alfabetização hoje - teorias, concepções vigentes

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III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO
UNISALESIANO
Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de
pesquisadores
Lins, 17 – 21 de outubro de 2011
ALFABETIZAÇÃO HOJE: TEORIAS, CONCEPÇÕES VIGENTES E PRÁTICAS
DOCENTES DOS PROFESSORES ALFABETIZADORES.
Cássia Leticia Fernandes – [email protected]
Dulcimar Betramini Rodrigues – [email protected]
Édina Aparecida de Souza Silva – [email protected]
Flavia Dayany Claudino de Souza – [email protected]
Profa. Orientadora Denise Rocha Pereira – [email protected]
RESUMO
O presente trabalho objetiva conhecer quais são as teorias e concepções vigentes,
referentes à alfabetização, e como os professores alfabetizadores têm articulado, em
suas práticas docentes, tais concepções teóricas. O procedimento metodológico
utilizado foi estudo qualitativo, em aproximação de categorias de resposta,
empregando questionário a professoras que trabalham com turmas em processo de
alfabetização. Questionou-se, até que ponto há uma real compreensão, dos
educadores sobre teorias educacionais, a respeito da língua e sua aquisição, no ato
de ler e escrever. Nas considerações finais, destacou -se as contribuições que o
tema pode trazer para melhoria da prática alfabetizadora, nos dias atuais.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Aprendizagem. Prática Pedagógica.
INTRODUÇÃO
É imprescindível para o educador refletir sobre a relação teoria e prática, a fim
de conduzir melhor sua atuação pedagógica. Neste sentido, o presente artigo
procura conhecer quais são as teorias e as concepções vigentes, referentes à
alfabetização, nos dias de hoje, e como os professores alfabetizadores têm
articulado, em suas práticas docentes tais concepções teóricas.
Considerando essa temática, os objetivos desse trabalho foram, portanto, o
de pesquisar a respeito da construção da leitura e da escrita e sua utilização social,
nos dias de hoje; pesquisar teorias que nortearam o processo de alfabetização, bem
como as concepções hoje vigentes e, paralelamente, identificar, a partir da pesquisa
de campo, as concepções teóricas que os professores alfabetizadores possuem;
refletir sobre as diferenças semânticas entre letrar e alfabetizar, buscando possíveis
relações entre esses dois processos, na prática docente de professores
alfabetizadores e, por fim, conhecer os programas de formação de professores,
oferecidos pelo Poder Público e, por meio da pesquisa de campo, verificar se, de
fato, houve participação dos professores alfabetizadores, bem como impactos nas
práticas docentes.
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Este trabalho, quanto aos procedimentos, foi bibliográfico a partir de material
já elaborado, constituído principalmente de livros e de pesquisa de campo, com
solicitação de informações a um grupo professores alfabetizadores, por meio de
questionário.
Espera-se, contudo, que este artigo, contribua para que o processo
alfabetizador seja cada vez mais estudado pelos profissionais docentes, buscando
enriquecer seus conhecimentos teóricos, para que possam, cada vez mais, ter uma
prática pedagógica eficaz.
Desenvolvimento
1
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA ESCRITA
Apesar de muitos povos ainda serem ágrafos e a oralidade desempenhar uma
função muito importante na comunicação social, registros históricos mostram que a
escrita surgiu da necessidade de os homens se comunicarem uns com os outros, já
que a oralidade, em muitas situações, não era suficiente. No entanto, não teria valia
inventar símbolos para comunicar ou registrar coisas simplesmente, era preciso
decifrar e entender esses símbolos, de forma coletiva, garantindo a compreensão
entre emissores e receptores.
Nesta perspectiva, a humanidade foi aprimorando esse código, de acordo
com suas necessidades, até chegar à escrita convencional dos dias de hoje,
tornando-se fundamental para que os indivíduos pudessem participar ativamente da
sociedade.
A divulgação da escrita aconteceu lentamente e de forma desigual entre as
camadas sociais. A escrita tornou-se objeto de poder entre dominantes e
dominados, significando, portanto, um poderoso instrumento de emancipação e
libertação.
Com o intuito de mudar essa situação, que envolve não somente a dimensão
social, como também uma dimensão política muito forte, além da dimensão
pedagógica, Paulo Freire, na década de 60, questionou os métodos tradicionais de
alfabetização desprovidos de sentido, propondo principalmente a jovens e adultos
analfabetos, uma nova forma de se alfabetizar, pois, segundo Freire (2001), o
analfabetismo é uma condição imposta pelas elites para manter as pessoas em
estado de ignorância e assim determinar o domínio sobre elas.
