A IMPORTÂNCIA NO APRENDIZADO DO ALUNO SURDO SOBRE

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A IMPORTÂNCIA NO APRENDIZADO DO ALUNO SURDO
SOBRE A MEDIAÇÃO DO INSTRUTOR/SURDO SURDO
*
José Angelo Corradi
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo discutir a mediação pedagógica
entre Instrutor/Surdo surdo e aluno surdo, tendo em vista reconhecer os
fatores determinantes do desempenho do Instrutor/ Surdo surdo como
mediador no processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo. A
mediação envolve tanto os instrumentos como os signos, sendo
imprescindível no processo de ensino e de aprendizagem. Contextos
escolares inclusivos têm norteado a concepção do ensino do aluno surdo.
Os dados sobre o funcionamento das Leis que asseguram o papel e
trabalho do Instrutor/Surdo surdo na escola foram colhidos por meio da
análise de livros e da internet. As análises indicam que a mediação em
LIBRAS é fundamental para que o aluno surdo compreenda as
explicações dadas em sala de aula. Para isso, é necessário que a
aprendizagem do surdo tenha condições mais adequadas, uma vez que o
ensino em sala de aula é permeado por dificuldades e limitações. Devido
à não apropriação pelo aluno surdo de uma língua na idade escolar e aos
problemas e dificuldades de aprendizagem, torna-se relevante a inserção
do profissional instrutor surdo como mediador na aquisição de
conhecimentos pelo aluno surdo.
Palavras-chave:Instrutor/Surdo surdo. Mediação.Aluno surdo. LIBRAS.
Introdução
A aprendizagem da criança surda necessita de condições mais
* Especializado em Libras Língua Portuguesa – Educação Bilingue para Surdos pelo Instituto Paranaense
de Estudos e Pesquisas de Maringá/PR. Mestre em Educação – UEM -Universidade Estadual de
Maringá. Acadêmico de LETRAS/LIBRAS pela Faculdade EFICAZ Maringá/Pr.. Profº de Graduação e
Pós de LIBRAS da FAFIJAN – FAAST – Profº de Pós Graduação com temas relacionados ao A.E.E ISFACES – DIMENSÃO e Palestrante. e-mail: [email protected]
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adequadas, haja vista que o enfrentamento em relação ao ensino em sala de
aula é permeado por dificuldades de ensino e aprendizagem e os desafios
que requerem mudanças na prática pedagógica. Devido a não apropriação
pelo aluno surdo de uma língua na idade escolar e da enorme problemática
causada pela falta de linguagem, o que provoca danos à aprendizagem,
torna-se relevante a inserção do profissional instrutor/ surdo na sala de aula
como possibilidade mediadora para a aquisição de conhecimentos.
É na escola que existe a transmissão dos conhecimentos
produzidos pelas gerações antecedentes, por meio da sistematização do
ensino dos conceitos científicos. Esses conceitos são acessados pelos
alunos surdos por meio da mediação docente. Trata-se da falta de clareza
de alguns Instrutor/surdos na compreensão de que o ensino planejado,
organizado e mediado provoca nos alunos desenvolvimento de funções
psicológicas superiores, em especial, o pensamento propiciando a
aprendizagem, objetivo desejado pelos Instrutor/surdos.
O processo de mediação contempla a relação com o outro e diz
respeito, sobretudo, à apropriação de instrumentos físicos e psicológicos
que proporcionam o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, em um contexto sociocultural. Os signos representam a
constituição de um conjunto de conhecimentos no percurso da história
social para a individual. Na relação com os adultos, a criança reconstrói
internamente as formas culturais de ação e pensamento, palavras, valores e
significados. Essa compreensão é fundamental para sublinhar a
importância da mediação docente, bem como realizar um contraponto com
posicionamentos que defendem o fato de que as experiências adquiridas no
contexto cultural não influenciam as capacidades cognitivas.
Espera-se que, cada vez mais, discussões sejam enfatizadas no
sentido da ressaltar a importância do Instrutor/ Surdo surdo nas escolas que
atendem alunos surdos, e que todas as escolas regulares possam respaldarse em uma reorganização pedagógica deixando claro a todos os envolvidos
na proposta de inclusão, por meio da mediação, que a aprendizagem da
língua de sinais tem a possibilidade de tornar se realidade.
