CONCEPÇÕES SOBRE CUIDADOS PALIATIVOS AOS PACIENTES TERMINAIS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA¹ Fernanda Érica de Medeiros2 Ivanilda Maria de Lacerda Lima3 Odinélia Batista Arantes Lima4 RESUMO: O paciente fora de possibilidades terapêuticas de cura, não somente em sua fase terminal, mas durante todo o percurso da doença, apresenta fragilidades e limitações bastante específicas de naturezas física, psicológica, social e espiritual. Assim, baseado nesse contexto e em decorrência da relevância dessa temática, entende-se que o cuidar de pacientes terminais exige muito mais do que conhecimentos técnico-científicos, requer a compreensão a fundo de sua individualidade, a partir de um relacionamento interpessoal de valorização da pessoa humana contribuindo, consequentemente, com o processo de humanização dos cuidados paliativos. O estudo teve como objetivo: identificar, a partir do resgate bibliográfico, as concepções atuais acerca dos cuidados paliativos em pacientes terminais. Trata-se de um estudo bibliográfico consubstanciado na literatura pertinente, desenvolvido com base em material já elaborado, na qual as informações utilizadas foram de dados obtidos através de livros, revistas científicas, sites indexados; coletados no período fevereiro a março de 2015 em fontes especializadas na temática em estudo. Constata-se que, admitir apenas que não há mais cura para o paciente, não significa que não há mais o que fazer. Ao contrário, surgem inúmeras possibilidades a serem oferecidas ao paciente e sua família, como sua autonomia, suas escolhas e desejos. Palavras-chave: Cuidados paliativos. Doente terminal. Assistência terminal. ________________ 1 Trabalho submetido ao 18º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCENF). Eixo Temático – Gestão, tecnologias e cuidado. 2 Enfermeira. Faculdade Santa Emília de Rodat. Enfermeira no Hospital e Maternidade Sinhá Carneiro. Especialista em UTI e Oncologia. 3 Enfermeira. Faculdade Santa Emília de Rodat. Enfermeira no SAMU/192. Mestranda em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar – FURNE. Especialista em Urgência e Emergência e Enfermagem do Trabalho. 4 Enfermeira. Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Enfermeira no SAMU/192. Especialista em Urgência e Emergência. INTRODUÇÃO Desde os tempos mais remotos, as sociedades oferecem apoio e conforto a seus membros doentes e aos que estão morrendo. Sendo assim, apesar de a morte ser considerada um processo biológico natural à evolução humana, quando ela se manifesta de forma real no cotidiano da pessoa produz sentimentos de dor e sofrimento, por vezes difíceis de serem depreendidos (PESSINI; BERTACHINI, 2005). Nessas circunstâncias, o cuidado a pessoa terminalmente enfermo deve visar sempre ao benefício do doente, preservando sua autonomia e capacidade de tomar decisões, cabendo ao cuidador defender seus direitos de receber uma assistência adequada e sem distinção (SALES; ALENCASTRE, 2003). O paciente fora de possibilidades terapêuticas de cura, não somente em sua fase terminal, mas durante todo o percurso da doença, apresenta fragilidades e limitações bastante específicas de naturezas física, psicológica, social e espiritual. Trata-se daquele paciente, para o qual a ciência não possui recurso para deter o avanço fatal da doença, trazendo interrogações para a equipe de saúde, familiares e para o próprio indivíduo (SILVA; SUDIGURSKY, 2008). A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1990, conceituou cuidados paliativos como o cuidado ativo e total de pacientes cuja doença não responde mais ao tratamento curativo, sendo prioritário o controle da dor e de outros sintomas e problemas de ordem psicológica, social e espiritual, tendo como objetivo proporcionar a melhor qualidade de vida para pacientes e família. O cuidado paliativo por sua vez, é a modalidade de assistência que abrange as dimensões do ser humano, indo além das dimensões física e emocional como prioridades dos cuidados oferecidos e reconhecendo a espiritualidade como fonte de grande bem-estar e de qualidade