PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM AGRONOMIIA ADUBAÇÃO BORATADA NA CULTURA DO ARROZ EM SOLOS DE CERRADO DE BAIXA FERTILIDADE IASSANÃ FRANCISCO DA SILVA Presidente Prudente – SP 2011 PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM AGRONOMIIA ADUBAÇÃO BORATADA NA CULTURA DO ARROZ EM SOLOS DE CERRADO DE BAIXA FERTILIDADE IASSANÃ FRANCISCO DA SILVA Dissertação apresentada a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade do Oeste Paulista, como parte dos requisitos obtenção do título de Mestre em Agronomia Área de Concentração: Fertilidade do Solo Orientador: Carlos Sérgio Tiritan Presidente Prudente – SP 2011 FICHA CATALOGRÁFICA 633.181 S586a Silva, Iassanã Francisco. Adubação boratada na cultura do arroz em solos de cerrado de baixa fertilidade / Iassanã Francisco da Silva. – Presidente Prudente, 2010. 39 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE: Presidente Prudente – SP, 2011. Bibliografia 1. Oryza sativa. 2. Arroz -- Cultivo. 3. Solo fertilidade. I. Título. IASSANÃ FRANCISCO DA SILVA ADUBAÇÃO BORATADA NA CULTURA DO ARROZ EM SOLOS DE CERRADO DE BAIXA FERTILIDADE Dissertação apresentada a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade do Oeste Paulista, como parte dos requisitos obtenção do título de Mestre em Agronomia Presidente Prudente, 25 de Janeiro 2011. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Carlos Sérgio Tiritan Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Presidente Prudente – Orientador ________________________________________ Prof. Dr. José Eduardo Creste Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Presidente Prudente/SP ________________________________________ Dr. José Salvador Simoneti Foloni Embrapa Soja Londrina/PR DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu pai Livo Francisco da Silva e minha mãe Maria Orli Grossi da Silva, e aos meus irmãos e amigos que nos momentos mais difíceis me apoiaram e incentivaram a nunca desistir perante as dificuldades. Dedico também ao meu avô Jorge Francisco da Silva e minha avó Ida Ella Pseiser da Silva que se encontra hoje lá no céu ao lado de Deus. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus. Aos meus pais Livo Francisco da Silva e Maria Orli Grossi da Silva, a meus irmãos que sempre me motivaram a não desistir nos percalços que tive durante o curso. Ao professor orientador, Dr. Carlos Sérgio Tiritan que, apoiou e deu toda atenção necessária para a realização do trabalho. Agradeço também aos companheiros Alexandrius, Lucas, Rodrigo, Diogo, Jeferson, Marcos que foram amigos de horas boas e ruins. . “[...] nada é fixo para aquele que alternadamente pensa e sonha [...]” Gaston Bachelard RESUMO Adubação boratada na cultura do arroz em solos de cerrado de baixa fertilidade O custo de produção de áreas novas no cerrado apresenta valores elevados devido á maior quantidade de operações agrícolas, quando comparado a lavouras convencionais. Os solos do cerrado apresentam baixa fertilidade natural e exigem grandes quantidades de calcário para sua correção, aumentando significamente o custo de produção. O objetivo deste trabalho foi avaliar se o Boro quando aplicado na cultura do arroz de terras altas com baixo nível tecnológico, proporcionaria um ganho de produtividade na cultura do arroz. O trabalho foi conduzido a campo no município de Nova Xavantina – MT na safra 2009/10 em duas áreas (primeiro e segundo ano de produção). Foram utilizados 6 tratamentos de boro na fonte de ácido bórico (17% de B), sendo as doses de: 0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; e 2,5 kg de B por ha. As parcelas tiveram 10 m de comprimento por 3,4 m de largura com 20 linhas de plantio no espaçamento de 0,17 m. A adubação de 160 kg do adubo formulado 0828-16 foi em função dos resultados da análise do solo e utilizou-se a