UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RENATA BARCELLOS BORGES CONTRIBUIÇÃO DAS MÍDIAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Rio de Janeiro 2007 RENATA BARCELLOS BORGES CONTRIBUIÇÃO DAS MÍDIAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação da Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Educação e Cultura Contemporânea. Linha de Pesquisa: Tecnologias de Informação e Comunicação nos Processos Educacionais. ORIENTADORA: Profª Dra. Lina Cardoso Nunes Rio de Janeiro 2007 RENATA BARCELLOS BORGES CONTRIBUIÇÃO DAS MÍDIAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Aprovada em 14 de junho de 2007. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Profª Drª Lina Cardoso Nunes Presidente Universidade Estácio de Sá _______________________________________ Profª. Drª. Alda Judith Alves-Mazzotti Universidade Estácio de Sá _______________________________________ Profª. Drª. Regina Alcântara de Assis Universidade Estadual do Rio de Janeiro Pontifícia Universidade Católica/RJ DEDICATÓRIA À minha mãe, por tudo que aprendo com ela, sua força, determinação e amor sempre presentes na minha vida. Ao meu pai, querido amigo e companheiro, que sempre atuou como uma referência de vitória para mim. Aos meus avós Targino e Alice pelo amor incondicional e dedicação dada em vida. Aos meus avós Barcellos e Florzinha, pelo amor e afeto dado por toda a vida À minha querida Teca, o meu anjo protetor. À Luiz Fernando Bomfim, companheiro de todas as horas À Luiz Carlos Fraga, meu grande amor À todas as crianças desse país, que merecem ser respeitadas como sujeitos de direitos sociais. AGRADECIMENTOS À toda minha família e amigos pela força dada na realização dessa pesquisa A Deus, por me dar saúde, força e resistência para alcançar os meus objetivos. À professora, doutora, Mestra Lina Cardoso Nunes, orientadora perfeita, pelo carinho, atenção, tranqüilidade, estímulo, apoio, disponibilidade e segurança na realização deste trabalho. Aos professores doutora Alda Judith Mazotti e doutora Neise de Luz pelo incentivo e pelas sugestões ao meu projeto. Aos professores do mestrado com que me relacionei ao longo desse curso, pela atenção, dedicação e pelas sugestões para a elaboração da minha pesquisa. Aos participantes da escola por colaborar com essa pesquisa. O Tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo: colocar o carro à frente dos bois é o mesmo que retirar a quantidade de tempo que um empreendimento exige; e ninguém ainda em nossa casa há de começar nunca as coisas pelo teto: começar as coisas pelo teto é o mesmo que eliminar o tempo que levaria para erguer os alicerces e as paredes de uma casa Raduan Nassar,2005 RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo analisar a contribuição das mídias na construção de conhecimento de crianças matriculadas na Educação Infantil da rede municipal de educação do Rio de Janeiro. O estudo foi realizado na escola Júlia Kubitchek e envolveu a equipe pedagógica da escola – diretora, coordenadora e professores – e as crianças. Os dados foram coletados por meio da observação participante de atividades desenvolvidas com as crianças e de entrevistas com a equipe pedagógica Os dados das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo, buscando os temas recorrentes nas falas dos professores. O embasamento teórico recorreu a estudos e pesquisas sobre sócio-interacionismo, aprendizagem e mídias e educação Infantil. A análise dos dados apoiou-se principalmente em Vigotski, Belloni, Fantin e Kramer, bem como no Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil e no Programa do Multieducação. Os resultados indicaram que, embora considerem que o computador contribui para a construção de conhecimento, os participantes do curso apontaram algumas dificuldades, entre as quais se destacam: (a) o uso das mídias sem acompanhamento e orientação pedagógica; (b) o uso das mídias sem objetivos educacionais; (c) a necessidade de um maior empenho em políticas que invistam num trabalho pedagógico de qualidade para a Educação Infantil; e (d) a necessidade de reconhecer a relação existente entre educação e comunicação Nas considerações finais são assinalados aspectos relevantes, em especial relacionados: à ênfase nas interações sociais como responsáveis pela constituição do sujeito; ao reconhecimento das mídias como novas formas de leitura de mundo, o que exige o desenvolvimento de uma postura crítica e de capacidades comunicativas, expressivas e relacionais para avaliar o que está sendo oferecido por estas mídias; e ao papel dos professores como mediadores na construção do conhecimento, oferecendo às crianças momentos de criação, discussão e comparação das produções midiáticas. Palavras-chave: Educação Infantil. Comunicação. Mídias. Sócio-interacionismo., Aprendizagem. Interações sociais. ABSTRACT This research aimed at analyzing the contribution of media in the knowledge building process in children enrolled at Elementary School courses of the municipal schools in Rio de Janeiro. The study was performed at Julia Kubitchek School and involved the school’s pedagogical staff- principal, coordinators and teachers- and the children. Data was collected through observation and active participation in children’s activities as well as through interviews with the pedagogical staff. The results of the interviews were submitted to content analysis, in order to spot the recurring theme in teachers’ discourse. Theory was based on studies and researches on social interactionism, learning, media and child education. Data analysis was mainly based on Vigotski, Belloni, Fantin and Kramer, as well as on the Elementary Schools’ Reference National Curriculum and Multieducation Program. Results indicated that, although the participants of the course find computers helpful to build knowledge, they have pointed out some difficulties, amongst which some are important to mention: a) the use of media without follow-up activities or pedagogical orientation; b) the use of media without educational goals; c) the need of a greater effort in policies that would invest on a quality pedagogical support; and d) the need to recognize the relationship between media and education. In the final considerations, some relevant aspects were highlighted: the emphasis on social interaction as responsible for one’s growth, the acknowledgement that various kinds of media are new ways to interpret the world, which demands the creation of a critical point of view and communicative, expressive and relational skills in order to evaluate what is being offered by these medias; and the role of teachers as mediators in building knowledge, offering children moments for creation, discussion and comparison of what is produced by the media. Key words: Child Education, Communication. Medias. Social interactionism. Learning. Social Interactions. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Divisão das turmas.......................................................25 Quadro 2 –Atividades Desenvolvidas..............................................73 Quadro 3 –Temas e Subtemas........................................................83 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 1 –Atividade do desenho 1.............................................................75 Fig. 2 –Atividade do desenho 2.............................................................76 Fig. 3 –Início da Atividade do Castelo...................................................78 Fig. 4 –O Castelo em Construção..........................................................78 Fig. 5 – As Crianças de cinco anos e o Castelo.....................................78 Fig.6 – O Castelo construído das Crianças de cinco anos ....................79 Fig.7- As Crianças de quatro anos e o Castelo.......................................80 Fig.08- O Castelo construído das Crianças de quatro anos...................80 LISTA DE SIGLAS TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação MULTIRIO – Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro ONU – Organização das Nações Unidas RCNEI – Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil MEC – Ministério da Educação e Cultura . SME – Secretaria Municipal de Educação SMERJ – Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro FPS - Formação das Funções Psicológicas Superiores ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação) SAM- Serviço de Assistência ao Menor FUNABEM- Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor LBA.- Legião Brasileira de Assistência SMDS – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social UNICEF- Fundo das Nações Unidas para a Infância COEDI - Coordenação de Educação Infantil UNESCO- Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura PNADs - Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 1.1 CONTEXTO DO PROBLEMA ..........................................................................15 1.2 OBJETIVO GERAL E JUSTIFICATIVA..............................................................22 1.3 METODOLOGIA................................................................................................23 1.3.1 Tipo de pesquisa ...........................................................................................23 1.3.2 Local, Sujeitos e Instrumentos de Pesquisa ..............................................24 1.3.4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................................. .26 1.3.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................................ 26 2 REVENDO OS REFERENCIAIS TEÓRICOS...................................................... 29 2.1 SÓCIO- INTERACIONISMO...............................................................................29 2.2 APRENDIZAGEM E MÍDIAS...............................................................................40 2.3 EDUCAÇÃO INFANTIL.......................................................................................56 3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................ 70 3.3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELAS CRIANÇAS.......................................71 3.4 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS.........................................................82 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 120 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 127 ANEXOS ................................................................................................... ..132 ANEXO A: Roteiro para entrevista com as professoras....................................132 ANEXO B: Orientação da conversa com as crianças após o filme...................133 ANEXO C: Desenho...........................................................................................134 ANEXO D: Registro da Atividade.......................................................................135 ANEXO E Autorização da SME.........................................................................136 1.INTRODUÇÃO 1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA O advento das tecnologias da informação e comunicação possibilitou a construção de comunidades virtuais que buscam aprender e ensinar num processo de trânsito pela pluralidade e diversidade. Do cinema mudo às redes telemáticas, as principais instituições sociais, como indica Belloni (2001), foram transformadas por estas tecnologias. Os processos desenvolvidos pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC) apontam para uma outra alternativa na construção de conhecimento: a rede. A rede, segundo Gomez (2004), deve ser entendida como um círculo criativo de vida, entrelaçando homem, cosmos e natureza. Os dispositivos e tecnologias do nosso tempo devem ser usados para aproximar as pessoas e educar na solidariedade humana. Dificilmente, alguém entenderá que, na base dessa afirmação, está só o ensino ou só a aprendizagem como sinônimo de educação, pois no processo educativo um não se entende sem o outro. Por isso, a idéia de apreender os sujeitos na rede de aprendizagem significa tornar comum a todos sua própria história, sua cultura e seu desejo de saber dos outros, de si mesmo e do mundo (GOMEZ, 2004, p.54). Segundo Papert (1994), as tecnologias de informação, desde a televisão até os computadores abrem oportunidades para melhorar a qualidade no ambiente de aprendizagem. As crianças, especialmente, as que têm acesso ao computador, de acordo com Papert (1994) entram em um apaixonante caso de amor com a máquina, pois a utilizam para comunicar-se, obter informações, desenhar, jogar, estabelecer ligações e interações sociais. Nesse sentido, o computador contribui na construção de conhecimento pelas crianças. Estas são influenciadas desde cedo pelos avanços tecnológicos e pela crescente complexificação dos meios de comunicação. Moran (2000 apud HAETINGER, 2003) esclarece que a relação que a criança estabelece com a mídia eletrônica é prazerosa, e acaba a criança vendo o mundo de uma forma mais fácil, agradável e compacta. As mídias podem ser analógicas ou digitais. As analógicas – jornais, revistas, TV e Vídeo, entre outros – por serem mais facilmente apreendidas pelos sentidos e também mais familiares ao público, em geral, instituem a chamada comunicação de massa. (COSTA, 2005) Na concepção do Núcleo Curricular Básico do Multieducação1 da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro (1996) que foi encaminhado a toda Rede Municipal de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro com apoio da MultiRio – Empresa de Multimeios do Município do Rio de Janeiro – tem como proposta lidar com os múltiplos universos que se encontram na escola. Para o Multieducação, mídia significa um conjunto de meios de comunicação e informação utilizados na sociedade. Costa (2005, p.156) a define como “um conjunto heterogêneo e diversificado de diferentes veículos de comunicação que se organizam como um sistema, pelo qual, informações, as mais diferentes e controversas possíveis, transitam”. Sendo assim, Fernandez2 (2003) ressalta que vivemos numa época em que a experiência de expressivo número de crianças é marcada pelo freqüente contato com as mídias e que estas influenciam o modo como as crianças se relacionam com 1 O Multieducação está para ser relançado em 2006. As citações feitas do Multieducação neste projeto são referentes aos fascículos que saíram em 2005 para a proposta do Multieducação de 2006. 2 Dissertação de mestrado da autora Fernandez referente ao estudo das mediações na produção de sentido das crianças sobre os desenhos animados na Puc/Rj no ano de 2003. a cultura e como elaboram novas formas de acessar a informação e construir conhecimento. Kramer (2002) reforça que no processo do desenvolvimento infantil há influências marcantes do seu meio sócio-econômico e cultural. Assim, o Multieducação identifica a concepção de construção de conhecimentos como resultado de uma rede de relações simbólicas, imersas num contexto histórico e cultural.A possibilidade de construção de conhecimentos se faz presente nas interações sociais desde que a criança vem ao mundo. Segundo Machado: [...] menosprezar a capacidade de elaboração subjetiva de cada ser humano ou a responsabilidade da instituição da educação infantil frente à gama de conhecimentos significa, no mínimo, empobrecer o universo infantil. (MACHADO, 2004 p. 26). Nessa perspectiva, o Multieducação da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, sinaliza que as crianças do século. XXI já nascem mergulhadas numa sociedade midiática. [...] Os livros, o rádio, a televisão, o celular, os outdoors, os jogos eletrônicos, a publicidade e outras formas de tecnologias de informação e comunicação são elementos que colaboram para que as crianças possam entender o ambiente. Pela vivência nessa sociedade e ao usar essa linguagem, as crianças constituem valores, e se reconhecem como meninos ou meninas, ricos ou pobres, negros ou brancos. Assim, a Mídia contribui com diferentes formas de ser e estar no mundo. As crianças identificam-se com as linguagens da mídia, pois elas estão presentes no seu dia-adia, e é com desenvoltura que lidam com as tecnologias audiovisuais e de informática. (MULTIEDUCAÇÃO, s/d, p.24). Dessa forma, o Multieducação revela que educar para as mídias3 é considerar que professores e alunos se apropriem de forma crítica das diferentes mídias, suas 3 O Multieducação esclarece, também, as expressões “educação pela mídia” e “com a mídia”. Nessa perspectiva, a educação pela mídia seria denominada Educação a Distância (EAD) e educação com a linguagens e estéticas, e, que nesse sentido, envolve não somente o acesso às mídias, mas também, atividades voltadas para os seus modos de produção. As questões de educação para a mídia e a participação das crianças estão relacionadas aos direitos das crianças não só em relação à mídia, mas também, na sociedade. Baseado na convenção da ONU sobre os Direitos da Criança: [...]a criança deve ter acesso a informações e materiais de várias fontes nacionais e internacionais, especialmente àquelas que objetivam a promoção de seu bem-estar social, espiritual e moral (do artigo 17); a criança deve ter o direito à liberdade de expressão (do artigo 13); e a criança tem o direito de expressar sua opinião com relação a todos os assuntos que a afetam (do artigo 12). Ainda mais hoje em dia – quando a mídia/telecomunicação representam uma área com crescimento Record nas últimas décadas - a explosão da mídia significou uma verdadeira globalização. (FEILITZEN, 2002, p.19) Nesse contexto, Feilitzen (2002) afirma que a educação para mídia e a participação das crianças não constituem o único meio de criar condições sociais mais razoáveis. Ao contrário, é necessário, segundo a autora, analisar a qualidade das produções midiáticas na satisfação das necessidades infantis, a responsabilidade dos pais e da escola na criação de um ambiente mais favorável para a construção do conhecimento. mídia corresponde ao uso das mídias pelas escolas como já é feito sem a necessidade de uma exploração mais efetiva das potencialidades destes meios. Na visão de Mendes4 (2002, p.55), “a criança é um ser que se faz historicamente, dentro de uma concepção de vida inserida numa sociedade, numa data, e num determinado contexto histórico”. Mendes (2002) alerta que a criança não pode ser entendida como alguém que será um dia, ela já é, e continua sendo, na medida em que interage com os mais variados contextos. A democratização das oportunidades, como avalia Mendes (2002), não leva necessariamente a uma igualdade de condições, que só poderá ser equacionada quando se resolverem as questões de distribuição de riquezas e benefícios. Kramer (1995 apud Mendes, 2002) ressalta que não há uma infância única e idealizada e o educador que tenta eliminar as diferenças buscando uma homogeneização, colabora para a exclusão, para a discriminação e para a segregação. Trabalhar com a heterogeneidade como defende a autora (2002) é poder perceber a riqueza das diferenças na construção do conhecimento e na formação do outro. A integração das tecnologias de comunicação e informação no cotidiano escolar, na sala de aula, de modo criativo, crítico e competente [...] exige investimentos significativos e transformações profundas e radicais na formação de professores, pesquisas voltadas para metodologia de ensino, nos modos de seleção, aquisição e acessibilidade de equipamentos e materiais didáticos e pedagógicos, além de muita criatividade. (BELLONI,2001,p.10) Nessa perspectiva, Fernandez (2003) aponta para o desafio da escola de incluir novas formas de leitura de mundo como elementos de formação da criança, tendo em vista que a comunicação e educação, nos dias atuais, estabelecem uma relação indissociável e se a escola não reconhecer isso, perderá cada vez mais 4 A monografia de Mendes foi publicada na coletânea de monografias do Prêmio Anísio Texeira do ano de 2002. espaço para as mídias que estão muito mais próximas da linguagem infantil do que as escolas. Ainda na visão de Davi5, ainda encontramos crianças fora da escola e o grande desafio que hoje se apresenta é o de garantir a permanência da criança na escola, uma vez que a escola pública que atende às crianças das classes trabalhadoras está longe de atender aos anseios e necessidades dessa população. Este tipo de atuação, como ressalta a autora, reflete a fragilidade do Estado no cumprimento do seu papel no que se refere à implantação de políticas públicas. Dessa forma, a função desempenhada pela escola pública na sociedade hoje, na visão de Paro (2004), ainda é de reprodução de uma certa ideologia dominante, na medida, em que nega os valores dos grupos dominados e recoloca as pessoas nos lugares reservados pelas relações que se dão no âmbito da estrutura econômica. Este autor (2004) assinala que precisamos modificar a escola que está aí para termos uma escola transformadora. Alves; Garcia (2004, p.119) propõem que “deveríamos entender por quais caminhos as novas tecnologias e os novos conhecimentos estão entrando na escola, o que a escola faz com isso, e o que cria a partir daí”. A escola, como instituição social, compromissada com a educação de crianças, jovens e adultos, na avaliação de Veiga (2001), precisa estar atenta às transformações sociais, criando condições para favorecer o acesso da população infantil aos recursos midiáticos. Nesse sentido, do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998), destacamos os seguintes objetivos: 5 Dissertação de mestrado da autora Maria do SocorroDavi defendida em 2004 na Universidade Estácio de Sá. 1. estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; (grifo nosso) 2. observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; (grifo nosso) 3. utilizar diferentes linguagens ( corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva. (grifo nosso). A discussão acerca da qualidade de ensino na Educação Infantil vem adquirindo mais destaque a partir da década de 90, acompanhando as mudanças legais e políticas trazidas com a redemocratização do país. A partir da Constituição de 1988, o MEC publicou uma série de estudos e documentos, entre os quais estão os que propõem critérios de qualidade e parâmetros para a autorização do funcionamento de instituições de Educação Infantil. Apesar de terem sido implementadas reformas legais e institucionais na Educação Infantil brasileira, algumas pesquisas6 destacam que velhas concepções e preconceitos marcados pela escravidão e colonização ainda marcam o presente. Além disso, Fullgraff; Wilggers e Campos alertam que: [...]rotinas e práticas assistencialistas ainda fazem parte da Educação Infantil e resistem às propostas mais generosas que presidiram as novas diretrizes legais, baseadas em uma visão da criança como sujeito de direitos, orientada pelos conhecimentos da psicologia do desenvolvimento e informada pelas noções de respeito e diversidade. (FULLGRAFF, WILGGERS CAMPOS,2001,p.13) Assim, a situação da criança brasileira, na ótica de Souza: 6 Fullgraf;Wiggers;Campos; publicaram um artigo sobre “Qualidade na Educação Infantil : resultado de uma reunião de pesquisas” para Anped que pertence ao grupo de trabalho-7 ( GT-7) sobre Educação Infantil. [...]não é apenas fruto da escassez de recursos, mas de opções políticas que deixam de favorecer as crianças de baixa renda, negando-lhes, muitas vezes, oportunidade de freqüentar instituições que de fato contribuem para sua formação. (SOUZA, 1996,p.18). A vontade política de se trabalhar na construção de cidadãos dentro de uma sociedade que se quer democrática, na concepção de Oliveira (2004), faz com que a ampliação de conhecimentos e experiências contemple todas as crianças das diferentes camadas sociais, e não apenas às pertencentes aos extratos de maior prestígio social, possibilitando o acesso às mais diversas linguagens. Aqui se insere a situação problemática deste estudo: Como as escolas públicas têm oportunizado a inserção das mídias na Educação Infantil, tendo em vista, a contribuição destas para a construção do conhecimento. 