1 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FÍSICA DE PORTADORES DE DPOC ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA AQUÁTICA Carolina Pereira Vieira1 Fernanda Silvana Pereira Quirino2 Francisco Elias Medeiros Fonseca2 Renato Canevari Dutra da Silva3 Rejane Maria Cruvinel Cabral³ Getúlio Antonio de Freitas Filho³ Adriana Vieira Macedo4 Resumo A hidroterapia além de ser uma terapêutica agradável é uma ferramenta bastante utilizada em programas de treinamento físico e por isto tem sido alvo de muitos estudos. Porém são escassos os estudos relacionando a hidroterapia à reabilitação pulmonar aquática. Objetivos: Este estudo teve como objetivo avaliar a capacidade física por meio do teste de caminhada de seis minutos (TC6’) em indivíduos com DPOC antes e após intervenção fisioterapêutica aquática, comparar a distância percorrida no teste de TC6’ antes e após a intervenção. Métodos: A amostra foi composta por quatro indivíduos com DPOC residentes na Associação Beneficente André Luiz (ABAL) de Rio Verde – GO, os quais foram submetidos à avaliação da distância percorrida no TC6’ antes e após a intervenção fisioterapêutica aquática, com duração de 8 semanas, freqüência de 3 vezes por semana durante 50 minutos cada. Resultados: Ao fim da intervenção observa-se que a média da distância percorrida antes e após treinamento foi de 238,0 m e 281,0 m, respectivamente, não havendo diferença estatisticamente significante (p = 0,216), porém pôde ser observado um aumento médio da distância percorrida de 43m. Observou-se aumento na distância percorrida de 75% da amostra, podendo inferir tendência de melhora na capacidade física desses indivíduos. Conclusões: Não houve diferença significativa entre as médias das distâncias percorridas antes e após a intervenção, entretanto, foi obtido um aumento na média após intervenção, o que infere tendência de melhora da capacidade física. Palavras-chave: Hidroterapia, Hidroterapia X DPOC, Capacidade física. 1 Acadêmica do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER – Rio Verde. Fisioterapeuta graduado pela Universidade de Rio Verde – FESURV – Rio Verde. 3 Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER/Faculdade Objetivo– Rio Verde. 4 Docente da FESURV – Universidade de Rio Verde 2 2 1. Introdução A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma doença prevenível e tratável caracterizada pela obstrução do fluxo aéreo de caráter progressivo e parcialmente reversível. Tem como origem a combinação entre enfisema pulmonar e bronquite crônica, sendo que uma predomina sobre a outra (MACHIORI et. al., 2010). É uma doença primária do aparelho respiratório. Porém, a associação com alterações de outros sistemas é frequente sendo por isso, uma doença evitável e tratável com alguns efeitos extrapulmonares que determinam o prognóstico dos pacientes (RIBEIRO; VIEGAS, 2008). A reabilitação pulmonar é um programa multidisciplinar e individualizado que procura devolver ao indivíduo a maior capacidade funcional permitida, frente sua limitação pulmonar e estado geral de saúde (GALVES et. al., 2007). De acordo com Rodrigues, Viegas e Lima (2002) a DPOC leva ao comprometimento da arquitetura pulmonar que não se beneficia com a reabilitação pulmonar. No entanto, é através da reabilitação pulmonar que o círculo vicioso da falta de ar, inatividade, perda de condicionamento físico, isolamento social e depressão pode ser revertido (AMARAL; NETO MARTINS, 2003). O teste de caminhada de seis minutos (TC6’) é um teste submáximo, simples e fácil de ser realizado uma vez que, não requer equipamentos sofisticados sendo, portanto, um teste com baixo custo e por isto tem sido preconizado na avaliação de resultados de programas de reabilitação. Antes de iniciar o teste o paciente deve ser orientado a caminhar a maior distância possível em um corredor plano, previamente demarcado, em ambiente coberto. Durante o teste devem-se utilizar frases para o encorajamento verbal do paciente a cada minuto (ROSA; CAMILER; MAYER; JARDIM, 2006). O uso da água com finalidades terapêuticas, teve vários nomes, atualmente, o termo mais aceito é reabilitação aquática ou hidroterapia derivado do grego “hydor”, “hydatos = água / “therapeia”= tratamento (BIASOLI; MACHADO, 2006). Segundo Fiorelli et. al. (2002), a hidroterapia é definida como uma terapêutica que utiliza a aplicação da água com finalidade terapêutica, beneficiando-se das propriedades físicas da água, como agente da terapia. É um trabalho específico e individual para cada paciente para melhor conforto e segurança do mesmo, além de trabalhar a parte aeróbica ao mesmo tempo, trabalha grandes grupos musculares e várias articulações (CAROMANO; CANDELORO; THEMUDO FILHO, 2003). 