O BEHAVIORISMO RADICAL E AS AGÊNCIAS DE CONTROLE INTRODUÇÃO Um dos conceitos no livro "Ciência e Comportamento Humano", de Skinner (1981), é o controle. Ele trata, neste livro, do controle exercido pela sociedade como um todo, de instituições políticas e religiosas, e da possibilidade de diversificar as agências de controle, e limitar o seu poder. Skinner insiste em utilizar o termo controle, porque parte da premissa básica que é o comportamento, tanto animal como humano, como variável dependente observável, é sempre controlado por variáveis independentes, quer elas sejam identificáveis ou não. Skinner enfatiza que o controle está onipresente nas relações humanas, manifestandose nos níveis e nas formas as mais diversas e ressalta que o controle tende a ser visto sempre como algo maléfico, mas não podemos nos esquecer de que existem controles inseridos nas contingências de reforço, dos quais não é possível escapar. Na verdade, para Skinner, a luta para a liberdade tem sido uma questão de libertar as pessoas do que se chama de controle aversivo. Veremos a seguir a evolução do pensamento skinneriano no que diz respeito a questões sociais e culturais, numa tentativa de generalização de conceitos extraídos do laboratório de análise experimental do comportamento para instituições sociais, as agências de controle. O propósito deste trabalho é verificar como Skinner analisa as agências de controle e, a partir disso, quais os problemas éticos do mundo atual e quais as propostas dele para uma Ética que salve a humanidade do fim. É preciso deixar claro o referencial de que parte Skinner: a análise do comportamento, cujo fundamento filosófico é o behaviorismo radical. Este tem como objeto de estudo o comportamento humano. Tendo em vista esse ponto de partida, Skinner critica duramente teorias que buscam explicações mentalistas para os comportamentos. É necessária a referência ao comportamento para que a manipulação do meio ambiente e a consequente mudança nas respostas dos indivíduos sejam possíveis. A referência a estados mentais é inútil por eles não serem causas do comportamento e não serem manipuláveis. Segundo Skinner, seria mais útil se olhássemos para nosso comportamento e para as condições ambientais de que ele é função para podermos mudar nossas ações. CONCEITO DE AGÊNCIA DE CONTROLE Skinner define agência de controle: "Dentro do grupo, entretanto, certas agências controladoras manipulam certos conjuntos de variáveis. Essas agências são, habitualmente, mais bem organizadas que o grupo como um todo e geralmente operam com maior sucesso." Elas operam por meio de práticas de controle, podendo estas serem entendidas como a manipulação de estímulos com o fim de se estabelecerem contingências. Desse modo, os controladores lançam mão de técnicas de reforço e de punição. Uma agência controladora, juntamente com os indivíduos que controla, constitui um sistema social, ou seja, os indivíduos dentro de uma sociedade que promovem a verdade são os mesmos que acabam por deter o poder. E quem tem o poder, tem o controle. E é essa minoria quem controla a maioria, que detém mecanismos coercitivos e quem valoriza os procedimentos e técnicas para a obtenção da sua verdade. A maioria, ou o povo, não se torna "consciente" da verdade de maneira gratuita; a verdade é instituída através da prática social. E também é controlada por outras práticas geralmente coercitivas e punitivas. O poder e o controle não estão apenas em suas instâncias finais, como o Estado, mas estão onipresentes nas relações humanas, manifestando-se em diversos níveis e de formas variadas, condicionando a atividade e existência dos homens em todos os momentos. Segundo Skinner, por meio do estudo dos processos comportamentais envolvidos, pode-se explicar como uma agência controla um grupo e por que ela se mantém. A partir daí, o autor se propõe a abordar quatro dessas agências: governo, religião, cultura e educação. Ele deixa claro que a única preocupação é com as concepções sobre o indivíduo se comportando nesses campos e preocupou-se com certas espécies de poder, sobre as variáveis que afetam o comportamento humano e com as práticas controladoras que podem ser empregadas por causa deste poder. FUNÇÃO DAS AGENCIAS DE CONTROLE Em geral, as práticas realizadas pelas agências têm como função estabelecer obediência e autocontrole em seus controlados, ou seja, um repertório suficiente e bem estabelecido de tal modo que, mesmo na ausência do agente controlador, eles se comportem de acordo com a agência. Ou seja, a agência garante seu próprio futuro por meio do estabelecimento de autocontrole dos controlados. Normalmente, a manutenção da agência reforça o comportamento do controlador. O indivíduo usa técnicas para se tornar membro de uma agência e para manter-se como tal. Comportamentos nessa direção são reforçados quando se obtêm sucesso. Além disso, aprovação e o apoio do grupo o grupo maior, o conjunto de pessoas formadoras da agência, ou controladas por ela, ou de pessoas relacionadas a outras agências - podem ser importantes também como reforço para o comportamento do agente controlador. COMPORTAMENTO VERBAL O comportamento verbal possui papel chave nas práticas de controle. Pode-se perceber, inicialmente, a importância do comportamento verbal para as agências de controle. O comportamento verbal pode ser entendido como aquele comportamento cujas consequências são mediadas por outra pessoa. Usam-se estímulos verbais condicionados (condicionados porque foram relacionados a outros estímulos eliciadores de outras respostas), estímulos como "certo", "errado", "bom", "ruim", "legal", "ilegal" para classificar certos comportamentos, que são reforçados/punidos de acordo. A punição geralmente provoca uma condição aversiva da qual se foge com os comportamentos esperados pela agência. Ou seja, a condição aversiva gerada