Artigo de Revisão Avaliação Ecocardiográfica das Próteses Valvares Cardíacas Evaluation of Prosthetic Valves with Echocardiography and Doppler Ultrasound Rogério Tasca¹, Manuela Gonçalves Tasca2, Paulo Arthur de Araujo Amorim3 RESUMO A substituição valvar é uma cirurgia cardíaca frequente, principalmente em países como o Brasil, onde a doença reumática ainda mutila um grande número de jovens. Desde as primeiras próteses, desenvolvidas no início da década de 1.960, acompanhamos uma corrida tecnológica no desenvolvimento de válvulas artificiais biológicas ou mecânicas. Apesar desses avanços, o implante de uma prótese valvar está longe de representar uma cura completa. Ao contrário, os pacientes continuam com os riscos das complicações inerentes às próteses, bem como necessitando de acompanhamento médico. A ecocardiografia, com suas diferentes modalidades, tem um papel importante na avaliação não invasiva desses pacientes. Neste artigo de revisão, abordamos os aspectos normais e as disfunções das próteses cardíacas por meio da ecocardiografia. Descritores: Proteses Valvulares Cardíacas, Ecocardiografia/métodos SUMMARY The valve replacement is a common cardiac surgery, especially in countries like Brazil, where a significant number of young people are affected by rheumatic fever. Since the implantation of the first valve prosthesis in the early 60´s, a large variety of biological and mechanical valves have been developed. Despite these advances, the mplantation of a prosthetic valve is far from representing acomplete cure and patients continue to suffer from the complications inherent to the prosthesis, as well as needing medical follow-up. Echocardiography, with its different forms, has an important role in the noninvasive evaluation of these patients. In this article we offer a review of echocardiographic and Doppler techniques used in the assessment of normal and dysfunction prosthetic valves. Descriptors: Heart Valve Prosthesis; Echocardiography/methods Introdução As primeiras próteses valvares cardíacas foram implantadas, com sucesso, em humanos, no início da década de 1.9601,2. Desde então, ocorreram significativos avanços no tratamento de pacientes valvopatas. Apesar da maior profilaxia da doença reumática, do grande desenvolvimento das técnicas de cirurgia cardíaca reparadora e de medidas hemodinâmicas intervencionistas, a substituição valvar ainda é uma cirurgia cardíaca frequente. Mesmo com o desenvolvimento de próteses mais eficientes, o implante de valva cardíaca artificial está longe de representar uma cura completa, Instituição • Serviço de Ecocardiografia do Hospital da Lagoa - Ministério da Saúde. Rio de Janeiro-RJ - Brasil • Ecodoppler Laboratório de Exames Cardiológicos. Rio de Janeiro-RJ - Brasil • Heart Center - Universidade de Leipsig. Leipsig - Alemanha - SP Correspondência Rogério Tasca Rua Souza Lima nº 325 – Ap. 801 22081-010 - Rio de Janeiro-RJ - Brasil [email protected] Recebido em: 30/11/2010 - Aceito em: 08/03/2011 58 permanecendo os pacientes com os riscos de suas complicações e necessidade de acompanhamento médico. Considerações gerais Desde o início dos anos de 1960, as válvulas cardíacas artificiais vêm se aprimorando. Na Tabela 1, listamos as principais características para que uma prótese cardíaca seja considerada ideal3, uma vez que grande número de próteses foi retirado do mercado, desde as primeiras desenvolvidas em 1.9604-6. Atualmente, existem vários modelos, porém não podem ser consideradas valvas ideais (Tabela 2). 1- Diretor Médico do Ecodoppler Laboratório de Exames Cardiológicos e Chefe do Setor de Ecocardiografia do Hospital da Lagoa. Rio de Janeiro-RJ 2- Médica Residente de Cardiologia do Heart Center. Universidade de Leipsig. Alemanha 3- Médico Residente de Cirurgia Cardíaca do Heart Center, Universidade de Leipsig. Alemanha ISSN 1984 - 3038 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas Tabela 1: Características de uma Prótese Valvar Cardíaca “Ideal”: 1 - Possibilidade de ser implantada facilmente 2 - Tão durável quanto às válvulas nativas 3 - Quimicamente inerte 4 - Silenciosa 5 - Não restritiva 6 - Livre de complicações como trombose, endocardite infecciosa e hemólise. 7 - Figura 1: Próteses Passível de ser avaliada evolutivamente com métodos diagnósticos não invasivos. Tabela 2: Principais Tipos de Próteses Valvares Cardíacas MECÂNICAS - Bola-Gaiola - Mono-disco - Duplo hemi-disco BIOLÓGICAS - Heterólogas Válvula aórtica do porco (porcina) Pericárdio Bovino - Homólogas – Válvula aórtica fresca de cadáver humano - Autóloga Válvula pulmonar do próprio paciente reimplantada em posição aórtica A ecocardiografia, com suas várias modalidades, tem papel importante na avaliação não invasiva das próteses. O ecocardiograma transtorácico (ETT), além de informar sobre a estrutura da prótese, permite, também, estudar as valvas nativas, dimensões cavitárias e função ventricular. Com a introdução do Ecocardiograma Transesofágico (ETE), na década de 1.990, a avaliação das próteses teve um grande avanço7-10. Atualmente, o ETE é método diagnóstico de rotina, em pacientes com suspeita de disfunção protética. Recentemente, com o aparecimento do Ecocardiograma Transtorácico Tridimensional em tempo real (ETT 3D) e, especialmente, o ETE Tridimensional em tempo real (ETE 3D), a avaliação das disfunções protéticas entraram em uma nova era11-13. Sendo o ecocardiograma um exame complementar, deve ser sempre correlacionado com os achados clínicos14,15. Tipos de próteses cardíacas Existem atualmente mais de 50 tipos de próteses que podem ser divididas em Mecânicas e Biológicas. As Figuras 1 e 2 ilustram os principais tipos de próteses. Próteses mecânicas As próteses mecânicas, como o próprio nome sugere, são formadas por anéis metálicos, nos quais são montados discos, gaiolas ou bolas de metal, Silastic® ou carvão pirolítico. São três os principais tipos encontrados em nosso meio: bola-gaiola, monodisco e duplo hemidisco (Figura 1). Próteses de bola-gaiola (próteses de alto perfil): montada em um anel circular de onde saem dois arcos em U, formando uma gaiola. Dentro da gaiola, excursiona passivamente uma bola de Silastic®. A mais conhecida das valvas do tipo bola-gaiola é a de Starr-Edwards, que foi a primeira desenvolvida comercialmente2. Essas próteses não são mais utilizadas, há muitos anos, pois são restritivas e de alto perfil, não podendo ser implantadas em ventrículos esquerdos (VE) pequenos. Próteses de monodisco (próteses de baixo perfil): formada por um anel metálico e um disco único que se abre, perpendicularmente, ao anel. A principal diferença entre os vários modelos é o modo de sustentação do disco no anel, que permite graus diferentes de abertura, variando entre 60° a 80º. Quanto maior o ângulo de abertura do disco, menos restritiva será a prótese. Como o disco fecha, passivamente, pela pressão causada pelo fluxo sanguíneo retrógrado, ele não pode abrir 90º. A sustentação do disco nunca ocorre no centro do anel, fato que ocasiona abertura excêntrica do disco, formando dois orifícios de diferentes ta59 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 manhos, gerando fluxos excêntricos. Por isso, essas válvulas são chamadas de fluxo semicentra16,17. Este ângulo causa resistência ao fluxo em volta do disco e fluxo estagnado atrás dele, sendo este um local de potencial formação de trombos18. Próteses de duplo hemidisco (próteses de baixo perfil): são montadas em anel metálico, no qual existem dois hemidiscos (semilunares) de carvão pirolítico, presos ao anel por pequenos eixos posicionados lateralmente. Os hemidiscos abrem, perpendicularmente, ao anel e em paralelo entre si, formando três orifícios paralelos ao fluxo sanguíneo, sendo o central menor do que os dois periféricos19,20. Essa ampla abertura proporciona fluxo anterógrado central, motivo pelo qual são, também, chamadas prótese de fluxo central. Os hemidiscos abrem-e quase totalmente (85°). Essa grande abertura causa pouca resistência ao fluxo, fato que as torna pouco restritivas. São as válvulas mecânicas mais implantadas, na atualidade, tanto para posição mitral como aórtica. Próteses biológicas Existe uma grande variedade de próteses biológicas. Foram desenvolvidas para reduzir as complicações da anticoagulação nos portadores de valvas mecânicas. Outras vantagens incluem a ausência de ruídos, menor incidência de hemólise e menor turbulência do fluxo transprotético. A grande desvantagem é a menor durabilidade, pela possibilidade de ruptura e calcificação dos folhetos. Descreveremos a seguir os principais tipos de biopróteses (Figura 2): Figura 2: Principais tipos de próteses biológicas 60 Próteses Biológicas Heterólogas: a) Porcinas com sustentação (stented): são próteses desenvolvidas a partir da valva aórtica nativa do porco21,22. As cúspides da valva aórtica do porco são montadas em um anel rígido ou flexível e sustentadas por três hastes dispostas simetricamente, dando à valva o aspecto de uma coroa de rei. As hastes são recobertas por diferentes tecidos, dependendo do fabricante. Essas valvas são menos pliáveis que a valva aórtica humana e formam um orifício de abertura central em formato triangular23. b) Porcinas sem sustentação (stentless): estas biopróteses usam a valva do porco, porém sem anel ou hastes de sustentação metálica. Nesta técnica, o cirurgião usa o anel do próprio paciente como sustentação. A ausência das hastes de sustentação e do anel de sutura permite implantar uma valva maior no anel nativo, resultando num orifício efetivo maior e com menor resistência ao fluxo. Alguns modelos mantêm a valva e a raiz aórtica do porco, sem nenhuma sustentação24,25. c) Pericárdio Bovino: na tentativa de minimizar as limitações hemodinâmicas das valvas porcinas, foram desenvolvidas válvulas, utilizando o pericárdio bovino preservado com glutaraldeído e montado sob uma estrutura formada por um anel e hastes de sustentação, semelhante às valvas porcinas com sustentação. Atualmente, as próteses de pericárdio bovino apresentam durabilidade e padrões hemodinâmicos semelhantes às porcinas26. Próteses Biológicas Homólogas: Chamamos de homólogas as valvas biológicas fabricadas com tecidos humanos, podendo ser: a) Autoenxertos, quando utilizado tecido não valvar do próprio paciente como, por exemplo, válvulas montadas com o pericárdio retirado do próprio paciente. Esta técnica é pouco utilizada, pois devem ser montadas durante o ato cirúrgico e precisam de um kit para sua preparação27. b) Heteroenxertos, quando utilizam tecidos retirados de cadáveres, e que podem ser feitas de Dura Mater ou de valvas cardíacas: Dura Mater: esta válvula foi criada e pro- Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas duzida no Brasil, tendo sido usada até o início dos anos 80, caindo em desuso devido maior incidência de endocardite e rompimento dos folhetos28. Valva pulmonar ou aórtica retirada de cadáveres: as valvas retiradas, dentro de 24 horas da morte do doador, são esterilizadas com antibióticos e criopreservadas por longo período a -196°C29. Não são necessários testes de compatibilidade sanguínea entre o doador e o receptor ou administração de imunossupressores para o receptor. A técnica consiste na retirada em bloco, que inclui a aorta ascendente do cadáver, valva aórtica, parte do folheto anterior mitral e parte do septo interventricular. No momento do implante, o cirurgião resseca parte do bloco para adaptação ao receptor. Como essas valvas são implantadas, diretamente, em posição aórtica, sem sustentação metálica, apresentam melhor desempenho hemodinâmico do que as demais valvas biológicas30. Outras vantagens incluem a baixa incidência de infecções e tromboembolismo31. Essas valvas são de difícil implante em pacientes com dilatação do anel valvar e aorta ascendente. Seu uso é também limitado devido a menor disponibilidade. Próteses Biológicas Autólogas: Valva Pulmonar – Cirurgia de Ross. Nesta cirurgia, inicialmente descrita em 1.96732, a valva pulmonar do próprio