de vida ao se aproximar a morte (WACHHOLTZ; KEEFE, 2006). Atualmente compreende-se a medicina paliativa como sendo uma especialidade médica voltada em propiciar a melhor qualidade de vida possível àqueles pacientes com doenças muito avançadas e sem possibilidade de cura de sua condição de saúde, por meio de técnicas que aumentem o conforto, mas sem interferirem na sua sobrevida (FERRAI et al., 2008). Esses cuidados proporcionariam a família e ao doente a melhor qualidade de vida possível, um cuidado humanizado e uma sobrevida digna mantendo o doente, o menor tempo possível, longe dos seus lugares habituais e permitindo que ele viva com autonomia a própria morte (SILVA; RIBEIRO; KRUSE, 2009). O cuidado paliativo é reconhecido como uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos indivíduos e familiares na presença de doenças terminais. Controle dos sofrimentos físico, emocional, espiritual e social são aspectos essenciais e orientadores do cuidado. Pode ser oferecido em instituições de saúde bem como na própria residência. Pode e deve ser oferecido aos indivíduos com doença terminal (desde seu diagnóstico até o momento da morte) e aos seus familiares (durante o curso da doença e em programas de enlutamento). (SILVA, HORTALE, 2006) Os princípios dos cuidados paliativos podem ser assim resumidos: a) cuidar integralmente da pessoa, levando em conta os aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais; b) trabalhar com a família do doente, que é o núcleo fundamental de apoio; c) promover a autonomia e a dignidade do doente; d) promover o conceito ativo de terapia; e) propiciar em torno do doente uma atmosfera de respeito, apoio e comunicação; f) contar com o trabalho multidisciplinar dos profissionais. (MARENGO et al, 2009). Segundo Pessini e Bertachini (2005), os direitos fundamentais dos pacientes que estão no final da vida são os de: receber cuidados médicos necessários, ser respeitados em sua dignidade, ser apoiados e cuidados em suas necessidades. Além disso, os pacientes têm direito ao alívio da dor e do sofrimento, a ser informados, à autodeterminação e recusa de tratamentos. Assim, baseado nesse contexto e em decorrência da relevância dessa temática, entende-se que o cuidar de pacientes terminais exige muito mais do que conhecimentos técnico-científicos, requer a compreensão a fundo de sua individualidade, a partir de um relacionamento interpessoal de valorização da pessoa humana contribuindo, consequentemente, com o processo de humanização dos cuidados paliativos. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo identificar, a partir do resgate bibliográfico, as concepções atuais acerca dos cuidados paliativos em pacientes terminais. METODOLOGIA Trata-se de um estudo bibliográfico consubstanciado na literatura pertinente, desenvolvido com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos e tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito (GIL, 2012). A pesquisa foi realizada em bibliotecas de Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas do município de João Pessoa – PB, utilizando como descritores: cuidados paliativos, doente terminal, assistência terminal. As informações utilizadas foram de dados obtidos através de livros, revistas científicas, sites indexados; coletados no período fevereiro a março de 2015 em fontes especializadas na temática em estudo. Inicialmente foi realizada uma leitura exploratória, em seguida fez-se uma leitura analítica, a qual é realizada com base nos textos selecionados a fim de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, de forma que possibilitem a obtenção de respostas ao problema de pesquisa; e posteriormente uma leitura interpretativa, que possibilitou elaborar o corpo do estudo. RESULTADOS Na fase terminal de vida aceitar o fato de que nossa existência, bem como a das pessoas que amamos, tem um “prazo de validade” desconhecido, é árduo (SILVA; RIBEIRO; KRUSE, 2009). A necessidade de chorar a perda de um ente querido é reconhecida por muitas sociedades, embora as manifestações pela perda e o período formal de luto variem