pela punição a comportamentos inadequados é evitada com comportamentos adequados, sendo estes reforçados por isso mesmo. GOVERNO E LEI Talvez o mais óbvio tipo de agência empenhada no controle do comportamento humano seja o governo. Estritamente definido, o governo é o uso do poder para punir. O governo sabe do poder. E se vale do crédito que o povo deposita em seus dirigentes para controlá-los, individual ou coletivamente. Temos aqui outra armadilha do poder e do controle, especialmente aquele exercido por instituições governamentais, pois talvez a mais antiga e venerável ideia política seja que as pessoas comuns não têm capacidade de governa-se a si mesmas. Talvez seja também a ideia mais persistente; pois, se examinarmos com atenção, a encontraremos como premissa básica subjacente a todas as sociedades. O governo e o governado compõem um sistema social. O governo manipula as variáveis que alteram o comportamento do governado e se define em termos de seu poder de assim fazer. A mudança no comportamento do governado provê de volta um reforço ao governo, explicando a continuação de sua função. E o poder da agência aumenta a cada intercâmbio, pois o crescimento do poder se acelera na medida em que o controle se torna cada vez mais eficiente. O governo se torna mais forte no ato de governar. O governo alega usar seu poder para “manter a paz”, mas, na realidade, está restringindo os comportamentos que ameaçam a sus própria existência ou ameaçam a propriedade e as pessoas de outros membros do grupo, já que isso traz consequências aversivas para a própria agência governamental, desestabilizando-a. Para isso, a técnica mais comumente usada é simplesmente punir as formas ilegais do comportamento. As práticas usadas pelo governo são, em sua maioria, coercitivas. O que mantém grande parte dos governos é seu poder de punição. No governo organizado de um Estado moderno a tarefa específica da punição é atribuída a grupos especiais como a polícia e os militares. O poder derivado do consentimento do governado também determina a composição da agência, isto é, quando um indivíduo, um partido ou a máquina política induz o grupo a atribuir-lhe poder governamental e, uma vez na posição, deve mantê-lo e assegurar sua sustentação. O consentimento do governado provém da congruência entre o controle governamental e o controle ético, o qual consiste na classificação de determinados comportamentos como "bons" ou "ruins" e a punição ou reforçamento de acordo. A punição, como procedimento básico de controle governamental, parece mais evidente no caso de ditaduras declaradas. Entretanto, isso também se mostra verdadeiro para os governos democráticos que conhecemos, embora seja comum ouvirmos que o poder em uma democracia é delegado aos governantes pelo povo. Todos nós sabemos e sentimos na pele, que mesmo em governos chamados de democráticos é empregado largamente o poder de punição. Às vezes, o estabelecimento de punições em um governo dito democrático é feito de uma forma muito mais camuflada e inserida dentro de definições éticas e maniqueístas de "certo" e "errado". Num caso ou no outro, isto é, em governos mais autoritários ou mais democráticos, a preocupação desta agência controladora é impedir a ocorrência do comportamento "errado" ou "ilegal". Normalmente as pessoas identificam apenas o poder coercitivo quando se trata de apresentação de estímulos aversivos, tais como agressões físicas, torturas e maus tratos, trabalhos forçados, humilhações morais, prisão para averiguação de culpa, intimações para depor na política ou responder a processo judicial e assim por diante. No entanto, Skinner ressalta muito bem que as punições governamentais também podem ocorrer pela remoção de reforçadores positivos, tais como aplicação de multas, confisco de bens, desconto do repouso remunerado no salário, destituição de algum cargo ou emprego, taxando-o com impostos punitivos ou privando-o do contato com a sociedade através do encarceramento, e assim por diante. Embora a agência governamental esteja comprometida principalmente com o uso de procedimentos punitivos, outras técnicas de controle, baseadas em princípio de reforço positivo, são empregadas, mas com pouca frequência, ou seja, o reforçamento positivo é raramente utilizado pelo governo. Um exemplo deste fato é o subsídio governamental de produção agrícola de interesse do governo. Outro exemplo de reforçador positivo é a loteria onde há o emprego do dinheiro no controle do comportamento das pessoas sem poder. Assim, fica parecendo que a agência não exerceu nenhuma pressão controlada, mas realmente exerceu! Uma interpretação da punição apela para processos comportamentais construtivos, onde se diz que o homem é punido para que seja menos provável que se comporte mal no futuro e para que os outros sejam desencorajados de comportamentos semelhantes. No entanto, hoje, geralmente se reconhece que a punição é ineficaz como um meio de tornar o comportamento menos provável. Diz-se que o indivíduo é afetado quando testemunha a punição de outros, ou seja, um homem que observou um comportamento ilegal e a punição a ele contingente pode precaver-se contra esse comportamento e impedir que outros se comportem dessa maneira. Assim fazendo, dá apoio ao controle governamental. No entanto, é raro que um indivíduo testemunhe tanto o comportamento quanto a punição de outra pessoa. Outra técnica controladora geralmente associada com a ênfase na punição é o estabelecimento do comportamento obediente. O indivíduo controlado é obediente aos mandamentos da agência e se comporta em conformidade com seus procedimentos controladores. Para tal é utilizado o comando verbal. O comando verbal é um aspecto familiar, onde se coloca um repertório selecionado das respostas sob o controle de estímulos verbais apropriados, que podem então ser usados para regular ou coordenar