TRANSPLANTE DE GERME DENTAL DE TERCEIRO MOLAR PARA ALVÉOLO DE PRIMEIRO MOLAR Marina de Cássia Silva* Markeline Teixeira Meira* Monízia Cordeiro Oliveira* Natália Cristina Moreno da Silva* Armando Lacerda Gobira** Suely Maria Rodrigues*** RESUMO O transplante dentário é a substituição de um dente comprometido por um transplantado, geralmente um terceiro molar (uma vez que o terceiro molar apresenta desenvolvimento tardio em relação aos outros dentes), para um alvéolo preparado ou já existente ocupado por um dente perdido. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre transplante de germe dental de terceiro molar para alvéolo de primeiro molar, destacando os fatores que podem ocasionar/acarretar o sucesso e/ou insucesso. O transplante dental pode ser realizado através de duas técnicas cirúrgicas distintas, a imediata, quando a cirurgia é realizada em uma única sessão e a mediata realizada em duas sessões com intervalos de 14 dias entre as sessões. A prática cirúrgica dos transplantes dentais vem se tornando cada vez mais utilizada por ser biologicamente viável quando comparada a outros métodos de reabilitação oral. Os casos de transplantes dentais encontrados na literatura referem-se, principalmente a extrações devido a traumas ou lesões cariosas profundas onde não há possibilidade de tratamento restaurador. Possui um elevado índice de sucesso e é uma excelente opção para substituição dentária. Sendo que a correta seleção do paciente associada a uma boa técnica via de regra, produz excelentes resultados estéticos e funcionais. Palavras - chave: Transplante dentário. Germe dental. Terceiro molar. * Acadêmicas do 8º Período do Curso de Odontologia da FACS/UNIVALE. ** Mestre em Cirurgia Buco Maxilo Facial, Membro da Academia Mineira de Odontologia, Cadeira 32 e Professor da Disciplina Cirurgia III e IV do Curso de Odontologia da FACS/ UNIVALE. *** Doutora em Saúde Coletiva, Professora das Disciplinas de Estagio Supervisionado de Odontogeriatria e Clinica Integrada II do Curso de Odontologia da FACS/ UNIVALE. 2 INTRODUÇÃO Embora a odontologia tenha evoluído no que diz respeito à prevenção, as extrações dentais ainda ocorrem com muita frequência, principalmente nos primeiros molares inferiores e superiores. Esses elementos dentais são os mais afetados por diversos fatores: como a cárie dental, doença periodontal, fratura radicular, complicações após o tratamento endodôntico ou pela tentativa de colocação de pinos intra-radiculares (MARZOLA, 2005 apud WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO-FILHO, 2007; LANG; POHL e FILIPPI, 2003). O transplante dentário é uma opção de tratamento quando temos a indicação de extração de terceiros molares por falta de espaço, podendo este ser usado em um arco que tenha ausência dentária congênita e espaço suficiente. Ou ainda em casos de perdas prematuras de molares permanentes, trauma, perdas dentárias causadas por tumor ou quando o tratamento restaurador estiver inviável por motivos socioeconômicos (SEBBEN; CASTILHOS e SILVA, 2004). O comprometimento ósseo da mandíbula e maxila pode ser evitado através do transplante de germe dental, que estimula a formação óssea, promove um desenvolvimento dentofacial natural, visto que a ausência de elementos dentais pode causar problemas em relação ao crescimento do arco dentário, como migração dos elementos adjacentes em direção ao espaço edêntulo, extrusão dos antagonistas e interferências oclusais durante os movimentos excursivos, que acarretam disfunção da articulação temporomandibular. (PIRES et al., 2004; AGUIAR e AGUIAR, 2009). Como alternativa de tratamento com relativo baixo custo, para substituição de elementos perdidos, os transplantes autógenos são os de melhor resolução, por não apresentarem incompatibilidade histológica. Tem aumentado ultimamente o interesse nos transplantes de tecidos e órgãos em várias especialidades na cirurgia, e com relação aos transplantes dentários muito se tem feito e não são poucos os profissionais que 3 relatam experiências bem sucedidas, com relação a esse tipo de procedimento (PAULA e BRAGA, 2007; SOUSA, 