3 Na imersão com a cabeça fora d’água a mecânica e a função pulmonar sofrem algumas alterações. Com a imersão até o processo xifóide o abdome é empurrado para dentro e a caixa torácica expande-se na expiração final, consequentemente o diafragma apresenta um aumento do seu comprimento proporcionando-lhe vantagem mecânica. Este deslocamento causa diminuição do volume de reserva expiratório (VRE), do volume residual (VR) e da complacência pulmonar em 50% dos valores, porém, o tempo inspiratório e a frequência respiratória permanecem inalterados (FAGUNDES; SILVA, 2006). As alterações do sistema respiratório são acionadas pela pressão hidrostática de duas maneiras, aumento do volume central e a compressão da caixa torácica e abdominal (CAROMANO; CANDELORO, 2001). Com a imersão, o centro diafragmático desloca-se cranialmente, com conseqüente aumento da pressão intratorácica e da pressão transmural dos grandes vasos culminando em um aumento de 65% do trabalho respiratório. Redução de 6% da capacidade vital e de 66% do volume de reserva expiratório (CAROMANO; CANDELORO; THEMUDO FILHO, 2003). Durante a imersão a pressão hidrostática funciona como uma carga para contração diafragmática na inspiração, o que culmina em exercício para esta musculatura, além de auxiliar sua elevação e na saída do ar na expiração (FAGUNDES; SILVA, 2006). O presente estudo foi realizado como finalidade verificar possíveis alterações na capacidade física de indivíduos portadores de DPOC por meio do teste de caminhada de seis minutos antes e após intervenção fisioterapêutica aquática bem como comparar a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos antes e após intervenção fisioterapêutica aquática. 2. Métodos Foram incluídos no estudo quatro pacientes com diagnóstico de DPOC residentes na Associação Beneficente André Luiz (ABAL). Os critérios de inclusão foram: diagnóstico de DPOC de acordo com os critérios propostos pela ATS (1995), estabilidade clínica nas quatro últimas semanas, ausência de transtorno cognitivo, observado através do Miniexame do Estado Mental (MEEM). Os critérios de exclusão foram: outras doenças pulmonares que não a DPOC, presença de doenças não pulmonares consideradas incapacitantes, presença de alterações cutâneas, 4 ausência de controle de esfíncter, aversão ao meio aquático e aqueles que não assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido em duas vias. Também os indivíduos que recusaram realizar o Teste de caminhada de seis minutos. Todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Rio Verde Primeiramente, foi aplicado o Miniexame do Estado Mental (MEEM), versão utilizada no Brasil, adaptada por Bertolucci et. al. (1994), com a finalidade de avaliar a presença ou não de alterações cognitivas. Em seguida foi realizada uma avaliação dos sintomas com o propósito de identificar a estabilidade clínica dos pacientes, quanto ao sintoma de tosse, expectoração, em relação ao volume e aspecto da secreção. Também foi verificada a história de tabagismo, presença de dispnéia, a altura e a massa corporal deste pacientes e foi calculado o índice de massa corporal (IMC), utilizando a fórmula peso/estatura2 (kg/m2) (SIMON; MAYER, 2006). Posteriormente, foi realizado o teste de caminhada de seis minutos, no qual o paciente foi orientado a caminhar, sem aquecimento prévio, em corredor plano e coberto, em uma área já demarcada de dez metros durante seis minutos, sendo o ritmo da caminhada imposto pelo próprio paciente. Durante, o teste foram utilizadas duas frases de incentivo padronizadas “o senhor (a) está indo muito bem; se for possível aumente a velocidade da caminhada” no terceiro minuto e “seu ritmo está ótimo e só falta um minuto para o final; vamos aumentar o ritmo se for possível”, no quinto minuto de caminhada (RODRIGUES, VIEGAS; LIMA, 2002). O teste foi finalizado quando solicitado pelo paciente, saturação de oxigênio abaixo de 90% de SO2, escala de Borg cansativo, tonturas, vertigens ou completado seis minutos do teste (PITTA; GODOY, 2001). Foram utilizadas para os cálculos do valor previsto, ou de referência, para distância no TC6’, duas equações propostas por Enright e Sherril (1998), determinando assim o percentual do previsto para cada teste realizado pelo paciente. O protocolo de intervenção fisioterapêutica aquática foi composto de 9 etapas baseado no protocolo proposto por Gabilan et. al. (2006), Candeloro e Caromano (2007) e, sendo que cada uma das sessões obedeceu ao nível de adaptação do paciente ao meio aquático, não sendo necessário o domínio de técnica de natação, tendo em vista o suporte dado pelo terapeuta. 