiedade e medo
(comparação / subtração)
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Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Rotta NT, Ohlweiler L, Riesgo RS. Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e
Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed; 2006.
2. American Psychiatric Association. Disorders first diagnosed in infancy, childhood and adolescence.
Diagnostic and statistical manual of mental disorders fourth edition. Washington, DC: American
Psychological Association; 1994. p 46–52.
3. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed).
Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. 2013.
4. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID-10: Classificação Internacional de Doenças. São
Paulo : EDUSP, 1994, 1ª ed.
5. Pratt HD, Patel DR. Learning disorders in children and adolescents. Prim Care. 2007;34:361-74.
6. Casella EB, Amaro Jr E, Costa JC. As Bases Neurobiológicas da Aprendizagem da Leitura e
Escrita. In: Araujo A. Aprendizagem Infantil: Uma abordagem da neurociência, economia e
psicologia cognitiva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências; 2011. p. 37-78.
7. Handler SM, Fierson WM, Section on Ophthalmology; Council on Children with Disabilities;
American Academy of Ophthalmology; American Association for Pediatric Ophthalmology and
Strabismus; American Association of Certified Orthoptists. Learning disabilities, dyslexia, and vision.
Pediatrics. 2011;127:e818-56.
8. Shaywitz SE, Shaywitz BA. The science of reading and dyslexia. J AAPOS. 2003;7:158-66.
9. Shaywitz SE. Dyslexia. N Engl J Med. 1998;338:307-12.
10. Barreto MASC. Caracterizando e correlacionando dislexia do desenvolvimento e processamento
auditivo. Rev. psicopedag. 2009;79:88-97.
11. American Academy of Audiology. Guidelines for the Diagnosis, Treatment and Management of
Children and Adults with Central Auditory Processing Disorder. 2010.
12. Hamilton SS, Glascoe
FP.
Evaluation
of
children
with
reading
difficulties.
Am
Physician. 2006;74:2079-84.
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Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
13. Bernstein S, Atkinson AR, Martimianakis MA. Diagnosing the learner in difficulty. Pediatrics.
2013;132:210-2.
14. Lyon GR. Learning disabilities. Future Child. 1996;6:54-76.
ELDABORAÇÃO DESTE DOCUMENTO
Autoria: Mariana Facchini Granato
Participantes do Núcleo de Pediatria Baseada em Evidências à época da discussão: Bianca Seixas
Soares Sgambatti, Debora Ariela Kalman, Denise Varella Katz, Eduardo Juan Troster, Elda Maria Stafuzza
Gonçalves Pires, Eliana Paes de Castro Giorno, Fernanda Viveiros Moreira de Sá, Flavia Feijo Panico
Rossi, Heloisa Amaral Gaspar Gonçalves, Luciana dos Santos Henriques Sakita, Marcela Asanuma
Odaira, Marcelo Luiz Abramczyk, Victor Nudelman.
RESUMO
Descrição em forma de resumo para acesso em meios alternativos de conectividade como tablets ou
celulares
ANEXOS
DOCUMENTOS RELACIONADOS
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00
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Avaliação de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado
Eduardo Juan Troster (11/11/2014 01:49:00 PM) - Diretriz para avaliação inicial da criança e adolescente
com dificuldade de aprendizado.
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