NEUROPATIA AUDITIVA - Instituto de Audição

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NEUROPATIA AUDITIVA : Descrição de dois
casos
ALEXANDRE NÓBREGA CAVALCANTI *
ANGELA ROCHA NARCISO **
*Fonoaudiólogo, especializando em Audiologia Clínica pelo Núcleo de Estudo Científico em Audiologia.
** Fonoaudióloga, especialista em Audiologia e mestre em distúrbios da comunicação.
RESUMO
Objetivo: Este trabalho teve como objetivo descrever as características
audiológicas de dois pacientes com Neuropatia Auditiva atendidos no
Núcleo de Estudo Científico em Audiologia, correlacionando os achados
com os encontrados na literatura. Mé
todos: Participaram 2 pacientes com
diagnóstico de neuropatia auditiva. Tal diagnóstico ocorreu pela perda
auditiva sensório-neural bilateral, com discriminação auditiva incompatível
com os limiares, potenciais auditivos evocados de tronco encefálico
ausentes ou com presença parcial das ondas, e presença de emissões
otoacústicas produto de distorção. Resultados: os resultados mais
relevantes prevaleceram quanto as características da perda auditiva.
Conclusão: O diagnostico da Neuropatia Auditiva tem sido possivel devido
aos avanços tecnológicos e aos trabalhos publicados que descrevem e
discutem tal patologia.
ABSTRACT
Purpose: to describe the audiologic cractheristics of two patients to Auditory
Neuropathy delt with at Núcleo de Estudo Científico em Audiologia corresponding the
research with others found in the literature. Methods: assessment of two pacients
diagnosed of auditory neuropathy, considering those who the auditory brainstem
response exam resulted in parcial absent or presence of waves, in opposite to presence
of distortion product otoacoustic emissions with normal amplitude. Results: the most
important
results
prevailed
as
the
characteristics
of
the
auditory
loss.
Conclusion:Diagnose of auditory neuropathy hás been possible due to the
technological progresses and the published works that discribe such patology.
PALAVRAS-CHAVE
Neuropatia auditiva; perda auditiva.
KEYWORDS
Auditory Neuropathy; hearing loss.
INTRODUÇÃO
Nas últimas dé
cadas, a audiologia aprofundou-se no diagnóstico de
patologias auditivas, e atualmente a Neuropatia Auditiva tem sido
amplamente discutida e estudada. Antigamente, o diagnóstico da deficiê
ncia
auditiva baseava-se nos resultados obtidos na Audiometria Tonal Limiar e
Vocal, Imitância Acústica e na Audiometria de Tronco Encefálico. Com a
introdução das Emissões Otoacústicas, complementando os exames
audiológicos, houve a possibilidade de se identificar a Neuropatia Auditiva.
Este termo foi vinculado à um grupo de pacientes que apresentam sinais de
preservação da função das cé
lulas ciliadas externas no estudo das Emissões
Otoacústicas, e alterações graves na pesquisa dos Potenciais Auditivos
Evocados de Tronco Encefálico.
Do ponto de vista terminológico “neuropatia” significa uma afecção
nervosa, em especial do tipo degenerativa de um ou vários nervos. Qualquer
desordem do VIII nervo atéao córtex auditivo pode corresponder a uma
neuropatia auditiva, a única definição mais específica é que situa-se em
regiões mais perifé
ricas, entre as cé
lulas ciliadas externas e o tronco cerebral.
Quanto a localização da lesão da perda auditiva, a presença de
Emissões Otoacústicas indica uma correta funcionalidade das cé
lulas
ciliadas externas. No entanto, ainda não se dispõe de testes audiológicos
que avaliem a função das cé
lulas ciliadas internas, por conseguinte, não éfácil
conhecer se a neuropatia auditiva pode ser causada por lesão das mesmas.
A audiometria pode apresentar um grau de perda auditiva entre leve a
moderado, e em alguns casos de grau severo a profundo. Na maioria dos
casos a deficiê
ncia auditiva ébilateral, mas tem se reportado um pequeno
número de pacientes em que a deficiê
ncia auditiva se comporta como uma
neuropatia unilateral.