1.2 – OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA O presente estudo tem como objetivo principal analisar a contribuição das mídias na construção de conhecimento das crianças matriculadas nas escolas de Educação Infantil da rede municipal de educação do Rio de Janeiro. Daí emergem os seguintes objetivos específicos: (a) Apontar as atividades desenvolvidas com as mídias pelos professores; (b) Analisar como as mídias colaboram para a comunicação e interação social das crianças; (c) Investigar como as mídias favorecem a criatividade e autonomia das crianças. De acordo com Souza (1996, p.15):. [...] a educação infantil tem sido discutida e analisada principalmente nas últimas décadas, quando movimentos sociais passaram a reivindicá-la para as crianças de zero a seis anos. As creches e pré-escolas vêm tentando encontrar uma identidade própria, diferente daquela que as considerava preparatória para o 1ºgrau ou compensatória, ou de guarda e assistência. O importante na busca dessa identidade é uma questão que hoje faz parte dos problemas educacionais: a construção de uma instituição educacional de qualidade A MultiRio, Empresa Municipal de Multimeios, criada pela lei municipal 2029, em outubro de 1993, vem atuando em consonância com a política educacional da Secretaria Municipal de Educação com o objetivo de desenvolver diversas ações voltadas para a produção de mídias de qualidade e sua apropriação por parte dos professores e alunos. Percebemos que diversos programas e projetos são desenvolvidos na Rede Pública Municipal de Ensino no intuito de viabilizar uma educação pública de qualidade. A preocupação desta pesquisa é verificar como as escolas têm oportunizado a inserção das mídias na Educação Infantil, uma vez que só a partir da Constituição de 1988 o funcionamento da Educação Infantil foi autorizado, e o MEC propôs alguns critérios de qualidade e parâmetros para o andamento destas instituições. Dessa forma, a relevância desta pesquisa está no fato de ampliar os conhecimentos na área de Educação Infantil e fornecer dados significativos sobre a qualidade do trabalho com as crianças e as suas relações com as mídias na construção do conhecimento. 1.3 – METODOLOGIA 1.3.1- Tipo de Pesquisa Essa pesquisa foi desenvolvida em uma abordagem qualitativa. Bogdan e Biklen (1991) apontam que a investigação qualitativa pode ser caracterizada da seguinte forma: a) o ambiente natural é a fonte direta de dados e o investigador o instrumento principal; b) o contexto no qual é realizada a pesquisa é foco de preocupação dos investigadores; c) a descrição dos dados recolhida é em forma de palavras ou imagens e não de números; d) a ênfase dos investigadores é no processo; e) os dados são analisados de forma indutiva; f) o significado é relevante na pesquisa qualitativa, pois retrata o modo como diferentes pessoas dão sentido as suas vidas. O objetivo da investigação qualitativa, na ótica dos autores, é o de melhor compreender o comportamento e experiência humana, na ênfase do processo mediante o qual as pessoas constroem significados. Sendo assim, para Bogdan e Biklen (1991), os estudos qualitativos preocupam-se com o rigor e abrangência dos dados. 1.3.2- Local, Sujeitos e Instrumentos de Pesquisa O estudo teve, inicialmente, um caráter exploratório a fim de fazer um levantamento na SMERJ (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro) sobre as escolas de Educação Infantil que dispõem de salas de multimídia e /ou laboratório de informática. O estudo foi realizado na escola Julia Kubichek, de acordo com a indicação da SME (Secretaria Municipal de Educação), conforme está no Anexo E. A escola pública municipal Júlia Kubitchek fica localizada no Horto, bairro da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro em que atende, exclusivamente, o segmento da Educação Infantil composto por crianças das comunidades do Horto e da Rocinha. A escola funciona em uma casa adequada às necessidades da Educação Infantil. A área externa da casa é usada para algumas atividades livres e /ou recreio. Da área interna constam: quatro salas de aula, uma sala que, em princípio, seria exclusiva para leitura, mas que no momento está desativada e serve para guardar os livros pelas professoras e pelas crianças, os dois aparelhos de DVD, os dois vídeos, fitas de DVds, fitas de vídeos e materiais pedagógicos; uma sala da direção/coordenação em que também funciona como secretaria para atendimentos à comunidade e uma cozinha. Nesta sala da direção está instalado um computador com internet. Cada sala de aula possui cinco mesas com cadeiras, quadro, um cantinho com materiais pedagógicos, som, televisão. Em uma destas quatro salas há um computador que não tem internet, doado pela IBM, por meio de uma parceria da empresa com a SME. Este projeto da IBM, chamado de Kidsmart, tem como objetivo doar computadores para ser utilizados por crianças da rede pública. A escola funciona em horário integral (manhã e tarde) com quatro turmas de Educação Infantil, cada uma com vinte e cinco alunos. As turmas são divididas em dois grupos, as crianças do grupo 1 têm aproximadamente cinco anos e as do grupo 2 têm aproximadamente quatro anos,conforme o quadro explicativo abaixo: Quadro 1 – Divisão das Turmas Turmas Nº de turmas Nº de crianças Crianças com 5 anos 02 25 Crianças com 4 anos 02 25 Total 04 100 A direção da escola é formada por uma diretora, uma diretora adjunta e uma coordenadora que respondem por toda parte da administração e supervisão escolar. Esta equipe planeja junto às cinco professoras e uma professora de Educação Física as atividades de cunho pedagógico. Vale ressaltar que a coordenadora, também, tem atuado à tarde como professora, visto que do corpo docente constam seis professoras de Educação Infantil, sendo que uma está de licença por motivos de saúde. Fazem parte do quadro de funcionários uma servente e duas merendeiras, que são responsáveis pela limpeza da escola e pela alimentação das crianças, isto é, café da manhã, almoço e jantar. 1.3.3- Análise e Interpretação dos dados Os dados coletados foram analisados a partir da análise temática. Segundo Bardin (1998, p.105), a análise temática consiste em descobrir os núcleos dos sentidos e “cuja aparição ou freqüência de respostas podem significar algo.para o objectivo analítico escolhido” Esta técnica, de acordo com a autora (1998) organiza o conjunto de entrevistas, por meio de uma grade de categorias projetadas sobre os conteúdos. A freqüência, segundo a autora, dos temas extraídos do conjunto das vozes dos participantes constitui um feixe de possibilidades para a análise temática. Dessa forma, se exige uma leitura minuciosa das falas dos entrevistados e uma análise exaustiva dos registros das atividades das crianças no seu ambiente de aprendizagem. Para elaborar esta dissertação foram utilizados procedimentos adequados à pesquisa qualitativa, a saber: (a) entrevistas semi-estruturadas com professores e (b) observação das atividades desenvolvidas pelas crianças, com registros no diário de campo. Com as professoras (P1,P4,P5,P6,P7) a coordenadora (P3) e a diretora (P2) da escola foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (Anexo A). Zago (2003) descreve a entrevista como sendo um instrumento de relação social cuja função é complementar informações e ampliar os ângulos de observação e a condição de produção de dados. A diretora adjunta não pôde participar da entrevista, pois no período em que os participantes foram entrevistados ela precisou se ausentar, por motivo de doença, As atividades desenvolvidas com as crianças tiveram a participação da pesquisadora que após o período inicial de sua observação propôs a coordenação que fosse elaborada junto com as outras professoras atividades que envolvessem todas as turmas no uso de outras mídias, já que no primeiro mês de observação, a pesquisadora analisou que as atividades que as professoras desenvolviam em sala de aula eram voltadas mais para atividades livres com materiais pedagógicos e contação de histórias. Essas atividades serão melhor explicitadas no capítulo 3 da pesquisa. Para Rizzini (1999, p.71), a observação participante é uma técnica de pesquisa na qual “o pesquisador observa e participa do contexto sociocultural de um grupo ou comunidade”. Ao se inserir no grupo, o observador pode conseguir informações que não poderia obter de outra forma e compará-las com os dados coletados por meio de entrevistas ou questionários. Após a coleta de dados, estes serão analisados criticamente, à luz das referências teóricas adotadas para o estudo. 1.4 Organização da dissertação O capítulo 1 constitui a introdução do estudo e compreende: o contexto do problema; os objetivos da pesquisa e os procedimentos metodológicos. O capítulo 2 intitula-se Revendo os referenciais teóricos, dividindo-se nos seguintes tópicos: 2.1 Sócio-interacionismo; 2.2 Aprendizagem e Mídias; 2.3 Educação Infantil. O capítulo 3, denominado Análise e interpretação dos resultados, está assim organizado: 3.1 Atividades desenvolvidas com as crianças e 3.2 Análise dos dados qualitativos. O capítulo 4 apresenta as considerações finais, seguidas das referências bibliográficas e dos anexos do estudo. 2- REVENDO OS REFERENCIAIS TEÓRICOS Este capítulo reúne tópicos relacionados à problemática estudada, abordando aspectos teóricos relevantes para fundamentar a análise dos dados da pesquisa, destacando-se: (a) breve exposição sobre o sócio-interacionismo e as implicações sobre o desenvolvimento da criança; (b) relações entre as Mídias e a Aprendizagem e (c) síntese de pontos significativos sobre a Educação Infantil. 2.1 SÓCIO INTERACIONISMO O desenvolvimento e aprendizagem infantil, na visão de Vigotski (2003) estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. Nesse sentido, o autor (2003) reforça o papel das interações sociais na formação das estruturas mentais superiores, postulando que a criança e o conhecimento interagem De acordo com Machado (2004, p.29),” para o sócio-interacionismo, aprendizagem, ensino e desenvolvimento são processos distintos que interagem dialeticamente”. A categoria da atividade humana é central para a fundamentação teórica de Vigotski, a qual tem como matriz os fundamentos ontológicos e sócio-históricos de Marx. Isto quer dizer que o significado da concepção interacionista de Vigotski refere-se a uma determinada mediação entre homem e natureza, sendo esta última, também, modificada pelo homem. Esta teoria rompe com os limites biológicos e caracteriza-se por um sujeito que transforma intencionalmente a natureza e a si mesmo. (OLIVEIRA, 2006). Vigotski (2003, p.10) enfatiza que “o mecanismo de mudança individual ao longo do desenvolvimento humano tem sua raiz na sociedade e cultura”. Todo o fenômeno é um processo em movimento e mudança. Nesta linha de raciocínio, o autor (2003) reforça que a raiz da transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos está na sociedade e na cultura. Assim, para analisar a concepção sócio-interacionista de Vigotski acerca do desenvolvimento e aprendizagem, achamos relevante destacar aspectos significativos sobe as idéias vigotskianas. 2.1.1 O Instrumento e o Símbolo no desenvolvimento da criança. Vigotski (2003,p.26) ao tratar do desenvolvimento de fenômenos mais complexos do comportamento humano ressalta que a maturação é um fator secundário deste processo e que o desenvolvimento desses comportamentos “caracteriza-se por transformações complexas, qualitativas, de uma forma de comportamento em outra”. Para Vigotski ( 2003, p.169): [...] a fala é, de longe, o comportamento de uso de signos mais importante ao longo do desenvolvimento da criança. Através da fala, a criança supera limitações imediatas do seu ambiente. Ela se prepara para a atividade futura; planeja, ordena e controla o próprio comportamento e dos outros. A fala também é um exemplo excelente do uso de signos, já que uma vez internalizada, torna-se uma parte profunda e constante dos processos psicológicos superiores; a fala atua na organização, unificação e integração de os aspectos variados do comportamento da criança, tais como: percepção, memória e solução de problemas. O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, na ótica do Vigotski (2003), que dá origem às formas humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática convergem. Assim que a fala e o uso de signos são incorporados a qualquer ação, esta se transforma e se reorganiza em linhas inteiramente novas. Antes de controlar o próprio comportamento, Vigotski (2003, p.33) revela que “a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente, além de uma nova organização do próprio comportamento” A criação dessas formas humanas de comportamento produz o intelecto e constitui a base do trabalho produtivo: a forma humana do uso de instrumentos. A fala é tão importante quanto a ação para atingir um objetivo. A fala da criança e sua ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa, dirigida para a solução de um problema. Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior a importância que a fala adquire na operação psicológica como um todo. As crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala. Além da fala facilitar a efetiva manipulação dos objetos pela criança, controla, também, o comportamento da própria criança. (VIGOTSKI, 2003). Em seus estudos Vigotski (2003) leva a concluir que as crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como a dos olhos e das mãos Desse modo, para o autor (2003, p.35): [...] essa unidade de percepção, fala e ação, que, em última instância provoca a internalização do campo visual, constitui o objeto central de qualquer análise da origem das formas caracteristicamente humanas de comportamento. No processo de solução de um problema a criança é capaz de incluir estímulos que não estejam contidos no seu campo visual imediato. Usando palavras – uma classe desses estímulos - para criar um plano de ação específico, a criança realiza uma variedade muito maior de atividades, usando como instrumentos não somente aqueles objetos à mão, mas procurando e preparando tais estímulos de forma a torná-los úteis para a solução da questão e para o planejamento de ações futuras. (VIGOTSKI, 2003) Vigotski divide o desenvolvimento da fala em três etapas: fala externa, fala egocêntrica e fala interna. (2003) A fala egocêntrica das crianças, na concepção do autor (2003), deve ser vista como uma forma de transição da fala exterior para fala interior, uma vez que a fala egocêntrica está relacionada à fala social das crianças que se remetem aos adultos quando deparam com a impossibilidade de resolver problemas por si mesmas, e, nesse momento, passam a dar um significado ao problema em questão, transformando a fala social em fala interior. Vigotski (2003, p.38) enfatiza que: [...] a capacidade específica humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a controlar seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. Martins (2006) ao estudar Vigotski na relação entre pensamento e linguagem ressalta esta relação, chamando atenção para análise em unidades, ou seja, essa unidade representaria o aspecto interno da palavra, o seu significado, pois a palavra sempre se refere não a um objeto isolado qualquer, mas a todo um grupo ou toda uma classe de objetos. A análise por unidades, de acordo com a avaliação da autora, demonstra que existe um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. A gênese da comunicação na criança, segundo Mello (2006) está condicionada pela atividade do adulto de fazer dela interlocutora, ou seja, sujeito no processo da comunicação. É nesse processo que se cria na criança a necessidade de comunicar-se.Para Vigotski (2003, p.40): [...] desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e sendo dirigidos a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. Em consonância com este pensamento, cabe ao educador perceber a história individual de cada criança como parte de sua identidade, reconhecer os valores e a linguagem que as crianças trazem para a escola. Identificar que a criança é um ser capaz e competente, abre oportunidades de acesso ao conhecimento e à cultura. 2.1.2 O Desenvolvimento da Percepção e da Atenção Para Vigotski (2003) a relação entre o uso de instrumentos e a fala afeta funções psicológicas, em particular a percepção, as operações sensório-motoras e a atenção, cada uma das quais é parte de um sistema dinâmico de comportamento. A partir de observações correlatas, Vigotski (2003) revelou que a rotulação é a função primária da fala nas crianças pequenas. Desse modo o autor (2003) nos explica que a rotulação capacita a criança a escolher um objeto específico, isolá-lo de uma situação global por ela percebida concomitantemente. No entanto, a criança enriquece suas primeiras palavras com gestos muito expressivos que compensam sua dificuldade de expressar-se de forma inteligível por meio da linguagem. De acordo com o autor (2003, p.43) ” a criança começa a perceber o mundo não somente através dos olhos, mas também através da fala”. O imediatismo da percepção é suplantado por processo complexo de mediação; a fala torna-se parte essencial do desenvolvimento cognitivo da criança. O papel da linguagem é fundamental, visto que elementos independentes num campo visual são percebidos simultaneamente e nesse sentido a percepção visual é integral. A fala, por sua vez, requer um processamento seqüencial. Os elementos, separadamente são rotulados e, então, conectados numa estrutura de sentença, tornando a fala essencialmente analítica.Assim, linguagem e percepção estão ligadas. (VIGOTSKI, 2003) O mundo para criança não é percebido em cor e forma, mas também como um mundo com sentido e significado. A percepção é parte de um processo dinâmico de comportamento; por isso, a relação entre as transformações dos processos perceptivos e as transformações em outras atividades intelectuais é de fundamental importância. (VIGOTSKI,2003) De acordo com a visão vigotskiniana (2003, p.47): [...] além de reorganizar o campo visual-espacial, a criança, com o auxílio da fala, cria um campo temporal que lhe é tão perceptivo e real quanto o visual. A criança que fala tem, dessa forma, a capacidade de dirigir sua atenção de uma maneira dinâmica. Ela pode perceber mudanças na sua situação imediata do ponto de vista de suas atividades passadas, e pode agir no presente com a perspectiva do futuro. O campo de atenção da criança engloba não uma, mas a totalidade das séries de campos perceptivos potenciais que formam estruturas dinâmicas e sucessivas ao longo do tempo. A possibilidade de combinar elementos dos campos visuais, presente e passado, num único campo de atenção, leva à reconstrução básica da memória que por meio das formulações verbais de situações e atividades passadas, a criança liberta-se das limitações da lembrança direta e sintetiza o passado e o presente de modo conveniente a seus propósitos. (VIGOTSKI, 2003) 2.1.3 A Estrutura das Operações com Signos. Toda forma de comportamento, como avalia Vigotski (2003), pressupõe uma reação direta a uma situação problema que pode ser representada através da configuração estímulo e resposta ( S – R) . Para Vigotski (2003), a estrutura de operações com signos requer um elo intermediário entre o estímulo e a resposta que possibilita aos seres humanos uma estrutura específica de comportamento e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na cultura. O conceito de mediação torna-se possível por meio dos sistemas simbólicos que representam a realidade (instrumentos de linguagem que regulam as ações sobre os objetos e sobre o psiquismo). Segundo Smolka(2006) ao falarmos do termo mediação postulado por Vigotski, o fazemos de forma natural na afirmação de que é pelo outro e pelo signo que o conhecimento se constrói, e muitas vezes nos escapam as raízes históricas e as dimensões dessa afirmação. Na visão de Smolka (2006) os instrumentos e recursos de mediação tem sido importantes nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, mas o estatuto teórico desses instrumentos técnicos e simbólicos não é o mesmo em diferentes abordagens. O que se entende por História e por Cultura está longe se ser consensual, isto porque conceitos como diversidade, pluralidade, heterogeneidade; e noções de sujeito, subjetividade, vão configurando tensões, debates e mostrando as diferenças. Vigotski, na análise da autora(2006), propõe a emergência da produção de signos como chave para se compreender a conversão das relações sociais em funções mentais.O signo é relacionado, inicialmente, a um ato instrumental e posteriormente,vai se tornando constitutivo da significação. Na reflexão de Smolka(2006, p.7): [....] entre o sinal(movimento de agarrar o objeto e o signo (algo que se produz na relação com o outro e que transforma o movimento) encontramos a abertura a abertura para um possível que se inscreve nas condições e nas construções humanas. Portanto, para a autora (2006,p.7) “a significação não é unívoca e não é imediata. Ela vai se (re)configurando, se estabelecendo, se convencionalizando na relação entre as pessoas”. A verdadeira essência da memória humana está no ato de os seres humanos serem capazes de lembrar ativamente por meio dos signos. Os próprios homens influenciam sua relação com o ambiente e, através desse ambiente, modificam seus comportamentos. (VIGOTSKI, 2003). 2.1.4 A Internalização. A internalização, para Vigotski (2003,p.74), corresponde “à reconstrução interna de uma operação externa” O autor descreve que o processo de internalização consiste numa série de transformações. Tais mudanças são caracterizadas da seguinte forma: a) uma operação externa é reconstruída internamente e é de importância no desenvolvimento dos processos mentais superiores; b) um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal que reforça que todas as funções superiores originam-se das relações sociais; c) A transformação de um processo interpessoal para o intrapessoal é resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. Tanamachi (2006) enfatiza que o processo de internalização permite a apropriação de conceitos, de valores e de significados a partir da atividade cognitiva e da consciência em relação à atividade externa. A internalização de formas culturais de comportamento, na análise de Vigotski (2003), envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como base as operações com signos. Para Facci (2006), a formação das funções psicológicas superiores (FPS) é decorrente do caráter mediatizado da atividade humana, e amplia as possibilidades de compreensão e intervenção dos homens sobre a realidade. O autor coloca que uma premissa que norteia a produção teórica de Vigotski é que a formação das funções psicológicas superiores se dá do interpsíquico realizado por meio das relações interpessoais para o intrapsíquico, isto é, interiorizada. Todas as funções psicológicas superiores se originam como relações entre os seres humanos. O desenvolvimento destas funções está sujeito à evolução da cultura humana e muda em função das transformações histórico-sociais. A atuação prática sobre a natureza, possibilita a formação das faculdades humanas, criadas historicamente. A produção de idéias, das representações acerca do mundo, do pensamento está associada ao intercâmbio entre os homens.