Já que dentro dessa concepção o analfabetismo vai além do saber não saber
ler e escrever, é imprescindível para o homem moderno, ler e entender o que se está
lendo, escrever e conseguir transmitir seu pensamento, condições estas muito
relevantes para o homem exercer seu papel na sociedade contemporânea, estar
ciente que é um ser ativo que interage com os seus semelhantes e que juntos têm
forças para melhorar o futuro.
2
ALFABETIZAR E LETRAR
O conceito alfabetização sofreu ao longo do tempo modificações, ficando
muito amplo seu sentido, com isso, houve a necessidade do surgimento da palavra
letramento, e estes termos: alfabetização e letramento passaram a ser comumente
confundidos.
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Segundo Soares (2003), alfabetização é uma técnica específica e
fundamental de aquisição do sistema de escrita, de domínio do código alfabético e
ortográfico, de acordo com as convenções gramaticais da língua, possibilitando ao
indivíduo autonomia para ler e escrever. Este processo é parte constituinte da
prática da leitura e da escrita e sua especificidade não pode ser desprezada,
devendo ser ensinada de forma sistemática, pois é uma porta de entrada, na
aquisição da lectoescrita.
Ao ampliar o conceito de alfabetização, passou-se a considerar alfabetizada a
pessoa que consegue ler e escrever; e letrada a pessoa que, além de saber ler e
escrever consegue utilizar socialmente a leitura e a escrita, respondendo às
necessidades sociais. Portanto, pode-se, definir letramento como o resultado da
ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, nas quais ler e
escrever também são necessários.
Letramento e alfabetização, embora sejam processos distintos, são, ao
mesmo tempo, interdependentes e indissociáveis.
Paulo Freire (2001) afirma que ler inclui também posturas como interpretar,
questionar, criticar, inferir, ou seja, a compreensão do texto acontece por meio de
uma leitura crítica, em que se perceba a relação existente entre texto e contexto, na
qual o leitor crítico não é apenas um decifrador de sinais, mas aquele que se coloca
como sujeito do processo de ler.
Cabe, ainda, lembrar que, na sociedade, a língua escrita é marcante no
cotidiano e que as crianças, desde muito cedo, têm acesso a materiais escritos e,
assim, vão construindo suas hipóteses a respeito da escrita e de sua utilidade no
meio social. Assim, alfabetizar e letrar devem ser ações concomitantes, com vistas a
tornar a ação pedagógica mais adequada e produtiva.
3
ALFABETIZAÇÃO E LINHAS PEDAGÓGICAS
Os métodos de alfabetização, além de orientar as ações do educador, trazem
implicitamente o que o professor pode atingir no que se refere à sua atuação com os
alunos, durante o processo de aquisição da leitura e da escrita.
Os métodos se desenvolveram e se concretizaram de acordo com as formas
de organização da sociedade. Assim, cada método buscou atender às necessidades
sociais, de acordo com cada época.
Até a década de 80, na área educacional, predominou a chamada linha
tradicional.
Na Perspectiva Tradicional, a alfabetização acontece por meio de uma
sistematização de conteúdos, utilizando como recurso a cartilha, para desenvolver
um método, no qual o professor é o transmissor do conhecimento.
Fica evidenciado que, ao alfabetizar o aluno com embasamento nesta
perspectiva, valoriza-se o produto final do ato de ler e escrever, qualificando o
educando como simplesmente um decodificador de letras.
Outra Perspectiva de alfabetização é a Sócio-histórica. De acordo com Kohl
(2002), o foco de atenção, a partir dessa visão, está centrado na investigação de
como a criança apreende as funções da escrita e de como desenvolve a
necessidade de utilizá-la como instrumento psicológico.
Abordar a alfabetização numa visão sócio-histórica implica uma modificação
de conceitos sobre o significado, o papel e o impacto da escolarização, na vida do
educando, a fim de que o ato de ensinar esteja diretamente ligado ao ato de
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aprender. Para tanto, a intervenção do professor deve ter como ponto de partida um
contexto real, no qual o aluno possa interagir com o objeto do conhecimento de
forma significativa.