Funcionalmente, pacientes com neuropatia unilateral parecem similar
a padrões auditivos com outros tipos de perda auditiva unilateral. No
entanto, uma das principais características auditivas dos pacientes com esta
patologia éa incompatibilidade de resultados entre audiometria tonal e testes
de inteligibilidade de fala.
Os dados da imitanciometria indicam ausê
ncia de reflexos acústicos
tanto ipsilaterais como contralaterais, com estímulos de até110 dBNA
(Sininger et al. Apud Neto, 2001).
Esta patologia pode se apresentar em qualquer idade, em pacientes
recé
m-nascidos e inclusive em pessoas de terceira idade (LEURO, 2000).
Devido as características em comum da neuropatia auditiva (NA) e
problemas auditivos centrais, pode-se pensar que a neuropatia e a
desordem do processamento central sejam a mesma patologia. Alguns
pacientes com neuropatia parecem, de acordo com a história clínica e os
resultados comportamentais, ajustar-se a categoria de desordem do
processamento auditivo central (DPAC). Sininger et al. (1995) apud Leuro
(2000) enfatizaram que estas patologias se diferenciam no momento em que
o DPAC se caracteriza por apresentar padrões auditivos dentro da
normalidade, no entanto os resultados audiomé
tricos da NA mostram algum
grau de perda auditiva e comprometimento do sistema auditivo perifé
rico.
O objetivo deste estudo foi descrever as características audiológicas
de dois pacientes com Neuropatia Auditiva atendidos no Núcleo de Estudos
Científicos em Audiologia, correlacionando seus achados com os
encontrados na literatura.
MATERIAL e MÉTODOS
Foram selecionados 2 pacientes com o diagnóstico de
neuropatia
auditiva. Tal diagnóstico se deu pelos achados do exame dos potenciais
auditivos evocados de tronco encefálico resultando
em ausê
ncia ou
presença parcial das ondas, em contradição com a presença de emissões
otoacústicas produto de distorção com amplitudes dentro da faixa de
normalidade. Os indivíduos avaliados foram duas mulheres, ambas com
idade de 62 anos de idade, atendidas na Clínica Escola do Núcleo de Estudo
Científico em Audiologia, Maringá- Pr.
Para avaliação destes indivíduos, inicialmente, foram utilizados os
seguintes recursos: Ficha de anamnese contendo dados pessoais e
perguntas, abertas e fechadas, que exploraram a história clínica do
indivíduo. Inspeção do meato acústico externo, audiometria tonal limiar,
logoaudiometria, imitânciometria, pesquisa dos potenciais auditivos de
tronco encefálico e das emissões otoacústicas.
Para inspeção do meato acústico externo foi utilizado um otoscópio
da marca Welch Ally, modelo Klinic.
A avaliação audiológica ocorreu em cabina acusticamente tratada,
para garantir o isolamento acústico adequado, e para sua realização, foram
utilizados: Audiômetro da marca Interacoustics, modelo AC 30, com fones
da marca Telephonics, modelo TDH39P e vibrador ósseo da marca Radioear,
modelo B-71.
A audiometria tonal limiar abrangeu a pesquisa dos limiares tonais por
via aé
rea e via óssea e logoaudiometria. Em via aé
rea, foram pesquisadas as
freqüê
ncias de 250, 500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz. A freqüê
ncia
1500 Hz foi pesquisada, em uma das pacientes, pois houve uma diferença
maior que 20 dBNA em relação aos limiares de 1000 e 2000 Hz.
Após
a
pesquisa
dos
limiares
de
via
aé
rea,
realizou-se
a
logoaudiometria para confirmá-los. A pesquisa dos limiares de via óssea foi
realizado porque houve limiares auditivos maiores que 25 dBNA, nas
freqüê
ncias compreendidas entre 500 e 4000 Hz.
Foi utilizado ainda um imitanciômetro da marca Interacoustics, modelo
AZ-7.Todos estes equipamentos estavam calibrados segundo o padrão do
American National Standards Institute (ANSI).