(FACCI, 2006). Martins (2006) ao analisar a obra de Vigotski em torno da concepção do desenvolvimento e aprendizagem humana coloca que o processo de desenvolvimento das funções psíquicas superiores, especificamente humanas, depende de leis objetivas e ocorre por meio da aquisição da produção social acumulada historicamente. Segundo Martins (2006, p.35): [...] Vigotski chama a atenção para o fato de que o processo de desenvolvimento das funções psíquicas especificamente humanas, que ele denomina de funções psíquicas superiores, depende de leis sociais objetivas e ocorre por meio da apropriação da produção social acumulada historicamente. Não está submetida às leis biológicas, mas sim às leis sóciohistóricas: as desigualdades entre os homens não provêm das suas diferenças biológicas naturais, elas são produtos da desigualdade econômica. Desse modo, o lugar ocupado pela criança nas relações sociais, suas condições reais de vida, é a primeira coisa que deve ser notada quando buscamos compreender seu desenvolvimento. 2.1.5 Zona de Desenvolvimento Proximal. A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível real da criança de desenvolvimento determinado pela resolução de problemas independentemente e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas sob orientação dos adultos ou em colaboração com companheiros mais capacitados (VIGOTSKI,2003,p.175) O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) possibilita um trabalho colaborativo entre educador e criança e entre criança e criança. Isto se caracteriza por duas razões: primeiro porque a partir das experiências vividas, social e coletivamente que a criança forma para si as ações internas,e em segundo lugar porque o sujeito que aprende é sempre ativo no processo, isto é, um sujeito das necessidades de conhecimento às quais a atividade proposta na escola deve. O conceito acima citado, de acordo com Vigotski (2003), facilita o entendimento de psicólogos e educadores acerca do curso interno do desenvolvimento humano. Através desse conceito, podemos dar conta dos ciclos e processos de maturação que já foram completados, mas também daqueles que estão começando a amadurecer e desenvolver-se. Para Vigotski (2003) as funções mentais que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, amadurecerão a partir das interações sociais. Com o intuito de ratificar esta questão, Martins (2006) revela que para Vigotski a tarefa essencial da escola é assegurar todos os investimentos, tendo em vista o desenvolvimento do aluno na consolidação de vir a alcançar um desenvolvimento potencial. Tanamachi (2006) na sua leitura de Vigotski acerca do desenvolvimento ratifica que o ensino deve estar voltado para novos conhecimentos, as perguntas sobre os motivos pelos quais os alunos não aprendem devem ser substituídas, na ótica da autora, por perguntas que sinalizem as circunstâncias nas quais os alunos aprendem 2.2 APRENDIZAGEM E MÍDIAS No cenário atual, discutir novas tendências para as mídias na Educação, exige uma reflexão contínua do processo educativo. Nessa perspectiva, entende-se o uso da mídia com o propósito de servir como um instrumento auxiliar aos educadores, uma vez que contribui para o alargamento das vias de comunicação entre as pessoas, explora oportunidades de solucionar problemas com base na cooperação e colaboração conjunta e possibilita o desenvolvimento do pensamento autônomo nos educandos. No tópico da aprendizagem e mídias, a pesquisa almeja contextualizar historicamente o avanço das tecnologias de informação e comunicação e o papel das mídias na construção de conhecimento das crianças que estão na Educação Infantil, tendo em vista, que estas mídias abrem oportunidade para melhorar a qualidade no ambiente de aprendizagem. As crianças são influenciadas desde cedo pelos avanços tecnológicos e pela crescente complexificação dos meios de comunicação. As crianças que vêem muita televisão tem melhores aptidões para construir conceitos de relação espaço-temporais, para compreender as relações entre todo e suas partes, e até para identificar os ângulos das “tomadas de imagens”, o que significa um reforço das faculdades de abstração, pois qualquer teoria é antes de mais nada uma maneira de ver as coisas. (GEENFIELD, apud BELLONI, 2001 p.06). 2.2.1 Sociedade da Informação, aprendizagem e mídias. Na análise de Belloni (2001), as sociedades contemporâneas já estão a exigir um novo tipo de indivíduo e de trabalhador em todos os setores sociais e econômicos: um indivíduo dotado de competências técnicas múltiplas, habilidade no trabalho em equipe, capacidade de aprender e de adaptar-se a situações novas. A autora (2001) menciona que para sobreviver na sociedade e integrar-se ao mercado de trabalho do século XXI, o indivíduo precisa desenvolver uma série de capacidades novas, tais como: autogestão (capacidade de organizar seu próprio trabalho), resolução de problemas, adaptabilidade e flexibilidade frente a novas tarefas, assumir responsabilidades e aprender por si próprio e constantemente, trabalhar em grupo de modo cooperativo e pouco hierarquizado. Na década de 1970, como coloca Castells (2006) um novo paradigma tecnológico emergente da Tecnologia da Informação veio a ser constituído, principalmente nos EUA, que em interação com a economia global e a geopolítica mundial concretizou um novo estilo de produção, comunicação e gerenciamento de vida. Este novo paradigma tecnológico é marcado pela sua capacidade de reconfiguração, um aspecto decisivo em uma sociedade caracterizada por constante mudança e fluidez organizacional. Para Castells (2006) o fator histórico mais decisivo para a aceleração, encaminhamento e formação do paradigma da tecnologia da Informação e para a indução de suas conseqüentes formas sociais foi e é o processo de reestruturação do capitalista empreendido desde os anos 80, de modo que o novo sistema econômico e tecnológico pode ser caracterizado na visão do autor (2006, p.55) como “ capitalismo informacional”. O modelo Keynesiano de crescimento capitalista, de acordo com o autor (2006), levou prosperidade econômica sem precedentes e estabilidade social à maior parte das economias de mercado durante quase três décadas após a Segunda Guerra Mundial e atingiu as próprias limitações no início da década de 1970 em que sua crise manifestou-se sob a forma de uma inflação desenfreada. Quando os aumentos do preço do petróleo em 1974 e 1979 ameaçavam desencadear uma inflação incontrolável, governos e empresas repensaram um processo de reestruturação econômica para a década de 1990. Nessa década, houve um esforço mais decisivo a favor da desregulamentação, da privatização e do desmantelamento do contrato social entre capital e trabalho. Uma série de reformas, tanto no âmbito das instituições como do gerenciamento empresarial, visavam quatro objetivos principais: a) aumentar a produtividade do capital e do trabalho;b) aprofundar a lógica capitalista de lucro nas relações capital/trabalho;c) globalizar a produção, circulação e mercados e d) direcionar o apoio estatal para ganhos de produtividade e competitividade das economias nacionais. (CASTELS, 2006). Na ótica do autor (2006,p.55): [...] a inovação tecnológica e a transformação organizacional com enfoque na flexibilidade e na adaptabilidade foram absolutamente cruciais para garantir a velocidade e a eficiência da reestruturação. Ianni (1994) enfatiza que a globalização do capitalismo concomitante à globalização do trabalho – transição do fordismo para o toyotismo e a dinamização do mercado mundial, favorecidas pelas tecnologias eletrônicas - resignificam os horizontes sociais e mentais para indivíduos, grupos, classes e coletividades; nações e nacionalidades; movimentos sociais e partidos políticos; correntes de opinião pública e estilos de pensamento. O fenômeno da globalização, citado por Dreifuss (1997), ocasiona um aumento e fortalecimento das grandes corporações que formam seus governos paralelos e influenciam os governos nacionais e locais, com o intuito de diluir os poderes nacionais e aumentar o seu controle e poder econômico. Nesse sentido, o autor aponta para a questão de que o poder está diluído e não conseguimos identificá-lo, pois a influência do Estado-Nação minimizou-se. Nessa perspectiva, o autor indica que as grandes corporações estão com sede no hemisfério Norte e que hoje possuem a concentração do poder por meio de fusões, alianças e projetos conjuntos de grandes empresas. As novas tecnologias entraram nesta configuração econômica para ratificar a homogeneização deste poderio econômico, mas dentro de uma lógica paradoxal, também, enfatizam as culturas locais e suas nacionalidades. Dessa forma, Dreifuss (1997) revela que na planetarização a direção do poder vai mudando e se diluindo, cada vez mais, e as redes planetárias formando-se mais fortes e sustentadas por tecnologias mais avançadas. No contexto do mundo globalizado, a educação ganha importância, uma vez que o elevado grau de competitividade ampliou a necessidade de conhecimento e informação. Diante desse cenário, cabe à escola preparar a mão-de-obra qualificada para atender às exigências da competitividade econômica, assim como preparar indivíduos que sejam capazes de continuar a aprender e a incorporar novos conhecimentos. Nessa perspectiva, Facci (2006) alerta que problemas como a falta de empregos, distribuição desigual de renda, formação e condições precárias para o desenvolvimento da prática pedagógica não fazem parte da função da escola em um contexto neoliberal, o qual justifica e defende o individual e a valorização da competição. A sociedade contemporânea tem apresentado imensos desafios para os que atuam na educação. O papel que as mídias têm desempenhado na sociedade da informação, do conhecimento, do espetáculo, e conseqüentemente, na formação dos sujeitos deve ser discutido na escola. (FANTIN, 2006) O conhecimento existente nas sociedades contemporâneas, segundo Lévy (1993), pode ser apresentado em três formas distintas: a oral, a escrita e a digital. Embora as três formas coexistam, é preciso reconhecer que apesar da forma escrita prevalecer nas culturas letradas e a forma oral predominar como meio de comunicação em todas as culturas, a proliferação da forma digital de apreensão do conhecimento faz-se cada vez mais presente no cotidiano das grandes metrópoles. A cada dia surgem novas formas de leitura, escrita e comunicação, implicando em novas formas de pensar, conhecer e agir, ensejando que os indivíduos encontrem-se em constante estado de aprendizagem e de adaptação ao novo. Nos últimos anos, o Núcleo Curricular Básico do Multieducação da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro (1996), destacaram-se discussões acerca da função social e o papel da escola na chamada sociedade da informação e que tem suscitado no meio educacional reflexões em torno das seguintes questões: a) a mudança da centralidade da palavra escrita e falada para uma diversidade de práticas e modos de produção de discursos, fortemente amparada pelas mídias; b) a passagem da concepção de escola como tutora e guardiã absoluta de conhecimentos socialmente produzidos e sistematizados para o reconhecimento de sua coexistência com outros espaços educacionais formais e não formais. É neste contexto informacional que Costa e Paim (2004) reforçam que as relações com o conhecimento adquirem nova dimensão. A tecnologia da informação, na visão.destes autores (2004), poderá, dependendo da forma como venha a ser utilizada, potencializar o processo educativo, à medida que novos instrumentos de mediação irão contribuir na transformação de práticas pedagógicas e a escola irá considerar as experiências vivenciadas dentro de uma cultura. A disponibilização da informação em meio eletrônico ou não, por si só, como defendem Costa e Paim, não assegura o processo de aprendizagem do sujeito. Estes (2004, p.20) afirmam que “a construção de conhecimento depende da ação do sujeito sobre a informação disponível, de modo a atribuir-lhe significado”. O papel da educação é fornecer condições para a criação de ambientes significativos que favoreçam o conhecimento e o desenvolvimento de novas habilidades cognitivas. Ambientes de aprendizagem, na ótica de Oliveira;Costa;Moreira (2004, p.118) podem ser conceituados como “espaços das relações com o saber”. Para tais autores, o saber é o objeto maior do processo de aprendizagem e as relações com o saber, no âmbito da escola, são desenvolvidos por meio das interações dos alunos com os conteúdos, dos alunos com outros alunos, dos alunos com os professores, sob a influência do seu meio afetivo e social dentro e fora da escola. Nessa mesma linha de pensamento, Belloni (2001) ressalta que o processo de socialização é o espaço privilegiado de transmissão social dos sistemas de valores, dos modos de vida, das crenças e das representações, dos papéis sociais e dos modelos de comportamento. De acordo com a autora (2001,p.33): [...] este processo de aprendizagem varia de acordo com o universo de socialização, forçosamente diferente segundo a origem social da criança, definida pela sociedade onde ela vive, pela classe social a que pertence e pelo grupo familiar. Enquanto a família, a classe social, o bairro e, às vezes, a religião são fatores de diferenciação das crianças, a escola e a mídia funcionam como fatores de unificação – o objetivo é o consenso – difundindo os valores e as normas consideradas comuns a todos em uma sociedade. A escola e a mídia, como sinaliza Belloni (2001), desempenham o papel de guardiãs e difusoras de uma espécie de síntese dos valores hegemônicos que formam o consenso indispensável à vida social. Nesse sentido, elas podem ser consideradas como instâncias reprodutoras das estruturas dominantes na sociedade e como produtoras de hegemonia. A cultura audiovisual teve sua ascendência histórica no séc.XX, em primeiro lugar com o filme e o rádio, depois com a televisão, superando a influência da comunicação escrita da maioria das pessoas. Para Castells (2006, p.413) “a tensão entre a comunicação alfabética e a comunicação sensorial não - meditativa determina a frustração dos intelectuais em relação à influência da televisão que ainda domina a critica social da comunicação de massa”. A difusão da TV nas três décadas após a Segunda Guerra Mundial criou uma nova forma de comunicação. O rádio, segundo Castells (2006), perdeu sua centralidade, mas ganhou em penetrabilidade e flexibilidade na adaptação de modalidades e temas ao ritmo da vida cotidiana das pessoas. Os filmes foram adaptados para atender às audiências televisivas e jornais e revistas especializaram nos conteúdos ou enfoque de sua audiência. A mídia, em especial o rádio e a TV, tornou-se o ambiente audiovisual com o qual interagimos constante e automaticamente. No entanto, Castells (2006) revela que enquanto a mídia é um sistema de comunicação de mão única, o processo de comunicação não o é, pois depende da interação entre emissor e receptor na interpretação individual dos produtos midiáticos, da interpretação coletiva da mídia e da ação política é que as platéias dos meios de comunicação em massa serão consideradas ativas. Nessa perspectiva, Belloni (2001) alerta para a questão de não exagerar na importância dada ao papel da televisão na vida das crianças, já que a televisão coloca a criança no lugar de espectador - mais ou menos passivo, mas de qualquer modo nunca participante, pois não interfere no discurso da telinha – e não substitui a comunicação intersubjetiva presente nas relações entre a criança e as pessoas que fazem parte de seu universo. A televisão não substitui a intersubjetividade, conforme reforça Belloni (2001), mas fornece conteúdos para as situações de interação entre a criança e os outros, especialmente a família e o grupo de pares, uma vez que as mensagens da telinha são integradas aos jogos e brincadeiras, em que se manifestam as identificações, a distribuição de papéis e a discussão das regras do jogo, durante o qual se estabelece um complexo jogo de relações intersubjetivas de relevância para o desenvolvimento sócio-afetivo das crianças. As crianças podem ser especialmente vulneráveis aos efeitos da televisão, segundo Healy e Burniske (2001), pois ainda não possuem experiência o suficiente com a vida real por meio da qual possam julgar o que vêem na tela. Além disso, uma vez que os efeitos estão solidificados, eles tendem a exercer uma influência permanente. Assim, a mídia eletrônica tem tido um efeito profundo sobre as nossas percepções de mundo. Os autores remetem a Marshall MacLuhan ao citar que “o meio é a mensagem”e que a televisão não apenas era uma nova fonte de informações, mas altera a natureza da informação que recebemos e, conseqüentemente, nossas respostas a ela. Desde cedo as crianças se encantam com as imagens e concordam voluntariamente em tentar reproduzir o mundo que as rodeia expressando não só a forma como o vêem, mas também que lhes desperta. Biólogos, psicólogos e neurologistas, conforme Costa (2005), reconhecem a importância da visão e da linguagem visual para enfrentar grande parte de situações com que nos deparamos, pois a rapidez com a qual processamos informações visuais e a facilidade de arquivá-las são argumentos fortes em favor do uso das imagens na comunicação humana. A cultura, para Costa (2005), pode ser entendida como um conjunto de significados compartilhado por um grupo, possibilita uma interpretação mais profunda e apurada da experiência visual. Nesse sentido, a imagem visual se desenvolve de forma espontânea em nossa relação com o mundo, o uso da linguagem visual na educação exige planejamento e aprendizado, exatamente pelo caráter ambíguo e afetivo das imagens. Na visão do Multieducação (1996), o fascínio das telinhas da televisão e do computador, a explosão de cores que vendem as receitas de beleza e sucesso fácil das capas de revistas, as pseudonotícias veiculadas pelos jornais e revistas compõem o lado perverso da mídia, que também não pode ser ignorado. Nesse cenário, há um componente de forte impacto na constituição de identidades e disseminação de ideologias que acaba influenciando na fabricação de desejos, na alteração da noção de pertencimento dos sujeitos nos diferentes grupos sociais de que participam e na orientação de suas escolhas e modos de ser relacionar com a realidade. Uma gama de tecnologias de informática tem alterado, como menciona Healy e Burniske (2001) a nossa realidade, transformando a educação dos jovens de maneira inimaginável. Para os autores (2001, p.14): [...] as crianças têm se tornado participantes involuntárias naquilo que pode ser descrito como uma ampla experiência social, que exige uma reestruturação do sistema educacional e, além disso, uma mudança fundamental no modo como as crianças conhecem e experimentam o mundo. Esta reforma, na concepção dos autores (2001) parece provir de duas crenças. A primeira é de que a informática pode tornar a educação mais produtiva e interessante para os alunos de todas as idades e a segunda é a de que os estudantes devem entender e ser capazes de se valer do potencial tecnológico, se desejam participar integralmente da sociedade. Como resultado dessas crenças, existe a convicção de que uma parte essencial da educação de nossas crianças é a aquisição do domínio do computador e de que, para serem instruídas devem ter acesso aos computadores na escola. Em relação a esta questão, Healy ; Burniske (2001, p.14) avaliam que: [...] o uso de computadores na sala de aula, de fato, tem sido uma questão de estar atualizado com as mudanças tecnológicas, porém os objetivos educacionais ficam em segundo lugar. Quanto maior a capacidade da tecnologia, maior a rapidez com que ela é adotada; entretanto, os problemas específicos para os quais ela poderia ser usada raramente são identificados com antecedência. Desde a metade da década de 90, tem havido um enfoque na Internet como ferramenta universal de comunicação e pesquisa, a qual, segundo certas pessoas irá conectar os estudantes com o resto do mundo. Com a multimídia e a Internet houve uma evolução dos softwares educacionais e não há sinal de que o ritmo esteja diminuindo. O progresso tecnológico implica na inserção, de forma progressiva, em inovações nas práticas pedagógicas.