silvana izabel de oliveira - CEAPSMG

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FACULDADE CIÊNCIAS DA VIDA - FCV
CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA
SILVANA IZABEL DE OLIVEIRA
VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA AFETANDO RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS
SETE LAGOAS
2011
SILVANA IZABEL DE OLIVEIRA
VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA AFETANDO RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS
Monografia apresentada como exigência para
obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia, do
Curso de Psicologia, ministrado pela Faculdade
Ciências da Vida - FCV, sob orientação da professora
Rosália Campolina.
SETE LAGOAS
2011
VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA AFETANDO RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS
SILVANA IZABEL DE OLIVEIRA
Este trabalho de Conclusão de Curso foi submetido ao processo de avaliação pela
Banca Examinadora para obtenção do Título de:
Bacharel em Psicologia
E aprovada na sua versão final em ___ de ____________________ de 2011,
atendendo às normas de legislação vigente da FACULDADE Ciências da Vida e
Coordenação do Curso de Bacharel em Psicologia.
___________________________
Fernanda Dupin Gaspar
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________
Presidente: Rozália Ribeiro Moreira Campolina
__________________________________
Membro: Tathiana Martins Carvalho
__________________________________
Membro: Márcia Campos de Arruda Lamego
__________________________________
Membro: Laura Freire Andrade
RESUMO
Esta pesquisa objetivou averiguar a violência sexual na infância afetando relações interpessoais
futuras. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa para
análise da violência sexual como interferência no desenvolvimento infantil da criança, existência de
problemas nas relações interpessoais, relação entre violência sexual infantil e alterações de
comportamento quando adulto e o papel do psicólogo nesse contexto. Os resultados apontaram a
violência sexual na infância como o fator que levou a alterações cognitivas e psicossociais. A atuação
do psicólogo junto às vítimas através de terapias de grupo e atividades lúdicas tornou-se um fator
positivo para proteção das mesmas.
palavras-chave: Violência sexual infantil, relações interpessoais, crianças, Psicologia.
ABSTRACT
The research had the main goal to check the sexual infantile violence affecting interpersonal relations
in the future. The methodology used was bibliography research with qualitative approach to analyses
of sexual violence as interference in the infantile development of the child existence of problems in the
interpersonal relations between sexual infantile violence and alterations of behavior as an adult and
the role of the psychologist in this context. The results pointed the sexual violence in the childhood as
a factor that results in alterations cognitive and psychosocial. The psychologist’s performance to the
victims through therapies of group and play activities, became a positive factor to the protection of the
same.
KEYWORDS: sexual infantile violence, interpersonal relations, child, psychologist.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 07
1.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 09
1.2 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 10
1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 10
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 12
2.1 A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL COMO CAUSA DE INTERFERÊNCIA NO
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ........................................................................... 12
2.2 A EXISTÊNCIA DE PROBLEMAS NAS
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS DE CRIANÇAS VITIMADAS PELO ABUSO SEXUAL
NA
INFÂNCIA...................................................................................................................... 14
2.3 A RELAÇÃO ENTRE
VIOLÊNCIA SEXUAL
NA INFÂNCIA
E DESENVOLVIMENTO DE ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS EM AMBOS OS
SEXOS NA IDADE ADULTA ......................................................................................... 17
2.4 O PAPEL DO PSICOLÓGO JUNTO ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
SEXUAL ........................................................................................................................ 19
3 METODOLOGIA ........................................................................................................ 23
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .......................................................................... 23
3.2 UNIDADE DE ANÁLISE .......................................................................................... 24
3.3 COLETA DE DADOS .............................................................................................. 24
3.4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 24
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................... 25
4.1.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................. 25
4.1.1 A EXISTÊNCIA DE PROBLEMAS NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS DE CRIANÇAS VITIMADAS PELO ABUSO SEXUAL INFANTIL ................ 26
4.1.2
A
RELAÇÃO
ENTRE
VIOLÊNCIA
SEXUAL
NA
INFÂNCIA
E
DESENVOLVIMENTO DE ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS EM AMBOS OS
SEXOS NA IDADE ADULTA ......................................................................................... 28
4.1.3 O PAPEL DO PSICOLÓGO JUNTO ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
SEXUAL ....................................................................................................................... 29
4.2
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, IMPLICAÇÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES
PARA FUTUROS TRABALHOS .................................................................................. 33
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 33
5.2 IMPLICAÇÕES DO TRABALHO ............................................................................. 35
5.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................. 36
5.4 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ..................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 37
7
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa mostrar os diferentes ângulos quando se fala
sobre violência sexual infantil. Por ser um tema que vem sendo estudado há
décadas, no Brasil acometendo ambos os sexos, vindo afetar a vida da criança em
futuras relações interpessoais, além de danos psicológicos futuros. Segundo
Magagnin; Almeida (2000) essa agressão infantil não se restringe aos dias de hoje e
não predomina só em determinada classe, está inserida na nossa cultura e história
desde os primórdios. O abuso sexual é mais freqüente entre as classes menos
favorecidas, devido a dificuldades financeiras e onde os maiores números de
violência sexual infantil nessa classe é alimentado pela pobreza (JUNG, 2006).
Conceitua-se violência sexual como a violência no relacionamento sexual
sem consentimento do outro praticado por ente familiar ou pessoa desconhecida.
Inque; Istum (2008) em seu artigo relatam que em casos de violência sexual por
familiar da criança, se é quem sustenta a família, e o mesmo for denunciado, temese por aumentar ainda mais as dificuldades financeiras com a prisão e afastamento
do abusador. Conforme Furniss (1993), crianças e adolescentes atingidos pela
violência sexual tornam-se mais vulneráveis a fatores como drogas, prostituição,
doenças venéreas e ginecológicas, além de distúrbios diversos de ordem
psicossomáticos.
Sabe-se que a violência sexual sofrida na infância pode levar ao
desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na criança. Crianças abusadas se
tornam traumatizadas pela vida toda, porém só procuram ajuda psicológica quando
esses traumas atrapalham a sua vida adulta (PADILHA; GOMIDE, 2004). Para
Furnis (1993), os danos psicológicos causados pelo abuso se relacionam a sete
elementos que são: idade que foi iniciado o abuso, tempo deste abuso, violência
utilizada ou gestos de violência, idade maior do agressor sobre a da criança, relação
entre agressor e vítima, falta de proteção familiar, importância de guardar sigilo do
fato cometido.
Segundo Lima (2007) é comum crianças que foram violentadas sexualmente
ficarem amedrontadas e envergonhadas sobre o fato, atrapalhando o ritmo na
escola, em sua vida pessoal e de recreação. As mesmas podem permanecer em
silêncio para proteger, de alguma forma, o agressor por provocar com isso divisão
familiar ou medo de ser castigada pela culpa que não existe. Em estudo de
8
avaliação psicológica feito por Habigzang et al (2008), em crianças vítimas de abuso
sexual, demonstrou que alterações cognitivas como estresse após o trauma,
depressão e ansiedade são conseqüências do abuso sexual.
Com relação a crianças que foram vitimadas pelo abuso sexual na infância,
pesquisa realizada por Kristensen (1996) revela que meninos abusados têm como
primeira reação se tornar confuso em relação à sua própria orientação sexual.
Sebold (1987) em seu trabalho com indicadores relacionados ao abuso relata que
meninos abusados na infância têm maior potencial de ser abusador na vida adulta.
As meninas correm o risco de gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs) (BORGES; DELL´AGLIO, 2008) e por ser do sexo feminino
correm maior risco de se prostituirem.
Correm o risco de desenvolver alterações de comportamento na vida adulta,
crianças vitimadas de violência sexual, tais como transtorno de ansiedade, de humor
entre outros variados tipos de transtornos psicossomáticos (HABIGZANG;
CAMINHA, 2004). Borges; Dell´Aglio, (2008) referem que crianças abusadas
sexualmente, correm risco, no seu desenvolvimento por possibilidade de seqüelas
emocionais e de comportamento, tendo impactos no momento do abuso que
repercutem até na vida adulta.