o comportamento dos membros de um grupo. Por exemplo: Um civil exibe um repertório adequado quando obedece aos sinais de trânsito ou a um guarda. Por isso, o efeito da contingência expressa em uma lei, geralmente se dá por processos verbais complexos. A própria lei é um recurso verbal. Um código sustenta o comportamento verbal que preenche as lacunas entre aspectos de punição e o comportamento de outros. A lei é a codificação dos procedimentos controladores da agência governamental. Geralmente a lei tem 02 aspectos importantes: - Especifica o comportamento - Dá a entender certa consequência, usualmente a punição. A lei, então, é o enunciado de uma contingência de reforço mantida por uma agência governamental. Ela é tanto descrição de procedimento passado como garantia de procedimento semelhante no futuro. Uma lei é uma regra de conduta no sentido de que especifica as consequências de certas ações que por seu turno regem o comportamento. As leis estabelecidas pelos governos descrevem certas ações como "certas" ou “legais” e outras como "erradas" ou “ilegais”. As erradas têm tal classificação por serem aversivas para a agência ou para outra pessoa. Normalmente, a ênfase é dada ao comportamento ilegal por meio de punição, a qual gera estímulos aversivos condicionados ("sentimento de culpa") que propiciam reforçamento negativo de respostas incompatíveis com o comportamento ilegal. Além de classificar, as leis estabelecem consequências para certos comportamentos, de modo a controlá-los. A agência governamental pode codificar suas práticas controladoras e manter as contingências assim estabelecidas, mas raramente tenta tornar o código eficiente de outra maneira qualquer. O indivíduo é afetado diretamente por apenas uma pequena fração das contingências predominantes e a agência governamental deixa o condicionamento de fato do indivíduo a outros. Pais e amigos estabelecem contingências menores que mantêm o comportamento dentro dos limites legais, e a função governamental restringe-se a punição caso este condicionamento não tiver sido eficiente. O papel governamental pode ser também ativamente apoiado por instituições educacionais e religiosas, cada qual com suas técnicas apropriadas. O controle educacional do comportamento legal é outra técnica alternativa como a ser utilizada. Induzir através da coerção não é tão eficaz quanto através de recursos educacionais. Técnicas educacionais são úteis na prevenção do comportamento ilegal e se está começando a aplica-las com crimes menores, como por exemplo, educação no trânsito, onde os programas educacionais que mostram as contingências entre dirigir negligentemente e suas consequências (mortes / desastres) em longo prazo são mais eficientes que um programa de detenções e multas. As variáveis nos campos do condicionamento respondente, motivação e emoção são dispostas de modo a aumentar a disposição para obediência. Infelizmente as técnicas educacionais no campo do governo são mais representadas pela propaganda, em que variáveis são manipuladas visando a um efeito disfarçado e, muitas vezes de um modo aversivo para muita gente. Um governo que zela pelos direitos humanos tem maior probabilidade de reforçar o comportamento de apoio a ele por parte dos governados. Acima de tudo, os governos devem ser capazes de promover os direitos humanos como justiça, liberdade e segurança, pois estes funcionam como contracontrole dos governados, limitação do poder da agência e que, ao mesmo tempo, justificam (e este ponto é de extrema relevância) a sua existência. Dentre os direitos humanos, a justiça é entendida, por Skinner, como o ótimo balanceamento de consequências aversivas e reforçadoras. É a punição que é administrada com justiça e um governo maximiza a justiça quando tem sucesso no balanceamento de consequências aversivas. A segurança consiste no ajuste do meio ambiente para se impedir a ocorrência de eventos aversivos, ou seja, o seguro contra a miséria, a violência, a fome, o frio, a doença, etc significa segurança contra os eventos aversivos. Um governo aumenta a segurança arranjando um ambiente no qual muitas consequências aversivas comuns não ocorram e no qual as consequências positivas sejam facilmente alcançadas. Esse governo naturalmente reforça o comportamento de apoiá-lo. Liberdade do governo é liberdade de consequências aversivas. A liberdade, em questão, não é entendida como ausência de controle, mas como pouca ou nenhuma existência de consequências aversivas. Sob um governo que controla por meio de reforçamento positivo, os cidadãos se sentem livres, apesar de não serem menos controlados nem mais autônomos. O governo que fizer menos uso de seu poder de punir será o que mais provavelmente reforça o comportamento da população de mantê-lo. Na realidade, direitos como justiça, liberdade e segurança são recursos para explicar o contracontrole exercido pelo governado. O homem tem os seus direitos no sentido de que fica limitado o poder que tem a agência governante de controla-lo. O indivíduo defende esses direitos junto com outros cidadãos quando resiste ao controle governamental. Na agência governamental, caso um indivíduo seja livre do controle positivo ou negativo do governo, surge, paradoxalmente, a ideia de irresponsabilidade. A responsabilidade é vista aqui como controlabilidade. Se não há possibilidade de estar sob controle, não há responsabilidade pelos próprios atos. Governos compelem obediência a autoridade, isto é, tratam as pessoas aversivamente, punindo-as quando elas se comportam mal e relaxando a ameaça de punição quando se comportam bem. Quando o controle é excessivo, os governados podem impor um tipo de contracontrole sobre o poder de punir dos governos, por meio de revoltas, greves, golpes, revoluções, boicotes, violência, protestos e terrorismo. Desse modo, há um equilíbrio entre controle e contracontrole