5 O treinamento foi realizado em grupos de 2 pacientes por sessão, num total de 24 sessões de 50 minutos, três vezes por semana, em uma piscina aquecida à temperatura média de 34ºC. Os pacientes foram acompanhados de perto por quatro estagiários treinados do oitavo período do curso de fisioterapia da Universidade de Rio Verde. Após cada série de exercício realizada, o paciente, teve 30 segundos de repouso. Frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), saturação da hemoglobina pelo oxigênio (SpO2%), pressão arterial (PA) e índice de percepção de esforço respiratório (BORG dispnéia) e fadiga de membros inferiores (BORG MMII) foram aferidos antes da etapa I e antes e depois da etapa IX (SERRUYA; PIMENTEL, 2000). Etapa I – Alongamento: Os grupos musculares alongados foram: flexores, extensores, flexores laterais de pescoço, flexores, extensores, abdutores e adutores de ombro e quadril, flexores e extensores de cotovelo e joelho. Esses alongamentos foram realizados fora da piscina. Etapa II – Adaptação na água: O paciente entrou na piscina, para se ajustar à experiência aquática, mantendo a postura ortostática, com apoio do estagiário, em profundidade de 1,20 metros. Etapa III – Desligamento: o paciente permanece em pé, na mesma profundidade, sem o apoio do estagiário, mantendo a postura por 2 minutos. Etapa IV – Transferência postural: o paciente levanta-se e senta-se no degrau da escada sem apoiar na borda da piscina, por três vezes consecutivas. Etapa V – Controle rotacional do tronco: sentado no degrau da escada, com as articulações coxofemorais, dos joelhos e dos tornozelos, em flexão de cerca de 90º, o paciente realizou rotação máxima de tronco, sem alterar a base de sustentação (apoio em tuberosidades isquiáticas e pés), associada ao movimento de flexão e adução do braço, cruzando a linha média, no nível da superfície da água. Retornando à posição inicial e, a seguir, repetiu a tarefa anterior na posição ortostática. Etapa VI – Exercícios de MMSS: na posição ortostática realizou movimentos nas diagonais de Kabat (DI e DII), primeiramente com o membro superior direito, em seguida, com o esquerdo. Na sequência, realizou movimentos de circundação dos ombros com as mãos sempre dentro da água. 6 Com os braços abduzidos e cotovelos fletidos a 90º, o paciente realizou movimentos de rotação interna e rotação externa dos ombros. Posteriormente, com os braços abduzidos e cotovelos em extensão, o paciente realizou movimentos de adução e abdução dos ombros, sempre com os braços dentro da água. Os exercícios para MMSS sempre foram associados com coordenação da respiração, a fase expiratória coincidia com o estiramento no alongamento ou com o esforço durante um exercício de fortalecimento. Etapa VII – Exercícios de MMII: em posição ortostática, segura com uma das mãos na borda da piscina e executa o movimento com o membro inferior contralateral. Os movimentos realizados foram abdução e adução de quadril. Em seguida, o paciente de frente apoiando na borda da piscina, realizou movimento de extensão de quadril com joelho em flexão de 90º e com o joelho em extensão. Na mesma posição, o paciente foi orientado a realizar movimento de flexão dos joelhos com o quadril em posição neutra, um por vez. Posteriormente na mesma posição, o paciente realizou exercícios de agachamento no limite de sua altura sem submergir a cabeça, sendo permitida a água apenas até o pescoço. Com as costas e braços apoiados na borda da piscina, o paciente realizou movimentos de flexão de quadril e, posteriormente, extensão de joelhos com o quadril em flexão fixa de 45º, um joelho por vez. Etapa VIII – Marcha com empuxo: na posição ortostática, realizou a marcha independente para frente e, a seguir, para trás, de olhos abertos, realizando movimentos alternados de rotação da cabeça para ambos os lados e, depois, vencendo a turbulência da água criada pelo pesquisador. Posteriormente o paciente foi orientado a realizar deslocamento lateral (caminhada lateral) para direita e, em seguida, para a esquerda. Cada tarefa foi realizada por 3 minutos. Etapa IX – Relaxamento: esta etapa tem por