cultivar BRS Sertaneja na quantidade de 115 kg de sementes por ha. Dentre as variáveis avaliadas a produtividade da área de primeiro ano foi influenciada pela adubação boratada, onde o tratamento que utilizou a dose de 2,5 kg de B atingiu a produtividade de 2.677 kg/ha-1. A análise de custo foi positiva para as duas áreas, onde na área de primeiro ano, o custo beneficio da adubação boratada foi de R$169,44 (com a dose de 1 kg B/ha). Já para a área de segundo ano o maior custo beneficio foi obtido com a dose de 2,5 kg de B, que proporcionou um aumento na produtividade de 11,80 sacas (60 kg) e conseqüentemente um custo beneficio de R$333,83 por hectare. O uso do boro em áreas novas do cerrado compensou o baixo nível tecnológico que foi empregado na formação das lavouras, proporcionando resultados positivos no custo beneficio da lavoura sem acréscimos significativos no custo de produção. Palavras chave: Oryza sativa. Terras altas. Micronutrientes. Custo ABSTRACT Adubation of boro in culture of rice in soils of savanna of low fertility The production cost of new areas in the cerrado presents high values due to larger amount of farming operations when compared to conventional crops. The cerrado soils have low natural fertility and require large quantities of limestone for its correction significantly increasing the cost of production. The objective this study was to evaluate whether the Boro when applied in the cultivation of upland rice with low technological level, increases the productivity rice. The field work was conducted in the municipality of Nova Xavantina - MT in 2009/10 in two areas (first and second year of production). We used six treatments of boron in the source of boric acid (17 % of B), with doses of 0, 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, and 2.5 kg B per ha. The plots were 10 m long and 3.4 m wide with 20-sowing rows, with spaced at 0.17 m. The fertilization of 160 kg of 08-28-16 fertilizer was formulated according to the results of soil analysis and used the cultivar BRS Sertaneja in amount of 115 kg of seeds per ha. Among the variables analyzed the productivity in the area of the first year was influenced by boron fertilization, whre the treatment that used a dose of 2.5 kg B hit productivity of 2.677 kg/ha-1. The cost analysis positive for both areas, where in the area of the first year, the cost benefit of boron fertilization was R$169,44 (with a dose of 1 kg B/ha). As for the second year the area of greatest cost benefit was obtained with a dose of 2.5 kg B, which resulted in na increase in productivity of 11.80 bags (60 kg) and therefore a cost benefit of R$333.83 per hectare. The use of boron into new areas of cerrado compensated the low technological level that was used in the formation of the crops, providing positive results in the cost benefit of the crop without significant increases inproduction costs. Keywords: Oryza sativa. Upland. Micronutrients. Cost LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Distribuição pluviométrica durante o ciclo da cultura do 22 arroz FIGURA 2 - Altura de plantas de arroz, sobre diferentes doses de boro 24 e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. FIGURA 3 - Número de panículas de arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. - Peso de 1.000 grãos de arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. - Produtividade do arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. - Grãos inteiros do arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. FIGURA 4 FIGURA 5 FIGURA 6 FIGURA 7 25 26 27 28 - Rendimento dos grãos arroz, sobre diferentes doses de 29 boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 REVISÃO DE LITERATURA 14 3 MATERIAL E MÉTODOS 19 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 24 CONCLUSÕES 