(HARLEY; BURNISKE,2001). A escola ao ensinar as crianças pequenas a utilizar os computadores, na análise de Healy ; Burniske (2001) precisa antes orientá-las sobre o mundo que as cerca. Quando as crianças aprendem a usar o computador, elas podem estar mudando suas relações com o mundo, uma vez que a maneira como as informações são acessadas e apresentadas, os modos pelos quais são manipuladas alteram as percepções que as crianças têm a respeito do saber e do fazer. Sendo assim, Ramos (2003) alerta que um maior número de computadores nas escolas não terminaria com a exclusão digital e social, uma vez que a ênfase no processo educativo deve ser dada à transmissão de valores, de princípios éticos, de atitudes responsáveis, de solidariedade, para formar cidadãos emancipados e autônomos. A diversidade de aplicação dos computadores na esfera educativa propicia a criação de diferentes formas de utilização, oferecendo uma considerável ampliação do processo didático. Para Webber (2002), a introdução da Informática na Educação visa ampliar as possibilidades de acesso e manipulação das informações, bem como de desenvolvimento e aprimoramento de processos cognitivos por meio de softwares e hardwares. No plano didático, o uso desta tecnologia traz desafios de diferentes ordens, envolvendo a necessidade de rever princípios, conteúdos, metodologias e práticas compatíveis com a potência dos instrumentos digitais. Graças à interatividade e às possibilidades de intercâmbio que oferece, a Informática pode ser utilizada como instrumento para promover a comunicação, a pesquisa e a produção de conhecimento junto aos alunos, conduzindo à exploração da sua interface ideográfica, característica das linguagens simbólicas. Nas palavras de Moran (2000, p.44): [...] cada vez mais poderoso em recursos, velocidade, programas e comunicação, o computador nos permite pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos conceitos, lugares, idéias. Produzir novos textos, avaliações, experiências. Quando empregados adequadamente, os computadores podem favorecer diferentes modos de se relacionar com o outro e com o conhecimento, despertando a motivação, oferecendo novas propostas de ensino, promovendo maior interação, conferindo mais autonomia ao aprendiz, entre outros aspectos. A utilização de computadores, no processo educativo, na opinião de Guerra (2000) gera um clima favorável para o desenvolvimento de novas competências e talentos: [...] o computador e seus recursos possibilitam colocar os alunos em uma posição ativa de descobridores e construtores do seu próprio conhecimento, em um ambiente de aprendizagem que respeita suas diferenças individuais, na medida em que utilizam diferentes meios e formatos no tratamento e apresentação da informação. (GUERRA,2000 p. 26). Como aliado no processo educativo, o computador torna-se um catalisador de mudanças, na medida em que a sua utilização pode conduzir o professor a desenvolver uma prática pedagógica transformadora, pois, segundo Coimbra (1999, p. 20), “a mudança que a informática proporciona exige o repensar dos processos e a reorganização das estruturas, culturas e paradigmas existentes”. Novas formas de utilização das mídias surgem a cada dia, criando possibilidades que visam aumentar o envolvimento do aluno no processo ensinoaprendizagem, ajudando-o a construir o seu próprio conhecimento, possibilitando o desenvolvimento da autonomia e da criatividade, estando em consonância com o modelo educacional emergente (MORAES, 2001). Este novo modelo educacional, de acordo com Moraes (2001), deveria ser capaz de gerar novos ambientes de aprendizagem, deixando de ver o conhecimento como uma perspectiva fragmentada e estática, e reconhecendo-o como um processo em permanente elaboração. O Núcleo Curricular Básico do Multieducação (1996) aponta a perspectiva Bakthiniana para entendermos que na produção de linguagem, esta não pode ser compreendida apenas como um sistema abstrato, mas como uma criação coletiva que integra um diálogo entre o eu e o outro, entre muitos “eus” e muitos outros. A questão que o Multieducação coloca é como fazer da escola, instituição social e histórica, espaço de constituição de professores e alunos, um lugar que possibilite não só o acesso às mídias, mas a aquisição crítica de suas linguagens e conteúdos na ampliação das possibilidades de ser, estar e interagir no mundo, a partir de práticas pedagógicas que vão ao encontro deste objetivo. Dessa forma, o referido Multieducação (1996) ressalta o termo educação para mídia ou mídia-educação para explicar a importância de que professores e alunos se apropriem de forma crítica das diferentes mídias, o que envolve não apenas as oportunidades de acesso aos meios, como também a vivência de atividades voltadas para o seu modo de produção. Fantin (2006) relata que ao longo da história da educação os pensamentos e práticas acerca da mídia-educação, ou seja, educação para as mídias, foi revelando algumas concepções A concepção inoculatória, como analisa a autora (2006), caracteriza-se pela convicção da força das mídias e na vulnerabilidade da audiência e considera a mídia-educação como um instrumento para proteger os usuários dos perigos da mídia para a saúde moral e cultural das crianças. Tal concepção, na visão da autora (2006, p.42) “ produziu duas orientações, uma protecionista que propagava a defesa da alta cultura e outra de resistência cultural.” O movimento defensivo e paternalista via a cultura de massas como ameaça aos textos literários da alta cultura Assim, Fantin (2006) ressalta que em sua fase inicial a mídia-educação configurou-se como uma educação que questionava os meios e seu objeto de estudo privilegiado foi a publicidade, a literatura popular, revistas em quadrinhos e outros textos fáceis para atrair a atenção do público. A visão da mídia como declínio cultural constitui uma tradição presente até hoje em muitas propostas de educação para a mídia que se reduz às leituras críticas dos meios e também a resistências de muitos professores de se trabalhar com as mídias. A segunda concepção da mídia-educação que começa a ganhar força a partir dos anos 60 é a de leitura crítica, em que professores e estudiosos que apreciavam as formas de cultura popular como o cinema, por exemplo, começaram a perceber um valor intrínseco nestas produções. Como enuncia Fantin (2006, p.44) “isso fez com que proliferassem cursos de cinema em escolas e universidades difundindo uma cultura do cinema que produziu diversas experiências na prática social” Os textos da mídia começaram a interessar estudiosos e a ser reconhecidos por uma dignidade estética e cultural. Como possibilidade de resistência a um contexto hostil de ditaduras militares dos anos 70 e 80, a terceira concepção (FANTIN, 2006) é conhecida como a concepção ideológica que utiliza a mídia-educação para realizar uma comunicação alternativa que possa significar também possibilidade de resistência no interior das lutas políticas. Novos desafios se apresentaram à mídia-educação, e uma outra concepção vai se delineando com o propósito de articular e reconfigurar as questões – é a concepção das Ciências Sociais Nessa concepção, de acordo com Fantin (2006) as mídias representam uma das instâncias da prática social que estabelece complexas relações com outras. Tal concepção é difundida pelos Estudos Culturais a partir dos anos 80. Assim, alguns pressupostos foram analisados pelo Multieducação (1996) no intuito de sistematizar aspectos norteadores para a construção/consolidação de práticas mídia-educativas na escola. Tais práticas são avaliadas da seguinte forma: a TV, o rádio, o jornal e a Internet, entre outras, precisam ser compreendidas como mais do que meras ferramentas de apoio pedagógico. Estas tecnologias constituem uma dimensão que atravessa as relações que se estabelecem dentro e fora da escola. Cabe lembrar que é necessário refletir sobre as bases teóricas que fundamentam a ação educativa, assim como redimensionar os padrões de interação nas salas de aula no reconhecimento de práticas interativas que valorizem a diversidade, a pluralidade e multiplicidade de diálogos. O Multieducação, ainda reforça que o desenvolvimento do trabalho pedagógico deve se orientar numa perspectiva crítica, e compreender os processos pelos quais professores e alunos estabelecem múltiplas relações para acessar, interpretar, criticar e produzir novas informações e conhecimentos. O Multieducação avalia o exercício cotidiano das trocas entre professor e aluno e enfatiza nesta troca um acesso diversificado às diferentes linguagens, tanto nas salas de aula como nos demais espaços da escola; em que haja a identificação das possibilidades de encontro do computador com a tv/vídeo, o jornal, o rádio e o livro, entre outros. Oportunizar diferentes experiências para que os alunos sejam desafiados a pensar de diferentes modos, colocando em jogo suas hipóteses, confrontando idéias para construir coletivamente novas hipóteses. Os professores, mediadores preferenciais, na concepção do Programa, precisam desenvolver uma atitude permanente de abertura ao novo, e a escola consolidar um projeto político pedagógico. Nesse contexto, Belloni (2001) considera que a integração das mídias aos processos educacionais pode ser uma estratégia de grande valia, desde que esta integração ressalte as técnicas em suas dimensões indissociáveis: as ferramentas pedagógicas extremamente ricas e proveitosas para a melhoria e expansão do ensino e o objeto de estudo complexo e multifacetado, exigindo abordagens criativas, críticas e interdisciplinares. Isto exige investimentos significativos e transformações profundas e radicais em: formação de professores, pesquisa voltada para metodologias de ensino, nos modos de seleção, aquisição e acessibilidade de equipamentos; materiais didáticos e pedagógicos, além de muita criatividade. 2.3 EDUCAÇÃO INFANTIL Neste tópico da Educação Infantil, a pesquisa pretende propor uma reflexão acerca do surgimento da Educação Infantil na análise das suas políticas públicas. A criança no Brasil passou a ser vista como uma cidadã em processo, a partir da Constituição de 1988 que reconheceu os seus direitos sociais. No entanto, o que se observa com estudos em torno desta questão é que a educação infantil não recebeu os investimentos necessários para oferecer um atendimento de qualidade aos sujeitos sociais que foram devidamente reconhecidos na Constituição de 1988. O termo política, em princípio, se refere às declarações oficiais de intenção de agir sobre determinados problemas. De acordo com Stromquist (1996), as políticas públicas podem assumir múltiplas formas: legislação, recomendações oficiais em relatórios de organismos e departamentos governamentais e resultados apurados por comissões indicadas pelos governos. Entretanto, cada vez mais essas políticas públicas são determinadas por organismos internacionais, por meio de conferências internacionais e que criam o compromisso moral de seguirem recomendações específicas. Saviani (1997) ratifica que fixar as diretrizes da educação nacional não é outra coisa senão estabelecer os parâmetros, os princípios, os rumos que se deve imprimir à educação no país. Assim, dado um texto da LDB, os objetivos proclamados fluirão diretamente dos títulos que consubstanciam as diretrizes, isto é, que definem o conceito de educação, os fins da educação, o direito, o dever e a liberdade de educar e, de certo modo, a conformação do sistema ou organização geral da educação. Como aponta o referido autor os objetivos reais podem se opor aos objetivos proclamados, situação em que os objetivos proclamados tendem a mascarar os objetivos reais que caracteriza a marca distinta da ideologia liberal, dada a sua condição de fato e de direito. Instala-se a cisão entre a aparência e a essência, entre o direito e o fato, entre a forma e o conteúdo. Estas cisões que o autor coloca como sendo o caráter contraditório da ideologia burguesa. Na direção a uma concepção socialista de LDB, Saviani (1997) sugere uma proposta que supere a contradição entre homem e sociedade na garantia de uma formação básica comum que possibilite a reconciliação entre indivíduo e o cidadão e numa educação de segundo grau que centrada numa idéia de politecnia tal superação já citada, dada a tomada de consciência teórica e prática do trabalho como constituinte da essência humana. Na perspectiva do autor em foco a LDB nos segmentos educacionais da educação básica aponta, em alguns casos, o distanciamento de uma concepção socialista dentro de alguns artigos da lei. Na análise de Saviani (1997) o conceito de Educação Básica adotado implica não apenas uma reordenação do ensino fundamental, mas o empenho decidido em universalizar o ensino médio na perspectiva de uma escola unificada, capaz de articular a diversidade de experiências e situações em torno do objetivo de formar seres humanos plenamente desenvolvidos e, pois, em condição de assumir a direção da sociedade ou de controlar quem dirige. 2.3.1- O surgimento da Educação Infantil e as políticas públicas. As instituições pré-escolares nasceram no século XVIII, como afirma Oliveira (2002), em resposta à situação de pobreza, abandono e maus-tratos de crianças pequenas cujos pais trabalhavam em fábricas, fundições e minas criadas pela Revolução Industrial que se implantavam na Europa Ocidental.Os objetivos e formas de tratar as crianças dos extratos sociais mais pobres das sociedades não eram consensuais e o atendimento à crianças filhas de famílias de baixa renda continuou a seguir modelos assistencialistas ou, quando muito, imitar uma distorcida visão prática pedagógica das pré-escolas organizadas para alunos da classe média. No curso da história, a pré-escola vai assumindo várias funções que vão modificando suas feições. No séc. XVIII, com o surgimento da instituição creche, esta assumiu uma função de cunho assistencialista que percebia a creche e préescola como lugares de cuidados básicos e guarda de crianças. No séc. XIX, a pré-escola começa a assumir outras funções. Surge, nesse contexto, uma perspectiva de pré-escola que não tivesse apenas o intuito assistencialista, mas que se preocupasse com um caráter de preparação, isto é, que preparasse a criança para o ingresso no Ensino Fundamental, uma vez que as crianças pobres munidas de diversas carências necessitavam da pré-escola para compensar todos os seus déficits. Nesse sentido, programas governamentais foram organizados em torno de uma visão compensatória de educação. Dessa forma, a pré-escola começa a assumir uma função em si mesma, com uma preocupação no desenvolvimento global e harmônico da criança respeitando os aspectos, físico, afetivo-emocionais, cognitivos e sociais. Tal função buscava responder às críticas feitas às políticas governamentais de caráter compensatório. A trajetória do atendimento à infância, como analisa Davi (2004), esteve associada à criança e às famílias das classes trabalhadoras. Oliveira (2002) reforça que nessa perspectiva política, só quando segmentos da classe média foram procurar atendimento em creche para seus filhos é que esta instituição recebeu pressões para aprofundar a discussão acerca de uma proposta pedagógica verdadeiramente compromissada com o desenvolvimento e com a construção de conhecimento pelas crianças pequenas. Davi (2004) aponta que no Brasil as creches surgiram no início do século XX, e que o movimento de expansão destes espaços vai ocorrer na segunda metade deste século com o investimento do governo em uma série de programas de assistência à infância, como o SAM, FUNABEM, e a LBA, ficando os dois primeiros, a cargo do menor infrator. Estas instituições não conseguem alcançar o seu objetivo de amparo à criança pobre e desvalida. Na década de 70, o movimento de expansão das creches ganha maior destaque devido a um contingente cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho, fazendo crescer a demanda de espaços seguros que pudessem ficar com seus filhos. O contexto político e econômico presente nas décadas de 70 e 80 – movimentos operários e feministas ocorrendo no quadro da luta pela democratização do país e pelo combate às desigualdades sociais - ocasionou um movimento pela democratização da educação pública brasileira e possibilitou, na Constituição de 1988, o reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como um direito da criança. (OLIVEIRA, 2004), O poder público começa a assumir depois de uma série de investidas da população brasileira, tanto da classe trabalhadora quanto dos grupos organizados da sociedade como um todo (estudiosos, pesquisadores, profissionais liberais) a educação infantil como dever do estado e direito da população. Este tipo de atuação da população pobre que necessita reivindicar pela prestação de serviços que constituem um direito de todo o cidadão, na análise de Davi (2004), reflete uma fragilidade do Estado no exercício e cumprimento do seu papel no que se refere à implantação de políticas públicas. Na década de oitenta, o movimento por creches e pré-escolas acentuou-se, principalmente nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife, exatamente nos locais em que ocorreu um aumento populacional. No Rio de Janeiro, como retrata Davi (2004), esse movimento intensifica-se no início de 1980. Grupos comunitários se organizam com o intuito de minimizar a ausência à educação pública e gratuita. O surgimento de espaços de educação que pudesse abrigar um grupo de crianças ocorria em qualquer lugar; tais como: salas em Associações de Moradores, clubes esportivos, terraços, salões de instituições financeiras, entre outras. Assim, essas comunidades começam a receber apoio do UNICEF, que desde a década de 60 havia estabelecido uma política de atuação a partir das necessidades e prioridades dos países auxiliados. Dessa forma, o UNICEF junto à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – SMDS inicia uma política de repasses de recursos por meio de financiamento com o objetivo de atender à demanda por escolas. Em 1986, o UNICEF em convênio com a SMDS insere-se no Programa de Creches e Pré - Escolas Comunitárias. A SMDS foi criada em 1979 dentro de uma proposta de “desenvolvimento de comunidade”, uma técnica de origem anglo – saxônica, que foi implantada no Brasil após a Segunda Guerra Mundial pela Organização das Nações Unidas – ONU. Sua penetração no país se deu com a ajuda das escolas de serviço social e sua implementação promovia na população uma “sensação” de participação nas decisões marcantes que envolviam seus interesses. O movimento pró-creche e préescola, não surgem apenas como fruto da ausência de escolas e sim pela necessidade e desejo por uma escola que contemple a realidade e anseios das classes populares.( DAVI, 2004) Rosemberg (2002) verifica que esse modelo de Educação Infantil criado nessa época é marcado por algumas características, tais como: a) a expansão da Educação Infantil constitui uma via para combater a pobreza, em especial a desnutrição no mundo subdesenvolvido e melhorar o desempenho do ensino fundamental; b) os países pobres não dispõem de recursos públicos para expandir, simultaneamente, a Educação Infantil e o Ensino Fundamental; c) a forma de expandir a Educação Infantil é por meio de modelos que minimizem investimentos públicos já que a prioridade é no ensino fundamental e d) os programas devem se apoiar nos recursos da comunidade para reduzir os investimentos públicos. A partir da Constituição de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a criança no Brasil passa a ser considerada uma cidadã em processo , sob outro enfoque que o das legislações anteriores. Segundo Fullgraf, Willggers e Campos (2001), os direitos sociais e fundamentais da criança, são reconhecidos como inerentes às crianças, e evidenciam no atual contexto social brasileiro o reconhecimento da criança como sujeito social de direitos e que a Educação Infantil deve ser garantida a todos. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental aprovada em 1998 ratificam que a Educação Infantil, definida nos artigos 29 a 31 da LDB,e dentro das suas especificidades, deverá merecer dos sistemas de ensino os mesmas atenções que a Educação Fundamental. As Diretrizes Curriculares Nacionais(1998) ressaltam a questão que a sociedade brasileira vem assumindo responsabilidades crescentes para com a Educação Básica, sendo esta prioridade nacional como garantia inalienável da cidadania plena. Em contrapartida, Oliveira (2001) analisa que a atual legislação brasileira ampliou o conceito de Educação Básica, a partir da Constituição de 1988 e que tal ampliação deveria significar um maior compromisso do Estado com a educação geral e maior acesso das populações à escolarização formal, mas que ainda são muitos os entraves para que essa norma se torne realidade. Na visão da autora (2001), a partir da Conferência Mundial Sobre Educação para Todos, realizada em Jontien, em 1990, a preocupação com uma educação dirigida à eqüidade social passou a orientar as recomendações dos organismos internacionais ligados à ONU para as políticas educacionais dos países pobres mais populosos do mundo. As reformas educacionais dos anos 90 no Brasil, trouxeram esta finalidade. Esta década de 90 foi também marcada pela tentativa de reformas educacionais que buscavam combinar a universalização do acesso à educação básica com medidas de racionalidade dos custos públicos empregados neste setor. Assim, diante deste contexto colocava-se em risco a tão propalada qualidade nos serviços prestados a sociedade. Essas reformas envolveram diretamente a Educação Infantil, como a sua regulamentação na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e a elaboração do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Após a votação da Constituição, uma nova equipe ocupou o setor de Educação Infantil no MEC/Coedi (Coordenação de Educação Infantil), tendo elaborado uma nova proposta política que enfatizasse o atendimento de qualidade. Dentre as sete diretrizes dessa proposta do MEC de 1993, Rosemberg (2002) destaca as duas que mais evidenciaram a ruptura com o modelo anterior e que priorizam os seguintes pontos: a) a equivalência de creches e pré-escolas, ambas tendo por função cuidar de e educar crianças pequenas como expressão do direito à educação;b) formação equivalente para o profissional de creche e pré-escola em nível secundário e superior. Na análise de Rosemberg (2002,p.42): [...] essas propostas do MEC foram elaboradas com participação de segmentos sociais - universidades, movimentos sociais, partidos políticos, associações profissionais, usuários – que já haviam acumulado um repertório de conhecimentos e experiências sobre este setor das políticas sociais e constituído o consenso de expandir a Educação Infantil com qualidade para todas as crianças cujas famílias por ela optassem. A implantação dessas propostas foi interrompida, na administração de Fernando Henrique Cardoso (1994). Assim, Rosemberg (2002, p.42) afirma que o governo “incorporou no plano das políticas econômicas, cânones do FMI e, no plano das políticas educacionais, cânones do Banco Mundial”. Nesse sentido, a influência do Banco Mundial na Educação Infantil pode ser percebida por meio da reforma educacional geral que ressaltou investimentos públicos no ensino fundamental e a retomada da proposta de programas “não formais” de baixo investimento público de Educação Infantil para crianças pequenas pobres. Vieira (2001) ressalta que um dos principais temas da política educacional contemporânea diz respeito às chamadas políticas das organizações internacionais para a educação brasileira, as quais suscitam novas formas de regulação e gestão da educação no país. Nesta análise, a autora aponta a influência de organizações internacionais como o Banco Mundial e a Unicef na área da educação. A lógica crescente da importância do Banco Mundial configura-se na junção dos seguintes fatores: a) principal organismo de financiamento de projetos de desenvolvimento no cenário internacional, e b) uma função estratégica no reordenamento da ordem mundial por meio de incentivos às políticas de ajuste estrutural nos países em desenvolvimento. De natureza distinta do Banco Mundial como verifica a autora encontra-se o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que estabelece uma atuação específica na área de educação e saúde de crianças, adolescentes e mães em 121 países em desenvolvimento.Seu orçamento é constituído de contribuições voluntárias governamentais, intergovernamentais, não-governamentais e de particulares. Comparando-se ao Banco Mundial, os recursos financeiros do Unicef parecem irrisórios, mas na verdade não é a dimensão financeira que imprime o tom de atuação deste organismo, mas a dimensão estratégica das ações desenvolvidas e a qualidade dos recursos humanos que atuam como agentes a serviço de uma causa. Rosemberg (2002) alerta que a entrada do Banco Mundial em cena no campo da Educação Infantil recupera propostas equivalentes às da Unesco e do Unicef dos anos 70, desconsiderando o pequeno percurso brasileiro na construção de uma Educação Infantil democrática. O conceito de primeira infância que subsidia as políticas do Banco Mundial, na ótica de Penn (2002), reflete no modelo de desenvolvimento de desenvolvimento econômico. Neste contexto a autora reforça que a teoria do capital social sustenta grande parte da atenção recente do Banco Mundial ao tema do bem-estar social, isto é, aumentar o capital social de uma pessoa, sua capacidade de vincular-se a redes sociais e compartilhar riscos levaria a maior competitividade e produtividade. Assim como reforça a autora (2002) o objetivo da infância para o Banco Mundial é tornar-se um adulto plenamente competitivo e produtivo. Rosemberg (2002) numa análise feita a partir de dados sobre freqüência à escola para a faixa etária de zero a 11 anos coletados pelas PNADs ( Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios) no período de 1995-1999 com o intuito de investigar o impacto das reformas educacionais na Educação Infantil, verifica os seguintes resultados: a)um intenso aumento da taxa de escolaridade das crianças de zero a 11 anos, b) aumento gradual de crianças de 5 e 6 anos freqüentando o ensino fundamental, c) redução de crianças de 7 a 11 anos na Educação Infantil, d) aumento pequeno de crianças freqüentando a Educação Infantil em 1999 com relação a 1995, e e) menor expansão relativa e absoluta da Educação Infantil que a dos níveis fundamental, médio e superior. Nesse contexto os dados coletados pelas PNADs e o modelo de análise adotado parece indicar estagnação da expansão da Educação Infantil no período de 1995-1999. 