Economia Argentina - Universidade de Coimbra

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Processos de Gestão
TRABALHO
Trabalho #1
Título: Economia Argentina: O estudo de um caso.
Resumo: Tenta analisar a situação actual da economia Argentina e também fazer uma
retrospectiva da crise dos últimos anos e soluções adoptadas para a combater.
URL: http://student.dei.uc.pt/~jpferr/PG/artigo1.htm
Data: 20 Dezembro 2003
Esforço:
Motivação: Acompanhei, através dos “media”, a grave crise económica que afectou a
Argentina nestes últimos anos e tenho um amigo que trabalhou na Argentina como
economista durante 2001 e 2002.
Aprendizagem: Aprendi a elaborar com mais rigor um artigo científico.
Conteúdos: A crise económica Argentina, as soluções adoptadas e a situação actual.
Processos: Desenvolvi processos de pesquisa e conversei com um amigo que viveu a
situação na Argentina.
Futuro: Tendo como base este artigo, espero no futuro vir a desenvolver mais artigos em
que a economia e, não só um caso específico, seja o tema a analisar.
Sequência: Até à data ainda não recebi nenhum comentário.
Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra
2003/2004
Licenciatura em Engenharia Informática
PROCESSOS DE GESTÃO
Economia Argentina : O estudo de um caso.
por João Pedro Monteiro
Autor e filiação
João Pedro Monteiro
Departamento de Engenharia Informática
Universidade de Coimbra
[email protected]
Sumário
Dentro dos limites possíveis, tentar explicar a crise económica que afectou a Argentina após
a desvalorização do peso em Dezembro de 2001 (principais motivos) e apresentar algumas
das soluções adoptadas para a sua resolução.
Palavras-Chave
Crise Económica, Inflação, Soluções
Resumo
A consequência da crise, não é tarefa simples. Porém, uma das principais
consequências da política económica adoptada na Argentina é clara e o povo argentino vem
sofrendo muito com ela: a inflação.
Como consequência da liberalização da economia e da abertura comercial irrestrita,
destruiram-se milhões de postos de trabalho.
A queda da actividade económica começou a prejudicar o ingresso do Estado,
fortemente ligado à actividade económica. Com a “Convertibilidade” impedindo a emissão
monetária e uma recuperação em permanente retrocesso, a única via para financiar o gasto
do Estado era a emissão da dívida.
É difícil imaginar o que pode acontecer daqui para frente. A desvalorização do câmbio
tornou o país mais competitivo internacionalmente, permitindo um incremento nas
exportações em relação ao PIB, que podem ditar o caminho de uma recuperação futura.
O país teve que passar por um longo período de ajustes, com o empobrecimento da
população, altas taxas de desemprego e inflação e fraco desempenho económico.
“Quando é que tudo isto vai acabar?” é a pergunta tipo que se faz e para que
algumas pessoas tentam arranjar solução.
Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra
2003/2004
Licenciatura em Engenharia Informática
PROCESSOS DE GESTÃO
1. Introdução
A economia argentina foi afectada no final da década de 90 e em 2001-2002 por uma
série de “pragas” que fazem lembrar os flagelos bíblicos que afectaram o Egipto.
Podemos enumerar estas “pragas” em 7, são estas:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
O desemprego, presente desde a era da “Convertibilidade”;
Os consumidores desconfiados, que gastam cada vez menos;
Uma economia não competitiva num mundo globalizado;
O ciclo vicioso da economia;
Um Estado que se individa e não evolui;
A implusão do sistema financeiro;
O fantasma inflacionário.
2. A crise e a situação actual
Como consequência da liberalização da economia e da abertura comercial irrestrita,
destruiram-se milhões de postos de trabalho. Mas além dos postos de trabalho considerados
“desemprego encoberto” em empresas públicas, o desemprego passou a ser um flagelo que
alcançou o seu pico em 1995, como consequência do Efeito Tequilla e um segundo pico em
Maio de 2002, depois da desvalorização do peso. A melhoria observada desde então
corresponde maioritáriamente à implementação de planos sociais e em muitos poucos casos
da criação de emprego genuíno.
No segundo trimestre de 2003 o gasto de consumo representou 64% do PIB
argentino, portanto, um grupo de consumidores desconfiados, um importante entrave para o
crescimento da economia. Tendo em conta tudo isto entende-se que o governo actual
procure aumentar o dinheiro no bolso do consumidor para dinamizar a economia interna.
Gerar confiança aos consumidores não depende unicamente desta medida, depende também
da implementação de um plano credível que deixe para trás toda a desconfiança que se
gerou no final dos anos 90.