paciente, juntamente com a região adjacente do tronco da artéria pulmonar, são removidas e usadas para substituir a valva aórtica disfuncionante. No lugar da artéria e valva pulmonar removidas, é colocada uma bioprótese porcina sem sustentação. As próteses autólogas são resistentes à infecção, apresentam excelente perfil hemodinâmico e boa durabilidade em longo prazo33,34. Outra vantagem da cirurgia de Ross é que a valva pulmonar, colocada em posição aórtica, pode crescer junto com o paciente, estando indicada em crianças35. Embora a maior indicação para a Cirurgia de Ross seja em crianças, adolescentes e adultos jovens, cuja expectativa de vida é longa, esta cirurgia é pouco utilizada por ser, tecnicamente, muito mais complexa do que uma simples troca da valva aórtica, devendo ser realizada apenas por cirurgiões muito experientes. Próteses cardíacas valvares normais: aspectos ecocardiográficos Próteses mecânicas Os feixes do ultrassom refletem quase totalmente ao atingir uma estrutura metálica, causando reverberações que são responsáveis por ecos fantasmas (imagens que não existem). Além disso, a sombra acústica, causada pelo metal, dificulta a identificação das estruturas localizadas no interior do anel metálico e por trás da valva. Em posição mitral, a sombra acústica impede a boa visibilização do AE, tanto pelos cortes paraesternais como apicais (Figura 3 A e B). Não apenas a imagem por traz da prótese fica prejudicada, mas também a avaliação do registro com o Doppler pulsátil e colorido. Como sabemos, o ETE aborda o coração posteriormente, evitando a sombra acústica e os artefatos, permitindo adequada abordagem da face atrial da valva mitral e do AE. Nesses casos, é a imagem do VE que fica prejudicada. Utilizando o ETE, devemos fazer uma varredura cuidadosa, utilizando todos os ângulos e cortes. Nas próteses de duplo hemidisco, em posição mitral, quando o feixe do ultrassom atinge os hemidiscos perpendicularmente, na diástole eles aparecem abertos, como duas linhas no interior do anel, e quando fechados durante a sístole, formam um ângulo obtuso entre eles36 (Figura 3C e D). Figura 3: Próteses mecânicas Em posição aórtica, devido à aorta ascendente e valva aórtica serem mais anteriores, os feixes do ul61 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 trassom do ETE não permitem abordagem das próteses aórticas com a mesma excelência das mitrais. A sombra acústica da prótese incide sobre ela mesma, dificultando a visibilização parcial da valva e do anel aórtico anterior9,37 (Figura 4). A visibilização das próteses aórticas fica ainda mais prejudicada nos casos de dupla prótese, principalmente, quando a mitral é metálica, pois sua sombra incide na via de saída do VE (VSVE) e sobre a própria prótese aórtica. Pelo ETE, com o ângulo em torno de 130°, é possível visibilizar adequadamente a prótese aórtica, a VSVE e o inicio da aorta ascendente (Figura 4B). to da face atrial como ventricular do anel e dos folhetos da válvula (Figura 5D). Figura 5: Próteses biológicas em posição mitral Figura 4: Próteses mecânicas aórticas ETE Próteses Biológicas As ausências de grandes áreas de sombras acústicas ou reverberações permitem adequado reconhecimento das valvas biológicas mesmo com o ETT38. Em posição mitral, a partir do corte longitudinal, identificamos duas das três hastes de sustentação (Figura 5A). A posição em que a valva é fixada no anel mitral, frequentemente, deixa uma das hastes se projetando para a VSVE. A presença desta haste, embora geralmente não cause obstrução39, quando muito proeminente, pode causar turbulência sistólica na VSVE e vibrações ou fechamento parcial das cúspides aórticas5. Ao unidimensional, é possível avaliar a sua mobilidade, cujo aspecto lembra uma valva aórtica nativa em posição mitral (Figura 5B). O corte apical também permite boa avaliação anatômica e funcional das próteses biológias em posição mitral (Figura 5C). Embora elas possam ser bem estudadas pelo ETT, não há dúvidas de que o ETE permite excelente abordagem estrutural e da função valvar. Com esse exame, os folhetos protéticos, mesmo quando muito delgados, podem ser detalhados e avaliados quanto à sua inserção no anel, mobilidade, espessura, integridade etc. A ausência de sombras e reverberações permite abordagem tan- 62 Em posição aórtica, nos casos de próteses biológicas sem sustentação, valvas aórticas de cadáver ou cirurgia de Ross como não existem hastes, o aspecto é praticamente igual ao de uma valva aórtica nativa, sendo possível, em alguns casos, notar que as paredes da aorta ascendente são mais espessas, devido ao implante em bloco da válvula e da aorta ascendente (Figura 6A). Figura 6: Próteses biológicas aórticas Nas biopróteses aórticas com sustentação, as hastes podem ser identificadas. Geralmente, elas ficam menos visíveis do que nas valvas mitrais, pois estão praticamente juntas das paredes da aorta ascendente (Figura 6B). Os folhetos da valva também podem ser identificados, porém nos casos de paredes aórticas, com algum grau de calcificação, eles podem não aparecer no corte paraesternal longitudinal. O Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas eco unidimensional permite registrar a mobilidade das cúspides, sendo praticamente igual ao de uma valva aórtica nativa. Não é raro ocorrer vibrações sistólicas das cúspides, causada pelo fluxo de alta velocidade pelas biopróteses40. Os cortes apical longitudinal e apical 5-câmaras ajudam muito na análise dos folhetos aórticos, podendo, inclusive, evitar a eventual sombra acústica das paredes da aorta ascendente. Nessas válvulas, a ausência de grandes áreas de sombra acústica, permite que o ETE identifique com facilidade as hastes, os folhetos e o anel valvar aórtico. (Figura 6C e D). uma vez que devido discos, folhetos ou hastes de sustentação podem prejudicar a passagem do sangue. Esses fatores fazem com que praticamente todas as próteses, mesmo normofuncionantes, sejam restritivas quando comparadas com as valvas nativas normais42-44. Muitas vezes, é difícil diferenciar ao Doppler uma prótese restritiva (sem disfunção) de uma prótese estenótica (com disfunção). A prótese será menos restritiva quanto maior seu orifício efetivo. Considera-se orifício efetivo a área do anel protético menos a área ocupada por estruturas que dificultem o fluxo sanguíneo, como folhetos, discos, ou hastes de sustentação. Nas Tabelas 3 e 4 estão relacionados a estimativa dos valores hemodinâmicos em próteses normofun- Padrões de fluxos das próteses normofuncionantes Cada tipo e mode- Tabela 3: Valores normais ao doppler em próteses aórticas lo de válvula protética apresenta características estruturais próprias, gerando padrões de imagens e perfis hemodinâmicos variáveis. Podem ocorrer fluxos com padrões e velocidades completamente diferentes, dependendo do tamanho e da posição da prótese, se biológica ou mecânica, de alto ou baixo perfil, monodisco ou duplo hemidisco41. Sendo assim, é importante conhecer os modelos das valvas disponíveis no mercado e procurar entender sua dinâmica. O anel protético é sempre menor do que o anel nativo, pois é suturado dentro deste. Além disso, as próteses apresentam orifício efetivo menor do que as valvas naturais, Modificado de Rosenhek R et al.43 63 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 Tabela 4: Valores normais ao doppler em próteses mitrais Outro importante fator a ser considerado, principalmente, em posição aórtica, é o chamado prótese-paciente mismatch, que será abordado com mais detalhes, posteriormente. Preconiza-se realizar um eco basal, quando o paciente estiver com suas condições hemodinâmicas restabelecidas, cerca de 30 a 60 dias após a cirurgia de implante da prótese, o qual servirá como referência para exames futuros41 (Tabela 5). Fluxo anterógrado Modificado de Rosenhek R et al.43 cionantes de diferentes tamanhos e os modelos em posição aórtica e mitral, obtidos a partir de várias publicações43. Como era de se esperar, as valvas de maior diâmetro têm velocidades e gradientes menores. Nas próteses aórticas, alguns modelos pequenos geram gradientes pressóricos com valores considerados como estenose em valvas nativas. Em posição mitral, os gradientes são menores, pois geralmente o anel nativo permite implantar valvas maiores e, também, porque os fluxos entre o AE e VE são de baixa velocidade e pressão. Os valores encontrados nas Tabelas 3 e 4 são estipulados como normais e não consideram possíveis alterações hemodinâmicas dependentes da frequência cardíaca, função ventricular, variações volêmicas e da viscosidade sanguínea, fatores que, entre outros, poderão variar os padrões e velocidades dos fluxos transprotéticos. 64 Próteses biológicas Nas válvulas biológicas, o padrão normal do fluxo anterógrado é central e relativamente laminar45 (Figura 7A). Quando o fluxo é direcionado muito anteriormente, fato comum nas biopróteses mitrais (Figura 7B), pode formar ângulo próximo a 0° com o feixe do Doppler, permitindo registrar o fluxo diastólico transprotético mesmo pelo corte paraesternal longitudinal5,46. Próteses Mecânicas Próteses de mono disco: o disco abre entre 60° a 80° graus em relação ao anel, formando dois orifícios excêntricos semicirculares. Nas próteses mitrais, o fluxo orienta-se anteriormente, sobre o septo interventricular (Figura 7D). A abertura não perpendicular do disco causa turbulência e restrição ao fluxo sanguíneo anterógrado, podendo gerar fluxos de velocidade elevada, principalmente, em próteses pequenas41. O registro ao Doppler pulsátil ou contínuo evidencia o ruído de abertura e fechamento Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas Tabela 5: Avaliação ecocardiográfica evolutiva recomendada em portadores de próteses valvares cardíacas Figura 8: Próteses de duplo hemisfério - Pós-op recente Qualquer tipo de prótese Estudo basal em todos pacientes - Avaliação tardia Biopróteses Clinicamente normal A cada 2 anos nos primeiros 6 anos, anualmente dos 6 aos 10 anos, e depois a cada 6 meses. Paciente-prótese mismatch Anualmente Insuficiência renal crônica Anualmente Próteses Mecânicas Clinicamente normal Patiente-prótese mismatch Figura 9: Fluxo anterógrado em próteses aórticas A cada 2 ou 3 ano Anualmente Modificado de: Yoganathan et al. 41 Figura 7: Fluxos nas próteses normofuncionantes cal 5-câmaras ou paraesternal direito para registrar o fluxo anterógrado (Figura 9) Fluxos retrógrados do disco, que corresponde aos cliks de abertura e fechamento da ausculta cardíaca (Figura 7C). As velocidades dos fluxos transprotéticos são semelhantes, em ambos os orifícios, e devemos registrar o que estiver mais alinhado com o feixe do Doppler. Próteses de duplo hemidisco: os dois discos abrem-se em torno de 85° graus, formando três orifícios, sendo os dois externos maiores do que o central (Figura 8A). Essa disposição dos dois hemidiscos causa pouca restrição ao fluxo, tornando essas valvas menos restritivas e causando pouca turbulência ao fluxo47,48 (Figura 8B). Desse modo, o fluxo é paralelo ao anel e, quando em posição mitral, é direcionado para o centro do VE, ao contrário das demais próteses. Os fluxos dos orifícios laterais são laminares enquanto que o central é ligeiramente turbulento e de maior velocidade. Nas próteses aórticas, mecânicas ou biológicas, utilizamos o Doppler contínuo a partir do corte api- As próteses cardíacas apresentam, quase que invariavelmente, graus pequenos de fluxos retrógrados, chamados refluxos fisiológicos. Praticamente todas as valvas mecânicas e em torno de 30% a 50% das biológicas têm refluxos fisiológicos9,41. O Doppler em cores tem maior sensibilidade para detectar esses pequenos refluxos, sendo que, em posição mitral, o ETE é muito mais sensível do que o ETT.9,49 Ocorre que, no ETT, a sombra acústica no AE impede a visibilização dos pequenos refluxos. Cada tipo de valva apresenta refluxos fisiológicos característicos (Figura 10). Assim, as valvas biológicas, geralmente, refluem no ponto de coaptação central dos