ASTM CODENT GAEDOW 35(1): 01-40 ISSN 0101-7772 Volume 35 - Número 1 - Janeiro/ Março, 2016 Órgão oficial da Referência em parasitoses intestinais e gastroenterites virais1,2 1 dose 1 3 dias 1 2xdia ao 1 Mesma posologia para todas as indicações 1* * Exceto para criptosporidíase Seringa com escala de peso CONTRAINDICAÇÃO: DIABETES. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: NÃO EXISTEM INTERAÇÕES COM O CITOCROMO CYP 450, NÃO HAVENDO, PORTANTO, CONTRAINDICAÇÕES DE USO CONCOMITANTE COM OUTROS MEDICAMENTOS. OBSERVAR O ITEM PRECAUÇÕES EM RELAÇÃO À ADMINISTRAÇÃO COM ANTICOAGULANTES E ANTICONVULSIVANTES. Annita® (nitazoxanida). Apresentações: pó para suspensão oral - embalagem contendo pó para 45 ml ou 100 ml, após reconstituição. Comprimido revestido embalagem contendo 6 comprimidos revestidos. Indicações: Gastroenterites virais causadas por Rotavírus e Norovírus, nas helmintíases por nematódeos, cestódeos e trematódeos, no tratamento de Enterobius vermiculares, Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercolaris, Ancilostomíase, Trichuris trichiura, Taenia sp, Hymenolepis nana, no tratamento da diarreia causada por amebíases intestinais agudas ou disenteria amebiana causada pelo complexo Entamoeba histolytica/dispar, Giardia lamblia ou Giardia intestinalis, no tratamento da diarreia causada por Cryptosporidium parvum (Criptosporidíase), e também está indicado no tratamento do Blastocistis hominis, Balantidium coli e Isospora belli. Contraindicações: Diabetes, doença hepática ou doença renal, pacientes com história de hipersensibilidade e/ou alergia à nitazoxanida ou aos componentes da fórmula. A forma farmacêutica comprimido revestido não deve ser administrada em crianças de zero a 11 anos. A forma farmacêutica pó para suspensão oral não deve ser administrada em menores de 1 ano. Advertências e precauções: Annita® somente deve ser utilizado durante a lactação se os benefícios justificarem o risco potencial para o lactente. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. Pacientes diabéticos devem ser advertidos de que Annita® possui açúcar. Interações medicamentosas: não existem interações com o citocromo CYP 450, não havendo, portanto, contraindicação de uso concomitante com outros medicamentos. Porém, o uso de Annita® com anticoagulantes do tipo cumarínicos como a varfarina e com o anticonvulsivante fenitoína deve ser avaliado com cautela. Reações adversas: as reações adversas mais comumente relatadas ocorrem no trato gastrointestinal. Náuseas, algumas vezes acompanhadas de cefaleia, anorexia, ocasionalmente vômitos, mal estar abdominal inespecífico e dor abdominal tipo cólica. Annita® pode produzir alteração da cor dos fluidos fisiológicos (ex: urina, esperma) para amarelo esverdeado, sem qualquer significado clínico. Posologia: Annita® deve ser administrado com alimentos. Suspensão oral - Crianças acima de 12 meses em gastroenterites virais causadas por Rotavírus e Norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, isosporíase, balantidíase, blastocistose, criptosporidíase em pacientes sem imunodepressão, a posologia indicada é de 0,375 ml (7,5 mg) por kg, 2 vezes por dia (a cada 12 horas), por 3 dias consecutivos. Na criptosporidíase em pacientes imunodeprimidos, 0,375 ml (7,5 mg) por kg, 2 vezes por dia (a cada 12 horas), por 14 dias, se a contagem de CD4 for superior a 50 céls/mm3. Caso a contagem de CD4 seja inferior a 50 céls/mm3, deve-se manter a medicação por, no mínimo, 8 semanas ou até a resolução dos sintomas e negativação dos oocistos. Comprimidos revestidos - Adultos e crianças acima de 12 anos de idade: gastroenterites virais causadas por Rotavírus e Norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, isosporíase, balantidíase, blastocistose e criptosporidíase em pacientes sem imunodepressão - 1 comprimido (500 mg), 2 vezes por dia (a cada 12 horas), por 3 dias consecutivos. Na criptosporidíase em pacientes imunodeprimidos, 500 a 1000 mg, 2 vezes por dia (a cada 12 horas), por 14 dias, se a contagem de CD4 for superior a 50 céls/mm3. Caso a contagem de CD4 seja inferior a 50 céls/mm3, deve-se manter a medicação por, no mínimo, 8 semanas ou até a resolução dos sintomas e negativação dos oocistos. MS: 1.0390.0173. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SAC 08000 25 01 10. Para ver o texto de bula na íntegra, acesse o site www.fqm.com.br. Referências Bibliográficas: 1. ANNITA. Bula do Produto. 2. ANVISA. Lista “A” de medicamentos de referência. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/95e50000436f3838ba7bfac9763a17cb/LISTA++A+DE+MED+REFER%C3%8ANCIA+17-03-2014.pdf?MOD=AJ PERES>. Acesso em 27 de janeiro de 2016. Fevereiro/2016 Material destinado exclusivamente à classe médica. Gastroenterologia Endoscopia Digestiva A Revista GED – Gastrenterologia Endoscopia Digestiva é o órgão oficial de circulação trimestral da SOBED (Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva), da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia), da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), do CBCD (Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva) e da SBMD (Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva). Fundada pelo Capítulo de São Paulo da SOBED em 1982, durante a gestão do Prof. Dr. Arnaldo José Ganc. Registrado na Lei de Imprensa em 19/11/1981, sob o nº 1.870, Lv. A, no 5o Registro de Títulos e Documentos de São Paulo. Indexada nas seguintes bases de dados LILACS, SCOPUS, EMBASE/EXCERPTA MÉDICA, LATINDEX e ADSAÚDE Editor Chefe Paulo Roberto Arruda Alves (SP) Editores Responsáveis Paulo Roberto Arruda Alves – Endoscopia Digestiva José Galvão Alves – Gastroenterologia Roberto José de Carvalho Filho - Hepatologia Nelson Adami Andreollo - Cirurgia Digestiva Tomás Navarro Rodriguez - Motilidade Digestiva Editores Associados Arnaldo J. Ganc (SP) Jaime Natan Eisig (SP) In Memorian Eduardo Luiz Rachid Cançado (SP) Marcelo Averbach (SP) Sânzio S. Amaral (SP) Conselho Editorial – Brasil Admar Borges da Costa Jr. (PE), Ana Maria Pittella (RJ), Antonio Frederico N. Magalhães (SP), Artur Parada (SP), Bruno Zilberstein (SP), Claudio Coy (SP), Deborah Crespo (PA), Decio Chinzon (SP), Edmundo Pessoa Lopes (PE), Edna Strauss (SP), Edson Pedro da Silva (SC), Everson Artifon (SP), Flair Carrilho (SP), Flavio Quilici (SP), Henrique Coelho (RJ), Hugo Cheinquer (RS), Ismael Maguilnik (RS), João Carlos Andreolli (SP), João Galizzi Filho (MG), José Galvão Alves (RJ), Julio Cesar U. Coelho (PR), Lix A.R. Oliveira (SP), Lorete M.S. Kotze (PR), Lúcia Câmara Castro Oliveira (RJ), Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG), Luiz Pimenta Modena (SP), Luiz Roberto Lopes (SP), Márcio M. Tolentino (SP), Marcus Túlio Haddad (RJ), Mario Pessoa (SP), Martha Pedroso (SP), Maurício Fernando de Almeida Barros (SP), Orlando J.M. Torres (MA), Paulo Bittencourt (BA), Paulo R. Ott Fontes (RS), Paulo Roberto Savassi Rocha (MG), Paulo Sakai (SP), Ramiro Mascarenhas (BA), Raymundo Paraná (BA), Ricardo A. Refinetti (RJ), Roberto Dantas (SP), Sérgio Gabriel Barros (RS), Tomas Navarro Rodriguez (SP), Venâncio A.F. Alves (SP), Vera Lúcia Andrade (MG), Walton Albuquerque (MG) Editores Internacionais Daniel Sifrim (Bélgica), Dirk J. Gouma (Holanda), Helena Cortez Pinto (Portugal), Jorge Daruich (Argentina) Expediente Editorial Coordenadora Geral: Fátima Lombardi dos Santos Endereço da Secretaria Editorial da Revista GED: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.391, Conj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP Tel.: (11) 3813-1610 – Fax: (11) 3032-1460 E-mail: [email protected] Tiragem: 8.350 exemplares Periodicidade: trimestral Circulação: nacional para todos os associados da SOBED, FBG, SBH, CBCD e SBMD Números anteriores e separatas: [email protected] Editoração Eletrônica, Distribuição, Impressão e Publicidade E-mail: [email protected] Tel.: (11) 3186-5600 Sumário Sumário Artigo Original 01 Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA Epidemiological profile of cirrhosis of liver patients treated at the Outpatient of Hepatology of Medical Specialties CESUPA Center (CEMEC) in Belem - PA Juliana Kelly Lima Costa, Silvia Lais Macedo Assis, Vania Brilhante, Ana Paula Rodrigues Guimarães 09 Dano hepático induzido por medicamentos em pacientes ambulatoriais: análise retrospectiva da utilização de medicamentos Drug-induced liver injury in outpatients: retrospective analysis of medication use Marcela Gottschald Pereira, Nília Maria de B. Lima Prado, Genário Santos, Raymundo Paraná 15 Gastrostomia endoscópica percutânea: análise do perfil epidemiológico, indicações e principais complicações em hospital terciário Percutaneous endoscopic gastrostomy: review of epidemiological profile, indications and major complications in tertiary care hospital Ricardo Hatakeyama Eduarda Nassar Tebet Ajeje André Augusto Wanderley Tobaru Cláudia Natália de Paiva Lameira, Daniel Galvão Vidal⁵ Relato de Caso 20 Ruptura de estômago excluso em dilatação endoscópica de estenose de anastomose gastrojejunal em bypass gástrico Rupture of bypassed stomach in endoscopic dilation of gastrojejunal anastomotic stricture in gastric bypass Douglas Jun Kamei, Adriano Reimann, LeandroYoshimi Kashiwagui, Flávia David João de Masi, André Thá Nassif, Indira Barcos Balbino, Gabriela Ávila Paes 24 O primeiro caso de transplante hepático em paciente com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana no Ceará ISSN 0101-7772 The first case of liver transplantation in human immunodeficiency virus positive patient in Ceará Alessandra Maria Mont`Alverne Pierre, Rita Chelly Félix Tavares, Verônica Melo Benevides Queiroga, Juliana Barbosa Lima, Ticiana Mota Esmeraldo, Christiane Valente Takeda, Ivelise Regina Canito Brasil 28 Cirrose por HCV genótipo 1a, tratada com 7 semanas de interferon peguilado/ribavirina, transplantada por hepatocarcinoma, em RVS Cirrhosis by HCV genotype 1a, treated with 7 weeks of pegylated interferon / ribavirin, transplanted for hepatocellular carcinoma, on SVR Matheus Magela dos Reis, Patrícia Naves de Resende, Gustavo de Almeida Vieira, Geisa Perez Medina Gomide, Rodrigo Juliano Molina, Sônia Cançado de Oliveira Cabral 32 Fístula cólon-jejunal em paciente com fecaloma e volvos jejunal e sigmoideano devido à dolicomegassigmoide: relato de caso Colon fistula-jejunal in patient with fecaloma and volvos jejunal sigmoideano and due to dolicomegassigmoide: case report. Mitre Kalil, Diogo Lesqueves Sandoval, Thiago Rampazo Pancini, Ulisses Lopes Guerra Pereira Sobrinho, Daniela Lerback Jacobsen, Luiza Vallory Alochio, Amanda Araújo, Ricardo Dalvi Nicola, Mitre Kalil Junior Artigo de Revisão 36 Atualização tecnológica da elastometria do fígado Tecnological updating of liver elastography J oel Schmillevitch, Rodrigo Mincis, Ricardo Mincis, Daniela Mincis Imagem em Foco 40 Lipoma retal com exteriorização anal aguda Lipoma rectal with acute anal exteriorization Valdemir José Alegre Salles, Matheus José Maia Pereira, Raphael Bacco Gusmão da Rocha, Fernanda Matos Pereira Barucci P G OS E F N D E L AC T RA M DESCONTO AIS 45% O ISE TA M PR 1 O MULAÇÃ OR DUTO CO RO M A V I DA Diretoria das Sociedades Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) Diretoria Biênio 2015-2016: Presidente: Ramiro Robson Fernandes Mascarenhas • Vice-Presidente: Admar Borges da Costa Júnior • 1º Secretário: Paulo Fernando Souto Bittencourt • 2º Secretário: Julio Cesar Souza Lobo • 1º Tesoureiro: José Celso Ardengh • 2º Tesoureiro: Maria Elizabeth Cardoso de Castro • Presidente Eleito 2017-2018: Flávio Hayato Ejima (DF) Sede: Rua Peixoto Gomide, 515 – conjunto 44 – 01409-001 – São Paulo- SP – Tel/Fax: (11) 3148-8200/ 3148-8201 – e-mail: [email protected] – site: www.sobed.org.br. Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) Diretoria Biênio 2015-2016: Presidente: Maria do Carmo Friche Passos • Vice-Presidente: James Ramalho Marinho • Secretário Geral: Ricardo Correa Barbuti • 1º Secretária: Eponina Maria O. Lemme • Diretor Financeiro: Celso Mirra de Paula e Silva • Coordenador do FAPEGE: Luciana Dias Moretzshon • Presidente Eleito 2016-2018: Flávio Antonio Quilici - Sede: Av. Brig. Faria Lima, 2391, 10º andar – cj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP – Tel: (11) 3813-1610/ 3813-1690.Fax: (11) 3032-1460 – e-mail: [email protected] – site: www.fbg.org.br Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) Diretoria 2016-2017: Presidente: Edmundo Pessoa de Almeida Lopes • 1º Vice-Presidente: Carlos Eduardo Brandao • Mello • Secretária Geral: Edna Strauss • Secretário Adjunto: Andrea Doria Batista • 1º Tesoureiro: Fábio Marinho do Rego Barros • Sede: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2391 cj. 102 | São Paulo - SP - CEP 01452-000 | Telefone: (11) 38123253 • (11) 3032-3125 (fax) | [email protected] Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) Diretoria Biênio 2015-2016: Presidente: Bruno Zilberstein • Vice-Presidente: Delta Madureira Filho • 1º Secretário: Carlos Eduardo Jacob • 2º Secretário: Marco Túlio Costa Diniz • Diretor Financeiro/ Tesoureiro: Marco Aurélio Santo • 2º Tesoureiro: Fernando Antonio Siqueira Pinheiro • Sede: Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 – 6º andar – salas 10 e 11 • 01318-901 – São Paulo – SP - Tel: (+5511) 3266 6201 - Fax: (+5511) 3288 8174. e-mails: [email protected] [email protected] - www.cbcd.org.br Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMD) Diretoria da SBMD - Gestão 2015-2016: Presidente:Joaquim Prado Pinto de Moraes Filho • Vice presidente:Tomás Navarro Rodriguez • Secretária geral: Angela C. G. Marinho Falcão Primeira secretária: Claudia Cristina de Sá • Primeiro tesoureiro: Luiz Henrique de Souza Fontes • Segundo tesoureiro: Roberto Luiz Silva Oliveira • Diretor cíentifico: Gerson Ricardo de Souza Domingues • Vice-diretor cientifico: Lúcia Câmara Castro Oliveira Sede: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2391, Conj. 102, Jardim Paulistano – 01452-000 – São Paulo, SP – Fone: (11) 3518-9117 – e-mail: [email protected]. br – site: www.sbmd.org.br Informações aos Autores Modificado em setembro de 2012 A GED, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – SOBED, da Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG, da Sociedade Brasileira de Hepatologia – SBH, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – CBCD e da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva – SBMD, tem por objetivo a divulgação de trabalhos que contribuam para o progresso da Gastroenterologia, da Endoscopia Digestiva, da Hepatologia, da Cirurgia Digestiva e da Motilidade Digestiva. São publicáveis as colaborações que, enviadas à Secretaria da GED (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452-000 – São Paulo, SP, e-mail [email protected]), forem aceitas pelo Conselho Editorial e não tenham sido previamente publicadas e nem o venham a ser, simultaneamente, em outros periódicos. Serão aceitos artigos escritos na língua portuguesa. A critério do Conselho Editorial, poderão ser considerados manuscritos em língua inglesa e castelhana. A GED adota as regras da Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals emitidas pelo International Co mmittee for Medical Journal Editors, disponível na Internet (http:// www.icmje.org). Conteúdo da GED Editoriais Destinam-se à apresentação de temas de natureza polêmica, atual e de impacto, nos quais os editores da GED percebam a necessidade de manifestar de forma sintética a visão destes editores, abordando ou não artigos publicados na GED. Serão escritos pelos editores e/ou membros do Conselho Editorial ou, mediante convite, por outros especialistas. Artigos Originais De pesquisa clínica e/ou experimental, devem apresentar a aprovação da pesquisa pelo Conselho de Ética do hospital, serviço ou instituição onde o trabalho foi realizado. Os artigos devem ser estruturados com os seguintes itens: Resumo e Unitermos, Summary e Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências (acompanhado de unitermos). O título do Artigo Original deverá ser bilíngue (português e inglês). Introdução – Em que se apresenta a justificativa para o estudo, com referências relacionadas ao assunto e o objetivo do artigo. Métodos – Em que se apresentam: a) descrição da amostra utilizada; b) mencionar se há consentimento informado; c) identificação dos métodos, aparelhos e procedimentos utilizados, de modo a permitir a reprodução dos resultados pelos leitores; d) breve descrição e referências de métodos publicados mas não conhecidos amplamente; e) descrição de métodos novos ou modificados; f) se for o caso, referir a análise estatística utilizada, bem como os programas empregados. Resultados – Em que serão apresentados os resultados em sequência lógica, em forma de texto, tabelas e ilustrações; recomenda-se evitar repetição excessiva de dados em tabelas ou ilustrações e no texto. No texto, números menores que 10 serão grafados por extenso; de 10 em diante, serão expressos em algarismos arábicos. Discussão – Em que serão enfatizados: a) os aspectos originais e importantes do artigo, evitando repetir dados já apresentados anteriormente; b) a importância e as limitações dos achados, confrontando com dados da literatura; c) a ligação das conclusões com os objetivos do estudo; d) as conclusões decorrentes do estudo. Referências – As Referências devem ser numeradas na ordem em que são citadas primeiramente no texto. Elas devem seguir as regras do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www.icmje.org. Alguns exemplos mais comuns são apresentados a seguir. Exemplos: 1. Artigo padrão em periódico (devem ser listados todos os autores; se houver mais de seis, citar os seis primeiros, seguidos por et al..): Alper CA, Kruskal MS, Marcus-Bagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al. Genetic prediction of response to hepatitis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:70812. 2. A utor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Livro com autor(es) responsável(is) por todo o conteúdo: With TK. Bile pigments. New York: Academic Press, 1968. 4. Livro com editor(es) como autor(es): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Capítulo de livro: Warshaw AL, Rattner DW. Residual co mmon duct stones and disorders of duodenal ampullae. In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2 Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o Index Medicus (List of Journals Indexed). Se o periódico não constar dessa lista, grafar o nome por extenso. Tabelas – As tabelas devem possuir um título sucinto, com itens explicativos dispostos em seu pé. Devem ser numerados sequencialmente com algarismos arábicos. O mesmo CUIDADO que tem com o seu PACIENTE, nós DEDICAMOS ao nosso produto. Por isso, CONTE com o FLEET ENEMA em seus RECEITUÁRIOS e PRESCRIÇÕES! Informações aos Autores Figuras – Serão aceitas figuras em preto e branco. Figuras coloridas poderão ser publicadas quando forem essenciais para o conteúdo científico do trabalho; nesses casos, o ônus de sua publicação caberá aos autores. Artigos de Revisão Somente serão aceitos quando, a convite dos editores da publicação, fizerem parte da linha de pesquisa do autor, comprovada pela presença de artigos originais na bibliografia e citados no texto. Relato de Caso Devem ser objetivos e precisos, contendo os seguintes itens: 1) Resumo e Unitermos, Summary e Keywords; 2) Introdução; 3) Relato objetivo; 4) Discussão; 5) Conclusões; 6) Referências. O título do Relato de Caso deverá ser bilíngue (português e inglês). Cartas ao Editor Cartas endereçadas ao(s) editor(es) serão consideradas para publicação se promoverem discussão intelectual sobre determinado artigo de publicação recente. Devem conter título informativo e não mais que 500 palavras. Se aceita, uma cópia será enviada ao autor do trabalho que suscitou a discussão, com convite para submeter uma réplica que será publicada junto com a carta. conforme previamente estabelecido. Os autores deverão refeir-se ao “CONSORT” (www.consort.statement.org). Revisão pelos pares Todos os artigos submetidos serão avaliados por dois revisores, os quais emitirão parecer fundamentado que servirá para o(s) editor(es) decidir(em) sobre sua aceitação. Os critérios de avaliação incluem originalidade, contribuição para corpo de conhecimento da área, adequação metodológica, clareza e atualidade. Os artigos aceitos para publicação poderão sofrer revisões editoriais para facilitar sua clareza e entendimento sem alterar seu conteúdo. Direitos autorais Todas as declarações contidas nos artigos serão da inteira responsabilidade dos autores. Aceito o artigo, a GED passa a deter os direitos autorais do material. Assim, todos os autores dos artigos submetidos à GED devem encaminhar um Termo de Transferência de Direitos Autorais. O autor responsável pela correspondência receberá 20 separatas impressas do artigo e o arquivo correspondente em formato pdf. Como enviar o artigo Conflito de interesses O(s) autor(es) deve(m) encaminhar: Conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (RDC 102/2000) e do Conselho Nacional de Saúde (196/96) o(s) autor(es) deve(rão) tornar explícito, por meio de formulário próprio (Divulgação de potencial conflito de interesses), qualquer potencial conflito de interesse relacionado ao artigo submetido. A presente exigência visa informar sobre relações profissionais e/ ou financeiras (como patrocínios e participação societária) com agentes financeiros relacionados aos produtos farmacêuticos ou equipamentos envolvidos no artigo, os quais podem teoricamente influenciar as interpretações deste. A existência ou não de conflito de interesses declarado estará ao final de todos os artigos publicados. • Carta de apresentação assinada por todos os autores ou pelo primeiro autor em nome dos demais, contendo: 1) informação à respeito de submissão prévia ou dupla ou submissão de qualquer parte do artigo atual; 2) uma declaração de relações, financeiras ou não, que possam levar a conflito de interesses; 3) uma declaração de que o artigo foi lido e aprovado por todos os coautores e que os critérios necessários para a declaração de autoria (consultar Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) foram alcançados por todos os autores e que cada autor afirma que os dados do manuscrito são verdadeiros; 4) nome, endereço, telefone e e-mail do autor para correspondência; ele será o responsável pela comunicação com os outros autores a respeito de revisões e provas gráficas. Bioética de experimentos com seres humanos • Termo de Divulgação de Potencial Conflito de Interesses. Experimentos envolvendo seres humanos devem seguir resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (196/96), disponível na Internet (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/Reso/96de96.doc), incluindo a assinatura de um termo de consentimento informado e a proteção da privacidade dos voluntários. Bioética de experimentos com animais • Termo de Transferência de Direitos Autorais. A submissão do artigo pelo correio eletrônico (e-mail) possibilita maior agilidade no procedimento de revisão. Para isso, será necessário o envio dos arquivos contendo o texto e as figuras para o e-mail da GED ([email protected]). Experimentos envolvendo animais devem seguir resoluções específicas (Lei 6.638, de 8/5/1979, e Decreto 24.645, de 10/7/1934). Mensagem aos editores com identificação dos autores deve ser enviada, acompanhada dos endereços convencional e eletrônico e de informações sobre o formato utilizado. Ensaios clínicos O artigo deverá ser enviado em anexo, como attachment, no formato Word para Windows. As figuras deverão estar nos formatos JPEG ou TIFF. Artigos que contêm resultados de ensaios clínicos deverão possibilitar todas as informações necessárias à sua