Santiago de Chile, Julio 2008-07-01

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Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI
ISSN 1809-1636
O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA
The School Inclusion Process: relat of the a experiency
Naires de Cássia Nunes MORAES1
Elaine Maria Dias de OLIVEIRA2
RESUMO
O presente artigo é oriundo do projeto de extensão "O Processo de Inclusão Escolar: Um Enfoque
Multidisciplinar", cujo propósito é acompanhar e prestar atendimento pedagógico a alunos carentes
da rede municipal de ensino de Santiago, que apresentam necessidades especiais e/ou dificuldade de
aprendizagem. Considerando os desafios da proposta, percebemos a necessidade de formação
teórico prática dos educadores envolvidos com a causa inclusiva; pois, para que essa tarefa seja
realizada faz-se necessário que os participantes desse processo tenham acesso ao conhecimento nele
mobilizado. Diante desse pressuposto, ressaltamos a importância da reflexão sobre essa dinâmica,
com o intuito de aperfeiçoar o trabalho pelo processo de ação/reflexão/ação. No decorrer da 7ª
edição do projeto, encontramos dificuldades quanto a participação dos acadêmicos devido ao
ingresso em semestres mais avançados de seus cursos, envolvimento com estágios e a busca de
espaço no mercado de trabalho. Tendo em vista esses acontecimentos, dinamizamos um trabalho
em duas escolas do Sistema Municipal de Ensino. As atividades realizadas constaram de
atendimentos que foram organizados em pequenos grupos, levando em conta a faixa etária da
criança, a série cursada e o nível de desenvolvimento cognitivo da mesma; de sessões de
planejamento quinzenais e sessões de estudos mensais com acadêmicos e professores participantes
do projeto. Estas foram significativas, pois os participantes demonstraram satisfação com a
oportunidade de crescimento profissional e pessoal. Podemos crer que as relações estabelecidas no
processo inclusivo, em questão, são de grande valia, uma vez que elas sustentam o sonho de que a
inclusão é possível.
Palavras-chave: Processo Inclusivo; Dificuldades de Aprendizagem; Formação do Educador.
ABSTRACT
The present article is proceeding from the extension project "The School Inclusion Process: a
multidisciplinary focus" whose purpose is to accompany and to afford pedagogic attendance for
lacking students of the municipal net teaching of Santiago that shows special necessities and/ or
learning difficulties. Considering the challenges of the purpose, we notice the necessity of theory
practice formation of the educators involved with the inclusive cause, besides, to have this task
realized, it is necessary that all participants of this process have access to the knowledge on it
mobilized. In front of the presupposition, we pointed out the importance of the reflection about this
dynamic with the objective of improving the work by the process of action – reflection – action.
Passing by the seventh edition of the project, we found difficulties with the academic participation
due to the entrance in more advanced semesters of their courses, involving trainees and the search
for a space in the work market. Observing these happenings, we realized a work in two schools of
the Municipal System of Teaching. The realized activities were attendances which were organized
Acadêmica do Curso de Matemática da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões – URI/Campus
de Santiago e bolsista do Projeto de Extensão "O Processo de Inclusão Escolar: Um Enfoque Multidisciplinar";
[email protected].
2
Professora Mestra do Curso de Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões –
URI/Campus de Santiago e Orientadora do Projeto de Extensão "O Processo de Inclusão Escolar: Um Enfoque
Multidisciplinar"; [email protected].
1
Vivências. Vol.5, N.7: p.63-67, Maio/2009
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in small groups taking into consideration the children’s age, their series, and their cognitive
development level; of planning sections biweekly and studying sections monthly with academic and
teachers which were participants of the project. These were significant, because the participants
showed satisfaction with the professional and personal improving opportunity. We can believe that
the established relationships in the inclusive process, in questions, are of great worth, once they
sustain the dream that the inclusion is possible.
Key words: Inclusive Process; Learning Difficulties; Educator’s Formation.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo é resultado do projeto de extensão "O Processo de Inclusão Escolar: Um
Enfoque Multidisciplinar", oriundo do Curso de Pedagogia da URI Santiago em sua sétima edição.