e, com isso, o governo tem o consentimento dos governados. Quando delegamos o controle das pessoas a instituições políticas, renunciamos ao controle face-a-face de um governo igualitário "das pessoas pelas pessoas" e é um equívoco pensar que o recuperaremos por meio do contracontrole exercido com relação a essas instituições. Prevenir o mal uso do poder pelos seus representantes é somente uma forma mais amena de luta pela liberdade contra a tirania. A concentração do poder em uma agência merece objeção não apenas porque esse poder é caracteristicamente mal utilizado e dispendioso, mas também porque destrói os contatos interpessoais, fundamentais para o controle face-a-face e, logo, para o governo "das pessoas pelas pessoas". EDUCAÇÃO Tradicionalmente se diz, a respeito da educação, que ela maximiza o conhecimento, normalmente entendido como uma entidade abstrata e, portanto, de difícil definição. Entretanto, Skinner define conhecimento como repertório comportamental estabelecido na escola para uso futuro do educando. Ao fazer referência à Educação, Skinner afirma que "Educação é o estabelecimento de comportamento que seja vantajoso para o indivíduo e para os outros em um tempo futuro." Nesta conceituação, três pontos serão destacados: o primeiro aspecto, e talvez o mais comumente aceito no meio educacional, a se destacar é o de que educar envolve a atuação de alguém em relação a outrem. O segundo aspecto refere-se ao fato de que o comportamento a ser estabelecido deve ser vantajoso não apenas para o indivíduo alvo da ação educativa, mas também, nas palavras de Skinner, para outros indivíduos. Finalmente, o terceiro aspecto refere-se ao fato de que educar implica atuação temporal dos agentes educativos ocorrendo no presente para o estabelecimento de comportamento que ultrapasse este limite temporal, já que deve ser vantajoso em um tempo futuro. Na educação, a punição não é mais tão deliberadamente usada como já o foi. Buscamse reforçadores artificiais (promoções, medalhas, boas notas, diplomas, todos associados ao reforço generalizado da aprovação) para respostas que serão vantajosas para o indivíduo ou para os outros no futuro. Do ponto de vista de Skinner existem várias deficiências notáveis em nossos atuais métodos de ensino: um dos grandes problemas do ensino, diz Skinner é o uso do controle aversivo. Embora nenhuma escola use atualmente punição física, em geral houve mudanças para medidas não corporais como ridículo, repreensão, sarcasmo, crítica, lição de casa adicional, trabalhos forçados e retiradas de privilégios. Exames são usados como ameaça e são destinados principalmente a mostrar o que o estudante não sabe e coagi-lo a estudar. O estudante passa grande parte do seu dia fazendo coisas que não deseja fazer e para as quais não há reforços positivos. Em consequência, ele trabalha principalmente para fugir de estimulação aversiva. Faz o que tem a fazer porque o professor detém o poder e autoridade, mas, com o tempo o estudante descobre outros meios de fugir. Ele chega atrasado ou falta, não presta atenção (retirando assim reforçadores do professor), devaneia ou fica se mexendo, esquece o que aprendeu, pode tornar-se agressivo e recusar a obedecer, pode abandonar os estudos quando adquire o direito legal de fazê-lo. Skinner acredita que os Professores, em sua maioria, são humanos e não desejam usar controles aversivos. As técnicas aversivas continuam sendo usadas, com toda probabilidade, porque não foram desenvolvidas alternativas eficazes. As crianças aprendem sem ser ensinadas diz Skinner porque estão naturalmente interessadas em algumas atividades e aprendem sozinhas. Por esta razão, alguns educadores preconizam o emprego do método de descoberta. Mas diz Skinner, descoberta não é solução para o problema de educação. Para ser forte uma cultura precisa transmitir-se; precisa dar as crianças seu acúmulo de conhecimento, aptidões e práticas sociais e éticas. A instituição de educação foi estabelecida para servir a esse propósito. Para Skinner a aplicação de seus métodos à educação é simples e direta. Ensinar é simplesmente o arranjo de contingências de reforço sob as quais estudantes aprendem. Tecnicamente falando, o que está faltando na sala de aula, diz Skinner, é o reforço positivo. Estudantes não aprendem simplesmente quando alguma coisa lhes é mostrada ou contada. Em suas vidas cotidianas, eles se comportam e aprendem por causa das consequências de seus atos. As crianças lembram, porque foram reforçadas para lembrar o que viram ou ouviram. Para Skinner, a escola está interessada em transmitir a criança grande número de respostas. A primeira tarefa é modelar as respostas, mas a tarefa principal é colocar o comportamento sob numerosas espécies de controle de estímulo. Para tornar o estudante competente em qualquer área de matéria, deve-se dividir o material em passos muito pequenos. Os reforços devem ser contingentes a cada passo da conclusão satisfatória, pois os reforços ocorrem frequentemente, quando cada passo sucessivo no esquema, for o menor possível. Na sala de aulas tradicional, as contingências de reforço mais eficiente para controlar o estudante, provavelmente estão além das capacidades de um professor. Por isso, sustenta Skinner, aparelhos mecânicos e elétricos devem ser usados para maior aquisição e também instrução programada. Pode-se afirmar que Skinner propõe, enquanto projeto educacional, formar os alunos para o auto governo intelectual, e isto é possível se os agentes educacionais tiverem como foco de atuação planejada o desenvolvimento de comportamentos preliminares. Quando discute o ensino direto dos comportamentos preliminares, o autor defende que isto é possível arranjando contingências de reforço apropriadas; identificar as contingências que são apropriadas para o ensino destes comportamentos é o trabalho a ser realizado