O INSTRUTOR/SURDO1
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Um novo referencial recente no campo pedagógico de contextos
escolares inclusivos tem norteado a concepção do ensino do aluno surdo.
Refere-se ao profissional “Instrutor/Surdo”, que é previsto no Decreto
5.626, do dia 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei 10.436.
O aluno surdo, diante da nova forma de se pensar a educação,
possui, neste contexto, o direito de aprender ou ser trabalhado
pedagogicamente como aluno surdo que possui aspectos linguísticos
diferenciados, a língua de sinais que é a sua língua natural. Vigotski
(2007) escreve que o desenvolvimento humano não ocorre
simplesmente com a relação direta do sujeito com o objeto, mas a partir
de uma relação mediada. Não resultam diretamente da ação do indivíduo
sobre a realidade, mas da mediação deste indivíduo com outros sujeitos e
com o meio no qual estão inseridos. É nessa interação do homem com o
mundo que ele desenvolve as funções psíquicas superiores, tais como,
memória, percepção, atenção, sensação, imaginação, capacidades estas
que o diferenciam dos demais animais.
Na Lei 10.436 , encontra-se que:
O Instrutor/Surdo da educação básica,
bilíngüe, aprovado em exame de proficiência
em tradução e interpretação de LIBRAS –
língua Portuguesa, pode exercer a função de
tradutor e interprete de LIBRAS – língua
portuguesa, cuja função é distinta da função de
Instrutor/Surdo docente (art 14, Inc VIII,§ 2).
O Art.5º define como deverá ocorrer a formação bilíngue e o
parágrafo 2º do mesmo Artigo, destaca a prioridade dos surdos nos
cursos de formação de docentes para bilinguismo.
Art. 5º: A formação de docentes para o ensino
de Libras na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental deve ser
realizada em curso de Pedagogia ou curso
normal superior, em que Libras e Língua
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Portuguesa escrita tenham constituído línguas
de instrução, viabilizando a formação
bilíngüe [...].
Parágrafo 2º: As pessoas surdas terão
prioridade nos cursos de formação previstos
no caput.
LEGISLAÇÃO SOBRE A DEFICIÊNCIA
Lima (2008) diz que a aprendizagem do aluno com deficiência
deve se iniciar na educação infantil, a partir de zero ano com imposição
legal da inclusão no sistema educacional.
A educação de Pessoas com Deficiência, a Carta Magna Brasileira
assegura:
Art. 206: O ensino será ministrado com base
nos seguintes princípios: Inciso I - igualdade
de condições para acesso e permanência na
escola.Art. 208: O dever do Estado com a
educação será efetivado mediante a garantia
de: [...].
Inciso III - atendimento educacional
especializado às pessoas portadoras de
deficiências, preferencialmente na rede
regular de ensino.
A Lei Federal nº 7853/89, regulamentada pelo Decreto nº
3.298/99, dispõe que os órgãos e entidades da Administração Pública,
responsáveis pela educação, dispensarão tratamento prioritário e
adequado aos assuntos dos alunos surdos, viabilizando-se, entre outras,
a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos
públicos e particulares da rede de ensino.
As pessoas com deficiência são capazes de se integrarem no
sistema regular de ensino e têm direito ao acesso à educação. Elas têm o
direito aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive
material escolar, transporte, merenda escolar e bolsas de estudos.
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O aluno com deficiência, matriculado no ensino médio de
instituições públicas ou privadas, terá acesso à educação profissional, a
fim de obter habilitação profissional que lhe proporcione
oportunidades de acesso ao mercado de trabalho. As escolas e
instituições de educação profissional devem oferecer, se necessário,
serviços de apoio especializado para atender às suas peculiaridades
causadas pela surdez.
As instituições de ensino superior devem oferecer adaptações de
provas e apoio necessário, previamente solicitado pelo aluno portador
de surdez, inclusive tempo adicional para realização das provas,
conforme as características da língua, aplicando-se, também, ao
sistema geral do processo seletivo para ingresso em cursos
universitários das instituições de ensino superior.
