Liquidez

Propaganda
ID: 49634347
09-09-2013
Tiragem: 14880
Pág: 32
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 10,34 x 36,21 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
SOCIEDADE ABERTA
Liquidez
E se, de repente, uma das
mais famosas obras de Picasso, um óleo sobre tela de
dimensões transportáveis,
de novo em oferta, não conseguisse encontrar quem
se mostrasse interessado em
adquirir aquela peça de arte
Luís Lima
única, pelo menos ao preço
Presidenta da
que tenha alcançado
CIMLOP
Confederação da
na transação anterior?
Construção e do
A obra mais famosa deste
Imobiliário de Língua
artista, a Guernica, pintada
Oficial Portuguesa
em 1937 em Paris, obra que
apesar das suas invulgares dimensões (três
metros e meio por quase oito metros) já residiu
no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova
Iorque e já foi exposta numa Bienal de S. Paulo
antes de se recolher ao Museu Rainha Sofia,
em Madrid, não tem preço.
Na verdade, vale milhões para a cidade de
Madrid que recebe desde 1992 milhares e milhares de visitantes de todo o Mundo motivados pela vontade de ver com os próprios olhos
esse retrato simbólico dos efeitos das guerras,
emotivamente captado por Pablo Picasso
em homenagem às vitimas da aldeia basca
de Guernica, bombardeada por alemães e
italianos durante a Guerra Civil de Espanha.
A “Guernica” não está à venda, mas há
outras peças únicas de Picasso, de dimensões
adequadas a uma mobilidade mínima, que
podem ser adquiridas nas galerias de arte que
as possuem. A preços que, em alguns casos,
batem recordes nos mercados de Arte. Mesmo
assim, um quadro de Picasso valerá milhões
sempre e se houver quem esteja disponível
a adquiri-lo por milhões.
E o preço dos bens imobiliários? Do património imobiliário construído e da própria terra onde, com maior ou menor dificuldade, é
possível construir ou reconstruir um edificado? Valorizar-se-á como uma peça de arte,
mesmo e se puder ser considerado uma peça
única, numa localização privilegiada?
A questão da liquidez dos bens imobiliários
é hoje uma questão central dos mercados imobiliários. Quem é que hoje investe num terreno ou num bem imobiliário edificado se
desconfiar que no momento seguinte ao da
aquisição dificilmente conseguirá voltar a
oferecê-lo no mercado pelo mesmo preço?
A garantia da manutenção e ou da eventual
valorização dos bens imobiliários não será problema irresolúvel mas depende da conjugação
de vários vectores e consequentemente de várias
vontades, cujo encontro é tanto mais urgente
quanto urgente é, por exemplo, descobrir uma
saída para o edifício do Pavilhão de Portugal no
Parque das Nações, peça única a degradar-se
apesar de ser uma maravilha da arquitetura e da
engenharia portuguesas numa localização ímpar.
Afinal, já não basta sentenciar, como se
sentenciava antigamente, com um tão popular
“diz-me o que tens e onde”. É em momentos
como o que vivemos que mais facilmente
compreendemos a importância dos registos e
dos cadastros prediais eficientes, a indispensabilidade das soluções urbanísticas integrais,
a necessidade dos financiamentos sustentáveis, o rigor das avaliações imobiliárias equilibradas ou a justeza de uma fiscalidade realista.
Embora possa parecer que não, este deveria
ser um dos temas centrais do debate público
que decorre no momento actual à volta
das eleições para as autarquias locais. ■
Download