O psicólogo entra nesse processo para interagir com crianças vitimadas
averiguando se houve mudanças comportamentais após a violência sexual de forma
a ajudá-lo a lidar com o trauma. Uma vez que a criança tenha se fortalecido no
aspecto emocional terá maior possibilidade de sair desse trauma agüentando os
problemas advindos dele, de forma a não se culpabilizar e encontrar saída desse
drama sofrido por uma via de escape que sublima o ato acontecido (AZEVEDO,
2001). Padilha; Gomide (2004) em seu estudo de análise terapêutica feito com
crianças vitimadas de abuso sexual relatou que, se houver uma exposição do fato
ocorrido de forma gradual realizada em grupos facilita para que o mesmo seja
revelado e expresse seus sentimentos e até mesmo aceitação desse abuso nessa
história vivida por elas.
No nível psicológico estudos voltados à violência sexual na infância são de
relevante importância tanto do ponto de vista social, quanto familiar e jurídico, por
ser ainda, nos dias de hoje, uma realidade chocante. Com relação à violência
sexual, esta ocorre em todas as camadas sociais, porém se destaca mais nas de
baixa renda pela condição vulnerável em que essas famílias vivem (MAGAGNIN E
9
ALMEIDA, 2000). Pode-se deduzir que se torna necessário os profissionais
conhecerem o contexto onde ocorrem estes fatos e colaborar na construção de novo
significado dessa história (MARRA; COSTA 2004).
A metodologia utilizada foi do tipo pesquisa bibliográfica por conter uma
vasta literatura sobre a violência sexual na infância que afeta relações interpessoais
futuras, sendo realizado um levantamento pertinente ao assunto. Foi utilizada, neste
estudo de pesquisa bibliográfica, a partir de trabalhos publicados, análise rigorosa
dos mesmos de forma a identificar e analisar informações pertinentes relacionadas
ao tema proposto.
Por ser de relevância social, o assunto pesquisado justifica-se para garantir
os direitos das crianças e adolescentes sujeitos a violência sexual seja nas relações
familiares ou não, porque o fato de serem agredidas na infância prejudica o
desenvolvimento psicológico das mesmas no futuro, se não forem tratadas. Segundo
Padilha; Gomide (2004) em seu estudo sobre meninas violentadas na infância,
adultas que foram abusadas sexualmente seja na infância e/ou na adolescência
ficam sequeladas emocionalmente em graus diferentes, sendo necessário trabalho
terapêutico para diminuir as seqüelas da violência. Acredita-se que com este estudo
seja despertado o interesse por este tema servindo de referencial para futuros
trabalhos.
1.1 JUSTIFICATIVA
Diante de um tema que acontece desde os primórdios e vem perdurando
através das gerações, comprova-se a importância do estudo sobre violência sexual
infantil na tentativa de procurar respostas, através de trabalhos realizados por outros
pesquisadores, a fim de entender o contexto relacionado à violência sexual contra
crianças. Essa violência praticada contra crianças, de uma maneira ampla, é
definida como: participar de sexo sem compatibilidade com a idade, sem
compreender ou dar consentimento, por imposição de adultos com o objetivo de
usar essas crianças só para satisfazerem-se sexualmente (JUNG, 2006). Essa
modalidade de violência acontece em todas as classes sociais, se manifestando
mais claramente nas mais pobres por serem mais vulneráveis.
Segundo Borges; Dell'Aglio, (2008) não existem muitos estudos feitos,
relacionados à famílias onde ocorre violência sexual, no meio acadêmico. E, pela
10
importância do tema pode vir a servir de ampliação do conhecimento e prover
material para intervir nesse meio. A revisão de literatura feita relacionada ao tema
em questão destina-se a contribuir e não se limitar apenas ao fato em si. Em estudo
sobre o perfil da violência contra crianças e adolescentes realizado por Costa et al
(2007) constatou-se que os números reais de crime de ordem sexual são pouco
conhecidos por serem subnotificados. Segundo os mesmos autores, há uma
mobilização no Brasil em várias áreas com objetivo de buscar parceiros na
elaboração de maneiras de intervir e prevenir a questão enfrentada, para cumprir os
princípios que foram assegurados no Estatuto das Crianças e Adolescentes (ECA).
1.2 OBJETIVO GERAL
Analisar a violência sexual infantil como causa de interferência no
desenvolvimento da criança.
1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar a existência de problemas nas relações interpessoais futuras de
crianças vitimadas pelo abuso sexual na infância.
Verificar a relação entre violência sexual na infância e desenvolvimento de
alterações comportamentais em ambos os sexos na idade adulta.
Descrever o papel do psicólogo junto às crianças vítimas de violência sexual.
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO
O presente trabalho tem a composição de cinco capítulos; o primeiro
capítulo é composto pela presente introdução, com a justificativa, e os objetivos
geral e específicos e a estrutura do trabalho. No capítulo segundo, haverá
apresentação do referencial teórico utilizado. No terceiro capitulo será apresentada
a metodologia com a classificação da pesquisa, análise e interpretação dos dados.
11
O capítulo quarto traz a apresentação e discussão dos resultados, ficando as
considerações finais, limitações e implicações da pesquisa bem como sugestões
para futuros trabalhos a serem apresentadas no quinto capítulo.
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL COMO CAUSA DE INTERFERÊNCIA NO
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.
A violência sexual deixa marcas no corpo e na mente das crianças por
causar interferência psicossomática em seu desenvolvimento infantil. Azevedo
(2001) em seu relato de experiência, cita que este fato se agrava pela intensidade
escandalosa dada a circunstância acometida. Sabe-se que essa experiência produz
resultado desolador no estado psicológico infantil, além de impressionar os
familiares dessa criança. Que, de repente, são volteados por processos,
investigações, questionários, sendo obrigada a ficar frente a um fato que, muitas
vezes, seria preferível desconhecer (AZEVEDO, 2001).
Segundo Furniss (1993), a criança se sente culpada por ter seu senso de
responsabilidade confundido na ação de participação do abuso. Esse equívoco, por
vezes, é enfatizado por ameaça do abusador que responsabiliza a criança pelo feito
cometido e a proibe de divulgar o abuso, a contínua experiência psíquica e a culpa
explicam a diminuição da auto-estima e o comportamento posterior de vítima das
pessoas que padeceram violência sexual infantil (FURNISS, 1993). Esse sentimento
freqüente de culpa, entre os vitimados que foram abusados, permanece por um
tempo aumentado, mesmo que não tenha cooperado com o ato sexual.
Pfeiffer; Salvagni, (2005) revelam que a freqüência da violência sexual que
começa na infância e persiste na adolescência decorre de relação incestuosa, pelo
fato do agressor ser parente da vítima, o que determina em sério prejuízo
psicológico, maior do que na violência sofrida por pessoa estranha ao círculo
familiar. Em caso de incesto, a criança poderá ter suas alterações de
desenvolvimento no comportamento emocional e também, a cognição prejudicada
de forma séria (AZEVEDO; GUERRA; VAICUNAS, 2000). Crianças que sobrevivem
à violência sexual tendem a reproduzir esse ciclo abusivo, praticando a violência
sexual contra sua própria prole Scherer; Gauer, (2003).
Também Kristensen (1996) refere, que de outra maneira a vítima pode
apresentar a capacidade de instalar um tipo de auto-abuso como se verifica em
casos em que ela é revitimada. A experiência da violência sexual poderá ter
13
interferências em seu desenvolvimento, uma vez que crianças e adolescentes não
possuem independência emocional nem maturidade para consentir a violência
sexual, o que faz crer que a participação da criança foi obtida perante força física
e/ou psicológica, quebrando regras sociais e o papel de proteção da família.
Ferrari; Vecina (2002) relatam que são vários os resultados de uma violência
sexual depende basicamente de fatores como idade do agressor e do agredido, tipo
de relacionamento vivido, tempo e freqüência da violência, modo e gravidade da
agressão e como o ambiente que rodeia a criança reage. Segundo Oliveira; Santos
(2006), em casos relacionados à violência sexual aparecem reações em prazo
menor ou em longo prazo. Segundo as mesmas autoras, psicologicamente, a
criança vitimada se sente deslocada, sem iniciativa e depressiva. Sanderson (2005)
refere que a criança, devido ao impacto da violência sexual sofrida, emocionalmente
se sente incompetente para controlar seu mundo interior e exterior.
A vítima da violência sexual passa a desconfiar dos outros, apresenta
comportamento anti-social, como dificuldade em dividir, colaborar e dificuldade de
associação com outros (PADILHA; GOMIDE, 2004). A Criança vitima de violência
sexual prolongada, normalmente acaba desenvolvendo baixa auto-estima com a
sensação de pouca valia e acaba por adquirir uma reprodução desequilibrada de
sexualidade, tendendo à retração, podendo chegar ao suicídio (BALLONE, 2005).
