aula 1. ética profissional

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ÉTICA PROFISSIONAL
Profa. Me. ANA CAROLINA GONDIM
PONTO DE AULA nº 1
Noções básicas: conceito de ética; objeto de estudo; campo da ética; ética e filosofia;
ética e moralidade.
O que ética? O que é moral? O que ela estuda? Estas são perguntas rotineiras,
feita por muitos e de suma importância para as relações humanas. Cotidianamente
ouvimos falar de ética e falta de ética, mas o que isso significa afinal?
A ética faz parte de uma das três grandes áreas da filosofia, mais
especificamente é o estudo da ação – práxis. Ao lado do estudo sobre o “conhecimento”
– como a ciência, ou a lógica – e do estudo sobre o “valor” – seja ele artístico, moral, ou
científico – o estudo sobre a ação engloba a totalidade do saber e da cultura humana.
Está presente no nosso cotidiano o tempo todo, tanto nas decisões familiares, como nas
decisões políticas, ou no trabalho, por exemplo.
A filosofia moral ou ética nasce quando passamos a indagar o que são, de onde
vem e o que valem (qual o valor) dos costumes e das tradições humanas??
A palavra ética tem origem no termo grego ethos, que significava “bom
costume”, “costume superior”. Impulsionado pelo crescimento da filosofia fora da
antiga Grécia o conceito de ethos se proliferou pelas diversas civilizações que
mantiveram contato com sua cultura. A contribuição mais relevante se deu com os
filósofos latinos. Em Roma o termo grego foi traduzido como “mor-morus” que também
significava “costume mor” ou “costume superior”. É dessa tradução latina que surge a
palavra “moral”, em português.
No decorrer da história do pensamento a ética se tornou cada vez mais um
assunto rico, complexo e abrangente. Com a expansão da filosofia, e em especial o
pensamento sobre a ação, foi preciso distinguir os termos: “ética” e “moral”. No século
XX o filósofo espanhol Vásquez cria uma diferenciação entre os dois conceitos. Para ele
o termo moral se refere a uma reflexão que a pessoa faz de sua própria ação. Já o termo
ética abrange o estudo dos discursos morais, bem como os critérios de escolha para
valorar e padronizar as condutas numa família, empresa ou sociedade.
Definir o que é um agir ético, moral, correto ou virtuoso é se inscrever numa
disputa social pela definição legítima da boa conduta. Da conduta verdadeira e
necessária. Avaliar a melhor maneira de agir pode ser visto de pontos de vista
totalmente diversos. marxistas, liberais, mulçumanos, psicanalistas, jornalistas e
políticos agem e valoram as ações de maneira diferente. Porém, teoricamente, todos eles
lutam pela definição mais legitima de uma “boa ação” ou da “ação correta”.
O conceito de moral e ética, embora sejam diferentes, são frequentemente
utilizados como sinônimos, aliás, a etimologia dos termos é semelhante 1. Todavia, é
mister, que se estabeleça diferenças entre ambos os termos. Moral é, segundo o
argumento de Aranha (et al., 2000, p. 301) “[...] é o conjunto de regras de conduta
admitidas em determinada época por determinado grupo de pessoas”, e por sua vez,
para o mesmo autor, a ética (ou filosofia moral) é “[...] a parte da filosofia moral que se
ocupa com a reflexão a respeito de noções e princípios que fundamentam a vida moral”.
ÉTICA: Teoria ou ciência cujo objeto de estudo é a moralidade humana, ou
seja, o comportamento moral humano, com vistas ao aperfeiçoamento de tal
comportamento.
MORAL: Conjunto de valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao
proibido válidos para determinado grupo social em determinado espaço e tempo. A
moral, desta forma, é o objeto de estudo da ética.
Nesta perspectiva, ética seria a teoria, a investigação ou até mesmo a explicação
de uma experiência humana ou de uma forma de comportamento. Nas palavras de
Vásquez (2012, p. 23), ética é “[...] a teoria ou ciência do comportamento moral dos
homens em sociedade”. A ética procura estudar, investigar o comportamento humano
através de uma abordagem científica, e o faz através de seu objeto que é a moral.
Não se deve, pois confundir a ciência com seu objeto, no caso, não se deve
confundir a ética com a moral. O conhecimento moral é científico e investigado pela
ética; todavia a moral não é científica, é sim objeto da ciência.
Ainda, segundo o argumento de Vásquez (2012, p. 25):
1
Moral vem do latim moris ou mors, que significa costume ou a maneira de se comportar de acordo como
os usos. E, por sua vez, ética vem do grego ethos, que possui o mesmo significado de costume.
Um código moral, ou sistema de normas, não é ciência, mas pode ser
explicado cientificamente [...] a moral não é científica, mas suas
origens, fundamentos e evoluções podem ser investigados
racionalmente e objetivamente; isto é, do ponto de vista da ciência.
Pode-se compreender, portanto, diante seu caráter científico, que a ética é, como
reflexão, teoria, atemporal, ou como alguns sustentam universal. Todavia,
diferentemente da ética, a moral sofre os influxos do tempo, do espaço, da história e das
culturas. A moral é um fato histórico e, portanto cultural. Por isso, pode-se falar em
moral antiga, moral medieval, moral moderna e até mesmo pós-moderna. A ética, como
ciência, tem que considera-la como um aspecto da realidade humana, portanto, mutável.