objetivo relaxar a musculatura utilizada durante o treinamento, para isso foram realizados alongamentos dos grupos musculares, citados anteriormente. Esses alongamentos foram realizados dentro da piscina. Em todas as etapas do tratamento foram realizadas 2 séries de 10 repetições. Após o protocolo os pacientes foram submetidos a uma reavaliação composta pelo TC6’, conforme já descrito na avaliação e mensuração de massa corporal e altura, após 24 horas do término da última sessão para posterior cálculo do IMC. 7 Todos os dados foram analisados utilizando os programas Microsoft Office Excel 2003 e SPSS. As características da amostra foram descritas como: média, mediana, desvio padrão e intervalo de confiança 95%. O teste t, de Student, foi utilizado para comparar a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (TC6’) antes e após intervenção fisioterapêutica aquática. O coeficiente de correlação de Pearson foi empregado para correlacionar a quantidade de sessões realizadas com a distância percorrida no TC6’ antes e após intervenção fisioterapêutica aquática. O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05). 3. Resultados A população estudada foi composta inicialmente de 18 indivíduos, sendo que 14 foram incapazes de participar do grupo. Alguns apresentaram aversão à água, outros simplesmente não quiseram participar, um parou de freqüentar o programa de reabilitação sem justificativa, e o outro participante parou por ordem médica, assim, a amostra foi composta por quatro indivíduos com diagnóstico clínico de DPOC de acordo com os critérios propostos pela ATS (1995). Dos quatro indivíduos, três eram do gênero feminino (75%) e um do gênero masculino (25%) com idade variando entre 68 a 88 anos com mediana de 74,0 anos, média de 76,0 anos (+ 8,52), o que pode ser visualizado na Tabela 1, que apresenta as principais características da população estudada. Tabela 1. Caracterização da amostra VARIÁVEL Idade Altura Massa corporal IMC antes Sessões IMC após n 4 4 4 4 4 4 Mínimo 68 1,46 46,50 17,8 16 18,3 Máximo 88 1,65 58,20 27,3 24 27,9 Mediana 74,00 1,47 51,25 23,25 24,00 23,10 IMC: índice de massa corporal; n: número da amostra Média 76,00 1,5125 51,8000 22,900 22,00 23,100 Desvio Padrão + 8,524 + 0,0922 + 5,3160 + 4,0751 + 4,000 + 4,1061 8 Na Tabela 2, que se refere às variáveis do TC6’ antes e após intervenção fisioterapêutica aquática, pode ser observada uma média de 432,03 m (+ 26,88) para a distância prevista por sexo e idade antes da intervenção. Com relação à distância percorrida pré-intervenção, observa-se uma média de 238,0 m (+ 55,88) e para a distância percorrida após uma média de 281,0 m (+ 90,52), não havendo diferença estatisticamente significativa (p = 0,216). Tabela 2. Variáveis do TC6’ antes e após a intervenção fisioterapêutica aquática. VARIÁVEL Distância Prevista antes Distância Prevista após Distância Percorrida antes Distância Percorrida após %Prev. Antes %Prev. Após n Mínimo Máximo Mediana Média Desvio Padrão 4 408,280 462,580 428,641 432,0355 + 26,8841 4 405,534 463,038 429,211 431,7485 + 28,0994 4 162 280 255,00 238,00 + 55,881 P 0,759 0,216 4 193 364 283,50 281,00 + 90,528 4 4 36,27 46,99 68,58 89,75 58,27 63,09 55,3450 65,7275 + 13,7397 + 21,7883 0,223 n: número da amostra; %: percentual; Prev.: prevista; p: índice de significância Embora não tenha sido encontrada diferença estatisticamente significativa entre as médias das distâncias percorridas pelos participantes da pesquisa antes e após intervenção fisioterapêutica aquática (p = 0, 216), pôde-se constatar um aumento na média da distância percorrida após intervenção de 43 m. A Tabela 3 representa as variáveis do teste de caminhada de seis minutos, gênero, idade, número de sessões realizadas e IMC de cada paciente, podendo-se observar que todos os participantes realizaram 24 sessões, com exceção do participante A, que se apresentou com IMC abaixo dos padrões de normalidade proposto por WHO (2002), além de ter sido o único participante a ter reduzido a distância percorrida após intervenção fisioterapêutica aquática. 