Borges; Dell´Aglio (2008) refere em estudos citados no seu artigo a consistência por
afirmar que o fato de se expor a um estresse contínuo, como violência sexual
infantil, pode resultar em temor persistente produzindo resultado negativo em áreas
do cérebro que envolve os sistemas de resposta ao estresse, causando alterações,
tanto funcionais quanto estruturais no mesmo.
Lucânia et al (2009) em seu relato de experiência com uma menina de treze
anos através de uma intervenção cognitiva de comportamento da mesma, verificou
danos significativos na forma de funcionar psicossocialmente sendo necessário
interferir
com a psicoterapia. Entre as conseqüências da violência sexual em
crianças e adolescentes pode-se desenvolver o transtorno do humor dissociativo, de
ansiedade, de alimentação, hábitos intestinais alterados, além de déficit de atenção
e hiperatividade (HABIGZANG; CAMINHA, 2004). Cohen (1993) cita o transtorno póstraumático de estresse o mais relatado após a violência sexual. Os transtornos póstraumáticos, como o transtorno de ansiedade e o transtorno de estresse agudo, se
não tratados, podem causar uma alteração permanente na personalidade da vítima.
14
As conseqüências de prejuízo no desenvolvimento da cognição, emoção e
de comportamento varia a partir de gravidade menor efeito a transtorno
psicopatológico de gravidade maior (HABIGZANG et al, 2008). Além de
conseqüências psicossomáticas, a violência sexual causa trauma em regiões
genital, anal, prurido, DSTs, gravidez indesejada e incômodos com o próprio corpo
(Sanderson, 2005). Habigzang et al (2008) aponta resultados de uma avaliação
psicológica realizada em dez meninas de nove a treze anos constatando, 7 com
diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), 3 hipervigil e
relembrança do trauma, e 4 com depressão, identificando também ansiedade,
culpa, rendimento escolar diminuído em 8 meninas.
Brasil (2005) sobre a interferência no desenvolvimento infantil, relata que a
violência sexual tendo invasão de forma agressiva no corpo e mente da vítima, ligase de forma imediata a rompimento no desenvolvimento da cognição e emoção
dessa criança podendo levá-la apresentar distúrbios psicossomáticos.
2.2 A EXISTÊNCIA DE PROBLEMAS NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
FUTURAS DE CRIANÇAS VITIMADAS PELO ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA.
A relação interpessoal configura-se como relacionamento entre pessoas
próximas ou familiares, se dispondo na aceitação do outro como ele é,
compreendendo que as pessoas têm personalidade própria, precisam ser
respeitadas sendo que cada um traz consigo experiências de cunho íntimo. Uma
forma de atentar e investigar dificuldades nos relacionamentos pessoais é evidenciar
se houve experiências de violência sexual prematuras, por serem experiências
negativas causando interferência no desenvolvimento infantil podendo se estender
até a fase adulta. A criança tem quebrada a sua confiança e segurança após
relacionarem-se com adultos abusivos, tendo como características, desacreditar e
desconfiar das pessoas que a cercam, o que será ser refletido em relações
interpessoais futuras, com isso, passam a ter menos disponibilidade para
relacionamentos, com tendência a se isolarem e a ficarem deprimidas. (PRADO;
FÉRES-CARNEIRO, 2005).
Prado; Feres-Carneiro (2005) cita que há impedimentos referidos a atuação
social de crianças vítimas de violência sexual. Sendo observado, como efeito nesses
casos, obstáculo das vítimas no estabelecimento de relações interpessoais de
15
confiança. Uma vez violentada por outra pessoa, na infância, advém daí
conseqüências em relações interpessoais futuras, a violência sexual produz
conseqüências sutis e ocultas, são lesões invisíveis podendo passar sem serem
percebidas como sintoma de qualquer trauma já vivido, porém, ao mesmo tempo,
podem ser de efeitos penetrantes com significação na violência sexual infantil
(JACOB, 2009). Constatam-se efeitos negativos, em ambos os sexos, na
capacidade de estabelecer e sustentar relacionamentos íntimos saudáveis, quando
adultos, por se tratar de violência envolvendo a ação humana, o que é diferente de
trauma conseqüente de doença e desastre natural (JACOB, 2009).
Em se tratando de violência entre pessoas, o abuso pode exibir
conseqüências penetrantes e prolongadas na maneira da vítima relacionar-se no
futuro. O abuso sexual cometido na infância repercute na vida por um tempo longo.
Conforme trabalho de Sant’Anna; Baima (2008), realizado com mulheres adultas
vítimas de violência sexual infantil, foram observados sintomas psicológicos que
persistiram até a fase adulta, dificuldade em adaptar-se sócio-afetivamente.
Reforçando, assim, uma necessidade de prevenir e tratar as vítimas de violência
sexual na infância. As autoras também observaram que acima da metade das
mulheres pesquisadas possuíam dificuldade no estabelecimento de relações que
durassem muito tempo, pela dificuldade de confiança nos parceiros.
As vítimas de violência sexual na infância têm dificuldade em relações
interpessoais de cunho amoroso por medo de reviverem experiências do trauma
sofrido na infância (AZEVEDO; GUERRA 1989). As conseqüências da violência
sexual na infância podem ser muitas e agressivas, criando ainda seqüelas sexuais
como, conduzir a própria vida sexual de forma inapropriada, devido confusão nos
valores pelo fato de ter sido abusada, muitas vezes por pessoa conhecida, além de
alterações no comportamento, como isolar-se, falta de confiança nas pessoas e no
estabelecimento de relações interpessoais (AMAZARRAY; KOLLER 1998). A
experiência de violência sexual infantil pode levar tanto mulheres quanto homens, à
construção de um mundo interior caracterizado por sensação de ameaça, traição,
abuso e repudio, desenvolve, por isso, insegurança e dificuldade de apego quando
adultos (JACOB, 2009). Fala-se muito na literatura sobre as dificuldades femininas
em relações interpessoais, porém sabe-se que o sexo masculino quando vitimado
também sofre e se sente frágil e inseguro.
16
Jacob (2009) relata que em homens abusados sexualmente na infância são
encontrados diminuição da libido, dificuldade na ereção e ejaculação precoce, sendo
comuns, também, queixas referentes aos órgãos urinários e genitália, além de
impulso sexual como masturbar-se compulsivamente. As vítimas do sexo masculino
de violência sexual relataram também erotizar o sofrimento, incluindo as
experiências de dor sofridas em sua vivência sexual. Segundo Bowlby (1998) as
experiências vividas quando criança são muito importantes na organização da
personalidade do indivíduo, tendo atuação até em relacionamentos íntimos criados
quando adultos. Segundo Johnson (1992), em sua pesquisa, meninos violentados
sexualmente apresentam em prazo menor comportamento compulsivo e ficam
confusos em relação à sua própria masculinidade tentando reafirmá-la. Em prazo
longo, foi identificado comportamento erotizado e sexualizado e a possibilidade de
serem novamente abusados (KRISTENSEN, 1996).
Pelo fato da sociedade ter a expectativa de que homens têm que ser fortes,
eles experimentam maiores dificuldades em admitirem vulnerabilidade, sendo menos
inclinados em relatar que foram violentados sexualmente, por medo de serem
rotulados como homossexuais. Autores como, Flores; Caminha (1994) em estudo
apresentado, relatam que crianças abusadas sexualmente acabam por possuir um
comportamento anti-social, participam menos, auxiliam menos, tem dificuldade de
associação com outras crianças, comparadas a crianças que não sofreram abuso.
Em relação ao comportamento interpessoal, se tornam retraídas e tendem a ter
relacionamentos superficiais e podendo se tornar abusadoras quando adultos. Em
estudo de caso, feito por Cerqueira-Santos; Rezende; Correa (2010) na história de
vida de três meninas exploradas sexualmente identificou-se conseqüências
imediatas
a
nível
físico,
sexual,
distúrbios
emocionais
e
sociais.
Como
conseqüências tardias, foram identificados problemas com drogas, dificuldade de
aprendizagem na escola, promiscuidade, dificuldade nas relações interpessoais
afetando o pleno desenvolvimento dessas meninas.