2002). O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre transplante dental de terceiro molar para alvéolo de primeiro molar, destacando os fatores que podem ocasionar o sucesso e ou insucesso. REVISÃO DA LITERATURA Conceito do transplante dental Segundo Cuffari e Palumbo (1997) o transplante dentário é definido como uma manobra cirúrgica onde o dente a ser transplantado é submetido a uma avulsão do seu alvéolo de origem e implantado em outro alvéolo natural ou preparado cirurgicamente, ou seja, é a substituição de um dente perdido ou ausente por um dente transplantado, geralmente um terceiro molar, por ser o último dente a completar sua rizogênese. Pode ser classificado quanto ao doador e o tipo de técnica utilizada. Quanto ao doador (CUFFARI e PALUMBO, 1997): 1. Autógeno (autoplástico): o doador e o receptor do germe é o mesmo individuo; 2. Homólogo (homoplástico): o doador e o receptor do germe são dois indivíduos da mesma espécie; 3. Heterógeno: o doador e o receptor do germe são de espécies diferentes. 4 Quanto à técnica (PIRES et al., 2004): 1. Técnica imediata ou convencional, quando a extração do dente a ser transplantado e o preparo da cavidade óssea alveolar, para o qual esse dente será transferido é realizada em uma única sessão; 2. Técnica mediata ou em duas etapas, na qual o alvéolo cirúrgico é preparado na primeira etapa e, após um período de cicatrização de até 14 dias, faz-se a extração do dente a ser transplantado e o transplante é realizado na segunda etapa. Aspectos Históricos Segundo Paula e Braga (2007), os primeiros relatos sobre transplante de germe dental surgiram na Arábia e foram escritos por um cirurgião-dentista denominado Albucasis no ano de 1050, no entanto, só em 1564 o francês Ambroise Paré fez a primeira cirurgia registrada com detalhes sobre o transplante de germe. Outros registros relataram que no Velho Egito os escravos eram obrigados a doar seus dentes aos faraós, assim como na Europa Medieval, onde os escravos também eram forçados a doar seus dentes para os reis. Desde o início dos tempos, a substituição artificial de dentes caídos era efetuada com produtos de origem animal, como o marfim ou o osso, ou com a extração de dentes da boca de um cadáver. Os primeiros geralmente eram insatisfatórios, pois absorviam odores e sofriam mudanças de cor. Quanto aos dentes humanos, estes eram escassos e caros, e a maior parte das pessoas sentia uma repugnância natural ao colocar um dente de um cadáver na boca (PAULA e BRAGA, 2007). O pioneiro no relato desses fatos foi Pierre Fouchard em 1725, relatando um transplante homogêneo de um soldado para um capitão. Experiências heterogêneas bizarras de transplante dental aconteceram em 1771, relatadas por John Hunter. O 5 mesmo descreveu um caso de dente de humano transplantado para a crista de um galo, obtendo sucesso nesse procedimento. Outros casos bizarros são de transplante de dente de cadáver para pessoa viva e de marfim de elefante para boca de pessoas desdentadas (CUFFARI; PALUMBO, 1998; PAGLIARIN e BENATO, 2006; PROVEDEL; ALVES; JAMBEIRO, 2006; SOUZA, 2002 apud AGUIAR e AGUIAR, 2009). Embora a técnica de transplante de germe dental já existisse, foi através de dois estudiosos da Odontologia, Harland Apfel e Horance Miller, que a técnica passou a ser documentada e não mais realizada de forma empírica, sendo que Flemingen demonstrou os critérios para o sucesso e Costich apresentou os fatores de sucesso e as principais causas do insucesso. Assim, esse procedimento passou a ser estudado cientificamente, gerando grande relevância na cirurgia oral e atingindo grandes proporções de interesse odontológico, sendo que esses estudos eram focados mais no transplante do terceiro molar para o alvéolo do primeiro molar (CUFFARI; PALUMBO, 1998; PAGLIARIN; BENATO, 2006; PROVEDEL; ALVES; JAMBEIRO, 2006; SOUZA, 2002, apud AGUIAR e AGUIAR, 2009). No Brasil, em 1966, Clovis Marzola se destacou como o pioneiro nacional da técnica, por fazer descrições sobre transplante autógeno. Outros grandes estudiosos como Leonard E. Shuman e Jean O. Andreasen também se destacaram na década de 60 por publicar