adequada avaliação, XV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo 29 de Outubro a 02 de Novembro de 2016 ExpoMinas | Belo Horizonte | MG Submeta seu trabalho até o dia 01 de Junho Realização Gerenciamento Agência de Viagem Acesse o site sbad2016.com.br e faça já a sua inscrição! Informations to Authors GED is the official journal of the Brazilian Society of Digestive Endoscopy – SOBED, the Brazilian Federation of Gastroenterology – FBG, the Brazilian Society of Hepatology – SBH, the Brazilian College of Digestive Surgery – CBCD, and of the Brazilian Society of Digestive Motility – SBMD, and the purpose of the journal is to publish papers that may contribute towards the progress of Gastroenterology, Digestive Endoscopy, Hepatology, Digestive Surgery and Digestive Motility. Papers sent to the GED Secretariat (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452-000 – São Paulo, SP, Brazil, e-mail [email protected]), which are accepted by the Editorial Board, and which have not been previously or will not be concomitantly published in other journals may be published. cedures used in order to permit reproduction of the results by the readers; d) brief description and references to methods that have been published but that are not broadly know; e) description of new methods or of modified methods; f) mention the statistical analysis or the software used, as the case may be. Papers drafted in the Portuguese language will be accepted. At the discretion of the Editorial Board, papers in the Spanish and in the English language may also be accepted. Discussion – Emphasis will be given to: a) original and major aspects of the paper, without repetition of the aspects previously presented; b) relevance and limitations of the findings, comparing them to information in the literature; c) connection of the conclusions to the objectives of the study; d) conclusions arising out of the study. GED adopts the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals of the International Co mmittee for Medical Journal Editors, available in the Internet (http://www.icmje.org). GED Contents Results – Presenting results in a logical sequence, in text format with tables and illustrations; authors should avoid excessive information repetition in the tables and illustrations and in the text. In the text, numbers below ten will be written in full, whereas numbers 10 and beyond will be written in Arabic numbers. References – Bibliographic references should appear in the order in which they are first quoted in the text. They should follow the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www. icmje.org. Some of the more usual example are presented. Editorials Intended to present polemic, current, and impacting topics whenever GED editors feel the need to present their view in a synthetic manner, whether or not such topics are presented in GED published papers. Editorials are written by the editors and/or by Editorial Board members, or by invited specialists. Original Articles Clinical and/or experimental research papers should present the approval of the research given by the Ethics Co mmittee of the hospital, clinic, or institution were the study was carried out. The following items must be included: Summary (and keywords), Introduction, Methods, Results, Conclusions, References, and Summary and Keywords. The title of the Original Article must be bilingual (Portuguese and English). Introduction – Presents the justification for the study, with references related to the topic and the objective of the paper. Methods – Presenting: a) description of the sample used; b) mention whether or not an informed consent has been obtained; c) identification of methods, devices, and pro- Examples: 1. Standard paper in journals (all authors must be listed; if they are more than six, list the first six followed by et al..): Alper CA, Kruskal MS, Marcus-Bagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al... Genetic prediction of response to hepati tis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:708-12. 2. A utor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Book with author(s) responsible for the full text With TK. Bile pigments: New York: Academic Press, 1968. 4. B ook with editor(s) as author(s): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Chapter of a book: Warshaw AL, Rattner DW. Residual co mmon duct stones and disorders of duodenal ampullae. In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2. Informations to Authors The titles of journal should be abbreviated according to the Index Medicus (List of Journals Indexed). If the journal is not included in such list, write the name in full. information required for their proper evaluation, as previously established. Authors shall refer to the “CONSORT” (www.consort. statement.org). Tables – Tables should have a su mmarized title, with explanatory co mments at the foot of the table. They should be sequentially numbered with Arabic numbers. Review by peers Figures – Black and white figures will be accepted. Color figures may be published when they are essential for the scientific contents of the paper; in such case, the cost of publishing colored figures will be covered by the authors. Letters to the Editor Letters sent to the editor(s) will be considered for publication if they carry an intellectual discussion regarding a recently published article. They should have an informative title and not more than 500 words. If accepted, a copy will be sent to the author of the paper that raised the discussion, with an invitation to submit a reply to be published together with the letter. Conflict of interests As determined by the Sanitary Surveillance Agency (RDC 102/2000) and by the National Health Council (196/96) author(s) should inform explicitly in the adequate form (Disclosure of potential conflict of interests) about any potential conflict of interests related to the paper submitted. This requirement is intended to inform about professional and/ or financial relations (with sponsorships and corporate interests) with financial agents related to medical drugs or equipment involved in the paper, which may theoretically influence the interpretation of the paper. The existence or non-existence of a declared conflict of interests shall be included at the end of all articles published. Bioethics of experiments involving human beings Experiments involving human beings shall follow the specific resolution of the National Health Council available in the Internet address (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/ Reso/ 96de96.doc), including the signature of an informed consent and the protection to volunteer privacy. Bioethics of experiments involving animals Experiments involving animals shall follow specific resolutions (Law 6,638, of May 8, 1979, and Decree 24,645, of July 10, 1934). Clinical Assays Article containing results of clinical assays should disclose all All articles submitted shall be evaluated by two analysts, who shall issue a fundamented opinion to be used by the editors to decide whether or not the paper will be accepted. Evaluation criteria include originality, contribution to the body of knowledge in the area, methodological adequacy, clarity, and contemporaneity. Articles accepted for publication may have editorial revisions to improve clarity and understanding without changing its contents. Copyrights All statements contained in the articles will be under the full responsibility of the authors. After and article is accepted, GED becomes the owner of copyrights of the material. Thus, all authors of the articles submitted to GED should also send a Deed of Copyright Assignment. The author incharge of receiving letters from the readers will receive 20 printed copies of the article and the corresponding pdf file. How to send a paper The author(s) should send: • A letter of submission signed by all authors or by the first author to appear in the list on behalf of all authors, containing: 1) information regarding a prior or double submission of any part of the paper being submitted; 2) a declaration of relations, financial or otherwise, that could lead to a conflict of interests; 3) a declaration that the article has been read and approved by all coauthors and that the criteria to claim authorship (see Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) have been met by all authors and that each author represents that the information in the manuscript is true; 4) name, address, telephone number, and e-mail of the author who will receive letters; this author will be responsible to co mmunicate revisions and print proofs to the other authors. • Deed of Disclosure of a Potential Conflict of Interests. • Deed of Copyright Assignment. Submission of a paper by e-mail allows for greater efficiency of the revision procedures. For that purpose, the text and the figures files shall be sent to the GED e-mail ([email protected]). Messages to the editors with identification of the authors should be sent together with conventional and electronic addresses, and together with information about the format used. The paper shall be sent as an attachment, as a Word for Windows file. Figures shall be in the JPEG or TIFF formats. Artigo Original Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA Epidemiological profile of cirrhosis of liver patients treated at the Outpatient of Hepatology Of Medical Specialties CESUPA Center (CEMEC) in Belem - PA Juliana Kelly Lima Costa,¹ Silvia Lais Macedo de Assis,1 Vania Brilhante,2 Ana Paula Rodrigues Guimarães2 Summary Introducão: A cirrose hepática é considerada a principal doença crônica do fígado, e é caracterizada pela substituição difusa da estrutura hepática por nódulos de estrutura anormal circundados por fibrose. Objetivos: Este trabalho tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no CEMEC. Metodologia: A pesquisa foi realizada pela coleta de dados no período de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014 pela coleta de dados feita em prontuários de pacientes cadastrados (de agosto de 2012 a dezembro de 2013) no CEMEC, em Belém, PA. Tratou-se de um estudo transversal, analítico e descritivo. Resultados: Obtivemos uma amostra total de 21 pacientes (16,27% dos pacientes cadastrados), em que foram observadas as características sexo (masculino 61,9% e feminino 38,1%) com predominância da faixa etária entre 50 e 59 anos (38,1%). A principal origem etiológica foi a alcoólica com um total de 11 pacientes. Ocorreu uma predominância da classe Child-Pugh A (52,4%), em que a alteração laboratorial mais prevalente foi a hiperbilirrubinemia e a complicação mais observada, a presença de varizes esofágicas. Conclusão: O tratamento da doença hepática subjacente, bem antes do desenvolvimento da cirrose, é uma estratégia primária de prevenção. Como as causas principais da cirrose estão relacionadas com escolhas do estilo de vida – como uso de injetáveis, consumo de álcool e sexo sem proteção - os programas de prevenção enfocam justamente na mudança do estilo de vida. Introduction: Cirrhosis is considered the main chronic liver disease and is characterized by diffuse liver replacement by abnormal structure nodules surrounded by fibrosis. Objectives: This study aims to describe the epidemiological profile of patients with liver cirrhosis treated at CEMEC. Methodology: The survey was conducted for data collection made in medical records of patients registered from August 2012 to December 2013 in CEMEC the period December 2013 to February 2014 in Belém, PA. This was a cross-sectional, analytical and descriptive study. Results: We obtained a total sample of 21 patients (16.27% of registered patients) were observed where the characteristics: sex (male 61.9% and female 38.1%) predominated where the age group 50-59 years (38, 1%). The main etiological origin was alcoholic with a total of 11 patients. There was a predominance of Child-Pugh class A (52.4%) where the most prevalent laboratory parameters were hyperbilirubinemia and the most frequently observed complication was the presence of esophageal varices. Conclusion: Treatment of underlying liver disease, long before the development of cirrhosis it is a primary prevention strategy. As the main causes of cirrhosis are related to lifestyle choices - such as injecting, alcohol consumption and unprotected sex - prevention programs just focus on lifestyle change. Unitermos: Cirrose Hepática, Fibrose Hepática, Child-Pugh. Keywords: Liver Cirrhosis, Liver Fibrosis, Child-Pugh. 1. Acadêmicas do Curso de Medicina – Universidade Federal do Pará. 2. Professoras Assistentes do Curso de Medicina do CESUPA. Endereço para correspondência: Av. Almirante Barroso, 3775 – Bairro Sousa – Belém - PA – CEP 66.613-903 – e-mail: aprguimaraes@ hotmail.com Recebido em: 20/01/2016. Aprovado em: 23/03/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 01 15 35 (1): 01-08 Resumo Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no ambulatório de hepatologia do centro de especialidades médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA Introdução A palavra cirrose vem da palavra grega kirrhos, que significa laranja amarelo. Em 1978, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu morfologicamente a cirrose em um processo difuso caracterizado por fibrose e conversão da arquitetura hepática normal em nódulos estruturalmente anormais. 1 A cirrose hepática é considerada a principal doença crônica do fígado, sendo responsável em 1997, no Brasil, por 39.889 internações hospitalares e por uma mortalidade de 12,6 por 100 mil habitantes. Sua prevalência é variável em diferentes países, sendo que a literatura demonstra uma prevalência de 0,3% de cirrose na população dos Estados Unidos. No Brasil não existem estimativas da prevalência de cirrose. 2 Literatura 35 (1): 01-08 02 16 Histologicamente, a cirrose hepática é definida como uma alteração difusa do fígado, em que a arquitetura normal é substituída por nódulos regenerativos, separados por faixas de tecido fibroso, que determina a diminuição das funções de síntese e excreção hepáticas, hipertensão portal com anastomoses portossistêmicas e risco de carcinoma hepatocelular. Pode ser consequência de vários fatores etiológicos, nomeadamente álcool, infecções virais, doenças metabólicas, processos autoimunes ou patologia da via biliar.3 É uma doença severa proveniente de diversos fatores que levam à inflamação crônica do fígado. Entre as causas mais comuns estão as hepatites virais (B e C) e o abuso de substâncias, como álcool, embora a esteatose hepática seja considerada uma causa de cirrose emergente. As hepatites virais B e C são classificadas por uma inflamação no fígado causada pelo vírus. Este vírus é hepatotrópico, ou seja, replica exclusivamente nas células hepáticas humanas, fazendo com que haja uma infecção dos hepatócitos, o que pode induzir o aumento do estresse oxidativo intracelular devido ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e diminuição mitocondrial de antioxidantes como glutationa (GSH), e ainda aumento da lipoperoxidação.4 O abuso no consumo de bebidas alcoólicas também pode causar danos aos hepatócitos. O álcool é degradado no fígado pela enzima álcool desidrogenase (ADH), a qual é responsável por degradar quantias limitadas de álcool, e pelo citocromo P-450E1 (CYP2E1), que degrada quantias excessivas. Ambos convertem o álcool em acetaldeído (etanol). O etanol promove a formação de ERO na mitocôndria, implicando em estresse oxidativo devido à escassez de antioxidantes hepáticos.5 Nos pacientes cirróticos compensados, sem manifestações clínicas de doença hepática avançada (ascite, icterícia, encefalopatia ou hemorragia digestiva), uma ou mais dessas complicações desenvolvem-se em uma taxa de 2530% por década. Entretanto, até que ocorram complicações relacionadas com a cirrose, a mortalidade secundária à doença hepática é rara, sendo inferior a 10% em 10 anos. Todavia, uma vez que o paciente apresenta complicações, a mortalidade aumenta para 50% em 5 anos. O uso de álcool acelera a frequência da descompensação hepática e dobra o risco de mortalidade nos cirróticos.6 A biópsia hepática é o exame padrão ouro para documentar a cirrose, identificar a causa e avaliar extensão do comprometimento hepático. Alguns exames de imagem como a ultrassonografia e a tomografia computadorizada podem delinear as características típicas de um fígado cirrótico e a presença de hipertensão portal quando associados com dados laboratoriais e quadro clínico compatíveis podem auxiliar no diagnóstico de cirrose hepática.2 Até o momento, o transplante de fígado continua sendo a única opção de cura, mas terapias farmacológicas que podem deter a progressão para cirrose descompensada estão sendo desenvolvidos.7 O prognóstico da cirrose depende da etiologia, da gravidade da hepatopatia, da presença de doenças associadas e outras complicações. Várias pesquisas têm sido feitas com o intuito de encontrar o melhor instrumento, não invasivo e de fácil utilização, para avaliar o grau de comprometimento hepático bem como o prognóstico dos pacientes. Dentre os mais utilizados estão os escores Child-Pugh e MELD (The Model for End Stage Liver Disease). O escore Child-Pugh inclui três variáveis contínuas (tempo de protrombina, bilirrubina total e albumina) e duas quantitativas (ascite e encefalopatia hepática). Uma pontuação 1, 2 ou 3 foi atribuída às variáveis, a fim de definir três grupos de pacientes com doenças de gravidade crescente, identificadas pelas letras A, B e C. O grupo A é formado por pacientes com escore (soma de pontos) entre 5 e 6, o B entre 7 e 9 e o C entre 10 e 15. Estudo realizado com 177 pacientes cirróticos, para avaliar a validade prognóstica do escore Child-Pugh, concluiu que a taxa de sobrevida de um ano é de 100% para pacientes Child A, 80% para B e 45% para C. O escore MELD resulta num valor numérico obtido através de uma fórmula logarítmica em que as variáveis são os níveis séricos de creatinina e bilirrubina e o valor do RNI (Relação Normalizada Internacional). É utilizado, atualmente, como um dos preditores de mortalidade em pacientes cirróticos, além de ser um marcador de prioridade para pacientes em lista de transplante hepático.8 GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 J. K. L. Costa, S. L. M. Assis, V. Brilhante, A. P. R. Guimarães c) 40 a 49 anos; d) 50 a 59 anos; e) 60 a 69 anos; f)70 a 79 anos; g) 80 a 89 anos; h) 90 a 99 anos. A pesquisa foi realizada pela coleta de dados feita no período de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014 em prontuários de pacientes cadastrados (agosto de 2012 a dezembro de 2013) no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém, PA. Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, descritivo e analítico. Foram coletados os dados dos prontuários dos pacientes diagnosticados com cirrose hepática atendidos no Ambulatório de Hepatologia do CEMEC em Belém, PA. Para a coleta de dados, foi utilizada uma ficha de autoria própria. Critérios de inclusão: a) Pacientes acima 18 anos; b) Pacientes com diagnóstico de cirrose hepática; c) Aceitação pelo paciente da participação do estudo, após leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), caso haja necessidade de busca de informações diretamente com os pacientes, e d) Pacientes em que contenham no prontuário os resultados de exames laboratoriais (bilirrubina sérica, albumina sérica e tempo de protrombina/INR) e histórico de complicações para a possível classificação nas classes de Child-Pugh. Critérios de exclusão: a) Pacientes abaixo de 18 anos; b) Aqueles que não concordarem em participar da pesquisa, e c) Pacientes em que as informações do prontuário não foram suficientes. Os dados dos pacientes foram coletados e reunidos através de protocolos de autoria própria por meio de seus prontuários; tal coleta foi autorizada através da assinatura por parte da instituição do Termo de Compromisso para Utilização de Dados. Não houve a necessidade de aplicar o TCLE, pois encontramos os dados nos prontuários. A coleta ocorreu no CEMEC após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do CESUPA, em período matutino e vespertino, de acordo com disponibilidade de horário dos pesquisadores. As variáveis do estudo foram: gênero, faixa etária, complicações da cirrose, classificação de Child-Pugh, etiologia da cirrose e comorbidades associadas. O gênero foi classificado em: a) feminino; b) masculino. A faixa etária foi classificada entre: a) 20 a 29 anos; b) 30 a 39 anos; As complicações foram divididas em: a) varizes esofágicas; b) ascite; c) peritonite bacteriana espontânea; d) encefalopatia hepática; e) síndrome hepatorrenal. A definição da classificação de Child-Pugh inclui a análise dos seguintes exames laboratoriais: a) bilirrubina sérica; b) albumina sérica; c) tempo de protrombina/INR, e das seguintes complicações: a) ascite; b) encefalopatia hepática, sendo que cada fator varia de um a três pontos dependendo dos valores e resultados. Para análise do resultado da classificação de Child-Pugh, os pacientes foram divididos em três classes conforme o escore, sendo: a) Classe A: escore de 5 a 6; b) Classe B: escore de 7 a 9; c) Classe C: escore de 10 a 15. A etiologia da cirrose foi dividida em: a) alcóolica; b) hepatite B; c) hepatite C; d) hepatite autoimune; e) esteatose hepática não alcóolica; f) cirrose biliar; g) cirrose criptogênica. Os dados coletados foram armazenados no banco de dados relacional MS-ACCESS versão 2010. Para analisar a distribuição das variáveis e avaliar a tendência presente na amostra serão aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais. As variáveis são todas qualitativas e serão apresentadas por distribuições de frequências absolutas e relativas. A avaliação da tendência amostral será realizada pelo teste do Qui-quadrado.9 Fica previamente fixado o nível de significância alfa = 0.05 para rejeição da hipótese de nulidade. Todo o processamento estatístico será realizado no software BioEstat versão 5,4. Os dados referentes ao estudo foram retirados dos prontuários, e caso algum dado e/ou resultado de exame laboratorial esteja faltando, o paciente seria convocado para solicitação dos mesmos após aceitação e assinatura do TCLE, sendo que as informações serão guardadas sob sigilo absoluto e os nomes dos pacientes ocultados. Desta forma, será mantido o respeito e a seriedade do trabalho em questão. O trabalho será submetido ao julgamento e parecer do CEP do CESUPA, e esta de acordo com a Declaração de Helsinque e com o Código de Nuremberg. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 03 17 35 (1): 01-08 Material e Métodos Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no ambulatório de hepatologia do centro de especialidades médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA Resultados Distribuição do Gênero e Faixa Etária O presente estudo avaliou dados de n=21 pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA (CEMEC). Sendo observadas que as características Sexo (Masculino 61,9%) e Idade (de 50 a 59 anos com 38,1%) foram as mais frequentes, entretanto, não foram consideradas com predominância estatisticamente significante (p>0.05, não significante) (tabela 1). Tabela 1: Características demográficas de n=21 pacientes no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. BelémPA, ano 2013. 