Crianças que sobrevivem à violência sexual podem ter dificuldade em
manter relações sociais e íntimas, acabam por manter uma distância em relação aos
outros, como forma de se sentirem seguras, tendo distorções nas representações de
afeto e amor por associar ao trauma da violência vivida. SILVA; OLIVEIRA (2002)
em pesquisa que buscou verificar queixas freqüentes de mulheres que sofreram
17
violência sexual infantil constatou que todas as mulheres exibiram tipos diferentes de
disfunção sexual e déficit em relacionamentos interpessoais.
2.3
A
RELAÇÃO
ENTRE
VIOLÊNCIA
SEXUAL
NA
INFÂNCIA
E
DESENVOLVIMENTO DE ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS EM AMBOS
OS SEXOS NA IDADE ADULTA.
A violência sexual na infância é uma das formas mais extremas de violar
direitos humanos, causadora de desajustamentos comportamentais e psicológicos
nas crianças envolvidas. Essa violência se encontra inserida no contexto de
agressão social e estrutural gerada pela desestrutura política e socioeconômica que
vigora no país (LIBÓRIO; SOUZA, 2004). Silva; Oliveira (2002) salientam que
experiências infantis ao se tornarem negativas, podem ocasionar alterações diversas
no desenvolvimento normal da criança, se estendendo até a fase adulta. Amazarray;
Koller (1998), traz em seus estudos, achados sobre a questão da violência sexual,
como risco em adquirir futuramente distúrbios psiquiátricos e até mesmo o risco de
se tornarem no futuro indivíduos abusivos.
O Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) é considerado um
distúrbio de ansiedade e ocorre, normalmente, após um acontecimento emocional
desagradável. Maia (2001), em pesquisa com uma jovem de 22 anos que foi
abusada por cerca de oito anos na infância, por seu pai, pode verificar a existência
de Perturbação de Estresse e Pós Traumático (PTSD) devido à vivência do incesto,
com apresentação de sintomas como dificuldade em concentrar-se, revivência do
trauma, intrusão de imagens constantes do fato ocorrido, distúrbios dissociativos e
pouco estímulo com o mundo exterior, vindo a apresentar, posteriormente, também,
sonhos sinistros. Conforme relato da própria autora a jovem perdera, eventualmente,
a capacidade de planejar o próprio futuro pessoal e profissional. Flores; Caminha
(1994) relatam que a violência sexual incestuosa causa um trauma maior e com
mais dificuldade de ser tratado, além de trazer conseqüências prejudiciais ao
desenvolvimento infantil. Esse tipo de abuso é de duração longa porque a criança
se encontra e, ainda, na dependência dos pais e, dificilmente, é relatado antes da
criança se tornar adolescente. (SADIGURSKY, 1999).
A violência sexual incestuosa viola os direitos do ser humano em formação,
colocando em risco sua integridade psicológica e física com desrespeito à sua
18
dignidade (FALEIROS, 2000). A criança vítima de violência sexual corre riscos no
desenvolvimento de psicopatologias graves, tendo perturbações a nível afetivo,
psicológico e sexual (ROUYER, 1997). Sabe-se que, pelas teorias do processo de
desenvolvimento humano, a estrutura da mente se forma na infância, neste período
todas as experiências vivenciadas farão parte na formação psíquica do indivíduo.
Uma vez rompido o curso do desenvolvimento psicossexual normal da criança por
despreparo psicológico e físico, conseqüentemente, ela pode vir a apresentar
diferentes tipos de distúrbios (JUNG, 2006). Martins; Jorge (2010), em estudo
descritivo, realizado no município de Londrina-PR, com o objetivo de conhecer como
eram as características da violência sexual em adolescentes e crianças até 14 anos,
sendo considerado o número de notificação e não o de crianças, foram notificados
186 casos, constatando 90,3% de lesão corporal, e 97,8% de sequelas psicológicas
e físicas. Os autores também ressaltaram o impacto na saúde mental das crianças
vitimadas, por deixar marcas e danos irremediáveis no desenvolvimento infantil
causando alterações reprodutivas e sexuais.
A violência sexual feita contra crianças e adolescentes, estabelece uma
questão de saúde pública, além de ser questão policial e jurídica. Silva; Oliveira
(2002) em pesquisa qualitativa-descritiva de abordagem analítico-comportamental
de mulheres que foram abusadas sexualmente na infância concluíram que as
mulheres apresentaram Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), depressão, temor,
vergonha,
culpabilização,
isolamento
e
sentimento
de
abandono.
Todas
apresentaram tipos variados de disfunção sexual, que vem reforçar a idéia da
relação entre abuso sexual na infância e desenvolvimento de distúrbios psicológicos
na vida adulta. As conseqüências psicológicas, em curto prazo, da violência sexual
são dificuldades em adaptar-se sexual e afetivamente, apresentam em geral
dificuldades de relacionamento com o sexo masculino, pelo fato da agressão ser, a
maioria às vezes praticada por homens (AZEVEDO; GUERRA; VAICUNAS 2000).
Em estudo sobre sexualidade na adolescência sem e com história de abuso
sexual na infância verificou que meninas que foram abusadas sexualmente
manifestavam medo de se envolver com pessoas do sexo masculino e,
conseqüentemente, da relação sexual em contraste com as outras (RODRIGUES;
BRINO; WILLIAMS 2006). Sendo constatado também pelas autoras que a maior
parte das participantes apresentava graus variados de depressão em conseqüência
da violência sexual sofrida, além de diminuição da libido. Segundo Pires (1999),
19
questões como apresentar depressão, tendência a isolar-se, apresentar distúrbios
sexuais, distúrbios de aprendizagem, comportamento hostil e agressão, tentativas
de suicídio, entre outros sintomas, são conseqüências que podem alcançar crianças
vítimas de violência sexual.
Crianças violentadas sexualmente demonstram desconforto, alterações do
sono, distúrbios alimentares, falta de estímulos, apresentam comportamentos de
provocar danos em si mesmo (SANDERSON, 2005). Essas crianças, que deveriam
levar uma vida saudável, também podem ter desenvolvimento de distúrbios
psicológicos e psiquiátricos no futuro. Sant’Anna; Baima (2008) em estudo sobre
repercussões
futuras
da
violência
sexual
infantil
observou
sintomas
de
comportamento alterado dificulta a vida afetiva e social de mulheres adultas.
Constatado pelas autoras, em
relação
às
alterações de comportamento,
promiscuidade, falta de habilidade em evitar que sejam revitimadas, nesse aspecto,
de nove mulheres estudadas, seis sofreram abuso novamente, abuso do uso de
drogas lícitas e não lícitas, sendo esta situação a mais freqüente. Duas mulheres
apresentaram distúrbios alimentares, o sintoma psíquico mais destacado foi
sensação de culpa em todas, juntamente com diminuição da auto-estima,
depressão, idéias de suicídio e ansiedade.
A sensação de culpa é somada com o estigma no qual essa criança sofre
por parte de familiares. O conjunto de todos os sintomas apresentados em mulheres
vítimas de violência sexual contribui em dificuldades de se adaptarem afetivamente,
nas relações interpessoais e vida sexual. (AZEVEDO; GUERRA 1989). A violência
sexual pode atingir o desenvolvimento infantil de formas variadas, há crianças que
desenvolvem poucos efeitos ou nenhum visível, enquanto outras já desenvolvem
distúrbios emocionais, psiquiátricos e sociais graves (HABIGZANG; KOLLER;
AZEVEDO; MACHADO 2005).
2.4
O PAPEL DO PSICÓLOGO JUNTO ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
SEXUAL.
As crianças vítimas de violência sexual podem desenvolver conseqüências
psicológicas e ruptura no desenvolvimento emocional e cognitivo devido ao trauma
ocorrido. O trauma significa a destruição do eu, de ser incapaz de atuar, pensar,
sensação de impotência e angústia e de resistir com a intenção de se proteger da
20
invasão de outros (MORENO, 2009). Entende-se que adolescentes e crianças são
indivíduos em condição especial de desenvolvimento, tendo como direito serem
protegidas de qualquer agressão. O abuso sexual viola de forma grave esse direito
de proteção absoluta e necessita ser contestado como problema social (KOSHIMA,
2003). O trauma da violência sexual com usurpação agressiva no corpo e mente de
crianças, pode dar lugar ao desenvolvimento de transtornos graves podendo levar a
criança a apresentar até surtos psicóticos dependendo da gravidade do caso
(BRASIL, 2005).