de uma cultura para outra (PESSINI; BERTACHINI, 2005). A morte sendo encarada como processo natural, onde todas as suas significações devem ser discutidas com o paciente, família e o profissional, tornam o processo de morrer menos doloroso, envolvido em uma atmosfera de paz e serenidade (SILVA; SUDIGURSKY, 2008). De acordo com Pessini e Bertachini (2005), os pacientes com doenças avançadas ou em estado terminal têm fundamentalmente os mesmos direitos que os outros pacientes, tais como o direito de receber cuidados médicos apropriados, apoio pessoal, direito de ser informados, mas também o direito de recusar procedimentos diagnósticos e/ou tratamentos quando estes simplesmente nada acrescentam diante da morte prevista. Para entender os cuidados paliativos, Firmino (2005) define como uma forma de assistência a qual visa cuidar de pessoas cuja doença não responde mais ao tratamento curativo e se caracteriza por preconizar uma postura ativa frente ao controle dos sinais e sintomas inerentes à fase avançada da doença que se tornou incurável. Em cuidados paliativos, o objetivo é assegurar a melhor qualidade de vida possível; logo, o processo da doença conduz a vida a um final natural, por meio do qual os doentes devem receber conforto físico, emocional e espiritual. Especificamente, presta-se atenção ao fato de que a eutanásia e o suicídio assistido não estão incluídos em nenhuma definição de cuidados paliativos (PESSINI; BERTACHINI, 2005). Quando não existe mais a possibilidade de cura, o foco da atenção ao paciente é a busca pela qualidade de vida no momento de finitude, que deve ser alcançada através do conforto, alívio e controle dos sintomas, suporte espiritual, psicossocial e apoio no processo de enlutamento, ou seja, é propiciar qualidade de vida para paciente e família, nos momentos finais (SILVA; SUDIGURSKY, 2008). Esses cuidados proporcionariam a família e ao doente a melhor qualidade de vida possível, um cuidado humanizado e uma sobrevida digna mantendo o doente, o menor tempo possível, longe dos seus lugares habituais e permitindo que ele viva com autonomia a própria morte (SILVA, RIBEIRO e KRUSE, 2009). O enfermeiro também desempenha um papel muito importante na equipe de cuidados paliativos, particularmente na obtenção de conforto para o doente, pois o enfermo terminal encontra-se geralmente marcado pelos longos períodos de hospitalização e pode sofrer uma variedade de sintomas, desde a constipação intestinal até a depreensão nervosa (SALES; ALENCASTRE, 2003). No âmbito da saúde, há um crescente desenvolvimento de estudos, pesquisas e instrumentos que auxiliam o profissional a promover o aperfeiçoamento de suas habilidades e capacitação no atendimento ao paciente fora de possibilidades terapêuticas (SUSAKI; SILVA; POSSARI, 2006). Quando um paciente se encontra em fase de terminalidade, o objetivo principal do cuidado não é mais preservar a vida, mas torná-la o mais confortável e digna possível. O que pode ser um tratamento adequado para um paciente em fase aguda, pode ser inadequado para um paciente em fase terminal (GIROND; WATERKEMPER, 2006). Os pacientes com doenças avançadas ou em estado terminal têm fundamentalmente os mesmos direitos que os outros pacientes, tais como o direito de receber cuidados médicos apropriados, apoio pessoal, direito de ser informados, mas também o direito de recusar procedimentos diagnósticos e/ou tratamentos quando estes simplesmente nada acrescentam diante da morte prevista (PESSINI; BERTACHINI, 2005). Apesar da necessidade de implantar tais unidades, devemos ressaltar que os cuidados paliativos constituem uma filosofia de cuidado da pessoa. Segundo Combinato e Queiroz (2006), a implantação de programas de capacitação e cuidado aos profissionais, assim como o estabelecimento de políticas públicas que priorizem os princípios dos cuidados paliativos no processo de morte e morrer, poderá beneficiar tanto os profissionais como pacientes e familiares. Portanto, admitir que apenas porque não há cura e que o paciente se encaminha para o fim da vida, não significa que não há mais