35 (1): 01-08 04 18 Características Gerais n % p-valor Gênero0.3827 Feminino 8 38,1 Masculino 13 61,9 Total21 100,0 Faixa etária0.1756 30 a 39 anos 2 9,5 40 a 49 anos 2 9,5 50 a 59 anos 8 38,1 60 a 69 anos 6 28,6 70 a 79 anos 3 14,3 Total21 100,0 Fonte: CEMEC Etiologias da Cirrose O estudo da etiologia da cirrose mostrou que as etiologias mais frequentes foram Alcoólica (47,6%, com p=0,9999 não significante) e Hepatite C (33,3%, com p=0,1904 não significante). Foi observado que a amostra apresentou tendência (p<0,05*) para ausência das seguintes Etiologias da Cirrose: Hepatite B com (95,2%), Cirrose Biliar com (100,0%) e Cirrose Criptogênica (85,7%) (tabela 2). Tabela 2: Etiologia da Cirrose de (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém-PA, ano 2013. Etiologia da Cirrose n 5 p-valor Alcoólica 0,9999 Sim10 47,6 Não11 52,4 Hepatite B< 0,0001* Sim 1 4,8 Não20 95,2 Hepatite C 0,1904 Sim 7 33,3 Não14 66,7 Cirrose Biliar< 0,0001* Sim 0 0,0 Não 21 100,0 Cirrose Criptogênica 0,0023 Sim 3 14,3 Não 18 85,7 Complicações da Cirrose A distribuição das complicações presentes em n=21 pacientes evidenciou que a amostra apresentou tendência altamente significante (p<0,001*) para ausência das seguintes complicações: Peritonite bacteriana espontânea (100,0%), Encefalopatia hepática (81,0%), Síndrome hepatorrenal (100,0%). Nenhum paciente apresentou outras complicações (100.0%). Apenas 23,8% destes pacientes apresentaram ausência total de complicações (nenhuma complicação). As complicações Ascite (47,6%) e Varizes Esofágicas (52.4%) ocorreram, entretanto, sem predominância significativa (p>0.05, não significante) (tabela 3). Tabela 3: Complicações presentes em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém - PA, ano 2013. Complicações da Cirrose n % p-valor Varizes esofágicas 1,0000 Sim 11 52,4 Não 10 47,6 Ascite 1,0000 Sim 10 47,6 Não 11 52,4 Peritonite bacteriana espontânea < 0,0001* Sim 0 0,0 Não 21 100,0 Encefalopatia hepática 0,0088* Sim 4 19,0 Não 17 81,0 Síndrome hepatorrenal < 0,0001* Sim 0 0,0 Não 21 100,0 Outras complicações<0,0001* Presença 0 0,0 Ausência 21 100,0 Nenhuma Complicação 0,0291* Sim 5 23,8 Não *Teste G de aderência Classificação Child Pugh O estudo da classificação de Child-Pugh mostrou que a Classe A com (52.4%) foi mais frequente, todavia, sem significativa maioria (p=0.1561) (tabela 4). Tabela 4: Características de Child-Pugh dos (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém-PA, ano 2013. Classificação de Child-Pugh n % Classe A 11 52,4 Classe B 6 28,6 Classe C 4 19,0 Total21 100,0 *teste G de aderência GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 p-valor = 0,1561, Qui-quadrado J. K. L. Costa, S. L. M. Assis, V. Brilhante, A. P. R. Guimarães Complicações da Cirrose A maioria dos pacientes apresentou ausência de Ascite (52,4%, com p=0,9999 não significante) e significativa ausência de Encefalopatia Hepática com (81,0%, com p=0,0088*, altamente significante) (tabela 5). Tabela 5: Ascite e Encefalopatia em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém-PA, ano 2013. p-valor 0,9999 Presença de Ascite e Encefalopatia n % Ascite Sim 10 47,6 Não 11 52,4 Encefalopatia Hepática Bilirrubina (mg/dL) INR (UI) 0,39 2,20 1,04 Máximo 6,48 4,80 3,10 Mediana 1,69 3,50 1,50 Primeiro Quartil 0,91 2,90 1,20 Terceiro Quartil 2,06 4,00 1,80 Média Aritmética 1,81 3,50 1,54 Variância 1,81 0,42 0,22 Desvio Padrão 1,38 0,65 0,46 Coeficiente de Variação 76,2% 18,6% 30,2% p-valor (normalidade) 0,0092* 0,9285 0,0093* *Teste de Shapiro-Wilk 19,0 *teste G de aderência Comorbidades Associadas à Cirrose Foi observado que a maioria dos pacientes apresentou ausência das seguintes comorbidades associadas: Hipertensão com 71,4%, com p=0,0809 não significante, e Diabetes com 81,0%, com p=0,0088*, estatisticamente significante (tabela 6). Tabela 6: Comorbidades associadas à hipertensão e diabetes de (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém – PA, ano 2013. % p-valor Figura 8: Distribuição da Bilirrubina (mg/dL) em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém-PA, ano 2013. A linha tracejada (azul) indica a região dos valores considerados normais. 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Percentil Hipertensão 0.0809 Sim 6 28,6 Não 15 71,4 Diabetes 0.0088* Sim Não 4 19,0 17 81,0 Figura 9: Distribuição da Albumina (g/dL) em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. Belém-PA, ano 2013. A linha tracejada (azul) indica a região dos valores considerados normais. *Teste G de aderência 5 4,5 Albumira (g/dl) 4 Distribuição da Bilirrubina A distribuição da bilirrubina variou entre 0,39 (mínimo) e 6,48 (máximo). A tendência central está em torno da mediana 1,69, variando entre 09,1 (primeiro quartil) e 2,06 (terceiro quartil), pois o p-valor =0,0092* indica que a variável não apresenta distribuição compatível com a curva normal (tabela 7 e figura 8). A distribuição da albumina variou entre 2,20 (mínimo) e 4,80 (máximo). A tendência central está em torno da média 3,50, com variação de ±0,65 (desvio-padrão), pois o p-valor =0,9285 indica que a variável apresenta distribuição compatível com a curva normal (figura 9). 05 19 35 (1): 01-08 17 81,0 Bilirrubina (mg/dl) Bilirrubina (mg/dl) 4 Não n Albumina (g/dL) Mínimo 0,0088* Sim Comorbidades associadas Tabela 7: Resumo das medidas de Bilirrubina (mg/dL), Albumina (g/ dL) e INR (UI) em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA. BelémPA, ano 2013. 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 010203040 5060708090100 Percentil A distribuição do INR variou entre 1,04 (mínimo) e 3,10 (máximo). A tendência central está em torno da mediana 1,50, GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no ambulatório de hepatologia do centro de especialidades médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA variando entre 1.20 (primeiro quartil) e 1.80 (terceiro quartil), pois o p-valor =0.0093* indica que a variável não apresenta distribuição compatível com a curva normal (figura 10). Figura 10: Distribuição do INR (UI) em (n=21) pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de Especialidades Médicas do CESUPA, Belém-PA, ano 2013. A linha tracejada (azul) indica a região dos valores considerados normais. 4,0 INR (UI) 3,0 2,0 1,0 01020 30405060 70 8090100 Percentil 35 (1): 01-08 06 20 Discussão A cirrose hepática é uma condição definida por sua histopatologia e tem uma ampla variedade de manifestações clínicas e complicações, algumas das quais podem ameaçar a vida. No passado, achava-se que a cirrose nunca era reversível; contudo, ficou claro que, quando o insulto subjacente que causou a cirrose é removido, pode haver reversão da fibrose. Isto é mais evidente no tratamento bem sucedido da hepatite C crônica; no entanto, a reversão da fibrose também é observada em pacientes com hemocromatose cujo tratamento foi bem sucedido, assim como em pacientes com hepatopatia alcoólica que interromperam o uso de álcool.10 Independentemente da causa da cirrose, as características patológicas consistem no desenvolvimento de fibrose até o ponto em que se observa distorção arquitetônica com formação de nódulos regenerativos. Isto resulta na diminuição da massa hepatocelular e, assim sendo, em sua função, assim como em uma alteração do fluxo sanguíneo. A indução da fibrose ocorre com a ativação de células estelares hepáticas, resultando na formação de maior quantidade de colágeno e de outros componentes da matriz extracelular.10 Os dados obtidos mostraram uma realidade que, em sua maioria, não difere muito daquela encontrada em outros trabalhos de diversos autores. Foram avaliados 129 prontuários de todos os pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do CEMEC desde seu início, em agosto de 2012 até dezembro de 2013. O número de pacientes diagnosticados com cirrose hepática até essa data e que os prontuários estavam completos para nossa análise foi de 21, que equivale a 16,27% dos pacientes cadastrados no Ambulatório de Hepatologia do CEMEC. Na tabela 1, observa-se que o gênero predominante foi o masculino com 61,9% (n=13). A ocorrência mais frequente em homens é também igualmente encontrada por todos os autores Paffo et al. e Jipsen et al., que abordaram essa variável2,13 que descreveu o perfil dos pacientes em pré-operatório para transplante de fígado no Hospital de Base de São José do Rio Preto – SP, e sua amostra de 49 pacientes evidenciou o sexo masculino (n=33, 67%) como o prevalente.6,12-15 A literatura mostra, consistentemente, que existem diferenças no consumo do álcool por sexo, sendo o uso abusivo mais frequente em homens. O alcoolismo está negativamente associado com situação socioeconômica, educação, ocupação e renda. Como pode ser visto, também na tabela 1, a maior parte dos pacientes com cirrose hepática neste estudo tem entre 50 e 59 anos (38,1%, n=8), se assemelhando na média de 53,09 anos descrita por Almani et al., 16 que fez um estudo dos pacientes cirróticos no Departamento Médico Cirúrgico no Hospital Universitário de Hyderabad/Jamshoro. A tabela 2 mostra que os pacientes com cirrose hepática atendidos no CEMEC têm, como principal etiologia, o alcoolismo (47,6%, n=10), divergindo apenas do trabalho de Almani et al.16 que descreveu os 139 pacientes atendidos no Hospital Santa Casa de Porto Alegre – RS, onde a principal causa foram as hepatites virais (43,9%, n=72) e em segundo lugar o alcoolismo (29,3%, n=48). Como segunda etiologia mais frequente em nosso trabalho está a Hepatite C (33,3%, n=7), discordando do trabalho de Mattos et al.12 que avaliou as características epidemiológicas e clínicas da cirrose hepática de 475 pacientes na Unidade do Fígado do Hospital Nacional Edgardo Rebagliati Martins da cidade de Salud – Peru, onde a segunda causa foi a hepatite B (15,2%) e a hepatite C (11,8%), a terceira causa. O álcool é uma droga psicotrópica que tem seu consumo admitido e incentivado pela sociedade e principalmente pela mídia em comerciais na televisão. Seu uso é rotina no Brasil e no mundo. De acordo com a OMS, a mortalidadelimitação da condição funcional associada ao consumo de bebida alcoólica superam às associadas ao tabagismo. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 J. K. L. Costa, S. L. M. Assis, V. Brilhante, A. P. R. Guimarães tais dados laboratoriais são usados de rotina da avaliação do dano hepático e tempo de sobrevida e na necessidade de transplante hepático. A hiperbilirrubinemia é um fator de mau prognóstico na cirrose hepática, ocorrendo principalmente à custa da fração direta. Já a albumina como é produzida exclusivamente pelo fígado, trata-se de um teste valioso da função da síntese do órgão. A primeira complicação mais frequente foi a presença de varizes esofágicas descritas em Mattos et. al.14 assim como no nosso trabalho, mas em segundo lugar, as infecções, em terceiro a encefalopatia hepática e por último a ascite; 23,8% (n=5) dos pacientes não apresentou nenhuma complicação. Nenhum paciente já havia tido peritonite bacteriana espontânea e síndrome hepatorrenal. O tempo de protrombina é um dos mais importantes marcadores de função hepática, considerando que o fígado é o local de síntese dos fatores de coagulação e que a meia-vida destes fatores é muito mais curta que a da albumina (ex: Fator VII = 6 horas); deste modo avaliamos uma população que, em sua maioria, possui uma boa reserva hepática e bom prognóstico. Isso deve ter ocorrido devido os nossos pacientes serem atendidos ambulatorialmente para controle e acompanhamento, e não internados devido à cirrose hepática descompensada. Sendo assim, é obrigatória a triagem destes pacientes para a realização de endoscopia digestiva alta, diagnóstica e terapêutica quando necessária. Sugerimos um serviço de endoscopia em todos os centros de atendimentos especializados para melhor avaliação de cada caso. Conclusão A tabela 4 demonstra a classificação de Chilg-Pugh, mostrando que 52,4% (n=11) foram classificados como A, indicando um acesso mais precoce aos serviços de saúde. Isso diverge de Bustios, C. et. al. 12 em que predominou o Child-Pugh B, e em segundo lugar Child-Pugh C, e de Potto et. al.2 onde teve a mesma ordem de frequência; mas estes dois trabalhos foram feitos com pacientes internados em hospital, o que difere dos nossos dados. A tabela 5 mostra que os pacientes têm tendência a ter ascite, mas praticamente não desenvolvem EH, justamente por serem classificados como Child-Pugh A, assim como foi visto no trabalho de Almani et. al.16 A maioria dos pacientes não apresenta comorbidades associadas, como mostra na tabela 6. As duas comorbidades mais presentes foi a hipertensão arterial sistêmica (28,6%, n=6), e diabetes mellitus tipo 2 (19%, n=4). Existe uma carência de estudos acerca dessa variável que permita comparar com este trabalho. A tabela 7 mostra que a bilirrubina encontrava-se em torno de 1,89 de mediana, a albumina em torno da mediana 3,50 e o INR em torno de 1,50, o que é totalmente compatível com a classificação de Child-Pugh encontrada (classe A) visto que O conhecimento do perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com cirrose hepática atendidos no CEMEC coincidiu com a maioria dos estudos avaliados. Houve predomínio do sexo masculino e adultos jovens. A principal etiologia foi de origem alcoólica, mostrando que o álcool é um problema de saúde pública em nosso país, gerando gastos que podiam ser evitados com a mudança nos hábitos de vida dos pacientes. Sendo assim propomos que seja criado um programa de conscientização sobre os malefícios do álcool na população residente em Belém - PA. A complicação que mais esteve presente nestes pacientes foram as varizes esofágicas. O desenvolvimento de um estado circulatório hiperdinâmico provoca uma dilatação ainda maior e o crescimento de varizes e, eventualmente, a sua ruptura e hemorragia varicosa. O presente estudo evidenciou que a maioria dos pacientes atendidos no Ambulatório de Hepatologia do CEMEC são classificados como Child-Pugh A, demonstrando assim que a maioria dos pacientes está em fase inicial da doença e suas alterações laboratoriais são compatíveis com isto. Concluímos que, com o presente estudo, a maioria dos pacientes é referenciado ao hepatologista após sua primeira descompensação, facilitando o acesso e diagnóstico precoce da cirrose hepática; porém, é preciso ainda intervir com medidas e estratégias variadas para tentar conter a instalação da cirrose propriamente dita; tais medidas incluem: prevenção e tratamento do alcoolismo, vacinação para o VHB, detecção e tratamento precoce da hepatite C. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 07 21 35 (1): 01-08 A tabela 3 mostra a presença e ausência de complicações. Demonstra que a principal complicação dos pacientes com cirrose hepática atendidos no CEMEC foram as varizes esofágicas (52,4%, n=11), e em segundo lugar ascite (47,6%, n=10), concordando com o trabalho de Pérez et. al.17 que caracterizou clinicamente os pacientes com cirrose hepática no Hospital Provincial Docente “Dr. Antonio Luaces Iraola.” Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de cirrose hepática atendidos no ambulatório de hepatologia do centro de especialidades médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém - PA Referências 35 (1): 01-08 08 1. Gunnarsdóttir SA. Liver cirrhosis – Epidemiological and Clinical Aspects. Gotemburgo, 2008. 2. Poffo MR, Sakae TM, Mota A, Souza AR. Perfil epidemiológico e fatores prognósticos de mortalidade intra-hospitalar de pacientes cirróticos internados no Hospital Nossa Senhora da Conceição. Arquivos Catarinenses de Medicina, Tubarão. 2009; 38(3): 78-85. 3. Gonçalves LIB. Alcoolismo e Cirrose Hepática [dissertação]. Covilhã: Universidade da Beira Interior; 2009. 4. Krüger RL. Influência da cirrose hepática sobre as capacidades cardiorrespiratória e neuromuscular durante o exercício físico: revisão de literatura [monografia]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012. 5. Bruha R, Dvorak K, Petrtyl J. Alcoholic liver disease. World J Hepatol. 2012; 4(3):81-90. 6. Dittrich S, Mattos AA, Mattos AZ, Alves AV, Araújo FB. Associação entre gradiente de pressão portal e ascite em pacientes com cirrose. Arquivos de Gastroenterologia. 2010; 47(2):174-177. 7. Schuppan D, Afdhal NH. Liver Cirrhosis. Lancet. 2008; 371(9615):838-51. 8. Bassani L. Perfil lipídico de pacientes cirróticos e sua correlação com os escores prognósticos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; 2011. 9. Ayres M, Ayres J, Manuel; Ayres DL; Santos AAS. BioEstat 5.3: Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Biológicas e Médicas. 5. ed. Belém-PA: Publicações Avulsas do Mamirauá; 2007. 10. Wiegand J, Berg T. The etiology, diagnosis and prevention of liver cirrhosis. Dtsch Arztebl Int. 2013;110(6):85-91. 11. Ferreira LL, Arroyo Júnior PC, Silva RCMA, Lamari NM, Cavenaghi OM. Perfil de pacientes em pré-operatório para transplante de fígado em hospital de ensino. Rev. Inst. Ciênc. Saúde. 2013; 31(1): 84-7. 12. Bustíos C, Dávalos M, Zumaeta E. Caracteristicas Epidemiológicas y Clínicas de la Cirrosis Hepática en la Unidad de Hígado del HNERM Es- Salud. Rev Gastroenterol Perú. 2012; 27: 238-245. 13. Jepsen P, Vilstrup H, Andersen PK, Sorensen HT. Socioeconomic status and survival of cirrhosis patientes: A Danish Nationwide cohort study. BMC Gastroenterol. 2009; 9:35. 14. Mattos AZ, Mattos AA, Vianna FF, Musskopf MI, Pereira-Lima JC, Maciel AC. Platelet count/spleen diameter ratio: analysis of its capacity as a predictor of the existence of esophageal varices. Arq Gastroenterol. 2010; 47(3):275-8 15. Iida VH, Silva TJA, Silva ASF, Silva LFF, Alves VAF. Cirrose hepática: aspectos morfológicos relacionados às suas possíveis complicações. Um estudo centrado em necropsias, Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, São Paulo.2005; 41(1): 29-36. 16. Almani A, Memon AS, Memon AI, Shah MI, Rahpoto MQ and Solangi R. Cirrhosis of liver: Etiological factors, complications and prognosis. J Liaquat Uni Med Health Sci 2008; 61-66. 17. Pérez DL, Alfonso BE, Assef JAC, Ramírez MM. Caracterización clínica de los pacientes com cirrosis hepática en el Hospital Provincial Docente “Dr. Antonio Luaces Iraola”. Mediciego. 2011; 17(2): 1-8. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 01-08 Artigo Original Dano hepático induzido por medicamentos em pacientes ambulatoriais: análise retrospectiva da utilização de medicamentos Drug-induced liver injury in outpatients: retrospective analysis of medication use Marcela Gottschald Pereira1, Nília Maria de B. Lima Prado2, Genário Santos3, Raymundo Paraná4 S ummary Introdução: Pouco se sabe sobre a hepatotoxicidade no Brasil, principalmente na assistência básica do Sistema Único de Saúde, devido à subnotificação. Objetivo: Determinar a prevalência de Dano Hepático Induzido por Medicamentos (DHIM), em pacientes ambulatoriais. Método: Estudo retrospectivo. Foram coletados os dados dos pacientes atendidos em clínica especializada por gastroenterologistas no período de 01 a 31 de agosto de 2010. Resultados: Dos 139 pacientes atendidos, foram encontrados quatro casos com suspeita de DHIM (2,87%). A idade média foi de 47,3 anos, 66,2% eram mulheres e média de medicamentos utilizados de 3,36/paciente. Os casos foram validados com a utilização da escala de RUCAM, por especialistas, confirmando um caso por uso de rifampicina e dapsona de sódico e três casos classificados como possível DHIM. Paciente 1 – antissecretores; Paciente 2- glicocorticoides; Paciente 3- antimicrobianos. Conclusão: Apesar da baixa incidência de DHIM, o quadro resultante pode ser grave, acarretando em grandes perdas econômicas para o paciente e para o sistema de saúde. Introduction: Little is known about hepatotoxicity in Brazil, especially in the basic care of the Unified Health System, due to underreporting of cases. Aims: To determine the prevalence of Drug-Induced Liver Injury (DHIM) in outpatients. Methods: Retrospective study. We collected data from medical records, of patients seen in a specialized clinic by gastroenterologists from August 01 to August 31, 2010. Results: Of 139 patients enrolled, four cases were found with suspected DHIM (2.87%): The mean age was 47.3 years, 66.2% were women and average medication used 3.36 per patient. The cases were validated with the use of RUCAM scale, by specialists, confirming a case caused by rifampicin and dapsone and three cases classified as possible DHIM: Patient 1 - antisecretory; Patient 2 glucocorticoids; Patient 3 antimicrobials. Conclusion: Despite the low incidence of DHIM, the resulting picture can be severe, causing huge economic losses for both the patient and the healthcare system. Unitermos: Efeitos Colaterais e Reações Adversas a Medicamentos, Doença Hepática Induzida por Drogas, Farmacovigilância. Keywords: Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions, Drug-Induced Liver Injury, Pharmacovigilance. 1. Farmacêutica/ Universidade Federal da Bahia/IMS, Residente em Saúde Mental/Universidade do Estado da Bahia. 2. Professora do Curso de farmácia do Instituto Multidisciplinar em Saúde /UFBA. 3. Farmacêutico do Serviço de Farmácia do Complexo HUPES da Universidade Federal da Bahia. 4. Professor Titular da Universidade Federal da Bahia. Endereço para correspondência: Marcela Gottschald Pereira – Rua Rio das Contas, 58 – Quadra 1 – Salvador - CEP 45029-094/ e-mail: [email protected] Recebido em: 10/02/2016. Aprovado em: 25/03/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 09 23 35 (1): 09-14 Resumo Dano hepático induzido por medicamentos em pacientes ambulatoriais: análise retrospectiva da utilização de medicamentos principalmente pela dificuldade de diagnóstico e subnotificação por parte dos profissionais de saúde. Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no mundo, mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inapropriadamente e que metade dos pacientes não os utiliza corretamente 1. Os gastos associados ao uso irracional são expressivos, uma vez que dois terços das consultas resultam em prescrições, sendo que as Reações Adversas a Medicamentos (RAMs) aumentam exponencialmente com o uso de quatro ou mais substâncias2. 35 (1): 09-14 10 24 Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o Uso Racional de Medicamentos (URM) ocorre quando o paciente recebe um medicamento seguro, eficaz e de qualidade, em doses adequadas à sua necessidade clínica e por um período de tempo adequado. Com base nesse conceito, a inserção do farmacêutico como parte integrante da equipe de saúde, assim como o desempenho de atividades clínicas, adquirem grande importância na redução e prevenção de erros relacionados ao uso de medicamentos 3. Com a finalidade de identificar e reduzir a ocorrência de RAM, foi criada e implementada no cenário nacional a farmacovigilância, definida como “a ciência e as atividades relativas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos dos medicamentos ou qualquer outro problema relacionado com eles”4. Desde então tem sido implementados diversos estudos na área, com delineamento retrospectivo e busca ativa de evidências em prontuários, sejam conclusivas ou sugestivas, para o rastreio de aparecimento de sinais e sintomas associados a RAM nos pacientes em regime de internamento ou em atendimento ambulatorial. O DHIM possui um amplo espectro de apresentações clínicas, que podem variar desde a elevação subclínica das enzimas hepáticas,até a falência hepática aguda. É um tipo de RAM que pode levar a um grande impacto não só na saúde do paciente, mas também em todo o sistema de saúde, devido ao potencial de severidade do quadro6. Este estudo objetivou avaliar a incidência de DHIM em pacientes ambulatoriais atendidos em uma unidade secundária de saúde, mediante a identificação de medicamentos com maior probabilidade de correlação ao quadro de cada indivíduo, considerando registros realizados em prontuários médicos, tais como medicamentos prescritos, sinais e sintomas apresentados, resultados de testes de funções hepáticas e demais exames clínicos e laboratoriais. Métodos Delineamento do estudo Trata-se de um estudo observacional e retrospectivo, realizado no período de 01 a 31 de agosto de 2011. Não houve intervenção. Local do estudo O estudo foi realizado no Centro Municipal de Atendimento Especializado (CEMAE) do município de Vitória da Conquista, Bahia. O CEMAE atende pacientes de Vitória da Conquista e demais municípios que participam da Programação Pactuada e Integrada (PPI), contando com 61 médicos de diversas especialidades e mais de 306 mil usuários cadastrados. Diante desse quadro, um dos problemas com grande destaque na mídia e em encontros científicos na área da saúde, tem sido o Dano Hepático Induzido por Medicamentos (DHIM). A sua ocorrência é baixa quando comparada à ocorrência global de RAM e à de outras hepatopatias (virais, alcoólicas, hereditárias e idiopáticas). O ambulatório sede deste estudo é essencial neste contexto por dispensar todo o elenco de medicamentos municipal, selecionados de acordo com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), uma publicação do Ministério da Saúde que seleciona os medicamentos para combater as doenças mais comuns que atingem a população brasileira. Em pacientes ambulatoriais, a frequência de DHIM é menor, variando de 1/100.000 e 1/10.000.5 Contudo, a ocorrência de casos de DHIM pode ser maior do que as estimativas oficiais indicam, podendo haver casos negligenciados, Desta forma, os resultados do monitoramento terapêutico poderão ter reflexo em todo o território nacional, tendo em vista o caráter unânime de utilização de medicamentos constantes na RENAME. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 M. G. Pereira, N. M. B. L. Prado, G. Santos, R. Paraná A análise dos prontuários objetivou identificar sinais de RAM, com ênfase em casos de DHIM. Para tal foram avaliadas as manifestações clínicas relatadas pelos pacientes e registradas no prontuário durante as consultas clínicas e a investigação de sinais e sintomas característicos de lesão hepática, tais como icterícia, prurido, principalmente noturno, rash cutâneo, linfadenopatias e náuseas. Buscou-se também analisar os resultados de exames laboratoriais, particularmente: testes de função e lesão hepática, bilirrubina total, alanina transaminase (ALT), fosfatase alcalina, tempo de protrombina (TP), nível de gama-glutamil peptidase (GGT), bilirrubina conjugada, e aspartato transaminase (AST), visando descartar dano hepático prévio. Para verificar se os eventos adversos suspeitos eram conhecidos e descritos na literatura, foram realizadas pesquisas utilizando as bases de dados Micromedex7, Lilacs8 e Medline9. Todos os casos suspeitos foram avaliados por uma equipe de consenso (formada por especialistas convidados, médicos e farmacêuticos, cegos quanto à metodologia). A equipe avaliou cada prontuário, considerando os aspectos clínicos e resultados de exames laboratoriais e de imagem (quando disponíveis). O dano hepático foi confirmado através de avaliação de critérios cronológicos relacionados ao inicio do aparecimento das complicações hepáticas, do uso dos medicamentos e da aplicação dos métodos de RUCAM,10 que permitiu a categorização do dano hepático como definido (pontuação ≥ a 9), provável (pontuação 5 a 8), possível (pontuação 1 a 4) e duvidosa (pontuação ≤ 0). Análise dos dados Os dados obtidos foram tabulados na base de dados de Microsoft Excel®, sendo os medicamentos classificados utilizando-se a Anatomical Therapeutic Chemical Classification Index (ATC), desenvolvido pelo WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology .11 Os diagnósticos foram classificados de acordo com a Classificação Internacional de Doenças - CID-10.12 Todas as análises estatísticas foram realizadas pelos pesquisadores, com o uso do programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Aspectos éticos O projeto original intitulado “Avaliação da incidência de hepatotoxicidade induzida por fármacos em pacientes ambulatoriais”, do qual este projeto analisou os resultados. Este artigo original faz parte do projeto Hepatox Brasil com recursos financeiros da Fundação Jonhson & Jonhson, apoio logístico da Sociedade Brasileira de Hepatologia e da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, Bahia. Ele foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Edigard Santos, CEP-HUPES, sob o parecer nº: 017/2011, de acordo com a resolução nº: 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados Foram atendidos por gastroenterologistas no CEMAE no período de 01 a 31 de janeiro de 2011 um total de 139 pacientes, sendo 29,5% do sexo masculino e 66,2% do sexo feminino - em 4,2% dos prontuários não foi possível identificar o gênero do paciente. A idade variou entre 19 e 87 anos com média de 47 anos. Do total, 71,94% dos pacientes fizeram uso de pelo menos um medicamento, sendo em 38,1% identificada a ocorrência de politerapia, com variação entre 1 e 13 e média de 4 medicamentos. Foi feita a correlação entre os achados e os fatores de risco citados na literatura científica com potencial para o desenvolvimento de dano hepático induzido por fármacos. Considerou-se como fatores independentes os dados demográficos, fatores de risco para desenvolvimento de dano hepático sem indução de medicamentos, alergias medicamentosas, especialidade do médico assistente, sinais e sintomas, dados laboratoriais diversos e co-morbidades tais como: Infecção viral pelos vírus da hepatite A, B ou C, Citomegalovírus ou Herpes Vírus. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 11 25 35 (1): 09-14 Critérios de inclusão dos pacientes Foram incluídos prontuários de pacientes com idade superior a 18 anos atendidos por gastroenterologistas. Dano hepático induzido por medicamentos em pacientes ambulatoriais: análise retrospectiva da utilização de medicamentos Os fatores dependentes foram: uso de medicamentos com potencial para o desenvolvimento de DHIM, plantas medicinais, fitoterápicos e suplementos alimentares utilizados após a realização dos exames basais de função hepática em pacientes sem dano hepático prévio. A tabela 1 mostra os principais medicamentos com implicação em dano hepático, que foram identificados no levantamento retrospectivo dos dados. 35 (1): 09-14 12 26 Os grupos farmacológicos mais utilizados pelos pacientes do estudo foram medicamentos usados em gastroenterologia, com maior predominância de antissecretores (35,7%), medicamentos utilizados em cardiologia (22,9%), saúde mental (12,7%) e antimicrobianos, antifúngicos e antivirais (11%): 75,9% dos medicamentos utilizados constavam na RENAME 2013. 13 Foram identificados três casos suspeitos e um confirmado de DHIM (2,87% do total de 139 prontuários analisados no estudo). Tabela 1. Principais medicamentos com implicação de dano hepático identificados no estudo retrospectivo. Características n (%) Quantidade de Princípio ativo por paciente 3,36 Medicamentos utilizados em gastroenterologia 120 (35,7%) Medicamentos cardiovasculares 77 (22,9%) Medicamentos utilizados em saúde mental 43 (12,7%) Antimicrobianos/antifúngicos/antivirais 37 (11,0%) Dano Hepático n Confirmado 1 Possível 3 Medicamento Rifampicina e Dapsona Paciente 1 Omeprazol e Pantoprazol Paciente 2 Prednisona e Beclometasona Paciente 3 Claritromicina e Amoxicilina *p valor < 0,05 Discussão Dada à dificuldade em se obter marcadores específicos para DHIM, o diagnóstico depende da avaliação de um conjunto de critérios, que inclui a relação temporal compatível entre o início e o desaparecimento dos sintomas com o início e o final do tratamento medicamentoso, padrão bioquímico característico e a exclusão de outras etiologias. 14 Para facilitar o diagnóstico, são utilizadas escalas, ou algoritmos, com o objetivo de identificar sinais e sintomas que formam o quadro clínico característico de DHIM. 14 A frequência de DHIM encontrada nesse estudo, de 2,87%, está próximo dos resultados identificadas em outros estudos. Estima-se ainda que apenas 10% dos casos de DHIM sejam notificados, o que poderia elevar de forma significativa o numero real de casos.15 Em um estudo de De Valle e colaboradores (2006), realizado com pacientes ambulatoriais, foi encontrada uma incidência de DHIM de 6,6% (77 casos, de um total de 1164 pacientes).16 A média de idade dos pacientes afetados foi de 58 anos, e houve uma maior incidência entre mulheres (56%). Os medicamentos mais implicados foram antibióticos e AINES, principalmente o diclofenaco. No estudo realizado por Aithal e colaboradores (1999), foi encontrado resultado semelhante, com média de idade dos pacientes com quadro suspeito de DHIM de 49 anos e predominância do sexo feminino (59%).17 Com o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para doenças crônicas não transmissíveis, entre elas a hipertensão e o diabetes, e a melhoria nas condições sanitárias e nutricionais da população, pode-se observar o aumento no numero de idosos, que constituem um grupo de risco para diversos eventos adversos, sejam eles relacionados à metabolização do fármaco ou a erros na administração.18 Nesse estudo retrospectivo foi possível observar que a média de idade dos pacientes foi de 47,3 anos, com 29,5% acima dos 60 anos. Uma maior incidência de DHIM em idosos pode ser explicada por alterações no fluxo sanguíneo hepático, redução da capacidade metabólica e depuração renal e pela politerapia, fator comumente presente em idosos. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 M. G. Pereira, N. M. B. L. Prado, G. Santos, R. Paraná Além do envelhecimento populacional, a transição epidemiológica, com o aumento da incidência de doenças crônicas não transmissíveis e redução das infecto-contagiosas, constituem um novo ponto de vista a ser observado. O perfil brasileiro é considerado misto, com aumento dos casos de neoplasias e problemas autoimunes, mas com um número ainda grande de parasitoses e doenças como tuberculose18. Foi encontrado no estudo um caso confirmado de DHIM, que ocorreu durante o tratamento com rifampicina e dapsona. Tuberculostáticos são frequentemente associados a quadros de DHIM, e a Rifampicina, conhecida por ser um potente indutor enzimático que interfere na captação e excreção de bilirrubina, é conhecida por potencializar quadros de hepatotoxicidade induzida por outros fármacos e levar a quadros de hepatite19. A rifampicina possui sozinha, baixo potencial hepatotóxico. Mas quando em associação com outros fármacos utilizados no tratamento contra tuberculose aumenta o risco de DHIM20. No estudo realizado por Restrepo e colaboradores (2008) com pacientes ambulatoriais e internados em um hospital em Medellín, antibióticos, e entre eles a associação de isoniazida e rifampicina, foram responsáveis por 35,8% dos casos de DHIM.6 Com relação aos outros três casos suspeitos encontrados no levantamento de dados, não foi possível identificar o fármaco causador do quadro, de forma isolada. A possibilidade de DHIM está atrelada a 2 ou mais medicamentos, devido à impossibilidade de se estabelecer uma relação temporal entre a instalação do quadro e o início do uso de algum medicamento dado ao delineamento retrospectivo. Desta forma, o resultado da aplicação do RUCAM associado a análise do prontuário apontaram possível dano para todos os medicamentos listados. A ocorrência de RAM, e mais especificamente DHIM, ainda não é totalmente conhecida no Brasil. Para tanto, é necessária a realização de estudos com foco nessa população, criando um perfil epidemiológico local, e analisando à incidência real do problema. O perfil epidemiológico da população a ser estudada é de grande importância no rastreamento de DHIM, delimitando desta forma grupos de risco, o que facilita o monitoramento, detecção, tratamento e mesmo a prevenção de quadros mais severos. Apesar da baixa incidência de DHIM, o quadro resultante pode ser grave, acarretando em grandes perdas econômicas para o paciente e para o sistema de saúde como alto custo do tratamento, aumento do tempo de internação, superlotação de hospitais. O diagnóstico precoce é de extrema importância, pois a identificação da substância agressora, com auxílio de escalas diagnósticas como a RUCAM, pode reduzir ou cessar a agressão. O diagnóstico precoce também pode assim prevenir a evolução para formas mais severas ou cronificação do dano, sendo possível haver melhora mesmo quando já está instalado o quadro de hepatite crônica. Mesmo com o auxílio de escalas como a RUCAM e critérios clínicos, danos hepáticos causados por medicamentos são de difícil detecção, visto que o quadro apresentado pode mimetizar um grande espectro de doenças hepato-biliares.19 Este fator aliado à subnotificação de casos de DHIM contribuem para aparente baixa incidência do problema. A tarefa se torna mais complexa quando há uso concomitante de outros medicamentos ou plantas medicinais, sobre os quais ainda não há estudos.20 Considerações Finais A falta de informações registradas nos prontuários é um problema em estudos retrospectivos, acarretando em dificuldades na identificação de sinais e sintomas apresentados por pacientes, dos medicamentos com maior probabilidade de levarem ao quadro clínico e no estabelecimento da relação temporal entre o início do tratamento e o aparecimento dos sintomas. Salienta-se que estudos como este podem ser relevantes pela investigação da utilização de medicamentos inseridos nas Relações Municipais de Medicamentos Essenciais (REMUME) e na RENAME e, portanto, abranger uma parcela significante da população brasileira. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 13 27 35 (1): 09-14 A média de medicamentos utilizados foi de 3,36. Sabe-se que este é um fator de risco para RAM, que potencializa a possibilidade de desenvolvimento de DHIM, assim como os pacientes em extremos de idades, como os neonatos e idosos.15 Dano hepático induzido por medicamentos em pacientes ambulatoriais: análise retrospectiva da utilização de medicamentos Referências 35 (1): 09-14 14 28 1. WHO. Report of the WHO Expert Committee on National Drug Policies (including the revised Model List of essential drugs) Geneva:WHO,1995 2. Bates DW, Spell N, Cullen DJ, Burdick E, Laird N, Petersen LA, etal. The costs of adverse drug events in hospitalized patients. Adverse Drug Events Prevention Study Group. JAMA. 1997 277(4):307-11. 3. OPAS. Buenas Prácticas de Farmacovigilancia para las Américas. Red Panamericana de Armonización de la Reglamentación Farmacéutica. Washington, 2010. 4. OMS/OPAS. A Importância da Farmacovigilância: Monitorização da Segurança dos Medicamentos. Brasília, 2005. 5. Andrade, R.J.; Lucenab, M.I.; García-Cortésa, M. Utilidad de los de registros de hepatotoxicidad por fármacos. Gastroenterologia Hepatologia, Málaga, V. 24, P. 250255, 2001. 6. Restrepo, J.C.; Muñoz, J.F.; Correa, G.; Zuleta, J.; Londoño, M.; Botero, A.; Osorio, G.; Sepúlveda, M. E.; Yepes, N. L. Hepatotoxicidad detectada en un hospital de cuarto nivel en la ciudad de Medellín. Acta Médica Colombiana, Medellín, V. 33 N. 4, P. 261-267, oct/dez. 2008. 7. Micromedex® Healthcare Series [Internet database]. Greenwood Village, Colo: Thomson Healthcare. Atualizado periodicamente. 8. LILACS. Centro atino-americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Disponível em: http://bvsalud. org/portal-lis/lis-search/?q=thematic_area%3A%22LISBR0%22 9. MEDLINE.- Literatura Internacional em Ciências da Saúde Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-bin/ wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=MEDLINE&lang=p&form=F10. Danan G.; Benichou C. Causality assessment of adverse reactions to drugs I. A novel method based on the conclusions of international consensus meetings: application to drug-induced liver injuries. J Clin Epidemiol. V. 46: P. 1323-30, 1993. 10. WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodo- 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. logy. ATC/DDD Index 2016. Disponível em: http://www. whocc.no/atc_ddd_index/ Organização Mundial da Saúde. CID-10: classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 9 ed. rev. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2003. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME. Brasília, 2013. Council for International Organizations of Medical Sciences (CIOMS) (2002).Geneva, World Health Organization,2002. Cifuentes, F. T. Hepatotoxicidad por Fármacos. Revista Clínica de Medicina de Familia, Albacete, V. 3, N. 3, P. 177-191, 2010. De Valle, M. B.; AvKlinteberg, V.; Alem, N.; Olsson, R.; Bjornsson, E. Drug-induced liver injury in a Swedish University hospital out-patient hepatology clinic. Alimentary Pharmacology & Therapeutics, Gothenburg, V. 24, P. 1187–1195, 2006.17. Aithal, P. G.; Day, C. P. The natural history of histologically proved drug induced liver disease. GUT, Newcastle, V. 44, P. 731–735, 1999. Garrido, R.; Menezes, P. R. O Brasil está envelhecendo: boas e más notícias por uma perspectiva epidemiológica. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, V. 24(Supl I), P. 3-6, 2002. Matos, L. C.; Martins, B. Hepatites tóxicas: revisão da literatura. REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE MEDICINA INTERNA, Viseu, V.12,N. 4, P. 239-258, OUT/ DEZ 2005. Garrido, R.; Menezes, P. R. O Brasil está envelhecendo: boas e más notícias por uma perspectiva epidemiológica. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, V. 24(Supl I), P. 3-6, 2002. Matos, L. C.; Martins, B. Hepatites tóxicas: revisão da literatura. REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE MEDICINA INTERNA, Viseu, V.12,N. 4, P. 239-258, OUT/ DEZ 2005. Yew, W.W.; Leung, C.C. Antituberculosis drugs and hepatotoxicity. Respirology, Hong Kong, V. 11, P. 699–707. 2006. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 09-14 Artigo Original Gastrostomia endoscópica percutânea: análise do perfil epidemiológico, indicações e principais complicações em hospital terciário Percutaneous endoscopic gastrostomy: review of epidemiological profile, indications and major complications in tertiary care hospital R icardo H atakeyama ,¹ E duarda N assar T ebet A jeje ,² A ndré A ugusto W anderley T obaru ,³ C láudia N atália L ameira , 4 D aniel G alvão V idal . 5⁵ de P aiva Resumo Summary Objetivos: Descrever, analisar e avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes que realizaram gastrostomia endoscópica percutânea no Serviço de Endoscopia do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul Rosa Pedrosian, de 01 de janeiro de 2013 a 01 de janeiro de 2015, as indicações e complicações associadas ao procedimento. Materiais e métodos: Foram analisados os dados coletados de prontuários de 108 pacientes que realizaram gastrostomia endoscópica percutânea pela técnica de tração (pull technique) descrita por Ponsky e Gauderer em 1981, com o aparelho de endoscopia Olympus Evis Exera II CV-180 e kits de gastrostomia endoscópica percutânea “Percutaneous Endoscopic Gastrostomy feeding tube, Kit, 24 Fr O.D., Pull Method” fornecido pela Boston Scientific®. Todos os pacientes receberam antibioticoprofilaxia com cefazolina quando não estavam em uso de antibioticoterapia. Resultados: 62 pacientes eram do sexo feminino (57%) e 46 do sexo masculino (43%), com idade que variou entre 2 e 95 anos (média 69,05 anos). Acidente vascular encefálico foi a principal indicação do procedimento em 62 (57%) casos. Ocorreram 2 complicações maiores (6%) em pacientes que tiveram broncoaspiração durante o procedimento endoscópico e foram a óbito na sala de endoscopia. Em 30 (31%) pacientes houve complicações, sendo encontrada mais de uma complicação menor no mesmo paciente totalizando 33 complicações consideradas menores (94%). A principal complicação encontrada foi infecção periostomal em 11 (10%) pacientes. Conclusões: A gastrostomia endoscópica percutânea apresenta altos índices de sucesso e baixos índices de complicações, qualificando-a como método de escolha para obtenção de via alimentar definitiva em pacientes com incapacidade de alimentação por via oral. Objective: To describe, analyze and evaluate the profile of Unitermos: Apoio Nutricional, Gastrostomia, Endoscopia Gastrointestinal. Keywords: Nutritional Support, Gastrostomy, Endoscopy patients submit percutaneous endoscopy gastrostomy at the Endoscopy Department of the Hospital Regional de Mato January 2015, and the indications and complications related to the procedure. Materials and methods: The collected data were analyzed of 108 records patients to submit percutaneous endoscopy gastrostomy by pull technique described in 1981 by Ponsky and Gauderer, using Olympus Evis Exera II CV-180 endoscopy and “Percutaneous Endoscopic Gastrostomy feeding tube, Kit, 24 Fr O.D., Pull Method” provided by Boston Scientific®. Antibiotic prophylaxis with cefazolina was administered in all patients when not in use of antibiotic therapy. Results: 62 patients were women (57%) and 46 men (43%). Mean age was 69, 05 years old (2 to 95). Stroke was the most common indication for the procedure in 63 (57%) cases. Occurred 2 major complications (6%) in patients with aspiration and death in the endoscopy room. In 30 (31%) patients were complications, was found more than one minor complication in the same patient totalizing 33 minor complications (94%). The common complication was periostomal infection in 11 (10%) patients. Conclusions: The percutaneous endoscopy gastrostomy has high success rates and low complications, considering with gold standard method in patients with impaired dietary. Gastrointestinal. 1. Residente do 2° ano de Cirurgia Geral do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul. 2. Médica Assistente do Serviço de Endoscopia Digestiva Alta do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul. 3. Médico Assistente do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul. 4. Acadêmica do 6° ano da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. 5. Acadêmico do 5° ano da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Endereço para correspondência: Avenida Luthero Lopes, sem número - Bairro Aero Rancho - CEP 79084-180 - Campo Grande – MS/ e-mail: [email protected]. Recebido em: 15/02/2016. Aprovado em: 24/03/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 15-19 15 29 35(1):15-19 Grosso do Sul Rosa Pedrossian from 01 January 2013 to 01 Gastrostomia endoscópica percutânea: análise do perfil epidemiológico, indicações e principais complicações em hospital terciário Introdução Métodos A gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) teve início na década de 1980, com os primeiros procedimentos realizados por Jeffrey Ponsky e Michael Gauderer como alternativa à gastrostomia cirúrgica para obtenção de via alimentar em pacientes com incapacidade de alimentação por via oral.1,2 Foi realizada revisão de prontuários dos pacientes que foram submetidos à GEP no período de 01 de janeiro de 2013 a 01 de janeiro de 2015 e realizado análise dos dados colhidos. A técnica realizada para o emprego da gastrostomia foi a de tração (pull technique) descrita por Gauderer- Ponsky em 1981, utilizando aparelho de endoscopia Olympus Evis Exera II CV-180 e kits de gastrostomia endoscópica percutânea “Percutaneous Endoscopic Gastrostomy feeding tube, Kit, 24 Fr O.D., Pull Method” fornecido pela Boston Scientific®. Com a possibilidade de ser realizada também em crianças com o mesmo propósito, a GEP logo ganhou força mostrando ser um procedimento alternativo e eficaz, porém não isento de complicações. Ampliaram-se as indicações para realização do procedimento, sendo indicado também para descompressão gástrica, correção de volvo gástrico e recirculação de bile drenada pelos ductos biliares. 