Mini-Curso "Normatividade, Naturalismo e Filosofia Social" Prof. Nythamar de Oliveira CNPq / PROCAD PUCRS-UFC 31/5 e 1/6/2012, 15:00-19:00h, no Auditório Luíz Gonzaga Ciências Sociais, UFC, Av. da Universidade 2995, Fortaleza Ementa: O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (nascido em 1929 em Düsseldorf), é considerado o mais influente pensador social da segunda metade do século passado e início do século XXI. Expoente máximo da segunda geração da chamada Escola de Frankfurt, Habermas propõe um resgate do projeto emancipatório da modernidade não mais em termos de uma "crítica da ideologia" ou de uma "crítica da cultura" (ao contrário de Adorno, Horkheimer e Marcuse), mas pela transformação hermenêutico-pragmática da Teoria Crítica segundo um modelo por ele denominado de "teoria do agir comunicativo" e sua correlata "teoria discursiva" do Estado democrático de Direito. A justificativa ético-normativa de ambas teorias foi desenvolvida por Habermas em sua Ética do Discurso, uma teoria moral cognitivista, de inspiração kantiana, formulada a partir de um programa de pesquisa interdisciplinar e de interlocuções com Apel, Tugendhat e pensadores contemporâneos da filosofia analítica e do pragmatismo. A Ética do Discurso (ED) ajuda-nos a melhor compreender como se dá a transição de uma investigação interdisciplinar sobre a articulação entre teoria e prática nos anos 60 (esp. Conhecimento e Interesse, 1968) para o programa de uma pragmática formal nos anos 70 e 80, culminando com as publicações de suas duas obras-primas, Teoria do Agir Comunicativo (1981) e Direito e Democracia (1992). Neste mini-curso, a filosofia social de Habermas será explorada em seu intuito peculiar de responder aos desafios normativos do naturalismo contemporâneo, sobretudo de concepções naturalistas "duras" (hard naturalism), fisicalistas e reducionistas, que parecem solapar o universalismo ético, a ideia de liberdade e os ideais emancipatórios normativos da modernidade. O programa naturalista de Willard V.O. Quine, a partir de uma "epsitemologia naturalizada" (Epistemology Naturalized), tem sido apropriado como puro eliminacionismo, cuja tese central consiste em eliminar o normativo pelo naturalismo, em favor do puramente descritivo. Destarte, o naturalismo suscita a emergência de novos problemas e correntes no campo epistemológico da normatividade, na medida em que crenças verdadeiras devem ser suscetíveis de serem justificadas, assim como a própria ciência, sem necessariamente recorrer a uma analogia com a ética normativa ou argumentos analíticos. Segundo Habermas, uma versão fraca ou mitigada de naturalismo (weak naturalism) seria a única viável de acordo com uma pragmática formal que viabilize um universalismo moral em resposta ao relativismo cultural, onde a religião e a moral podem ser compreendidas enquanto representação social coletiva de um desideratum normativo (de forma análoga a um certo relativismo moral). Neste caso, a religião e a moral se constituem em exemplos de correlatos não-explicitados do mundo da vida, na medida em que mecanismos sutis de internalização, assimilação, sublimação, repressão, castração, domesticação, racionalização e auto-engano se justapõem e se complementam no complexo processo de reprodução social. Num certo sentido, somente uma concepção coerentista poderia dar conta de um sistema de crenças que se mantêm em equilíbrio reflexivo na própria busca de uma justificação epistêmico-normativa. Tal postura nos permite reexaminar problemas de normatividade e naturalismo na filosofia social de Habermas, de forma a melhor compreendermos a instigante contribuição da filosofia da mente e psicologia cognitiva em autores contemporâneos como Jesse Prinz, na medida em que seguem o programa naturalista de Quine evitando comprometer a ideia de normatividade, numa versão não-reducionista, construcionista, inserida num programa interdisciplinar das ciências cognitivas. Leituras Obrigatórias: Jürgen Habermas, Entre Naturalismo e Religião. Estudos Filosóficos. Trad. Flavio Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007. [Frankfurt: Suhrkamp, 2005] Jürgen Habermas, Para a Reconstrução do Materialismo Histórico. Trad. Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Brasiliense, Habermas, 1990. [Frankfurt: Suhrkamp, 1976] Jürgen Habermas, Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Trad. Guido de Almeida. Tempo Brasileiro, 1989. [Frankfurt: Suhrkamp, 1983] Nythamar de Oliveira, "Observações sobre Normatividade e Naturalismo" http://www.nythamar.com/normatividade.html Nythamar de Oliveira, "Habemus Habermas: O universalismo ético entre o naturalismo e a religião" http://www.geocities.com/nythamar/naturalism.html versão em PDF – Revista ethic@: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/19252/18480