por educadores interessados em ensinar a pensar. A instituição educacional faz mais do que simplesmente comunicar conhecimento, ela deve ensinar o aluno a pensar, estabelecer um repertório especial que tem como efeito a manipulação de variáveis as quais encorajam o surgimento de soluções para problemas. Tal prática é essencial para preparar o indivíduo para ocasiões futuras. O reforço educacional faz certas respostas se tornarem mais prováveis sob certas circunstâncias. Para isso, operantes são postos sob controle de estímulos que provavelmente ocorrerão nessas circunstâncias. Apesar de tudo, o controle aversivo permanece sob forma de ameaça de retirada de aprovação ou afeição. O repertório a ser estabelecido pela educação não pode se opor aos interesses das agências a que ela está vinculada. Tal repertório é predeterminado por um currículo. A educação, como extensão de atividades de outras agências, estabelece repertório comportamental no indivíduo para uso futuro. Tal repertório deve estar de acordo com os interesses das agências a que a educação está vinculada. Por isso mesmo, ela é fundamental. RELIGIÃO No controle religioso, o comportamento verbal estabelece a ligação entre eventos acidentais e certas respostas, propiciando o comportamento supersticioso, básico para esse tipo de controle. Por meio de processos verbais, relaciona-se uma consequência (que não é necessariamente relacionada) punitiva ou reforçadora a determinada resposta do indivíduo. Essa conexão é estabelecida pela agência, afirmando-se sua conexão com o sobrenatural. Os comportamentos são classificados em virtuosos ou pecaminosos e punidos de acordo. Estímulos aversivos condicionados (relacionados, em geral, com a descrição do Inferno) são evitados pelo comportamento virtuoso. Comportamento pecaminoso é punido com ameaça do Inferno e da perda do Paraíso. As instituições religiosas não se limitam à modelagem por contingências, mas utilizam regras para garantir que certos comportamentos sejam repetidos ao longo dos anos pelos fiéis que as frequentam e para evitar que comportamentos inadequados sejam adquiridos. Portanto, nem só de promessas vivem as Igrejas, mas também de ameaças e, em consequência, do medo dos fiéis, que os impele ao cumprimento das regras. O medo dos fiéis poderia assim ser traduzido: “se eu fizer algo que a Igreja me impede de fazer, um terrível infortúnio me sucederá; então, é mais vantajoso que eu antes não o faça, prefiro obedecê-la”. Não podemos deixar de notar o tipo de controle exercido pelas Igrejas. É um controle que envolve punição e reforçamento negativo com muito mais frequência que o reforçamento positivo; portanto, são agências nas quais a coerção predomina. Era de se esperar, contudo, que as religiões organizadas não se fizessem valer de coerção, pois todas se designam fomentadoras da bondade e do amor, mas o que vemos, na prática, é a utilização das mais variadas regras restritivas e de ameaças de perpetuação do sofrimento após a morte, entre outras formas de coerção. O pecado é punido de modo a gerar uma condição aversiva da qual se foge com expiação e absolvição. São manipuladas condições ambientais com a finalidade de evitar o pecado e favorecer comportamentos virtuosos. Além disso, por meio de condicionamento respondente, respostas emocionais dos rituais são transferidas para outros estímulos a serem usados com propósito de controle pela agência. Há também, nas igrejas, aquilo que nós chamamos de aprendizagem vicária: as igrejas possuem uma infinidade dos chamados exemplos de vida, pessoas santificadas que emitiram comportamentos considerados muito bons, como proclamar o amor a Deus e distribuir todos os seus pertences para os pobres, assim, os fiéis tentam imitar tais comportamentos exemplares. É verdade que dificilmente alguém consegue adquirir todos esses comportamentos quase sobre-humanos; as hagiografias estão comumente repletas de todos os tipos de privações e superações de punições positivas, assim a Igreja pode justificar a santificação desses homens e a contemplação dirigida a eles. Esses exemplos de homens extraordinários, como o próprio Cristo, são elevados a um patamar de adoração e admiração. Dessa forma, espera-se que o fiel queira, para si, a glorificação e o prestígio que esses homens conseguiram tão somente após a morte, já que a vida deles nos é, de fato, muito pouco atrativa. Obviamente, a Igreja precisa contar com outras formas de modificação de comportamentos, pois o prestígio post mortem dificilmente dá razão suficiente a uma vida tão árdua. Quando as instituições religiosas exercem um controle coercitivo quase ilimitado, os indivíduos por ela controlados podem ser reforçados negativamente, de tal forma que passam a exercer um contracontrole. Isso significa que, em longo prazo, o controle surtiu um efeito negativo e não previsto, pois o contracontrole age, sobretudo, sob a forma do desligamento definitivo da instituição (Skinner, 1974). A Igreja Católica Romana, por exemplo, percebeu esse contracontrole, e o que se vê, hoje em dia, são as tentativas desesperadas para angariar novos fiéis e recuperar os que a abandonaram. A coerção infligida por tantos anos, ao longo de sua história, teve de ser revista, e a Igreja percebeu que perderia cada vez mais fiéis se continuasse adotando uma postura punitiva ao invés de se dedicar mais ao reforçamento do comportamento religioso para evitar a saída de fiéis e a mudança de parte destes para outras religiões concorrentes (Skinner, 1989). Percebeu que um fiel tanto mais permanece espontaneamente ligado a uma Igreja quanto mais reforçadora esta for; a ameaça de punição pelo abandono das práticas religiosas é muito menos eficaz, e os comportamentos ditos religiosos, quando não suficientemente reforçados, tendem a se extinguir. É inegável o fato de que a religião atribui aos seres humanos