folFigura 10: Refluxos fisiológicos 65 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 hetos, podendo também ocorrer ao longo de sua junção. As valvas mecânicas de monodisco refluem em volta do anel, decorrente de mínima folga existente entre o anel e o disco50. As próteses de duplo hemidisco, além do refluxo citado, apresentam incompetências fisiológicas centrais, ao longo da linha de coaptação dos dois hemidiscos e nos pontos de suas sustentações no anel51. Na maioria das vezes, o ETE pode identificar os diferentes tipos de próteses mitras pelas características dos seus refluxos fisiológicos. Eles ocorrem sempre dentro da valva, entre o anel e o disco, ou na coaptação dos folhetos das biopróteses, são de baixa velocidade, pouco turbulentos e geralmente formam jatos menores do que 2cm (Tabela 6). No caso das próteses aórticas, como não ocorre sombra na VSVE, os refluxos fisiológicos podem ser registrados pelo ETT no corte apical 5 câmaras (Figura 10 D). Tabela 6: Principais características dos refluxos protéticos normais (fisiológicos): Sempre protéticos (nunca periprotéticos). Pouca turbulência. Baixa velocidade. Geralmente não atingem mais do que 2 cm dentro da cavidade. Obedecem as características estruturais das válvulas: - Mecânicas: Mono-disco: Refluem ao redor do anel, na região de fechamento do disco. Duplo hemi-disco: Refluem ao redor do anel, na região de fechamento e na linha central de junção dos dois hemi-discos. Biológicas: Podem refluir em qualquer ponto das bordas de fechamento dos três folhetos. Avaliação hemodinâmica das disfunções das próteses Avaliação das lesões estenóticas Cálculo dos gra- Figura 11: Fluxos das lesões estenóticas dientes pressóricos: o fluxo anterógrado deve ser registrado de preferência com o Doppler contínuo, orientado pelo Doppler em cores, na tentativa de obter o fluxo mais paralelo 66 possível, evitando ângulos muito acentuados que possam subestimar as velocidades e consequentemente os gradientes pressóricos. Os gradientes máximo e médio podem ser estimados tanto nas próteses mitrais como aórticas. Nas próteses aórticas, o registro sempre deve ser feito com o Doppler contínuo, utilizando os cortes apical 5-câmaras ou paraesternal direito (Figura 11A). As próteses mitrais biológicas e mecânicas de monodisco, como já mencionado, apresentam fluxos dirigidos anteromedialmente, sendo que, nos casos em que o fluxo é muito anteriorizado, sobre a VSVE, é preferível registrá-lo por meio do corte paraesternal longitudinal ou mais baixo (entre o paraesternal longitudinal e o apical longitudinal). Ao realizar-se o registro pelo corte apical de quatro câmaras, deve-se procurar alinhar, o mais paralelamente possível, o Doppler contínuo ou pulsátil com o fluxo diastólico protético (Figura 11B). Nas próteses de monodisco, que têm dois fluxos, a preferência é registrar o que estiver mais paralelo ao feixe do Doppler, o que geralmente ocorre com o fluxo do orifício próximo à parede lateral do VE52+. Os gradientes Maximo e Médio podem ser estimados a partir da equação de Bernoulli simplificada: P= 4,V2 pressóricos53, sendo que V representa a velocidade obtida na aorta ascendente, nos casos de próteses aórticas ou na câmara de entrada do VE, nos casos de próteses mitrais. Essa fórmula simplificada considera que a velocidade do fluxo pré-valvar é menor do que 1m/s. Quando a velocidade pré-valvar é > 1m/s, é necessário aplicar a fórmula completa de Bernoulli, P= 4 (V22 – V12), evitando subestimar o gradiente. Isso pode ocorrer nas próteses aórticas com refluxo significativo, hipertrofia na VSVE, ou Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas estados hipercinéticos, por exemplo. Nesses casos, a velocidade na VSVE (V1) deverá ser subtraída da velocidade na aorta ascendente (V2). Clinicamente, deve-se dar mais valor ao gradiente médio do que ao gradiente máximo, pois as próteses podem ter velocidades instantâneas maiores no momento da abertura valvar, diminuindo rapidamente durante o restante do ciclo cardíaco, mantendo um gradiente médio normal54. Nas próteses de duplo hemidisco em posição mitral, a diferença de velocidade do fluxo, entre os orifícios laterais e central, é muito pequena e não altera significativamente o gradiente AE/VE. Importante lembrar que aumentos ou reduções dos fluxos transvalvares podem, respectivamente, aumentar ou diminuir os gradientes pressóricos das próteses. Sendo assim, situações como anemia, gravidez, febre e outras síndromes hipercinéticas podem gerar aumentos significativos dos gradientes sem significar estenose. Inversamente, a disfunção sistólica importante do VE pode causar redução dos gradientes, principalmente em próteses aórticas55. Cálculo da área efetiva das próteses valvares Não é possível quantificar a área anatômica das próteses mecânicas ou biológicas por meio da planimetria pelo ETT ou mesmo pelo ETE. Deve-se utilizar o Doppler e estimar a área efetiva pelo Pressure Half Time (PHT) ou equação de continuidade53,56. Próteses aórticas: para estimativa da área efetiva das próteses aórticas, utiliza-se a Equação de Continuidade: AprtAo = (AVSVE . IVVSVE) / IVprtAo, onde AprtAo = área efetiva da prótese aórtica, AVSVE = área da VSVE, IVVSVE = integral da velocidade na VSVE e IVprtAo = integral da velocidade do fluxo da prótese, registrado na aorta ascendente. A medida do diâmetro (D) da VSVE deve ser feita pelo corte paraesternal longitudinal em sístole, entre a face ventricular do septo até o folheto anterior mitral, imediatamente abaixo do anel aórtico. A AVSVE será então: π (D/2)². É importante usar a medida do diâmetro da VSVE, obtida pelo corte paraesternal, e não utilizar o diâmetro do anel da prótese, fornecida pelo fabricante, pois esta se refere ao anel externo da prótese e não ao anel que corresponde o orifício efetivo. O fluxo na VSVE deve ser obtido com o Doppler pulsado, próximo à prótese aórtica, antes da região de aceleração, imediatamente abaixo da válvula. O fluxo transvalvar aórtico deve ser obtido com o Doppler contínuo, utilizando-se o apical de 5-câmaras ou paraesternal direito, aquele que registrar a maior velocidade. Índice de Velocidade do Doppler (IVD): Outra forma de estimar possíveis estenoses das próteses aórticas é pelo cálculo do índice que correlaciona o pico da velocidade entre o fluxo subvalvar (VSVE) e o pico da velocidade do fluxo, por meio da prótese (aorta ascendente): IVD = VVSVE / Vprt57. Este índice é muito simples de ser calculado, pois necessita apenas medir, com o Doppler, as velocidades máximas na VSVE e na aorta ascendente. Quanto maior o grau de estenose da prótese, maior a velocidade do jato pós-estenótico, mantendo inalterada a velocidade na VSVE. Este valor é próximo a 01 nos casos de valvas nativas sem estenose aórtica ou subaórtica. Quanto maior o grau de estenose da prótese aórtica, menor será o IVD. Sabendo que as próteses aórticas são normalmente restritivas, considera-se normal o valor entre 0,35 a 0,50, enquanto que para valvas nativas, o valor normal varia entre 0,75 a 0,9058. Próteses mitrais: A estimativa da área das próteses mitrais pode ser feita do mesmo modo que nas valvas nativas. A maneira mais prática é pelo PHT. Embora este método tenha sido inicialmente descrito para valvas nativas53, ele é um método que pode ser útil para diferenciar uma prótese normal de uma estenótica, e tem sido usado para estimativa da área efetiva das próteses mitrais e tricúspides59. Do mesmo modo que nas valvas nativas, a fibrilação atrial é fator limitante para estimativa adequada da área dessas próteses. Nesses casos, deveremos fazer uma média entre cinco registros ou, nos casos de alta frequência ventricular, é aconselhável repetir o exame após controle da frequência cardíaca. O cálculo da área de uma prótese mitral também poderá ser realizado por meio da Equação de Continuidade, desde que não exista insuficiência mitral significativa60. Nos casos de insuficiência aórtica maior do que leve, deve-se utilizar a área e o fluxo da 67 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 via de saída do VD, em vez da VSVE61. A vantagem da equação de continuidade para estimar a área das próteses mitrais é que ela é independente do gradiente transvalvar e da complacência ventricular, sendo, no entanto, mais trabalhosa que o PHT. Avaliação das lesões regurgitantes Assim como nas lesões estenóticas, os mesmos métodos das valvas nativas são usados para avaliar os refluxos das próteses62,63. No entanto, as dificuldades técnicas são maiores, principalmente nas próteses mecânicas, nas quais a sombra acústica e as reverberações podem dificultar a localização e quantificação dos jatos regurgitantes. O ETE está indicado nos pacientes, com suspeita de incompetência das próteses em posição mitral, na qual a sombra acústica prejudica a visibilização do AE. Na avaliação dos refluxos das próteses mecânicas aórticas, no entanto, o ETE é limitado64,65. Os refluxos patológicos podem cursar, com sinais indiretos, como aumento da pressão arterial pulmonar, sobrecarga de volume do VE e aumento da velocidade do fluxo anterógrado da prótese mitral. Na suspeita de lesões regurgitantes, a ausculta cardíaca cuidadosa é importante, na procura de sopros de refluxo aórtico ou mitral, fato que alertará para a possibilidade de lesões patológicas, uma vez que os refluxos fisiológicos são inaudíveis com o estetoscópio15. Próteses aórticas: As incompetências das próteses aórticas, normalmente podem ser detectados e quantificados pelo ETT. Isso porque a VSVE está livre da sombra acústica e das reverberações, tanto pelo corte paraesternal longitudinal como apical de 5-câmaras. Ao identificar-se um pequeno jato regurgitante com o Doppler em cores, deve-se pensar na possibilidade de refluxo fisiológico (Figura 10D). Uma vez que os refluxos fisiológicos podem ser múltiplos, centrais ou próximos do anel, devemos tomar cuidado para não confundi-los com pequenos refluxos periprotéticos aórticos. Embora em alguns casos permaneça a dúvida mesmo para ecocardiografistas experientes, como esses refluxos pequenos não têm repercussão hemodinâmica ou clínica, podem ser acompanhados evolutivamente. Os refluxos patológicos das próteses aórticas po68 dem ser quantificados, utilizando-se os mesmos critérios empregados nas valvas aórticas nativas (Figura 12). Com o Doppler colorido, deve-se tentar identificar a origem do refluxo, se protético ou periprotético, avaliar a área ocupada pelo jato na VSVE e até onde ele se estende no VE. Importante enfatizar que as limitações podem ser ainda maiores nos casos das válvulas mecânicas, pois, muitas vezes, o refluxo é muito turbulento, preenchendo completamente a VSVE, mesmo sem ser de grau importante. Pode-se também estimar o grau do refluxo analisando a intensidade do registro pelo Doppler contínuo. Quanto mais intenso o sinal, maior o grau do refluxo. Ainda com o Doppler contínuo, deve-se medir a desaceleração e o PHT do jato regurgitante, considerando-se os mesmos valores utilizados para quantificar a insuficiência aórtica em valvas nativas. É possível também estimar o grau da insuficiência aórtica pelo registro do fluxo na aorta descendente e abdominal, com o Doppler pulsado, na procura de fluxos reversos. Embora o ETE tenha limitações na quantificação dos refluxos aórticos, ele poderá diferenciar se o jato origina-se no interior (protético) ou fora (periprotético) do anel da prótese. A região posterior do anel mitroaórtico é melhor visualizada com o ETE, enquanto que o anel aórtico anterior pode ficar escondido pela sombra da própria prótese, principalmente, quando for mecânica (Figura 12D). Essa dificuldade aumenta no caso de pacientes com dupla prótese mecânica, uma vez que a sombra da prótese mitral incidirá sobre a prótese aórtica e VSVE. Próteses Mitrais: insuficiência mitral pode ser Figura 12: Fluxos nas próteses normofuncionantes Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas detectada com relativa facilidade pelo ETT, em portadores de próteses