Vásquez (2012) considera que a moral é histórica precisamente porque é um
modo de se comportar do ser humano, que por natureza, é histórico; um ser que tem por
característica,
estar-se
fazendo
constantemente,
tanto
materialmente,
como
imaterialmente, neste plano, inclui-se a moral, pois de acordo com Merleau-Ponty,
(2006, p. 236): “O homem é uma ideia histórica”.
Alguns conceitos relacionados à ética e a moral:
1.Senso Moral: é a maneira como avaliamos nossa situação e de nossos semelhantes
segundo ideias como bem e mal; justiça e injustiça.
2.Consciência Moral: é a propriedade do espírito humano de projetar juízos
normativos, espontâneos e imediatos sobre o valor moral de certos atos individuais
determinados, ou seja, a consciência moral é a propriedade do espírito (imaterial) de
distinguir o bem e o mal que gera a capacidade de deliberar diante alternativas
possíveis, avaliando (senso moral) cada uma delas antes de agir.
3. Agente moral: sujeito moral ou pessoa moral. É o ser consciente de si e dos outros;
pessoa capaz de refletir e de reconhecer a existência das outras pessoas como sujeito
ético igual a si. Portanto, o sujeito moral deve possuir três características, a saber:
i) ser dotado de vontade:
- capacidade para orientar e controlar impulsos e paixões para se conformar com as
normas comportamentais vigentes;
- capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis.
ii) ser responsável:
- reconhecer-se como autor da ação e avaliar os efeitos e as consequências de seus atos e
assumi-los.
iii) ser livre:
- ter o poder de autodeterminar-se e ser capaz de se limitar e impor regras a sua própria
conduta.
● O caráter sócio histórico da moral
A moral é histórica por ser um modo de comportamento da pessoa humana com
base em valores e princípios. Todavia, há teorias que negam à moral sua historicidade,
uns por afirmar que a origem da moral seria proveniente de Deus, outros por afirmar
que a moral deriva da natureza, compreendendo que a moral seria senão um aspecto da
conduta natural, biológica. E a última seria a que afirma que a moral decorre da
natureza humana, a humanidade compreendida como “[...] essência eterna e imutável
inerente a todos os indivíduos”, nas palavras de Vásquez (2012, p. 38).
No primeiro caso, a moral seria encontrada fora da pessoa humana, num ser que
transcende; no segundo, no mundo natural, que existe independentemente,
originariamente, da vontade do homem; no último caso, a moral teria sua gênese na
humanidade, mas na pessoa humana abstrata, situado fora da sociedade e das culturas.
A teoria culturalista da moral se apoia na ideia que o comportamento moral
existe desde que existe a pessoa humana como tal, desde as sociedades mais primitivas
e este comportamento se modifica, pois os princípios e as normas que norteiam tais
comportamentos se modificam com o tempo.
É o que provam a substituição de certos princípios e de certas normas
por outras, de certos valores morais ou de certas virtudes por outras, a
modificação do conteúdo das mesmas virtudes através do tempo.
(VÁSQUEZ, 2012, p. 39).
A moral não surgiu do nada, surgiu do homem, quando este superou sua
natureza puramente instintiva e constrói um modo de ser, ou, uma natureza social,
quando se faz membro de uma coletividade e se reconhece também através desta.
A convivência social fez necessário pensar as possibilidades de comportamento;
do comportamento dos indivíduos entre si e destes com a comunidade; a consciência da
sobrevivência através da coletividade faz surgir uma série de normas cuja obediência
beneficia a coletividade, cujo indivíduo é parte, e desta forma, “[...] nasce a moral com a
finalidade de assegurar a concordância do comportamento de cada um com os interesses
coletivos”. (VÁSQUEZ, 2012, p. 40).
A partir dessa perspectiva, a necessidade de ajustar o comportamento individual
aos interesses coletivos leva a que se considere como BOM tudo aquilo que contribui
para fortalecer a união coletiva, ao contrário, o MAU, é tudo o que fragiliza essa união.
É estabelecida assim uma linha divisória entre o bom e o mau.
● Função social da moral
A função social da moral consiste na regulação das relações entre os indivíduos
e entre estes e a sociedade, no sentido de manter e garantir a ordem e a coesão da
sociedade, portanto, a moral também é um instrumento de controle social. A moral
cumpre seu papel social por vias diferentes das vias utilizadas, por exemplo, pelo
Direito. A moral se sustenta e justifica pela aceitação intrínseca, íntima e livre das
pessoas, pois, ainda que a moral mude historicamente, a função social da moral em seu
conjunto, é a mesma: regular as condutas individuais em suas relações mútuas e as
relações dos indivíduos com a sociedade para preservar a integridade social.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de A. et al. Filosofando – introdução á filosofia. 2. ed. São
Paulo: Moderna, 1993.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Trad. Carlos Alberto R.
Moura. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 24. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2002.
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