A psicanálise infantil facilita as comunicações interpessoais, diminui a
amargura psíquica humana, resguardando os direitos e a ética do ser humano por
meio da leitura e projeção da evocação de idéias, fantasias, atos falhos e atividades
de jogos lúdicos (SOUZA, 2008). Souza, (2008) em sua pesquisa sobre supervisão
psicanalítica de atividades lúdicas em crianças vítimas de abandono e trauma,
comprovou desorganização e perturbação psicológica nas crianças que sofrem
esses traumas concluindo que, a ludoterapia concorre na assimilação de perdas
vividas, no aparecimento de um espaço interior aberto para novas capacidades a
serem vividas. Silva; Oliveira, (2002) relata em seu trabalho que para ser
considerada uma pessoa saudável, o ser humano precisa estar física, social e
psicologicamente estável. Cabendo ao psicólogo como profissional da saúde, a
investigação das alterações criadas pelo abuso sexual, interviu nesse processo para
proporcionar às vítimas um retorno de vida saudável (Silva; Oliveira, 2002).
De Antoni; Koller (2000) refere que a violência sexual evidencia-se por
prejuízos emocionais na auto-estima e na auto-imagem. Em terapia de grupo
cognitivo-comportamental realizado por psicólogas com dez meninas vítimas de
violência sexual Habigzang; Koller (2006), puderam constatar que houve redução na
ansiedade, depressão e distúrbio de estresse após o trauma, modificou situações de
culpa e melhora no desempenho na escola como aspecto positivo. Avaliar
psicologicamente adolescentes e crianças vítimas de violência sexual passam a ser
uma situação profissional desafiante devido a ser um fenômeno complexo
(HABIGZANG, et al 2008). Em artigo que teve como objetivo a utilização de um
método avaliativo psicológico em meninas vitimas de violência sexual, que
apresentavam sintomas de transtorno de estresse após o trauma, obteve-se
resultados efetivos com o modelo avaliativo psicológico utilizado que permitiu
conhecer os acontecimentos e sua dinâmica, identificar sintomas psicológicos e
21
alterações de comportamento, emocional e cognitivo melhorando a formação de
laços e confiança durante o tratamento (HABIGZANG, et al 2008).
Silva; Oliveira (2002) mostra como agravo em sua pesquisa que, crianças
vitimadas de abuso sexual, se não tratadas de forma adequada, podem padecer
pela vida toda, de conseqüências psicológicas desagradáveis devido à violência
cometida. O trabalho de psicanálise vem tendo resultados satisfatórios ao atender
vítimas de abuso sexual, partindo de um percurso analítico de forma a permitir que o
sujeito compreenda o que ocorreu com ele e se redescobre como um ser merecedor
de respeito e afeto. O sujeito, ao compreender-se como vítima de um abuso, não
precisa estacionar sua vida e sua libido, tem que renovar essa imagem corporal
despedaçada, fortalecer-se emocionalmente para resistir ao choque deste
experimento limite, evitando torturar-se, resistindo às pressões sociais e descobre
meios de sair desse drama por vias sublimatórias (AZEVEDO, 2001).
Em trabalho de intervenção psicológica de grupo multifamiliar que envolveu
crianças abusadas e familiares destas, houve a percepção de que os pais
entenderam a sua responsabilização e deveres no cuidado com as crianças,
proporcionando intervenção em obstáculos conjugais, melhora na relação entre pais
e filhos (COSTA; PENSO; ALMEIDA 2005). Todas as pessoas envolvidas são
merecedoras de sustentáculo e atenção psicológica profissional competente na
intenção de serem reconhecidos como indivíduos de absoluto direito. Lima (2007)
em pesquisa realizada com o propósito de averiguar vínculos de crianças
violentadas sexualmente, identificou dificuldades no estabelecimento de vínculos
sociais, sendo aplicadas atividades lúdicas como oficinas, desenho, teatro, como
forma de expressão dos sentimentos, fantasias medos e inseguranças. A autora
relata que, através da mediação psicológica, os indivíduos conseguem reconduzir e
refazer vínculos perdidos pela essa situação de violência vivida. Amazarray; Koller
(1998) referem serem múltiplas as conseqüências da violência sexual tendo efeitos
devastadores do ponto de vista físico e psicológico.
Conforme Furniss (1993) os efeitos da violência sexual variam de acordo
com a intensidade e envolve fatores como, idade, tempo maior do abuso, violência
utilizada, idades diferentes, relação entre vítima e abusador, ausência de proteção
dos pais, grau de sigilo e gestos de ameaça à criança violentada. A atuação
psicológica se torna pertinente às crianças violentadas sexualmente na tentativa de
que os fatores envolvidos nessa agressão não alterem o desenvolvimento infantil se
22
arrastando até a idade adulta. Padilha e Gomide (2004) analisaram um processo
terapêutico de intervenção psicológica realizado com cinco adolescentes vítimas de
violência sexual intrafamiliar, percebendo que o processo facilitou a revelação dos
fatos ocorridos, exposição dos sentimentos em relação a ele, aceitação e as
adolescentes aprenderam comportamentos para evitar revitimação.
Deslandes (2010) em sua tese sobre a avaliação do atendimento a crianças
vítimas de abuso sexual de um serviço público no Rio de Janeiro constatou que as
psicólogas acolhem famílias, avaliando, inicialmente, problemas de ordem emocional
para a criança e a família desta, com intenção de organizar a situação vivida, de
maneira que venha prepará-las para serem atendidas
psicoterapicamente
individualmente ou em grupoterapia. Em geral a violência sexual não deixa traços
que os olhos possam ver, todavia deixa seqüelas no desenvolvimento infantil e
produz uma desordem psicossocial familiar (FRONER, 2008). Por ser um problema
complexo, há exigência de intervenções e acompanhamento psicológico e médico à
criança e sua família para protegê-la de futuras situações de abuso (HABIGZANG;
KOLLER 2006). A violência sexual na infância pode causar interferência no
desenvolvimento, levando a dificuldades nas relações interpessoais e de
comportamento na idade adulta, cabendo ao psicólogo atuar junto às crianças para
minimizar esses efeitos.
23
3 METODOLOGIA
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
O meio utilizado para a realização dessa pesquisa foi do tipo revisão
bibliográfica, para a elaboração deste estudo serão consultadas, através de
pesquisa bibliográfica, desde publicações, boletins, jornais, monografias, livros,
teses, revistas, além de publicações em periódicos no período de 1987 a 2011. Esse
tipo de pesquisa leva o pesquisador a analisar cada informação utilizando diversas
fontes.(Gil, 2002). Segundo Marconi; Lakatos (1991) a pesquisa bibliográfica pode
ser considerada um estudo sobre tema específico ou particular de suficiente valor
representativo obedecendo à rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto
em profundidade e todos os seus aspectos e ângulos, dependendo dos fins
destinados.
Quanto aos fins foi realizada uma pesquisa qualitativa por ser útil em
situações que envolvem o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas idéias. A
pesquisa qualitativa é definida como: “Fundamentam-se em dados coligidos nas
interações interpessoais, na co-participação das situações dos informantes,
analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos. “O pesquisador
participa, compreende e interpreta” (CHIZZOTTI, 1995, P.52). A pesquisa qualitativa
se preocupa com uma realidade que não pode ser medida, por trabalhar com
fenômenos (MINAYO, 1996).
A pesquisa foi o tipo qualitativo-descritivo devido busca descrever fatos
ocorridos nesse contexto social que engloba o universo subjetivo,e que não pode
ser medido. Por não poder quantificar as ações é realizado, a análise através de
observações diretas e objetivas para facilitar a sua compreensão sem interferência
do pesquisador (ANDRADE, 1995). Gil, (2002), cita a pesquisa descritiva como
primordial em descrever e caracterizar populações determinadas, fenômenos ou
estabelecer relação entre variáveis.
24
3.2 UNIDADE DE ANÁLISE
Foi realizada uma busca de livros, dissertações, artigos científicos periódicos
indexados no Scielo, Lillacs, Google Scholar, sendo selecionados apenas os
escritos na língua portuguesa. Relacionados temas relativos à Violência sexual
infantil, Família, Relações interpessoais, Crianças, e Psicologia para análise dos
mesmos.