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34 11 1 INTRODUÇÃO O arroz (Oryza sativa L.) é uma das mais antigas espécies cultivadas, ocupando aproximadamente 10% do solo agricultável do planeta. (BARIGOSSI et al., 2004). Em termos de alimentação humana, o arroz é a mais importante do mundo, pois constitui a dieta básica de mais de 50% da população mundial (FAGERIA et al., 2003). O continente asiático é o que possui a maior área plantada e, também, o maior consumidor mundial de arroz. A China e a Índia são os maiores produtores e consumidores de arroz no mundo. A importância da cultura do arroz para o Brasil, junto com a de feijão, já é muito conhecida e aumenta à medida que cresce o contigente populacional brasileiro (FAGERIA et al., 2008). Para a safra 2010/11 estima-se que a área plantada com a cultura de arroz no Brasil seja em torno de 2.74 a 2.78 milhões de hectares, e a produção deve alcançar algo em torno de 12.24 milhões de toneladas nesta safra. A produtividade média nacional na safra 2009/10 foi em torno de 4.073 kg/ha-1, sendo que em Santa Catarina a produtividade ultrapassou os 7.000 kg/ha-1 e em Mato Grosso a média foi de 3.008 kg/ha-1(CONAB, 2010). Existem três tipos de ecossistemas de arroz: terras altas, várzeas úmidas e irrigados por inundação. No Brasil o ecossistema de arroz inundado ocupa 60% da produção nacional e a sua produção é concentrada em regiões de baixios (BARRIGOSSI et. Al., 2004), em que o arroz é cultivado em áreas sistematizadas com irrigação por inundação. (FAGERIA et al., 2008). O arroz de várzeas úmidas são encontrados nas planícies dos rios e lagos (KLAMT et al., 1985). No Brasil, o cultivo do arroz de terras altas concentra-se na região do cerrado. O arroz de terras altas, cultivada em áreas geralmente irrigadas, fica totalmente dependente da precipitação pluvial para o suprimento de água (CRUSCIOL et al., 1999), a irrigação por aspersão também tem-se apresentado como uma alternativa eficiente para o cultivo do arroz de terras altas (CRUSCIOL et al., 2000). A região dos cerrado tem sido fundamental para a expansão da fronteira agrícola brasileira, tornando irreal o antigo conceito sobre o potencial dessa área 12 com finalidades produtivas. Entretanto, os solos dessa região, em geral, apresentam baixa fertilidade natural e elevada acidez (GOEDERT, 1989; FAGERIA; SOUZA, 1995). O cultivo do arroz na Região Centro-Oeste tem como um dos objetivos a abertura de novas áreas agrícolas, em virtude da tolerância dessa cultura a solos com baixos teores de nutrientes (CRUSCIOL et al., 1999), dentre eles o boro (FAGERIA, 2000). O boro (B) é um dos micronutrientes mais limitantes à produção vegetal (BROWN; SHELP, 1997), sendo, na faixa de pH 4,0 a 8,0, absorvido como H3BO3 e H2BO3. Sua disponibilidade no solo afeta significativamente as concentrações nos tecidos vegetais, e seus teores extremamente baixos ou elevados permitem observar nas folhas manifestações visíveis e características desses extremos (MALAVOLTA et al., 1997). O B é exigido em pequenas quantidades pela cultura do arroz, sendo a decisão para aplicar doses adequadas de boro vital para aumentar a produtividade do arroz (FAGERIA, 1998). Os solos do cerrado apresentam condições físicas adequadas para o crescimento das plantas (LOPES, 1983; FAGERIA, 1994). Sua friabilidade, porosidade e permeabilidade facilitam o crescimento das raízes. Por outro lado, apresentam baixa capacidade de retenção de água, baixa fertilidade natural e às vezes níveis tóxicos de alumínio (FAGERIA; BRESEGUELLO, 2004). A calagem é uma das práticas menos dispendiosas e efetivas na correção da acidez e fornece Ca e Mg (WERNER, 1986). Uma agricultura moderna exige o uso de corretivos em quantidades adequadas, a fim de atender a critérios racionais que permitam conciliar o resultado econômico positivo com a preservação dos