DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA - THA DISCIPLINA ARQ&URB NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PROFª DRª. ANA PAULA GURGEL Escola modernista carioca Entre o racionalismo e a cultura brasileira Sumário 1. 2. 3. 4. 5. 6. Contextualização A escola carioca Le Corbusier e o edifício do MES Lucio Costa Oscar Niemayer Referências 1. Contextualização Contextualização 1914 -18 1ª Guerra Mundial 1922 Semana de Arte Moderna 1928 Villa Savoye, de Le Corbusier 1930 Revolução de 30 Lucio Costa assume a Escola de Belas Artes do RJ 1917 1929 1933 1927-28 Revolução Casa do Quebra da Carta de Russa bolsa de NY Atenas arquiteto Gregori Warchavchi k em SP 1934-37 Atuação de Luiz Nunes no Recife 1936-47 Construção dá sede do MES – atual Palácio Capanema 1939 -1945 2ª Guerra Mundial 1940 Complexo da Pampulha de Oscar Niemayer 1947-52 Unité d'Habitation , Marseille de Le Corbusier 1951 Edifício Copan de Oscar Niemayer 2. A escola carioca A escola carioca Revolução de 30 • Antecedentes: política oligárquica do café–com-leite • Aliança Liberal: a chapa encabeçada pelo fazendeiro gaúcho Getúlio Dorneles Vargas prometia um conjunto de medidas reformistas (voto secreto, o estabelecimento de uma legislação trabalhista e o desenvolvimento da indústria nacional) • Júlio Prestes foi considerado vencedor das eleições • Assassinato do liberal João Pessoa • derrubada do governo oligárquico com o auxílio de setores militares A escola carioca Revolução de 30 e a Era Vargas • Criação do Ministério da educação, com o jurista Francisco campos que escolheu como chefe de gabinete Rodrigo de Mello Franco de Andrade, um importante intelectual carioca. • Este convenceu o ministro a convocar Lucio Costa para uma renovação da Escola de Belas Artes: “pretendia-se proporcionar aos seus alunos uma opção entre o ensino acadêmico, ministrado por professores catedráticos, que seriam mantidos em suas funções e o ensino ministrado por elementos mais jovens, identificados com o espírito moderno e que seriam recrutados por contrato” (BRUAND, p. 72) A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes • Lucio Costa chega à direção da Escola com apenas 4 anos de formado em arquitetura e 28 de idade, • Substitui o professor Corrêa Lima, escultor que vinha buscando mudanças, apesar de ter em sua formação a orientação de Archimedes Memória (arquiteto de inclinação clássica) e de José Mariano Filho (antigo diretor), que na ENBA defendia as poéticas da arquitetura neocolonial. • O esgotamento do modelo historicista • Lucio costa já possuía, como jovem intelectual e arquiteto sensível, a sedução do novo, razão que o fez percorrer caminhos ainda não totalmente abertos na Escola. • É importante salientar que ele não era a única voz que defendia a modernidade. A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Desvinculava o ensino de Arquitetura das Belas Artes e incluía em seu currículo as disciplinas do Urbanismo e do Paisagismo. O ensino de Arquitetura assumiria identidade própria, mais próxima da problemática urbana e das novas técnicas da indústria. Rejeitada nos embates iniciais da ENBA, a Reforma seria implantada apenas em 1946, com a fundação da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual UFRJ A contratação de novos professores, afinados com o ideário moderno - entre os quais Gregori Warchavchik (1896 - 1972), bem como o escultor Celso Antônio e o pintor Leo Putz - assim como a reestruturação das Exposições Gerais de Belas Artes e dos prêmios de viagem ao exterior estão entre as metas primeiras do arquiteto. Frank Lloyd Wright ladeado por Gregori Warchavchik e Lúcio Costa, em sua visita ao Brasil em 1931, na Casa Nordshild, RJ. A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes “A reforma visará aparelhar a escola de um ensino técnico‐científico tanto quanto possível perfeito, e orientar o ensino artístico no sentido de uma perfeita harmonia com a construção. Os clássicos serão estudados como disciplina; os estilos históricos como orientação crítica e não para aplicação direta. Acho