3.3 COLETA DE DADOS
As buscas foram realizadas no período que compreende entre Janeiro e
Agosto de 2011. Em relação ao tipo de material, foram selecionados além de artigos
científicos, apenas os escritos na língua portuguesa. Os critérios de inclusão para
análise foram tipo de publicação, artigos em periódicos, idioma português, ano de
publicação: período de 1987 a 2011, artigos com resumo em português, os critérios
de exclusão foram artigos sem resumo ou com ele em outra língua que não
português, artigos, que tratavam especificamente de abuso e não de violência
sexual, após a seleção dos textos de interesse para o presente trabalho, foi
realizada uma leitura criteriosa dos mesmos.
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados coletados foram feitas, mediante uma busca relacionada
aos descritores propostos, Violência sexual infantil, Família, Relações interpessoais,
Crianças, e Psicologia. Após o procedimento de busca dos artigos científicos,
identificou-se um total de 90 trabalhos relacionados ao tema investigado. Foram
encontrados 20 artigos na Biblioteca Virtual em Psicologia, 20 no Latin American and
Caribbean Center on Health Sciences Information (LiIacs) e 15 artigos no Scielo, No
Google Scholar foram encontrados 15 artigos, nos quais foram selecionados 10.
Seguiu-se com a leitura dos títulos e dos respectivos resumos sendo selecionados
80 artigos para posterior análise do cumprimento de todos os critérios de inclusão.
Desses 80 trabalhos, selecionou-se 58 para a presente revisão de literatura. O
levantamento dos artigos relacionados acima, contribuiu sobremaneira na realização
da presente pesquisa, facilitando na compreensão do tema, por ser este de
complexidade social e que causa interferência no desenvolvimento de crianças
vítimas de abuso sexual.
25
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Dos artigos que preencheram os critérios de inclusão estabelecidos, foram
analisados e preenchidos os objetivos propostos, optou-se em apresentar os
resultados por tópico.
4.1. A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL COMO CAUSA DE INTERFERÊNCIA NO
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.
O fato de uma criança ser violentada sexualmente atinge não só o físico,
mas produz alterações no desenvolvimento infantil (AZEVEDO, 2001). A experiência
da violência traz ao universo familiar procedimentos investigativos que agrava ainda
mais o estado psíquico da criança. A criança, conforme relato de Furnis (1993), traz
para si a culpa na participação da violência sexual, por se achar responsável pelo
ato, fato que o abusador enfatiza se o ato for divulgado. Com relação ao incesto,
autores como Pfeiffer; Salvagni (2005) e Azevedo; Guerra; Vaicunas (2000)
concordam ao afirmar que a relação incestuosa produz graves riscos psicológicos,
por ser causada pelo próprio pai, mais do que se sofrida por estranhos, levando a
criança em decorrência do incesto, apresentar prejuízos cognitivos e sociais.
Scherer; Gauer (2003) citam que sobreviventes de abuso sexual podem
repetir esse ato no futuro com sua família. O auto-abuso foi também referido por
Kristensen (1996) em crianças revitimadas. Pelo fato de crianças não serem ainda
maduras para aceitar o abuso sexual, entende-se que o abuso foi forçado, essa
quebra do protocolo da família em proteger a criança leva a esta ter interferências no
seu desenvolvimento.
Segundo Ferrari; Vecina (2002) os resultados do abuso
sexual se tornam variados em função dos fatos relacionados a ele como, idade,
relações vividas, tempo, modo de reação do ambiente ao ocorrido, entre outros. A
reação da vítima à violência sexual pode aparecer em longo ou curto prazo, com
aparecimento de alterações psicológicas e sociais.
O comportamento anti-social, segundo Padilha; Gomide (2004) pode
prevalecer em vítimas de violência sexual. Ballone (2005) aponta a diminuição da
auto-estima em crianças violentadas sexualmente por muito tempo podendo ter
idéias suicidas. A exposição constante a fatores psíquicos perturbadores como
26
abuso sexual, pode ter como resultante a alteração no neurodesenvolvimento da
criança. Havendo danos psicossomáticos como relatado por Lucânia, et al (2009),
com necessidade de intervenção cognitiva. Autores como Habigzang; Caminha
(2004) e Cohen (1993) concordam ao citarem que se não tratar os transtornos após
o trauma sofrido, a vítima de violência sexual pode ter modificações definitivas na
personalidade.
As conseqüências psicossomáticas podem ser variadas como, transtorno
de afeto, alimentares, dissociativos, entre outros, mas são também significante as
conseqüências físicas como, gravidez doenças sexualmente transmissíveis (DSTs),
traumatismo nas regiões genital e anal (HABIGZANG et al, 2008) e (SANDERSON,
2005). Avaliação psicológica feita em meninas de 9 a 13 anos segundo Habigzang,
et al (2008)
teve como resultado transtorno de estresse pós traumático, culpa,
hipevigilância, depressão, revivência da violência sexual sofrida e baixo rendimento
escolar. Sobre interferências causadas, Brasil (2005), cita que a violência sexual
quebra o desenvolvimento cognitivo da criança, podendo a mesma desenvolver
transtornos e até se tornar psicótica.
4.1.1
EXISTÊNCIA
DE
PROBLEMAS
NAS
RELAÇÕES
INTERPESSOAIS
FUTURAS DE CRIANÇAS VITIMADAS PELO ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA.
As relações interpessoais são citadas como relacionamento entre pessoas
de personalidade diferentes, onde devemos aceitar o outro no seio relacional
visando o bem estar social. Averigou-se, por meio da literatura revisada, que as
relações interpessoais ficam comprometidas em crianças vítimas da violência sexual
passando as mesmas a terem um comportamento retraído, tendendo a isolar-se. A
investigação de dificuldades relacionais pode ser decorrente de experiências sexuais
infantis que intervém negativamente no desenvolvimento da criança até a fase
adulta. Almeida Prado; Feres-Carneiro (2005) citam que a criança tem dificuldade
em confiar no meio que a cerca após sofrer violência sexual, tendendo à depressão
e ao isolamento. Também relatam os mesmos autores, que há dificuldades em
relações interpessoais em crianças vítimas de abuso sexual.
A violência sexual em crianças acarreta interferências invisíveis que podem
passar despercebidas e repercutir de forma negativa. Segundo Jacob, (2009) em
ambos os sexos foram constatados conseqüências negativas como, dificuldade de
27
relacionar-se intimamente de forma saudável. Futuramente, a vítima de violência
sexual pode apresentar conseqüências psicológicas. Sant’ Anna; Baima (2008)
observaram que mulheres apresentaram dificuldades em relações interpessoais e
psicológicas por serem vítimas de abuso sexual infantil. As autoras citam serem
necessárias a prevenção e tratamento das vítimas de violência sexual na infância.
Por receio de revivência da violência sexual, as vítimas passam a ter obstáculos nas
relações de afeto.
Amazarray; Koller (1998) relatam que alterações comportamentais, vida
sexual imprópria, isolamento, desconfiança e dificuldade em relações interpessoais
são impedimentos conseqüentes do abuso sexual infantil. O mundo interior da
criança fica ameaçado em experimentos como o trauma sexual na infância, gerando
medo e desapego. O sexo feminino é muito mais relatado na literatura nas
dificuldades relacionais por violência sexual do que o sexo masculino, os meninos,
quando vítima de violência sexual também acarreta com dificuldades interiores.
Sintomas relacionados no sexo masculino, segundo Jacob (2009) se referem aos
órgãos íntimos, masturbação excessiva, erotização do sofrimento, ejaculação
precoce, dificuldades eréteis e diminuição no desejo sexual.
Bowlby (1998) relata que experiências sofridas na infância repercutem na
personalidade e nas relações íntimas. Kristensen (1996) e Johnson (1992)
concordam em afirmar que em curto e longo prazo crianças podem ter dificuldade na
própria identificação sexual, compulsão, comportamento que denota erotismo e
sexualizado e com probabilidade de serem revitimadas. Por medo do rótulo de
homossexual, meninos relatam menos a violência sexual. Crianças violentadas
sexualmente conforme Flores; Caminha (1994) possuem comportamentos antisociais e dificuldade de interagir com outras crianças, tornando-se desconfiadas,
podendo se tornar um abusador no futuro. Habigzang; Koller; Azevedo; Machado
(2005) citam que meninas vítimas de abuso sexual apresentaram conseqüências
iniciais físicas, emocionais, sexuais, e de afeto e, tardiamente, drogadição,
dificuldades no aprendizado, vida promíscua e relação interpessoal afetada.
Sobreviventes de abuso sexual na infância exibem distorções em interações
interpessoais por terem o seu desenvolvimento afetado com a agressão sofrida.