recursos naturais do solo e do ambiente com a expressão máxima do potencial produtivo das culturas (FAGERIA, 1989; RAIJ, 1991). O custo de produção de áreas novas no cerrado apresenta valores elevados, em vista de que o número de operações agrícolas (abertura do cerrado, limpeza da área e sistematização da área) é maior quando comparado a áreas de produção já consolidadas (plantio direto). A técnica da calagem ainda é prática mais difundida para corrigir a acidez do solo (SANTOS et al.). Porém, em áreas de baixa fertilidade (áreas novas), são exigidas grandes quantidades de calcário, e como as jazidas de 13 calcário geralmente são distantes das áreas de produção o custo da calagem (preço da tonelada + transporte), aumenta ainda mais o custo de produção final da cultura, e também, a cultura do arroz é bastante tolerante à acidez do solo e, por isso, a prática da calagem deve ser considerada apenas quando o arroz for plantado em sistema de rotação (FAGERIA, 2006). Com base neste contexto, e visando diminuir o custo de produção e/ou evitar custos de produção mais elevados, testou-se a hipótese do uso do boro em áreas novas do cerrado de baixa fertilidade natural, sem a realização da calagem, como uma tentativa de elevar a produção, sem elevar seu custo de produção, pois a quantidade de boro utilizada na cultura do arroz é baixa, não sendo recomendadas doses acima de 3,0 kg por hectare (FAGERIA et al., 2003). O preço do kg do ácido bórico em dezembro de 2010, foi em torno de R$2,15 e o valor médio da tonelada do calcário calcítico foi de R$82,00 (sem o transporte) (CONAB, 2010). O objetivo deste trabalho foi avaliar se o Boro quando aplicado na cultura do arroz de terras altas com baixo nível tecnológico, proporcionaria um ganho de produtividade na cultura do arroz. 14 2 REVISÃO DE LITERATURA O sistema de produção de arroz em terras altas que depende do regime de chuva é chamado de arroz de terras altas, mais recentemente, de arroz aeróbico. Este ecossistema é mais comum na América Latina e na África. O arroz de terras altas é cultivado em aproximadamente, 17 milhões de hectares no mundo, sendo 10,5 milhões de hectares na Ásia, 3,7 milhões na América Latina e 2,8 milhões de hectares na África. No Brasil a área plantada com arroz de terras altas é de 1.8 milhões de hectares, concentrada nas regiões Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás, representando 43,3% da área total cultivada com este produto; Nordeste, Piauí e Maranhão (37%); e Norte, Pará e Rondônia (18,9%). Em nível mundial, a média de produtividade do arroz de terras altas é inferior a 2.000 kg/ha-1, enquanto a média de produtividade do arroz irrigado esta em torno de 4.500 kg/ha-1. A baixa produtividade do primeiro pode ser atribuída a instabilidade dos fatores climáticos e ao potencial produtivo das cultivares. A América Latina e a África são os continentes que dispõem de mais área para expansão do cultivo do arroz de terras altas. Apesar de sua produtividade ser inferior a do arroz irrigado, este sistema apresenta vantagens devido ao seu baixo custo de produção e reduzido consumo de água (BARIGOSSI et al., 2004). A acidez do solo é um dos fatores mais importantes que limitam a produção das culturas e solos tropicais altamente intemperizados, como os de cerrado (GOEDERT, 1983; FAGERIA et al., 1991). A maior área de solos ácidos esta localizada na América do Sul, onde ocupam 85% da área total e segundo Cochrane (1989) aproximadamente 850 milhões de hectares são subutilizados para a produção agrícola. No cerrado brasileiro, que ocupa cerca de 200 milhões de hectares, o pH médio do solo esta em torno de 5 (FAGERIA et al., 1999). A precipitação média anual na região é de aproximadamente 1.500 mm e a lixiviação de bases a longo prazo é uma das principais razões do desenvolvimento de acidez nos solos (GOEDERT, 1983). De acordo com Fageria et al. (1991), em condições de clima tropical em que a precipitação é maior que a evaporação, a acidificação do 15 solo é um processo contínuo, que pode ser acelerado pela atividade das plantas, animais e seres humanos, ou diminuído pelo manejo adequado. De acordo com Malavolta e Kliemann (1985), os solos característicos do Centro–Oeste brasileiro apresentam-se de maneira geral ácidos, altamente dependentes de matéria orgânica (M.O.) e pobres em nutrientes, como o boro (B), por exemplo. Deficiências de B e Zn são as mais comuns nas culturas brasileiras (MALAVOLTA et al., 1997). Nas culturas anuais a forma mais utilizadas para prevenir ou corrigir a deficiência desses nutrientes é a adubação no sulco ou em cova, e os micronutrientes incorporados aos macronutrientes da formulação de plantio (LOPES, 1999). O boro é exigido em pequenas quantidades pela cultura do arroz, sendo a decisão para aplicar doses adequadas de boro vital para aumentar a produtividade do arroz (FAGERIA, 1998), exigindo-se cautela por ser o intervalo de deficiência e toxicidade bastante estreito (SCIVITTARO; MACHADO, 2004). Marschner (1995) cita que a toxicidade de boro é mais comum em regiões áridas ou semiáridas, ou ainda nas relacionadas com água de irrigação com altos teores de B. O mesmo autor ainda cita que o gradiente entre os níveis crítico e tóxico é pequeno e considera, também, que as concentrações tóxicas variam com a espécie vegetal. O boro ocorre sob cinco formas no solo: minerais primários, secundários, adsorvido aos colóides, em solução como ácido bórico (H3BO3) e ânions borato (H2BO-3, HBO32- e BO3-), ou contido na matéria orgânica e biomassa microbiana (SHORROCKS, 1997). De acordo com Cruz et al. (1987), quando se adiciona B ao solo, parte permanece na solução do solo (disponível para as plantas) e parte é adsorvida aos colóides. A variação do pH do solo é o fator que mais influencia a disponibilidade de boro para as plantas, ou seja, em valores de pH mais baixos a forma predominante é o H3BO3, que tendo pouca afinidade com os minerais de argila e outros colóides, é pouco adsorvido e torna-se mais disponível para as raízes. A medida que o pH é elevado, aumenta a concentração de boro na forma de ânions borato, com conseqüente aumento na adsorção do elemento, resultando em menor disponibilidade para as culturas (KEREN et al., 1985). 16 Dentre as fontes de boro, o borax (Na2B4O7.10H2O ou NaB4O7.5H2O), o solubor (Na2B8O13.4H2O) e o ácido bórico (H3BO3) são solúveis em água, enquanto a colemanita (Ca2B6O11.5H2O) é mediamente solúvel e a ulexita (Na2Ca2B10O18.16H2O) é insolúvel em água (LOPES, 1999). O contato B-raiz ocorre basicamente em razão do fluxo de massa que é afetado pela taxa respiratória da planta. O boro é adsorvido via raízes nas formas de H3BO3 (OERTLI; GRGURVIC, 1975), e como a absorção independe da temperatura e não é afetada por inibidores de respiração, infere-se que seja processo passivo (PRADO, 2008). Desse modo o boro na forma de B (OH)3 parece ser o único nutriente que tem alta permeabilidade e vence as membranas por processo passivo, sem a necessidade de um processo intermediário mediado por uma proteína (WELCH, 1995). O processo passivo do boro ocorre por difusão, pois logo após a sua entrada na célula é transformado em compostos que seriam presos na parede celular ou citoplasma, ficando na forma não-trocável, e assim diminui sua concentração interna nas células, favorecendo o gradiente de difusão do mesmo por meio externo para interno (PRADO, 2008). O local de aplicação do boro também pode afetar a quantidade do nutriente absorvido (PRADO, 2008). Nesse sentido, Boaretto (2006) estudou a aplicação de 1kg/ha-1 de boro no solo e na folha de citrus em produção, e verificou que a quantidade absorvida foi de 65 e 17 g/ha-1 