biológicas. Já nas próteses mecânicas, a sombra acústica no AE limita significativamente seu registro. A quantificação dos refluxos patológicos pode ser feita do mesmo modo que nas valvas nativas. As insuficiências fisiológicas como são pequenas e nem sempre são identificadas pelo Doppler em cores. Os refluxos patológicos podem ser protéticos ou periprotéticos (Figura 13). Figura 13: Fluxos nas próteses normofuncionantes Cuidadosa avaliação pelos cortes apicais poderá diferenciá-los. Os periprotéticos estarão por fora da valva, entre o anel da prótese e o anel nativo. Em alguns casos, poderemos ficar em dúvida, pois jatos protéticos excêntricos poderão parecer que estão originando-se fora da valva66-68. É necessária cuidadosa avaliação das bordas do anel valvar com o Doppler em cores, pois pequenos refluxos protéticos ou periprotéticos podem ficar escondidos pela sombra do anel da prótese. A intensidade do sinal do Doppler pode ser usada para estimar o grau do refluxo mitral: quanto mais intenso o registro, mais importante deve ser o refluxo, sendo que os de maior gravidade apresentam sinal próximo ou igual ao fluxo anterógrado69,70. O fluxo anterógrado das próteses também deve ser considerado quando existe refluxo mitral. Quando o refluxo é importante, o fluxo anterógrado aumenta sua velocidade, sendo tanto maior quanto mais importante for a insuficiência. Fluxos anterógrados com onda E mitral maior do que de 2m/s são compatíveis com refluxo mitral importante70,71. Devemos lembrar que os estados hipercinéticos também podem aumentar a ve- locidade do fluxo anterógrado das próteses mitrais normofuncionantes. Como o Doppler contínuo tem capacidade de registrar fluxos mesmo através da sombra acústica, deve ser utilizado pelos cortes apicais, fazendo cautelosa varredura no AE, mapeando a face atrial da valva mitral, a procura de jatos regurgitantes de alta velocidade5 (Figura 13D). Os refluxos fisiológicos não são reconhecidos dessa maneira, pois são de baixa velocidade. Lembramos que a não detecção de insuficiência pelo ETT em próteses mitrais mecânicas não afasta este diagnóstico (baixo valor preditivo negativo). Sempre que houver a suspeita clinica ou pelo ETT, de incompetência mitral com repercussão hemodinâmica, deve-se realizar o ETE. O ETE aumentou muito a acurácia do diagnóstico etiológico e das características do fluxo regurgitante das próteses mitrais10,64. Os refluxos mitrais poderão ser mais bem avaliados, uma vez que a sombra e reverberação estarão sobre o VE e não sobre o AE (Figura 14). Figura 14: Fluxos nas próteses normofuncionantes Podem-se quantificar as insuficiências de maneira subjetiva com o Doppler em cores, avaliando a espessura, localização, direção e profundidade do jato regurgitante. Quando visibilizável, é possível estimar o grau do refluxo calculando o diâmetro da Vena Contrata72. Importante lembrar que o Doppler em cores registra velocidade e não volume sanguíneo. Sendo assim, jatos excêntricos que circundam as paredes atriais, embora demonstrem áreas pequenas, podem apresentar grandes volumes de sangue, fenômeno conhecido como efeito coanda73. Com o ETE, orifícios periprotéticos de regurgitação serão mais facilmente detectados e podem mostrar fluxos retrógrados e anterógrados nesses orifícios. A quantificação da IM também pode ser realizada pelo registro dos fluxos nas veias pulmonares, do mesmo 69 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 modo que as valvas nativas74,75. Deve-se estar atentos para a possibilidade de múltiplos jatos regurgitantes, muitas vezes, podendo ser protéticos e paraprotéticos em um mesmo paciente (Figura 14B). Paciente Prótese-Mismatch Inicialmente descrito por Rahimtoola, em 1.97876, o termo Patient-Prosthesis Mismatch (PPM) refere-se aos casos de próteses normofuncionantes que apresentam, na fase pós-operatória, gradientes hemodinâmicos muito acima do esperado para aquele modelo e tamanho de valva implantada. Esse fato ocorre devido ao orifício efetivo da prótese ser pequeno em relação à superfície corporal do paciente. Uma prótese pode comportar-se normalmente para um paciente pequeno e sedentário, sendo que esta mesma válvula pode ser restritiva para um indivíduo fisicamente grande e ativo. O PPM é frequente em pacientes com grande superfície corporal, que tinham estenose aórtica com anel nativo calcificado e pequeno, não permitindo implante de próteses grandes76. Como as próteses são montadas em anéis que são suturados dentro do anel nativo, elas sempre terão área efetiva menor do que a válvula nativa normal. Além disso, dependendo não apenas do tamanho, mas também do modelo da válvula implantada em posição aórtica, elas serão mais ou menos restritivas. É comum encontrarmos gradientes altos em próteses aórticas normofuncionantes (Tabela III). Nesses casos, permanece um gradiente residual pós-operatório acima do esperado, mesmo em repouso, ou com grande aumento durante o esforço. O PPM pode também ser suspeitado quando não ocorrer regressão da hipertrofia do VE, após seis meses da troca valvar aórtica77. Clinicamente, esses indivíduos podem comportar-se como portadores de estenose aórtica, com sintomas durante o esforço. Em posição mitral, esse fato, normalmente não ocorre devido o anel valvar permitir implante de valvas maiores e, também, a diferença de pressão entre o AE e VE ser pequena. Para considerar o diagnóstico de PPM, é necessário excluir disfunções das próteses que possam estar levando à estenose valvar. As causas possíveis de estenose 70 das próteses aórticas são as disfunções primárias (calcificação dos folhetos nas biológicas e emperramento dos discos nas mecânicas), trombose e Pannus (causas que serão abordadas mais adiante). A maneira mais eficaz de diferenciarmos PPM de disfunção nas próteses aórticas é a realização de ecos evolutivos, uma vez que pacientes com PPM terão comportamentos hemodinâmicos compatíveis já nos ecocardiogramas basais, que devem ser realizados na fase precoce pós-operatória41. Neste ETT basal, que será mantido como referência, devemos calcular os gradientes máximo e médio e área efetiva da prótese, bem como registrar possíveis refluxos fisiológicos ou patológicos. Também é importante orientar o paciente para guardar o relato cirúrgico, no qual deve constar o tipo e tamanho da prótese implantada. Na suspeita de PPM, pode-se calcular a área da prótese indexada para a superfície corporal do paciente. Assim, no caso de uma prótese aórtica, vamos estimar a sua área efetiva peça equação de continuidade e dividir pela superfície corporal do paciente. Valores acima de 0,85cm²/m² são considerados hemodinamicamente insignificantes; entre 0,85 e 0,65cm²/m² moderado e abaixo de 0,65cm²/ m² como PPM severa78-80. Próteses Tricúspides Embora a plastia da valva tricúspide seja relativamente frequente, sua troca por próteses é muito mais rara do que nas valvas esquerdas. Devido às baixas pressões nas cavidades direitas, devem-se implantar próteses biológicas para evitar o tromboembolismo, que é mais frequente nas mecânicas. A velocidade do fluxo diastólico transvalvar depende do tamanho da prótese. Importante lembrar que a velocidade diastólica tricúspide é baixa, e mesmo pequenos aumentos no gradiente entre o átrio direito (AD) e ventrículo direito (VD) podem causar repercussões hemodinâmicas61. As disfunções das próteses tricúspides podem ser facilmente detectadas pelo ETT. Deve-se utilizar os cortes paraesternal de câmara de entrada do VD e apical 4-câmaras. Nas biopróteses, é relativamente fácil identificar a calcificação ou ruptura dos folhetos, causando estenoses, refluxos ou dupla disfunção. O Doppler em Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas cores é importante para detectar e quantificar os refluxos protéticos ou periprotéticos. Nas estenoses, devido às variações respiratórias do fluxo tricúspide, preconiza-se estimar os gradientes e a área valvar pelo PHT, utilizando uma média de 5 ciclos cardíacos, ou solicitar que o paciente faça uma apneia durante o registro pelo Doppler80. Suspeita-se de estenose da prótese tricúspide quando: velocidade da onda E > 1,7m/s; Gradiente AD/VD médio > 6mmhg e PHT > 230ms.81,82 (Figura 15A). Figura 15: Próteses Tricúspide e Pulmonar via de saída do VD ou subcostais em crianças7. Em pacientes com dificuldade de alinhar o Doppler na artéria pulmonar, pelos cortes paraesternais, pode-se utilizar o corte apical cinco câmaras, anteriorizando mais ainda o transdutor, identificando a VSVD e a válvula pulmonar (Figura 15B). Pelo ETE, o melhor corte para visibilizar a valva pulmonar é a 90º, quando ela aparece anteriormente à valva aórtica. Disfunções das próteses valvares Disfunção estrutural primária: É assim considerada a disfunção que envolve primariamente o funcionamento da prótese, prejudicando sua abertura ou fechamento (Tabela 7). Tabela 7: Principais causas de disfunção das Próteses Cardíacas A avaliação do tamanho das câmaras direitas e da Veia Cava Inferior, bem como a função sistólica do VD, deve ser considerada. Embora o ETE esteja indicado como complemento na avaliação anatômica/ estrutural das disfunções das próteses tricúspides, deve-se lembrar que a tricúspide é a mais anterior das válvulas cardíacas e, portanto, a mais distante do transdutor do ETE. Além disso, esses pacientes muitas vezes são portadores de outras próteses em posição aórtica ou mitral, que podem causar sombras acústicas na tricúspide, principalmente se forem mecânicas. Próteses Pulmonares Entre as quatro valvas cardíacas, sem dúvida, a pulmonar é a menos substituída por próteses. Isso porque as lesões pulmonares são mais raras e os procedimentos terapêuticos, como valvoplastia percutânea ou cirurgia reparadora, são mais eficientes. No caso da cirurgia de Ross, a valva pulmonar nativa é retirada para substituir a valva aórtica patológica do próprio paciente, sendo colocada uma bioprótese em posição pulmonar, a qual pode apresentar degeneração e mal funcionamento32,83. Como em todas as próteses mesmo normofuncionantes, também em posição pulmonar, ela pode ser restritiva, podendo causar aumento da velocidade do fluxo transprotético. A avaliação ecocardiográfica pode ser realizada por cortes paraesternais transversais, de Disfunções Estruturais Primárias: -Válvulas Mecânicas Regurgitação paravalvar Deiscência da prótese Crescimento de tecido (Pannus) Trombose -Válvulas Biológicas Degeneração dos folhetos Calcificação dos folhetos Regurgitação paravalvar Endocardite Infecciosa -Vegetações -Abscesso Paravalvar Estenose Protética -Trombose valvar ou pannus (Mecânicas) -Calcificação ou pannus (Biológicas) Regurgitação Protética -Paravalvar -Transvalvar Complicações Tromboembólicas Embolia sistêmica Trombose Valvar Contraste Espontâneo (“microtrombos”) Anemia Hemolítica Pseudoaneurisma Raiz aórtica Ventrículo esquerdo Fibrosa intervalvar mitro-aórtica Retirado de: Otto CM.37 As próteses mecânicas atuais raramente apresentam disfunções primárias. Quando ocorrem, são defeitos de design ou desgaste do material da valva, causando refluxos ou estenoses. Essas disfunções ocorriam em modelos antigos, que eventualmente ainda podem estar implantadas em alguns pacientes. Entre elas, as primeiras valvas de Starr-Edwards (bola-gaiola) podiam apresentar um defeito chamado ball variance, uma distorção da bola, causada possivelmente por absorção lipídica. Essa complicação ocorria nas bolas formadas com os primeiros 71 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 materiais de Silastic®. A ball variance podia levar à formação e embolizações de trombos ou material da bola defeituosa, ou da própria bola, que se soltava da gaiola, ou ainda causar seu emperramento na gaiola84. Defeitos estruturais em valvas de monodisco ou duplo hemidisco são muito raros. Relatos descrevem vários casos de embolização dos discos dos primeiros modelos comercializáveis das valvas mecânicas de Björk-Shiley, que foram retiradas do mercado84,85. A atual valva de Björk-Shiley apresenta