Segundo Vygotsky (2002), a história da lectoescrita na criança começava
muito antes de ir para a escola e aprender o desenho das letras. Por isso, ele
acreditava que a linguagem falada atuaria como um dos principais fatores para o
desenvolvimento das capacidades intelectuais do educando e, consequentemente,
para a construção do conhecimento. No entanto, segundo ele, o aprendizado da
língua escrita também representa um grande avanço neste desenvolvimento.
Ao adquirir a linguagem escrita, o educando passa por novas e complexas
transformações psicointelectuais, uma vez que o domínio deste sistema proporciona
diferentes modos de pensar e de interagir com as pessoas e com o conhecimento.
Partindo desse pressuposto, a aquisição da linguagem escrita engloba a
representação simbólica da realidade. É por isso que, na perspectiva de
alfabetização defendida por Vygotsky, identifica-se uma continuidade entre
atividades simbólicas, como: brinquedos, gestos, desenhos etc., pois esses signos
representam significados e, assim, essas atividades contribuem no processo do
aprendizado da língua escrita.
Não existe um método instalado a partir da visão sócio-histórica, mas sim um
posicionamento inspirado numa visão de aprendizagem e de homem que essa linha
nos traz.
A partir da década de 80, deslocando o eixo das discussões dos métodos de
ensino para o processo de aprendizagem da criança, surge um novo paradigma
educacional - o construtivismo- que se apresenta não como um método novo, mas
como uma “revolução conceitual”.
Na tentativa de compreender como funciona o pensamento da criança,
quando está aprendendo a ler e a escrever, foram realizadas pesquisas em torno
desta temática, pois, dentro da perspectiva psicogenética (defendida por Piaget), e
construtivista (defendida por Emilia Ferreiro), de ensino-aprendizagem, considera-se
o pressuposto de que não existe um conhecimento pronto e acabado sobre o mundo
que possa ser ensinado por uma metodologia, aplicada por um professor.
Jean Piaget (1969), com seus estudos, procurou explicar como se dá a
interação da criança com o mundo e com os outros, para chegar ao conhecimento,
já que ele acreditava que o conhecimento é construído por meio da interação entre o
sujeito e o objeto, isto é, pela participação ativa do educando, interagindo com o
conhecimento.
Apesar de Piaget (1983) não ter focado seus estudos na linguagem,
colaborou para tal processo, pois, por meio de suas investigações, conseguiu
descrever o processo humano de amadurecimento cognitivo e mental de maneira
bem minuciosa.
A partir dos estudos de Piaget, Emília Ferreiro (1989), destaca que a
construção do código linguístico não se dá pelo cumprimento de uma série de
tarefas ou pelo conhecimento das letras e das sílabas, mas pela compreensão do
funcionamento desse código, mostrando que os educandos têm idéias e hipóteses
e, que as confrontam com sua realidade e com as idéias de outras pessoas.
A teoria de Emilia Ferreiro é chamada Psicogênese da Língua Escrita e traz
como centro do processo de ensino aprendizagem não só o professor, mas também
o aluno.
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Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), com seus estudos, mostraram que o
centro do trabalho, que era tradicionalmente o professor, foi desviado para a criança,
isto é, para o ser que aprende.
As pesquisas de Piaget e Emília Ferreiro ajudaram a compreender como se
dá o processo de alfabetização e possibilitaram aos educadores o conhecimento de
como o educando se apropria da linguagem, podendo, assim, mediar a construção
do conhecimento, através de uma intervenção pedagógica eficaz.
O construtivismo, então, enfoca que o processo de alfabetização precisa ser
organizado por intermédio de uma linguagem contextualizada e significativa,
tornando a assimilação do código linguístico uma atividade de pensamento e não
mecânica. No construtivismo, a preocupação deve ser desenvolver a linguagem
escrita e não a escrita de letras.
4
O EDUCADOR E O PROCESSO DE ALFABETIZAR
No final da década de 90, a pesquisa sobre os processos de aprendizagem
da leitura e escrita desencadeou uma revolução no conceito de alfabetização e
proporcionou a implantação de programas de ensino que visassem a real
alfabetização dos alunos e a formação contínua dos professores das séries iniciais
do ensino fundamental.
O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) veio para
revolucionar o trabalho dos educadores, que se dedicam à alfabetização, fornecendo
formação continuada e proporcionando aos professores brasileiros uma maior
familiarização com os estudos sobre a aprendizagem da criança e oferecendo, aos
demais professores, a oportunidade de compreender este processo de construção
da aprendizagem, que cada criança desenvolve.