trabalhos de grande valor sobre transplante de germe dental. Esses trabalhos são de extrema importância para que exista uma maior confiabilidade da técnica, valorizando e consolidando o procedimento (CUFFARI; PALUMBO, 1998; PAGLIARIN; BENATO, 2006; PROVEDEL; ALVES; JAMBEIRO, 2006; SOUZA, 2002, apud AGUIAR e AGUIAR, 2009; MARZOLA; TOLEDO-FILHO e LONGOFILHO, 2008). Indicação do transplante dental Segundo Graziani (1995), em princípio, a indicação mais comum transplante 6 dentário tem sido o de terceiro molar inferior em desenvolvimento ou incluso para o alvéolo preparado do primeiro molar inferior, como também, o transplante do terceiro molar superior para o lugar de um dos molares superiores. Outra indicação viável é o transplante de um canino incluso para o lugar em que deveria ocupar na arcada os incisivos. O transplante dentário é uma alternativa de tratamento quando temos extensas cáries, complicações marginais ou periapicais e fraturas tornando o tratamento convencional impossível, podendo também ser usado em um arco que tenha ausência dentária congênita, perdas prematuras de molares permanentes, traumatismo, iatrogenias, perdas dentárias ocasionadas por tumores e ainda quando o tratamento restaurador protético estiver inviabilizado por motivos socioeconômicos (SEBBEN; CASTILHOS e SILVA, 2004). Os terceiros molares são os dentes mais indicados para o transplante de germe dental devido a sua erupção tardia em relação aos outros dentes que já se encontram com o ápice completamente formado, sendo que, para o procedimento, sua raiz já deve apresentar uma formação satisfatória de no mínimo 1/3 e de no máximo 2/3 do desenvolvimento, tendo uma maior capacidade de revascularização no alvéolo receptor. Este apresenta um amplo canal radicular que vasculariza melhor a polpa, que, por estar em fase de desenvolvimento apresenta uma grande quantidade de células mesenquimais, pouco tecido fibrótico e o saco folicular (CUFFARI; PALUMBO, 1998; PROVEDEL; ALVES; JAMBEIRO, 2006; MOTTA; FERREIRA, 2007; SEBBEN; DAL; FERNANDES, 2004, apud AGUIAR e AGUIAR, 2009). O terceiro molar é um dente muito útil como doador, apresentando resultados muito satisfatórios no transplante de germes com formação radicular iniciada, o que também não inviabiliza a utilização de dentes com o ápice fechado. O transplante com o ápice fechado tornaria a técnica mais complicada, com a possibilidade de sucesso diminuída. A habilidade do cirurgião dentista é fundamental para que não haja danos a bainha epitelial durante a avulsão do dente doador, evitando-se o contato com a porção radicular, devendo este permanecer o menor tempo possível fora do contato com o leito 7 receptor, para que não exista contaminação e ressecamento (COUNIHAN et al. 1997 apud WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO-FILHO, 2007). Fatores relevantes para obtenção do sucesso do transplante dental Para obtenção do sucesso do transplante, é imprescindível que o paciente esteja sistemicamente saudável, para evitar comprometimento imunológico e cicatricial. Deve ter idade entre 13 e 19 anos, levar em conta a localização e o estágio de formação radicular do dente a ser transplantado. O paciente tem que estar informado e motivado em manter rigoroso controle de higiene bucal e disposto a realizar retornos periódicos (PIRES et al., 2004; MACEDO et al., 2003). Deve-se levar em conta a integralidade das áreas odontológicas no transplante de germe dental. Pois, além de ser um procedimento cirúrgico, envolve outras áreas como a ortodontia, que pode dar uma base para esse tipo de procedimento. Realizando junto com o cirurgião o planejamento que estabelecerá indicação para transplante (MOTTA e FERREIRA, 2007; NEVES, 2002; PAGLIARIN e BENATO, 2006; SAILER E PAJAROLA, 2000; SEBBEN, DAL e FERNANDES, 2004 apud AGUIAR e AGUIAR, 2009; MACEDO et al., 2003). Alguns requisitos são muito importantes e devem ser levados em consideração para a obtenção do sucesso de um transplante dentário, são eles: exames clínicos e radiográficos, desenvolvimento radicular do germe dental de no mínimo 1/3 e no máximo 2/3; diâmetro mésio-distal do germe deve ser igual ou menor ao do dente que irá substituir; germe em posição e localização favorável para ser extraído, sem ser lesado (FIGURA 1, 2 e 3); boas condições clínicas e de higiene bucal; interesse do paciente em realizar o transplante e colaborar no trans e pós-operatórios e ausência de lesões periodontais e infecções agudas no alvéolo receptor (PAULA e BRAGA, 2007; MOREIRA; TRIVELLATO e GURGEL, 2001; MIRANDA et al., 2009). 