28
4.1.2 RELAÇÃO
ENTRE
DESENVOLVIMENTO
VIOLÊNCIA
DE
SEXUAL
ALTERAÇÕES
NA
INFÂNCIA
E
COMPORTAMENTAIS
EM
AMBOS OS SEXOS NA IDADE ADULTA.
As alterações de comportamento podem ocorrer como causa de agressões
físicas e psicológicas sofridas na infância. Conforme relato Silva; Oliveira (2002)
experiências negativas na infância podem levar ao comprometimento no
desenvolvimento infantil até a vida adulta. Futuramente, como relata Amazarray;
Koller (1998) vítimas de violência sexual infantil correm o risco de apresentarem
transtornos psiquiátricos e serem adultos abusivos. Após a ocorrência de
acontecimentos negativos a nível emocional, pode ocorrer o distúrbio de estresse
pós-traumático (TEPT), conforme relato de Maia (2001), TEPT se manifestou em
mulher de 22 anos vítima de incesto. Maia (2001) também relata que a jovem devido
à violência sofrida apresenta como dificuldade o planejamento de sua vida futura.
Segundo Flores; Caminha (1994) o trauma do incesto é o que causa maior
interferência no desenvolvimento infantil, por ser em geral, abuso de longa duração
(SADIGURSKY, 1999). Faleiros (2000) cita o incesto sexual como violação de
direitos humanos. Rouyer (1997) afirma que, se a criança for vítima de violência
sexual, haverá riscos em desenvolver perturbações afetivas, psicológicas, sexuais e
até
aparecimento
de
psicopatologias.
Alterações
psicológicas,
corporais,
reprodutivas e sexuais foram encontradas também em crianças pesquisadas por
Martins; Jorge (2010) encontrou, também, nas vítimas modificações na saúde
mental das crianças violentadas.
O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) também foi encontrado em mulher
pesquisada por Silva; Oliveira (2002) reforçando o desenvolvimento de distúrbios em
vítimas de violência sexual. A maioria das violências sexuais sofridas pelas mulheres
é provocada por indivíduos do sexo masculino, apresentando as mesmas, devido a
isso, dificuldades futuras em relacionamentos afetivos e sexuais com o sexo oposto.
(AZEVEDO; GUERRA; VAICUNAS, 2000). Comprovou-se o medo no envolvimento
com o sexo masculino, segundo Rodrigues; Brino; Williams (2006) em estudo feito
com meninas que foram violentadas sexualmente na infância. Constatou também,
conforme relato das meninas, libido diminuída e depressão após a ocorrência do ato
(RODRIGUES; BRINO; WILLIAMS, 2006).
29
Pires (1999) refere que, como conseqüência, as vítimas podem apresentar
distúrbios variados, como depressão, isolamento e problemas psiquiátricos futuros.
Sant’ Anna; Baima (2008) cita que a violência sexual pode ter repercussões futuras
alterando o comportamento afetivo e social. A culpa aparece, freqüentemente, entre
vítimas de violência sexual, principalmente decorrente de incesto (FURNISS, 1993).
Habigzang; Koller (2006); Azevedo; Machado (2005) concordam que, crianças
abusadas sexualmente, podem ter alterados seu desenvolvimento psicológico e
cognitivo, podendo desenvolver transtornos emocionais, sociais e psiquiátricos na
vida adulta.
4.1.3 PAPEL DO PSICÓLOGO JUNTO ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
SEXUAL.
As crianças, por ainda estarem em fase de desenvolvimento, se vítimas de
violência sexual, podem apresentar alterações emocionais e cognitivas em função
do trauma sofrido. Moreno (2009) cita o trauma como eu destruidor, trazendo
impotência e incapacidade de pensamento e angústia. Koshima (2003) defende que
a criança tem o direito de ser protegida de violência de qualquer natureza por estar
em
fase
de
desenvolvimento.
Se
ocorrer
violência
sexual
na
fase
de
desenvolvimento Brasil (2005) concorda que a criança passa a desenvolver
distúrbios graves apresentando até psicose em casos extremos.
Souza (2008) cita a psicanálise infantil como facilitadora no contato
interpessoal através de fantasias, evocando idéias, atividades lúdicas e atos falhos.
Souza, (2008) relata que atividades lúdicas em crianças vítimas de violência sexual
ajudam a organizar e assimilar traumas vividos. O psicólogo, conforme Oliveira
(2002) e Silva; Oliveira (2002) é o profissional que investiga e intervém para que a
criança retorne à vida social, física e psicológica saudável. O abuso sexual, segundo
De Antoni; Koller (2000) traz prejuízos à estima
e emoções. Habigzang; Koller
(2006), na utilização de terapia de grupo cognitivo comportamental em meninas
violentadas sexualmente, comprovaram modificações positivas na ansiedade, culpa,
depressão e desenvolvimento escolar.
Habigzang et al (2008) comprova ser um
desafio avaliar vítimas de violência sexual pela complexidade do tema. Em relato de
Silva; Oliveira (2002) refere que, se não tratadas, crianças violentadas sexualmente
podem adquirir distúrbios psicológicos.
30
Azevedo (2001) cita a via sublimatória como meio da vítima se libertar do
trauma sofrido. Costa; Penso; Almeida (2005) relatam que o envolvimento familiar no
tratamento traz aos pais a percepção de seus deveres de proteção aos seus filhos.
Através de atividades lúdicas feitas com crianças, conforme cita Lima (2007) as
mesmas podem melhorar vínculos rompidos decorrentes da agressão sofrida, por
serem variadas e destruidoras as conseqüências da violência sexual. Furniss (1993)
relata que fatores como tempo do abuso, agressão usada, relações entre criança e
abusador, desproteção familiar, sigilo, ameaças e diferenças de idade podem alterar
o desenvolvimento normal da criança até a vida adulta.
A intervenção psicológica facilita a comunicação das vítimas conforme
relatam Padilha; Gomide (2004) por facilitar que o fato seja revelado, expor
sentimento, aceitar o ocorrido e aprender a evitar serem revitimadas. A psicologia
atua para ajudar a criança e sua família a organizarem-se perante a situação sofrida,
intervindo para que a mesma retorne ao seu desenvolvimento normal.
4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A violência sexual contra crianças é uma problemática que perdura desde os
tempos antigos até os atuais causando interferências no desenvolvimento infantil por
atingir não só o corpo, mas também a mente da criança envolvida no ato sofrido. Os
resultados apontam que a criança, freqüentemente, se culpa pela violência sofrida e
não divulga a violência por medo do agressor, o que é confirmado na fala de
(FURNISS, 1993). O sentimento de culpa, conforme apontado nos resultados se dá
pela criança, ainda, ser confundida e ameaçada pelo pai como a causadora do
incesto. A relação incestuosa, pelo fato de ser cometida por pessoa do afeto,
confunde a criança causando graves prejuízos cognitivos e sociais.
A vítima pode reagir de forma negativa imediatamente ou após um tempo do
ocorrido, que vai depender de fatores como idade da criança e do abusador, tipo de
relacionamento com o mesmo, tempo em que foi abusada, reação do ambiente ao
abuso, entre outros fatores. Pode aparecer como resultados do abuso,
comportamento retraído, baixa auto-estima, danos psicossomáticos variados e, se
exposta constantemente, haverá modificações importantes na personalidade,
cognitivas e até psicose.
31
Os resultados apontaram um comprometimento importante nas relações
interpessoais das crianças violentadas sexualmente, passando a mesma a adotar
um comportamento de desconforto, medo, afastamento e depressão. As meninas,
quando adultas, podem apresentar comportamento promíscuo, dificuldades nas
relações afetivas e transtornos psicológicos. Violentados do sexo masculino sofrem
em silêncio por medo de serem julgados em relação à sua masculinidade. Os
meninos apresentam, conforme apontam os resultados sintomas como masturbação
excessiva, ejaculação precoce, podendo até se tornar abusador quando adulto.
Denota, portanto, nos resultados, alterações negativas nas relações interpessoais
futuras em ambos os sexos.
As alterações de comportamento foram apontadas após ocorrência de
agressões sofridas na infância por Silva; Oliveira (2002) compromete o
desenvolvimento na infância e, posteriormente quando adulto. As alterações que se
dão em crianças vítimas de violência sexual são assinaladas como falta de
perspectivas, perturbações psicológicas, afetivas, sexuais, dificuldade com o sexo
masculino e alterações de personalidade.