Em 2001, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo SE/SP lançou
um programa semelhante ao PROFA, com o nome de Letra e Vida, visando atender
às necessidades estaduais.
O Letra e Vida visava implementar um trabalho de conscientização do
professor sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita de seus alunos e
contribuir para a capacitação continuada desses profissionais.
O Pró-Letramento, criado em 2006, foi uma iniciativa do Ministério da
Educação e Cultura (MEC), com parcerias das Universidades, Estados e Municípios
para embasar os trabalhos de todos os professores que estão em exercício nos
anos/séries iniciais do ensino fundamental das escolas públicas.
Este programa proporciona aos professores uma complementação teórica,
não apenas sobre o ensino da leitura e da escrita, mas também ao ensino da
matemática, componentes curriculares mais trabalhados nos anos inicias do ensino
fundamental.
Em 2007, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou o
Programa Ler e Escrever. Segundo a SE/SP (2007), é um projeto que busca a
melhoria do ensino de toda a rede estadual, tendo como meta alfabetizar todas as
crianças com até oito anos de idade que estão matriculadas na rede estadual, que
frequentam a 2ª série/3º ano até o final do ano e também recuperar a aprendizagem
de leitura e escrita das séries/anos restantes do Ciclo I do Ensino Fundamental.
Ainda dentro do Programa Ler e Escrever, existe o Projeto Intensivo no Ciclo
(PIC) - 3ª e 4ª séries/4º e 5º anos que visa à recuperação da aprendizagem.
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ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO
A pesquisa de campo foi feita por amostragem, a partir de questionário de
sondagem, entregue a 14 (catorze) professores alfabetizadores. O questionário foi
preparado com 12 (doze) questões dissertativas, referentes às concepções teóricas
que norteiam a prática alfabetizadora desses professores, como também suas
práticas pedagógicas propriamente ditas.
A partir das respostas obtidas, percebe-se que, aproximadamente 35% das
professoras pesquisadas, têm menos de 10 (dez) anos de experiência de trabalho
com turmas de alfabetização. Vale ressaltar que experiência, dentro desse contexto,
pode ser algo tanto positivo quanto negativo. Negativo, no sentido de que, ao longo
dos anos, o professor pode apenas repetir a mesma prática. Positivo, quando o
tempo favorece e fortalece sua prática. Isso ocorre quando o professor está aberto a
refletir sobre sua atuação no referido processo para, a partir daí, buscar qualificar
cada vez mais sua prática docente.
Perguntou-se sobre qual o método e/ou processo utilizado para alfabetizar os
alunos. Pode ser verificado que algumas professoras não especificaram o método,
fizeram um recorte de seu trabalho, simplificando sua prática, pois não conseguiram
vincular sua atuação em sala de aula com qualquer teoria. Observou-se, ainda, que
metade das professoras (51%), disseram utilizar o construtivismo.
Ao se questionar sobre qual a base teórica que norteia a construção da
prática alfabetizadora de cada professora participante observou-se que houve uma
provável dificuldade na compreensão da pergunta por parte de mais da metade das
entrevistadas, como também certa confusão referente à teoria utilizada com o local
e/ou à forma como têm contato com a teoria propriamente dita. Percebeu-se,
também, que 44% das professoras citaram teóricos, sendo que 37% incluíram Emília
Ferreiro nas suas respostas; no entanto, ninguém citou o nome de sua teoria.
Questionou-se como é feita a avaliação da aprendizagem da escrita. Notou-se
que não ficou claro para algumas professoras que ao se perguntar “como”,
esperava-se como resposta qual era o instrumento utilizado para avaliar. Pode ser
constatado que 37% das professoras citaram a sondagem (termo utilizado entre os
professores referente à teoria de Emília Ferreiro). Diante do exposto, ressalta-se que
a teoria deveria ser instrumento para o professor avaliar sua prática; assim sendo,
nesse caso específico, a teoria da Psicogênese da Língua Escrita, na qual é citada a
sondagem diagnóstica da escrita, é um instrumento que favorece a avaliação e o
acompanhamento dos avanços dos educandos.
Perguntou-se às professoras se fazem sondagem da escrita na perspectiva
da Psicogênese da Língua Escrita. Nesta questão todas disseram que utilizam a
sondagem diagnóstica, contrariando às respostas dadas à pergunta anterior, ou
seja, há uma desaproximação entre a prática dos professores e a teoria que embasa
esta prática.
