deleuze: representação e diferença

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4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA
2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO
DELEUZE: REPRESENTAÇÃO E DIFERENÇA
Angelo José Sangiovanni
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Colegiado de Licenciatura em Teatro
Faculdade de Artes do Paraná. Curitiba, PR.
Área: Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes.
Subáreas: Filosofia e Artes.
PALAVRAS-CHAVE: Criação, Intercessões, Estética.
RESUMO
O trabalho parte da análise de alguns pressupostos do
pensamento de Deleuze: primeiramente, estudaremos a critica do autor
em relação à tradição filosófica. Deleuze parte do pressuposto que a
tarefa da filosofia é a de criação de conceitos, e não mais o pensar como
julgar, portanto, a modernidade surge da falência da representação. A
pretensão do trabalho de pesquisa é aproximar e criar uma interseção
entre as áreas de artes e filosofia. Para isso, o estudo da visão
deleuziana possibilita um caminho para a abordagem e aproximação
entre estas áreas, não é a pretensão submeter ou reduzir as artes a uma
concepção filosófica. O objetivo é, a partir da diferença entre a filosofia
e as artes, construir caminhos que possibilitem pensar a arte e criar
conceitos a partir do seu fazer. Conceitos que não necessariamente
regem o fazer da arte e sim fazem parte da criação filosófica.
INTRODUÇÃO
A abordagem tradicional da filosofia tem como a representação
o fundamento do pensamento, a dicotomia entre o pensamento e o
sentimento desde Platão até Kant é centrada na busca de critérios de
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verdade que evitam a subjetividade e a falta de critérios de valoração e
julgamento. Platão é o exemplo da dicotomia entre a razão e os
sentimentos. A razão nos leva ao que é a essência, enquanto os
sentimentos nos afastam em direção a ilusão a partir da mimesis.
Deleuze seguindo autores que não se enquadraram no modelo
tradicional da representação busca uma alternativa ao modelo de
conhecimento que tem como pressuposto a representação. Na obra
Diferença e repetição Deleuze continua a crítica inaugurada por
Nietzsche, que rompe com o pensamento dualístico começado por
Platão, e propõe e defende novos meios de expressão filosófica
relacionadas com as artes: pintura, literatura, cinema e teatro.
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O ato de criação é o ponto de partida para buscar a gênese do
pensar não mais na identidade e na representação, e sim no estudo dos
procedimentos de outras áreas como a literatura e as artes. A partir do
ato de criação é que Deleuze pretende tratar da questão da filosofia - “A
filosofia não tem aí nenhum pseudoprimado de reflexão, e por
conseguinte nenhuma inferioridade de criação. Criar conceitos não é
menos difícil que criar combinações visuais, sonoras, ou criar funções
científicas” (DELEUZE, 2008, p. 156).
A filosofia em grande parte da sua história buscou critérios de
verdade que condenavam ou excluíam o ato de criação. A verdade na
tradição filosófica é considerada como transcendente ligada a um
critério de justificação universal. Deleuze busca o diferente e o
imanente e rompe com a visão de que a filosofia é reflexiva e modelo de
explicação, o que existe são intercessões entre, por exemplo, a filosofia
e a arte. A filosofia cria conceitos a partir da diferença que a arte
apresenta a filosofia. Neste sentido, ao comparar a Filosofia, à Ciência e
à Arte Deleuze conclui:
O que é preciso ver é que as interferências entre
linhas não dependem da vigilância ou da reflexão
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mútua. Uma disciplina que se desse por missão
seguir um movimento criador vindo de outro lugar
abandonaria ela mesma todo papel criador. O
importante nunca foi acompanhar o papel do
vizinho, mas fazer seu próprio movimento. Se
ninguém começa, ninguém se mexe. As
interferências também não são trocas: tudo
acontece por dom ou captura. (156)
CRÍTICA
Na tradição filosófica, no modelo da representação, o
pensamento submete as categorias formais que classificam o que é
apresentado como particular, por exemplo, na obra Meditações
Descartes procurou estabelecer os fundamentos do conhecimento
descartando tudo que o levava a dúvida, procurou as primeiras certezas
que deveriam ser claras e indubitáveis. Neste caso a primeira certeza é
o cogito, eu penso logo existo, que exprime a unidade de todas as
faculdades no sujeito. O ponto é que para Deleuze:
O pensamento é suposto como naturalmente reto,
porque ele não é uma faculdade como as outras,
mas, referido a um sujeito, é a unidade de todas as
outras faculdades que são apenas seus modos e que
ele orienta sob a forma do Mesmo no modelo da
recognição. O modelo da recognição está
necessariamente compreendido na imagem do
pensamento. (2006, p.195-196).
Para Deleuze a Filosofia conserva a doxa na imagem do
pensamento elevando-a a nível racional, inviabilizando o próprio projeto
da filosofia de romper com a doxa (2006, p.196). O pensamento
necessita romper com a recognição e criar uma nova forma de pensar
não submetida à representação. Esta nova forma de pensar parte da
diferença, o não estabelecido pela imagem da razão.
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Para Deleuze (2006, p.203) o pensamento não pode fundar o
que ele pensa, mas sim ser forçado a pensar para estabelecer a
necessidade do ato de pensar. Para isso a imagem de um pensamento
que pressupõe a si próprio é destruída. É na diferença que ocorre o
pensamento, ou seja, na relação exterior não hegemônica é que são
criadas as condições do pensar. Por exemplo: o filósofo ao criar
conceitos os cria não a partir da reflexão e sim da diferença que outra
área impõe ao seu pensar. Assim a filosofia não teoriza sobre a ciência e
a arte, ela cria conceitos a partir das intercessões com o que lhe é
diferente.
CONCLUSÃO
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Portanto, para Deleuze, o pensamento acontece de diferentes
maneiras partindo da filosofia, da arte ou ciência. E o papel do filósofo é
o de criador de conceitos e não mais o da reflexão e da identidade
dentro das categorias da representação. Deleuze agrupa os filósofos em
dois segmentos, de um lado os que estão em maior ou menor grau
inseridos na tradição da representação, tais como Platão, Aristóteles,
Descartes, Kant. E do outro, os filósofos que de certa maneira estão
afastados e próximos da diferença, tais como, Espinoza, Leibniz,
Nietzsche, Bergson, Foucaut. Dentre os quais, Nietzsche é o filósofo que
rompe com a tradição e a acusa de niilista: a razão criada nas moldes de
Sócrates e Platão é vista como a negação da vida. Todavia, Deleuze não
compartilha desta posição nietzscheana “sua geografia do pensamento
agrupa os filósofos em espaços antagônicos tomando como critério geral
a problemática da representação e da diferença”. (MACHADO, 2009, p.
35). Assim, Deleuze olha a tradição a partir da noção da diferença
escolhendo a disjunção e um pensamento que opta pela divergência, na
tentativa de responder a questão do que é o pensar.
REFERÊNCIAS
4º Encontro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Artes – GIPA
2º Encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação Oitocentista – GEPHEO
DELEUZE. G. Diferença e Repetição. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
________ Conversações. São Paulo: Editora 34 Ltda, 2008.
HADDOCK-LOBO, R. Os filósofos e a arte. Rio de Janeiro: Rocco,
2010.
MACHADO, R. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2009.
NIETZSCHE, F. O Nascimento da tragédia ou Helenismo e
Pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
LINS, Daniel, e Pelbart, Peter Pál, (Orgs.). Nietzsche e Deleuze –
Bárbaros, civilizados. São Paulo: Annablume, 2004.
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