8 FIGURA 1- Diâmetro e lesão periapical do dente 46. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 2- Posição e diâmetro favorável para o transplante do dente 28. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 3 - Esquema ilustrando o posicionamento, espaço e grau de desenvolvimento do germe dental. FONTE: WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO FILHO, 2007. A análise periodontal e a condição sistêmica também devem ser levadas em consideração, pois um processo infeccioso poderá comprometer a biointegração do germe ao alvéolo. Caso isso aconteça, inclui-se o conhecimento farmacológico, sugestionando uma cobertura antibiótica favorecendo condições para o transplante. O exame radiográfico é de extrema importância, sendo que ele nos mostra uma imagem intra-óssea dando uma imagem sugestiva tanto para planejar o ato cirúrgico como para proservação (MOTTA e FERREIRA, 2007; NEVES, 2002; PAGLIARIN e BENATO, 2006; SAILER e PAJAROLA, 2000; SEBBEN, DAL e FERNANDES, 2004 apud AGUIAR e AGUIAR, 2009). Antes que o transplante seja efetuado é essencial a cuidadosa análise ortodôntica, confirmando a indicação para esse tipo de procedimento. Nessa análise deverá estar incluída uma avaliação clínica e radiográfica do transplante em potencial, 9 além do local receptor para determinar se há biocompatibilidade das estruturas envolvidas (MARZOLA et al., 2007). A cooperação e a compreensão dos pacientes são extremamente importantes para assegurar ótimos resultados. Devem estar dispostos a seguir as instruções pósoperatórias e estar disponíveis para as visitas de revisão. Também ter um nível aceitável de higiene oral, cuidado dental regular e um local receptor apropriado. (PAULA e BRAGA, 2007). O sucesso do procedimento depende de uma série de fatores, tais como técnica cirúrgica adequada, mínimo trauma na região e o saco pericoronário do germe transplantado não pode ser danificado para que não resulte em fracasso, devido à reabsorção radicular ou interrupção na formação da raiz. Dessa forma é contra-indicado a exodontia para o autotransplante, caso o elemento dental esteja em posição anatômica que impossibilite a sua avulsão com total integridade (ADREASEN, 1994 apud PIRES et al., 2004; VILLENA e HERRERA, 2000; BARBIERI et al., 2008). Segundo Cuffari e Palumbo (1997), as vantagens do transplante dental são: evitar o comprometimento do desenvolvimento da maxila e da mandíbula, devolver função mastigatória e estética ao paciente. Trata-se de uma técnica que não oferece substancial dificuldade em sua execução é um tratamento não-mutilador e que desenvolve normalmente a motivação pelo zelo da saúde bucal. Considerações ético legais Segundo Marzola (1997), deverá existir sempre uma autorização prévia, por escrito, tanto do receptor quanto do doador, para uma realização cirúrgica desta natureza, qualquer que seja o tipo de transplante: autógeno ou homógeno. 10 É evidente que, em se tratando de transplantes autógenos, o consentimento do receptor equivale ao do doador e, nestas condições, parece ser o tipo de transplante conveniente, no que diz respeito ao aspecto legal. Quanto ao ético, este fica mais limitado ao profissional, na obrigação de realizar perfeito diagnóstico e adequado prognóstico, além de possuir conhecimentos precisos da técnica (WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO-FILHO, 2007). Considerando o dente uma parte do corpo humano, a lei 9.434/97 regulariza a doação de órgãos em todo o Brasil. O artigo 1º desta lei cita que qualquer tipo de órgão ou parte do corpo humano deve ser doado gratuitamente, para fins de tratamento ou transplante ( GONDIM, PIMENTA e SOARES apud AGUIAR e AGUIAR, 2009). Técnica operatória Segundo Graziani (1995), a técnica do transplante dentário pode também ser empregada para os germes em evolução desde que já esteja completado o desenvolvimento da coroa. Técnica imediata (GRAZIANI, 1995) Fase preliminar: Preparo da boca O preparo da boca, ou seja, remoção de possíveis raízes, restauração de dentes cariados, enfim, a eliminação de fatores que aumentam a septidez do meio bucal. 