Legislação para os surdos
Lima (2008), no que diz respeito aos alunos com deficiência
auditiva, ressalta o compromisso formal da instituição de proporcionar,
quando necessário, intérpretes de língua de sinais/língua portuguesa,
especialmente na realização de provas ou revisão, complementando a
avaliação expressa em texto escrito ou quando este não tenha
expressado o real conhecimento do aluno; flexibilidade na correção das
provas escritas, valorizando o conteúdo semântico; aprendizado da
língua portuguesa, principalmente na modalidade escrita (para o uso de
vocabulário pertinente às matérias do curso em que o estudante estiver
matriculado); materiais de informações aos Instrutor/Surdos para que
se esclareça a especificidade linguística dos surdos.
A aprendizagem, assim como a inteligência,
não é uma função autônoma. A criança surda
a situação é mais complexa, porque há um
fator concreto: a falta ou diminuição da
audição. Para ensinar na escola, o recurso
mais usado é a voz do Instrutor/Surdo, o que
deixa a criança surda em desvantagem. É
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preciso que os Instrutor/Surdos da criança
surda sejam orientados, principalmente,
quando a escolha da família for por uma
escola regular. A falta de audição pode
contribuir para uma repetição desse
fracasso, o que provoca reações distintas e
sentimentos de angústia, vergonha e baixa
auto-estima. Diante da necessidade de
viabilizar um ensino de qualidade para as
pessoas surdas e considerando as
particularidades inerentes à surdez e das
diferentes opiniões que dividem e
subdividem as metodologias específicas
ao ensino de surdos, uma coisa é
imperiosa: o respeito à cultura surda, sua
identidade e sua língua – a LIBRAS
significa a Língua Brasileira de Sinais e são
sinais feitos com as mãos e dedos, que
permitem a comunicação entre os surdos e
os mudos. O trabalho requer da escola um
profissional capacitado, com conhecimento
t r a n s d i s c i p l i n a r, s e n s i b i l i d a d e e
flexibilidade para atender as diferentes
necessidades de cada criança, família e
contexto social. É fundamental uma visão
abrangente e compreensiva do problema
para mostrar às famílias como as
necessidades da surdez podem ser
detectadas e como devem ser atendidas para
que a criança surda possa resultar num
adulto independente e capaz de seguir seu
próprio caminho de vida (LIMA, 2008).
ESCOLA, MEDIAÇÃO E FORMAÇÃO DE CONCEITOS
EM ALUNOS SURDOS
Para Lima (2008), a educação é entendida como uma inserção
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do aluno em uma situação real de aprendizagem, que abrange atividades
culturais, recreativas e laborais onde ele possa observar e realizar ações
significativas.
Quadros e Schmiedt (2006) completam destacando alguns dos
aspectos que precisam ser explorados com o aluno surdo no processo
educacional:
! Estabelecimento do olhar.
! Exploração das configurações de mãos.
! Exploração dos movimentos dos sinais
(movimentos internos e externos, ou seja,
movimentos do próprio sinal e movimentos
de relações gramaticais no espaço).
! Utilização de sinais com uma mão, duas mãos
com movimentos simétricos, duas mãos
com movimentos não simétricos, duas mãos
com diferentes configurações de mãos.
! Uso de expressões não manuais gramaticalizadas (interrogativas, topicalização,
focus e negação).
! Exploração das diferentes funções do
apontar.
! Utilização de classificadores com
configurações de mãos apropriadas
(incluem todas as relações descritivas e
preposicionais estabelecidas através de
classificadores, bem como, as formas de
objetos, pessoas e ações e relações entre
eles, tais como, ao lado de, em cima de,
contra, em baixo de, em, dentro de, fora de,
atrás de, em frente de, etc.).
! Exploração das mudanças de perspectivas
na produção de sinais.
! Exploração do alfabeto manual (QUADROS; SCHMIEDT, 2006, p. 97-98).
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É fundamental, portanto, que haja um maior conhecimento entre
os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos,
propiciando a eles, por meio do Instrutor/Surdo, a língua de sinais que
representa a língua que a criança surda domina com maior facilidade,
propondo um ensino bilíngue: a língua de sinais como primeira língua e a
língua portuguesa como segunda língua.
O Instrutor/Surdo ao mediar o conhecimento tem a possibilidade
de, por intermédio de um ensino sistematizado, contribuir para que o
aluno aproprie-se dos conteúdos, utilizando a língua brasileira de sinais LIBRAS no processo de comunicação para que o aluno compreenda a
informação, modificando e reorganizando o pensamento do aluno. O
conteúdo veiculado principalmente pela linguagem é quem medeia as
relações estabelecidas na aquisição dos conhecimentos.