um poder irreal, o chamado livre-arbítrio, tornando-os senhores de si. Mas os homens pagam um preço elevado por tal atribuição quando se culpam terrivelmente por todas as decisões que julgam posteriormente terem sido tomadas inadequadamente. É uma postura cômoda da religião, pois a ela cabe o julgamento, e, aos homens, toda a responsabilidade por suas decisões. Não se pode garantir que uma ciência do comportamento salve as almas, mas pode-se asseverar que ela permite ao homem o conhecimento de seu potencial, sem que precise apelar para ideias ilusórias de iniciativa e liberdade (Skinner, 1971/1974). O homem é controlado pelo ambiente e, como vimos, também pelos ditames religiosos, que integram seu ambiente social. Portanto, é uma perda de tempo bendizê-lo ou amaldiçoá-lo por todas as suas ações e pensamentos. Nenhum comportamento surge ao acaso, e o livre-arbítrio, portanto, não deixa também de ser uma ideia enganosa, e sustentada pela religião, pois assim pode imbuir seus fiéis de sentimento de culpa e abster-se de responsabilidades e do reconhecimento das verdadeiras origens das atitudes pecaminosas. Se a religião se presta ao serviço de buscar essas origens, ela deverá não apenas buscar, na história desses pecadores as verdadeiras circunstâncias que fizeram essas atitudes serem qualificadas como pecados (Skinner, 1971/1974), mas também rever todas as suas medidas e práticas punitivas, porém certamente, para uma revolução desse porte, a religião se mostrará muito pouco disposta. CULTURA Cultura, para Skinner, é definida como o conjunto de contingências de reforço organizadas e mantidas por um grupo social (SKINNER, 1999). A cultura, vista como um completo sistema social, no qual algumas contingências são mantidas por indivíduos e outras por instituições, recobre todas as outras agências, como o governo, a religião e a educação. O meio social só existe por causa do que as pessoas fazem por e para as outras pessoas. As espécies criaram um mundo em que algumas de suas suscetibilidades genéticas a reforçamento estão ultrapassadas. Por exemplo, fazer sexo é extremamente reforçador, mas em um mundo em que há o perigo da superpopulação, a procriação pode trazer consequências aversivas em longo prazo e prejudiciais ao grupo. Então, é papel da cultura selecionar práticas que favoreçam a sobrevivência do grupo. Aqui está o principal problema da Ética: o conflito entre consequências imediatas e consequências remotas. Em sua análise sobre a cultura atual, Skinner destaca alguns problemas: o uso de controle aversivo, a não equanimidade de reforçamento positivo, as noções de liberdade e livre arbítrio, o controle exercido por regras, a delegação de poder e a perda de relações interpessoais, o reforçamento não contingente a certos comportamentos. É a mistura destes elementos que coloca em risco a cultura hoje. Segundo Skinner o futuro da humanidade é incerto, e precisamos fazer algo sobre isso, porém o futuro não tem efeito direto sobre nossas ações. Não agimos por causa de um propósito ou de um objetivo para o futuro, mas sim porque, no passado, certos comportamentos foram selecionados devido a suas consequências. Assim, há outra forma de seleção que supre de certa forma tal deficiência: a cultura. As práticas culturais evoluem quando novas práticas são selecionadas por sua contribuição para a sobrevivência do grupo. Nesse ponto, o autor deixa claro seu conceito de o que seria uma cultura mais evoluída: aquela cujas práticas selecionadas beneficiam o grupo como um todo, e não apenas uma parte dele. É uma cultura para o todo e não para o indivíduo, embora ele possua bastante poder no controle face-a-face. Porém, é difícil o estabelecimento de práticas cujas consequências a curto prazo são pouco reforçadoras ou até mesmo aversivas para o indivíduo mas cujas consequências remotas, distantes, são benéficas para o grupo. Este é um problema ético, pois há um conflito entre consequências imediatas e remotas. As culturas devem ajudar a resolver o problema arranjando consequências imediatas que poderiam ter o mesmo efeito que as consequências remotas teriam. Um impulso para o futuro significa dizer, uma cultura caracterizada por uma maleabilidade que permita a uma sociedade identificar e solucionar seus problemas, ser criativa e produtiva nesta busca de soluções e mesmo ser capaz de antever seu futuro planejando-o com vistas a sua sobrevivência, de acordo com padrões dados. INTEGRAÇÃO ENTRE AS AGÊNCIAS DE CONTROLE Frequentemente uma agência opera em consonância com o controle exercido por outras agências ou pelo grupo ético, utilizando suas práticas. A classificação dada pelo grupo ético a alguns comportamentos pode ser utilizada de maneira semelhante pelo governo, pela religião ou pela educação. O que a ética chama de bom e ruim, o governo classifica como legal e ilegal, a religião denomina virtuoso e pecaminoso e a educação usa termos como certo e errado. A interação entre as agências é comum. Pode-se perceber que a educação não usa sua prática com o fim exclusivo de manter a si própria, mas de dar suporte a outras agências. O que reforça o comportamento de controlar dos membros dessa agência não é a manutenção da agência apenas, mas a manutenção de outras agências. Compreende-se, então, a divisão das agências em dois grupos: religião e governo X educação. Tendo, esta última a função mantenedora das outras, dando suporte às outras, enquanto que as primeiras podem ser consideradas, politicamente, como as agências mais organizadas da sociedade, delimitadas mais nitidamente e que se sobrepõem (no sentido de compartilharem práticas de controle e membros do grupo) e interagem frequentemente para manter o poder. Considerando-se os intercâmbios entre as agências, uma delas se destaca. Em nossa sociedade, o governo é a única agência que tem o poder de controlar, de alguma