Sete anos após ter dominado a inflação com a “Convertibilidade” e uma abertura
comercial veloz e sem restrições, a Argentina encontrou-se perante uma dura realidade: a
maioria dos países emergentes tinham desvalorizado a sua moeda face ao dólar após as
sucessivas crises dos 90, menos a Argentina, que pouco tinha feito para melhorar a sua
competitividade interna, tendo a sua moeda presa ao dólar.
Com um tipo de câmbio muito baixo, a economia argentina foi aumentando o seu
défice comercial e, o que em príncipio foi visto pelos mercados financeiros como parte de um
processo de “cath up” da Argentina com o resto do mundo, passou rapidamente a ser visto
como um desiquilíbrio macroeconómico importante.
A crise de 2001-2002 funcionou à maneira clássica dos ajustes das economias
emergentes, provocando uma queda violentíssima na importações (caíram 70,8% entre
Março de 2001 e Março de 2002).
Considerando a má situação do mercado interno e a má posição competitiva em
relação ao exterior, a economia começou um ciclo de “baixa” desde 1998 até 2001.
Contando com um câmbio muito baixo e um nível de preços muito baixos para os
produtos que a Argentina exporta, a expiral baixista terminou, atacando em força na área
industrial, que toma maioritáriamente conta da procura doméstica. Convém dizer que a
Argentina segue sendo um grande exportador agrícola, mantendo o mesmo nível nos
últimos 100 anos.
A queda da actividade económica começou a prejudicar o ingresso do Estado,
fortemente ligado à actividade económica. Com a “Convertibilidade” impedindo a emissão
monetária e uma recuperação em permanente retrocesso, a única via para financiar o gasto
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do Estado era a emissão da dívida. É claro que em finais dos anos 90, a Argentina deixou de
ser a “menina mimada” dos mercados, seja por defeitos próprios ou não, já que as
sucessivas crises do México, Ásia e Rússia tinham elevado a níveis perigosos a aversão dos
investidores face aos países emergentes. Foi assim que a Argentina se encaminhava para
“um poço sem fundo” e enquanto os mercados o permitiram, aumentou a divida criando um
efeito crowding out importante.
O governo de De la Rúa foi-se tornado cada vez mais frágil ao largo de 2001, ao
mesmo tempo que se fazia prever um, cada vez mais evidente, colapso no sistema bancário.
Os depósitos bancários caíam em flecha visto haver uma enorme desconfiança e ao mesmo
tempo havia um processo de fuga de capitais que dizimou as reservas internacionais.
Como já não bastasse o calvário de 1998-2001, o fantasma da inflação, tão bem
conhecido dos argentinos, pairava no ar. Em 2002 o aumento generalizado dos preços
regressou e ameaçou um hiperinflação, sobretudo devido ao pico inflacionário de Abril de
2002, quando os preços ao consumidor aumentaram mais de 10%.
Graças à recessão mais importante do país e à que o mercado percebeu que com um
câmbio de 4 por dolar o Banco Central poderia retirar de circulação todos os pesos, o
mercado de transacções estabilizou e a pressão inflacionária cedeu. Desde então o Banco
Central aplica uma sorte de Convertibilidade não declarada, cujo tipo de câmbio de
referência se foi ajustando ao mais baixo.
A inflação estabilizou quase nos níveis mensais da Convertibilidade e só no final de
2003 é que se registou uma subida na inflação que está dentro dos limites previstos para
2004.
2.1 – A inflação na Argentina
A consequência da crise, não é tarefa simples. Porém, uma das principais
consequências da política económica adoptada na Argentina é clara e o povo argentino vem
sofrendo muito com ela: a inflação. Uma estimativa feita para 2002 pela revista Business
Week indicava valores na ordem dos 108,5%, um valor elevadíssimo.
A Argentina vinha de um período de baixíssimas taxas de inflação, chegando a três
anos consecutivos de deflação. A paridade com o dólar fazia com que os preços fossem
altamente estáveis no país. Porém, com o fim da âncora cambial, a elevação dos preços
passou a ser uma das principais preocupações do Presidente Duhalde. Os preços dos
alimentos aumentaram cerca de 33% em Janeiro de 2002 e a população está cada vez mais
“empobrecida”. A preocupação é tanta que o governo está a criar “centros de descontos”, ou
seja, uma espécie de feiras onde pequenos produtores vendem os produtos de alimentação
básica directamente aos consumidores. Em 2002, cerca de 54% da população argentina vive
abaixo da linha de pobreza enquanto que em 2001 eram cerca de 35%.