A escola é, nesse sentido, o principal ambiente no qual a linguagem
se expressa, por meio dos conteúdos que são objetos de ensino e
aprendizagem. Sublinha-se a necessidade da compreensão de que esses
alunos, diante da complexidade que a LIBRAS representa, têm
capacidade de desenvolverem-se e apropriarem-se dela. A escola possui
um espaço significativo para propiciar por meio de um ensino
sistematizado a aprendizagem e, também, não é a única instância que
cumpre a função de socialização, existem outros modos de estabelecer
esse intercâmbio. Por fazer parte desta sociedade, busca-se, por meio dos
conteúdos e formas de organização, transmitir conhecimentos,
concepções e modos de conduta que a sociedade requer.
Na perspectiva Histórica Cultural, a educação escolar tem um
importante papel na formação das pessoas. É fundamental a mediação
docente, posto que a prática cultural mais importante que o homem
desenvolve é o ensino sistematizado. A mediação ocorre em qualquer
processo de ensino, contudo, a qualidade do conteúdo que é ensinado aos
alunos determina a sua evolução acadêmica.
A escola deve propiciar a aquisição dos conhecimentos
socialmente produzidos de geração em geração. Esses conteúdos
transmitidos, veiculados por meio da LIBRAS, não devem estar
pautados em uma transmissão mecânica, mas, sobretudo, contribuírem
para a formação dos conceitos nos alunos surdos.
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Nesse sentido, a LIBRAS propicia a comunicação da criança surda
com o mundo exterior expressando o seu pensamento e regulando os
fatores culturais que existem nas relações sociais. A LIBRAS atua na
organização do pensamento. Por meio dessa língua espaço-visual, a
criança adquire a linguagem, controla o ambiente e, posteriormente, o
autocontrole de seu comportamento.
O maior obstáculo imposto ao aluno surdo que não é exposto
precocemente à língua de sinais, é o desenvolvimento precário da
linguagem e, por decorrência, do pensamento. Na medida em que a
criança surda necessita da palavra, ela passa a assimilar o signo
pertencente ao objeto, descobrindo assim, a função simbólica da
linguagem/LIBRAS. A função generalizante da linguagem/LIBRAS
torna-se um instrumento do adágio, e neste desenvolvimento se faz
necessário reconhecer a importância da linguagem interior, constituindo
uma manifestação de abstrações a partir dos traços visuais.
No intercâmbio social, as funções complexas do pensamento são
constituídas nas trocas sociais, na comunicação entre as pessoas por
meio da linguagem/LIBRAS. Assim, quando os adultos nomeiam
objetos agrupando-os em uma mesma classe estão auxiliando a criança
na generalização do seu pensamento. Nesta organização dos objetos
relacionados com a percepção, a criança passa a discriminar o essencial e
o relevante e no decorrer do tempo controla por si só a realidade.
O pensamento, como explica Vigotski (2007), constitui-se no
plano social (interpsicológico), é modificado pelo sujeito, passando a
existir no plano intrapsicológico. Sendo assim, as funções cognitivas
surgem nas interações estabelecidas entre pessoas e entre pessoas e
objetos sob a mediação da linguagem/LIBRAS, interferindo apenas no
modo de pensar e agir.
Na escola, a criança aprende imitando, fazendo analogias,
concordando, discordando, internalizando símbolos e significados que
poderão ser organizados por meio do ensino. Sendo assim, os contextos
social e educacional colaboram para o desenvolvimento de funções
psicológicas superiores.
Para tanto, destaca-se a relevância da aprendizagem no
desenvolvimento intelectual, na qual, por meio da mediação, a criança
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reelabora as formas de pensamento, elevando o desenvolvimento de
funções psíquicas. Para essa apropriação, que é estabelecida pela
aprendizagem dos conceitos das diversas áreas do conhecimento,
ressalta-se a linguagem escrita enquanto expressão do pensamento. Ela
no processo de aprendizagem é o principal instrumento psicológico
mediador.
Dessa forma, o aluno apropria-se do conteúdo do sistema
linguístico, possibilitando cada vez mais o desenvolvimento dos
processos superiores do pensamento.