indispensável que os nossos arquitetos deixem a escola conhecendo perfeitamente a nossa arquitetura da época colonial ‐ não com o intuito da transposição ridícula de seus motivos, não de mandar fazer falsos móveis de jacarandá ‐ os verdadeiros são lindos ‐, mas de aprender as boas lições que ele nos dá de simplicidade, perfeita adaptação ao meio e à função, e consequente beleza.” (COSTA, 1931, p, 89) A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário • 38ª Exposição Geral de Belas Artes realizada entre os dias 1° e 29 de setembro de 1931, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. • Foi revolucionaria por ter abrigado, pela primeira vez, artistas de perfil moderno e modernista. • Comissão organizadora: além de Lucio Costa, Manuel Bandeira, Anita Malfatti, Candido Portinari e Celso Antônio, todos ligados ao movimento moderno. • Diversos artistas modernos expõe • Na arquitetura, Gregori Warchavchik participou apresentando as fotografias de suas casas modernistas Revista da Semana, Rio de Janeiro, 12 de Setembro de 1931. "O Salão de 1931" A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário "O Salão, por exemplo - que exprime sobejamente o nosso grau de cultura artística -, diz bem do que precisamos. De ano para ano, tem-se a impressão de que as telas são sempre as mesmas, as mesmas estátuas, os mesmos modelos, apenas a colocação ligeiramente varia. Apesar do abuso de cor (ter colorido gritante, julgam muitos, é ser moderno), sente-se uma absoluta falta de vida, tanto interior como exterior, uma impressão irremediável de raquitismo, de inanição (...). Tem-se a impressão que vivemos em qualquer ilha perdida no Pacífico, as nossas últimas criações correspondem ainda às primeiras tentativas do impressionismo". Lucio Costa A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Anita Malfatti - O homem amarelo (1915-1916) A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa Antônio Gomide – Nu Cubista - s/d A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Pensando - Flávio de Carvalho - 1931 A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Projeto para farol de Colombo, em tempos onde apenas Gregori Warchavchik possuía obras modernistas construídas Flávio de Carvalho A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret L. Segall - Morro Vermelho 1926 A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Imigrante Lituano, 1930 Paulo Cláudio Rossi Osir A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Caipirinha - c. 1923 – Tarsila do Amaral A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret A feira II, 1925 / Tarsila do Amaral A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Artistas que participaram: • Alberto da Veiga Guignard • Aldo Bonadei • Anita Malfatti (org.) • Antônio Gomide • Cândido Portinari (org.) • Cícero Dias • Di Cavalcanti • Flávio de Carvalho • Ismael Nery • John Graz • Lasar Segall • Paulo Rossi Osir • Quirino da Silva • Tarsila do Amaral • Waldemar da Costa • Victor Brecheret Fuga para o Egito - c. 1924 - Victor Brecheret A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Tocadora de Guitarra, escultura de Victor Brecheret, 1927. A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário Cícero Dias, que apresentou o imenso painel Eu vi o mundo ... Ele começava no Recife, que teve partes que retratavam cenas eróticas danificadas pelo público. A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário • No exato dia da abertura da Exposição, 1° de setembro, o ministro da Educação Francisco Campos demitiu-se do governo, fragilizando a posição de Lucio Costa na direção da Escola. • As resistências e as campanhas movidas contra a gestão de Lucio Costa à frente da ENBA, a despeito do apoio (sobretudo dos alunos), a falta de apoio político, Costa não foi capaz de suportar as pressões e acabou por também se demitir 18 de setembro de 1931, não por acaso no mês em que o Salão Revolucionário abre as portas ao público. • Foi substituído Arquimedes Memória, escolhido por votação da Congregação Porém, o “estrago” já estava feito! A escola