O exame da imitância acústica, compreendeu timpanometria e
pesquisa do reflexo do músculo estapé
dio de forma contra e ipsilateral nas
freqüê
ncias de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz.
Os timpanogramas foram classificados segundo Jerger 1970.
O registro da Emissões Otoacústicas Evocadas Produto de Distorção
foi realizado com o equipamento Adx – Plus da marca Biologic, onde foram
testadas as freqüê
ncias de 750 a 8000 Hz. A intensidade utilizada foi L1 = 65
dB e L2 = 55 dB, e a razão entre as freqüê
ncias de 1,22 (F2/F1 = 1,22).
Considerou-se presença de emissões otoacústicas produto de distorção
utilizando-se os seguintes crité
rios de análise: relação sinal/ruído de 6 dB e
amplitudes que variaram de acordo com a freqüê
ncia testada:
Freqüê
ncia
8000 Hz
6000 Hz
4000 Hz
3000 Hz
2000 Hz
1000 Hz
750 Hz
Amplitude
-13
-7
-5
-8
-7
-2
-4
Após esta avaliação, realizou-se avaliação eletrofisiológica da
audição, empregando-se como procedimento a aplicação do Potencial
Evocado Auditivo de Tronco Encefálico, com o equipamento Neuropack-2
(MEB-7102K) da marca Nikon Kohden. Neste exame o estímulo utilizado para
avaliar as latê
ncias absolutas da ondas I, III e IV foi de 105 dB bilateralmente,
razão de estimulação de 10 e 15/ segundo, polaridade de clicks de rarefação
e condensação e duração de 0,2 milisegundos. As latê
ncias interpicos das
ondas I-III, III-V e I-V foi pesquisada em milisegundos.
RESULTADOS
Após obtidos os resultados de todos os exames, os achados foram
analisados e serão abaixo descritos.
As duas pacientes relataram problema auditivo, caracterizado como
dificuldade para compreender a fala. A presença de zumbidos e hipertensão
arterial foi referida em ambos os pacientes. Uma das pacientes relatou
sensação de tontura. A outra paciente referiu otorré
ia e plenitude auricular.
Com relação à exposição ao ruído, medicamento ototóxico, acidente
com traumatismo craniocefálico, cirurgia de ouvido, surdez na família e ao
uso de aparelho auditivo não fizeram referê
ncia de qualquer uma destas.
As duas pacientes apresentaram na audiometria elevação dos limiares
auditivos sem configuração de gap aé
reo-ósseo, ou seja, uma perda auditiva
sensório-neural bilateral. A alteração auditiva mostrou-se semelhante em
ambos os casos quanto ao grau da perda nas freqüê
ncias de 250 a 2000 Hz,
que se apresentou entre moderada e severa em ambas as orelhas. A
execução dos testes de fala foi muito difícil e a obtenção do limiar de
reconhecimento, bem como do IPRF não foi possível, uma vez que as
pacientes não discriminaram as palavras ditas pelo examinador. Desta
forma, realizou-se o limiar de detecção de fala (SDT) para confirmar os
limiares de via aé
rea. A timpanometria foi tipo A, condizente com a
normalidade e reflexos acústicos contralaterais e ipsilaterais ausentes em
ambas as orelhas das duas pacientes.
O teste de emissões otoacústicas produto de distorção estiveram
presentes, indicando funcionamento normal do amplificador coclear para as
freqüê
ncias testadas. O potencial evocado auditivo de tronco encefálico foi
ausente em ambas as orelhas das pacientes testadas.
DISCUSSÃO
Os resultados apresentados nos dois casos estudados mostraram-se
compatíveis com os achados descritos pela literatura a respeito de
Neuropatia
Auditiva,
tanto
no
que
diz
respeito
às
características
audiológicas, quanto às dificuldades auditivas para compreensão da fala, e
presença de zumbidos.