9 Tabela 3. Variáveis do teste de caminhada de seis minutos, gênero, idade, número de sessões realizadas e IMC de cada paciente. Pacientes Sexo Idade Sessões IMC Distância Distância (anos) (dias) (kg/m2) Prevista Atingida em (m) metros antes e % A M 88 16 17,8 410,64 230 56% B F 68 24 24,7 462,58 280 60,53% C F 73 24 21,8 446,64 162 36,27% D F 75 24 27,3 408,28 280 68,58% 2 Distância Atingida em metros depois e % 193 46,99% 354 78,61% 213 47,56% 364 89,75% IMC: índice de massa corporal, kg/m : quilograma por metro quadrado, %: percentual Observa-se ainda na Tabela 3, um aumento na distância percorrida após a intervenção fisioterapêutica aquática nos voluntários B, C e D superior a 50 m (B= 74m; C= 51m e D= 84m), podendo afirmar que os voluntários B, C e D tiveram uma melhora da capacidade física e de tolerância ao exercício. 4. Discussão A DPOC normalmente é diagnosticada entre a quinta e a sexta década de vida. Sua incidência é maior em homens que em mulheres, e aumenta com a idade. Porém, a tendência para os homens é a estabilidade e/ou decréscimo, enquanto que para as mulheres a tendência é aumentar (FERNANDES; BEZERRA, 2006; DOURADO et. al., 2004). No entanto, no presente estudo, verificou-se maior participação das mulheres no programa proposto, três (75%) e um homem (25%). A falta de adesão do gênero masculino pode ser atribuída a uma característica da região estudada. A falta de adesão dos homens aos programas de tratamento pode constituir importante agravante para os altos custos e impacto socioeconômico das doenças crônicas. Um estudo realizado Guyatt et. al. (1987), estimou que um acréscimo de 30 m na distância percorrida no TC6’ é considerado significante. Já outro estudo realizado por Redelmemier et. al. (1997), após a avaliação de 112 pacientes portadores de DPOC, relatou uma distância mínima de 54 m para que seja verificada uma diferença clinicamente significante na percepção da performance dos pacientes. Por outro lado, Goldstein et. al. (1994), afirmam que um aumento de 38 m na distância percorrida corresponde a 10% de melhora quando comparado ao grupo controle. 10 Verifica-se assim, que há uma limitação com relação à distância percorrida no TC6’, tanto para indivíduos saudáveis quanto para pacientes com doenças pulmonares. A escassez de valores e referência limita a interpretação dos dados da distância percorrida em indivíduos com doença pulmonar, e apresenta limitação para profissionais da saúde que desejam fornecer aos pacientes uma medida de distância percorrida esperada. Tendo como base os dados citados anteriormente no estudo de Goldstein et. al. (1994), e ao considerar os parâmetros, que afirmam que uma melhora significativa de 10% corresponde a um acréscimo de 38 m na distância percorrida, o presente estudo infere uma melhora da capacidade física dos participantes com a reabilitação aquática. Visto que o grupo estudado apresentou um aumento de 43 m na distância percorrida, após o programa proposto. Em um estudo semelhante composto por um grupo de sete indivíduos com DPOC, Nunes e Silva (2008) adotaram um programa de treinamento em solo com 24 sessões, duas vezes por semana no período de oito semanas. Não se constatou diferença estatisticamente significativa entre as médias da distância percorrida antes e após intervenção fisioterapêutica, porém, os autores inferiram uma melhora na capacidade física, consequentemente, um aumento da tolerância ao exercício, uma vez que foi obtido um aumento de 97,14 m; dados que divergem do presente estudo, visto que o aumento médio na distância percorrida foi de apenas 43 m. Entretanto, o estudo citado, foi realizado em bicicleta ergométrica e o presente estudo por uma intervenção aquática. Um estudo realizado por Zanchet, Viegas e Lima (2005), durante seis semanas com frequência de três vezes por semana, ao avaliar a eficácia da reabilitação pulmonar na capacidade de exercício de portadores de DPOC através do TC6’, obteve-se uma aumento de 57 m na distância percorrida em solo, resultando num aumento da capacidade funcional resultado que também difere do presente estudo em meio aquático. Observa-se, em toda literatura pesquisada, uma escassez de estudos que se referem à reabilitação aquática e a falta de protocolos pré-estabelecidos, o que impede a comparação deste estudo com outros estudos em meio aquático. Em pacientes com DPOC quanto maior o número de sessões e a intensidade do exercício, melhores serão os resultados, uma vez que, após a cessação do treinamento ocorre uma perca progressiva dos efeitos do treinamento (GULINI; 11 LIMA, 2006). Atribui-se o resultado da presente amostra ao pequeno número de sessões realizadas e ao pequeno período de intervenção. A desnutrição protéico-energética é uma manifestação comum em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, observada em 25% dos pacientes ambulatoriais e 50% dos pacientes hospitalares (FERNANDES; BEZERRA, 