carioca A reforma da Escola de Belas Artes Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário O Salão Revolucionário foi sintoma de uma sociedade em transformação, rumo à consolidação da cultura moderna e, em se tratando de sua importância enquanto acontecimento histórico, vale ressaltar uma colocação do pensador Pierre Bourdieu: "a ruptura com o estilo acadêmico implica a ruptura com o estilo de vida que ele supõe e exprime". A despeito da Semana de 1922 já ter proclamado tal ruptura, o Salão reafirma-se em sua importância por realizar as façanhas do moderno no seio da sociedade tradicionalista, representada pela canonizada Escola de Belas Artes. Se em 1922, intelectuais e artistas travaram uma batalha no campo da estética, projetavase nos anos 1930 um combate institucional, na defesa de um sistema de Estado que favorecesse a cultura, e mais especificamente, a cultura moderna. Lucio Costa saiu do comando da Escola, mas deixou a mensagem de ruptura com os dogmas acadêmicos dentro de um recinto oficial. 3. Le Corbusier e o edifício do MES 3. Le Corbusier e o edifício do MES Le Corbusier a bordo do navio Lutetia retornando do Brasil à França, 1929 Foto divulgação [SEGRE, Roberto. Ministério da Educação e Saúde] Primeira viagem: 1929 • Le Corbusier visitou o Rio e São Paulo, durante uma viagem à América do Sul iniciada por Buenos Aires. • Seus anfitriões sulamericanos foram Victoria Ocampo, escritora argentina de elite (de quem, aliás, partira o convite inicial para a viagem), e Paulo Prado, grande fazendeiro de café e também escritor, além de homem influente na política brasileira e patrocinador da Semana de 1922 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para SP Em São Paulo, Le Corbusier descobriu que alguns arquitetos já praticavam o ‘moderno’: Warchavchik, p. ex. Aproveitando a passagem de Le Corbusier, mostrou o que fazia e reuniu o circulo de artistas e amadores de arte de vanguarda de São Paulo. O visitante o convidou a comparecer, como representante da América do Sul, aos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para SP 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para o Rio Victoria Ocampo e Paulo Prado acenaram a Le Corbusier com projetos de villas (mansões), mas não chegaram a confiram-lhes encomendas. As sérias dificuldades para construir uma mansão ‘moderna’ com o arquiteto principal a enorme distância e os riscos e incertezas quanto aos ganhos simbólicos envolvidos em habitar uma ‘casa de vanguarda’, intimidavam os anfitriões sul-americanos de Le Corbusier como comanditários pessoais de sua arquitetura. Assim, a viagem se limitou a conferências em clubes literários, sociedades de engenheiros e arquitetos e câmaras municipais. 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para o Rio No Rio, as conferências de Le Corbusier se repetiram, agora atingindo estudantes e arquitetos descontentes com o ensino na principal escola de belas artes do país e mais próximos ao centro de decisões políticas. O prefeito do Rio, Antônio Prado (irmão de Paulo Prado), ofereceu a Le Corbusier um vôo de avião sobre a cidade, mas nada pôde encomendar como programa urbanístico, visto que outro francês, o urbanista DonatAlfred Agache, já desenvolvia um plano para a cidade. 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para o Rio 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para o Rio As oportunidades de trabalho profissional ficaram adiadas. Le Corbusier trouxe de volta apenas carnês de viagem cheios de desenhos das montanhas do Rio, de mulatas curvilíneas e de negros musculosos. Numerosos croquis em perspectiva aérea de Montevidéu, São, Paulo e Rio de Janeiro mostravam cidades cortadas por `majestosas auto-estradas' que, se construídas, atestariam para todo o sempre a passagem do arquiteto pelo continente. Le Corbusier e Josephine Baker em sua primeira viagem ao Brasil, 1929 3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929 Ideias para o Rio O texto de despedida, escrito a bordo do navio, é pleno de gratidão pelos "momentos de lucidez" que lhe