34(4):15-19 16 30 Atualmente, as principais indicações para realização do procedimento são para aquelas que necessitam de via alimentar enteral prolongada e na ausência ou dificuldade de alimentação por via oral.3,4 Os pacientes que não apresentam comorbidades clínicas que justifiquem a internação podem realizar o procedimento de forma ambulatorial apesar de o assunto ser controverso na literatura5 com realização de antibioticoprofilaxia pré-procedimento,6,7,8 e alta no mesmo dia da internação. Seguimento ambulatorial para acompanhamento pós- procedimento e rastreio de possíveis complicações que podem aparecer precoce ou tardiamente devem ser pesquisadas. As complicações relacionadas ao procedimento podem ser classificadas em menores ou maiores, baseadas na gravidade a que estão relacionadas.9 Complicações maiores são raras, mas devemos estar atentos, pois podem levar a desfechos desfavoráveis culminando inclusive com a morte do doente. Pacientes oncológicos e com doenças crônicas como acidente vascular encefálico (AVE) com sequela são os principais doentes que são submetidos à GEP,10 e normalmente a própria doença de base serve como fator de risco para potenciais complicações de forma direta ou indireta. O objetivo deste estudo retrospectivo é descrever, avaliar e analisar o perfil dos pacientes que realizaram GEP em serviço terciário, as indicações e os índices de complicações associadas ao procedimento. Ainda observar o número de consultas pós-procedimento em ambulatório. Todos os pacientes receberam antibioticoprofilaxia com cefazolina antes do procedimento quando não estavam em curso de antibioticoterapia, e todos foram reavaliados após o procedimento e orientados quanto à introdução da dieta após 4 horas decorridos do procedimento. As informações coletadas foram tabuladas no programa Microsoft Excel® (versão 2010) e o protocolo de coleta de dados aplicados para todos os pacientes. As complicações foram classificadas em maiores (necessidade de intervenção endoscópica ou cirúrgica adicional ou morte) ou menores (sem necessidade de intervenção cirúrgica ou endoscópica adicional) e precoces (até 15 dias da GEP) ou tardias (após 15 dias da GEP). O seguimento pós-procedimento foi baseado no número de consultas realizadas após o mesmo. A análise estatística e os dados obtidos foram calculados com o auxílio dos softwares Microsoft Word® (versão 2010) e Microsoft Excel® (versão 2010). O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisas com Seres Humanos do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian. Resultados Foram submetidos à gastrostomia endoscópica percutânea 108 pacientes, sendo 62 do sexo feminino (57%) e 46 do sexo masculino (43%). A idade variou entre 2 e 95 anos (média 69,05 anos). Em relação ao diagnóstico que indicou o procedimento, prevaleceu o acidente vascular encefálico representado por 62 (57%) pacientes. Os diagnósticos que indicaram a gastrostomia podem ser observados na Tabela 1. O procedimento foi realizado de forma ambulatorial em 16 (15%) dos pacientes, predominando em pacientes internados, totalizando 92 (85%) pacientes. Ocorreram 2 complicações GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 15-19 R. H atakeyama , E. N. T. A jeje , A. A. W. T obaru , C. N. P aiva . L ameira , D aniel . G. V ida Tabela 1- Distribuição dos diagnósticos que indicaram a gastrostomia endoscópica percutânea, segundo percentual dos pacientes. Fonte: Serviço de Endoscopia Digestiva Alta /Hospital Regional do Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, 2013-2015. 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1%1% 1% 0% 5% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1%1% 1% 6% 0% 57% 5% 2% 16% Indicações AVE Esclerose múltipla Paralisia cerebral Dêmencia Coma Doença de Parksinson AVE Neoplasia múltipla de fareinge Esclerose Neoplasiacerebral de lábio Paralisia Neoplasia de laringe Dêmencia Indicações 6%6% 1% 16% 57% Coma Doença de Parksinson Neoplasia de fareinge Neoplasia de lábio de laringe da Neoplasia gastrostomia 6% Tabela 2- Distribuição das complicações endoscópica1% percutânea, segundo percentual de pacientes. Fonte: Serviço de endoscopia digestiva alta/ Hospital Regional do Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, 2013-2015. Complicações Nenhuma compliucação Íleo paralítico Extravassamento ao redor da sonda Úlcera gástrica Broncoaspiração Infecção Nenhumaperiostomal compliucação Saída acidental Íleo paralítico Hematoma de parede Extravassamento ao redor da sonda Complicações Úlcera gástrica Broncoaspiração Infecção periostomal Saída acidental Hematoma de parede 6% 5% 2% 3% 10% 6% A radiologia intervencionista e a endoscopia digestiva trouxeram esta nova modalidade de obtenção de via alimentar denominada gastrostomia percutânea. A gastrostomia percutânea realizada pela Técnica de Tração (Pull Technique) e descrita por Gauderer et al. (1980) constitui a maneira mais usual de realizar gastrostomia em todo mundo. Isto se deve à sua simplicidade, facilidade de execução e principalmente por suas complicações serem menos frequentes e menos graves quando comparadas às demais técnicas: Push Technique ou Sachs-Vine Technique ou técnica de empurrar e Russell Technique ou método introdutor. Todos os pacientes do estudo receberam antibioticoprofilaxia intravenosa antes da realização do procedimento segundo a recomendação da Sociedade Americana de Endoscospia Digestiva (ASGE) e a Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva (ESGE). Esta medida traz benefícios em relação à diminuição de incidência de infecção periostomal com uso da antibioticoprofilaxia como comprovado em trabalho de revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos randomizados e controlados publicado em 2013 por Lipp A. e Lusardi G. (OR 0,36, 95% IC 0,26-0,50)11. 5% 2% 17 31 43 (12,7% 37 (11,0% Medicame 43 (12,7% Rifampicina e D 37 (11,0% Medicame 3% 3% 2% 10% 69% 3% 69% 2% gastrostomia endoscópica percutânea a partir de 1980 surgiu como procedimento seguro e eficaz. Sua indicação principal é para pacientes com incapacidade de alimentação via oral.1,2 Classicamente, a gastrostomia é implantada por métodos cirúrgicos convencionais, o que exige internação hospitalar, utilização de sala cirúrgica e laparotomia ou laparoscopia. 34(4):15-19 maiores (6%) em pacientes que tiveram broncoaspiração durante o procedimento endoscópico, sendo que os 2 pacientes tiveram parada cardiorrespiratória e foram a óbito na sala de endoscopia. Em 78 (69%) pacientes não houve complicações relacionadas ao procedimento. Nos outros 30 (31%) pacientes houve complicações tardias (58%) e precoces (42%). As distribuições das complicações relacionadas à gastrostomia endoscópica estão relacionadas na Tabela 2. O número de consultas ambulatoriais após a gastrostomia endoscópica percutânea foi de 3,34 consultas por paciente. . Discussão Com o crescimento de procedimentos endoscópicos realizados em alternativa às técnicas cirúrgicas convencionais, a Em relação à idade dos pacientes submetidos ao procedimento, pode-se perceber que houve predominância na faixa etária da população idosa e do sexo feminino. Desta forma, 86,11% dos pacientes apresentavam-se na 5°, 6°, 7°, 8°, 9° décadas de vida, com média de idade de 69,05 anos e relacionados em 96,62% dos casos com doenças neurológicas. Comparando com Callahan et al. em trabalho de 2000 que evidenciou uma média de idade de 78,9 anos e 75,4% dos casos relacionados com doenças neurológicas.12 Quanto ao diagnóstico, houve predominância dos pacientes com déficits neurológicos em concordância com a literatura13. Estudos que definiam as indicações do paciente submetido à GEP, como apresentados por Delegge M. et al. 200614 e Skelly Rh 200215), GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 15-19 Rifampicina e D Gastrostomia endoscópica percutânea: análise do perfil epidemiológico, indicações e principais complicações em hospital terciário 34(4):15-19 32 18 verificou-se respectivamente que 60,2% e 40,7% dos pacienteapresentavam sequela de acidente vascular encefalico como indicação ao procedimento, sendo em nosso estudo 57%. Outros percentuais em nosso estudo foram paralisia cerebral (5,55%), demência (15,74%), coma (5,55%), doença de Parkinson (4,62%), neoplasias (9,25%) e 1 caso de esclerose múltipla e 1 caso de anomalia congênita . 15 dias) ou tardias (após 15 dias) de acordo com o período pós-procedimento ou menores ou maiores de acordo com a gravidade.25 A principal complicação descrita na literatura é a infecção no local do sítio de inserção da sonda de gastrostomia presente na literatura variando entre 5,4%- 30%.26-28 Em nosso estudo, a taxa desta complicação ficou em 10,18% dos casos. O serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Regional do Mato Grosso do Sul adota como conduta de rotina o início de dieta pela sonda de gastrostomia 4 horas após sua realização, como publicado recentemente por diversos trabalhos, demonstrando que o início da alimentação enteral precoce não apresenta maiores complicações quando comparada com o início tardio, o que torna desnecessária a reposição volêmica e o aporte calórico por via parenteral.16-20 Outras complicações presentes no estudo foram íleo paralítico (3,7%), extravasamento ao redor da sonda (2,7%), saída acidental da sonda (6,48%), úlcera gástrica (5,55%) e hematoma de parede (1,85%). Importante ressaltar que os pacientes portadores de diabetes mellitus, em uso crônico de corticosteroides e estado nutricional deficiente estão mais sujeitos à infecção do sítio de inserção da sonda de gastrostomia29. Em estudo de metanálise que incluiu 6 estudos randomizados, num total de 467 pacientes, mostrou não haver diferença estatisticamente significante entre o início precoce (<4 horas ) ou tardio da alimentação, em relação às complicações (menores e maiores) ou mortalidade (nas primeiras 72 horas).21 Apesar de ser um método seguro e eficaz, uma série de complicações associadas ao método podem ocorrer durante ou após a realização da GEP.9 Pacientes com baixo índice de massa corporal (IMC) ou neoplasias em fases avançadas estão mais sujeitos a complicações22. Complicações menores podem ocorrer em 13% a 43% dos casos, enquanto que as maiores são relatadas em 0,4% a 8,4% dos procedimentos.23 As complicações do ato endoscópico são pouco comuns (frequência de 0,13% e mortalidade de 0,004%), ocorrendo geralmente na realização do procedimento endoscópico.23 Em nosso estudo, tivemos 2 casos de broncoaspiração com evolução para parada cardiorrespiratória e óbito durante a intervenção endoscópica. Na literatura essa taxa é de 0,3%1% dos casos.24 Apesar de ser uma complicação cardiopulmonar relacionada à endoscopia pouco frequente, na sua ocorrência o desfecho costuma ser desfavorável e os principais fatores de risco associados são a sedação, pacientes portadores de doenças neurológicas e idade avançada.4 As complicações específicas da GEP podem ser classificadas como precoces (até A taxa de mortalidade não relacionada à GEP é elevada após a realização do mesmo, devido principalmente às diversas comorbidades clínicas dos pacientes que necessitam de tal intervenção. Porém, a mortalidade relacionada ao procedimento são inferiores a 0-2%.30 Embora ainda não tenham sido identificados fatores preditivos isolados associados com maior risco de complicações da GEP, alguns autores sugerem vários índices prognósticos e fatores relacionados com mortalidade precoce ou tardia que podem ser utilizados para melhor definição dos critérios para indicação da GEP.31-35 C onclusão O papel da gastrostomia endoscópica percutânea está bem estabelecido, a utilização do procedimento para obtenção de via alimentar segura em pacientes com incapacidade de deglutir tem sua principal indicação, pacientes com sequelas neurológicas e portadores de neoplasias são os principais beneficiados. O uso de antibioticoprofilaxia está bem estabelecido na prevenção de infecção de sítio no local de inserção da sonda de gastrostomia. A eficácia do procedimento associado à baixa morbimortalidade tornou possível a realização do procedimento de forma ambulatorial. Nosso estudo corrobora o exposto na literatura atual e confirma a gastrostomia endoscópica como procedimento alternativo e seguro. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 15-19 R. H atakeyama , E. N. T. A jeje , A. A. W. T obaru , C. N. P aiva . L ameira , D aniel . G. V ida Referências 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Gauderer MW, Ponsky JL, Izant RJ, Jr. Gastrostomy without laparotomy: a percutaneous endoscopic technique. J Pediatr Surg. 1980; 15(6):872-5. Ponsky JL, Gauderer MW. Percutaneous endoscopic gastrostomy: a nonoperative technique for feeding gastrostomy. Gastrointest Endosc. 1981; 27(1):9-11. Gauderer MW. Percutaneous endoscopic gastrostomy and the evolution of contemporary long-term enteral access. Clin Nutr. 2002; 21: 103-10. Safadi BY, Marks JM, Ponsky JL. Percutaneous endoscopic gastrostomy: an update. Endoscopy. 1998; 30(9): 781-89. Wilhelm SM, Ortega KA, Stellato TA. Guidelines for identification and management of outpatient percutaneous endoscopic gastrostomy tube placement. Am J Surg. 2010; 199: 396 400. Sharma VK, Howden CW. Meta-analysis of randomized, controlled trials of antibiotic prophylaxis before percutaneous endoscopic gastrostomy. Am J Gastroenterol. 2000; 95: 3133 – 6. Jafri NS, Mahid SS, Minor KS, Idstein SR, Hornung CA, Galandiuk S. Metaanalysis: antibiotic prophylaxis to prevent peristomal infection following percutaneous endoscopic gastrostomy. Aliment Pharmacol Ther. 2007; 25: 647-56. Lipp A, Lusardi G. A systematic review of prophylatic antimicrobials in PEG placement. J Clin Nurs. 2009; 18 (7): 938-48. Schapiro GD, Edmundowicz SA. Complications of percutaneous endoscopic gastrostomy. Gastrointest Endosc Clin N Am. 1996; 6: 409-22. Löser C, Aschl G, Hébuterne X, Mathus-Vliegen EMH, Muscaritoli M, Niv H, Rollins H, Singer P, Skelly RH. ESPEN guidelines on artificial enteral nutrition – percutaneous endoscopic gastrostomy (PEG). Clin Nutr. 2005; 24: 848-61. Llipp A, Lusardi G. Systemic antimicrobial prophylaxis for percutaneous endoscopic gastrostomy. Cochrane Database Syst Rev. 2013; 11:CD005571. Callahan CM, Haag KM, Weinberger M, Tierney WM, Buchanan NN, Stump TE, Nisi R. Outcomes of Percutaneous Endoscopic Gastrostomy Among Older Adults in a Community Setting. J Am Geriatr Soc. 2000; 48(9):1048-54. Kurien M, Mcalindon ME, Westaby D, Sanders DS. Percutaneous endoscopic gastrostomy (PEG) feeding. BMJ. 2010; 340:c2414. Delegge M, Delegge R, Brady C. External bolster placement after percutaneous endoscopic gastrostomy tube insertion: is looser better? JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2006; 30(1):16-20. Skelly RH. Are we using percutaneous endoscopic gastrostomy appropriately in the elderly? Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2002; 5(1):35-42. Werlin S, Glicklich M, Cohen R. Early feeding after percutaneous endoscopicgastrostomy is safe in children. Gastrointest Endosc. 1994; 40: 692-3. Nolan T, Callon R, Choudry U, Reisinger P, Shaar CJ. Same day use of percutaneous endoscopic gastrostomy tubes: radiographic evidence of safety. [Abstract] Am J Gastroenterol. 1994; 89: 1742. Mccarter Tl, Condon SC, Aguilar RC, Gibson DJ, Chen YK. Randomized prospective trial of early versus delayed feeding after percutaneous endoscopic gastrostomy placement. Am J Gastroenterol. 1998; 93: 419-21. Dubagunta S, Still CD, Kumar A, Makhdoom Z, Inverso NA, Bross RJ, Komar MJ, Mulhisen L, Rogers JZ, Whitmire S, Whilden B. Early initiation of enteral feeding after percutaneous endoscopic gastrostomy tube placement. Nutr Clin Pract. 2002; 17: 123-5. 20. Stein J, Schulte-Bockholt A, Sabin M, Keymling M. A randomized prospective trial of immediate vs. next-day feeding after percutaneous endoscopic gastrostomy in intensive care patients. Intensive Care Med. 2002; 28: 1656-60. 21. Bechtold ML, Matteson ML, Choudhary A, Puli SR, Jiang PP, Roy PK. Early versus delayed feeding after placement of a percutaneous endoscopic gastrostomy: a metaanalysis. Am J Gastroenterol. 2008; 103 (11): 2919-24 22. Gibson S, Wenig BL. Percutaneous endoscopic gastrostomy in the management of head and neck carcinoma. Laryngoscope. 1992; 102: 977-8 23. Eisen Gm, Baron TH, Dominitz JA, Faigel DO, Goldstein JL, Johanson JF, Mallery JS, Raddawi HM, Vargo Ii JJ, Waring JP, Fanelli RD, Wheeler-Harbough J (ASGE Standards of Practice Committee). Complications of upper GI endoscopy. Gastrointest Endosc. 2002; 55 (7): 784-93. 24. Larson DE, Burton DD, Schroeder KW, Dimagno EP. Percutaneous endoscopic gastrostomy - indications, complications and mortality in 314 consecutive patients. Gastroenterol. 1987; 93 (1): 48-52. 25. Lin HS, Ibrahin HZ, Kheng JW, Fee W, Terris D. Percutaneous endoscopic gastrostomy: strategies for prevention and management of complications. Laryngoscope. 2001; 111: 1847 52. 26. Hull MA, Rawlings J, Morray FE, et al. Audit of outcome of longterm enteral nutrition by percutaneous endoscopic gastrostomy. Lancet. 1993; 341: 869- 872 27. Sangster W, Cuddington GD, Bachulis BL. Percutaneous endoscopic gastrostomy. Am J Surg. 1988; 155: 677- 679. 28. Schurink CA, Tuynman H, Scholten P, Arjaans W, Klinkenberg-Knol EC, Meuwissen SG, et al. Percutaneous endoscopic gastrostomy: complications and suggestions to avoid them. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2001; 13(7):819-23. 29. Lee JH, Kim JJ, Kim YH, Jang JK, Son HJ, Peck Kr, et al. Increased risk of peristomal wound infection after percutaneous endoscopic gastrostomy in patients with diabetes mellitus. Dig Liver Dis. 2002; 34(12):857-61. 30. Loser C, Wolters S, Folsch UR. Enteral long-term nutrition via percutaneous endoscopic gastrostomy (PEG) in 210 patients: a four-year prospective study. Dig Dis Sci. 1998; 43(11):2549-57. 31. Tokunaga T, Kubo T, Ryan S, Tomizawa M, Yoshida S-I, Takagi K, Furui K, Goto Ht. Long-term outcome after placement of a percutaneous endoscopic gastrostomy tube. Geriatr Gerontol Int. 2008; 8: 19-23. 32. Lang A, Bardan E, Chowers Y, Sakhnini E, Fidder H H, Bar-Meir S, Avidan B. Risk factors for mortality in pacients undergoing percutaneous endoscopoic gastrostomy. Endoscopy. 2004; 36: 522-6. 33. Janes S E, Price C S, Khan S. Percutaneous endoscopic gastrostomy: 30-day mortality trends and risk factors. J Postgrad Med. 2005; 51: 23-9. 34. Figueiredo FAF, Costa MC, Pelosi AD, Martins RN, Machado L, Francioni E. Predicting outcomes and complications of percutaneous endoscopic gastrostomy. Endoscopy. 2007; 39: 333-8. 35. Higaki F, Yokota O, Ohishi M. Factors predictive of survival after percutaneous endoscopic gastrostomy in the elderly: Is Dementia Really a Risck Factor? Am J Gastroenterol. 2008; 103: 1011-6. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 15-19 19 33 35(1):15-19 1. Relato de Caso Ruptura de estômago excluso em dilatação endoscópica de estenose de anastomose gastrojejunal em bypass gástrico Rupture of bypassed stomach in endoscopic dilation of gastrojejunal anastomotic stricture in gastric bypass Douglas Jun Kamei,1 Adriano Reimann,2 Leandro Yoshimi Kashiwagui,3 Flávia David João De Masi,1 André Thá Nassif,1 Indira Barcos Balbino,4 Gabriela Ávila Paes4 35(1): 20-23 20 34 Resumo Summary Introdução: O Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) é o procedimento mais realizado para o tratamento da obesidade no Brasil e no mundo. A anastomose gastrojejunal é confeccionada com diâmetro pequeno, sendo que, após procedimentos laparoscópicos, a taxa de estenose pode chegar a 27%. Relato do Caso: Relatamos um caso de estenose de anastomose gastrojejunal de BGYR laparoscópico que, após realização de dilatação endoscópica com balão, evoluiu com ruptura do estômago excluso durante o exame e necessidade de intervenção cirúrgica. Conclusão: A dilatação endoscópica é um procedimento seguro e eficaz para tratamento da estenose de anastomose gastrojejunal. A principal complicação é a perfuração da anastomose, entretanto não há relatos descritos de ruptura do estômago excluso durante o procedimento. Background: Gastric Bypass is the most performed Unitermos: Cirurgia Bariátrica, Derivação Gástrica, Anastomose em Y de Roux, Estenose, Dilatação Endoscópica. procedure for treatment of obesity in Brazil and worldwide. Gastrojejunal anastomosis is made with small diameter, and after laparoscopic procedures the stricture rate can reach 27%. Case Report: We report a case of gastrojejunal anastomotic stricture of laparoscopic Gastric Bypass that after performing endoscopic balloon dilation evoluted with rupture of bypassed stomach during the exam and need of surgical intervention. Conclusion: Endoscopic dilation is safe and an effective procedure for treatment of gastrojejunal anastomotic stricture. The main complication is perforation of the anastomosis, however there isn’t described reports of rupture of bypassed stomach during the procedure. Keywords: Bariatric Surgery, Gastric Bypass, Anastomosis, Roux-en-Y, Stricture, Endoscopic Dilation. 1. Médicos Residentes do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Santa Casa de Curitiba (PUC/PR). 2. Preceptor do Serviço de Cirurgia Geral e do Serviço de Endoscopia do Hospital Santa Casa de Curitiba. 3. Médico Especializando do Serviço de Endoscopia do Hospital Sugisawa (Curitiba/PR). 4. Acadêmicas de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Endereço para correspondência: Douglas Jun Kamei – Rua Nilo Peçanha, 4311 – Curitiba – PR - CEP 82120-440. e-mail: [email protected] Recebido em: 15/01/2016. Aprovado em: 22/01/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1):20-23 D. J. Kamei, A. Reimann, L. Y. Kashiwagui, F. D. J. Masi, A. T. Nassif, I. B. Balbino, G. A. Paes Introdução Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) é o procedimento mais realizado para o tratamento da obesidade no Brasil e no mundo.1,2 Figura 1. EDA com identificação de importante estenose de anastomose gastrojejunal. A anastomose gastrojejunal é confeccionada com diâmetro pequeno, sendo que, após procedimentos laparoscópicos, a taxa de estenose pode chegar a 27%.3 O tratamento endoscópico de estenoses parece ser o método de escolha para esse tipo de complicação, sendo que a reoperação é pouco realizada tendo em vista a complexidade e morbidade envolvidas.4 A passagem do balão foi realizada com dificuldade devido ao estreitamento da anastomose (figura 2). Figura 2. EDA com passagem do balão TTS com dificuldade pela anastomose. Relato de Caso Paciente do sexo feminino, 22 anos, realizou BGYR no Hospital Santa Casa de Curitiba. Foi admitida no Pronto-Atendimento, cerca de 1 mês após o procedimento, com quadro de náuseas e vômitos pós-prandiais com restos alimentares, associada à dor epigástrica tipo cólica. Sem hematêmese ou febre associados. Na ocasião, a paciente relatou que os sintomas haviam iniciado alguns dias antes, após a introdução da dieta sólida. Tentou retornar para a dieta líquida e pastosa, porém houve persistência do quadro. O exame físico apresentava-se sem alterações, com dados vitais estáveis. Devido à persistência dos sintomas, mesmo após a regressão da dieta, e a suspeita de estenose de anastomose gastrojejunal, optou-se pelo internamento da paciente para realização de Endoscopia Digestiva Alta (EDA). No procedimento, foi identificado o pouch gástrico e importante estenose de anastomose gastrojejunal, necessitando de dilatação endoscópica (figura 1). Utilizou-se balão endoscópico de 10 mm (modelo Mustang, Boston Scientific®). Após a dilatação, a mucosa apresentou aspecto friável na região da dilatação. Após realização da EDA, a paciente iniciou com quadro de dor abdominal epigástrica refratária à analgesia. Ao exame físico, apresentava-se estável, com abdome flácido, sem sinais de peritonite. Foi realizada radiografia de abdome agudo por suspeita de perfuração pós-dilatação endoscópica. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1):20-23 21 35 35(1): 20-23 Neste Relato de Caso é descrito um caso de estenose de anastomose gastrojejunal de BGYR laparoscópico que, após realização de dilatação endoscópica com balão, evoluiu com ruptura do estômago excluso durante o exame e necessidade de intervenção cirúrgica. Ruptura de estômago excluso em dilatação endoscópica de estenose de anastomose gastrojejunal em bypass gástrico Figura 3. Radiografia de controle com extenso pneumoperitôneo. O quadro clínico consiste em náuseas e vômitos pós-prandiais associados à dor epigástrica e disfagia. Alguns dos mecanismos propostos para a estenose da anastomose incluem isquemia causando cicatrizes, formação cicatricial excessiva e a realização da anastomose com utilização de grampeadores ou manualmente.1 A estenose no pós-operatório imediato é causada pelo edema na região da anastomose, sendo normalmente autolimitada. 8 O diagnóstico é obtido através do exame clínico e exames de imagem, como a EDA ou estudo radiológico contrastado. A EDA costuma ser preferida por ser diagnóstica, além de permitir o tratamento da estenose com o balão de dilatação. 9 35(1): 20-23 22 36 Em exame de controle observou-se presença de extenso pneumoperitôneo, sendo optado pela cirurgia de emergência (figura 3). Na laparotomia exploradora durante inventário da cavidade abdominal, foi identificada a presença de anastomose gastrojejunal íntegra, sem sinais de fístula ou ruptura pelo endoscópio. Porém, em estômago excluso, foi verificada ruptura do fundo gástrico na região da linha de grampeamento de aproximadamente 3cm, sendo realizada reparação com gastrorrafia e sutura de reforço. Foi realizada passagem de sonda nasoenteral para alimentação. A paciente apresentou boa evolução pós-operatória, recebendo alta no 4º dia de pós-operatório para acompanhamento ambulatorial. Para secção do estômago durante realização do BGYR havia sido utilizado endo grampeador linear cortante de 45mm, com três linhas de grampo e sutura de reforço. A anastomose gastrojejunal foi realizada manualmente, sendo calibrada com sonda de Fouchet número 36. Já para confecção da enteroanastomose foi utilizado endo grampeador linear cortante de 60 mm, também com três linhas de grampo. Discussão O Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) apresenta como complicação comum a estenose da anastomose gastrojejunal.1,5 As anastomoses realizadas manualmente apresentam menores índices de estenose comparadas com o uso de grampeadores.1,6 Ocorre geralmente um mês após a cirurgia, e pode ser classificada como precoce (até 30 dias) ou tardia (após 30 dias).7 O tratamento eleito para correção da estenose da anastomose é a dilatação endoscópica, apesar de não haver um protocolo bem definido para esse tipo de complicação. Além de possuir boa aceitação, este método é um procedimento eficaz e de baixa morbidade. Deve ser realizado por profissionais capacitados e com equipamentos adequados, podendo ser feito a nível ambulatorial. 2 A dilatação endoscópica utilizando o balão Through-The-Scope (TTS) é a mais comumente realizada em comparação com o dilatador de Savary-Gilliard. 2 A cirurgia revisional raramente é realizada devido à elevada complexidade e morbidade do procedimento, ficando reservada quando nenhuma melhora é observada após quatro dilatações endoscópicas consecutivas.10 O diâmetro do balão TTS utilizado para dilatação endoscópica possui influência nas recorrências de estenoses. Um diâmetro de 15 mm é considerado seguro, não afeta a perda de peso e diminui a necessidade de uma próxima dilatação.11,12 No relato de caso em questão foi realizada passagem de balão TTS de menor diâmetro, 10mm. A dilatação endoscópica, apesar de segura, não está isenta de complicações. A perfuração da anastomose gastrojejunal consiste na principal complicação, sendo a maior parte dos pacientes tratados conservadoramente.13 Em metanálise com 760 pacientes e 23 estudos, confirmou-se a perfuração da anastomose gastrojejunal como complicação mais frequente em 1,86% dos pacientes, porém não foi identificada em nenhum paciente a ruptura do estômago excluso durante o procedimento. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1):20-23 D. J. Kamei, A. Reimann, L. Y. Kashiwagui, F. D. J. Masi, A. T. Nassif, I. B. Balbino, G. A. Paes Em metanálise com 760 pacientes e 23 estudos, confirmou-se a perfuração da anastomose gastrojejunal como complicação mais frequente em 1,86% dos pacientes, porém não foi identificada em nenhum paciente a ruptura do estômago excluso durante o procedimento. Outras complicações menos frequentes relacionadas ao procedimento estão deiscência da linha de sutura, dor abdominal, náuseas e vômitos e lesão de Mallory-Weiss.2 3. Bell RL, Reinhardt KE, Flowers JL. Surgeon-performed endoscopic dilation of anastomotic strictures symptomatic gastrojejunal following laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass. Obes Surg 2003;13(5):728-33. 4. Ryskina KL, Miller KM, Aisenberg J, Herron DM, Kini SU. Routine management of stricture after gastric bypass and predictors of subsequent weight loss. Surg Endosc 2010;24:554-60. 5. García-García ML, Gervasio Martín-Lorenzo J, Lirón-Ruiz R, Torralba-Martínez JA, Campillo-Soto A, Miguel-Perelló J, Pére- Uma falha do grampeamento pode ter ocasionado a deiscência, apesar de terem sido tomados cuidados no intra-operatório, como disparo de grampeador de tipo e tamanho adequados e realização de sutura de reforço sem tensão.14 z-Cuadrado E, Aguayo-Albasini JL. Estenosis de la anastomosis gastroyeyunal en el bypass gástrico laparoscópico. Experiencia en una serie de 280 casos en 8 años. Cir Esp 2014;92(10):665-9. 6. Kravetz AJ, Reddy S, Murtaza G, Yenumula P. A comparative study of handsewn versus stapled gastrojejunal anastomosis in laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass. Surg Endosc 2011;25:1287-92. 7. Fernández-Esparrach G, Bordas JM, Llach J, Lacy A, Delgado S, Vidal J, Cardenas A, Pellisé M, Gines A, sendin O, Zabalza M, Castells A. Endoscopic dilation with Savary-Gilliard bougies of stomal strictures after gastric bypass laparosocopic in morbidly obese Patients. Obes Surg 2008;18(2):155-61. 8. Herron D, Roohipour R. Complications of Roux-en-Y gastric Conclusão bypass and sleeve gastrectomy. Abdom Imaging 2012;37:712-18. 9. Da Costa M, Mata A, Espino´s J. Endoscopic dilation of gastro- A dilatação endoscópica é um procedimento seguro e eficaz para tratamento da estenose de anastomose gastrojejunal. A principal complicação é a perfuração da anastomose, entretanto não há relatos descritos de ruptura do estômago excluso durante o procedimento. jejunal anastomotic strictures after laparoscopic gastric bypass: Predictors of initial failure. Obes Surg 2011;21:36-41. 10. Espinel J, Pinedo E. Stenosis in gastric bypass: Endoscopic management. World J Gastrointest Endosc. 2012;4(7):290-95. 11. Peifer KJ, Shiels AJ, Azar R, Rivera RE, Eagon JC, Jonnalagadda S. Successful endoscopic management of gastrojejunal anastomotic strictures after Roux-en-Y gastric bypass. Gastrointest Referências Endosc 2007;66(2):248-52. 12. Huang CS, Farraye FA. Endoscopy in the bariatric surgical pa- 1. Palermo M, Acquafresca PA, Rogula T, Duza GE, Serra E. Complicações cirúrgicas tardias após bypass gástrico: Revisão de literatura. ABCD Arq Bras Cir Dig 2015;28(2):139-43. 2. Campos JM, Mello FST, Ferrazi AAB, Brito JN, Nassif PAN, tient. Gastroenterol Clin North Am 2005;34:151-66. 13. Ukleja A, Afonso BB, Pimentel R, Szomstein S, Rosenthal R. Outcome of endoscopic balloon dilation of strictures after laparoscopic gastric bypass. Endosc Surg 2008;22:1746-50. Galvão-Neto MP. Dilatação endoscópica de anastomose 14. Acquafresca PA, Palermo M, Rogula T, Duza GE, Serra E. Com- gastrojejunal após bypass gástrico. ABCD Arq Bras Cir Dig plicações cirúrgicas precoces após bypass gástrico: Revisão de 2012;25(4):283-9. literatura. ABCD Arq Bras Cir Dig 2015;28(1):74-80. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1):20-23 23 37 35(1): 20-23 Para os autores do relato, o motivo da ruptura possivelmente tenha sido a pressão gerada pela insuflação retrógrada de ar do endoscópio no estômago excluso durante o exame, associada à fraqueza da linha de grampeamento na região do fundo gástrico. Relato de Caso O primeiro caso de transplante hepático em paciente com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana no Ceará The first case of liver transplantation in human immunodeficiency virus positive patient in Ceará Alessandra Maria Mont`Alverne Pierre1, Rita Chelly Félix Tavares1, Verônica Melo Benevides Queiroga1, Juliana Barbosa Lima1, Ticiana Mota Esmeraldo1, Christiane Valente Takeda1, Ivelise Regina Canito Brasil1 35(1): 24-27 24 38 Resumo Introdução A doença hepática terminal é a principal causa de morbidade e mortalidade nos indivíduos infectados pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). A infecção pelo HIV não é mais contraindicação ao transplante hepático. O objetivo desse trabalho é descrever o primeiro caso de um paciente com cirrose e coinfecção HIV e Hepatite C (HCV), que foi submetido a transplante ortotópico de fígado no Ceará. O avanço dos medicamentos imunossupressores e do tratamento do HIV e Hepatite C tem um impacto na melhoria da sobrevida neste grupo de pacientes. Após o advento da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) em 1996, houve uma mudança no curso natural do vírus da imunodeficiência humana (HIV) - da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) - proporcionando-lhes um aumento da sobrevida dos pacientes em todos os estágios da doença. Consequentemente, uma redução significativa das infecções oportunistas (IO) e da mortalidade relacionada ao HIV- AIDS e um aumento das doenças não oportunistas.1, 2 Unitermos: Vírus da Imunodeficiência Humana, Hepatite C, Transplante Hepático. Summary End-stage liver disease is a leading cause of morbity and mortality in human immunodeficiency virus (HIV)-positive individuals. HIV infection is no longer a contraindication to liver transplantation. The aim of this report is to describe the first case of patient with cirrhosis due to HIV and Hepatitis C coinfection who underwent orthotopic liver transplantation in Ceará. Advancement in immunosuppressive medications and in treatment of HIV and Hepatitis C impact in improved outcomes in this patient cohort. Keywords: Human Immunodeficiency Vírus, Hepatitis C, Liver Transplantation. É frequente a coinfecção dos pacientes HIV com hepatite B (HBV) e hepatite C (HCV), pois compartilham os mesmos fatores de risco para transmissão além do tratamento com HAART contribuir para hepatotoxicidade, de modo que atualmente a doença hepática terminal é a principal causa de morte dos pacientes hospitalizados com HIV nos países ocidentais.3 A coinfecção com HIV acelera a progressão da doença hepática terminal. Historicamente, a infecção pelo HIV era considerada contraindicação absoluta ao transplante ortotópico de fígado (TOF) pela elevada taxa de mortalidade por IO e imunossupressão. Entretanto, com a melhoria do sistema imune e sobrevida após HAART, o transplante hepático representa uma abordagem razoável em pacientes com HIV com infecção estável e doença hepática terminal. Há muitos fatores envolvidos na seleção dos candidatos ao transplante e no manejo dos receptores HIV positivos. Isso inclui status da infecção, gravidade da doença hepática, 1. Serviço de Transplante Hepático do Hospital Geral de Fortaleza-Ceará. Endereço para correspondência: Rua Ávila Goulart, 900 – Papicu – Fortaleza – CEP 60175-295/ e-mail: [email protected] Recebido em: 07/02/2016 Aprovado: 23/03/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 24-27 A. M. M. A.Pierre, R. C. F. Tavares, V. M. B. Queiroga, J. B. Lima, T. M. Esmeraldo, C. V. Takeda, I. R. C. Brasil Neste subgrupo, a recorrência de hepatite C ocorre de forma mais precoce (2 a 3 meses) associada à colestase mais intensa.6,7 Essa coinfecção HIV-HCV também está relacionada à ocorrência mais frequente de doença renal crônica no pós-TOF, principalmente em pacientes com idade mais avançada e com CD4 mais baixo no pós transplante.8 Neste relato, apresentamos o primeiro caso de TOF no Ceará em receptor HIV positivo. Relato de Caso Paciente do sexo masculino, 60 anos, com diagnóstico de hepatite C crônica (HCV) e HIV. Além de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e esquizofrenia. Ele é ex-usuário de drogas, usou glucoenergan e foi transfundido em 1983 por ferimento por arma de fogo. Teve diagnóstico de HIV em 2001 e em 2003 iniciou terapia antirretroviral. Nunca apresentou nenhuma infecção oportunista. Em 2005, iniciou interferon-peguilado e ribavirina para o tratamento de HCV, mas foi suspenso na 3a semana por eventos adversos. Não houve resposta ao tratamento. Em 2014, passou a evoluir com encefalopatia hepática persistente (EHP) com piora da qualidade de vida e necessidade de internação. Em seguida, veio encaminhado para o Serviço de Transplante Hepático do Hospital Geral de Fortaleza. No momento da avaliação para o transplante hepático, a carga viral do HIV era indetectável, contagem de células CD4 506 células e vinha em uso de lamivudina, zidovudina e efavirenz para o HIV. Foi listada a classificação Child-Pugh em B8, MELD 15 e priorizado por encefalopatia hepática. Um mês antes do TOF, foi internado por pneumonia e recebeu alta bem após antibioticoterapia. Foi submetido ao transplante em 06/05/2015, o doador cadáver era do sexo masculino, jovem, cujo óbito ocorreu por traumatismo cranioencefálico por acidente de moto, o tempo de isquemia fria foi 5 horas e não houve intercorrência durante a cirurgia. O pico de aminotransferases foi AST 1454 e ALT 849. O receptor fez antibioticoprofilaxia com ampicilina-sulbactam. No pós-operatório, apresentou infecção respiratória e foi trocado para piperacilina-tazobactam. Evoluiu com diarreia, sendo iniciado empiricamente tratamento para Clostridium difficile com metronidazol oral e depois trocado por vancomicina oral com resolução do quadro. Foi mantido o mesmo esquema antirretroviral do pré-transplante. O regime de imunossupressão foi corticosteroide desde a fase anepática com desmame lento até o terceiro mês, tacrolimo 0,1mg/kg/dia iniciado no 3o dia pós-operatório e ajustado de acordo com o nível sérico (alvo Co 4- 7 ng/mL até o 3o mês e 3-5ng/mL após) e o micofenolato de sódio que foi iniciado somente durante acompanhamento ambulatorial após melhora da plaquetopenia. A alta hospitalar ocorreu no 14 o dia pós-operatório. Após 1 mês do transplante, apresentou elevação das enzimas hepáticas com padrão de colestase, bilirrubina total de 9,07 mg/ dL às custas de bilirrubina direta, realizou investigação com ultrassonografia abdominal com Doppler que mostrou dilatação das vias biliares intra e extra-hepática e Doppler dos vasos portais normal; em seguida fez colangiorressonância que revelou estenose segmentar da anastomose do colédoco. Houve redução espontânea das enzimas canaliculares, porém, diante dos exames anteriores, foi submetido à colangiografia endoscópica retrógrada que confirmou a estenose da anastomose do colédoco, realizado papilotomia com aposição de prótese plástica 10 FRx12 cm. Atualmente está no 9º mês pós-transplante, em acompanhamento ambulatorial, com excelente qualidade de vida e função hepática normal, carga viral do HIV indetectável e contagem de células CD4 312 células. Apresenta recorrência da hepatite C (HCV RNA 799.113 UI/mL e biópsia hepática METAVIR A2F0). Está aguardando a troca dos antirretrovirais para iniciar tratamento para HCV com antivirais de ação direta (DAA). GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 24-27 25 39 35(1): 24-27 escassez de recursos e o manejo da imunossupressão e da infecção viral.4 Estudos prévios compararam a sobrevida destes pacientes no pós TOF com população HIV negativa, sendo observada sobrevida semelhante no primeiro ano (87,1% versus 86,4%)2,5 e também no terceiro ano5. Entretanto, a presença da coinfecção pelo HCV reduz a sobrevida nestes pacientes, além de corresponder a uma importante causa de perda de enxerto e mortalidade no pós TOF.6,7 O primeiro caso de transplante hepático em paciente com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana no Ceará à gravidade e à alta taxa de mortalidade nos coinfectados HIV/ HCV que evoluem com doença hepática avançada. Discussão A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) já não é uma contraindicação ao transplante hepático desde o advento da terapia antirretroviral combinada, a qual diminuiu significativamente os óbitos relacionados diretamente à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) e, consequentemente, aumentou a expectativa de vida dos portadores do vírus. Diante da mudança no panorama de evolução destes pacientes, a doença hepática terminal passou a figurar entre as principais causas de morbimortalidade nestes indivíduos e, segundo estudo recente (D:A:D – Data collection on adverse events of anti-HIV drugs), representa a segunda causa mais comum de morte por fatores não relacionados diretamente à SIDA, respondendo por mais de 18% dos casos.9,10 35(1): 24-27 26 40 Portanto, é esperado um aumento no número dos candidatos ao transplante hepático nesta população. Observa-se ainda que, nesse subgrupo de pacientes, as sequelas da doença hepática crônica tendem a aparecer em uma idade mais precoce e a sobrevida é significativamente menor após o primeiro episódio de descompensação quando comparado à população não-HIV (média de 13 meses).3,11 As principais etiologias para a falência hepática nestes pacientes incluem: coinfecção pelo vírus C e/ou B, doença hepática alcoólica, esteatotohepatite não-alcoólica e hepatotoxicidade induzida por drogas relacionadas à terapia antirretroviral.1,9 O transplante não parece influenciar de forma negativa o curso da SIDA. A infecção pelo vírus HIV não parece interferir negativamente nos resultados do transplante diante do uso regular da terapia antiviral: as taxas de rejeição e infecção e a sobrevida média do enxerto e do paciente são semelhantes quando comparados à população não-HIV, na ausência de coinfecção pelo vírus da hepatite C (HCV).9 Um terço dos pacientes infectados pelo vírus HIV também apresenta hepatite C crônica. A coinfecção HIV/HCV resulta em uma progressão mais rápida e agressiva da fibrose quando comparado ao grupo de monoinfectados pelo vírus C. Alguns fatores preditivos de mortalidade e de pior evolução do grau de fibrose são: Child-Pugh escore ≥ 10, presença de encefalopatia, carga viral detectável do HIV, baixa contagem de CD4+, atividade necroinflamatória na biópsia hepática e consumo diário de álcool superior a 50g.9,12 É fundamental a seleção criteriosa dos receptores e a definição do momento mais adequado para o transplante, dada Os critérios para transplante hepático na população infectada pelo vírus HIV incluem: contagem de CD4+ > 100 céls (>200 céls naqueles com história prévia de infecções oportunistas); carga viral (HIV) indetectável (< 50 cópias/mL); ausência de doenças definidoras de SIDA; ausência de leucoencefalopatia multifocal progressiva, criptosporidíase intestinal crônica (>1 mês) ou linfoma primário do sistema nervoso central.9 As taxas de sobrevida pós-transplante dos pacientes HIV coinfectados pelo vírus C variam de 64% a 88% em 1 ano e de 33% a 51% em 5 anos 5,13,14. A mortalidade em 1, 3 e 5 anos permanece alta quando comparada ao grupo de pacientes monoinfectados pelo HCV (74%, 61% e 44% versus 54%, 40% e 25%, respectivamente), na maioria das vezes determinada por complicações relacionadas à recorrência do vírus C, inclusive sob sua forma mais agressiva: a hepatite colestática fibrosante que, juntamente com a sepse, aparecem como as principais causas de óbito no pós-transplante dos pacientes coinfectados. 5,9 O regime de imunossupressão pós-transplante dos pacientes infectados pelo HIV não difere do usualmente proposto para aqueles receptores HIV-negativo, o qual é normalmente baseado no uso de um inibidor da calcineurina associado ao corticosteroide (prednisona 20mg/dia), com retirada gradual deste último ao longo dos 3 primeiros meses.1,9 O micofenolato mofetil é uma droga potencialmente eficaz por reduzir a infecção pelo vírus HIV através de mecanismos virológicos e imunológicos.15 A timoglobulina não é usualmente utilizada por induzir linfopenia severa. Em relação à terapia antirretroviral combinada, não há uma padronização no regime a ser utilizado no pós-transplante e nem no período de reintrodução. Alguns serviços não suspendem os antirretrovirais, enquanto outros só voltam a prescrevê-los entre 4 e 14 dias do pós-operatório, após estabilização da função do enxerto. Deve-se apenas estar atento ao risco de interação medicamentosa com os imunossupressores, uma vez que alguns deles (como os inibidores da calcineurina) são metabolizados via citocromo P450, a mesma via pela qual são metabolizados alguns antirretrovirais (como os inibidores não-nucleosídeos da transcriptase reversa e os inibidores de protease), podendo levar a variações significativas do nível sérico dos imunossupressores. A recorrência do vírus C pós-transplante é universal em todos aqueles com viremia detectada no momento do transplante. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 24-27 A. M. M. A.Pierre, R. C. F. Tavares, V. M. B. Queiroga, J. B. Lima, T. M. Esmeraldo, C. V. Takeda, I. R. C. Brasil A partir daí, define-se o melhor momento para início do tratamento, levando-se em consideração fatores como a necessidade de ajuste dos imunossupressores e/ou da terapia antirretroviral combinada pelo risco de potenciais interações e toxicidade. Estudos adicionais com os novos DAA são necessários para uma melhor avaliação dos resultados do tratamento da recorrência do vírus pós-transplante nesse subgrupo de pacientes coinfectados. 4. Tan-Tam C, Liao P, Montaner JS, Hul MW, Scudamore CH, Erb SR et al. HIV 5. 6. 7. 8. 9. 10. Conclusão 11. Após administração de terapia antirretroviral, indivíduos com infecção pelo HIV estão sobrevivendo a esta infecção para falecer por doença hepática terminal, especialmente causada pelo vírus B e C.1 Consequentemente, haverá uma crescente necessidade de transplante hepático em pacientes com HIV. O manejo deve ser através de uma equipe multidisciplinar.Estudos demonstraram que pacientes HIV positivos sem coinfecção com HCV têm sobrevida semelhante aos pacientes HIV negativos. Em contrapartida, os coinfectados HIV-HCV apresentaram sobrevida inferior principalmente devido à hepatite C recorrente9. Entretanto, dados recentes apontam que o DAA nos indivíduos coinfectados HIV-HCV no período pré e pós-transplante são eficazes e isso provavelmente resultará em uma melhora na sobrevida após o transplante. 12. 15. 16. hepatitis C after liver transplantation: a prospective cohort study. J Hepatol 1. Baccarani U, Righi E, Adani GL, Lorenzin D, Pasqualucci A, Bassetti M et al. 3. 14. 17. Referências 2. 