2006). O que pode ser observado no presente estudo, pois na Tabela 3 verifica-se que um paciente (25%) apresentou IMC inferior a 21Kg/m2 e três pacientes (75%) apresentaram IMC maior ou igual a 21Kg/m2. A depleção de massa muscular é o principal efeito negativo da desnutrição. Na ausência de reserva corporal de gordura, o organismo mobiliza a reserva corporal de proteína para ser utilizada como fonte de energia ocorrendo desta forma depleção muscular. Essas alterações afetam os músculos ventilatórios reduzindo sua massa e contribuindo para diminuir força e resistência, tornando-os menos eficientes (BORGHI E SILVA et. al., 2005). Os pacientes desnutridos apresentam dispnéia mais intensa, menor capacidade de realizar exercício e pior qualidade de vida. O que pode justificar a falta de alteração da capacidade física do paciente A no presente estudo, uma vez que, foi o único que não apresentou melhora e também o único que apresentou desnutrição protéico-energética conforme apresentado na Tabela 3. A desnutrição reduz a massa diafragmática contribuindo para diminuição de força e resistência muscular. Como consequência, quem perde peso tem mais dispnéia, maior grau de alçaponamento de ar, maior limitação ao exercício do que os indivíduos com peso estável e mesmo grau de obstrução (GULINI; LIMA, 2006). Conforme apresentado na Tabela 3, observa-se um aumento na distância percorrida após intervenção fisioterapêutica aquática nos voluntários B, C e D superior a 50 m, inferindo que os mesmos tiveram uma melhora da capacidade física e da tolerância ao exercício, uma vez que, estudos Zanchet, Viegas e Lima (2005) e Pitta e Godoy (2001), relatam que um aumento da distância percorrida superior a 50 m pode ser considerada melhora da capacidade física após um programa de treinamento físico. 5. Considerações Finais Os efeitos fisiológicos da água são provenientes do exercício executado e variam com a temperatura da água, a pressão hidrostática, a duração do tratamento 12 e a intensidade do exercício. As reações fisiológicas podem sofrer alterações pelas condições da doença de cada paciente (BIASOLI; MACHADO, 2006). Para prescrição de exercício para pacientes com DPOC é preciso que se compreendam os princípios do treinamento físico, especificidade do treinamento (o treino de músculos ou grupos musculares é benéfico apenas para o grupo treinado e atinge apenas o objetivo específico do tipo de treinamento empregado) sobrecarga, deve-se especificar a intensidade, a frequência e a duração do treino (quanto maior o número de sessões e mais intenso maiores são os resultados), reversibilidade (o efeito obtido pelo treinamento é perdido após a cessação do exercício de forma gradual) e individualização (a limitação individual deve ser avaliada para prescrição de exercício) (GULINI; LIMA, 2006). Diante do exposto, no decorrer deste estudo, pode-se afirmar que embora não houve diferença estatisticamente significante na distância percorrida no TC6’ antes e após a intervenção fisioterapêutica aquática, notou-se um aumento médio de 43 m na distância percorrida após o treinamento, o que infere uma tendência a melhora da capacidade física dos participantes após a intervenção fisioterapêutica. Dos quatro participantes deste estudo, três apresentaram aumento significante na distância percorrida no TC6’, sugerindo um aumento do condicionamento físico e da tolerância ao exercício desses indivíduos. Frente à discreta melhora da capacidade física dos participantes desta pesquisa, sugere-se a realização de mais estudos com portadores de DPOC em meio aquático, com uma melhor estratificação da amostra para evitar interferências nos resultados e a elaboração de meios para acompanhamento hemodinâmico na água uma vez que, no presente estudo os recursos financeiros foram apenas dos pesquisadores. Sugere-se também, maior esclarecimento dos voluntários quanto ao treino aquático, pois, a maioria dos indivíduos desistiu do tratamento pelo fato de apresentarem aversão ao meio aquático e/ou não compreenderam a importância do exercício físico supervisionado na DPOC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AMARAL, R. de O.; NETO MARTINS, J. E. C. Reabilitação Pulmonar e Qualidade de Vida Em Pacientes Com DPOC. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, 2003. 13 AMERICAN THORACIC SOCIETY. Standards for the diagnosis and care of patients with chronic obstructive pulmonary disease. 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