Os transtornos psiquiátricos mais apresentados pelas vítimas como citam os
autores Maia (2001) e Silva; Oliveira (2002) foram, transtorno Obsessivo Compulsivo
(TOC) e Transtorno do Stress Pós Traumático. Sendo evidenciado que vítimas
violentadas sexualmente na infância apresentam alterações de comportamento. Os
transtornos psiquiátricos adquiridos advindos da violência sexual persistem por toda
a vida, denota daí que a experiência do trauma vivido na infância repercute, de
forma negativa no desenvolvimento infantil, necessitando que a criança tenha
acompanhamento profissional por toda a vida.
Os resultados da presente pesquisa mostraram que, por se tratar de um ser
em formação, a criança vítima de violência sexual, pode apresentar alterações
traumáticas necessita de tratamento psicoterápico. O psicólogo entra nesse contexto
através do lúdico, para que a criança venha assimilar melhor a violência vivida,
reestrutura vínculos perdidos e apontando saídas por vias sublimatórias (SOUZA,
2008) e (SILVA; OLIVEIRA 2002).
Cabe, também, ao psicólogo envolver e assistir à família da criança na
recuperação do trauma. Habigzang; Koller (2006) verificou o beneficio que uma
terapia de grupo provocou em meninas violentadas sexualmente, mostra diminuição
de ansiedade e depressão, melhora no desempenho escolar, além de diminuição da
32
culpa tão característico nestes casos, comprova benefícios da terapia psicológica
em crianças violentadas. A atividade lúdica por trazer a criança a um mundo leve,
onde não há ameaças, repercute de forma positiva durante o tratamento psicológico
beneficiando as mesmas a se recuperarem do trauma da violência sexual sofrida.
33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS, IMPLICAÇÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES
PARA FUTUROS TRABALHOS.
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizou-se uma pesquisa sobre a violência sexual ocorrida na infância, por
considerar a sua ocorrência um agravante social alterando a vida das crianças de tal
maneira podendo afetar as futuras relações interpessoais. A violência sexual não é
específica de uma classe social, pois ela se dá através dos tempos em todos os
níveis sociais, sendo prevalente nas classes menos favorecidas por dificuldades
financeiras. A violência sexual se configura por ser um tema que choca, mas que
ainda perdura. Essa violência é conhecida como cometer ato sexual sem
consentimento para que tal fato ocorra. Crianças que foram violentadas sexualmente
podem adquirir doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), usar drogas, prostituir e
desenvolver variados transtornos psíquicos, desde os mais simples como
ansiedade, medo culpa, retração social, até os mais graves distúrbios psiquiátricos
relacionados ao trauma.
Crianças vítimas sexuais do próprio pai e de pessoas do ciclo familiar se
sentem envergonhadas e, por isso, mantém-se em silêncio por medo da divisão da
família e de serem castigadas pelo agressor. A criança pode ter alterações na forma
de comportar-se com mudanças importantes na sua personalidade quando vítimas
de incesto, por terem confusão em relação ao fato, culpabiliza-se e, com isso
acabam por proteger o próprio pai com medo de resultar uma possível separação
familiar.
As meninas violentadas sexualmente, além de correrem risco de passar por
uma gravidez, DSTs e aborto por ainda estarem em fase de desenvolvimento do
corpo,
também
comportamento
podem
ficar
sequeladas
alterado,
com
mudanças
emocionalmente
significativas
de
e
apresentar
personalidade
repercutindo até na vida adulta.
A vítima de violência sexual passa a desconfiar dos outros, desenvolve baixa
auto-estima, medo persistente e adquire comportamento anti-social. Entre as
conseqüências citadas no presente trabalho podem, também, desenvolver
34
transtornos de estresse pós-trauma, que é o mais relatado na literatura nas vítimas
de abuso sexual infantil. A revisão de literatura contemplou aspectos relacionados a
violência sexual como causa de interferência no desenvolvimento infantil, por deixar
marcas profundas na mente das crianças. Variadas podem ser as conseqüências no
desenvolvimento infantil, por estarem ainda desenvolver-se nos aspectos de
formação cognitiva e social.
Com relação às conseqüências nas relações sociais, as mesmas podem
persistir até o futuro, levando à dificuldade de confiar e acabando por isolarem-se, e
a adquirir, por vezes, até depressão. Em mulheres adultas, pode haver dificuldade
de confiança nos parceiros, de cunho íntimo e afetivo, sendo caracterizado por
insegurança e dificuldade de apego.
No sexo masculino, foram encontrados distúrbios como masturbação
excessiva, ejaculação precoce, diminuição da libido, queixas urinárias e nos órgãos
genitais, confusão com a própria identidade sexual e o fato de poderem se tornar
eles, hoje vítimas, abusadores no futuro. Comprova-se que o sexo masculino,
mesmo que considerado sexo forte, também sofre e sente os distúrbios no seu
desenvolvimento, porém de maneira diferenciada por se tratar de diferença de
gênero sexual.
Bowlby (1998) cita a importância das experiências que a criança vive na
organização da sua personalidade e nos relacionamentos íntimos ao se tornarem
adultos. Os sobreviventes de violência sexual podem adquirir conseqüências
imediatas, ou em longo prazo afetando o desenvolvimento infantil que persiste até a
vida adulta. Encontrado na pesquisa de Maia (2001) relato de jovem de 22 anos que
vítima de incesto por oito anos, persistiu com sintomas de stress pós-trauma,
influenciando até em sua capacidade de planejamento do próprio futuro pessoal e
profissional.
O abuso sexual confunde a mente das crianças, levando as mesmas a
desenvolverem distúrbios psiquiátricos e até psicóticos, se não tratadas. A atuação
psicológica se faz necessária em casos em que a criança perde a capacidade de
continuar a se desenvolver de forma saudável. A psicanálise infantil facilita a
interação entre profissional, criança e familiares, atua para diminuir o amargor do
trauma sofrido, através de atividades lúdicas e jogos.
A ludoterapia utilizada pelos profissionais psicólogos ajuda a assimilar o
trauma sofrido, de forma que a criança tenha retornado à sua saúde mental e física.
35
A psicanálise trata compreendendo a criança como vítima, e ajuda-a renovar sua
imagem corporal e fortalecer-se emocionalmente. Por se tratar de crianças, tornamse necessárias pesquisas relacionadas ao tema, aprofunda no sentido de resgatar
valores tais como respeito à dignidade da criança que, por desprotegida, se torna,
muitas vezes, vítima e não tem seus direitos mais elementares preservados. A
agressão sexual em crianças e adolescentes é passível de ser questionada
juridicamente por ser questão de saúde pública a sociedade deve ter um maior
envolvimento com o tema, preconizando o que trouxe o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), denunciar os casos onde ocorre violência sexual na infância.
5.2 IMPLICAÇÕES DO TRABALHO
Por ser um tema de grande relevância social, a violência sexual infantil
precisa ser acompanhada no meio jurídico e, especialmente, psicológico que é o
aspecto pretendido nesta pesquisa, por interferir no desenvolvimento cognitivo e
psicossomático das crianças até a fase adulta.
O presente trabalho proporcionou uma revisão de forma mais abrangente
para conhecer os aspectos relacionados que envolvem as crianças vítimas de
violência sexual infantil.
5.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Encontrada limitação no aspecto de abuso sexual incestuoso, com poucas
referências na literatura, por ser um assunto pouco revelado pelas vítimas, talvez
devido a fatores como vergonha, medo e culpa por possíveis separações familiares.
Também, encontrada como limitação na presente pesquisa poucos relatos de
atuação do psicólogo no aspecto de tratamento das crianças vítimas de violência
sexual, juntamente com a sua família.
Outro fator limitante se refere ao sexo masculino, encontrado escassez de
estudos relacionados a violência sexual sofrida por meninos, especialmente no
tocante ao tratamento psicológico dos mesmos.
36
5.4 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
Sugere-se pesquisas voltadas às vítimas de violência sexual do sexo
masculino, colocada na limitação desta pesquisa, por dificuldade em encontrar
material de apoio sobre o desenvolvimento infantil de meninos abusados no Brasil.
Atuação psicológica, juntamente com apoio jurídico às vítimas de violência
sexual, é um importante tema a ser pesquisado, o que não foi encontrado na
presente pesquisa e se revelou como necessário a essas crianças, após a apuração
dos resultados.
37
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