um design diferente, não existindo relatos de embolização do disco. Também são relatados raros casos de embolizações de outras valvas metálicas de baixo perfil, como Beall, Medtronic-Hall e St. Jude Medical84,86. Há relatos de disfunção em próteses mecânicas devido à imobilização do disco causada pelo tecido subvalvar mitral, nos casos em que o cirurgião preserva o tecido subvalvar87,88. Nas próteses biológicas, os defeitos estruturais são mais comuns do que nas mecânicas, estando, na maioria das vezes, relacionados com o tempo do implante. Poderemos ter calcificações dos folhetos com restrição de sua mobilidade ou ruptura das cúspides. A degeneração das biopróteses, em média, progride lentamente até o sexto ano, aumentado rapidamente depois, devido à degeneração tecidual com fragmentação do colágeno, erosão e calcificação dos folhetos59,89 (Figura 16). Figura 16: Disfunção primária das próteses cardíacas Quando implantadas em pacientes abaixo de 35 anos, a degeneração pode ser mais acentuada antes dos seis anos de implante90. A possibilidade de ruptura dos folhetos aumenta com a idade da valva e geralmente ocorre adjacente à região de uma calcificação, embora possa ocorrer precocemente devi72 do a um estresse estrutural91. A ruptura dos folhetos é mais frequente em posição mitral do que aórtica92. A incidência de disfunção varia entre 20% a 30% nas biopróteses implantadas até 10 anos e, em mais de 50% com 15 anos, podendo ser mais precoce, caso implantada em indivíduos com menos que 35 anos de idade93. Em 90% dos pacientes acima de 70 anos, no entanto, são relatadas ausências de retrocas em valvas com até 15 anos de implante. Isso pode ser devido à redução da velocidade de degeneração nos idosos, ou maior taxa de óbitos não relacionados às próteses nesse grupo de pacientes84,94. Nos casos de ruptura de bioprótese mitral, um ou mais folhetos rotos se projetam na sístole em direção ao AE (Figura 17). O refluxo valvar geralmente é grave, podendo ser excêntrico, direcionado em oposição ao folheto roto. Figura 17: Disfunção primária das próteses cardíacas Trombose das próteses valvares. As complicações de tromboembolismo são as mais frequentes causas de morbidade em pacientes portadores de próteses cardíacas. A incidência estimada de eventos clínicos varia entre 0,6% a 2,3% por paciente/ ano95-97. Essas complicações vão desde trombose aguda da prótese até eventos embólicos centrais ou periféricos. Existem fatores associados que aumentam o risco de tromboembolismo, como fibrilação atrial, dilatação do AE, aumento e/ou disfunção sistólica do VE e anticoagulação inadequada. Trombose da prótese pode levar à estenose ou regurgitação valvar. A instalação do quadro clínico pode ser lenta, se o trombo cresce lentamente, ou aguda, caso ocorra obliteração do disco valvar. O ETT está indicado quando existe suspeita clínica de trombose protética ou de fenômenos embólicos. O ETE tem grande sensibilidade e acurácia diagnóstica para detectar trombose das próteses e para avaliar a eficácia terapêutica, principalmente nas válvulas mitrais, uma vez que os trombos frequentemente se instalam na face atrial da prótese e do anel valvar, Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas podendo projetar-se para o interior do anel na diástole97-102 (Figura 18A). Figura 18: Trombose das próteses Tabela 8: Principais indicações do ETE nas próteses valvares cardíacas Estenoses Suspeita de trombose ou tromboembolismo. Avaliação evolutiva pós-terapia para trombose valvar. Avaliação da causa da estenose não diagnosticada pelo ETT. Regurgitações Todas as próteses mitrais. Próteses aórticas com ETT inconclusivo. Conduítes aórticos valvados para avaliação da aorta proximal. Evento Tromboembólico ETT não conclusivo Endocardite Suspeita de endocardite – estudo inicial Ausência de melhora com terapêutica – estudo evolutivo Nos casos de a trombose causar estenose significativa da prótese, é comum a presença de estase sanguínea e/ou trombos organizados no AE e apêndice atrial esquerdo (AAE). As tromboses agudas, causando oclusão total da prótese, podem ocorrer nas próteses de monodisco. Nas de duplo hemidisco, poderemos ter trombose e oclusão de apenas um dos hemidiscos, enquanto o outro mantém a mobilidade, permitindo o enchimento do VE (Figura 18B). A não visibilização de trombos mesmo ao ETE, não permite afastar tromboembolismo quando existe suspeita clínica. Lembramos que a diferenciação entre trombos pedunculados e vegetações nem sempre é possível, sendo importante a correlação clínica15,103. Na Tabela 8 estão listadas as principais indicações do ETE em pacientes com próteses valvares. Strands Foram observadas, durante ETE, imagens filiformes aderidas às próteses e descritas como fibrin strands (franjas de fibrina)104. São estruturas formadas por finos filamentos que podem medir vários milímetros de comprimento e apresentam mobilidade independentemente da prótese. Podem ser encontradas nos componentes móveis ou região perianular das próteses biológicas ou mecânicas normofuncionantes. Independem do tempo do implante, tendo sido visibilizados mesmo 2 horas após troca valvar. Há relatos de associações de strands Retirado de: Herrera CJ et al.73 com maior incidência de eventos embólicos105,106. Existem dúvidas ainda quanto à sua composição histológica, existindo relatados de fibrina, colágeno, trombos e mesmo composição heterogenia107,108. O fato de se formarem strands, mesmo em pacientes anticoagulados, sugere que eles não são compostos apenas de trombos. Por outro lado, em nossa experiência, em vários casos nos quais encontramos strands nas próteses biológicas de pacientes não anticoagulados, eles desapareceram após a introdução do medicamento. Embora a literatura relate a possibilidade de diferenciar os strands de trombos e vegetações, devido ao seu tamanho e mobilidade caótica, o diagnóstico diferencial deve estar sempre embasado na correlação clínica14. A visibilização de strands pelo ETT em próteses mecânicas é pouco frequente. Isso é explicável pela sombra acústica e reverberações que prejudicam a sua visibilização. Nas biopróteses, no entanto, é possível visibilizá-los pelo ETT (Figura 19A). A maior sensibilidade do ETE permite detectar strands em ambos os tipos de próteses109 (Figura Figura 19: Strands 73 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 19B). Embora a literatura relate presença de strands em próteses mitrais e aórticas104, a incidência é muito maior em posição mitral. Talvez isso ocorra em razão de a menor velocidade do fluxo, através da prótese mitral, permitir maior formação de strands, e, também, devido ao ETE proporcionar melhor visibilização da face atrial das próteses mitrais do que a face ventricular das próteses aórticas. Endocardite infecciosa A incidência de endocardite infecciosa (EI) em próteses valvares é muito maior do que em valvas nativas, sendo o risco estimado entre 0,5% a 1% ao ano, mesmo com adequada profilaxia110-112. Parece não existir diferenças significativas quanto à incidência em próteses valvas biológicas ou mecânicas113. Na suspeita clínica de EI, em próteses valvares, deve-se sempre considerar a realização do ETE114. Nas biopróteses, tanto em posição aórtica como mitral, geralmente as vegetações são identificadas pelo ETT (massas de ecos móveis, pedunculadas e presas aos folhetos), na dependência do seu tamanho e da janela acústica do paciente. Vegetações maiores do que 10mm têm maior incidência de complicações emboligênicas115,116. Nas biopróteses, geralmente ocorre destruição dos folhetos com consequente refluxo valvar (Figura 20A). Nas próteses valvas mecânicas, são frequentes vegetações em volta do anel, podendo interferir no componente móvel causando refluxo e/ou estenose. Nas próteses mecânicas mitrais, devido à sombra e reverberações, é raro identificarmos as vegetações com o ETT, estando sempre indicado o ETE (Figura 20B). Figura 20: Endocardite As complicações causadas pela EI são frequentes. As infecções das valvas mecânicas frequentemente se estendem além do anel da prótese, para o tecido perianular e para a fibrosa intervalvar mitroaórtica, po74 dendo causar abscessos anulares, abscessos septais, pericardite, trajetos fistulosos e deiscência da prótese, com regurgitação valvar de importante repercussão hemodinâmica. O ETE define melhor os abscessos perianulares, que se apresentam como massas ecolucentes, localizadas junto ao anel da prótese, sendo mais frequentes na junção do anel mitralaórtico115,116. Uma região mais espessa com ecos mais densos na região perianular, sem formação cística, pode representar a fase inicial ainda não abscedada dessa complicação (Figura 21A). Devido à fragilidaFigura 21: Complicações da endocardite de da região fibrosa, esses pacientes podem apresentar deiscência de sutura e refluxo perianular. Outra complicação não rara é o envolvimento de mais de uma valva no processo infeccioso117-119. Importante enfatizar que ao ecocardiograma, muitas vezes é impossível diferenciar trombos de vegetações, sendo a correlação clínica fundamental para fechar o diagnóstico. Pseudoaneurismas O pseudoaneurisma da fibrosa mitroaórtica é uma complicação rara após implante protético. Ocorre uma fragilidade e dilatação do tecido fibroso que forma a junção entre o anel mitral anterior e o anel aórtico posterior. Os achados, nesses casos, são de uma formação sacular entre a aorta e o AE, que se comunica com o VE120,121 (Figura 21B). A causa mais frequente que leva à formação desses pseudoaneurismas é a EI pós-implante de próteses esquerdas, podendo também ocorrer espontaneamente, sem causa infecciosa. Raramente esses pseudoaneurismas rompem-se, causando refluxo ou derrame pericárdico120,122. Deiscência da prótese Deiscência das próteses geralmente é devido à soltura de um ou mais pontos na região de fixação Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas do anel. A causa pode ser infecciosa, técnica cirúrgica inadequada ou fragilidade do tecido do paciente88. Quando ocorre ruptura de vários pontos, a valva pode desprender-se parcialmente do anel, apresentando um movimento pendular, característico das deiscências, e pode ser diagnosticado pelo ecocardiograma, tanto em posição aórtica como mitral (Figura 22). Nesses casos, ocorrem refluxos perivalvares importantes. Como já relatado, a EI pode envolver o anel, principalmente, nas próteses valvas mecânicas, causando dissecções ou abscessos perianulares, que também podem levar à deiscência protética. Figura 22: Deiscência de prótese mitral Pannus O crescimento de tecido fibroso, em volta e no interior do anel da prótese, interferindo na mobilidade do seu componente móvel, é conhecido como pannus formation123-125. Devido ao crescimento do tecido fibroso ser lento, essa complicação é tardia, raramente acontecendo antes de seis meses pós-implante. Acomete principalmente as próteses mecânicas, tanto em posição mitral como aórtica, podendo causar estenose, insuficiência ou dupla disfunção. O diagnóstico diferencial deve ser feito com trombose da prótese. Conforme Baterseas et al.126 demonstraram, a disfunção da prótese por trombose ocorre com menor tempo de implante, início mais recente dos sintomas até o diagnóstico e pior controle da anticoagulação em relação aos pacientes que tiveram o pannus como causa da disfunção protética. A visibilização do pannus pelo ecocardiograma é difícil, pois está no interior do anel e não é móvel126. Como a formação do pannus é lenta, a redução progressiva da mobilidade da prótese poderá ser detectada pelo aumento do gradiente valvar durante ETT evolutivos de rotina, mesmo antes de surgirem sintomas. A trombose, por sua vez, geralmente é aguda e pode estar associada a fenômenos embólicos. Atualmente, o anel das próteses mecânicas apresenta bordas mais altas, dificultando o crescimento de tecido fibroso para seu interior. Hemólise Hemólise decorre da destruição mecânica das hemácias por trauma. Graus leves de hemólise podem estar presentes em 