2.3.2- O trabalho pedagógico na Educação Infantil. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), o atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao longo de sua história concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande parte dessas instituições nasceu com o objetivo de atender exclusivamente às crianças de baixa renda. O uso de creches e de programas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante muitos anos, como analisa o RCNEI (1998), justificativa para atendimentos de baixo custo, com aplicações orçamentárias insuficientes; escassez de recursos materiais; precariedade de instalações; formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adulto. Nessa perspectiva, o documento (1998) faz uma retomada histórica das diversas concepções acerca da finalidade social da Educação Infantil. Aponta que no início do surgimento da Educação Infantil a concepção educacional que despontava era a assistencialista em que privilegiava os cuidados físicos em torno das crianças que eram vistas como pequenas, carentes, frágeis, dependentes e passivas. Essa concepção, na visão do Referencial (1998) tolhia a possibilidade de independência e as oportunidades das crianças de aprenderem sobre o cuidado de si, do outro e do ambiente. Considerando as orientações do RCNEI (1998), ao longo da história do desenvolvimento infantil, outras práticas têm privilegiado os aspectos emocionais e cognitivos (desenvolvimento das estruturas do pensamento, ou seja, da capacidade de generalizar, recordar, formar conceitos e raciocinar logicamente) na construção de conhecimento como metas da educação. Nesse sentido, o espaço da Educação Infantil, na ótica do Referencial (1998, p.18) tem sido usado no desenvolvimento de “uma pedagogia relacional, baseada exclusivamente no estabelecimento de relações pessoais intensas entre adultos e crianças”. Nesse contexto, Kramer (2002) entende que mais importante do que adotar uma metodologia pré-elaborada é construir, na prática pedagógica, aquela metodologia apropriada às necessidades e condições existentes e aos objetivos propostos. Alguns princípios metodológicos são fundamentais,segundo Kramer (2002) tais como: a) tornar a realidade das crianças como ponto de partida para o trabalho, reconhecendo sua diversidade; b) observar as ações infantis e as interações entre as crianças, valorizando essas atividades; c) confiar nas possibilidades que todas as crianças tem de aprender e de se desenvolver; d) propor atividades desafiadoras que sejam significativas e prazerosas na promoção da criatividade e criticidade; e) favorecer a ampliação do conhecimento na valorização do mundo físico e social e; f) enfatizar a colaboração e ajuda mútua na construção da autonomia e cooperação. Ao tratar das possibilidades de trabalho na perspectiva de uma pedagogia da infância, Andriès (2001) enfatiza que o processo de consolidação da Educação Infantil como primeira etapa da educação básica tem sido marcado por um intenso debate de se compreender os processos de desenvolvimento das crianças, assim como seus mecanismos de construção de significados e de inúmeras formas de expressão. Para o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (1998) as novas funções para a Educação Infantil devem ser acessadas a padrões de qualidade que advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e nas interações e práticas sociais que lhes favoreçam elementos relacionadas às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção da autonomia. Dessa forma, a instituição da Educação Infantil deve tornar acessível a todas as crianças que freqüentam elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. (RCNEI,1998, p.23) Na perspectiva do documento educar significa: [...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e esta com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural É válido ressaltar a visão de Kramer (2002) sobre o trabalho escolar, que é entendido como um espaço para garantir acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela sociedade e formar indivíduos críticos, criativos e autônomos, capazes de agir no seu meio e transformá-lo. A escola pode contribuir para sociedade se desempenhar um papel de ensinar criticamente. Elaborar uma proposta pedagógica orientadora do trabalho realizado em creches, de acordo com a autora (2004, p.19): [..] requer uma investigação de como se estruturam as condições de vida das crianças pequenas, os múltiplos contextos sociais que constituem seus recursos de desenvolvimento e como os parceiros de interação da criança com ela constroem significados (OLIVEIRA, 2004, p.19) Nos dias atuais, uma das conseqüências do processo de urbanização, de crescimento tecnológico e da crescente expansão dos meios de comunicação de massa presentes em nossa sociedade é a ampliação do conjunto de informações, valores e referenciais que devem ser apropriados pelas crianças desde cedo. 3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Este capítulo está dividido nos seguintes tópicos: 3.1 a apresentação das atividades desenvolvidas com as crianças e 3.2 análise dos dados coletados numa abordagem qualitativa. 3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM AS CRIANÇAS A fase de observação da pesquisa foi realizada todas às terças – feiras, de 8 às 16horas, com intervalo para o almoço de 12 às 13 horas, durante os meses de setembro, outubro e novembro e dezembro. No primeiro mês em setembro durante a fase de observação pôde ser constatado que as atividades desenvolvidas eram as seguintes: contação de histórias; atividades livres com material pedagógico e atividades livres no pátio com a professora de Educação Física. As professoras da escola reuniram-se uma vez por semana com a coordenadora para elaborar o planejamento pedagógico. Diariamente, na entrada às 7 horas e 45 minutos, as crianças tomavam o café da manhã e, depois encaminhavam-se para as suas respectivas salas. O momento inicial com a professora é da rodinha em que cada criança conta uma novidade e a professora orienta as crianças iriam fazer naquele dia. Terminada a rodinha, cada professora segue com as suas atividades de acordo com o planejamento elaborado para semana. Vale lembrar que também a área externa da escola pode ser utilizada pelo professor nesta parte da manhã. Às 11 horas, as crianças preparam-se para almoçar. Terminado o almoço, as crianças descansam durante cerca de 30 minutos e depois retornam às suas atividades pedagógicas até às 15 horas quando param para jantar. Após o jantar, elas voltam para a sala ou podem fazer alguma atividade no pátio, local em que ficam até o horário de saída. Cada professor tem autonomia e liberdade para criar atividades alternativas, de acordo com os objetivos do planejamento. O computador fica numa das salas do grupo 1 das crianças de cinco anos e é usado, geralmente, à tarde, junto ao professor. Segundo o depoimento de uma das professoras (P2) este computador tem joguinhos7 que trabalham quantidade, semelhanças, e diferenças, mas não tem Internet, e quando as crianças querem usá-la, vão com as professoras à sala da direção para fazer algum tipo de pesquisa relacionado às atividades que estão sendo desenvolvidas. De acordo com a fala da diretora (P3), podemos entender essa situação. 7 As atividades com os jogos no computador não foram observadas no período da pesquisa, isto é de setembro a dezembro de 2006. P3- Na secretaria existem dois computadores: de uso administrativo e outro de uso acadêmico – matrícula/arquivo de alunos. Usamos no dia a dia da escola e a direção teve um treinamento oferecido pela Coordenadoria. Para o aluno há um computador disponível numa sala de aula. É uma parceria IBM/SME. É um projeto da IBM que em cada país que ela tem escritório ela doa computadores para ser utilizados por crianças até cinco anos da rede pública. Na sala, o computador é mais uma atividade da sala, principalmente na hora das atividades livres. Na parte da tarde a professora/coordenadora que estava assumindo uma turma devido à licença da professora responsável por esta turma, desenvolvia algumas atividades com o computador, que ficava, justamente, na sala da referida professora. A atividade desenvolvida, no período inicial da observação, no computador foi a construção de um livro de músicas em que a professora digitava a música no computador e depois cada uma pintava e escrevia o próprio nome na música. Em meados de setembro, após o período inicial de observação, foi proposto à coordenadora pela pesquisadora que fosse elaborado junto com as outras professoras atividades que envolvessem todas as turmas no uso de outras mídias, tais como: o computador e Internet, TV e vídeo/DVD e som, em torno dos contos infantis, já que as professoras estavam trabalhando as grandes histórias da literatura infantil. Nesse sentido, houve um encontro inicial da pesquisadora com a coordenação e direção e num segundo momento a diretora, a coordenadora e as professoras se reuniram para organizar o plano de atividades que orientaria as ações de outubro a dezembro de 2006, para que ainda no período da pesquisa, pudéssemos analisar a contribuição das mídias na construção de conhecimento, atendendo ao objetivo geral do estudo. Ficou decidido que as atividades seriam seqüenciais, uma vez que cada atividade teria que dar continuidade à outra na valorização da construção do conhecimento das crianças e elaboradas acerca da história “A Bela e a Fera”, visto que representava uma temática vinculada à Literatura Infantil e foi resolvido pela equipe pedagógica – diretora, coordenadora e professoras - que durante essas atividades seria enfatizado o amor e respeito ao outro e, sobretudo, como lidar com a diversidade. A pesquisadora concordou com a decisão do grupo e durante três meses do estudo esteve junto à coordenadora/professora, e ao grupo de professores, participando e acompanhando ativamente as ações pedagógicas. Dessa forma a pesquisadora comprometeu-se a participar de todas as atividades programadas colaborativamente.Abaixo é colocado um quadro com as atividades envolvidas: Quadro 2 – Atividades Desenvolvidas Atividade Mídia 3.1.1- Construção de um Desenho DVD 3.1.2- Construção de um Castelo Computador e Internet 3.1.3- Construção da História da Bela e a Fera TV 3.1.4 – Construção de uma outra história Som 3.1.1- Construção de um Desenho Para essa primeira atividade, colocamos a turma em uma roda e conversamos com eles acerca do filme “A Bela e a Fera” para sabermos o que eles já sabiam da história. Ao longo do filme, foram feitas algumas intervenções pela professora, sinalizando algumas partes do filme para que as crianças melhor compreendessem o que o sentido do filme. Após o término da projeção, retornamos à conversa em roda com os alunos para saber o que eles tinham achado e entendido sobre a história. Para seguir uma organização na orientação da conversa com a turma, após o filme, elaboramos algumas perguntas. (Anexo B) e registramos algumas falas das crianças sobre o filme, entre as quais selecionamos as seguintes: C.1 Desenvolver o amor no coração C.35Não se deixar enganar pelas aparências; C8.Se aprendesse a amar alguém e a última pétala da rosa cair o feitiço acabaria C.16 A Fera se apaixonou e deu uma biblioteca para a Bela C.24.A paz e o amor; a fera ajudou a Bela porque respeitou a Bela. C.3 A pessoa pode ser feia, mas bonita no coração., C9 Para amar, precisa de quê?, C.41A Bela ensinou a ser bondoso Na fala das crianças destacaram-se os seguintes temas: o amor, a paz, o respeito, e a bondade, entre outros que refletiram, provavelmente a conversa inicial que tivemos com eles após o filme. No final dessa atividade pedimos para que eles registrassem numa folha em forma de desenho a mensagem mais importante que a história quis passar, tendo em vista a organização do pensamento.Alguns desenhos foram selecionados para ilustrar a pesquisa.(Anexo C). As figuras 1 e 2 mostram os alunos no começo da atividade do desenho. Figura 1- Atividade do desenho 1 Figura 2- Atividade do desenho 2 3.1.2- Construção de um Castelo . Esta atividade tinha o intuito do uso do computador e Internet. Sendo assim, como na primeira atividade as crianças, na rodinha que foi feita após a exibição do filme, falaram muito nos castelos existentes da história; pensamos em fazer uma pesquisa na internet acerca dos Castelos que havia em alguns lugares do mundo. Dessa forma, antes de usarmos a Internet, mostramos para cada turma o mapa mundi e alguns lugares que possuíam Castelos. Nesse momento, percebemos o interesse por parte de alguns alunos na localização de alguns lugares e fomos mostrando os países e seus continentes Estes fizeram algumas perguntas: C.6 Onde fica a América do Sul? C.80 E a América do Norte? C.15 O Japão? Na pesquisa da Internet, os alunos ficaram interessados pelos Castelos Portugueses e Franceses. Os alunos apontaram os castelos Franceses como “mais brilhosos e são feitos de tijolos ” e os de Portugal feitos de “pedra” Depois da pesquisa, sugerimos a turma que em grupo eles construíssem um Castelo com material de sucata e brincassem no Castelo construído. Os alunos mantiveram-se motivados ao longo da atividade e muitos queriam reproduzir os castelos Franceses vistos na Internet. Foram, assim, trabalhadas a habilidade motora, a criatividade, a interação e a autonomia. A construção dos castelos está representada nas figuras: 3, 4,5,6,7 e 8. Essas figuras mostram duas turmas, ou seja, a turma de cinco anos e outra de quatro anos.no desenvolvimento da atividade. Figura 3 – Início da atividade do Castelo Figura 4 – O castelo em construção Figura 5 – As crianças de 5 anos e o castelo Figura 6- O Castelo das crianças de 5 anos construído Figura 7 – As crianças de 4 anos construindo o Castelo Figura 8 –O Castelo das crianças de 4 anos construído 3.1.3- Construção da História da Bela e a Fera Esta atividade foi planejada de acordo com um programa televisivo Pink Dink Dôo, mencionado pela coordenadora como um programa que despertava o interesse e interação das crianças. O intuito do programa é contar uma história e depois a personagem da Pink Dink Dôo faz perguntas sobre a história contada. Nesse contexto planejamos a seguinte atividade: contamos para as turmas a história da Bela e a Fera, conforme o livro; perguntamos à turma se eles haviam encontrado alguma diferença da história vista no DVD Eles relataram algumas diferenças observadas, entre as quais destacamos: C.22 os empregados no filme não eram pessoas, estavam enfeitiçados, C.35o que tem de diferente é que a bruxa no filme tinha uma flor na mão e não uma vara, C.47os empregados no filme não levaram o pai da Bela para o castelo, ele foi sozinho Após verificarmos as diferenças da história da Bela e a Fera vista e contada, apresentamos a cópia de diversas figuras do livro e recortadas para que eles colocassem em ordem seqüencial a história da Bela e a Fera. Selecionamos alguns trabalhos realizados pelas crianças na pesquisa. (Anexo D). Esta atividade propiciou a interação entre as crianças, além de estimular a organização do pensamento e a criatividade. 3.1.4 – Construção de uma outra história Esta atividade consistiu em apresentarmos a música da Bela e a Fera e além de cantarmos com eles pedimos para que eles selecionassem as palavras que mais chamavam a atenção na música. Os alunos escolheram as seguintes palavras: castelo, príncipe, princesa, bruxa e igreja. Selecionadas as palavras, pedimos que a turma construísse uma história. Abaixo, é colocada a história construída pela turma, registrada no quadro abaixo.: Assim, foi observada a capacidade de análise e síntese desenvolvida pela turma. A paixão do amor Era uma vez um castelo que tinha uma princesa e um príncipe. Um belo dia, aparece uma Bruxa que transformou o príncipe numa Fera, e depois a Fera e a Bela rezaram na igreja para a Bruxa ir embora. A Bruxa foi embora e a Fera se transformou em príncipe porque ele ama a Bela e se casaram e foram felizes para sempre 3.2 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS. Os dados qualitativos foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas (anexo A) com P1,P2,P3,P4. P5, P6 e P7 As entrevistas foram transcritas em lápis e papel e posteriormente a leitura exaustiva dos mesmos, objetivando a técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 1998). Desta leitura resultaram os seguintes temas e subtemas recorrentes da fala dos entrevistados, apresentados no quadro 3 a seguir. Quadro 3 – Temas e subtemas Tema Subtemas 3.2. 1- Computador e Internet 3.4.1.1 Computador como diversão 3.4.1.2- Computador como pesquisa 3.4.1.3 Computador como informação. 3.4.1.4 Dificuldades com o Computador 3.2. 2- As Mídias na escola 3.4.2.1- Mídia e Cultura 3.4.2.2- Mídia e Interação 3.4. 2.3 – Mídia e informação 3.4.2.4- Possibilidades das Mídias 3.4.2.5- Mídia e Poder 3.2.3 Infantil - Atividades na Educação 3.4.3.1- Cooperação/interação 3.4.3.2 -Autonomia 3.4.3.3 –Acesso ao conhecimento 3.4.3.4- Criatividade 3.2.1Computador e Internet Esse tema refere-se ao uso do computador e da Internet pelas professoras participantes do estudo e como vêem o uso do computador pelas crianças; subdivide-se nos seguintes subtemas: 3.2.1.1 o computador e a internet; 3.2.1.2 o computador como pesquisa; 3.2.1.3 o computador como informação e; 3.2.1.4 as dificuldades com o computador. Cabe, a partir das vozes das professoras, a indagação sobre a validade da utilização dos computadores na Educação Infantil e o questionamento do que realmente muda na gênese do conhecimento das crianças pelo fato delas estarem expostas a tal mídia digital. 3.4.1.1 Computador como diversão Esse subtema trata do ponto de vista dos professores em relação ao uso do computador como uma tecnologia que encanta as crianças, que se envolvem e divertem com a máquina, em suas brincadeiras P3- Percebo que gostam de todas. Tudo que oferecemos, elas vibram. Evidentemente que o computador é bem disputado. P6- Sim. Temos um computador na sala doado pelo Kid-samrt. As crianças utilizam o aparelho usando jogos interativos P7 – A TV, pois é a mais comum, porém o computador encanta as crianças, principalmente com os jogos. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998) aponta que para que as crianças desenvolvam sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorram por meio de uma intervenção direta. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se em elementos da realidade imediata de tal forma que possam ser atribuídos novos significados. De acordo com o RCNEI (1998, p.27) “a brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa”. Desse modo, o documento reforça que as brincadeiras, assim como os jogos propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. Assim, é preciso que o professor considere na organização do trabalho educativo: a) a resolução de problemas como forma de aprendizagem; b) o grau de desafio que as atividades apresentam e; c) o fato que devam ser significativas e apresentadas de maneira integrada para as crianças e o mais próximo possível das práticas sociais reais. Durante os primeiros anos escolares as habilidades conceituais da criança são expandidas por meio dos brinquedos e do uso da imaginação. Em jogos variados, a criança adquire e inventa regras, já que ao brincar está sempre acima da própria idade, acima do seu comportamento diário.(VIGOTSKI, 2003) O Multieducação (1996) enfatiza que o brincar deve ser um dos eixos da organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil e desenvolvendo diferentes formas de jogos e brincadeiras e contribuindo para muitas aprendizagens e para ampliação da rede de significados construídos pelas crianças. Sendo assim, a Educação Infantil pode constituir um espaço propício às atividades da criança nas brincadeiras, principalmente àquelas que promovam a criação de situações imaginárias, pois estarão atuando no processo de desenvolvimento infantil. Os jogos educativos possuem uma relação estreita com a construção do conhecimento, sendo geralmente utilizados para despertar interesse e motivar o aluno em relação a uma determinada situação de aprendizagem. Programas desenvolvidos nessa perspectiva apresentam possibilidades de interação. Trata-se de uma maneira prazerosa de aprender, que desenvolve a criatividade e a curiosidade nos alunos. Costa (2005) menciona que alguns sites disponibilizam gratuitamente imagens animadas aos usuários desde cartões de boas festas até emoticons – pequenos ícones com os quais jovens internautas costumam se comunicar uns com os outros. A autora ( 2005, p.182) coloca que [ ] através desse tipo de recurso gráfico, a criança ou o jovem não só aprendem novos conteúdos, como desenvolvem novas maneiras de se relacionar, outras competências cognitivas e novas formas de olhar e ver. Healy e Burniske (2001) elucidam que os computadores já começam a rivalizar com a televisão como possibilidade de diversão. Dessa maneira os autores (2001, p.19) afirmam que: [...] as capacidades da multimídia são sedutoras. Muitos pais têm notado que seus filhos preferem passar o tempo envolvido com o computador a assistir à televisão; eles, seguidamente vêem isso como algo positivo. Tal afirmativa faz os autores refletirem sobre a opinião pública, que é mais favorável ao computador do que à televisão, tendo em vista o fato das diferenças críticas entre os dois.No entanto, ainda não há pesquisas definitivas que comprovem as vantagens do uso dos computadores e Internet no âmbito da Educação Infantil.Para os autores (2001, p.20) “a televisão é assistida, ela evoca uma resposta passiva, ao passo que os computadores são usados, exigindo uma intervenção ativa” . 