Pediu-se para que as professoras citassem, em ordem de prioridade, três
atividades que são essenciais para a criança se alfabetizarem. Pode-se averiguar
que a maioria (51%) das professoras disseram trabalhar com diversidade textual,
durante o processo de alfabetização, já que é o que se preconiza atualmente como
ideal. Mas um número considerável de professoras ainda acredita que a leitura do
alfabeto, com a diferenciação entre vogais e consoantes seja de fundamental
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importância para as crianças se alfabetizarem, valorizando aspectos ligados à
fonética sobre o sentido textual, desconsiderando a função social da escrita.
A partir das respostas obtidas sobre a importância da alfabetização para a
criança, observou-se que, de uma maneira geral, a maioria das professoras
conseguem enxergar a importância da alfabetização, a longo prazo, e não apenas
de imediato na aprendizagem escolar.
Foi pedido às professoras para citarem quais conhecimentos a criança deve
ter para se alfabetizar. De acordo com as respostas apresentadas nota-se que as
mesmas caminharam mais para as condições necessárias aos educandos para
iniciarem o processo de alfabetização (ser estimulada, ter segurança familiar, autoestima, autoconfiança, ser sociável) do que para os conhecimentos prévios que
deveriam ter. É necessário apontar que 44% das professoras responderam que,
para o aluno se alfabetizar, é necessário conhecer as letras e os sons. Observa-se,
portanto que essas professoras, esperam uma criança “preparada”, verifica-se
assim, uma postura bastante tradicional, não considerando o interesse pelas
palavras escritas ou a vivência das crianças.
Foi perguntado se os professores já fizeram algum curso sobre alfabetização,
pedindo para citar o nome do curso e quando o fizeram. Com base nas respostas,
observou-se que a maioria, ou seja, 86%, das professoras já participaram de cursos
de alfabetização para aperfeiçoamento do trabalho em sala de aula.
Perguntou-se, também, às professoras, se elas acreditam que é importante a
atuação da família, durante o processo de alfabetização. De acordo com as
respostas apresentadas, nota-se que as professoras reconhecem a importância da
atuação da família junto à escola, no processo de alfabetização da criança e que
percebem que é possível alcançar bons resultados mesmo com a ausência da
participação da família.
Posteriormente, foi pedida a opinião das professoras, com relação à seguinte
questão: por que há um índice tão elevado de crianças que não conseguem ser
alfabetizadas, até o final do ano letivo? As respostas apresentadas pelas
professoras indicam que 72% acreditam que isso dá-se por conta de fatores
externos à escola, ou seja, família e aluno, colocando-se alheias a este fato. Apenas
21% das professoras trazem a responsabilidade desse índice para a atuação
profissional dos educadores. E que apenas 7% das professoras atribuíram a
responsabilidade a um conjunto de fatores, o que mostra que não conseguiram
enxergar a importância da integração escola (equipe gestora, professores, alunos),
família e sociedade.
Enceramos a pesquisa perguntando às professoras se existe diferença entre
alfabetização e letramento. A partir das respostas obtidas, percebeu-se que as
professoras reconhecem que sua prática, enquanto alfabetizadoras, deve garantir
aos alunos, além da habilidade de saber ler e escrever, o domínio de seus usos
sociais, na vida cotidiana.
CONCLUSÃO
Os estudos aqui citados trouxeram à tona importantes considerações
referentes às teorias e concepções vigentes das práticas de professores
alfabetizadores nos dias de hoje.
Num primeiro momento, pode-se perceber que, ao longo do tempo, a escrita
se fez necessária para registrar o saber acumulado pela humanidade, a fim de
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transmitir conhecimentos, e que hoje é imprescindível, para o homem moderno, ler e
entender o que se está lendo, escrever e conseguir transmitir seu pensamento,
condições estas muito relevantes para o homem exercer seu papel na sociedade
contemporânea, estar ciente que é um ser ativo que interage com os seus
semelhantes e que, juntos, têm forças para melhorar o futuro.
Verificou-se também que o conceito de alfabetização passou por significativas
mudanças, ao longo das últimas décadas. Antes, bastava o domínio do código
escrito; hoje, devido ao surgimento de inovações situacionais e linguísticas, uma
nova concepção de alfabetização se fez necessária.