proporcionara a já cansativa "profissão de conferencista improvisador ambulante". Ligado apenas, por enquanto, a amadores de arte com uma relação diletante com a arquitetura, Le Corbusier deixou a América do Sul de mãos vazias. Joséphine Baker e Le Corbusier no Rio de Janeiro, desenho. Le Corbusier, 1929 [SANTOS, Cecilia Rodrigues; et al. Le Corbusier e o Brasil] 3. Le Corbusier e o edifício do MES O concurso para a sede do MES • Criação do Ministério da Educação e Saúde deu-se no âmbito do governo Getúlio Vargas • Em 26 de julho de 1934, dez dias após a eleição de Vargas para a presidência da República pela Constituinte, Gustavo Capanema foi efetivamente nomeado ministro • Dentro das suas ações de “modernização”, organizou o concurso para o edifício do Ministério da Educação e Saúde em 1935. 3. Le Corbusier e o edifício do MES O concurso para a sede do MES • A comissão julgadora, de arquitetos academicistas, escolheu como vencedor o projeto de Archimedes Memória e Francisque Cuchet, com um projeto marcado pela ornamentação marajoara. • O ministro Gustavo Capanema premia o projeto, mas não o executa, chamando Lucio Costa para formular outro plano. 3. Le Corbusier e o edifício do MES O concurso para a sede do MES • A decisão de convidar o próprio Le Corbusier para trabalhar como consultor do projeto é parte de um acordo entre Lucio Costa e Capanema. • O arquiteto franco-suíço chega então ao país, em 1936, para assessorar diretamente o plano do ministério e para elaborar o primeiro esboço da Cidade Universitária que se pretendia construir na Quinta da Boa Vista, mas que nunca saiu do papel. • Lucio Costa forma uma equipe de arquitetos afinados com as linhas mestras do racionalismo arquitetônico: Affonso Eduardo Reidy Carlos Leão Jorge Moreira Ernani Vasconcellos Oscar Niemeyer 3. Le Corbusier e o edifício do MES A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil • entre 12 de julho e 15 de agosto de 1936 • Demonstra resistência em elaborar o projeto do edifício ministerial no terreno originalmente proposto, localizado no centro da cidade, definido por uma quadra inteira delimitada pelas ruas Graça Aranha, Araújo Porto Alegre, da Imprensa e Pedro Lessa Segundo Queiroz (2012) • dos 35 dias que permaneceu na cidade do Rio de Janeiro, Le Corbusier reservou 31 à elaboração de um projeto alternativo para o edifício do ministério, primeiramente implantado em chão fictício, abstrato, vazio e com perspectiva completamente desimpedida, defronte ao mar. • Passados dez dias de sua chegada, o arquiteto encontra o terreno ideal para a implantação de seu novo projeto e adapta seu estudo a uma área linear com o comprimento voltado à Baía da Guanabara. 3. Le Corbusier e o edifício do MES A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil Ministério da Educação e Saúde Pública, estudo para a Praia de Santa Luzia, Le Corbusier e equipe brasileira, 1936 [CORONA, Eduardo. Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura] • Faltando apenas quatro dias para seu retorno à Paris, Le Corbusier é informado da inviabilidade de sua proposta e dedica-se, contrariado, à elaboração de um novo projeto para o terreno original • Esse episódio ilustra com nitidez um dos principais paradoxos da arquitetura moderna: a suposta incompatibilidade entre o projeto do espaço moderno e a cidade tradicional. 3. Le Corbusier e o edifício do MES A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil PROJETO BRASILEIRO Ministério da Educação e Saúde Pública, estudo para o terreno original, Le Corbusier e equipe brasileira, 1936 [CORONA, Eduardo. Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura] 3. Le Corbusier e o edifício do MES Projeto definitivo “essas modificações introduzidas no estudo de Le Corbusier transformavam-no num projeto inteiramente novo, embora integralmente baseado nas propostas Iniciais do arquiteto consultor e aplicando princípios por ele ditados. Não cabe negar a contribuição fundamental de Le Corbusier, plenamente reconhecida pelos jovens brasileiros [...] O projeto definitivo [...] foi obra da equipe brasileira, que lhe deu um desenvolvimento e um encanto peculiares [...] Revelou o talento potencial dos jovens arquitetos cariocas da nova geração. (BRUAND, p. 89) 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES • os três volumes distintos sobre pilotis, projetados por Le Corbusier, se transformam em um bloco principal também sobre pilotis - mais altos do que o previsto - e em dois outros blocos baixos localizados num mesmo eixo, de modo a sugerir continuidade. • No térreo, uma esplanada aberta, ajardinada, com espaços livres distribuídos por todos os lados, valoriza a construção, que ganha um novo efeito de monumentalidade, sugerido pelos contrastes entre volumes e vazios. • o edifício no centro do terreno, e separando-o do entorno: modelo de implantação de arranhacéus isolados, o que subverte as normas de ocupação tradicional da cidade do Rio de Janeiro. 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES • Verticalidade versus a horizontalidade pretendida por Le Corbusier • As salas são dispostas de ambos os lados do corredor central, tendo sido as paredes substituídas por divisórias de meia altura, que facilitam a ventilação e conferem maior flexibilidade ao espaço. • Caixilhos de vidro na fachada sudeste - para maior iluminação e vista da baía de Guanabara e, na fachada oposta, mais iluminada, os brise-soleils. 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES O projeto reflete a tentativa do grupo brasileiro de incorporar os preceitos racionais da arquitetura corbusiana: • • • • • • • • a adoção de formas simples e geométricas, o térreo com pilotis, os terraços-jardim, a fachada envidraçada, as aberturas horizontais, a integração dos espaços interno e externo, o aproveitamento da ventilação e luz naturais por meio do uso de lâminas móveis o trabalho com volumes puros, a partir do cruzamento de um corpo horizontal e de um vertical. 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES • Resultado novo, fruto da combinação entre: o léxico do racionalismo arquitetônico internacional ,e as experiências até então realizadas pela escola carioca. • Segundo Yves Bruand, são inovações brasileiras o dinamismo e a leveza do conjunto, forte integração entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas. • O projeto tem destaque ainda por ser a primeira realização mundial da curtain wall (fachada envidraçada orientada para a face menos exposta ao sol) e a primeira utilização do brise-soleil em larga escala, inventado três anos antes por Le Corbusier 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES “A suspensão da edificação sobre pilotis proposta por Le Corbusier e a consequente desobstrução do solo consiste em uma solução arquitetônica que assimila a técnica – estrutura de concreto armado composta por pilares e vigas – como instrumento fundamental para o desenho da cidade moderna que tem no piloti sua correspondência arquitetônica que permite a constituição de um solo aberto, democrático, sem limites.” (QUEIROZ, s/p, 2012) 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES • Uso de vegetação tropical –paisagista Roberto Burle Marx • Pedras da região • Azulejos 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES “A inserção das artes plásticas no MES esteve relacionada com a participação de alguns membros da equipe na dinâmica artística carioca. Lucio Costa nunca deixou de desenhar as paisagens relacionadas com suas obras e em viagens de estudos. Oscar Niemeyer manteve uma constante produção literária, gráfica, escultórica e de desenho de mobiliário. Carlos Leão foi o mais próximo das atividades artísticas, concentrando no final de sua vida a dedicação à pintura e ao desenho” (BARKI et.al., 2006) 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES “compreenderam eles que a arquitetura nova não estava essencialmente voltada para austeridade e que não devia excluir o apelo a recursos do passado, se estes conservavam sua razão de ser e se adaptavam ao espírito das edificações modernas” (BRUAND, p. 91) 3. Le Corbusier e o edifício do MES O edifício do MES