3.2.1.2 Computador como fonte de pesquisa Esse subtema refere-se às possibilidades do uso do computador como fonte de pesquisa, sendo utilizado no dia-a dia do aluno e do professor com o propósito de ampliar os conhecimentos acerca da realidade em que vive. P1- Pesquisa, pagamento de contas, msn, skype, e para ver TV tenho TV a cabo ligada ao computador) P2- Me identifico com a TV e a internet porque gosto de pesquisar na internet amplia conhecimento, vocabulário, e horizontes. Várias coisas que eu não sei, procuro na internet. Na tv, gosto muito dos documentários históricos.(...) Sim. Faço uso. Digito textos, gravo cd/fotos/baixo músicas, pesquiso na internet algum texto legal.[...] pesquisar na internet. Eu imprimo esta pesquisa, levo para sala e leio para turma. P4- Sim. Temos computador na escola. Fazemos uso para pesquisa para aprofundar mais uma questão. Algumas crianças trouxeram de casa materiais impressos sobre as olimpíadas por exemplo.(...) Olimpíadas. Eles viram dvds ligados ao assunto, livros de histórias e trouxeram pesquisas de casa feitas na internet, jornais e revistas. P6- Penso que é um suporte de apoio para o nosso trabalho P7- Em casa utilizo mais de 1 hora. Utilizamos para pesquisa, emails, jogos e notícias e organização da vida doméstica. Costa (2005, p.174) esclarece que uma das características da Internet é “ser a maior enciclopédia do mundo” (Wilkipédia). A autora aponta que a história tão recente da Internet impressiona pela rapidez com que tem se disseminado pelo mundo fazendo com que as pessoas possam ter acesso a inúmeros arquivos de textos. Imagens e sons. Para a autora (idem) a Internet vem se tornando uma fonte de dimensões quase ilimitadas na qual é possível se buscar tudo. Nesse sentido (2005, p.174)” para a educação, a rede, com essa incalculável quantidade de dados, mostra-se um apoio indispensável.” Oliveira, Costa e Moreira (2004) reforçam que a pesquisa em mídia eletrônica, quando orientada pelo professor, na perspectiva de proporcionar objetividade e eficiência no acesso à informação. Em uma pequena mídia de CD-rom enciclopédias completas são armazenadas junto com programas de acesso que favorecem múltiplas informações .Para os autores (2004,p.124) [...] esse tipo de atividade desenvolve no aluno novas habilidades de pesquisa, o que altera sensivelmente os processos de tratamento da informação desenvolvidos na escola. É importante salientar a função do professor que transcende o papel de levar o aluno a vivenciar a metáfora do copiar e colar na elaboração dos trabalhos e pesquisas escolares. Nessa perspectiva Oliveira, Costa e Moreira (2004) salientam que a tecnologia é uma ferramenta que auxilia o aluno em seu processo de aprendizagem, proporcionando os instrumentos necessários para a construção dos diversos trabalhos escolares Desse modo, os autores (2004) indicam o software aplicativo do tipo editor de texto, a planilha eletrônica, o editor gráfico, o banco de dados, entre outros que permitem aos alunos desenvolver suas tarefas. O Multieducação (1996) ressalta que o papel da educação é sensibilizar as crianças para os diversos portadores de textos simbólicos, tais como: letreiros, anúncios, rótulos, placas, sinais, símbolos, livros, revistas, computadores, internet, entre outros. Nos espaços de creches e pré-escolas, materiais variados podem vir a despertar a curiosidade infantil para a leitura e para a escrita, desde que mediados pelos educadores. O Multieducação enfatiza que na internet a mente humana não trabalha de forma seqüencial e hierárquica, mas sim por associações e conexões em que uma série de significações e ressignificações, que são estabelecidas na construção de conhecimentos. 3.2.1.3 Computador como informação Esse subtema refere-se à influência da informação na nossa sociedade, e preocupação dos professores de integrar a informação que a criança recebe no seu dia-a dia ao contexto educacional. P1-O computador. Tenho em casa e com a internet pode-se pegar muitas informações. P2- Eu não gosto de deixar a turma ou filho sozinho vendo TV ou no computador, por exemplo. Quando você está junto fazendo a turma refletir, pensar e interagindo com a informação que ela está recebendo aí você está trabalhando de forma positiva. Ao contrário do que você deixar a criança sozinha recebendo informações sem orientação nenhuma. A criança, hoje está inserida no mundo da informação e você não consegue esconder nada dela. Nesse sentido, pode-se observar a postura de P2 que fala sobre o perigo de deixar a criança sozinha em frente ao computador sem nenhum tipo de orientação. O Multieducação (1996) ao analisar a integração das tecnologias de Informação e Comunicação às práticas pedagógicas esclarece que cada TIC tem o seu modo de disponibilizar o tratamento de uma informação. Assim, é necessário identificar como e com que recursos a tv, o rádio, o jornal e o computador, entre outros, estão organizados e articulados nas práticas pedagógicas. No entanto, Belloni (2001) aponta para a questão de que na chamada revolução tecnológica a grande ausente é a informação relevante e nova, pois as Tecnologias da Informação e Comunicação avançaram mais rapidamente do que a própria informação. Nesse sentido, a autora menciona que as tecnologias trouxeram problemas que transcendem o nível técnico e se remetem aos situados na esfera social e cultural que são os problemas das necessidades novas, dos conteúdos a ser criados e dos novos usos que estão sendo inventados e tendem a desenvolver. Segundo Belloni (2001, p.24): [...] se é fundamental reconhecer a importância das TIC e a urgência de criar conhecimentos e mecanismos que possibilitem sua integração à educação, é também preciso evitar o “deslumbramento” que tende a levar ao uso mais ou menos indiscriminado da tecnologia por si só e em si, ou seja, mais por suas virtualidades técnicas do que por suas virtudes pedagógicas. Dessa forma a autora (2001) alerta que para que haja a integração das tecnologias de comunicação e informação aos sistemas educacionais, é necessário que estas não sejam apenas meios de melhorar a eficiência destes sistemas, mas principalmente ferramentas pedagógicas efetivamente a serviço da formação do indivíduo autônomo. O desenvolvimento acelerado das Tecnologias da Informação, conforme Belloni (2001) deve-se essencialmente a três fenômenos de ordem técnica: a) a miniaturização e a baixa de custos que possibilitaram uma difusão em massa das tecnologias de informação comunicação na penetração em larga escala na vida cotidiana tanto no mundo do trabalho quanto na esfera do lazer; b) a digitalização que estabelece uma escala única de quantificação e possibilita a tarificação, isto é a comercialização de todas as informações assim tratadas e veiculadas e c) e a fantástica difusão das redes telemáticas viabilizada pela digitalização. 3.2.1.4 Dificuldades com o computador Esse subtema traz à tona a questão da inclusão digital, que constitui questão crítica para as classes populares.Retrata a dificuldade por parte de alguns professores de fazer uso do computador, em alguns casos por falta de investimento das políticas públicas, de acesso por parte da população que ainda não pode fazer a aquisição e a falta de hábito desta inovação tecnológica. como parte integradora da prática educativa P3- Gosto de livro, adoro ler. Gosto de ver TV, também. Filmes, documentos, entrevistas. Computador estou indo bem devagar, ele ainda não me conquistou totalmente. Uso no trabalho e no lazer uso pouco. Não consigo, por exemplo, dedicar horas à internet. P5 – Na escola TV, dvd,jornal, revistas, livros e poucas vezes uso o computador P7- Eu acho que a falta de acesso é um ponto negativo, pois nem todos tem acesso a internet.(...) Adoraria ter um computador na sala com acesso a internet e receber periódicos sempre, mas não tenho Alguns aspectos podem ser assinalados com relação a críticas sobre o uso do computador e Internet na Educação Infantil como a fala de P7. No entanto, os professores, frequentemente, referem-se de forma positiva a essa questão, não havendo uma reflexão sobre o impacto do uso dessa mídia na construção da subjetividade da criança. Ramos (2003) verifica a importância do reconhecimento da educação como parceira importante da inclusão digital. Dessa forma, torna-se indispensável um empenho político para o investimento dos que estão à frente dos processos educacionais, a fim de que a unidade escola possa participar das benesses relativas à inserção dos computadores e Internet nas escolas. Para a autora é importante não creditar à inclusão digital nas escolas o principal meio de inclusão social, pois na sua concepção seria ingênuo pensar que um maior número de computadores garantiriam o fim da exclusão social e digital. Isso significa reconhecer, na visão de Kramer (2002), que as crianças são diferentes e tem especificidades, não só por pertencerem a classes diversas ou por estarem em momentos diversos em termos de desenvolvimento. Para a autora, os hábitos, costumes e valores presentes na sua família, na localidade mais próxima e dos profissionais que com elas convivem no contexto escolar interferem na sua percepção do mundo e na sua inserção. Dessa forma, a autora enfatiza que esse reconhecimento da diversidade cultural e social das crianças não pode levar a aceitar discriminações do tipo escola ou pré-escola para crianças das classes populares e escola ou pré-escola para crianças das classes médias. Segundo a autora (2002, p.23) “insistimos no critério único de qualidade para uma educação democrática, pois a diferença deve ser considerada para que se possam alcançar os mesmos objetivos independentes da origem sócio-econômica ou cultural . Para a autora (2002,p.22): [...] as relações estabelecidas entre profissionais da escola, desses com as crianças, com as famílias e com a comunidade, precisam ser norteadas por essa visão real da heterogeneidade -rica em contradições- que caracteriza a sociedade e as escolas em geral, e cada creche ou préescola em particular.. Essa diversidade nos coloca o desafio de busca as alternativas ( em temos de atitudes e estratégias) necessárias para atender as crianças – e cada criança-, compreendedo-as a partir das suas experiências condições concretas de vida 3.2.2 As mídias na escola Esse tema considera a forma como as professoras participantes vêem as mídias na escola, e nesse sentido reforçam algumas questões, tais como: a identificação do elemento cultural que se organiza cada vez mais por meio das mídias, a interação que as mídias propiciam no processo educacional, a capacidade de ter acesso a diversas informações fornecidas pelas mídias, a possibilidade das mídias na construção de conhecimento a partir de um trabalho orientado e contextualizado e uma análise crítica do que está sendo transmitido pelas mídias Nesse sentido,este tema subdivide-se em : 3.2.2.1 mídia e cultura; 3.2.2.2 mídia e interação; 3.2.2.3 mídia e informação; .3.2.2.4 possibilidades da mídia e 3.2.2.5 mídia e poder. 3.2.2.1 Mídia e Cultura Esse subtema trata da questão da organização dos sentidos culturais das sociedades contemporâneas em torno das mídias e o papel da escola frente a essa realidade. Os elementos culturais e históricos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, hábitos e costumes, foram criados e modificados ao longo da história social da civilização, e hoje as mídias sendo parte da cultura, influenciam as interações sociais e exercem papel de grandes mediadoras entre o sujeito e sua cultura mais ampla. P4- A mídia trabalha a cultura para a valorização da cultura brasileira. Gosto muito do canal Futura, por exemplo. Por meio da mídia você conhece um universo imenso. P3.- O uso das mídias em sala são ferramentas de trabalho para o professor, mas não é só isto. È trazer o mundo real para dentro de sala, utilizá-lo, criticá-lo, se apoderar dele para que a criança possa transformar, produzir, e não ser mera repetidora e espectadora. P5-Os meios de comunicação apresentam um papel fundamental, pois influenciam as relações sociais e a construção da identidade, influenciando, muitas vezes, o modo de pensar de ser e de agir. P6- De todas as formas, mostrando a diversidade, o multiculturalismo e a pluralidade dos povos. As Diretrizes Curriculares Nacionais (1998) apontam para a questão de que a cultura é um elemento significativo na compreensão da construção da cidadania e que esta na existiria sem a socialização das conquistas humanas. A existência dos saberes associado aos conhecimentos científicos e tecnológicos nos ajuda a caminhar pelo percurso da história, mas sua existência não significa que o real é esgotável e transparente. Os sentidos culturais das sociedades contemporâneas, de acordo com Fantim (2006), organizam-se cada vez mais a partir das mídias e que exercem um papel relevante de mediação do sujeito com a sua cultura mais ampla na transformação das interações coletivas A autora (2006) alerta que estamos sendo educados por imagens e sons e muitos outros meios provindos da cultura de mídias, o que torna os audiovisuais um dos protagonistas dos processos culturais e educativos e a escola precisa redimensionar tais potencialidades. Segundo Fantim (2006, p.27): [....] as mídias não só asseguram formas de socialização e transmissão simbólica, mas também participam como elementos importantes da nossa prática sócio-cultural na construção de significados da nossa intelegibilidade do mundo e apesar destas mediações ocorrerem de qualquer maneira, tal fato implica a necessidade de mediações pedagógicas. O Multieducação (1996) entende a compreensão e o reconhecimento de que se impõe à escola de abrir cada vez mais espaços para a discussão sobre as mídias e seu papel na sociedade contemporânea. De acordo com o Multieducação a escola significa um espaço de cruzamento de saberes e de culturas e que ela deverá promover ações de aproximação da mídia e educação. Assim, ao invés de negar ou rejeitar a presença das mídias na escola, é preciso discuti-la, aprender a lidar com ela e saber aplicá-la de modo a alcançar objetivos pedagógicos. Para Vigotski (2003) o desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos: instrumental, cultural e histórico. O aspecto cultural envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefas que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos- de que a criança pequena dispõe para dominar aquela tarefa. O aspecto histórico funde-se com o cultural, pois os elementos que o homem usa para dominar seu ambiente e seus próprios comportamentos foram criados e modificados ao longo da história social da civilização. A história da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham juntos. As crianças, desde o nascimento, estão em constante interação com os adultos que ativamente procuram incorporá-las a suas relações e a sua cultura. Vigotski (2003) menciona que é em função da interiorização dos meios de operação das informações, meios estes historicamente determinados, culturalmente organizados e que a natureza social das pessoas torna-se igualmente sua natureza psicológica. Para Belloni (2001) o homem é um ser social e isto significa dizer que ele é resultado de sua sociedade, e, portanto da cultura em que está inserido. O processo de socialização, realizado pela família, escola e outras instituições sociais, influi sobre o indivíduo para que ele se adapte às normas sociais dominantes. As imagens do mundo difundidas pela mídia formam a consciência que os homens têm do mundo real e de seu papel neste mundo. Evidentemente que a mídia não é o único canal de transmissão da cultura, dos valores e das normas sociais, porém sua influência atinge as famílias (BELLONI, 2001) Belloni (2001) reforça essas idéias quando enuncia que esse turbilhão de imagens que preenche o cotidiano das crianças e adolescentes vai formando sua personalidade ao mesmo tempo(mas provavelmente não da mesma forma) que suas vivências,e suas percepções do mundo exterior, real, concreto. Dessa forma, a autora traduz que a presença constante de imagens factícias, que ocupam cada vez mais parte do tempo livre das crianças acaba influenciando na formação da personalidade infantil. Para a autora (2001, p.57): [...} O processo de socialização – a formação das novas gerações- e a transmissão cultural em seu conjunto são também modelados por estas características. A família vai perdendo suas funções e a formação da personalidade do indivíduo (o indivíduo social) passa a ser tarefa de instituições e especialistas. A escola partilha cada vez mais com a mídia sua responsabilidade na socialização dos jovens e crianças. Aumenta, assim, inexoravelmente, o controle da sociedade organizada,planejada,”tecnificada” sobre o indivíduo. 3.2.2.2 Mídia e Interação Esse subtema relaciona as vozes das professoras com o fato das mídias favorecerem as interações sociais. Estas interações acontecem de maneira rápida e simples e precisam ser acompanhadas, e orientadas pelos professores, no sentido de que se alcance objetivos educacionais. P1Todas, depende da condução da atividade. A maneira tem que ser positiva, e a interação deve ser espontânea e natural. O legal é a troca, saber ouvir, saber falar. Dessa forma, eles estão interagindo. P2. - Qualquer uma desde que haja mais de uma criança para ter interação. Acho que a interação entre as crianças acontece de maneira rápida e simples. P3- Acho que todas. Vivenciando todas as mídias, eles trocam muito e interagem. Talvez mude a forma de interagir, a Tv e o computador favorecem uma interação “calorosa”, já com o livro transcorre de forma mais tranqüila.Talvez, ao escutar um cd de história ou ao ouvir uma história contada de livro, a interação seja menor, porque dependem de professor, de escutar o professor, maior domínio do professor da atividade menos autonomia do aluno (...) Uso só da mídia pela mídia sem a constante interferência do professor sem uma interação com o planejamento do professor e do projeto político pedagógico da escola. P4- Todas as mídias interagem, pois há uma cooperação entre as crianças. Uma ajuda a outra em alguma dificuldade. Outro tipo de interação é usar os recursos, explicando dentro de um planejamento para que estes possam abranger àquele conteúdo trabalhado.(..) O acompanhamento é fundamental, mas por uma pessoa consciente e questionadora para instigar o senso crítico no outro. No uso das mídias, o mais importante é a conversa, o contato uns com os outros, o emocional tem que estar sempre presente. Segundo com Vigotski (2003), o desenvolvimento e aprendizagem estão alicerçados sobre o plano das interações sociais.. Todos os movimentos e expressões verbais da criança, no início de sua vida são importantes, pois afetam o adulto que os interpreta e os devolve a criança com a ação e/ou com fala. As funções psicológicas superiores, para Vigotski (2003), emergem e se consolidam no plano da ação entre pessoas e tornam-se internalizadas, isto é, transformam-se para constituir o funcionamento interno. Do plano interpsíquico, as ações passam para o plano intrapsíquico. As internalizações se caracterizam por ser reconstruções internas de uma operação externa tendo como base a linguagem. Na perspectiva vigotskiniana (2003, p.75) “a transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento”. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais (1998) as escolas deverão reconhecer que as aprendizagens são constituídas na interação entre os processos de conhecimento, linguagem e afetivos. Isso em decorrência das relações entre as distintas identidades dos vários participantes do contexto escolarizado, por meio de ações inter e intra –subjetivas; as diversas experiências de vida dos alunos, professores e demais participantes do ambiente escolar. O subtema em foco aborda a questão das mídias no favorecimento das interações sociais. Uma das preocupações apontadas pelas professoras é o fato de elas participarem dessas interações, no acompanhamento e orientação para que cada atividade oportunizada atinja os objetivos pedagógicos propostos pela equipe pedagógica. Desse modo, emerge a necessidade de esclarecer o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKI, 2003), e anteriormente referenciado Vigotski (2003) postulou o conceito de zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o nível de desenvolvimento real (que costuma ser determinado pela solução independente de problemas) e o nível de desenvolvimento potencial (determinado por meio da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros) O Multieducação (1996) ressalta que a aquisição crítica das mídias na escola envolve, necessariamente, o exercício cotidiano das trocas efetivas entre professores e alunos na busca da constituição coletiva de novos conhecimentos, a partir dos diversos contextos de uso, produção e articulação das diferentes linguagens. As atividades pedagógicas quando planejadas e desenvolvidas orientam para propiciar aos alunos e professores a identificação das possibilidades de encontro do computador com a tv/vídeo, o jornal, o rádio e o livro, entre outros. 3.2.2.3 Mídia e Informação Nesse subtema é evidenciada a preocupação das professoras em não deixar as crianças expostas às informações obtidas pelas mídias sem uma contextualização, um encadeamento. Assim, o acompanhamento é fundamental para que se contextualize a informação a fim de alcançar objetivos pedagógicos. P1-Depende de como a mídia é utilizada. Quando um professor passa um dvd e a criança depois não faz nada com isso, pois atividade foi sem objetivo pedagógico. P4 – Como profissional eu utilizo cds, jornais, revistas, livros, tudo que gera comunicação eu considero mídia Às vezes, estão norteados com o conteúdo, mas em outras ocasiões são para entretenimento. (...) Tem que ter um planejamento, pois são muitas informações que se passam naquele momento. As informações tem que ser muito bem encadeadas, contextualizadas.(...) Tem que ter um planejamento, pois são muitas informações que se passam naquele momento. As informações têm que ser muito bem encadeadas, contextualizadas.(...) Propagandas que reforçam o consumo, quando a informação é ilusória e solta, por isso é importante ter uma certa crítica desta questão. O adulto consciente é responsável por transformar esta informação ilusória. O acompanhamento é fundamental, mas por uma pessoa consciente e questionadora para instigar o senso crítico no outro. P5.- Eu acho que em qualquer lugar que nós estejamos tem mídia. O aluno tem que ter uma leitura de mundo que a mídia proporciona. O mundo está em permanente movimento e transformação, assim como a mídia. P6.- Passar informações que induzam o que eles querem passar. Não transformar informação em conhecimento, e nesse sentido devemos estar atento a isso Fantin (2006, p.26) ressalta que “a estruturação da vida cotidiana está plena de informação e o acesso a ela é altamente fragmentado e vai-se tornando uma característica que determina as qualidades das interações sujeito-informação”.Sendo assim, a autora aponta para a necessidade de construir significados para organizar o mundo à nossa volta e que a visão desarticulada dos acontecimentos nas mídias unidas à fragmentação dos saberes escolares dificulta tal construção. Para Fantin (2006, p.27): [...