o que fazer. Ao contrário, surgem inúmeras possibilidades a serem oferecidas ao paciente e sua família, como sua autonomia, suas escolhas e desejos. CONCLUSÃO Apesar de a morte estar presente em nossas vidas e ser inevitável, percebese as dificuldades em lidar com a terminalidade dos enfermos. Assim, acredita-se que os cuidados paliativos sejam capazes de amenizar o sofrimento dos enfermos e seus familiares, por meio de um cuidado holístico e humanizado, facilitando assim, o relacionamento entre os envolvidos. Assim, o estudo em questão foi de grande relevância, pela construção de uma gama de conhecimento técnico-científico. Sendo importante destacar que para nós profissionais de enfermagem, este estudo nos permitiu ter um conhecimento mais amplo do processo de morte, nos preparando para a vida profissional, garantindo assim um maior aprendizado, despertando em nós sentimentos de compaixão e solidariedade. Portanto, almeja-se contribuir para a disseminação do conhecimento produzido acerca da temática investigada, podendo servir como subsídio para a concretização de novas pesquisas na área. Com base no estudo foi possível analisar a importância de implantar os cuidados paliativos nas instituições hospitalares capacitando os profissionais a fim de proporcionarem melhoria na qualidade de vida que resta a estes pacientes fora de possibilidades terapêuticas de cura. REFERÊNCIAS 1. COMBINATO, D. S.; QUEIROZ, M. S. Morte: uma visão psicossocial. Estudos da Psicologia, Paranaíba, v. 11, n. 2, p. 209-216, abr./jun., 2006. 2. FERRAI, et al. Uma Leitura Bioética sobre Cuidados Paliativos: caracterização da produção científica sobre o tema. Bioethikos: Centro Universitário São Camilo, v. 2, n. 1, p. 99-104, mar./abr., 2008. 3. FIRMINO, F. Pacientes Portadores de Feridas Neoplásicas em Serviços de Cuidados Paliativos: contribuições para elaboração de protocolos de intervenções de enfermagem. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v.51, n.4, p. 347359, jan./set., 2005. 4. GIL, A.C. Como elaborar um projeto de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas; 2012. 5. GIROND, J. B. R; WATERKEMPER, R. Sedação, eutanásia e o processo de morrer do paciente com câncer em cuidados paliativos: compreendendo conceitos e inter-relações. Cogitare Enferm, Florianópolis, v. 11, n. 3, p. 258-263, set./dez., 2006. 6. World Health Organization. WHO Expert Committee on Saúde (1995). v.27, n. 1, p. 171-6. 2003. 7. MARENGO, M.O.; FLÁVIO, D.A.; SILVA, R.H.A. Terminalidade de vida: bioética e humanização em saúde. Medicina, Ribeirão Preto, v. 1 n.42, p.340-347. 2009. PESSINI, L; BERTACHINI, L. Novas Perspectivas em Cuidados Paliativos: ética, geriatria, gerontologia, comunicação e espiritualidade. O mundo da saúde, São Paulo, v. 29, n. 4, p. 491-509, out./dez., 2005. 7. SALES, C. A; ALENCASTRE, M. B. Cuidados Paliativos: uma perspectiva de assistência integral à pessoa com neoplasia. Rev Bras Enferm, Brasília, v.56, n.5, p. 566-569, set./out., 2003. 8. SILVA, R.C.F.; HORTALE, V.A. Cuidados paliativos oncológicos: elementos para o debate de diretrizes nesta área. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.22, n. 1, p.2055-66. 2006. 9. SILVA, E. P; SUDIGURSKY, D. Concepções sobre os cuidados paliativos: revisão bibliográfica. Acta Paul Enferm, Salvador, v. 21, n. 3, p. 504-508, mar./jun., 2008. 10. SILVA, K. S; RIBEIRO, R. G; KRUSE, M. H. L. Discursos de enfermeiras sobre morte e morrer: vontade ou verdade? Rev Bras Enferm, Brasília, v. 62, n. 3, p. 451456, mai./jun., 2009. 11. SUSAKI, T. T; SILVA, M. J. P; POSSARI, J. F. Identificação das frases do processo de morrer pelos profissionais de enfermagem. Acta Paul Enferm, São Paulo, v.19, n. 2, p. 144-149, jan./mai., 2006. 12. WACHHOLTZ, A.B.; KEEFE, F.J. What physicians should know about spirituality and chronic pain. South Med J 99(10):1174-1175, 2006. In: PERES, M. F. P. el al. A importância da integração de espiritualidade e da religiosidade no manejo da dor e dos cuidados paliativos. Rev Psiq Clin, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 82-87, 2007.