4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA 2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO DELEUZE: REPRESENTAÇÃO E DIFERENÇA Angelo José Sangiovanni 23 Colegiado de Licenciatura em Teatro Faculdade de Artes do Paraná. Curitiba, PR. Área: Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes. Subáreas: Filosofia e Artes. PALAVRAS-CHAVE: Criação, Intercessões, Estética. RESUMO O trabalho parte da análise de alguns pressupostos do pensamento de Deleuze: primeiramente, estudaremos a critica do autor em relação à tradição filosófica. Deleuze parte do pressuposto que a tarefa da filosofia é a de criação de conceitos, e não mais o pensar como julgar, portanto, a modernidade surge da falência da representação. A pretensão do trabalho de pesquisa é aproximar e criar uma interseção entre as áreas de artes e filosofia. Para isso, o estudo da visão deleuziana possibilita um caminho para a abordagem e aproximação entre estas áreas, não é a pretensão submeter ou reduzir as artes a uma concepção filosófica. O objetivo é, a partir da diferença entre a filosofia e as artes, construir caminhos que possibilitem pensar a arte e criar conceitos a partir do seu fazer. Conceitos que não necessariamente regem o fazer da arte e sim fazem parte da criação filosófica. INTRODUÇÃO A abordagem tradicional da filosofia tem como a representação o fundamento do pensamento, a dicotomia entre o pensamento e o sentimento desde Platão até Kant é centrada na busca de critérios de 23 E-mail: [email protected]. 83 4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA 2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO verdade que evitam a subjetividade e a falta de critérios de valoração e julgamento. Platão é o exemplo da dicotomia entre a razão e os sentimentos. A razão nos leva ao que é a essência, enquanto os sentimentos nos afastam em direção a ilusão a partir da mimesis. Deleuze seguindo autores que não se enquadraram no modelo tradicional da representação busca uma alternativa ao modelo de conhecimento que tem como pressuposto a representação. Na obra Diferença e repetição Deleuze continua a crítica inaugurada por Nietzsche, que rompe com o pensamento dualístico começado por Platão, e propõe e defende novos meios de expressão filosófica relacionadas com as artes: pintura, literatura, cinema e teatro. 84 O ato de criação é o ponto de partida para buscar a gênese do pensar não mais na identidade e na representação, e sim no estudo dos procedimentos de outras áreas como a literatura e as artes. A partir do ato de criação é que Deleuze pretende tratar da questão da filosofia - “A filosofia não tem aí nenhum pseudoprimado de reflexão, e por conseguinte nenhuma inferioridade de criação. Criar conceitos não é menos difícil que criar combinações visuais, sonoras, ou criar funções científicas” (DELEUZE, 2008, p. 156). A filosofia em grande parte da sua história buscou critérios de verdade que condenavam ou excluíam o ato de criação. A verdade na tradição filosófica é considerada como transcendente ligada a um critério de justificação universal. Deleuze busca o diferente e o imanente e rompe com a visão de que a filosofia é reflexiva e modelo de explicação, o que existe são intercessões entre, por exemplo, a filosofia e a arte. A filosofia cria conceitos a partir da diferença que a arte apresenta a filosofia. Neste sentido, ao comparar a Filosofia, à Ciência e à Arte Deleuze conclui: O que é preciso ver é que as interferências entre linhas não dependem da vigilância ou da reflexão 4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA 2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO mútua. Uma disciplina que se desse por missão seguir um movimento criador vindo de outro lugar abandonaria ela mesma todo papel criador. O importante nunca foi acompanhar o papel do vizinho, mas fazer seu próprio movimento. Se ninguém começa, ninguém se mexe. As interferências também não são trocas: tudo acontece por dom ou captura. (156) CRÍTICA Na tradição filosófica, no modelo da representação, o pensamento submete as categorias formais que classificam o que é apresentado como particular, por exemplo, na obra Meditações Descartes procurou estabelecer os fundamentos do conhecimento descartando tudo que o levava a dúvida, procurou as primeiras certezas que deveriam ser claras e indubitáveis. Neste caso a primeira certeza é o cogito, eu penso logo existo, que exprime a unidade de todas as faculdades no sujeito. O ponto é que para Deleuze: O pensamento é suposto como naturalmente reto, porque ele não é uma faculdade como as outras, mas, referido a um sujeito, é a unidade de todas as outras faculdades que são apenas seus modos e que ele orienta sob a forma do Mesmo no modelo da recognição. O modelo da recognição está necessariamente compreendido na imagem do pensamento. (2006, p.195-196). Para Deleuze a Filosofia conserva a doxa na imagem do pensamento elevando-a a nível racional, inviabilizando o próprio projeto da filosofia de romper com a doxa (2006, p.196). O pensamento necessita romper com a recognição e criar uma nova forma de pensar não submetida à representação. Esta nova forma de pensar parte da diferença, o não estabelecido pela imagem da razão. 85 4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA 2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO Para Deleuze (2006, p.203) o pensamento não pode fundar o que ele pensa, mas sim ser forçado a pensar para estabelecer a necessidade do ato de pensar. Para isso a imagem de um pensamento que pressupõe a si próprio é destruída. É na diferença que ocorre o pensamento, ou seja, na relação exterior não hegemônica é que são criadas as condições do pensar. Por exemplo: o filósofo ao criar conceitos os cria não a partir da reflexão e sim da diferença que outra área impõe ao seu pensar. Assim a filosofia não teoriza sobre a ciência e a arte, ela cria conceitos a partir das intercessões com o que lhe é diferente. CONCLUSÃO 86 Portanto, para Deleuze, o pensamento acontece de diferentes maneiras partindo da filosofia, da arte ou ciência. E o papel do filósofo é o de criador de conceitos e não mais o da reflexão e da identidade dentro das categorias da representação. Deleuze agrupa os filósofos em dois segmentos, de um lado os que estão em maior ou menor grau inseridos na tradição da representação, tais como Platão, Aristóteles, Descartes, Kant. E do outro, os filósofos que de certa maneira estão afastados e próximos da diferença, tais como, Espinoza, Leibniz, Nietzsche, Bergson, Foucaut. Dentre os quais, Nietzsche é o filósofo que rompe com a tradição e a acusa de niilista: a razão criada nas moldes de Sócrates e Platão é vista como a negação da vida. Todavia, Deleuze não compartilha desta posição nietzscheana “sua geografia do pensamento agrupa os filósofos em espaços antagônicos tomando como critério geral a problemática da representação e da diferença”. (MACHADO, 2009, p. 35). Assim, Deleuze olha a tradição a partir da noção da diferença escolhendo a disjunção e um pensamento que opta pela divergência, na tentativa de responder a questão do que é o pensar. REFERÊNCIAS 4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA 2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO DELEUZE. G. Diferença e Repetição. Rio de Janeiro: Graal, 2006. ________ Conversações. São Paulo: Editora 34 Ltda, 2008. HADDOCK-LOBO, R. Os filósofos e a arte. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. MACHADO, R. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. NIETZSCHE, F. O Nascimento da tragédia ou Helenismo e Pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. LINS, Daniel, e Pelbart, Peter Pál, (Orgs.). Nietzsche e Deleuze – Bárbaros, civilizados. São Paulo: Annablume, 2004. 87