} discutir o papel das mídias neste contexto implica pensar a necessidade de transparência informativa, a representatividade social e cultural de alguns setores da sociedade e o estabelecimento de políticas culturais que possam impulsionar outros tipos de produções midiáticas, favorecendo o desenvolvimento de alternativas aos mercados globalizados em função dos interesses públicos e dos processos educativos e formativos. Dessa forma, como elucida a autora (2006), é preciso investir numa mediação professor-aluno em que as crianças possam construir uma atitude mais crítica em relação ao que assistem. No que diz respeito a esta questão, a autora (2006) aponta para a necessidade de se entender o termo mídia-educação; apesar da falta de consenso em torno deste termo parece que os objetivos da educação para as mídias se aproximam nas diferentes terminologias e dizem respeito à formação de um usuário ativo, crítico de todas as mídias. Belloni (2001) destaca que o conceito de mídia-educação ou educação para as mídias tem objetivos relacionados à formação do usuário ativo, crítico e criativo.As primeiras noções deste conceito, como descreve a autora, definidas nos anos de 1970 em reuniões com especialistas da UNESCO, já incluem a idéia de que a mídia-educação é uma das condições para a cidadania. Para a autora (2001, p.47) a educação para a cidadania significa “resgatar os ideais de democratização do conhecimento e da informação como instrumentos de emancipação”. Ao tratar da questão educação para a cidadania, Fantin (2006) aponta as seguintes questões para análise: a) aquisição de conhecimento no que diz respeito a conhecer as leis, as instituições e seu funcionamento; conhecer o mundo e a realidade cultural,social e econômica em que vivemos; b) a aquisição de competência social no desenvolvimento do próprio papel de cidadão; saber cooperar, realizar e construir projetos comuns; assumir responsabilidades e resolver conflitos; saber intervir em um debate público e c) a aquisição de competência ética e relacional no sentido de saber ser solidário; estar aberto à diferença e ser capaz de hospitabilidade. Nesse sentido, Fantin (2006) menciona que a escola ao favorecer este tipo de educação estará investida de novas responsabilidades na sociedade atual e poderá contribuir com a construção de uma nova forma de mediação cultural, integrando-se com os meios de comunicação a fim de minimizar as lacunas no plano das capacidades cognitivas e participativas do indivíduo. O Multieducação (1996) enfatiza que o trabalho conjunto entre SME e Multirio tem sido essencial para ampliar e aprofundar as questões acerca do aprofundamento crítico do uso das mídias na educação. Desse modo, o Multieducação com relação à perspectiva de educar para as mídias considera a importância da apropriação crítica por parte de professores e alunos das diferentes mídias, suas linguagens e estéticas, o que envolve não apenas as oportunidades de acesso aos meios, como também a vivência de atividades voltadas para o deu modo de produção. 3.2.2.4 Possibilidades das Mídias Esse subtema trata das possibilidades que as mídias oferecem no acesso a diferentes linguagens, na aquisição de novos conhecimentos, valores e atitudes. A partir das falas dos professores podemos observar que tais possibilidades só se efetuam se as mídias forem trabalhadas de forma crítica, consciente, planejada, isto é, com objetivos pedagógicos e contextualizadas: P1As mídias vêm se tornando uma ferramenta importante, porque você consegue ampliar o universo da criança. (...) A mídia faz parte do dia-a-dia da escola; seja de forma direta, quando a criança é capaz de manuseá-la e explorá-la com autonomia. (por exemplo: uso do computador); seja de forma indireta quando o manuseio/exploração é feito pelo o agente articulador e a criança se apresenta na atividade como um “sujeito passivo”(...)por exemplo: o professor manuseia o som, a tv, dirige a atividade no computador). O computador conectado à internet é um bom exemplo da mídia contribuindo na construção do conhecimento. Com essa ferramenta, as crianças podem ter acesso ao mundo que é distante da vida real, mas próximo na vida virtual. P2. Acho que a criança gosta de todas as mídias, depende da forma como ela é apresentada, com o foco que você está dando àquela mídia e a importância que você apresenta a mídia. Isso tudo é fundamental. O profissional de educação tem que articular a ferramenta com os seus objetivos no resgate da motivação da criança. P3- O acesso às múltiplas linguagens oferecidas pelas diferentes mídias, mostrando ao aluno as diferentes possibilidades de cada mídia, dando oportunidade de crítica e construção e produção.(...) O uso das mídias em sala são ferramentas de trabalho para o professor, mas não é só isto. È trazer o mundo real para dentro de sala, utilizá-lo, criticá-lo, se apoderar dele para que a criança possa transformar, produzir, e não ser mera repetidora e espectadora. P4- As mídias podem contribuir desde que qualquer atividade com elas seja contextualizada P5- Podem contribuir no conhecimento de diferentes linguagens, na constituição de novos conhecimentos, valores e atitudes, ampliando as relações de ensino, despertando maior interesse e curiosidade. Um dos papéis do educador é fazer com que os alunos sejam capazes de realizar opções mais conscientes no desenvolvimento de práticas de leitura e produção de textos. P7- É o mundo letrado e o acesso ao movimento do mundo e levar para a sala de aula o passado, presente e futuro. As falas dos professores podem ser vistas à luz do Multieducação (1996) que ressalta o fato do acesso às mídias na escola, envolvendo a compreensão das tecnologias como sendo fruto de uma produção social, e mais do que uma preparação restrita à aquisição de habilidades técnicas específicas para o uso de diferentes meios, faz-se necessário compreender os processos pelos quais professores e alunos estabelecem suas múltiplas relações para acessar, interpretar, criticar e produzir novas informações, conhecimentos, valores e atitudes. Nessa perspectiva, Fantin (2006, p.31) explica que educar para as mídias implica “uma postura crítica e criadora de capacidades comunicativas, expressivas e relacionais para avaliar ética e esteticamente o que está sendo oferecido elas mídias para interagir significativamente com suas produções” Na ótica da autora, esta discussão está associada,também, aos direitos das crianças de ser preparadas e desenvolvidas em suas especificidades a analisar e refletir sobre suas interações com as mídias e criar condições para a participação em decisões que dizem respeito a este contexto. Nesse processo de favorecer as crianças em suas interações com as mídias, a autora (2006, p.52) entende que: [...] a mídia- educação pode funcionar como instrumento cultural e educativo, tanto no sentido da formação prático-reflexiva dos profissionais da comunicação, como na formação e capacitação dos educadores Dessa forma, a autora (2002) descreve que a mídia-educação como instrumento cultural seria uma oportunidade dos profissionais de comunicação repensar sobre sua própria atividade, relacionando-a com a responsabilidade social e educativa, e como instrumento educativo, serviria de ajuda na construção do trabalho pedagógico do professor. Da mesma forma que o espaço escolar precisa trabalhar com as mídias, é imprescindível que os espaços midiáticos pensem nos objetivos educacionais. Belloni (2001) concorda com a questão acima citada e explica que para haver integração das mídias na escola como objeto de estudo e instrumento pedagógico é preciso que haja uma integração destes dois discursos até agora divergentes de maneira a assegurar um processo de socialização das novas gerações. No cerne dessa discussão Sancho (apud FANTIN, 2006.) propõe que a formação dos profissionais da educação considere cinco aspectos, são eles: a) formação crítica-situacional na construção de critérios profissionais fundamentados no acesso aos conhecimentos que guiem as decisões curriculares e ofereçam sugestões para a prática educativa;b) formação conceitual que trata das novas maneiras de abordar o conhecimento fornecido pelas mídias e as habilidades cognitivas e sociais que supõem;c) formação técnica pedagógica na aproximação das possibilidades educativas que as mídias oferecem, contextualizadas em diferentes modelos de ensino-aprendizagem e suas formas de entender o saber escola;d) formação instrumental na familiarização com os recursos midiáticos; e) formação auto-reflexiva na análise do papel dos alunos e do professor neste novo contexto. 3.2.2.5- Mídia e Poder Esse subtema retrata a preocupação das professoras em fazer uma leitura mais crítica das mídias na identificação do que está sendo transmitido e quais influências políticas sociais e econômicas estão na construção de uma determinada produção midiática. P5- A mídia, principalmente a TV, conduz e reforça o consumismo exarcebado, deixando as crianças seduzidas. Na mídia acaba tendo uma condução de interesses de pessoas ligadas ao poder. P6- Penso que é um suporte de apoio para o nosso trabalho, mas o professor deve estar atento para perceber o que a mídia está querendo e o que está oferecendo. Na análise de Belloni (2001) a mídia parece cada vez mais substituir com suas imagens artificiais as experiências realmente vividas. Ao mundo real incorpora-se o mundo representado e esta representação tem força real, possui esta objetividade real conferida pela técnica. Para a autora (2001, p.61): [...] produção e consumo de massa desencorajam o espírito de iniciativa e a autoconfiança, diminuindo a possibilidade de o indivíduo decidir a partir do seu próprio julgamento. A sociedade organizada estimula a dependência, a passividade, o estado de espírito de espectador. Para Belloni (2001, p.63) “os outros traços marcantes desta sociedade são o caráter efêmero de suas expressões culturais e o caráter de simulação das experiências”. Das grandes decisões políticas, como verifica a autora, ao imaginário das crianças, a sociedade contemporânea é marcada pela aparência, o simulacro, aquilo que pode ser divulgado. Este mundo do simulacro (BELLONI, 2001, p.6) apresenta-se diariamente às crianças e adolescentes que vivem, participam, torcem, representam e mimetizam as aventuras de seus personagens preferidos e que assistem aos mandos e desmandos políticos, às crises econômicas e às dramáticas situações sociais. Dessa forma, a autora propõe as seguintes reflexões acerca das relações entre criança e mídia. São elas: (a) nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a freqüência de crianças aos meios de comunicação de massa está em crescimento acentuado; (b) as formas e conteúdos das mensagens às quais jovens têm acesso não correspondem a objetivos educacionais e pedagógicos, mas à lógica da economia mundial; (c) as crianças e adolescentes de um modo geral não estão preparados para resistir aos apelos persuasivos das mídias: eles tendem a fazer um consumo passivo sem exercer uma análise crítica de suas mensagens; (d) nos países subdesenvolvidos há predominância da televisão e do rádio em detrimento de outros bens culturais ou meios de comunicação; (e) em países subdesenvolvidos como o Brasil o acesso desigual ao ambiente técnico e tende a agravar as enormes desigualdades existentes entre as crianças das elites e aquelas das populações desfavorecidas. Sendo assim, para Belloni (2001) os objetivos pedagógicos devem promover à formação das crianças e dos adolescentes para o uso crítico das mídias e isto significa desenvolver a iniciação de uma percepção consciente e uma discussão críticas das mensagens midiáticas. 3.2.3 - Atividades na Educação Infantil Esse tema refere-se às atividades na Educação Infantil relatadas e observadas pelos professores que promovem a cooperação/interação, autonomia, acesso ao conhecimento e criatividade. Nesse sentido, esse tema está subdividido nos seguintes subtemas: 3.2.3.1 Cooperação/interação; 3.2.3.2 Autonomia; 3.2.3.3 Acesso ao Conhecimento e 3.4.3.4 Criatividade. 3.2.3.1 Cooperação/interação Esse subtema trata da cooperação/interação como sendo uma das estratégias mais importantes incentivadas pelos professores na promoção da construção de conhecimento P3- Não consegui acompanhar muito de perto mas vi que a atividade de elaborar o castelo foi muito rica, pois além de construir o castelo eles puderam brincar em sala com ele. P4- Outro tipo de interação é usar os recursos, explicando dentro de um planejamento para que estes possam abranger àquele conteúdo trabalhado.(...)Na atividade da internet que culminou com a construção da maquete. Esta atividade desenvolveu a imaginação, criatividade, fantasia na interação com o trabalho. P5- Todas, eles interagem com todas desde que haja uma orientação. Na educação infantil, a interação é muito boa, tem uma maior liberdade de expressão.(...) Quando as crianças trazem a novidade, a interação é maior. Quando trazem o dvd, a interação é perceptível. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998) ressalta que a interação social é fundamental na promoção de aprendizagens pelas crianças. Segundo o documento (1998) cabe ao professor propiciar situações de conversa, brincadeira ou de aprendizagens orientadas que garantam a troca entre crianças, de forma a que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando seus modos de agir, de pensar e de sentir em um ambiente acolhedor e que estimule a confiança e auto-estima. A existência de um ambiente acolhedor não significa eliminar os conflitos, disputas e divergências presentes nas interações sociais, mas pressupõe que o professor forneça elementos afetivos e de linguagem para que as crianças aprendam a conviver, buscando as soluções mais adequadas para as situações com as quais se defrontam diariamente. A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem. (RCNEI,1998). Assim, de acordo com o documento (1998, p.31) [...] em determinadas situações, é aconselhável que crianças com níveis de desenvolvimento diferenciados interajam; em outras, devese garantir uma proximidade de crianças com interesses e níveis de desenvolvimento semelhantes. Propiciar a interação que dizer, portanto, considerar que as diferentes formas de sentir, expressar e comunicar a realidade pelas crianças resultam em respostas diversas que são trocadas entre elas e que garantem parte significativa de suas aprendizagens. Nesse sentido, uma das formas de propiciar a interação e cooperação é estimular as descobertas das crianças, socializando-as. Assim, o professor precisa organizar as situações para que as crianças compartilhem seus percursos individuais na elaboração dos diferentes trabalhos realizados. A fim de que seja possível construir e fortalecer o sentido de grupo entre as crianças, Kramer (2002) ressalta que, o professor deve fazer uso de sua autoridade de maneira tranqüila, porém firme, constituindo-se em um ponto de referência coerente e seguro. Vigotski (2003) aponta que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores se dá a partir de uma atividade do sujeito, atividade esta de apropriação e utilização de instrumentos e signos em um contexto de interação. Os instrumentos e signos farão o papel de mediadores das interações. A questão acima mencionada por Vigotski (idem) indica que é na interação social que a criança entrará em contato e utilizará instrumentos mediadores, desde a mais tenra idade. Machado (2004, p.28) relata que “a necessidade e o desejo de decifrar o universo de significados que a cerca leva a criança a coordenar idéias e ações a fim de solucionar os problemas que se apresentam”. Nesse sentido, a autora (2004) explica que quando a criança é alimentada pelo adulto, ouve uma canção cantada por ele, observa-se no espelho, é acariciada por outra criança ou tem um brinquedo arrancado de sua mão, diferentes processos de elaboração mental se fazem presentes, concomitantemente, na criança. A autora (2004) menciona que no início estas funções mentais apresentam-se de forma embrionária e que é por meio da vivência no meio humano, na atividade instrumental, na interação com outros indivíduos que permitirá o desenvolvimento na criança de um novo e complexo sistema psicológico. Para Vigotski (2003) o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com outras pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. 3.2.3.2 Autonomia Esse subtema diz respeito à observação feita pelas professoras acerca da construção da autonomia nas crianças. Nesse processo, fica evidente na fala das professoras que as crianças precisam ter a possibilidade e a oportunidade de participar das atividades desenvolvidas em sala, de falar, pensar, reagir e criticar. Além disso, no trabalho pedagógico, as professoras podem despertar o interesse nas crianças, para que elas busquem materiais ligados aos conteúdos trabalhados em sala. P1 As crianças têm a possibilidade de participar, pois muitas trazem de casa as fitas. P2- Qualquer uma desde que o professor dê oportunidade da criança falar, agir, pensar, reagir e criticar. P3-. Com certeza, ao computador eles são bem autônomos, eles mesmos decidem e se organizam. Na escolha dos livros para levar para casa também. P4-Algumas crianças trouxeram de casa materiais impressos sobre as olimpíadas por exemplo.(...) Olimpíadas. Eles viram dvds ligados ao assunto, livros de histórias e trouxeram pesquisas de casa feitas na internet, jornais e revistas. Os alunos começaram a comparar as olimpíadas indígenas com as paraolimpíadas. Aproveitei o programa da tv ligado ao esporte e também trabalhei com eles cd, músicas ligadas as olimpíadas. P5- Um dia uma criança trouxe o dvd do expresso polar, aí resolvi incluí-lo no planejamento. Eles construíram um trem de sucata e a partir dele nós trabalhamos conteúdos de matemática ( adição, subtração, conjuntos, etc). Formas geométricas e meios de transportes tb foram trabalhados.Trabalhamos recorte de jornal, música em que se trabalhou expressão corporal e outros conteúdos. Um aluno na hora da rodinha ele contou uma experiência que a mãe havia ficado presa no ônibus quando foi descer. Nós começamos a debater em cima disso, falando dos sentimentos. Trabalhamos com o jornal o respeito a pessoa idosa. Kramer (2002) entende que o professor precisa ser desafiador da criança, ou seja, ele deve criar dificuldades e problemas em suas atividades, pois assim a Educação Infantil deixa de ser vista como um passatempo e passa a ser um espaço criativo, que permite a diversificação e ampliação das experiências infantis, valorizando a iniciativa, curiosidade da criança na promoção de sua autonomia. Na concepção da autora (idem) é necessário que a Educação Infantil encoraje as crianças a ter confiança nas suas próprias possibilidades de experimentar, descobrir, expressar-se, ultrapassar seus medos, ter iniciativa e para isso, é essencial criar um clima na Educação Infantil de expectativas positivas em relação às crianças. A dinâmica do trabalho do professor é sustentada principalmente pelas relações que estão estabelecidas com as crianças e entre elas. Para que se construa um ambiente de confiança, cooperação e autonomia, as formas de agir dos professores precisam estar pautadas por firmeza, segurança e uma relação afetiva forte com as crianças. É fundamental que haja convicção dos professores quanto aos objetivos de uma proposta pedagógica, manejo da turma e uma postura crítica constante quanto às dificuldades sentidas e as dúvidas encontradas (KRAMER, 2002). O professor precisa verificar se suas propostas estão sendo entendidas por todas as crianças, pois isso ajuda na organização e realização das atividades. Segundo Kramer (idem, p.86 ): [...] as razões concretas que geram a criação de determinadas regras, devem, portanto, ser sempre apresentadas para que as crianças compreendam claramente os porquês de certas atitudes dos professores, e para que possam agir autonomamente segundo as regras que orientam o bem-estar do grupo e a atividade coletiva, aprendendo a modificá-las ou criar novas. De acordo com o RCNEI (1998) o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato de que devem ser significativas e apresentadas de maneira integrada para as crianças e as mais próximas possíveis das práticas sociais reais possibilita a aprendizagem e autonomia infantil. Nesse sentido, é preciso que as crianças tenham acesso aos bens socioculturais disponíveis na ampliação das suas capacidades reativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética. 3.2.3.3 Acesso ao Conhecimento Esse tema faz referência a diversos tipos de atividades desenvolvidas pelos professores da Educação Infantil que propiciaram a aquisição de conhecimentos. A partir do relato dos professores, observa-se o papel fundamental da orientação dada pelos professores na construção de conhecimento das crianças: P1-A música. Dança das cadeiras (trabalha a noção de altura; de tempo). Exemplo: a música da aranha fala de subir e descer, e depois peço para registrar com um desenho. P2 – Pesquisar na internet. Eu imprimo esta pesquisa, levo para sala e leio para turma. Discuto com eles, faço perguntas e tento saber qual conhecimento que eles já tinham e o que eles aprenderam.. Uma coisa interessante é a comparação de uma notícia de jornal com o que eles viram na Tv sobre esse assunto. A comparação com os dados da TV. Ex: A tartaruga que se machucou com a hélice de um barco. Na TV tive mais informações do que no jornal e uma criança percebeu isso.Quando o computador chegou na escola, eu expliquei que ele também serve para escrever textos. A turma lembrou de uma música, então, eu digitei na frente deles e eles desenharam. Escutar música no computador e as historinhas que eu baixo da internet, também levo para as crianças. ( ..) No momento em que é apresentado algo novo, nos instiga a refletir e a discutir com os outros os assuntos dinamizados. P3- Contar a mesma história usando livro, vídeo, assistindo uma peça. Comparamos e vimos as diferenças de final (O Gato de Botas), as diferenças de figuras, roupas, representação. Gosto muito de trabalhar com jornal também e chega. P4- Do castelo, foi uma seqüência. A conversa na rodinha foi fundamental para a reflexão deles. Começaram a questionar o mundo real e o mundo da fantasia. P6- Pesquisa sobre castelos via computador, paralelamente mostrando a localização do castelo por meio do mapa mundi. Eu achei essa atividade interessante porque embora não estivesse presente neste dia, na manhã seguinte pude perceber que muitas crianças haviam se apropriado do conhecimento, pois diziam que em Portugal e Espanha existiam castelos. (...) Trabalhando esquema corporal construímos bonecos de papel do tamanho das crianças ao término da atividade. Cada criança dança com o seu boneco ao som de música clássica. Dramatizamos pequenas histórias de livros, cds, e vídeos. Inventamos outros começos e finais. Reinventamos outras histórias. Com a utilização de jornais comentamos os assuntos da atualidade, as crianças adoram esportes, a copa do mundo e a escolha do boneco do Pan foi super discutida pela turma.