11 Deverão ser seguidos à risca os princípios de esterilização do campo operatório, do operador. Anestesia Este procedimento pode ser realizado com anestesia local, bloqueio de campo ou infiltrativa. Iniciamos com anestesia tópica no local das infiltrações e prosseguimos, na mandíbula com anestesia regional pterigomandibular e infiltrativa no nervo bucal; na maxila com anestesia regional zigomática ou pós tuber e anestesia infiltrativa palatina. Fase cirúrgica: A intervenção propriamente dita pode ser dividida em quatro diferentes tempos. Remoção do germe seguido pela remoção do elemento da área receptora, implante do dente e finalizando com a fixação. Remoção do germe dental O retalho mucoperióstico vestibular é descolado (FIGURA 4), evitando-se descolamentos para o lado lingual. O descolamento do retalho lingual deverá limitar-se à porção da mucosa que cobre a crista alveolar. 12 FIGURA 4 - Incisão para acesso ao germe FONTE: Secretaria de paciente da FACSUNIVALE Utilizando-se cinzéis, martelos e brocas AR, remove-se cuidadosamente boa parte da tábua óssea vestibular e da zona oclusal (FIGURA 5), de maneira a expor a coroa do dente e parte da porção radicular. Não deve ser esquecido que o dente deverá ser removido sem grandes esforços, que poderão traumatizá-lo e inutilizá-lo para o transplante. FIGURA 5 - Retalho já destacado e o germe exposto. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE Após a remoção, deve o dente ser recolocado em sua cavidade alveolar (FIGURA 6), enquanto se aguarda o término do tempo seguinte da operação, que é justamente o preparo de seu alojamento. FIGURA 6 - Avulsão do germe. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE 13 Remoção do elemento a ser substituído Passa-se agora à extração do elemento a ser substituído, cuidando-se em preservar as paredes do alvéolo e as paredes ósseas vestibular e lingual. A luxação do dente deve ser feita demorada e prudentemente, tendo-se em vista a maior proteção possível dos tecidos de suporte (FIGURA 7 e 8). FIGURA 7 - Extração do dente que será substituído. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 8- Extração do dente que será substituído. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE Implante do dente Terminada a remoção do elemento, passa-se ao preparo do alvéolo para receber o novo dente. O septo intra-alveolar é removido com o osteótomo até um ponto que não interfira na adaptação do dente a ser transplantado (FIGURA 9 e 10). As cristas alveolares são também ligeiramente aparadas, quando necessário, para melhor adaptação do novo dente (FIGURA 11). Nenhum medicamento deverá ser aplicado no alvéolo, assim como nenhuma irrigação. O germe é então adaptado ao alvéolo preparado (FIGURA 12 e 13). 14 FIGURA 9 - Curetagem e preparo do alvéolo receptor FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 10 - Remoção do septo alveolar. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 11 - Alvéolo já preparado para receber o germe dental FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 12 - Inserção do germe no alvéolo receptor FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE FIGURA 13 - Germe em posição no alvéolo receptor. FONTE: Secretaria de paciente da FACS-UNIVALE 15 Fixação Pode ser feita por meio de uma ligadura metálica: um fio bem fino, passado ao redor da coroa do dente transplantado, liga-o aos dentes vizinhos. Ou ainda por meios de fios de suturas e de nylon (FIGURA 14). FIGURA 14 - Contenção com fio de nylon, fixando o dente transplantado aos dentes vizinhos com o auxilio de resina composta. FONTE: WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO FILHO, 2007. Fase pós-operatória: As instruções para