Ele nos permitiu perceber que, nos dias de hoje, fazer Educação tem se tornado um desafio cada vez
maior. Quando se trata de fazer Educação Inclusiva, a situação se torna muito mais complexa, pois
além dos sujeitos que apresentam tais características, precisamos lidar com a resistência e o
preconceito de muitos, inclusive de alguns educadores. Contudo, sempre encontramos pessoas
dispostas a mudar, a fazer a diferença no ambiente escolar. Pensando nestas pessoas, nos propomos
a oferecer espaços de discussão e prática dos diferentes referenciais teóricos concernentes a
Educação Inclusiva, através do referido Projeto.
A partir dessa proposta, esperamos quebrar alguns tabus que cercam a Educação como um
todo. Sabemos que cada um tem suas próprias características e que estas devem ser levadas em
conta quando planejamos ensinar. Nosso maior desafio tem sido promover ações que levem os(as)
professores(as) a se conscientizarem de que:
As desigualdades são benéficas porque revelam as marcas de novos possíveis de
nossa espécie. Elas nos livram da uniformidade e conferem aos seres humanos uma
peculiaridade que nos distingue interna e externamente e de outros seres, por mais
que eles se aproximem de todos nós, nas escolas biológicas de comparação.
(MANTOAN, 2006, p. 77).
E, que nós, que somos ou pretendemos ser educadores, não somos dotados do direito de julgar
ou penalizar os demais por suas características individuais; mas, que as desigualdades sociais, que
também devem ser consideradas no processo de ensino-aprendizagem, são perfeitamente mutáveis,
conforme escreve Mantoan:
Escapam-nos, como membros dessa espécie, as condições de julgar moralmente as
desigualdades naturais, dado que elas são produzidas pelo agir da natureza, diante de
uma inusitada composição de fatores intervenientes da criação, que ainda
pretendemos controlar (não estamos sendo clonados, por enquanto). Já as
desigualdades sociais são produzidas e decorrentes de fatores que envolvem
diretamente o controle e a interferência humana e, portanto, possíveis de serem
moralmente consideradas. (MANTOAN, 2006, p. 77).
Tomando por referencia autores(as) como Mantoan e entendendo que as desigualdades devem
ser consideradas pelos educadores, adotamos, no desenvolvimento do Projeto de Inclusão Escolar,
por nós desenvolvido, uma metodologia baseada no processo de ação/reflexão/ação. Através desse
processo metodológico planejamos as atividades juntamente com os(as) acadêmicos(as), e as
realizamos nas escolas durante os atendimentos pedagógicos, que são organizados em turmas com
no máximo oito alunos, considerando suas necessidades e nível de desenvolvimento cognitivo. E,
por fim, discutimos novas possibilidades com os(as) professores(as) e acadêmicos(as) durante as
sessões de estudos. A partir de atividades educativas baseadas em metodologias ativas esperamos,
além de efetivar a inclusão das pessoas que apresentam necessidades especiais (PNEE), suprir as
dificuldades de aprendizagem dos(as) alunos(as) contemplados(as) pelo referido projeto; sejam elas
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provenientes de deficiências físicas, mentais, de desajustes de cunho afetivo/emocional e, ainda, dos
problemas de socialização e de convívio com os demais. Pois, percebemos, que no sistema
educacional de ensino do nosso município, a maior demanda é de crianças com dificuldades de
aprendizagem procedentes de problemas familiares e sociais, que se manifestam em qualquer fase
da vida escolar dos educandos. Estas, muitas vezes, são rotuladas como alunos(as)
problemáticos(as) e acabam sendo expostos(as) ao preconceito e à discriminação no ambiente
escolar. Para evitar situações como esta e preparar os(as) acadêmicos(as) para enfrentá-las,
apostamos no contado direto dos(as) mesmos(as) com a realidade e dos(as) professores(as),
responsáveis pelas turmas de onde provem as crianças a serem atendidas, com as teorias que
norteiam a prática inclusiva, independente da causa da necessidade de inclusão. Com isso,
esperamos alcançar nossos objetivos que são: estabelecer uma conexão entre a teoria e a prática
através dos atendimentos pedagógicos; proporcionar aos(as) acadêmicos(as) dos diferentes cursos
de licenciatura um espaço para aquisição de experiência e crescimento com relação às práticas
inclusivas em sala de aula; e instrumentalizar acadêmicos(as) e professores(as) para a efetivação do
processo inclusivo.