Os argentinos precisam conviver hoje com algo que já não viam há bastante tempo:
a “inflação galopante”. Quando atrelou o peso ao dólar, em 1991, o país parecia livre da
ameaça inflacionária. Mas desde que Duhalde liberou o câmbio, a moeda argentina já perdeu
mais de 70% de seu valor frente à moeda norte-americana, elevando os preços em todos os
sectores da economia. A inflação aumenta a cada dia que passa e os economistas esperam
que ela chegue a mais de 100% neste ano. Quando o Brasil desvalorizou o “real”, em 1999,
a inflação foi de apenas 8,9%.
Apesar de ser bem provável que os argentinos ainda tenham de enfrentar um longo
período de hiperinflação, o cidadão argentino está a adoptar estratégias de sobrevivência
baseadas na experiência da década de 80, quando a inflação chegou aos quatro dígitos. Do
agricultor às autoridades, todos estão guardando dólares para se protegerem da inflação, o
que acaba alimentando ainda mais o processo inflacionário, já que a demanda pela moeda
americana desvaloriza ainda mais o peso argentino. Após seis meses de depósitos
congelados, é muito difícil que os dólares voltem para os bancos argentinos, a não ser que
eles paguem uma taxa de juros em torno de 125% ao ano.
Os consumidores não são os únicos a alterarem os seus hábitos. O governo argentino
já emitiu mais de 3,5 biliões de pesos em 2002, no intuito de manter a liquidez do sistema
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financeiro. E essa cifra não se inclui os cerca de 5 biliões de pesos emitidos em títulos pelas
províncias argentinas para saldar as suas dívidas. As estimativas indicam que a oferta de
moeda argentina já cresceu mais de 40% desde Dezembro de 2001.
A inflação é ainda mais preocupante se analisarmos o desempenho da economia.
Após quatro anos mergulhada numa desaceleração, o PIB da Argentina deve diminuir cerca
de 16% neste ano. A demanda interna entrou em colapso e as empresas fazem o que
podem para repassar aos preços os aumentos de custos. Para tentatem manter-se “vivas”,
muitas companhias demitem funcionários e sacrificam as margens de lucro.
O governo vem resistindo aos pedidos da população para que haja um grande
aumento salarial, ou, pelo menos, que haja a indexação em relação à inflação, uma prática
bastante comum em períodos de hiperinflação. Mas com 54% da população vivendo abaixo
da linha de pobreza, é provável que os governantes sejam obrigados a ceder.
- Informações sobre as importações/exportações argentinas e sobre o PIB do país:
Alguns sectores já mostram sinais de melhoria. O sector têxtil parece iniciar um
processo de substituição de importações e as exportações agrícolas e siderúrgicas
aumentaram bastante. O sector siderúrgico aproveitou a alta do câmbio e tornou-se mais
competitivo. A indústria de alimentos, principalmente de carnes, é um exemplo de
exportações, que não ocorrem somente devido ao câmbio. O país exporta mais carne porque
recuperou a sua cota de exportação, já que está já há dois anos sem registar um caso de
febre aftosa. O sector têxtil parece estar a ganhar um impulso, já que a desvalorização do
câmbio tornou os produtos asiáticos muito caros. Porém, alguns economistas observam que
esta recuperação do setor têxtil trata-se apenas de uma substituição de importações, que
não impulsiona em nada a economia, isto é, apenas impede que sofra uma desaceleração
ainda maior. Tais melhorias não podem ainda ser vistas como uma tendência de recuperação
económica, pois o endividamento das empresas é grande, há falta de crédito, e o
desemprego ainda é muito alto, o que impede o desenvolvimento do mercado interno.
É difícil imaginar o que pode acontecer daqui para frente. A desvalorização do câmbio
tornou o país mais competitivo internacionalmente, permitindo um incremento nas
exportações em relação ao PIB, que podem ditar o caminho de uma recuperação futura.
Especialistas acreditam que o PIB vai cair 18% em 2002, o pior desempenho desde a
Primeira Guerra Mundial. Para alguns, a recuperação vem somente após 2003. O país teve
que passar por um longo período de ajustes, com o empobrecimento da população, altas
taxas de desemprego e inflação e fraco desempenho económico.
“Quando é que tudo isto vai acabar?” é a pergunta tipo que se faz mas que
“ninguém” sabe ainda responder.