o pós-operatório são similares àquelas da remoção de um dente impactado. Deve ser recomendada uma dieta pastosa e leve pelo menos dois dias depois da cirurgia. O paciente deve ser instruído a evitar a mastigação no local do transplante e deve manter uma ótima higiene oral (COSTA, 2009). Alguns pesquisadores preconizam que o paciente deve enxaguar o local com clorexidina como adjunto da higiene oral e também deve submeter-se a ingestão de antibióticos no pré e pós-operatório (COSTA, 2009). Muitos profissionais recomendam que o paciente deve ser revisto no dia seguinte a cirurgia para garantir que o transplante teve a retenção desejada em sua nova posição, se a esplintagem está estável e se a formação de edema e hematoma estão dentro da normalidade (PAULA e BRAGA, 2007). 16 Técnica mediata Nessa técnica o alvéolo receptor é preparado na primeira etapa e a segunda intervenção aguardaria até a fase proliferativa do reparo, aproximadamente 14 dias, quando o germe de terceiro molar seria transplantado, existindo uma ótima vascularização do leito receptor, associada à pequena quantidade de células inflamatórias (WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO-FILHO, 2007). Critérios clínicos radiográficos para avaliação do sucesso do transplante dentário Segundo Shulman, 1979 apud Costa (2009) e Giancristófaro et al. (2009), do ponto de vista clínico radiográfico, para considerarmos um transplante satisfatório podemos adotar como critérios aceitáveis as seguintes condições : · O dente transplantado tornou-se organicamente integrado em seu novo · Estar o transplante livre de processo infeccioso, não havendo lesões sítio; periapicais e laterais; · Estar o dente preenchendo suas funções, do ponto de vista da mastigação; · Estar preenchendo, de maneira adequada, a finalidade de manter as relações funcionais maxilo-mandibulares e musculares; · Esteticamente aceitável. Critérios clínicos e radiográficos, tais como a mobilidade, que deve ser testada a partir do segundo mês; cor do germe transplantado, semelhante a dos demais dentes; 17 sensibilidade, observada em torno do sétimo mês; exame da gengiva marginal e papilas revelando coloração rósea considerada normal com perfeita aderência às superfícies vestibular e lingual (LIMA JR et al., 2005). DISCUSSÃO O transplante dentário é a substituição de um dente perdido ou ausente por um transplantado, geralmente um terceiro molar para um alvéolo preparado ou já existente ocupado pelo dente perdido (PAULA e BRAGA, 2007). No que diz respeito à indicação do transplante de germe dental, Aguiar e Aguiar (2009), Pagliarin e Benato (2006) convergem para o mesmo pensamento, que os terceiros molares devido a sua erupção tardia, em relação aos outros elementos dentais, são mais indicados para o transplante. Visto que o germe deve apresentar-se com pelo menos um terço a dois terços da raiz formada, para que haja estabilidade e maior capacidade de revascularização. Paula e Braga (2007) e Miranda (2009), defendem que além do estágio de desenvolvimento do germe dental deve ser observado também o diâmetro mésio-distal e a posição favorável para ser extraído (posição hotizontal e classe I de Winter), evitando lesão na raiz e no saco pericoronário durante a remoção do mesmo. Com relação ao tempo de permanência do germe dental fora do alvéolo, não deve ser mais que quatro horas, pois assim estará menos exposto e terá menos chance de contaminação e ressecamento sendo que, quanto menor o tempo de exposição ao ar, melhor o prognóstico (COUNIHAN et al. 1997 apud WOLFGANG ROSENSCHEG; MARZOLA e TOLEDO-FILHO, 2007). Sabendo que as ausências de elementos dentais acarretam problemas em relação ao desenvolvimento do arco dentário, como a migração dos elementos adjacentes em direção ao espaço edêntulo, extrusão dos antagonistas, interferências 18 oclusais durante os movimentos excursivos que levam a disfunção da articulação têmporo-mandibular, o transplante dental torna-se uma alternativa menos onerosa ao paciente, quando comparada a outros tratamentos como implante e prótese, para evitar o comprometimento do crescimento da maxila e da