forma, todas as outras. O governo com suas leis tem o poder de interferir tanto nas práticas religiosas, nas práticas educacionais e na cultura. Muitas vezes o poder da agência governamental é simples força física, no entanto, o poder maior da agência governamental pode ser de natureza diferente, baseado em outras agências controladoras como a educação e a religião, por exemplo. CONTRACONTROLE Skinner (1982) observa que, se o indivíduo tomar consciência de todo o processo de controle que está ocorrendo, ou seja, se for capaz de analisar as contingências envolvidas na situação, ele será capaz de exercer o contracontrole: O contracontrole acontece quando os controlados passam a agir, ou seja, quando as agências controladoras exercem um controle coercitivo quase ilimitado, os indivíduos por ela controlados podem ser reforçados negativamente, de tal forma que passam a exercer um contracontrole. Isso significa que, em longo prazo, o controle surtiu um efeito negativo e não previsto. "O contracontrole ocorre quando os controlados escapam ao controlador, pondo-se fora do seu alcance, se for uma pessoa; deserdando de um governo; apostasiando de uma religião; demitindo-se ou mandriando - ou então atacam a fim de enfraquecer ou destruir o poder controlador, como numa revolução, numa reforma, numa greve ou num protesto estudantil. Em outras palavras, eles se opõem ao controle com contracontrole". Na verdade, o contracontrole também possui um poder muito forte. O contracontrole perpetua a agência por estabilizá-la, ao impedir o abuso do poder. Desse modo, há um equilíbrio entre controle e contracontrole e, com isso, o governo tem o consentimento dos governados. O contracontrole em cada uma das agências se estabelece, ou por outras agências, ou pelos controlados. Ao mesmo tempo que limita, o contracontrole perpetua o poder da agência. São inegáveis os prejuízos decorrentes do controle abusivo, o qual, pelo próprio "esgotamento" do controlado, tenderia a se findar. Consequentemente, um certo controle sobre o agente controlador tem como função impedir esse "esgotamento" do controlado, possibilitando, dessa forma, a perpetuação da agência. No governo, isso ocorre por meio das leis, isto é, as leis também servem para que os governados exerçam contracontrole sobre a agência. A agência religiosa sofre oposição da educação e de seus controlados. O contracontrole na educação é exercido por outra agência como o governo por meio do estabelecimento de um currículo escolar a ser seguido pelos educadores. REFORÇAMENTO POSITIVO X CONTROLE AVERSIVO Skinner (1983), afirma que, "infelizmente, nós chegamos à conclusão de que todo controle é errado, que é algo de que devemos fugir. Nós não reconhecemos o fato de que nós também somos controlados quando fazemos o que queremos, quando nos sentimos livres". Skinner enfatiza que o reforçamento positivo se diferencia do controle aversivo pelo fato de que o último produz esquiva ou fuga, o que não ocorre no caso do primeiro. Nas situações em que o reforçamento positivo está presente, emerge, então, o chamado "sentimento de liberdade" (uma espécie de "conforto interior"), mas a ênfase neste "sentimento" tende a obscurecer o mais importante a ser observado: o tipo de controle produzido. Sobre este problema, afirma Skinner: O fato importante não é que nos sentimos livres quando somos reforçados positivamente, mas que nós não tendemos a fugir ou contra-atacar. Sentir-se livre é um importante indicador de um tipo de controle que se distingue pelo fato de que não produz contracontrole. CONCLUSÃO Geralmente, pessoas mal informadas acerca da teoria behaviorista, de um modo geral, acreditam que Skinner e o Behaviorismo visam "controlar" ao máximo: o mundo, as pessoas, os ratos, etc. Na verdade, Skinner passou a maior parte de sua vida fazendo "análise do comportamento" e essa sua caminhada mostra a necessidade não de "controlar", mas de saber sobre os controles existentes, ter consciência acerca dos inúmeros tipos de poder em nossa sociedade e, sobretudo, ter capacidade de exercer o contracontrole. Sobre o controle Skinner diz: "Há certamente o perigo de que, no planejamento de uma cultura, as vidas das pessoas sejam controladas sem que elas percebam, e é por isso que eu passo tanto tempo explicando como as pessoas podem ser controladas...” "Eu quero que todo mundo saiba como é controlado". Skinner repete isso de forma exaustiva em diversos artigos e livros de sua autoria, mas parece que as pessoas têm medo de sua própria consciência acerca desse poder e controle, e da consequente responsabilidade e necessidade de exercitar seu contracontrole. Para Skinner seu principal ideal está na formação de uma cultura em que seus membros mantêm fortes relações interpessoais garantindo assim um controle maior por contingências de reforçamento do que por regras mediadas por instituições sociais. São todos envolvidos na produção efetiva dos bens que necessitam, com acesso contínuo, imediato e equitativo a estes bens e reforçamento contingente a seu comportamento produtivo; impedindo assim não apenas a exploração de uns pelos outros, mas também dificultando a passividade típica dos indivíduos que obtêm muitos reforçadores independentes de seu comportamento. Não estão sujeitos a praticamente nenhuma forma de controle aversivo, impedindo a distribuição não igualitária de bens ou de poder entre membros do grupo e diminuindo enormemente a chance de contracontrole, comportamento agressivo, ansiedade e medo. Como consequência, os indivíduos sentem-se livres e não desenvolvem ideologias e mitos que impeçam o auto conhecimento e o auto controle o que, em contra partida, dificulta o conhecimento (e consequente possibilidade de previsão e controle) das relações entre sua ação e o ambiente. Uma cultura desenvolvida sobre estas bases geraria tecnologia que tende a libertar os indivíduos