Considerações Finais
As dificuldades na aprendizagem dos conteúdos da Língua
Portuguesa, especificamente, despertam nos educadores de alunos
surdos muita inquietação e não podem deixar de ser consideradas.
Contudo, a mediação docente comprometida em possibilitar aos alunos a
apropriação de conceitos científicos, transformando-os em conteúdo de
ensino, representa um mobilizador do desenvolvimento humano.
Como se vive em uma sociedade grafocêntrica, o uso da língua é
imprescindível em todos os setores sociais, possibilitando a participação
social dos indivíduos no meio em que vivem. Essa importância é
reconhecida, no entanto, a essa ideologia vinculam-se discursos
neoliberais que relacionam o quesito qualidade na educação a interesses
políticos, econômicos e sociais que atualmente estão inseridos a uma
proposta de desenvolvimento humano pautada em uma ideologia
dominante que forma para adaptação.
Busca-se mostrar o entendimento sobre o modo de produção
material para compreensão e influências das diferentes formas de
trabalho na ação educativa. A ação dos Instrutor/Surdos nessa sociedade
neoliberal na qual a supervalorização da competitividade, do
individualismo se faz presente, independe da sua vontade, pois consiste
em atender as mediações políticas, econômicas, psicológicas e
filosóficas que ela requer. Portanto, a escola não deve ignorar o contexto
político e econômico, mas não pode estar subordinada ao modelo
econômico e estar ao seu serviço.
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A qualidade de educação é aquela mediante a qual a escola
promove, para todos os domínios dos conhecimentos o desenvolvimento
humano.Atende as necessidades individuais e sociais dos alunos, bem como,
o acesso aos bens intelectuais produzidos pela humanidade e não o
atendimentodas ordens impostas peloprocessoprodutivodos bens sociais.
Destaca-se que, para ocorrer o acesso aos bens intelectuais é
fundamental que haja a compreensão por parte dos Instrutor/Surdos do
processo de ensino e de aprendizagem da linguagem escrita. Em outras
palavras, a internalização da linguagem escrita possibilita o
desenvolvimento das capacidades psíquicas mais complexas e, para
tanto, os alunos necessitam da mediação docente para que internalizem
os conteúdos e os conhecimentos dessa área de ensino.
Ao internalizar o patrimônio histórico e cultural, a criança designa
os objetos estabelecendo relações entre eles e passando a dominar os
conceitos e conhecimentos que desenvolvem as funções psicológicas
superiores que a diferencia dos animais, pois permite o raciocínio, o
planejamento, a generalização. Destaca-se a importância de a escola
desenvolver o ensino da linguagem escrita planejado, organizado
enfatizando-se a ação mediadora do Instrutor/Surdo e estimulando os
alunos os conceitos imediatos em mediatos.
A inquietação, a que se faz referência no início deste texto, diz
respeito à própria experiência como Instrutor/Surdo que necessita
desvelar os possíveis motivos para as dificuldades apresentadas na
apropriação da linguagem escrita. Algumas respostas são apontadas nos
discursos pedagógicos, como justificativa, por exemplo: a falta de
interesse dos alunos pela leitura e pela escrita.
Não se pode desconsiderar a justificativa acima apontada. No
entanto, enfatizam-se os aspectos relacionados à mediação docente
precedida de uma ação, da qual somente o Instrutor/Surdo se ocupa. Essa
ocupação parte da seleção do conteúdo de ensino sob a mediação
estabelecida, concretiza o ofício do ensino e relaciona o conhecimento
com o aluno que realiza a aprendizagem, representando a relação entre
ele e o conhecimento. A discussão da categoria mediação permite aos
Instrutor/Surdos o acesso a um referencial teórico e operacional por meio
do qual possam desenvolver um processo de ensino comprometido com
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a aprendizagem dos alunos.
A aprendizagem escolar é promotora de desenvolvimento em
algumas circunstâncias, como, por exemplo, por meio da mediação
pedagógica na qual o Instrutor/Surdo organiza o ensino, promovendo
ações nas quais os conceitos imediatos, até então implícitos, tornam-se
explícitos para os alunos. O trabalho pedagógico necessita de atividades
de ensino que despertem nos alunos a apropriação e a generalização dos
conceitos científicos.