50% a 95% de pacientes portadores de próteses valvas mecânicas normofuncionantes. Graus maiores que causem anemia, raramente, ocorrem e geralmente estão associados a refluxos das próteses127,128. As biopróteses normais parecem não causar hemólise, enquanto que as próteses de duplo hemidisco apresentam uma incidência muito baixa. No entanto, graus importantes de hemólise podem ocorrer com refluxos centrais ou perivalvares, ou com estenoses importantes, devido à rápida aceleração e desaceleração do fluxo sanguíneo129. Não parece existir correlação do grau de refluxo periprotético com o surgimento de hemólise, podendo existir mesmo na presença de refluxos leves. Desse modo, a confirmação clínica e laboratorial de hemólise na avaliação evolutiva de uma prótese até então normofuncionante deve levantar suspeita de disfunção, estando indicado realizar ETT e mesmo o ETE para afastar, principalmente, incompetência perianular em próteses mitrais. Implantes percutâneos de próteses cardíacas Recentes avanços tecnológicos e desenvolvimento de materiais autoexpansíveis e com memória permitiram o desenvolvimento de estruturas protéticas, que podem ser implantadas no coração por via percutânea ou transapical. Essas próteses têm hoje um papel importante no tratamento, principalmente, de pacientes valvulopatas idosos e que, por vários motivos, têm alto risco para correção valvar cirúrgica. Implante percutâneo da protese Válvula aórtica A troca valvar aórtica percutânea, realizada pela primeira vez em 2.002, por Alan Cribier et al.130, foi desenvolvida para atender aos pacientes consi75 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 derados inoperáveis, que hoje representam um terço dos portadores de estenose aórtica grave. Existem atualmente duas técnicas de implantação valvar transcateter: a prótese Edwards SAPIEN (Edwards Lifesciences AS, Irvine, Califórnia), implantada por meio de expansão por balão e a prótese CoreValveRevalving (CoreValve Inc., Irvine, Califórnia) que possui um mecanismo de expansão própria. A CoreValve foi implantada pela primeira vez em 2.004131. Ela é feita com três folhetos de pericárdio porcino montados dentro de um stent autoexpansível de Nitinol e que mede 5cm de comprimento (Figura 23). Como o material é retrátil, que a aorta ascendente seja menor do que 44mm e a distância do seio coronariano ao anel valar seja maior de 14mm. Esse procedimento já é realizado com bons resultados, inclusive, em alguns centros cardiológicos no Brasil132-134. A Figura 24 mostra o ETT de uma paciente com estenose aórtica pré e pós-implante percutâneo com CoreValve. Figura 24: ETT pré e pós Core Valve Figura 23: CoreValve pode ser colocada dentro de um cateter (bainha 16F – 6mm). O procedimento é realizado dentro da sala de Hemodinâmica. O cateter com a prótese é introduzido, via retrógrada, pela artéria femoral e, quando a prótese é liberada de dentro do cateter, ela se posiciona no anel aórtico e volta a sua forma inicial, uma vez que o Nitinol tem memória. A parte inferior (proximal) tem menor diâmetro e grande força radial, afastando os folhetos calcificados da valva aórtica nativa e permitindo fixar adequadamente a prótese na VSVE. A parte média é onde se encontram suturados os folhetos e a parte superior (distal) que é de maior diâmetro, expande-se para fixação na aorta ascendente. A malha do stent é suficientemente aberta para permitir o acesso de catéteres aos óstios coronarianos, depois de implantada. A CoreValve é disponibilizada em dois tamanhos: 26mm e 29mm. Para que o paciente possa receber o dispositivo, existem vários critérios, sendo que alguns podem ser avaliados pela ecocardiografia. Para uma válvula de 26mm, por exemplo, é preciso que o anel aórtico nativo possua entre 20-23mm, que o diâmetro na região dos seios de valsava seja maior do que 27mm, 76 A prótese Edwards SAPIENS é confeccionada com três folhetos de pericárdio bovino suturados, dentro de um stent. Esse dispositivo não é autoexpansível e deve ser implantado com um balão expansível. É uma válvula prótese menor, em comparação com a CoreValve, e disponível nos tamanhos 23 e 26mm, requerendo um anel valvar nativo de 18 a 21mm e uma distância entre o anel valvar e ósteo coronariano maior do que 10mm. Essa prótese não requer medidas dos seios de valsava e pode ser implantada, via percutânea retrógrada, pela artéria femoral ou via transapical (Figura 25). Nesse caso, o procedimento é realizado no centro cirúrgico e o cirurgião cardíaco faz uma pequena incisão na região apical do VE, por onde será introduzido o cateter com a prótese. Figura 25: Prótese de Edward Sapiens As possíveis complicações dessas próteses incluem obstrução do seio coronariano, refluxo paravalvar, deslocamento da prótese, trauma da raiz Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas aórtica e, muito raramente, embolização valvar com conversão para cirurgia aberta. A complicação mais frequente é o BAV com necessidade de implantação de marca-passo, principalmente para a CoreValve, sendo a maior parte dos casos decorrente do mal posicionamento e implantação de próteses de tamanho inadequado. O ETT é importante para identificar os critérios de exclusão como, por exemplo, estenose subaórtica, insuficiência mitral grave, HVE severa ou fração de ejeção menor do que 20%. Os pacientes, que não forem excluídos pelo ETT, deverão realizar o TEE. Nessa etapa, vamos afastar trombos atriais e realizar as medidas mais precisas para escolha da prótese a ser implantada, como o diâmetro do anel valvar e largura da aorta ascendente. Valve-in-valve As próteses biológicas degeneram com o passar dos anos e, eventualmente tornam-se estenóticas ou insuficientes. A retroca, única opção de tratamento até os dias atuais, tem grande morbidade e está contraindicada em alguns pacientes idosos ou em pacientes que já se submeteram a duas ou mais cirurgias cardíacas. Com o desenvolvimento das próteses expansíveis, é possível atualmente implantar um stent valvado, por meio de um cateter dentro de uma prótese biológica que esteja com disfunção. Esse procedimento tem sido chamado de valve-in-valve135 e pode ser realizado nas próteses biológicas que estejam calcificadas ou rotas, em posição mitral, aórtica (Figura 26), tricúspide ou pulmonar. O procedimento é feito na sala de hemodinâmica, com anestesia geFigura 26: Valve in Valve ral e com monitoramento pelo ETE. As próteses biológicas estenóticas são dilatadas com um cateter balão, antes do implante do stent. Nos implantes da valve-in-valve em posição mitral ou aórtica, podem ser utilizadas as vias transapical ou percutânea transarterial (via femoral). Para a posição pulmonar, utiliza-se a via percutânea venosa. O único implante de stent em prótese biológica tricúspide, descrito até o momento, foi feito via pequena toracotomia com acesso direto pelo AD135. Figura 27: Mitral Clip Mitral clip A insuficiência mitral é uma condição clinica progressiva e debilitante, na qual, até pouco tempo, as únicas opções de tratamento definitivo requeriam intervenção cirúrgica. O reparo de válvula mitral transcateter é uma técnica recente que tem chamado a atenção por sua simplicidade de execução e resultados positivos em curto prazo. Existem atualmente dois dispositivos percutâneos para uso no mercado: o MitraClip (Evalve, Inc, Redwood City, Califórnia) e Mobius II (Edwards Lifesciences, Irvine, Califórnia). Ambos os dispositivos são baseados na técnica cirúrgica de reparo, desenvolvida pelo Dr. Ottavio Alfieri, em que a borda livre do folheto anterior da válvula mitral é ligada ao folheto posterior, criando um ponto de coaptação permanente e dois orifícios de passagem de sangue. Na técnica transcateter o Clip mitral é introduzido pela veia femoral para o AD, passando para o AE por punção transeptal e chegando ao VE por meio da válvula mitral. O dis77 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 positivo possui dois braços que abrem e fecham e protegem os folhetos, quando eles são capturados durante o fechamento dos braços. Tanto os braços quanto as garras do clip são revestidas de poliéster para promover crescimento tecidual ao seu redor. O procedimento deve ser realizado com anestesia geral e guiado pelo ETE (Figura 27). A segurança e a viabilidade do procedimento já foram comprovadas por estudos anteriores, mas o EVEREST II136 é o primeiro ensaio randomizado a comparar diretamente os resultados do dispositivo contra o padrão ouro, a cirurgia. Os melhores resultados foram obtidos, principalmente, em pacientes com doença degenerativa, prolapso da válvula mitral ou alguma outra doença degenerativa que produz regurgitação mitral central nos segmentos A2/P2. Já os casos em que a linha de coaptacão da válvula foi destruída, como por exemplo, nas insuficiências mitrais isquêmicas, os resultados não foram favoráveis. O clip mitral é um procedimento recente e promissor que já pode ser realizado com segurança. Porém ele não deve ser encarado como uma substituição à cirurgia de reparo ou troca, principalmente, pelo fato de o resultado estar relacionado não só com a curva de aprendizado dos profissionais, características anatômicas da válvula, como também, e principalmente com a escolha do paciente a ser submetido. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 78 Harken DE, Soroff MS, Taylor MC,Lefemine AA, Gupta SK, Lunzer S. Partial and complete prostheses in aortic insufficiency. J Thorac Cardiovasc Surg. 1960;40:74462. Starr A, Edwards M. Mitral replacement: Clinical experience with a ball valve prosthesis. Ann Thorac Surg. 1961;154:726-40 Harken DE. Heart valves: Ten commandments and still counting. Ann Thorac Surg. 1989;48(Suppl3):S18-9. Assef JE, Barreto RBM, Tasca R. Avaliação das próteses valvares. Rev bras ecocardiogr. 2001;14(4); 64 - 77. Tasca R. Avaliação das próteses cardíacas pela ecoDopplercardiografia. Rev bras ecocardiogr. 1990; 3(7):7- 54 Tasca R. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares 15. 16. 17. 18. 19. 20. cardíacas. In: Silva CES, (Ed).Ecocardiografia : princípios e Indicações clínicas. Rio de Janeiro: Revinter; 2007. p. 551-607. Seward JB, Khandheria BK, Oh JK, Abel MD, Hughes RW Jr, Edwards WD, et al. Transesophageal echocardiography: Technique, anatomic correlations, implementation, and clinical applications. Mayo Clin Proc. 1988;63(7):649-80. Spanó LMA, Tasca R, Weitzel LH. Ecocardiograma Transesofágico: experiência de 510 casos realizados no Cardiolab (resumo). Rev bras ecocardiogr. 1991; 4: (12) . Tasca R, Spanó LMA, Pimentel P, Weitzel LH, Tress JC, Moll JN. Ecocardiograma transtorácico x transesofágico na abordagem das próteses valvares cardíacas (resumo). Rev bras ecocardiogr. 1991; 4(12): TO-11. Herrera CJ, Chaudhry FA, Mehlman DJ, Mulhern KM, 0’Rourke RA, Zabalgoitia M. Value and limitations of transesophageal echocardiography in evaluating pros¬thetic or bioprosthetic valve dysfunction. Am J Cardiol. 1992;69(6):697-9. Sezai A, Shiono M, Orime Y, Hata H, Yagi S, Tsukamoto S, et al. Three dimensional transesophageal echocardiographic assessment for prosthetic valves [abstract]. J Jap Assoc Thor Surg. 1997;45(8):1084-9. Mannaerts H, Li Y, Kamp O, Valocik G, Hrudova J, Ripa S. Quantitative assessment of mechanical prosthetic valve area by 3-dimensional transesophageal echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2001;14(7):723-31. Singh P, Inamdar V, Hage F.G, Kodali V, Karakus G, Suwanjutah T, et al. Usefulness of live/real time three-dimensional transthoracic echocardiography in evaluation of prosthetic valve function: J Ultrasound Allied Tech. 2009;26(10):1236-49. Otto CM. The practice of clinical echocardiography.Philadelphia: W.B. Saunders Company.1997p.797-919. Weitzel LH, Tasca R, Spanó LMA, Moll JN. Avaliação não invasiva das próteses valvares cardíacas – do estetoscópio ao ecocardiograma transesofágico. Rev bras ecocardiogr. 