2.2 – Possíveis soluções
2.2.1 – Plano completo para reactivar a Economia Argentina segundo Kurt Shuler
(do Comité Económico dos EUA):
A crise da moeda e a depressão económica têm sido causadas pelas más políticas dos
governadores – não pelos bancos, pelo Fundo Monetário Internacional (apesar dos seus
maus conselhos) ou por quaisquer outros motivos. Os governos de De la Rúa e de Duhalde
tiveram equívocos enormes, como por exemplo: o aumento das taxas de impostos, o
congelamento dos depósitos bancários, a desvalorização do peso e a conversão dos
depósitos e contratos bancários de doláres para pesos. Isto quer somente dizer que está
tudo sob o controlo do governo e sujeito a ser confiscado, o que implica que ninguém
produza, poupe ou invista na Argentina.
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Shuler propõe então um programa detalhado para “por de pé” a Argentina:

“Dolorizar” oficialmente, convertendo todos os activos, passivos e preços em pesos
em dólares;

Permitir aos bancos que emitam as suas próprias notas, em dólares;

Vender os bancos do estado;

Libertar os depósitos bancários;

Reduzir abruptamente as taxas de impostos
2.2.2 – Proposta económica do “Polo Social”:
O objectivo do Polo Social pretende reactivar a economia mediante a produção, o
trabalho e a redistribuição do ingresso e acenta nos principais pontos seguintes:
1. Novo tipo de câmbio – um peso igual a um real, transitóriamente fixo e com control
de cambios para que se avance para um moeda única e um Banco Central comum.
2. Acordo Produtivo Nacional – uma aliança entre os sectores de produção e do trabalho
com a participação do Governo.
3. Plano Nacional de Obras Públicas – seria um programa bianual de obras públicas com
especial ênfase na construção de casas para o povo, no desenvolvimento das
infraestruturas das estradas e na recuperação das terras com fins produtivos.
4. Reforma do Sistema Bancário e Financeiro – reorientar o crédito e redefinir os papeis
e objéctivos dos bancos estatais.
5. Renegociação da Dívida Externa – a dívida externa argentina transformou-se numa
carga impossível de sustentar pelas actuais condições económicas.
2.2.3 – Política Económica segundo a campanha do actual presidente eleito da
Argentina - Néstor Kirchner:
O objectivo básico da política económica será assegurar um crescimento estável, que
permita uma expansão da acitividade e do uso constante, sem as bruscas oscilações dos
últimos anos. O resultado deverá ser a duplicação da riqueza cada 15 anos e uma
distribuição tal que assegure uma melhor distribuição dessa mesma riqueza.
É necessário promover políticas activas que permitam o crescimento económico do
país, gerar novos postos de trabalho e uma melhor e mais justa distribuição do ingresso.
Como se compreenderá o Estado terá nisso um papel preponderante.
O consumo interno estará no centro da estratégia de expansão. O poder de compra
do povo deverá crescer progressivamente tendo em conta os salários, o número de pessoas
que trabalham e o número de horas trabalhadas.
O equilíbrio fiscal deve ser cuidado e deverá acentar sobre dois pilares: gasto
controlado e eficiente e impostos que premeiem o investimento e a criação de emprego.
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Fiscalização aos impostores, pois a fuga é a principal arma contra a solidariedade social que
se exige.
No que respeita à divida externa os credores têm de perceber que só podem cobrar à
Argentina quando esta estiver regularizada económicamente, pois caso contrário só se criará
mais pobreza e mais conflitos sociais entre os argentinos. O governo seguirá princípios
firmes de negociação com os credores para a redução do tamanho da dívida, da taxa de
interesses e para uma extensão do prazo de pagamento.
O país deverá estar “aberto ao mundo”, mas de uma maneira realista, disposto a
competir em áreas de política de preferência regional – fundamentalmente através do
Mercosur.
3. Conclusões
Com este artigo julgo ter conseguido resumir a crise económica que afecta a
Argentina desde 2001. Apresentei também algumas soluções propostas para a resolução
desta mesma crise e fiz uma breve análise à situação económica que o país atravessou
em 2001 e 2002.
Agradecimentos
Agradeço, mais uma vez, ao professor da cadeira de Processos de Gestão, António
Dias Figueiredo e também a todos os colegas que lerem este artigo.
Referências
Para a escrita do artigo consultei os seguintes “sites” e pessoas:
Sites:
http://www.cambiocultural.com.ar/actualidad/consigna.htm
https://www.invertironline.com//Contenido/Actualidad/Articulo_Act.asp?i
d_research=6742
http://www.clubmacro.org.ar/Ecoarg.htm
http://www.mecon.gov.ar/
http://www.elcato.org/com20_fixingargentina.htm
Pessoas:
Pedro Grácio – Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade
de Coimbra
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