A alfabetização adquiriu dimensões maiores, transpondo seu significado e
passou a ser entendida como a apropriação da linguagem escrita, inserida em seus
possíveis usos sociais e, assim, ao longo do tempo, deu-se o letramento. Portanto,
dentro do contexto de alfabetização, duas abordagens devem ser consideradas:
uma que valoriza o processo de aquisição da linguagem, e outra, que ressalta o seu
significado social. Dessa forma, alfabetizar e letrar devem ser ações concomitantes,
no processo de alfabetização, com vistas a tornar a ação pedagógica mais
adequada e produtiva.
Quanto às teorias e concepções vigentes, todas que foram citadas:
Perspectiva Tradicional, Perspectiva Sócio-Histórica e o Construtivismo, devem ser
analisadas, pois tiveram suas dicotomias, e hoje, buscando atender às necessidades
educacionais, referentes à alfabetização, várias perspectivas influenciam as práticas
pedagógicas dos professores. Entretanto, estes não conseguem vincular sua prática
a essas teorias, deixando um recorte em seu trabalho, simplificando sua prática.
É provável que a experiência prática cotidiana desses professores, tenha
influenciado tal recorte. No entanto, todo profissional precisa recorrer a determinados
referenciais que justifiquem, fundamentem e guiem sua atuação.
Neste trabalho, averiguou-se também que o Poder Público tem oferecido,
sistematicamente, programas de formação continuada a professores alfabetizadores
e que, dentre os que participaram desta pesquisa, 57% confirmaram sua
participação nos cursos mais atualizados; isso reforça que a prática desses
profissionais deveria estar condizente com as concepções teóricas vigentes. No
entanto, não basta apenas participar de cursos, é necessário o comprometimento
profissional e pessoal, como também condições estruturais, por parte das
instituições de ensino, a fim de que o professor possa realmente desenvolver um
trabalho significativo e de acordo com o que é proposto, nas referidas capacitações.
Questionou-se, neste trabalho, até que ponto há uma real compreensão, por
parte dos educadores, das teorias educacionais, a respeito da língua e sua
aquisição, no ato de ler e escrever. Em alguns casos, comprovou-se que parece não
sentirem falta de um respaldo teórico, para compreender o processo de
alfabetização, porque nem citam isso, quando responderam as questões.
Percebe-se, contudo, que as práticas de alfabetização utilizaram de reflexão e
memorização para ensinar as crianças a ler e escrever, inventando e reinventando
novas formas, sem se preocupar com a aprendizagem do indivíduo.
A concepção hoje vigente destaca que a construção do código linguístico não
se dá pelo cumprimento de uma série de tarefas ou pelo conhecimento das letras e
das sílabas, mas pela compreensão do funcionamento desse código, mostrando que
os educandos têm ideias e hipóteses e que as confrontam com sua realidade e com
as ideias de outras pessoas.
Deve-se considerar que as pesquisas de Piaget e Emilia Ferreiro ajudaram a
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compreender como se dá o processo de alfabetização e possibilitaram aos
educadores o conhecimento de como o educando se apropria da lectoescrita,
podendo, assim, mediar a construção do conhecimento, por meio de uma
intervenção pedagógica eficaz.
Diante do exposto, fica evidente que a tarefa do professor deve estar pautada
em conceitos sólidos de alfabetização e estar consciente da melhor forma para sua
aplicação, pois o processo de alfabetização deve contemplar o indivíduo como um
todo, considerando sua individualidade e de forma que este possa utilizar a leitura e
a escrita como uma conquista que o auxiliará a ter um bom desempenho, no seu
convívio com o universo que o cerca.
Ainda vale lembrar toda a dimensão social que representa estar alfabetizado,
focando que é preciso, além do trabalho do educador, um trabalho de suporte a essa
tarefa, que abriga também as condições estruturais ao professor, para que ele não
se sinta solitário, no processo de ensino.
Este trabalho traz à tona reflexões acerca das teorias, concepções vigentes e
práticas atuais de professores alfabetizadores, portanto, pode servir como
instrumento para discussões de profissionais da área, alunos de Pedagogia e
demais interessados, nesta importante questão social e espera-se que o assunto
não fique estagnado, mas que seja uma ferramenta para o aprofundamento desta
temática, a fim de que o conhecimento avance e que os professores possam atuar
cada vez melhor, garantindo o direito à alfabetização, em seu sentido mais amplo,
de todos os que ainda não tiveram acesso a ela.
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