Percebemos que nossos objetivos contagiaram a todos que integraram nosso grupo de
trabalho, dede os oito acadêmicos(as) voluntários(as) no projeto aos professores e gestores das
escolas contempladas pelo mesmo.
AÇÕES E RESULTADOS
Os processos relacionados à Educação Inclusiva são elementos indispensáveis ao nosso tempo
e, portanto, exigem conhecimento, vontade, dedicação e empenho de todos, sejam pais, professores
e/ou sociedade civil. Estes aspectos são condições básicas para que tais processos possam alcançar
resultados concretos. Felizmente nesta etapa de nosso trabalho pudemos contar com um grupo de
acadêmicos(as) voluntários(as) bastante comprometidos(as) com a causa inclusiva e que não
mediram esforços para dar conta de suas responsabilidades. Apesar de muitos(as) exercerem
atividades em turno integral, sempre se dispuseram a participarem das sessões de planejamento,
atendimentos pedagógicos, sessões de estudos e reuniões paralelas que se fizeram necessárias no
decorrer dos trabalhos. Tal dedicação trouxe excelentes resultados, principalmente entre os(as)
alunos(as) atendidos pelos(as) mesmos(as), pois pudemos presenciar a bela relação de amizade
estabelecida entre acadêmicos(as) e o grupo de crianças, o que só vem contribuir para o sucesso das
atividades desenvolvidas. Além disso, o esforço dos(as) voluntários(as) contribuiu
significativamente em seus processos formativos, pois não há nada como a prática para a aquisição
de experiência e o preparo para o trabalho em sala de aula, que, sabemos, não é fácil, já que as
escolas contam, cada vez mais, em seu interior, com a diversidade cultural.
Quanto às escolas, 2 das 3 contempladas nessa etapa pelo referido projeto, não demonstraram
nenhum tipo de resistência ou problemas de adaptação à metodologia de trabalho, enquanto uma
mostrou forte resistência com relação aos métodos adotados, pois a referida escola esperava que o
grupo atendesse as dificuldades de aprendizagem geral dos(as) alunos(as). E nossa proposta
buscava efetivar a Inclusão Escolar daqueles que apresentavam Necessidades Educacionais
Especiais. Com relação a estes sujeitos, cabe ressaltar a enorme satisfação que temos em presenciar
o crescimento escolar de cada um, sendo que a maioria superou suas dificuldades e avançaram para
o próximo ano. Percebemos que muitos(as) alunos(as) que foram atendidos(as) na etapa anterior do
referido projeto, não apresentaram necessidade de receberem atendimento neste período, o que nos
leva a crer que suas dificuldades foram superadas e não voltaram a se manifestar. Além desse fato,
presenciamos discursos bastante significativos de professores(as) e acadêmicos(as), onde se
mostraram contentes com a oportunidade de manterem contato com referenciais teóricos e de
efetivação de alguma prática baseada nestes referenciais.
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Cabe também ressaltar que os problemas de socialização dos(as) alunos(as) foram
significativamente melhorados. Contudo, observamos que durante os atendimentos pedagógicos
esses problemas foram plenamente superados, mas em outros ambientes da escola eles voltaram a
se apresentar. Não sabemos por que isso ocorre, mas pretendemos aprofundar essa questão. Temos
algumas hipóteses, como a de que os problemas de convívio com os demais sejam causados pela
interferência de outros sujeitos. Resta-nos fortalecer a auto-estima daqueles que são prejudicados e
fazer com que possam conviver com as diferenças sem maiores problemas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A efetivação de uma Educação de qualidade tem se tornado cada vez mais complexa.