(obs: todos os alunos da escola votaram via internet na escolha do nome do boneco). P7- Lendo o livro “Se criança governasse o mundo....”de Marcelo Xavier da Ed. Formato, me deparei com a palavra jornal. Perguntei a eles o que era jornal e eles deram muitas respostas que fizeram com eu trouxesse um jornal para ser visto em sala. Tenho por hábito sempre que leio uma história perguntar palavras que eu não tenho certeza se eles conhecem. Nesse livro muitas tiveram respostas curiosas. Trânsito – “é um sinal com verde, vermelho e laranja.”Guerra- é tiro da rocinha..Jornal é. para ler o que o bandido faz Para ler letrinhas Para ler o que acontece na novela.Para ver quem morre. Para ver a árvore caindo no carro. Para ver o prédio explodindo. Nesses depoimentos das professoras, pode-se refletir sobre a questão das inter-relações que existem entre aprendizado e desenvolvimento na criança. (VIGOTSKI, 2003). Há entre esses processos uma unidade em que o processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta, uma vez que o aprendizado resulta em desenvolvimento mental. O nível de desenvolvimento das crianças, na análise de Vigotski (2003) vem sendo avaliado de maneira a medir apenas o que a criança já sabe, o seu desenvolvimento consolidado. O autor (2003) propõe que se considerem, nessas avaliações, as funções que ainda não amadureceram, que estão em maturação, ou seja, que se veja o desenvolvimento mental de maneira prospectiva. Aquilo que a criança consegue fazer com a ajuda dos outros pode ser, de alguma forma, indicativo de seu desenvolvimento. Dessa forma o RCNEI (1998) enfatiza que nas situações de aprendizagem o problema adquire um sentido importante quando as crianças buscam soluções e discutem-nas com outras crianças. De acordo com o documento (1998, p.33) [...] não se trata de situações que permitam aplicar o que já se sabe, mas sim daquelas que possibilitam produzir novos conhecimentos a partir dos que já se tem e em interação com novos desafios Para o RCNEI (1998) o processo que permite a construção de conhecimentos significativos pelas crianças requer uma intensa atividade interna por parte delas.Nessa atividade, as crianças podem estabelecer relações entre novos conteúdos e conhecimentos já existentes, usando para isso os recursos que já possuem. Esse processo possibilitará as crianças modificarem seus conhecimentos prévios. Nesse contexto, o documento (1998) explica que é função do professor considerar como ponto de partida para sua ação educativa os conhecimentos que as crianças possuem, advindos das mais variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostas. O Multieducação (1996) ressalta que o profissional da Educação Infantil tem como ferramentas de trabalho a observação e o registro das crianças em suas brincadeiras, podendo, a partir dele, reelaborar suas questões e definir novas propostas de trabalho. Para o Núcleo Curricular Básico do Multieducação (1996) o professor precisa intervir adequadamente, desafiando as crianças com atividades, questões e sugestões de encaminhamento, que lhe possibilite avançar do ponto em que se encontravam na aprendizagem e desenvolvimento, atuando, assim na zona de desenvolvimento proximal. As crianças são sempre diferentes umas das outras, não só em termos de seus interesses, mas também do seu ritmo de desenvolvimento e dos conhecimentos anteriormente adquiridos. Dada essa heterogeneidade, as atividades planejadas devem conter níveis diversos de dificuldades de maneira que as crianças sejam atendidas nas suas necessidades específicas de crescimento e sejam, simultaneamente, desafiadas, tendo seus interesses e conhecimentos expandidos. (KRAMER, 2002) Segundo a autora (2002) a Educação Infantil deve propiciar o desenvolvimento infantil, considerando os conhecimentos e valores culturais que as crianças já têm, e concomitantes a este processo deve garantir a ampliação dos conhecimentos, de forma a possibilitar a construção da autonomia, cooperação, criticidade e criatividade . Assim, na visão da autora (2002) é preciso que a Educação Infantil leva em consideração os seguintes aspectos: a) a realidade social e cultural das crianças (os conhecimentos que adquiriram, a linguagem, os valores, o saber); b) o desenvolvimento e as características próprias do momento que estão vivendo e. c) os conhecimentos socialmente disponíveis em relação ao mundo físico e social ( a língua portuguesa, a matemática, as ciências naturais e sociais) 3.2.3.4 Criatividade Esse subtema refere-se a observação por parte dos professores que para se ter criatividade é preciso ter curiosidade e que nesse sentido a criança deve se apropriar do tema trabalhado e o professor oferecer meios para esta compreensão e construção de conhecimento P1-Quando as crianças escutam música, porque gostam de dançar, eles inventam e querem que o colega os imite.(...) Para haver organização do pensamento, a criança deve se apropriar do tema que você está trabalhando. O princípio de toda a criatividade é a curiosidade. Trazendo o material e estimulando a oralidade; mostrando o porque. É importante ouvir e observar para depois conseguir raciocinar e estimular o pensamento da criança. Exemplo: As fases da borboleta que trabalhei com eles, as crianças ouviram música, viram o filme do cocoricó (metamorfose da borboleta, contação de histórias e no fim eles já sabiam como se dava essa metamorfose.)(...) da construção do castelo, pois mexeu muito com a imaginação das crianças. P2- Exemplo: Jornal-acompanhamento de uma notícia durante alguns dias. Você está trabalhando tempo, organização do pensamento. Transformar o texto do jornal numa história para eles suporem o que está acontecendo ali. Uma coisa interessante é a comparação de uma notícia (...) O professor precisa oferecer material, mesmo que seja sucata. Eu nunca dou nada pronto. O professor precisa mostrar diversas formas de registro, formas de expressão e deixar a criança livre, incentivar a criança a se expor de diversas formas, deixar desenhar o que sente. Sempre perguntar o que a criança fez, fazer um registro disso no papel. È fundamental sempre indagar a criança na sua produção. P3- Vamos lá, puxando pela memória e tirando do baú! Desenhar, escutando música/depois mostrar o seu desenho, falar do que sentiu e do que imaginou. Uma vez passei um vídeo com um desenho animado feito de figuras geométricas que iam se transformando a cada hora em uma figura e formando uma história; depois propus a turma que recortássemos, pintássemos e criássemos também várias figuras que depois juntamos e formamos uma história.(...)-É importante mostrar às crianças que tudo que é apresentado a ela é legal, é bonito, mas que ela tem o jeito dela de fazer e que é bom também. Ela deve ser estimulada a criticar o que vê, criticar no sentido de dizer o que achou, se gostou, como se sentiu. Acho muito bom quando a gente oferece à criança uma coisa pronta, bem feita, elaborada, como forma de enriquecer, como apoio e logo propõe o “ vamos fazer o nosso?”/ “ vamos fazer do nosso jeito/” P4- Em relação à criatividade, quanto maior for o número de recursos midiáticos você tiver para estimular melhor. O maior meio de expressão como culminância dessa estimulação é o senso crítico. Desenvolve-se o senso crítico, auto-estima, organização de pensamento.(...) Na atividade da internet que culminou com a construção da maquete. Nesta atividade desenvolveram a imaginação, criatividade, fantasia na interação com o trabalho. P5-Nós imprimimos uma manchete de jornal e as crianças criaram outra manchete (...) Quando você dá liberdade de criação e proporciona diversos tipos de material. È importante a valorização da criação deles, quando você estimula e incentiva eles se tornam mais criativos (...) O castelo desenvolveu a criatividade, cooperação e a curiosidade. P6- Deixando que as crianças utilizem a imaginação; não reprimindo suas idéias. Na minha concepção a criatividade só existe com a liberdade de expressão. P7- Uma atividade em que a brincadeira e a criatividade estejam envolvidas e que faça parte do contexto do universo da criança.(...) As crianças criando jornais falado ou escrito, reproduzindo notícias. Essas falas têm respaldo em Kramer (2002) quando enfatiza que todas as atividades que são planejadas pelos professores devem ter objetivos claros para o próprio professor, assim como para as crianças. Nessa linha de pensamento, a fim de que sejam significativos e suscitem a participação ativa das crianças, sua criticidade e criatividade, as atividades precisam ter “um para quê”. O processo vivido por cada criança no desenvolvimento das atividades é fundamental, mas é igualmente importante que as crianças compreendam o que estão fazendo, e que o produto final do seu trabalho seja valorizado pela professora e pelos colegas. Sendo assim, é importante incentivar as descobertas que as crianças estão realizando e os novos conhecimentos construídos. Permitir sempre a manifestação da curiosidade infantil na conciliação dos interesses individuais de certas crianças com a atividade desenvolvida. O Mutieducação (1996) assinala que na Educação Infantil o papel da brincadeira é fundamental para o desenvolvimento da criatividade. Sendo assim, as experiências vividas pelas crianças são ricas para a construção de conhecimento e que para a criança essa riqueza encontra-se na brincadeira e na fantasia. O Núcleo Curricular menciona Vigotski ao citar que a brincadeira é uma atividade específica da infância, e brincando meninas e meninos se apropriam da sua realidade e compreendem seu grupo, sua cultura, constrói significados e elabora interpretações das diversas realidades. De acordo com o pensamento desse autor (2003), na brincadeira as crianças reproduzem situações reais, porém é por meio de sua imaginação e do reconhecimento das regras implícitas que dirigem as atividades reproduzidas em suas brincadeiras e assim adquirem um controle elementar do pensamento abstrato. Nesse sentido, para o autor (2003) a atividade de brincar dirige o desenvolvimento. Um dos objetivos gerais do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) na promoção da criatividade nas crianças é brincadeira que incentiva a expressão de emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades e avança no processo de construção de significados e com isso enriquece a capacidade expressiva. 4. CONSIDERAÇÔES FINAIS A história da Educação Infantil no Brasil remonta ao surgimento das primeiras creches que atendiam as classes mais pobres como resultado da falta de políticas públicas. No setor público, a Escola Municipal Campos Salles foi a primeira escola de Educação Infantil inaugurada em 1909. Só após 1940, a Educação Infantil passa a crescer timidamente no Rio de Janeiro. É a partir de 1980 que o poder público do Município do Rio de Janeiro passa a apoiar formalmente o movimento das creches e escolas comunitárias, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Nesse momento, o atendimento à criança é caracterizado por uma visão assistencialista, uma vez que o cuidado e a alimentação são a essência do trabalho. A Constituição Brasileira de 1988 estabelece que é dever do Estado, por meio dos municípios, garantir a Educação Infantil, ou seja, oferecer atendimentos em creches e pré-escolas a todas as crianças de zero a 6 anos. Nesse sentido, essa Constituição configurou-se a primeira Constituição a garantir os direitos da criança brasileira. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, passa a ser reconhecida como parte do Sistema Municipal de Educação e, em 2001 foi editado o Decreto nº20525, pelo prefeito César Maia, transferindo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social para a Secretaria Municipal de Educação a responsabilidade pelo atendimento prestado às Unidades de Educação Infantil Nessa perspectiva, a discussão, a história e a evolução do atendimento às crianças da Educação Infantil são muito recentes, e a situação ainda se torna mais preocupante pelo fato de esse serviço inicialmente ter tido um cunho assistencialista e as políticas públicas estarem imbuídas dessa tônica. No atual momento histórico é, portanto, fundamental que haja o investimento das políticas públicas na ampliação da oferta de educação para as crianças, de modo a garantir, a todas, o direito de acesso e permanência. Dessa forma, o trabalho realizado no interior da Educação Infantil deve ter qualidade necessária a fim de contribuir no desenvolvimento e na aprendizagem infantil. É no cerne dessa discussão em torno da qualidade do trabalho pedagógico que as escolas de Educação Infantil necessitam (re) pensar o seu papel na sociedade e reconhecer a influência das mídias nos processos de construção de conhecimentos, valores e atitudes. No contexto dessa temática, o objetivo desta pesquisa foi analisar a contribuição das mídias na construção do conhecimento das crianças matriculadas numa escola de Educação Infantil da rede municipal de educação do Rio de Janeiro. Daí emergiram os seguintes objetivos específicos: (a) Apontar as atividades desenvolvidas com as mídias pelos professores; (b) Analisar como as mídias colaboram para a comunicação e interação social das crianças; (c) Investigar como as mídias favorecem a criatividade e autonomia das crianças. Em relação ao primeiro objetivo relacionado a contribuição das mídias na construção de conhecimento, pôde-se verificar com o suporte teórico do sóciointeracionismo de Vigotski (2003) que a construção de conhecimento se faz presente, nas interações sociais, desde que a criança vem ao mundo. A criança e o conhecimento interagem e transformam-se mutuamente. O desenvolvimento e aprendizagem infantil, na visão de Vigotski (2003) estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. Nesse sentido, o autor (2003) reforça o papel das interações sociais, que se constituem na e pela cultura, na formação das estruturas mentais superiores. Assim, é por meio das internalizações que para Vigotski (2003, p.74), corresponde “à reconstrução interna de uma operação externa” que irá ocorrer a reconstrução das funções psicológicas superiores e estas serão para essa teoria fruto das relações sociais. Nesse contexto da constituição do sujeito a partir das suas interações sociais, não podemos deixar de considerar o fato de que as mídias estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, e principalmente no mundo das crianças, uma vez que elas já nasceram nesse “agora” que os adultos estão descobrindo.Por isso a educação precisa incluir as mídias como novas formas de leitura de mundo na formação das crianças. Nessa perspectiva, Fantin (2006) explica que educar para as mídias implica em desenvolver uma postura crítica e criar capacidades comunicativas, expressivas e relacionais para avaliar ética e esteticamente o que está sendo oferecido pelas mídias Segundo a autora (2006) esta discussão nos faz refletir, também, aos direitos das crianças de ser preparadas e desenvolvidas em suas especificidades a analisar e refletir sobre suas interações com as mídias e criar condições para a participação em decisões que dizem respeito a este contexto. Para sair desse lugar-comum que reitera que a educação não combina com as mídias é preciso que se reconsidere essa questão. Educação e Comunicação estão relacionadas e, a menos que reconheçamos isso, a escola tenderá a perder cada vez mais espaço para as mídias, uma vez que ela já está inserida nesse contexto. Os professores, mediadores por excelência nos momentos de construção de conhecimentos, podem ampliar essas possibilidades mediadoras oferecendo às crianças mais momentos de criação, discussão e comparação entre as produções midiáticas, para que, nessas diferentes trocas, as crianças construam aprendizagens significativas. Para que esse trabalho pedagógico possa ocorrer é necessário que os professores utilizem em suas práticas pedagógicas o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal introduzido por Vigotski (2003), e como já citado, ajudará o corpo docente a reconhecer o que as crianças trazem de conhecimento real e o que pode ser desenvolvido para que estas alcancem o desenvolvimento potencial. De acordo com as falas das professoras nas entrevistas, percebemos a ênfase do papel do professor em acompanhar e orientar as crianças em relação ao uso das mídias no processo educacional, mas não ficaram evidenciados o impacto e as mudanças que as mídias podem provocar na gênese do conhecimento das crianças e dos próprios professores. Para tal, os professores precisariam discutir e debater mais os prós e os contras, e em quais circunstâncias deveriam ser utilizadas na Educação Infantil. Na visão de Smolka(2006) as transformações tecnológicas aprofundaram as contradições acerca do acesso ao conhecimento e domínio de instrumentos tecnológicos. Tal autora (2006) argumenta que se as pessoas parecem ser impactadas com essas transformações, os efeitos desses impactos não são os mesmos, uma vez que deve se pensar na diversidade das condições de apropriação das práticas e nas possíveis formas de participação dos sujeitos nessas práticas. Em relação ao segundo objetivo de apontar as atividades desenvolvidas com as mídias pelas professoras pôde ser constatado que as atividades desenvolvidas limitavam-se a: contação de histórias; atividades livres com material pedagógico e atividades livres no pátio com a professora de Educação Física. A partir de então, foi proposto à coordenadora pela pesquisadora que elaborássemos junto com as outras professoras atividades que envolvessem o uso de outras mídias, tais como: o computador e internet, TV e vídeo/DVD e som em torno dos contos infantis, já que as professoras estavam trabalhando as grandes histórias da literatura infantil. As atividades realizadas foram explicadas no capítulo 3 dessa pesquisa e o que pôde ser observado foi o seguinte: a) na atividade do desenho foi despertado o interesse das turmas em assistir o filme “A Bela e a Fera”, além de ter propiciado uma maior organização de pensamento; b) na atividade de construção do castelo foi trabalhada a habilidade motora, criatividade, interação e autonomia.; c) a construção da história da Bela e da Fera foi uma atividade que incentivou a interação, além de estimular a organização do pensamento e a criatividade, e;d) a atividade que promoveu a construção de uma outra história pôde ser desenvolvida a capacidade de organização, análise e síntese. Em contrapartida, podemos fazer algumas indagações relacionadas às atividades desenvolvidas, tais como: a) nesse período inicial em que a criança está em fase de constituição da sua identidade, observou-se uma motivação maior na atividade do Castelo, que no final propiciava a brincadeira a partir do material construído. Dessa forma, percebemos a necessidade de as crianças usarem a imaginação e a criação, e a pergunta que nos cabe é: será que a internet e o computador para essa faixa etária são tão válidos?; e b) na atividade da construção da história da Bela e a Fera, sentimos a importância da linguagem na construção da percepção das diferenças pelas crianças. Assim, os professores ao passar uma história em DVD devem se preocupar em conversar com as crianças, dialogar e não substituir, numa tentativa perigosa, a fala pelo DVD. Assim, nos diálogos das crianças, nos gestos, nos sorrisos, as trocas de conhecimentos circulavam, modificavam-se e recriavam-se. Desse modo, as falas, as opiniões, os desenhos, a construção dos castelos e as histórias foram produzidos por intermédio das mediações, ou seja, das trocas entre criança – criança, e criança – professor. Foi, portanto, por meio das relações sociais que as crianças se constituíram como sujeitos produtores de cultura. Em relação ao terceiro objetivo de analisar como as mídias colaboram para a comunicação e interação social das crianças pôde ser verificada, por meio das atividades desenvolvidas em sala e pelas falas das professoras que o uso de todas as mídias favorece a interação e comunicação, uma vez que todas promovem a cooperação, mas que irá depender de como a atividade tiver sido orientada. Sendo assim, o uso da mídia no espaço escolar enfatiza a necessidade de uma constante mediação do professor que deve explicar à turma o contexto pelo qual está sendo realizada a atividade, a fim de que as crianças consigam interagir com a proposta e entender o conteúdo trabalhado. Uma outra questão ressaltada nas falas das professoras foi o fato de que para promover a interação é fundamental o acompanhamento por uma pessoa que saiba ouvir, estimule a sua turma a falar e, sobretudo, seja uma pessoa consciente e questionadora para desenvolver o senso crítico no outro. Em relação ao último objetivo de investigar como as mídias favorecem a criatividade e autonomia das crianças ficou evidenciada, a partir das falas das professoras que o princípio de toda a criatividade é a curiosidade, e nesse sentido, o professor precisa estimular o pensamento da criança, indagá-la em suas produções.Quanto maior for o número de recursos midiáticos que o professor tiver no desenvolvimento da criatividade e autonomia das crianças melhor. Para as professoras participantes do estudo o meio de expressão como culminância do incentivo à criatividade e autonomia é o senso crítico, que favorece a auto-estima e a organização de pensamento. O professor precisa mostrar diversas formas de registro, formas de expressão e deixar a criança livre, incentivar a criança a se expressar das mais diversas formas. É nessa perspectiva que a pesquisa se propõe ampliar as discussões acerca do universo da Educação Infantil, além de ressaltar que a educação não é mais algo que possa prescindir das mídias, ao contrário, deve procurar dialogar com estes meios de comunicação e integrá-los ao cotidiano escolar como mais um dos muitos modos de leitura capazes de construir conhecimentos. REFERÊNCIAS ALVES,N ;GARCIA, R. L. O Sentido da Escola. Rio de Janeiro : DPA, 2004. ANDRIES, M. Música e Educação Infantil : Possibilidades de Trabalho na Perspectiva de uma Pedagogia da Infância. Encontro GT Educação Infantil (ANPED), 2001 BELLONI, M.L. O que é Mídia e Educação- Campinas, São Paulo, Autores Associados,2001. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2003. BOGDAN, R. ;BIKLEN, S.K. Investigação Qualitativa em educação. 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Por que? 5-Qual dessas mídias favorece a interação das crianças? 6-Em que tipo de atividade dinamizada por você as crianças apresentaram maior autonomia? 7-Dê um exemplo de uma atividade desenvolvida por você na utilização das mídias? 8-Como a criatividade pode ser desenvolvida/estimulada nas crianças? 9-Que atividades desenvolvidas com a minha participação que você achou mais interessante? Por que? 10-Qual dessas atividades estimulou a criatividade? 11- O que você pensa a respeito do uso das mídias no processo ensino – aprendizagem? 12- De que forma as mídias podem contribuir na construção de conhecimento? 13-Qual os aspectos negativos do uso das mídias na educação? ANEXO B Orientação da conversa com as crianças após o filme. 1- Por que o Príncipe se transformou em Fera? 2- O que a Feiticeira falou para o Príncipe antes transforma-lo em Fera? 3- O que o pai da Bela gostava de fazer? 4- O que a Fera fez com o pai da Bela? 5- O que a Bela foi fazer no castelo da Fera e o que aconteceu? 6- Como a Fera se sentia? 7- Como a Fera conquistou a Bela? 8- Qual é a grande mensagem do filme?