de trabalhos desagradáveis e repetitivos, tende a garantir tempo que pode ser produtivamente utilizado em outras atividades e gera um repertório de exploração do mundo e das capacidades humanas que torna o grupo maleável a mudanças, suscetível a transformações e capaz de enfrentar dificuldades. A tese de Skinner é a afirmação da possibilidade de se estabelecer um governo próximo ao ideal (qual seja, o governo "das pessoas pelas pessoas") através da modificação do comportamento, neste contexto interpretada como mudança comportamental por meio de reforçamento positivo. O controle aversivo, geralmente utilizado, seria substituído por alternativas não punitivas, por um governo igualitário, com o controle face-a-face, onde todos possuíssem essencialmente o mesmo poder e não houvesse agências de controle. Tendo em vista a abrangência da cultura, tal proposta somente poderia ser efetivada nesse nível, o nível cultural. Um meio ambiente social pode funcionar sem a ajuda de legisladores ou empresários e é mais claramente um governo "das pessoas pelas pessoas" quando isso ocorre. Há princípios comportamentais no estabelecimento do controle das pessoas pelas pessoas. O primeiro é a substituição do controle aversivo por reforçamento positivo. Um segundo é evitar reforçadores artificiais, pois os reforçadores naturais são mais eficientes na modelação e manutenção do comportamento. Um terceiro princípio estabelece que comportamento que consiste em seguir regras é inferior ao comportamento modelado pelas contingências descritas nas regras. Dessa forma, nosso comportamento é mais sensível às contingências mantidas pelas pessoas quando somos diretamente censurados ou aprovados. Em última análise, é a cultura em evolução que controla o controlador. Uma cultura prepara seus membros para suas contingências. As pessoas agem para aperfeiçoar práticas culturais quando o ambiente social induz a isso. Culturas com esse efeito e que apóiam ciências relevantes têm mais probabilidade de resolver seus problemas e sobreviver. O uso mais amplo de reforçamento positivo é uma alternativa para se estabelecer um governo "para as pessoas", pois o "sentimento de liberdade", o gostar do que faz, o sentimento de felicidade são produtos do reforçamento positivo e estão entre os objetivos de tal tipo de governo. O governo "das pessoas pelas pessoas" seria aquele em que não se comporta como se deve, mas como se quer. Este sentimento de liberdade é produto do reforçamento positivo. No governo "das pessoas pelas pessoas", os indivíduos teriam autocontrole, apresentariam senso moral e ético, ou seja, seguiriam as regras da cultura, do meio social sem necessidade de supervisão. Tal fenômeno é possível somente quando todos possuem essencialmente o mesmo poder. Se houver alguma agência de controle, mesmo que haja contracontrole, não é possível uma sociedade verdadeiramente igualitária. O controle face-a-face de um governo justo, eqüitativo, é perdido com as agências de controle, devido à destruição dos contato interpessoais. A Ética de Skinner aponta a sobrevivência da cultura do grupo. A proposta é de uma cultura cooperativa a longo prazo, na qual uma “vida boa” não é ter o que se precisa, mas onde o que se precisa figura como reforçador em contingências efetivas. Isso seria uma “cultura auto-sustentável”, em que seria possível o controle face-a-face. Talvez a única esperança seja construir uma nova cultura desde o início. Mais do que esperar por variações e seleções das práticas culturais que resolvessem nossos problemas, poderíamos planejar um modo de vida o qual nos desse mais chances para um futuro; planejar comportamentos individuais benéficos para o futuro do grupo. A análise experimental do comportamento é a ciência necessária para se planejar um mundo no qual os fracassos da evolução seriam corrigidos. Seria um mundo em que as pessoas se tratassem bem, não devido a sanções de governos ou religiões, mas por causa das consequências imediatas face-a-face. Em que não houvesse consumo excessivo, ou outros comportamentos ruins para o futuro da humanidade. Certamente, tal proposta encontraria objeções das instituições que ela pretende substituir. Neste momento, o autor interpreta essas objeções como verdadeiros obstáculos à sua proposta, que é extremamente radical. Sim, radical, pois se não houvesse alterações nas “raízes” das instituições sociais, nas agências de controle (diria, aliás, se não fossem arrancadas pelas raízes), sua proposta não seria implementada. Além do mais, seu modo de implementação seria impossível por meio de reformas, pois encontrariam forte resistência tanto dos controladores como dos controlados. Construir uma nova cultura do começo parece ser a única esperança. Mas isso é menos viável ainda. Reforma não resolve muito e revolução não é possível. Então, embora Skinner pareça um tanto pessimista, no final de sua vida, quanto ao nosso futuro, ainda restava a esperança de que a análise aplicada do comportamento fosse a redenção para a humanidade; acabasse com as agências de controle, as quais, com suas práticas, nos condenam a um fim não muito distante. A única agência cuja existência suas propostas permitiriam é a educação, mas ela não seria do modo como é hoje, pois apoiaria práticas culturais que garantissem o futuro da espécie humana. REFERÊNCIAS: ABIB, J.A.D. Teoria moral de Skinner e desenvolvimento humano. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001, 14(1), pp.107-117. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v14n1/5211. pdf>. Acesso em: 03 out. 2011. ANDERY, M.A. Uma sociedade voltada para o futuro. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-389X1993000200004&script=sci_arttext>. Acesso em: 17 out. 2011. BEZERRA, M.S.L. Questões preliminares sobre política em B. F. Skinner. 2003. 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