mandíbula (PIRES et al., 2004). Aguiar e Aguiar (2009) concordam com Paula e Braga (2007), que está contra indicado o transplante em áreas de lesão periodontal e lesão aguda no alvéolo receptor; sendo assim, nesses casos, se faz necessário a cobertura antibiótica, para recuperar a saúde desta área, e só então após esse período terapêutico o transplante poderá ser realizado. De acordo com Lima JR et al. (2005) a imobilização de dentes transplantados, deve ser efetuada por meio de sutura nas interproximais dos mesmos, estabilizando-se o retalho sob pressão com fio de nylon 5-0, dispensando qualquer tipo de contenção ou odontossíntese (amarria), sendo os dentes colocados em oclusão. Macedo et al. (2003), com relação a contenção semi-rígida (sutura) concorda com Lima JR et al. (2005), pois esta contenção possibilita movimentação da gonfose, minimizando as chances de ocorrer anquilose. No entanto ele defende a contenção com fio ortodôntico e resina nos elementos adjacente nos casos onde há tendência ao deslocamento do dente. CONCLUSÕES · O transplante autógeno é considerado uma técnica com bom prognóstico na substituição de elementos dentários perdidos ou ausentes, especialmente em pacientes jovens de 13 a 19 anos, nos quais outros tratamentos convencionais estariam contra-indicados. · Um requisito de grande relevância para o transplante é o grau de desenvolvimento radicular do germe dental, que deve apresentar 1/3 à 2/3 de raiz 19 formada, o que proporciona estabilidade no alvéolo receptor, além de apresentar um diâmetro apical maior permitindo melhor revascularização do germe transplantado. · É imprescindível que durante o ato cirúrgico ocorra a preservação da bainha epitelial do germe dental e que se evite o contato com a porção radicular, devendo o mesmo permanecer o menor tempo possível fora do alvéolo durante a manobra cirúrgica, para garantir a regeneração e integração do germe no sítio receptor. · Quando o sucesso é obtido, o dente transplantado restaura a estética, a função proprioceptiva e o periodonto, estimula a formação óssea, resultando na manutenção da altura óssea alveolar, assim o paciente pode ter uma mastigação normal. ABSTRACT DENTAL GERM TRANSPLANTATION OF THIRD MOLAR FOR ALVEOLUS FROM FIRST MOLAR. The dental transplant is the replacement tooth a tooth committed by a transplanted, usually a third molar (since the third molar presented development in relation to other teeth), for a alveolus prepared or an existing occupied by a missing tooth. The objective of this study was a review the literature on the dental germ transplant of third molar for alveolus from first molar, highlighting the factors that may cause/lead to the success/failure. The tooth transplant can be performed by two different surgical techniques, the immediate, when surgery is performed in a single session and mediate held in two sessions at intervals of 14 days between sessions. The dental practice of transplant surgery has become increasingly used because it is biologically feasible when compared to other methods of oral rehabilitation. Cases of dental transplants in the literature refer mainly to extractions due to trauma or deep carious lesions where there is no possibility of restorative treatment. It has a high success rate and is an excellent option for tooth replacement. Since the correct patient selection coupled with a good technique usually produces excellent cosmetic and functional results. Key words: Dental transplantation. Dental germ. Third molar. 20 REFERÊNCIAS AGUIAR, E.; AGUIAR, O. Transplante de germe dental. Diálogos e Ciência-Revista da Rede de Ensino FTC, ano 3, n. 19, set. 2009. Disponível em: <http://dialogos. ftc.br/index.php?option=com_content&task=view&id=181&Itemid=1> Acesso em: 05 outubro 2009. BARBIERI ,A. A. et al. Cirurgia de transplante autógeno pela técnica imediata. Revista Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-facial, Camaragibe, v. 8, n. 3, p. 35-40, jul./set. 2008. COSTA, N. S. da. Autotransplante de Terceiro Molar para Alvéolo de Primeiro Molar. 2009. 33 f. 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