Em relação ao ensino de conceitos inerentes à produção textual, o
Instrutor/Surdo, ao mediar ações, planejando e replanejando, em uma
dimensão dialética a prática educativa, estará propiciando a
aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos.
Um ensino organizado em uma abordagem espontaneísta estará
contribuindo para uma formação desumana. Diante da pesquisa
realizada, pode-se refletir a respeito da necessidade de o Instrutor/Surdo
estabelecer uma relação entre a escola e o contexto histórico para superar
a prática social. Nessa perspectiva, possibilitar ao aluno interpretar e
entender para poder analisar a realidade social em uma sociedade
neoliberal. Daí a importância de o Instrutor/Surdo ultrapassar o ensino e
a aprendizagem espontaneista, superando sua própria prática pedagógica
por meio da mediação, provocando o acesso ao conhecimento produzido
historicamente pela humanidade.
A mediação como já mencionada, constitui-se por meio de elementos
sócio-históricos, ou seja, das relações entre o sujeito e a realidade objetiva,
pelos elementos culturais, experiências e conhecimentos produzidos pelos
homens. Realça-se a importância da intencionalidade, do planejamento, da
organização e da sistematização da prática docente no ensino dos conteúdos e
a introdução de novos elementos, que permitam ao aluno ir além do
conhecimento imediato edocotidiano.
Aprática educativa é somente um dos momentos da sala de aula, pois
envolve o planejamento, o desenvolvimento e avaliação do conteúdo
escolar. O conteúdo de ensino centra-se na problematização por meio de
situações capazes de gerar contradições, provocando superações,
possibilitando a elaboração de aprendizagens. As atividades
sistematizadoras da linguagem, ao serem organizadas, mediadas, provocam
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nos alunos apossibilidadedeaprendizagemdos conteúdos aeles inerente.
Na busca por alternativas, os métodos de ensino e o modo de
conceber a mediação docente podem ser revistos e renovados.
Abstract
THE IMPORTANCE ON LEARNING OF THE DEAF STUDENT
AND THE MEDIATION OF DEAFTRAINER/ TEACHER
The purpose of this paper was to discuss the pedagogical mediation
between instructor/deaf teacher and deaf student, in order to recognize
the determining factors of instructor/deaf teacher performance as
mediator in the teaching-learning process of deaf student. The
mediation involves both tools and signs, being required in the
teaching-learning process. Inclusive school contexts have guided the
teaching conception of deaf students. The data concerning the
functioning of laws which assure the role and work of the
instructor/deaf teacher in school were collected through the analysis of
books and internet. The analysis indicates that the mediation in
LIBRAS is important for the deaf student to understand the
explanations given in the classroom. To this purpose, it is necessary
that the deaf student learning have more adequate conditions, since the
teaching in the classroom is permeated by difficulties and limitations.
Due to the non appropriation by the deaf student of a language at
school age and to problems and difficulties in learning, it is relevant
the insertion of the professional deaf instructor as mediator in the
acquisition of knowledge by deaf student.
Keywords: Instructor/deaf teacher. Instructor/teacher. Learning mediation.
Deaf student. Deaf student's learning.
Referências
BRASIL. Decreto no 5626 de 22 de dezembro de 2005.
Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre
a Língua Brasileira de Sinais: Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 8, n. 1, p. 79-92, 2012
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19 de dezembro de 2000. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 12 jan. 2011.
______. Decreto nº 3298 de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a
Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Brasília,
DF. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/1999/decreto3298-20-dezembro-1999-367725-norma-pe.html>. Acesso em: 12 jan. 2011.
BRASIL. Lei nº 10436 de 2002.
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras
providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso
em: 15 ago. 2012.
BRASIL. Lei nº 7853 de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas
portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos
ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público,
define crimes, e dá outras providências . Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm>. Acesso em: 5
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LIMA, S. V. de. Fatores que interferem na aprendizagem. 2008.
Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4419/1/FatoresQue-Interferem-Na-Aprendizagem/pagina1.html#ixzz154LUvTWY>.
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português para alunos surdos. Brasília, DF: MEC: SEESP, 2006.
VIGOTSKI L. S. A Formação social da mente: o desenvolvimento
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 8, n. 1, p. 79-92, 2012
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