1992;17:26-34. Kaster RL, Lillehei CW, Starek PJK. The Lillehei-Kaster pivoting disc aortic prosthesis and a comparative study of its pulsatile flow characteristics with four other prostheses. Trans Am Soc Artif Intem Organs.1970;16:233-43. Hall KV. The medtronic hall heart valve: background, latest results, and future work. Ann Thorac Surg.1989; 48(3 Suppl):S47-S48. Zabalgoitia M. Ecocardiographic of prostethic heart valves. Austin: Landes; 1994. Gott VL, Daggett RL, Young WP. Development of a carbon-coated, central-hinging, bileaflet valve. Ann Thorac Surg. 1989;48 (Suppl 3):S28-S30. Wang JH. The design simplicity and clinical elegance Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. of the St. Jude Medial heart valve. Ann Thorac Surg. 1989;48 (Suppl 3):S55-S56. Carpantier A, Lemeigre G, Robert L. Biological factors affecting long-term of valvular heterografts. J Thorac Cardio Vasc Surg. 1969;58(4):467-83. Buch WS, Pipkim RD, Hancock WD, Fogarty TJ. Mitral valve replacement with the Hancock Stabilized glutaraldehyde valve. Arch Surg. 1975;110(11):1408-15. Thomson FJ, Barratt Boyes BG. The glutaraldehyde-treated heterograft valve: some engineering observations. J Thorac Cardiovasc Surg. 1977; 74(2):317-21. Yoganathan AP, Eberhardt CE, Walker PG. Hydrodynamic performance of the Medronic Freestyle aortic root bioprosthesis. J Heart Valve Dis. 1994;3(5):571-80. O’Brien MF. The Cryolife-O’Brien composite aortic stentless xenograft: Surgical technique of implantation. Ann Thorac Surg. 1995;60(Supll 2):S410-S413. Pelletier LC, Carrier M, Leclerc Y, Lepage G, de Guise P, Dyrda I. Porcine versus pericardial bioprostheses: a comparison of late results in 1,593 patients. Ann Thorac Surg. 1989;47(3):352-61. Frater RWM, Cosgrove CM, Furlong P, Okies JE, Colburn LQ, Katz AS, et al. Long term durability and patient functional status the Carpentier-Edwards Perimount Pericardial Bioprosthesis in the aortic position. J Heart Valve Dis. 1998;7(1):48-53. Gregori FJ, Silva SS, Peixoto RS, Façanha LA, Kreling PA, Canesin O. Avaliação hemodinâmica tardia da valva de dura-mater em posição mitral. Arq Bras Cardiol. 1978;31(1):15. Beall AC, Morris GC, Cooley DA, de Bakey E. Homotransplantation of the aortic valve. J Thorac Cardiovasc Surg. 1961;42:497-506. Jaffe WM, Coverdale HA, Roche AH, Brandt PW, Ormiston JA, Barran Boyes BG. Doppler echocardiography in the assessment of the homograft aortic valve. Am J Cardiol. 1989;63(20):1466-70. Kirklin JK, Smith D, Novick W, Naftel DC, Kirklin JW, Pacifico AD, et al. Long-term function of cryopreserved aortic homografts:a ten year study. J Thorac Cardiovasc Surg. 1993;106(1):154-65. Ross DN. Replacement of aortic and mitral valves with a pulmonary autograft. Lancet. 1967; 2(7523):956-8. Briand M, Pibarot P, Dumesnil JG, Cartier P. Midterm echocardiographic follow-up after Ross operation. Circulation. 2000;102(19 Suppl 3);10-4. Porter GF, Skillington PD, Bjoksten AR, Morgan JG,Yapanis AG, Grigg LE. Exercise hemodynamic performance of the pulmonary autograft following the Ross procedure. J Heart Valve Dis. 1999;8(5):516-21. Hokken RB, Bogers AJ, Taams MA, Scheks-Berhourt MB, van Herwerden LA, Roelandt JR, et al. Does the 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. pulmonary autograft in the aortic position in adults increase in diameter? An echocardiographic study. J Thorac Cardiovasc Surg. 1997;113(4):667-74. Lange HW, Olson JD, Pederson WR, Kane MA, Daniel JA, Mooney MR, et al. Transesophageal color Doppler echocardiography of the normal St Jude Medical mitral valve prosthesis. Am Heart J. 1991;122(2):489-94. Otto CM. Textbook of clinical echocardiography. Philadelphia: Saunders; 2004. p.355-81. Miller FA, Khanderia BK, Tajik AJ. Echocardiographic assessment of prosthetic heart valves. In: Freeman WK, ed. Transesophageal echocardiography. Boston:Little, Brown; 1994.p. 243. Roberts WC, Sullivan MF. Clinical and necropsy observations early after simultaneous replacement the mitral and aortic valves. Am J Cardiol. 1986; 58(1):1067-84. Walther T, Falk V, Autschbach R, Scheidt A, Baryalei M, Schindewolf K, et al. Hemodynamic assessment of the stentless Toronto SPV bioprosthesis by echocardiograhy. J Heart Valve Dis. 1994;3(6):657-65. Yoganathan AP, Travis BR. Fluid dynamics of prosthetic valves. In: Otto CM (ed). The practice of clinical Echocardiography. Philadelphia: WB Saunders; 2002. p.50124. Tasca R, Moll J. Avaliação das próteses mitrais pelo ecoDoppler de esforço (resumo). Arq Bras Cardiol. 1987;49(Suppl 1):114. Rosenhek R, Binder T, Maurer G, Baumgartner H. Normal values for Doppler echocardiographic assessment of heart valve prostheses. J Am Soc Echocardiogr. 2003;16(11),1116-27. Malouf JF, Ballo M, Connolly HM, Hodge DO, Herges RM, Mullany CI, et al. Doppler echocardiography of 119 normal-functioning St Jude Medical mitral valve prostheses: A comprehensive assessment including timevelocity integral ratio and prosthesis performance index. J Am Soc Echocardiogr. 2005;18(3): 252-6. Goetze S, Brechtken J, Agler DA, Thomas JD, Sabik JF, Jaber WA. In vivo short-term Doppler hemodynamic profiles of 189 Carpentier-Edwards perimount pericardial bioprosthetic valves in the mitral position. J Am Soc Echocardiogr. 2004; 17(9):981-7. Jones M, Eidbo E. Doppler color flow evaluation of Prosthetic Mitral valves: Experimental epicardial studies. J Am Cardiol.1989; 13(1):234-40. Bech-Hanssen O, Wallentin I, Larsson S, Caidahl K. Reference Doppler echocardiographic values for St. Jude Medical, omnicarbon, and biocor prosthetic valves in the aortic position. J Am Soc Echocardiogr. 1998 ;11(5):466-77. Solowiejczyk DE, Yamada I, Cape EG, Manduley RA, Gersony WM, Jones M, et al. Simultaneous Doppler and 79 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 80 catheter transvalvular pressure gradients across St Jude mitral valve prosthesis: in vivo study in a chronic animal model with pediatric valve sizes. J Am Soc Echocardiogr. 1998;11(12):1145-54. Badano L, Mocchegiani R, Bertoli D, DeGaetano G, Carratino L, Pasetti L, et al. Normal echocardiographic characteristics of the sorin bicarbon bileaflet prosthetic heart valve in the mitral and aortic positions. J Am Soc Echocardiogr. 1997; 10(6):632-43. Kohler J, Wirtz R, Fehske W. In vitro steady leakage jet formation of technical heart valve prostheses: A photo video optical and color Doppler study. In: Liepschs D, (ed) .Third International Symposium on Biofluid Mechanics. Munich: VDI-Verlag; 1994. p. 315-23. Hixson CS, Smith MD, Mattson MD, Moris EJ, Lenhoff SJ, Salley RK. Comparison of transesophageal color flow Doppler imaging of normal mitral regurgitam jets in St. Jude Medical and Medtronic-Hall prostheses. J Am Soc Echocardiogr. 1992;5(1):57-62. Jones M, McMillan ST, Eidbo EE, Woo Y-R, Yoganathan AP. Evaluation of prosthetic heart valves by Doppler flow imaging. Echocardiograhy. 1986;3(6):513-25. Hatle L, Angelsen B. Doppler uutrasound in clinical cardiology: physical principies and clinical applications .2nd ed. Philadelphia: Lea & Febiger. 1985. p.188-205. Catherine M. Valvular heart disease 2nd ed. Philadelphia:Saunders; 2004. p. 437-81. Ren JF, Chandrasekaran K, Mintz GS, Ross J, Pennock Rs, Franke WS. Effects of depressed left ventricular function on hemodynamics of normal St Jude Medical prosthesis in the aortic valve position. Am J Cardiol. 1990;65(15):1004-9. Rothbart RM, Castriz JL, Harding LV, Russo CD, Teague SM. Determination of aortic valve área by two-dimensional and Doppler echocardiography in patients with normal and stenostic bioprosthetic valves. J Am Coll Cardiol. 1990;15(4):817-24. Saad RM, Olmos L, Rubio N, Zoghbi WA. Application of the continuity equation to the evaluation of St Jude prosthetic aortic valve dysfunction. Circulation. 1997;80(9):1239-42. Chafizadeh ER, Zoghbi WA. Doppler echocardiographic assessment of the St. Jude Medicai prosthetic valve in the aortic position using the continuity equation. Circulation. 1991;83(1):213-23. Nanda NC, Cooper JW, Mahan EF, Fan PH. Echocardiographic assessment of prosthetic valves. Circulation.1 991;84(Suppl I):I228-I239. Dumesnil JG, Honos GN, Lemieux M, Beauchemin J. Validation and applications of mitral prosthetic valvular areas by Doppler echocardiography. Am J Cardiol. 1990;65(22):1443-8. 61. Zabalgoitia M. Ecocardiographic assessment of prosthetic heart valves. Curr Probl Cardiol. 2000;25(3):157-218. 62. Nellessen U, Masuyama T, Appleton CP, Tye T, Popp RL. Mitral prosthesis malfunction. Comparative Doppler echocardiographic studies of mitral prostheses before and after replaecment. Circulation. 1989; 79(2):330-6. 63. Nellessen U, Schnittger I, Appleton CP, Masceyama T, Bolger A, Fischell TA, et al. Transesophageal two-dimensional echocardiography and color Doppler flow velocity mapping in the evaluation of cardiac valve prostheses. Circulation. 1988;78(4):848-55. 64. Khandheria BK, Seward JB, Oh JK,freeman WK, Nichols BH, Sinak LJ, et al. Value and limitations of transesophageal echocardiography in assessment of mitral valve prostheses. Circulation. 1991;83(6):1956-68. 65. Daniel WG, Mugge A, Grote J, Hausman WK, Nikutta P, Laas J, et al. Comparison of transthoracic and transesophageal echocardiography for detection of abnormalities of prosthetic and bioprosthetic valves in the mitral and aortic positions. Am J Cardiol. 1993;71(2):210-5. 66. Alam M, Rosman HS, Lakier JB, Kemp S, Khaja F, Hautamaki K, et al. Doppler and echocardiographic features of normal and dysfunctioning bioprosthetic valves. J Am Coll Cardiol. 1987;10(4):851-8. 67. Sagar KB, Wann LS, Paulsen WJ, Romhilt DW. Doppler echocardiographic evaluation of Hancock and Bjork-Shiley proslhetic valves. J Am Coll Cardiol. 1986; 7(2):681-7. 68. Flachskampf FA, O’Shea JP, Griffin BP, Guerrero L, Weyman AE, Thomas JD. Patterns of normal transvalvular regurgitarion in mechanical valve prostheses. J Am Coll Cardiol.1991;18(6):1493-8. 69. Baumgartner H, Khan S, DeRobertis M, Czer L, Maurer G. Effect of prosthetic aortic valve design on the Dopplercatheter gradient correlation: an in-vitro study of normal St. Jude, Medtronic-Hall, Starr-Edwards and Hancock valves. J Am Coll Cardiol.1992;19(22):324-32. 70. Cohen GI, Davison MB, Klein AL, Salcedo EE, Stewart WJ. A comparison of flow convergence with other transthoracic echocardiographic indexes of prosthetic mitral regurgitation. J Am Soc Echocardiogr.1992;5(6):620-7. 71. Come PC. Pitfalls in the diagnosis of periprosthetic valvular regurgitation by pulsed Doppler echocardiography. J Am Coll Cardiol. 1987;5(9):1176-9. 72. Hall SA, Brickner E, Willett DL, Irani WN, Afridi I, Grayburn PA. Assessment of mitral regurgitation severity by Doppler color flow mapping of the vena contracta. Circulation. 1997;95(2):636-42. 73. Chao K, Moisés VA, Shandas R, Elkadi T, Sahn DJ, Weintraub R. Influence of the Coanda effect on color Doppler jet area and color encoding. In vitro studies using color Doppler flow mapping. Circulation. 1992;85(1):333-41. Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas 74. Klein AL, Tajik AJ. Doppler assessment of pulmonary venous flow in healthy subjects and in patients with heart disease. J Am Echocardiogr. 1991;4(4):379-92. 75. Castello R, Pearson AC, Lenzin P, Labovitz AJ. Effect of mitral regurgitation on pulmonary venous velocities derived from transesophageal echocardiography colorguided pulsed Doppler imaging. J Am Coll Cardiol. 1991;17(1):1499-506. 76. Rahimtoola SH. The problem of valve prosthesis-patient mismatch. Circulation. 1978;5(1):20-4. 77. Christakis GT, Joyner CD, Morgan CD, Fremes SE, Buth KJ, Left ventricular mass regression early after aortic valve replacement. Ann Thorac Surg. 1996;62(4):1084-9. 78. Dumesnil JG, Honos GN, Lemieux M, Beauchemin J. Validation and applications of indexed aortic prosthetic valve areas calculated by Doppler echocardiography. J Am Coll Cardiol. 1990;16(3):637-43. 79. Pibarot P, Dumesnil JG. Hemodynamic and clinical impact of prosthesispatient mismatch in the aortic valve position and its prevention. J Am Coll Cardiol. 2000;36(4):1131-41. 