13. and live transplantation: Th British Columbia experience, 2004 to 2013. Can J Infect Dis Med Microbiol 2014;25(3):159-62. Ragni MV, Belle SH, Im K, Neff G, Rolad M, Stock P et al. Survival of human immunodeficiency virus-infected liver transplant recipients. The Journal of Infectious isease 2003;188:1412-20. De Vera ME, Dvorchik I, Tom K,Eghtesad B, Thai N, Shakil O et al.Survival of liver transplant patients coinfected with HIV and HCV isadversely impacted by recurrent hepatitis c. Am J Transpant 2006;6(12):2983-93. Castells L, Escartin A, Bilbao I, Len O, Allende H, Vagas V et al.Liver transplantation in HIV-HCV coinfected patient: A case- control study.Transplantation 2007;83(3):354-8. Bahirwani R, Barin B, Olhoff K, Stock P, Murphy B, Rajender RK. Solid organ transplantation in HIV: Multi-site study investigators. Chronic kidney diease after liver transplantation in human immunodeficiency virus/ hepatitis c virus coinfected recipients versus human immunodeficiency virus- infected recipients without hepattis c virus: results from the National Institutes of Health multi-ite study. Liver Transplantation 2013;19(6):619-26. Joshi D, Agarwal k. Role of liver transplantation in human immunodeficiency virus positive patients. World Journal of Gastroenterology 2015;21(43):12311-21. Smith C, Sabin CA, Lundgren JD, Thiebaut R, Weber R, Law M, Monforte Ad, Kirk O, Friis-Moller N, Phillips A, Reiss P, El Sadr W, Pradier C, Worm SW. Factors associated with specific causes of death amongst HIV-positive individuals in the D: A: D Study. AIDS 2010; 24: 1537-1548 Tuma P, Jarrin I, Del Amo J, Vispo E, Medrano J, Martin-Carbonero L, Labarga P, Barreiro P, Soriano V. Survival of HIV-infected patients with compensated liver cirrhosis. AIDS 2010; 24: 745-753. Merchante N, Girón-González JA, González-Serrano M, Torre-Cisneros J, García-García JA, Arizcorreta A et al. Survival and prognostic factors of HIV-infected patients with HCV-related end-stage liver disease. AIDS 2006; 20: 49-57. Schreibman I, Gaynor JJ, Jayaweera D, Pyrsopoulos N, Weppler D, Tzakis A, Schiff ER, Regev A. Outcomes after orthotopic liver transplantation in 15 HIV-infected patients. Transplantation 2007; 84: 697-705. Duclos-Vallée JC, Féray C, Sebagh M, Teicher E, Roque-Afonso AM, Roche B et al. Survival and recurrence of hepatitis C after liver transplantation in patients coinfected with human immunodeficiency virus and hepatitis C virus. Hepatology 2008; 47: 407-417. Chapuis AG, Paolo Rizzardi G, D’Agostino C, Attinger A, Knabenhans C, Fleury S, Acha-Orbea H, Pantaleo G. Effects of mycophenolic acid on human immunodeficiency vírus infection in vitro and in vivo. Nat Med 2000; 6: 762-768. Calmus Y, Duvoux C, Pageaux G, Wolf P, Rostaing L, Vanlemmens C et al. Treatment of recurrent HCV infection following liver transplantation: results of a multicenter, randomized, versus placebo, trial of ribavirin alone as maintenance therapy after one year of PegIFNα-2a plus ribavirin. J Hepatol 2012; 57: 564-571. Castells L, Rimola A, Manzardo C, Valdivieso A, Montero JL, Barcena R et al. Pegylated interferon plus ribavirin in HIV-infected patients with recurrent Pros and cons of liver transpla ntation in human immnodeficiencyvírus infected recipientes. World Journal of Gastroenterology 2014;20(18):5353-62. Baccarani U, Adani GL, Bragantini F, Londero A, Comuzzi C, Rossetto A et al. Long- term outcomes of orthotopic liver transplantation in human immunodeficiency virus- infected patients and comparison with human immunodeficiency vírus- negative cases. Transplantation Proceedings 2011;43:1119-22. Pineda JA, Romero- Gomez M, Díaz- García F, Giron- gonzález JA, Montero JL, Torre- Cisneros J et al. HIV coinfection shortens the survival of patients with hepatites C virus- related decompensated cirrhosis 2005. Hepatology;41:779. 2015; 62: 92-100. 18. Campos-Varela I, Straley S, Agudelo EZ, Carlson L, Terrault NA. Sofosbuvir, simeprevir, and ribavirin for the treatment of hepatitis C virus recurrence in human immunodeficiency virus/hepatitis C virus-coinfected liver transplant recipients. Liver Transpl 2015; 21: 272-274. 19. Antonini TM, Furlan V, Teicher E, Haim-Boukobza S, Sebagh M, Coilly A, Bonhomme-Faivre L, Roque-Afonso AM, Vittecoq D, Samuel D, Taburet AM, Duclos-Vallée JC. Therapy with boceprevir or telaprevir in HIV/hepatitis C virus co-infected patients to treat recurrence of hepatitis C virus infection after liver transplantation. AIDS 2015; 29: 53-58. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 24-27 27 41 35(1): 24-27 Antes do advento dos novos antivirais de ação direta (DAA), o tratamento era mal tolerado, com baixas taxas de resposta virológica sustentada (RVS), explicadas pela alta incidência de descontinuação das drogas pelos efeitos adversos ou necessidade de redução das doses.16,17 Com o surgimento das novas drogas para tratamento do vírus C, tem-se demonstrado uma melhora nas taxas de RVS, embora os dados na literatura ainda sejam escassos.18,19 É importante a documentação da recorrência da infecção através da biópsia hepática de modo a determinar o impacto da replicação viral no fígado.1 Relato de Caso Cirrose por HCV genótipo 1a, tratada com 7 semanas de interferon peguilado/ribavirina, transplantada por hepatocarcinoma, em RVS Cirrhosis by HCV genotype 1a, treated with 7 weeks of pegylated interferon / ribavirin, transplanted for hepatocellular carcinoma, on SVR Matheus Magela dos Reis 1, Patrícia Naves de Resende 2, Gustavo de Almeida Vieira 3, Geisa Perez Medina Gomide 4, Rodrigo Juliano Molina 5, Sônia Cançado de Oliveira Cabral 6 35(1): 28-31 28 42 Resumo Introdução A hepatopatia crônica causada pelo vírus da hepatite C (HCV) é a indicação mais comum de transplante hepático no mundo. A recorrência da hepatite C após o transplante hepático é elevada e em grande parte dos pacientes pode evoluir com cirrose e perda do enxerto de forma acelerada. Relatamos caso de portadora de cirrose por hepatite C genótipo 1a, tratada durante sete semanas com Interferon Peguilado e Ribavirina, em Resposta Viral Sustentada (RVS), mesmo após transplante hepático por hepatocarcinoma. Segundo a OMS, existem cerca de 150 milhões de portadores crônicos do vírus da hepatite C (HCV) no mundo inteiro e 3 a 4 milhões de pessoas são infectadas anualmente. Em todo o mundo, estima-se que 350.000 pessoas morrem anualmente de complicações da doença hepatite C.5,7 Unitermos Hepatite C, Transplante Hepático, Hepatocarcinoma. Summary Chronic liver disease caused by hepatitis C virus (HCV) is the most common indication for liver transplantation in the world. The recurrence of hepatitis C after liver transplantation is high and most patients can develop cirrhosis and graft loss in an accelerated manner. A case of a patient with cirrhosis due to hepatitis C genotype 1a, treated for seven weeks with pegylated interferon and Ribavirin in Sustained Viral Response (SVR), even after liver transplantation for hepatocellular carcinoma. Keywords: Hepatitis C, Liver Transplantation, Hepatocellular carcinoma. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) define os casos confirmados de hepatite C como aquelas em que o indivíduo apresenta anti-HCV positivo e HCV-RNA detectável. O mais recente relatório epidemiológico sobre a hepatite viral produzido pelo MS revelou que, em 2011, a taxa de detecção da hepatite C em geral no Brasil foi de 5 por 100.000 habitantes, e na maioria em indivíduos com idades entre os 30-59 anos. Apesar destas iniciativas, é importante ressaltar que, no Brasil, cerca de 1,5 milhões de pessoas foram cronicamente infectados com HCV e apenas cerca de 12 mil pessoas estão atualmente em tratamento para a hepatite C, o que reflete o grande número de pessoas sem acesso ao diagnóstico.7 Os principais fatores de risco para a infecção pelo HCV são: transfusão de sangue e hemoderivados de doadores não testados para anti-HCV; transplantes de órgãos 1. Médico Residente de Clínica Médica - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 2. Médica Residente de Clínica Médica Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 3. Médico Residente de Gastroenterologia - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 4. Médica Hepatologista e Preceptora do ambulatório de Hepatologia - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 5. Médico Infectologista e Preceptor do ambulatório de Hepatologia - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 6. Médica Gastroenterologista e Chefe da Disciplina de Gastroenterologia - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Endereço para correspondência: Rua Amapá, 755 – apto. 204 – Uberaba – CEP: 38050-410/ e-mail:matheusmagela@gmail. com Recebido em: 25/02/2015. Aprovado em:12/05/2015. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 28-31 M. M. Reis, P. N. Resende, G. A. Vieira, G. P. M. Gomide , R. J. Molina, S. C. O. Cabral de doadores infectados; uso de drogas injetáveis; terapias injetáveis com equipamento contaminado (ou não seguro); hemodiálise; exposição ocupacional ao sangue; transmissão perinatal e transmissão sexual.9 A doença hepática devido ao HCV, incluindo cirrose e hepatocarcinoma são as principais indicações de transplante hepático. No pós-transplante a reinfecção no enxerto é praticamente universal, 80 a 96% apresentam recidiva histológica e molecular, respectivamente.2,5,6 Muitas vezes resulta em progressão acelerada de hepatite aguda para hepatite crônica e cirrose hepática.6 As estratégias terapêuticas disponíveis baseiam-se essencialmente de uma combinação de interferon peguilado e ribavirina. Este tratamento na erradicação de HCV em muitos pacientes cronicamente infectados reduz o risco de desenvolver cirrose, hepatocarcinoma e a necessidade de transplante de fígado.4 ano, em facultativo. Mantém RNA-HCV indetectável desde então, em uso de Puran T4 e Tacrolimus. Discussão Doença hepática terminal induzida pela hepatite C crônica é a indicação principal para transplante hepático, enquanto a reinfecção pelo HCV é a principal causa de perda do enxerto.3,4,5 Na verdade, a história natural da infecção pelo HCV em receptores pós-transplante tem um curso acelerado em comparação com pacientes não transplantados, resultando no início do desenvolvimento de cirrose. Além disso, um subgrupo de pacientes (cerca de 2% a 5%) desenvolvem hepatite colestática, uma forma grave e agressiva da recorrência do HCV caracterizada por uma rápida progressão à falência do enxerto e morte, geralmente relacionada a elevadas cargas virais.2,4,5 Relato de caso Z.A.A, nascida em 05/10/1947, solteira, auxiliar de laboratório, natural de Santa Juliana e procedente de Uberaba. Encaminhada ao nosso Serviço em 1994 para acompanhamento de hepatite C diagnosticada em 1991. Iniciou tratamento em facultativo, porém apresentou leucopenia e o tratamento foi suspenso após 2ª dose de Interferon Convencional. Biópsia hepática em 1996 mostrava Classificação de Ishak: Atividade Histológica 5 e Estadiamento 1. A paciente manteve seguimento em facultativo de 1997 a 2006, quando retornou ao serviço com biópsia de 2005 que mostrava Hepatopatia Crônica com Regeneração Nodular. Genótipo 1a, RNA-HCV quantitativo 3.279 UI/mL, Plaquetas 71.000. Apresentava vitiligo e hipotireoidismo em tratamento. Em 2006 iniciados Pegasys® e Riba. 4ª semana: Plaquetas 32.000 e RNA-HCV qualitativo indetectável. 6ª semana: Plaquetas 27.000. 7ª semana: Plaquetas 10.000. Tratamento interrompido. Em 2008, diagnosticado hepatocarcinoma, sendo submetida a transplante hepático ortotópico em setembro do mesmo Diante desse cenário, estratégias eficazes para tratar ou prevenir a recorrência pós-transplante do HCV são de suma importância. Três abordagens foram identificadas de acordo com o momento do tratamento: terapia antiviral pré-transplante, só é viável em pacientes com cirrose compensada devido às frequentes e graves complicações relacionadas às medicações, pós-transplante, tratamento preventivo, e tratamento para reinfecção estabelecida.4 Uma das estratégias adotadas em virtude da crescente disparidade entre o número de pacientes em lista de espera e o número de doações de órgãos, é o transplante hepático de doador vivo, pois além de reduzir o tempo de espera e a mortalidade na lista de espera emprega enxerto potencialmente de melhor qualidade (doador saudável e menor tempo de isquemia fria).3 Alguns estudos haviam sugerido que os receptores de transplante hepático de doadores vivos tinham maior risco de recorrência do que os transplantes de doadores falecidos. Em estudos mais recentes não foram encontradas diferenças significativas entre tipo de doador em termos de sobrevivência a longo prazo do paciente, a sobrevida do enxerto ou de reincidência HCV.3,5 Tratar pacientes com HCV na lista de espera de transplante de fígado pode ser considerada como uma abordagem profilática uma vez que a ausência de viremia no momento do transplante pode evitar a recorrência. Infelizmente, a GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 28-31 35(1): 28-31 29 43 Relatamos caso de portadora de cirrose por hepatite C genótipo 1a, tratada durante sete semanas com Interferon Peguilado a2a (Pegasys®) e Ribavirina (Riba), em RVS, mesmo após transplante hepático por hepatocarcinoma. Cirrose por hcv genótipo 1a, tratada com 7 semanas de interferon peguilado/ribavirina, transplantada por hepatocarcinoma, em rvs tolerância para o tratamento é muito baixa nos pacientes com doença hepática descompensada.5 Os principais fatores de risco associados a maior progressão da hepatite C no pós-operatório do transplante hepático foram idade do doador e do receptor, sexo feminino, gravidade da doença no pré-operatório, raça não-caucasiana, carga viral elevada no pré-transplante e precocemente no pós-operatório, ocorrência de infecção por citomegalovírus, coinfecção com HIV, transplante realizado em data recente e bolus de corticosteróides para tratamento de rejeição celular aguda.2,5 35(1): 28-31 30 44 tumor maligno mais comum do fígado.8,10 Hoje em dia, várias opções de tratamento estão disponíveis para o hepatocarcinoma, incluindo a ressecção cirúrgica, terapias de ablação, quimioembolização arterial, radioembolização e terapias sistêmicas.10,11 O transplante hepático é considerado uma intervenção terapêutica altamente efetiva em pacientes com cirrose complicada pela presença de hepatocarcinoma, visto que remove o tumor e o fígado cirrótico, território com potencial neoplásico.10 Tratamento de recorrência com interferon peguilhado e ribavirina é eficaz nesta população, embora com taxas de RVS inferiores e pior perfil de efeitos colaterais. Os candidatos mais adequados para o transplante são aqueles com tumor único com diâmetro não superior a 5cm ou até três lesões com diâmetro individual de até 3cm, sem evidência de invasão vascular macroscópica ou metástase extra-hepática. Drogas de ação antiviral direta é uma nova era no manejo dos pacientes com HCV. Emergentes dados sobre antivirais de ação direta no cenário pós-transplante mostram-se promissores em termos de segurança e eficácia com um acompanhamento adequado e ajuste da dose de imunossupressores.5 Tais critérios, conhecidos como Critérios de Milão, têm sido atualmente adotados em considerável número de centros transplantadores e associam-se a índices de sobrevida em 5 anos superiores a 70% e recorrência tumoral inferior a 15%.8,10 A história natural da cirrose hepática secundária ao HCV no pós-operatório do transplante hepático é rapidamente progressiva. A viremia persistente e hepatite ativa após a ressecção cirúrgica são consideradas fatores de risco para a lesão histopatológica progressiva e carcinogênese multicêntrica no fígado subjacente, a terapia antiviral adjuvante é teoricamente preferível após tratamento curativo para o hepatocarcinoma relacionado ao HCV. Cerca de 40% dos pacientes com recidiva de cirrose por HCV após o transplante apresenta descompensação da doença um ano após o diagnóstico de cirrose e que 10% a 25% deles falecem de insuficiência hepática, e necessidade de retransplante estimada em 30% em 5-10 anos.2 A RVS após o tratamento para o HCV está associada com uma incidência reduzida de hepatocarcinoma em qualquer fase da fibrose. 11 Em 80% dos pacientes cronicamente infectados pelo HCV genótipos 2 e 3 atingem RVS sob tratamento com interferon peguilado e ribavirina, isto promove RVS em apenas cerca de 50% do genótipo 1 e 4; genótipos 5 e 6 têm taxas de resposta intermediária.1 Metanálises revelaram que o tratamento pós-operatório para HCV impede recorrência do hepatocarcinoma e melhora a sobrevida. Convencionalmente, a erradicação de HCV e carga indetectável têm sido consideradas como os fatores mais importantes para a obtenção de melhores resultados clínicos .11 Conclusão A hepatopatia crônica causada pelo HCV é a indicação mais comum de transplante hepático no mundo. A introdução de antivirais de ação direta em regimes combinados aumentou significativamente as taxas de RVS para o genótipo.1 A recorrência da hepatite C após o transplante hepático é elevada e em grande parte dos pacientes pode evoluir com cirrose e perda do enxerto de forma acelerada. Os inibidores da protease telaprevir e boceprevir, aprovados no tratamento apenas para o genótipo 1, podem elevar a taxas de RVS para 63% a 75%, embora com um aumento de efeitos colaterais.1,11 O hepatocarcinoma é uma complicação comum nos doentes cirróticos, com risco de incidência de 1% a 3% ao ano nessa população, sendo o A recidiva de hepatite C no período pós-operatório do transplante hepático ocorre em cerca de 90% dos pacientes no primeiro ano. Entretanto, o caso relatado demonstra Resposta Viral Sustentada após transplante hepático e imunossupressão, mesmo com tratamento interrompido na 7ª semana de esquema terapêutico. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 28-31 M. M. Reis, P. N. Resende, G. A. Vieira, G. P. M. Gomide , R. J. Molina, S. C. O. Cabral 6. Dumortier, Jérôme; boillot, Olivier; scoazec, Jean-Yves. Natural his- Referências tory, treatment and prevention of hepatitis C recurrence after liver ICARDI, Giancarlo. Hepatitis C virus in the new era: Perspectives in epidemiology, prevention, diagnostics and predictors of response to therapy. World J Gastroenterol 2014 August 7; 20(29): 9633-9652 2. Bittencourt, Paulo Lisboa et al . Resultado do inquérito nacional sobre condutas no acompanhamento e no tratamento da recurrência da hepatite C em portadores de vírus C submetidos a transplante de fígado. Arq. Gastroenterol., São Paulo , v. 44, n. 1, Mar. 2007. 3. Coelho, Júlio Cezar Uili et al . Recurrência da Hepatite C após transplante hepático de doador vivo e falecido. Arq. Gastroenterol., São Paulo , v. 46, n. 1, Mar. 2009 . 4. Dall’agata, Marco; gramenzi, Annagiulia; biselli, Maurizio; bernardi, transplantation: Past, present and future. World J Gastroenterol 2014 August 28; 20(32): 11069-11079 7. Kretzer, Iara Fabricia et al. Hepatitis C Worldwide and in Brazil: Silent Epidemic—Data on Disease including Incidence, Transmission, Prevention, and Treatment. The Scientific World Journal, jun 2014. 8. Martinez ares, d. et al . Liver transplantation in patients with hepatocellular carcinoma: factors implicated in tumor relapse. Rev. esp. enferm. dig., Madrid, v. 96, n. 1, jan 2004 9. Martins, Tatiana; narciso-schiavon, Janaína Luz; schiavon, Leonardo de Lucca. Epidemiologia da infecção pelo vírus da hepatite C. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo , v. 57, n. 1, Feb. 2011. Mauro. Hepatitis C virus reinfection after liver transplantation: Is there 10. Parolin, Mônica Beatriz et al . Resultados do transplante hepático em a role for direct antiviral agents? World J Gastroenterol 2014 July 28; pacientes com diagnóstico pré-operatório de hepatocarcinoma. Arq. 20(28): 9253-9260 Gastroenterol., São Paulo , v. 43, n. 4, Dec. 2006 . 5. Dhanasekaran, Renumathy; FIRPI, Roberto J. Challenges of recurrent 11. Shindoh, Junichi; hashimoto, Masaji; watanabe, Goro. Surgical appro- hepatitis C in the liver transplant Patient. World J Gastroenterol 2014 ach for hepatitis C virus-related hepatocellular carcinoma. World J April 7; 20(13): 3391-3400 Hepatol 2015 January 27; 7(1): 70-77 GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35 (1): 28-31 31 45 35(1): 28-31 1. Ansaldi, Filippo; ORSI, Andrea; STICCHI, Laura; BRUZZONE, Bianca; Relato de Caso Fístula cólon-jejunal em paciente com fecaloma e volvos jejunal e sigmoideano devido à dolicomegassigmoide: relato de caso Colon fistula-jejunal in patient with fecaloma and volvos jejunal sigmoideano and due to dolicomegassigmoide: case report Mitre Kalil,¹ Diogo Lesqueves Sandoval,² Thiago Rampazo Pancini,² Ulisses Lopes Guerra Pereira Sobrinho,² Daniela Lerback Jacobsen,³ Luiza Vallory Alochio,³ Amanda Araújo,³ Ricardo Dalvi Nicola,³ Mitre Kalil Junior3 35(1): 32-35 32 46 Resumo Summary O dolicomegacólon consiste no aumento do comprimento e diâmetro dos segmentos do cólon, causando alteração da motilidade e interferindo no funcionamento do trânsito intestinal. Pode ser classificado em: Aganglionose Congênita ou Doença de Hirschsprung; o Megacólon Chagásico ou Adquirido e o Idiopático. Suas principais complicações são fecalomas, volvos, úlceras por estase fecal com isquemia da parede intestinal e perfurações.11,12,15 Relatamos o caso de uma paciente com quadros recorrentes de suboclusões intestinais que melhoravam com tratamentos clínicos conservadores. Os preparos mecânicos para realização de uma colonoscopia sempre foram inadequados devidos aos fecalomas, volvo sigmoideano e a dor forte apresentada pela paciente durante tais tentativas. Indicado laparotomia exploradora, evidenciou-se volvo de sigmoide com fecaloma impactado, aderido e fistulizado para um volvo de jejuno distal. 6,5,10 . Unitermos: Megacólon, Fístula Intestinal, Obstrução Intestinal. The dolicomegacólon is to increase the length and diameter of the parts of the colon, causing changes in motility and interfering with the operation of the intestinal transit. Can be classified into: Aganglionosis Congenital or Hirschsprung disease; the Chagas’ Disease or Acquired megacolon and idiopathic. Its main complications are fecalomas, volvulus, fecal stasis ulcers with ischemia of the bowel wall and perfurações11,12,15. We report the case of a patient with recurrent episodes of intestinal sub-occlusion that improved with conservative medical treatment. Mechanical preparation for performing a colonoscopy were always inadequate due to fecalomas, sigmoideano volvo and severe pain presented by the patient during such attempts. Suitable exploratory laparotomy, revealed a sigmoid volvulus with impacted fecal impaction, and joined fistulized for volvo distal jejunum. 6,5,10 Keywords: Megacolon, Intestinal Fistula, Intestinal Obstruction. 1. Professor Associado (Adjunto IV) da Disciplina de Fundamentos da Cirurgia e de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da EMESCAM e Titular de Técnica Operatória e Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da MULTIVIX - Vitória - ES ( TCBCD e TCBC). 2. Residentes ( R2) do Serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa de Misericórdia de Vitória - ES. 3. Acadêmicos de Medicina da Faculdade de Medicina da EMESCAM. Endereço para correspondência: Dr. Mitre Kalil - Rua Dr. João dos Santos Neves, 143 - Vitória - ES - CEP 29025-023/e-mail: mitre.kalil@ emescam.br Recebido em: 14/09/2015. Aprovado em: 14/10/2015. GED gastroenterol. endosc. dig. 2015: 35(1): 32-35 M. Kalil, D. L. Sandoval, T. R. Pancini, U. L. G. P. Sobrinho, D. L. Jacobsen, L. V. Alochio, A. Araújo, R. D. Nicola, M. K. Junior O dolicomegacólon é o aumento do comprimento e diâmetro dos diversos segmentos do cólon observados ao enema opaco e a colonoscopia. Em geral é decorrente de alteração nas células ganglionares dos plexos mioentéricos, de Meissner e de Auerbach na forma adquirida, causado pelas toxinas do tripanossoma Cruzi, alterando substancialmente à Atividade Muscular Intrínseca do Intestino (SNA). A incoordenação motora do cólon interfere no trânsito colônico, seguindo-se de estase e dilatação cólica levando à obstipação e até a obstrução intestinal baixa. O Mega e o Dolicomegacólon Chagásico (MCH) é o mais comum no nosso país por tratar-se de uma endemia ainda não erradicada. O Megacólon Congênito (Doença de Harald Hirschsprung-1888), ocorre devido à ausência dos neurônios intramurais dos plexos de Meissner e Auerbach (aganglionose congênita). 