Observando os anos finais do Ensino Fundamental, percebemos que os níveis de repetência tendem
a aumentar e o mesmo acontece no Ensino Médio. Mas, porque isso ocorre? Tentando responder a
esta questão, apostamos na melhoria do atendimento escolar nas primeiras séries da jornada escolar
dos(as) alunos(as). Pois sabemos que possíveis traumas ou falhas nos anos iniciais podem provocar
reflexos negativos no decorrer do processo de escolarização dos sujeitos.
Para evitar tais falhas, investimos em atividades que fortaleçam o processo de
ação/reflexão/ação, o que, por sua vez, favorece a construção da aprendizagem verdadeiramente
significativa para a vida escolar e social dos aprendizes. Isto por que acreditamos que os fatores
externos influenciam diretamente o comportamento dos(as) alunos(as) em sala de aula,
principalmente os de cunho familiar e social. A partir daí, verificamos que nosso trabalho vai além
de atividades multidisciplinares; contempla também aspectos sociais, éticos e afetivos que
compõem o sujeito cidadão e participativo. Pois, quando o(a) professor(a) realmente reflete sobre a
sua prática, acaba percebendo que os fatores físicos, emocionais e sociais apresentam-se em sala de
aula e devem ser levados em conta para que se efetive a aprendizagem. Isso nos indica o verdadeiro
objetivo da Educação, que é atender as necessidades formativas dos(as) alunos(as), quaisquer que
sejam e em qualquer época da caminhada escolar dos mesmos.
Além disso, temos consciência que nossos(as) acadêmicos(as), enquanto alunos(as), também
apresentam necessidades especiais no seu processo de formação. Detectá-las não é uma tarefa fácil.
Por isso, partimos do princípio de que oferecer oportunidades de contato direto com a prática
educativa é uma excelente contribuição para qualquer pessoa que pretende se tornar um(a)
educador(a) inclusivo, isto é, um(a) verdadeiro(a) Educador(a). Então, oportunizar a estes sujeitos
atividades que aliem teoria e prática é um dever daqueles que pretendem formar profissionais
comprometidos com a aprendizagem e o crescimento de seus alunos(as). Mas, seria justo não dar
essa oportunidade aqueles que já trabalham em sala de aula? Cremos que não. Então, levando em
consideração todos os aspectos que influenciam a aprendizagem dos(as) alunos(as) atendidos,
buscamos contribuir da melhor forma possível para a formação continuada de seus(as)
professores(as), para que eles(as) possam direcionar melhor seu trabalho, na busca do pleno
desenvolvimento dos educandos. Acreditamos que a prática proposta e desenvolvida, através do
projeto em foco, vem contribuindo significativamente com a formação inicial dos(as)
acadêmicos(as) voluntários(as) dos cursos de licenciaturas da URI - Campus de Santiago, bem
como, com a formação continuada dos educadores que atuam na rede municipal de ensino, além de
atender diretamente às crianças indicadas pelas escolas como em situação de possível fracasso em
suas atividades escolares, com vistas a minimizar essas possibilidades. Assim, as atividades
desenvolvidas pelo projeto podem ser consideradas significativas, uma vez que os participantes
demonstraram satisfação com a oportunidade de crescimento profissional e pessoal e a maiorias das
crianças atendidas obtiveram sucesso escolar nesse período letivo. Em suma, aprendemos e cremos
que as relações estabelecidas no processo inclusivo em questão são de grande valia, uma vez que
elas sustentam o sonho de que a inclusão é possível.
Moraes, N.; Oliveira, E.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, R. E. Removendo Barreiras para a Aprendizagem. Porto Alegre: Mediação, 2000.
MACHADO, A. M. Crianças de Classe Especial. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
MANTOAN, Maria Tereza. Inclusão Escolar: O que é? Como fazer? Porque fazer? São Paulo:
Moderna, 2003.
MAZZOTA, M. J. da S. Trabalho docente e formação de professores de Educação.
STAINBAK, S & STAINBACK. Inclusão: Um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Recebido em abril de 2009 e aprovado em maio de 2009.
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