Durkel (2001) afirmou em seus estudos que o indivíduo com
neuropatia auditiva apresenta pouca habilidade de discriminação auditiva,
com diminuições do rendimento auditivo como sinais acústicos degradados
(escutando sons que estão amortecidos, perdendo informação ou por
alguma razão escutando sons que não são claros).
Neto et al. (2001) referiu em sua pesquisa que 28 pacientes
pesquisados apresentaram zumbidos nos quais 24 pacientes definiram
como zumbido de freqüê
ncia grave.
Parra et al. (2003) també
m comentou em um estudo das características
audiológicas de um paciente com neuropatia, que este era capaz de ouvir as
palavras, poré
m não conseguia compreendê
-las. Esta incompreensão se deu
de forma progressiva.
Para Berlin (1999) e Hood (2002) atémesmo os pacientes, com este tipo
de patologia, que conseguem discriminar algumas palavras ou sentenças
em ambiente silencioso, quando colocados em ruído competitivo são
incapazes de discriminar sentenças simples.
Em relação aos achados audiomé
tricos e discriminação auditiva,
observou-se coerê
ncia com os descritos pela literatura, bem como os
resultados da imitância acústica.
Neto et al. (2001) afirmou em sua análise com 30 pacientes com
neuropatia que a execução dos testes de fala foi muito difícil e a obtenção
do limiar de recepção de fala muitas vezes não foi possível. Segundo Abe et
al. (2000) a recepção de fala édiminuída, especialmente na presença de ruído.
Tapia (2001) relata em seu estudo com pacientes que apresentam esta
patologia que a interpretação do reflexo do músculo estapé
dio éuma das
melhores ferramentas na audiologia clínica, pois pacientes com neuropatia
auditiva não apresentam tal reflexo.
Segundo Neto et al. (2001) todos os pacientes de sua pesquisa
apresentaram curva timpatomé
trica do tipo A. Leuro (2000) també
m relatou que
um dos sintomas mais comuns são os reflexos acústicos ausentes tanto
ipsilaterias como os contralaterais.
O tipo de configuração audiomé
trica (perda auditiva sensório-neural)
encontrado nesta pesquisa també
m ébastante característico da neuropatia.
Como afirmou Tapia (2001) que a perda auditiva éapresentada de forma
heterogê
nea nas neuropatias auditivas, podendo ser do tipo sensório-neural
nas freqüê
ncias graves, em todas as freqüê
ncias (plana), nas freqüê
ncias
agudas ou flutuante.
Leuro (2000) també
m descreveu a respeito de perdas auditivas em
pacientes com o diagnóstico de neuropatia como sendo uma perda auditiva
entre leve, moderada e severa tanto por via aé
rea como por via óssea.
Em relação aos resultados obtidos pelos exames eletrofisiológicos
(emissões otoacústicas e potenciais evocados auditivos) també
m foram
congruentes com os achados encontrados na literatura.
Segundo Hood (1998) as características encontradas nos pacientes
com neuropatia auditiva como, por exemplo, cé
lulas ciliadas externas com
funções normais e função neural anormal no nível do VIII par (vestíbulococlear) neural são observadas a partir de exames clínicos audiológicos
como presença de emissões otoacústicas e ausê
ncia do potencial evocado
auditivo.
Parra (2003) e Neto (2000) també
m encontraram nos seus achados
emissões otoacústicas presentes e potencial evocado auditivo ausente.
Os resultados encontrados por Parra (2003), Neto (2000) e Hood (1998,
2002) foram semelhantes aos obtidos no presente estudo, já que todos
tinham como características básicas a incompatibilidade de resultados,
caracterizado por baixo índice de reconhecimento de fala, incompatível com
a audiometria tonal, presença de emissões otoacústicas e potencial evocado
auditivo ausente.
CONCLUSÃO
Observou-se nos casos estudados a incompatibilidade de resultados entre a
audiometria tonal e testes de inteligibilidade de fala, com os resultados dos exames
objetivos, apresentando perda auditiva sensório-neural com importante alteração nos
testes de inteligibilidade de fala, emissões otoacústicas presentes (função coclear
normal) e potencial evocado auditivo anormal (discincronia neural).
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