3,5,6,10,15 A Doença de Chagas, descrita por Carlos Chagas em 1909, microscopicamente ocorre uma neuropatia inflamatória do plexo mioentérico em que 2 a 5% dos indivíduos infectados pelo tripanosoma desenvolvem o megacólon chagásico, entre 30-60 anos de idade, acometendo principalmente segmento distal do cólon e o reto. O diagnóstico é feito laboratorialmente pela reação de fixação do complemento para Doença de Chagas, a reação de Machado-Guerreiro (sensibilidade de 80%) e por exames de imagem como radiografia simples do abdome e enema opaco.2-5,8,11,12,17,20 Outra causa menos comum de megacólon é a displasia intestinal neuronal, que descreve dois tipos distintos de defeitos congênitos dos gânglios murais intestinais. zes. Histologicamente, estão presentes hiperplasia e gânglios gigantes, com sete a dez células nervosas. A colectomia total com anastomose ileorretal é o tratamento de escolha. A obstrução intestinal é causada por volvos ou fecalomas. Muitos volvos podem ser desfeitos por colonoscopia e muitos fecalomas podem ser evacuados através da digitocrasia feita sob raquianestesia. Aquelas obstruções intestinais que evoluem com fistulizações, necroses intestinais ou obstrução em alça fechada são tratadas cirurgicamente. Relatamos o caso de uma paciente com obstrução intestinal em virtude da formação de dois volvos (sigmoide e jejuno) devido ao volumoso fecaloma sigmóideano, que evoluiu com uma fístula cólon-jejunal. 3,5,6,10,20 Relato de caso Paciente do sexo feminino, 59 anos, caucasiana, residente de Cariacica- ES, antecedentes pessoais de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo II e glaucoma. Em 2008 iniciou com quadros recorrentes de constipação intestinal severa, procurando sempre auxílio ambulatorial, sendo diagnosticado em 2009, dolicomegacólon idiopático. A tomografia computadorizada do abdome evidenciou acúmulo importante de resíduos em alças de delgado e o enema opaco, grande distensão do cólon ascendente, sigmoide e reto. A reação de Machado-Guerreiro foi negativa. Em outubro de 2012, foi internada com quadro de distensão e dor abdominal difusa e perda ponderal importante de aproximadamente 20kg ao longo desses quatro anos. O tipo A é observado principalmente em crianças e consiste em hipoplasia da inervação simpática. Apresentava associado, alguns episódios evacuações líquidas ao dia. 2,13,14,16 No exame físico apresentado abdome flácido, distendido, globoso, hipertimpânico em epigástrio, sem sinais de defesa, com ruídos hidroaéreos presentes e com massas palpáveis e móveis em ambos flancos, sugestivas de fecalomas. O tipo B está presente tanto em crianças quanto em adultos e caracteriza-se pela displasia do plexo submucoso de Meissner, resultando em uma propulsão anterógrada fraca das fe- Ao toque retal, ausência de fezes em ampola retal, sendo então tratada sintomaticamente e com enteróclises. Foi solicitada uma nova tomografia computadorizada de abdome, cujo GED gastroenterol. endosc. dig. 2015: 35(1): 32-35 33 47 35(1): 32-35 Introdução Fístula cólon-jejunal em paciente com fecaloma e volvos jejunal e sigmoideano devido à dolicomegassigmoide: relato de caso Figura 1 . Tomografia computadorizada de abdome: distensão de alças colônicas, apresentando fezes em seu interior. laudo revelou importante dilatação e tortuosidade de alças colônicas com fezes em seu interior (figuras 1 e 2). Após dois dias de internação foi dada alta devido à melhora da distensão abdominal e do quadro clínico. Em fevereiro de 2013, a paciente retornou ao prontosocorro da Santa Casa de Misericórdia de Vitória com quadro semelhante, sendo então internada e realizados todos os exames e preparo pré-operatório. Optou-se por uma laparotomia exploradora que evidenciou múltiplas e difusas aderências entero-colônicas, dolicomegacólon com volumoso fecaloma impactado na transição descendente-sigmoide obstruindo completamente à luz intestinal além de uma fístula cólon-jejunal (figura 3). Realizou-se então enterectomia com enteroanastomose término-terminal, colectomia esquerda com colostomia à Mickulicz. 35(1): 32-35 34 48 Figura 2. Tomografia computadorizada de abdome evidenciando distribuição de contraste em alças colônicas. O pós-operatório imediato foi realizado na UTI onde permaneceu por cinco dias, sendo depois transferida para enfermaria permanecendo por mais cinco dias, tendo alta após este prazo. Além de todo suporte terapêutico necessário, manteve-se por 10 dias a antibioticoterapia com ceftriaxona e metronidazol. O fechamento da colostomia deu-se após 90 dias.11,12 Discussão O megacólon tem alta incidência na América Latina, acometendo mais o sexo masculino na proporção 3:2, comumente entre 3ª e 5ª décadas de vida. Figura 3. Peça cirúrgica: observar trajeto fistuloso demarcado por pinça anatômica. Pode ter diversas origens, entre elas, as mais comuns são a Doença de Hirschsprung e a Doença de Chagas. Descartamos a hipótese de Hirschprung pela idade e período das manifestações clínicas e Megacólon Chagásico pela sorologia e reação de Machado-Guerreiro terem dadas negativas, ambos exames de alta sensibilidade. Firmou-se então o diagnóstico de megacólon de origem idiopática.2,4,5,20 Na maioria dos casos, o megacólon resulta em obstrução intestinal manifestando-se clinicamente por constipação intestinal de instalação lenta e progressiva, acompanhada de distensão abdominal. Suas complicações podem ser potencialmente desastrosas, como obstrução em alça fechada e ruptura colônica. Na paciente em questão, entretanto, os quadros de semioclusão eram recorrentes e, insidiosamente, se abrandavam devido à presença de uma fístula cólon jejunal crônica formada, que GED gastroenterol. endosc. dig. 2015: 35(1): 32-35 M. Kalil, D. L. Sandoval, T. R. Pancini, U. L. G. P. Sobrinho, D. L. Jacobsen, L. V. Alochio, A. Araújo, R. D. Nicola, M. K. Junior permitia a fuga de material fecaloide para o delgado e vice-versa. O enema baritado evidenciava uma dilatação importante, representada pelo megacólon cujo diâmetro ultrapassava 12 cm no ceco; 8 cm no cólon ascendente e 7 cm no colón descendente e retossigmoide. Referências 1. Ashley, S.; Zinner, M. Maingot’s abdominal operations. New York: McGray-Hill Medical, 2007. 2. Carvalho, M.; Santana, E. Técnica cirúrgica. Rio de Janeiro: Guarnabara Koogan, 2006. 3. Coelho, U. Aparelho digestivo: clínica e cirurgia. V. 1, São Paulo: Na radiografia simples do abdome, podia-se ver ainda sinais de obstrução, como níveis hidroaéreos em mesogástrio; concreções radiopacas, o sinal do “empilhamento de moedas”; edema e espessamento da parede intestinal; alça de Von Wahl e uma imagem em “bico de pássaro”, as duas últimas patognomônicas de vólvulo. O diagnóstico diferencial pode ser feito com obstruções congênitas de evolução crônica, constipação intestinal crônica devido a dólicocólon e megacólon psicogênico em adultos. Atheneu, 2005. 4. Coelho, U. Manual de clínica cirúrgica v.1 – Cirurgia geral e especialidades. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009. 5. Fauci, A.; Kasper, D.; Longo, D. Harrison:medicina interna. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Medical, 2007. 6. Feldman, M.; Friedman, L.; Sleisenger, M. Sleisenger & Fordtran’s grastrintestinal and liver disease; patrophysiology; diagnosis; management. 7ª edition. V.1. Philadelphia: Saunders, 2002. 7. Goffi, F. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2006. 8. Kalil.M. Cirurgia do Aparelho Digestivo. Vitória, FCAA / UFES, 400 pag,1985. 9. Kalil,M . Técnica Operatória. Vitória, UNIMED,219 Pag, 2013. 10. Lopes, A (org). Tratado de clínica médica. V.1. São Paulo: Roca, 2006. 11. Martins, H.; Damasceno, M.; Awada, S (org). Pronto-Socorro; Condutas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Barueri, SP: Manole, 2007. 12. Mendelssohn, P.; Liu, T. Controle Clínico do paciente cirúrgico. Rio de Janeiro; Atheneu, 2008. 13. Mincis, M. Gastroenterologia & hepatologia: diagnóstico e trata- As cirurgias realizadas são: desfazer o volvo e sigmoidopexia na goteira parietocólica esquerda; sigmoidectomia com colostomia a Hartmann; hemicolectomia esquerda ou retossigmoidectomia com anastomose manual com ou sem preparo mecânico transoperatório e colectomia total com ileostomia. No caso apresentado optamos pela colectomia esquerda, enterectomia jejunal (incluindo a fístula) com enteroanastomose término-terminal e colostomia a Mickulicz.1,2,4,7-9,18,19 Conclusão É incomum na evolução do dolicomegacólon a associação de volvo sigmoide-jejunal com fístula e obstrução intestinal. A fístula ocasionada a partir da estase fecal com ulceração e perfuração do cólon comunicou-se com o jejuno e não livremente para a cavidade peritoneal, o que certamente teria desfecho mais grave. mento. São Paulo; Casa Leitura Médica, 2008. 14. Miszputten, S (org). Guia de gastroenterologia - série guias de medicina ambulatorial e hospitalar/UNIFESP. 2ª Ed. Barueri; Manole, 2007. 15. Raia, AA. Manifestações Digestivas da Moléstia de Chagas.São Paulo, Sarvier,277pag, 1983. 16. Rohde, L (org). Rotinas em cirurgia digestiva. Porto Alegre; Artmed, 2011. 17. Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – SOBED. Endoscopia gastrointestinal terapêutica. São Paulo; Tecmedd, 2006. 18. Towsend, C (org). Sabiston – Textbook of surgery. The Biological Basis of Modern Surgical Practice. 19ª ed. Saunders Elsevier, 2012. 19. Vieira, O (org). Clínica cirúrgica: fundamentos teóricos e práticos. São Paulo; Atheneu, 2000. 20. Way, L. (org). Cirurgia – diagnóstico e tratamento. 9ª Ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 1993. O diagnóstico e conduta cirúrgica precoce evita quadros suboclusivos crônicos, volvos e suas complicações, o que culminam com operações de urgência e morbimortalidades elevadas. GED gastroenterol. endosc. dig. 2015: 35(1): 32-35 35 49 35(1): 32-35 O tratamento inicial da suboclusão intestinal, principalmente em casos não complicados, é clínico, composto por dieta rica em fibras, laxativos e monitorização radiológica. Faz-se esvaziamento manual e com enteroclismas (enemas glicerinados). Em alguns pacientes, entretanto, terapia laxativa é, em geral, uma estratégia a curto prazo. O tratamento cirúrgico está indicado nos casos com evolução prolongada cujas medidas clínicas não promoveram evacuação intestinal satisfatória. Artigo de Revisão Atualização tecnológica da elastometria do fígado Tecnological updating of liver elastography Joe l Schm ille vitch 1, Rod rig o Mincis 2, Ricard o Mincis 3, Danie la Mincis 4 35(1): 36-39 36 50 Introdução Introduction Doenças hepáticas crônicas são frequentes, principalmen- Chronic liver diseases are frequent, mainly because of infec- te por infecção com o vírus das hepatites B e C (que afetam tion with the viruses from Hepatitis B and C (which affect a grande número de pessoas em alguns países), e doenças do great number of people in some countries) and diseases of mundo moderno, como alcoolismo, obesidade, diabetes e the modern world, such as alcoholism, obesity, diabetes and hipertriglicerimia. Nestas situações, a avaliação de pacientes hypertriglyceridemia. In these cases, the evaluation of patients com doenças hepáticas crônicas precisa ser o mais simples with chronic liver diseases needs to be as simple as possible, possível, com custo não muito alto. Até 2003, a avaliação do and not so expensive. Until 2013, the evaluation of the level of grau de fibrose do fígado era localizada somente pela biópsia fibrosis in the liver was done only through a biopsy and serum e marcadores séricos. A biópsia hepática é procedimento inva- markers. The liver biopsy is an invasive procedure, which re- sivo, que requer internação, sedação e não é isenta de riscos. quires hospitalization, sedation, and it is not risk free. Patients, Em geral, os pacientes sentem desconforto e dor, demons- in general, feel discomfort and pain, and have demonstrated trando resistência em realizar o procedimento. Os exames so- resistance towards this procedure. Serological tests did not rológicos até recentemente não demonstravam sensibilidade demonstrate significant sensibility for identifying the levels of significativa para identificar os graus de fibrose do fígado, uma fribosis in the liver up until recently, which is a very important informação importantíssima para o estadiamento, o prognósti- information for the staging, prognosis and therapeutic evalua- co e a avaliação terapêutica. tion. In the last decade, specially in Europe, there was a signif- Na última década, especialmente na Europa, houve uma redu- icant reduction in the number of liver biopsies due to the new ção significativa do número de biópsias hepáticas devido às ways of diagnosing patients with chronic liver diseases; new novas modalidades diagnósticas nos pacientes com hepatopa- biological tests and elastometry. tias crônicas, novos testes biológicos e elastometria. Key Words: Liver, Elastography. Unitermos: Figado, Elastografia. 1. Pesquisador do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 2. R3 Gastroenterologia da Faculdade de Medicina do ABC. 3. Mestre em Gastroenterologia pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia. 4. Acadêmica do Terceiro Ano de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes – SP. Endereço para correspondência: Rua Cardoso de Almeida, 1156 – apto. 63 B – São Paulo – SP - CEP 05013-001/e-mail: [email protected] Recebido em: 12/02/2016. Aprovado em: 17/03/2016. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 36-39 J. Schmillevitch, R. Mincis, R. Mincis, D. Mincis principais equipamentos As técnicas da elastometria são classificadas de acordo com os guidelines da Federação Europeia de Sociedades de Ultrassonografia em Medicina e Biologia (EFSUMB): 1) Elastometria Shear Wave – SWE (elastometria quantitativa) que inclui:1 a) Elastometria transitória (TE) - o único método não integrado a equipamento standard de ultrassonografia. b) Point SWE - Acoustic Radiation Force Impulse (ARFI) - Elast PQ Technique - Epi G7 c) Real time SWE - SWE bidimensional - SWE tridimensional 2) Strain Elastometria CONDIÇÕES GERAIS Pacientes devem estar em jejum de, pelo menos, 2 horas. Os protocolos têm utilizado 10, 14 ou 20 medidas. Os exames podem ser realizados com os pacientes em decúbito dorsal ou decúbito lateral esquerdo, entre os espaços intercostais. O método incorporou um vibrador a um transdutor de 3,5mhz (modo M), com frequência de 50 hz e 2mm de amplitude, que induz a onda a se propagar da pele e do subcutâneo ao fígado. A velocidade da onda é diretamente relacionada ao grau de fibrose do fígado e expressa em kilopascais (kPa). Além do transdutor standard, há transdutor pediátrico (5mhz) e o transdutor X-L (2,5mhz) para pacientes obesos. O equipamento também calcula o grau de esteatose hepática (CAP), havendo boa correlação com os achados da biópsia hepática (figura1). Fig.1 – Elastografia transitória demonstrando 180KPA compatível com F4 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 37 51 35(1): 36-39 Princípios físicos da elastometria e 0 10 20 30 40 50 60 70 80 CAP 185 DB/M E 18518.kPa Fonte: Adaptado de Rome Foundation, 2006.17 A respiração do paciente interfere nos exames de elastometria realizados nos equipamentos de ultrassonografia. Ele deve suspender a respiração. A obesidade e o Índice de Massa Corpórea podem interferir no resultado e ocasionar exames inconclusivos ou falsos positivos. Congestão e colestase hepáticas são também causas de elevação dos resultados. A ascite dificulta o exame na elastometria transitória, e não interfere nos demais equipamentos. A desvantagem da elastometria é de que não se pode comparar os resultados entre os diversos equipamentos, e cada um tem que estabelecer sua própria tabela dos níveis de corte em estudos comparativos com a biópsia hepática. a) Elastometria transitória Em 2003, surgiu um novo método diagnóstico: elastografia transitória (elastometria em português, de Echosens, France). A elastografia transitória tem apresentado elevado índice de acurácia na quantificação dos graus de fibrose hepática. As desvantagens do método são o elevado custo/benefício, e realizar apenas o modo M. b) Elastometria ARFI O método da elastometria associada ao equipamento de ultrassonografia iniciou suas publicações em 2009 (Siemens, Germany). O transdutor utilizado, convexo 4CI, é o mesmo que realiza os exames convencionais de ultrassonografia e emite pulsos com velocidades 10.000 vezes mais rápidas em relação aos convencionais. O operador escolhe o local do ROI nos segmentos V ou VIII, e as medidas devem ser realizadas entre 1 e 2 cm abaixo da cápsula hepática. O lobo esquerdo não deve ser utilizado pois pode ocorrer interferência dos batimentos cardíacos. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 36-39 Atualização tecnológica da elastometria do fígado Os resultados são em metros por segundo (figuras 2 e 3). Inúmeros trabalhos científicos, inclusive metanálise com 4.000 pacientes, têm demonstrado excelentes resultados na quantificação dos graus da fibrose hepática. Os resultados preliminares de nosso protocolo no InRad e nos pacientes submetidos ao transplante hepático demonstram boa correlação do método, com a biópsia do fígado na quantificação da fibrose hepática, de acordo com a classificação Metavir. Recentes publicações têm mostrado correlação entre a elastometria do baço e o aumento da pressão venosa da veia porta e a presença de varizes esofágicas. Figura 2. Elastometria ARFI demonstrando velocidade de 3,43 m/seg compatível com fibrose hepática grau 4 (cirrose, Metavir). 38 52 c) Elastometria PQ A técnica é integrada a Philips (USA) e introduzida recentemente. O sistema gera um pulso eletrônico que é transmitido ao transdutor, que o converte a onda de pressão ultrassônica. Os resultados podem ser obtidos em kPa ou metros por segundo. d) D – SWE 2 Técnica integrada à Supersonic (França), é a combinação de uma força de radiação induzida nos tecidos por ondas de ultrassom e uma taxa muito alta de sequências de imagens de ultrassons. O sistema captura as ondas geradas e é suficientemente detalhada, produzindo grande número de imagens por segundo. A elasticidade é demonstrada no monitor com imagens a cores superimposta à imagem modo B em vermelho (tecidos duros) e em azul (tecidos moles). 35(1): 36-39 Ao mesmo tempo, é realizada a avaliação quantitativa do grau de dureza do fígado, podendo ser expressa em KPa, ou metros por segundo. e) Strain Elastometria Técnica primeiramente desenvolvida pela Hitachi e atualmente utilizada na maioria dos equipamentos de ultrassonografia. O principio é a compressão com pressão, produzindo deformações no tecido. Não há ainda trabalhos que confirmem a utilização do método nas hepatopatias crônicas. Novos equipamentos Figura 3. Elastometria ARFI demonstrando velocidade de 0,81 m/seg compatível com fibrose hepática grau zero (Metavir). Recentemente, foram introduzidos no mercado brasileiro, dois equipamentos com shear wave: A) Logic E9 (GE, USA), com software parecido com o Supersonic, com elastograma a cores. A quantificação da rigidez do fígado pode ser obtida com metros por segundo ou kilopascais. B) Aplio 500 (Toshiba, Japan), que apresenta também software de shear wave com elastograma a cores. O equipamento apresenta um diferencial exclusivo: o modo de propagação, que facilita aos usuários confirmar se as ondas de pressão foram geradas e propagadas conforme o esperado. A elastografia e o sistema de navegação têm sido utilizados para monitorar o tratamento de tumores hepáticos. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 36-39 J. Schmillevitch, R. Mincis, R. Mincis, D. Mincis Conclusões Referências A elastometria hepática é um método em desenvolvimento, com a finalidade de diminuir o número de biópsias hepáticas. 1. Sporea I, Bota S, Săftoiu A, Șirli R, Grădinaru-Tașcău O, Popescu A, Platon ML, Fierbinţeanu-Braticevici C, Gheonea DI, Săndulescu L, Badea R. Romanian National Guidelines and Practical Recommendations on Liver Elastography. Med Ultrason 2014, Vol. 16, no. 2, 123-138. 2. Sporea I, Bota S, Grădinaru-Taşcău O, Sirli R, Popescu A, Jurchiş A. Which are the cut-off values of 2D-Shear Wave Elastography (2D-SWE) liver stiffness measurements predicting different stages of liver fibrosis, considering Transient Elastography (TE) as the reference method? Eur J Radiol 2014; 83: e118-e122. Os equipamentos de ultrassonografia com elastometria shear wave têm demonstrado elevada acurácia na quantificação dos graus de fibrose hepática, e apresenta vantagens em relação à elastometria transitória. O equipamento 2D-SWE tem demonstrado resultados promissores na avaliação de pacientes com hepatopatias crônicas e a strain-elastometria necessita de mais estudos na avaliação da fibrose hepática. Os resultados obtidos até o momento são muito promissores e vem sendo confirmados por vários autores. Estamos diante de um novo caminho na ultrassonografia, assim como foi o doppler anos atrás. 35(1): 36-39 39 53 GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 36-39 Imagem em Foco Os autores devem enviar seus artigos para publicação no e-mail [email protected] Lipoma retal com exteriorização anal aguda Lipoma rectal with acute anal exteriorization V a ld e m i r J o s é A le g re S a lle s 1,2 M a th e u s J o s é M a i a P e re i ra 3 , R a p h a e l B a cc o G u s m ã o F e rn a n d a M a to s P e re i ra B a ru cc i 4 35(1): 40-40 54 40 da R o c h a 3, Introdução: Paciente J.F.M.N, masculino, 44 anos, admitido no setor de emergência com uma volumosa tumoração exteriorizada pelo ânus (figura 1 e 2), acompanhado de hemorragia, dor hipogástrica e parada na eliminação de fezes. Encaminhado para procedimento cirúrgico, foi submetido à ressecção fragmentada por via transanal, cujos fragmentos apresentavam dimensões que variavam de 5 a 15 cm de extensão no maior eixo. O exame anatomopatológico demonstrou tratar-se de lipoma submucoso. Os lipomas são neoplasias benignas de origem mesenquimática, acometendo todo o trato gastrointestinal, sendo que os lipomas colorretais são encontrados em uma incidência de 0,2% a 0,6% em necrópsias. Em ordem decrescente, acometem cólon ascendente, ceco, transverso, cólon descendente, sigmóide e reto. Sua incidência é 1,5 a 2 vezes mais freqüentes em mulheres, acometendo mais a faixa etária entre a 5ª e 6ª década de vida. Geralmente são assintomáticos, sendo os sintomas diretamente proporcionais ao seu tamanho e às suas complicações, que incluem: a intussuscepção, a enterorragia e a obstrução intestinal. A exteriorização pelo ânus é uma condição extremamente rara. A ressecção dos lipomas pode ser realizada pela colonoscopia através de colotomia ou mesmo pela colectomia segmentar. A remoção por colonoscopia é o procedimento de escolha para o caso de lipomas pequenos (menores que 2 cm) e médios (entre 2 e 4 cm), ficando a ressecção cirúrgica restrita para os casos de lipomas muito grandes, frente às suas complicações ou quando o diagnóstico diferencial não é seguro. 1. Professor Assistente Doutor do Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté, São Paulo. 2. Cirurgião Geral do Hospital Regional do Vale do Paraíba – São Camilo, Taubaté, São Paulo. ASBCP. 3. Residente de Cirurgia Geral do Hospital Regional do Vale do Paraíba – São Camilo, Taubaté, São Paulo. 4. Aluna do 5º ano do Curso de Medicina da Universidade de Taubaté, São Paulo. Endereço para correspondência: Hospital Regional do Vale do Paraíba – São Camilo - Av. Tiradentes, 280 - Jardim das Nacões - Taubaté – SP- CEP 12030-180/ e-mail: [email protected] Recebido em: 16/08/2015. Aprovado em: 01/9/2015. GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 40-40 Imagens meramente ilustrativas. Serviço de Informações Medley 0800 7298000 www.medley.com.br ©Medley 2016. ®Marca Registrada. BARISTAR ANUNCIO PG_SIMPLES TRADE_2016 – 50520832 - abril/2016 GED gastroenterol. endosc. dig. 2016: 35(1): 36-39