80. Zoghbi WA, Chambers JB, Dumesnil JG, Foster E, Gottdiener JS, Grayburn PA, et al. Recommendations for evaluation of prosthetic valves with echocardiography and Doppler ultrasound. J Am Soc Echocardiogr. 2009; 22(9):975-1014. 81. Connolly HM, Miller FA Jr, Taylor CL, Naessens JM, Seward JB, Tajik AJ. Doppler hemodynamic profiles of 82 clinically and echocardiographically normal tricuspid valve prostheses. Circulation. 1993;88(6):2722-7. 82. Kobayashi Y, Nagata S, Ohmori F, Eishi K, Nakano K, Miyatake K. Serial Doppler echocardiographic evaluation of bioprosthetic valves in the tricuspid position. J Am Coll Cardiol. 1996;27(7):1693-7. 83. Carr-White GS, Kilner PJ, Hon JK,Rutledge T, Edwards S, Burman E, et al. Incidence, location, pathology, and significance of pulmonary homograft stenosis after the Ross operation. Circulation. 2001;104(Suppl 1): 16-20. 84. Grunkemeier GL, Starr A, Rahimtoola SH. Prosthetic heart valve performance: Long term follow-up. Curr Probl Cardiol. 1992;17(6):331- 406. 85. Lindblom D, Rodriguez I, Bjork VO. Mechanical failure of the Bjork-Shiley valve: updated follow-up and considerations on prophylactic rereplaccment. J Thorac Cardiovasc Surg. 1989;97(l):95-7. 86. Silver MD, Wilson GJ. The pathology of wear in the Beall model 104 heart valve prosthesis. Circulation. 1977;56 (4): 1617-22. 87. Spanó LMA, Ribeiro CL, Tasca R. Aspectos ecocardiográficos pós-cirurgia para implante de prótese biológica em posição mitral com manutenção do aparelho subvalvar. Rev bras ecocardiogr. 1995;12(Suppl 1):64. 88. Mayo Clinic Practice of Cardiology, 3rd ed. Saint Louis: Mosby 1996. 89. Gallo I, Nistal F, Blasquez R. Incidence of primary tissue valve failure in porcine bioprosthetic heart valves. Ann Thorac Surg. 1988;45(1):66-70. 90. Magilligan DJ Jr, Lewis JW Jr, Jara FM, Lee MW, Alan M, Riddle JM, et al.. Spontaneous degeneration of porcine bioprosthetic valves. Ann Thorac Surg. 1980;30(3):259-65. 91. Ishihara T, Ferrans VJ, Boyce SW, Jones M, Roberts WC. Structure and classification of cuspal tears and perfurations in porcine bioprosthetic cardiac valves implanted in patients. Am J Cardiol. 1981;48(4):665-78. 92. Jamieson WR, Tyers GF, Janusz MT, Miyagishims RT, Munro AL, Ling H, et al. Age as a determinant for selection of porcine bioprostheses for cardiac valve replacement: experience with Carpentier-Edwards standard bioprosthesis. Can J Cardiol. 1991; 7(4):181-8. 93. Fann JI, Miller DC, Moore KA, Mitchell RS, Oger PE, Stenson EB, et al. Twenty-year clinical experience with porcine bioprostheses. Ann Thorac Surg. 1996;62(5):1301-11. 94. Jones EL, Weintraub WS, Craver JM, Guyton RA, Cohen CL, Corrigan VE, et al.Ten-year experience with the porcine bioprosthetic valve: Interrelationship of valve survival and patient survival in 1,050 valve replacements. Ann Thorac Surg. 1990;49(3):370-83. 95. Edmunds LH Jr. Thromboembolic complications of current cardiac valvular prostheses. Ann Thorac Surg. 1982;34(1):96-106. 96. Debetaz LF, Ruchat P, Hurni M, Fischer A, Stumpe F, Sadeghi H, et al.. St. Jude Medical valve prosthesis: An analysis of long-term outcome and prognostic factors. J Thorac Cardiovasc Surg. 1997;113(1):134-48. 97. Florez S, Dl Stefano S, Carrascal Y, Bustamante J, Fulquet E, Echeverria JR, et al. Valve replacement with the Omnicarbon valve prosthesis: A 10-year follow-up. Arq Bras Cardiol. 2005;84(5):371-5. 98. Young E, Shapiro SM, French WJ, Ginzton LE. Use of transesophageal echocardiography during thrombolysis with tissue plasminogen activator of a thrombosed prosthetic mitral valve. J Am Soc Echocardiogr. 1992;5(2):153-8. 99. Lanzieri M, Michaelson S, Cohen IS. Transesophageal echocardiography in the diagnosis of mitral bioprosthetic obstruction. Crit Care Med. 1991;19(7):979-81. 100. Habib G, Cornen A, Mesana T, Monties JR, Djiane P, Luccioni R. Diagnosis of prosthetic heart valve thrombosis. The respective values of transthoracic and transoesophageal Doppler echocardiography. Eur Heart J. 1993;14(4): 447- 55. 81 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011;24(3):58-83 101. Gueret P, Vignon P, Fournier P, Chabernand JM, Gomes M, Lacroit P, et al. Transesophageal echocardiography for the diagnosis and management of nonobstruetive thrombosis of mechanieal mitral valve prosthesis. Circulation. 1995;91(1):103-10. 102. Katz M, Tarasoutchi F, Grinberg M. Terapêutica trombolítica em trombose de prótese valvar. Arq Bras Cardiol. 2005;85(1):76-8. 103. Effron MK, Popp RL. Two-dimensional echocardiographic assessment of bioprosthetic valve dysfunction and infective endocarditis. J Am Coll Cardiol.1983; 2(4):597-606. 104. Ionescu AA, Moreno P, Dunstan FD, Butchart EG, Fraser AG. Mobile echoes on prosthetic valves are not reproducible: Results and clinical implications of a multicentric study. Eur Heart J. 1999;20(4):140-7 . 105. Isada LR, Torelli JN, Stewart WJ, Klein AL. Detection of fibrous strands on prosthetic mitral valves with transesophageal echocardiography: another potential embolic source. J Am Soc Echocardiogr. 1994;7(5):641-51. 106. Orsinelli DA, Pearson AC. Detection of prosthetic valve strands by transesophageal echocardiography: Clinical significance in patients with suspected cardiac source of embolism. J Am Coll Cardiol. 1995;26(7):1713-8. 107. Ionescu AA, Newman GR, Butchart EG, Fraser AG. Morphologic analysis of a strand recovered from a prosthetic mitral valve: No evidence of fibrin. J Am Soc Echocardiogr. 1999;12(2): 766-8. 108. Rozich JD, Edwards WD, Hanna RD, Laffey DM, Johnson GH, Klarich KW. Mechanical prosthetic valveassociated strands: Pathologic correlates to transesophageal echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2003;16 (1):97-100. 109. Stoddar MF, Dawkins PR, Longaker RA. Mobile strands are fre-quently attached to the St Jude Medical mitral valve prosthesis as assessed by two-dimensional transesophageal echocardiography. Am Heart J. 1992;124(3):671-4. 110. Thevenet A, Albat B. Long term follow up of 292 patients after valve replacement with the Omni-carbon prosthetic valve. J Heart Valve Dis. 1995; 4(6):634-9. 111. Tatoulis J, Chaiyaroj S, Smith JA. Aortic valve replacement in patients 50 years old or younger with the St. Jude Medicai valve: 14-year experience. J Heart Valve Dis. 1996;5(5):491- 7. 112. Heimberger TS, Duma RJ. Infections of prosthetic heart valves and cardiac pacemakers. Inf Dis Clin North Am. 1989;3(2):221-45. 113. Hammermeister KE, Henderson WG, Burchfiel CM, Sothi GK, Souchek J, Oprian C, et al. Comparison of outcome after valve replacement with a bioprosthesis versus a mechanical prosthesis: initial 5 year results of a randomized trial . J Am Coll Cardiol. 1987;10(4):719-32. 82 114. Yvorchuk KJ, Chan KL. Application of transthoracic and transesophageal echocardiography in the diagnosis and management of infective endocarditis. J Am Soc Echocardiogr. 1994; 14(3 Pt1):294-308. 115. Sanfilippo AJ, Picard MH, Newell JB, Rosas E, Davidoff R, Thomas JO, et al. Echocardiographic assessment of patients with infectious endocarditis: Prediction of risk for complications. J Am-Coll CardioI. 1991;18(5):1191-9. 116. Mugge A, Daniel WG, Frank G, Lichtlen PR. Echocardiography in infective endocarditis: reassessment of prognostic implications of vegetation size determined by the transthoracic and the transesophageal approach. J Am Coll Cardiol. 1989; 14(3):631-8. 117. Baumgartner FJ, Omari BO, Robertson JM, Nelson RJ, Pandya A, et al. Annular abscess in surgical endocarditis: Anatomic, clinical, and operative features. Ann Thorac Surg. 2000;70(2)442-7. 118. Lerakis S, Taylor WR, Lynch M, Litman C, Clements S, Thompson T, et al. The role of transesophageal echocardiography in the diagnosis and management of patients with aortic perivalvular abscesses. Am J Med Sci. 2001;321(2):152-5. 119. Cosmi JE, Tunick PA, Kronzon . Mortality in patients with paravalvular abscess diagnosed by transesophageal echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2004;17(7):766-8. 120. Chesler E, Korns ME, Porter GE, Reyes CN, Edwards JE. False aneurysm of the left ventricle secondary to bacterial endocarditis with perforation of the mitral-aortic interventricular fibrosa. Circulation. 1968;37(4):518-23. 121. Afridi I, Apostolidou MA, Saad RM, Zoghbi WA. Pseudoaneurysms of the mitral-aortic intervalvular fibrosa: Dynamic characterization using transesophageal echocardiographic and Doppler techniques. J Am Coll Cardiol. 1995;25(1):137-45 . 122. Qizilbash AH, Schwartz CJ. False aneurysm of left ventricle due to perforation of mitral-aortic intervalvular fibrosa with rupture and cardiac tamponade: rare complication of infective endocarditis. Am J Cardiol. 1973;32(1):110-3. 123. Wright JO, Hiratzka LF, Brandt B III, Doty DB. Thrombosis of the Bjork-Shiley prosthesis:Illustrative cases and review of the literature. J Thorac Cardiovasc Surg. 1982; 84(1):138-44. 124. Yoganathan AP, Corcoran WH, Harrison EC, Carl JR. The Bjork-Shiley aortic prosthesis: Flow characteristics thrombus formation and tissue overgrowth. Circulation. 1978;58(1):70-6. 125. Cleveland JC, Lebenson IM, Dague JR. Early postoperative development of aortic regurgitation related to pannus ingrowth causing incomplete disc seating of a Bjork- Tasca R, et al. Avaliação ecocardiográfica das próteses valvares cardíacas Shiley prosthesis. Ann Thorac Surg. 1982;33(5):496-8. 126. Barbetseas J, Nagueh SF, Pitsavos C, Toutouzas PK, Quinones MA, Zoghbi WA. Differentiating thrombus from pannus formation in obstructed mechanical prosthetic valves: An evaluation of clinical, transthoracic, and transesophageal echocardiographic parameters. J Am Coll Cardiol. 1998;32(5):1410-7. 127. Skoularigis J,Essop MR, Skudicky D, Midlemost SJ, Sareli P. Frequency and severity of intravascular hemolysis after left-sided cardiac valve replacement with Medtronic Hall and St. Jude Medical prostheses, and influence of prosthetic type, position, size and number. Am J Cardiol. 1993; 71(7):587-91. 128. Mecozzi G, Milano AD, De Carlo M, Sorrentino F, Pratali S, Nardi C, et al.Intravascular hemolysis in patients with new-generation prosthetic heart valves: A prospective study. J Thorac Cardiovasc Surg. 2002;123(3):550-6. 129. Garcia MJ, Vandervoort P, Stewart WJ,Lytle BW, Cosgrove DM3rd, Thomas JD, et al. Mechanisms of hemolysis with mitral prosthetic regurgitation. Study using transesophageal echocardiography and fluid dynamic simulation. J Am Coll Cardiol. 1996;27(2)399-406. 130. Cribier A, Eltchaninoff H, Bash A, Borenstein N, Tron C, Bauer F, et al. Percutaneous transcatheter implantation of an aortic valve prosthesis for calcific aortic stenosis: First human case description. Circulation. 2002; 106(24): 3006-8. 131. Grube E, Laborde JC, Zickmann B, Gerckens U, Felderhoff T, Sauren B, et al. First report on a human percutaneous transluminal implantation of a self-expanding valve prosthesis for interventional treatment of aortic valve stenosis. Catheter Cardiovasc Interv. 2005; 66(4): 465-9. 132. Perin MA, Brito FA Jr, Almeida BO, Pereira MAM, Abizaid A, Tarasoutchi F, et al. Substituição valvar aórtica percutânea para o tratamento da estenose aórtica. experiência inicial no Brasil. Arq Bras Cardiol. 2009; 93(3):299-306. 133. Sousa ALS, Feijó ALF, Salgado CG, Castelo Branco RV, Falcão CHE, Assad JAR, et al. Implante de válvula aórtica percutânea: experiência inicial no estado do Rio de Janeiro. Rev Bras Cardiol. 2010;1(1):35-42 134. Zahn R, Gerckens U, Grube E, Linke A, Sievert H, Eggebrecht H, et al. Transcatheter aortic valve implantation: First results from a multi-centre real-world registry. Eur Heart J. 2010;14(4): 447- 55. 135. Webb JG, Wood DA, Ye J, Gurvitch R, Masson JB, Rodes-Caban J, et al. Transcatheter valve-in-valve implantation for failed bioprosthetic heart valves .Circulation. 2010;121(16):1848-57. 136. Tamburino C, Immè S, Barbanti M, Mulè M, Pistritto AM, Aruta P, et al. Reduction of mitral valve regurgitation with Mitraclip percutaneous system.Minerva Cardioangiol. 2010;58(5):589-98. 83