de boro, para aplicação de boro no solo e na folha respectivamente. Assim concluiu que a eficiência de absorção de boro pelas raízes é cerca de 3,5 vezes superior a eficiência de absorção de boro pelas folhas. A presença do boro afetando a atividade de componentes específicos da membrana pode aumentar a capacidade da raiz para absorver P, CL e K (MALAVOLTA, 1980). A matéria orgânica do solo é a principal fonte de boro para as plantas. Assim é importante controlar os fatores que afetam a disponibilidade do nutriente no solo, a fim de manter a concentração de boro no solo em níveis adequado ás culturas. Sempre que a concentração estiver baixa (<0,20mg/dm-3) ou até média (0,20-0,60 mg/dm-3), (extrator de água quente) (RAIJ et al., 1996), existe potencial 17 de resposta das plantas em geral à aplicação desse micronutriente, que pode variar em razão da exigência nutricional da cultura (PRADO, 2008). O boro é considerado imóvel no floema, e nesses casos, o nutriente não é transportado para as partes mais jovens da planta, locais onde normalmente aparecem os sintomas de deficiência, exceto para espécies que produzem quantidades expressivas de polióis, como ocorre para alguns grupos das famílias Rosaceae, Rubiaceae e Celestraceae (HU et al., 1997). O boro é um elemento ativador de enzimas que atuam em diversos processos metabólicos, tais como transporte de carboidratos, metabolismo das auxinas e formação das raízes por meio da divisão, alongamento e junção da parede celular e atividade das membranas celulares (MARSCHNER, 1995; LUND et al., 1996; ONO; RODRIGUES, 1996). Dentre suas funções, vale destacar a participação no alongamento celular, por fazer parte dos polissacarídeos da parede celular, sendo sua desordem nutricional prejudicial ao crescimento radicular (OBATA, 1995). Os resultados dos trabalhos com boro na cultura do arroz tem demonstrado redução no desenvolvimento vegetal e decréscimo no rendimento de grãos (LOPES et al., 1985), em razão do efeito negativo do excesso de boro no solo em determinadas circunstâncias (OBATA, 1995). Fageria et al. (2003) observaram que teores acima de 3,0 mg/kg-1 de boro no solo tornam-se tóxicos a cultura. É de fundamental importância o conhecimento de como o cultiar comporta-se na absorção dos nutrientes no campo, em especial o boro, pois existem diferenças interespecíficas para o arroz. Os mecanismos de resposta da cultura do arroz ao boro dependem do genótipo, das diferentes classes de respostas a adubação, pela capacidade genética diferente, mecanismos ativos e passivos e absorção para o elemento (DORDAS; BROWN, 2001). Rerkasem e Jamjod (1997) argumentam que a adubação boratada é uma prática simples e de baixo custo para corrigir deficiências nutricionais de culturas agrícolas como o girassol. Contudo Mortvedt e Woordruff (1993), recomendam cautela na recomendação de adubos boratados, devido ao estreito intervalo entre deficiência e toxicidade, ou seja, dependendo da fonte, da dose ou das condições de uso, a aplicação de B para corrigir uma deficiência pode vir a ser 18 tóxica. A deficiência pode ser corrigida tanto por aplicações de boro visa solo como foliar (DÍAZ-ZORITA, 2001). Segundo Ungaro (2000), em solos que tenham recebido correções com calcário, e teores de boro estiverem abaixo de 0,26 mg/dm-3, a suplementação pode ser feita nas adubações de semeadura e cobertura, misturando-se doses de ácido bórico aos fertilizantes formulados a serem aplicados na lavoura. 19 3 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido a campo no município de Nova Xavantina – MT na safra 2009/10 em duas áreas: primeiro ano de produção (abertura) situada na latitude 14º40'24" sul , longitude 52º21'11" oeste e a na altitude de 299m; e segundo ano de produção de arroz situada na latitude 14º 23’ 25.4” sul, longitude 51º52’ 9.96 oeste e na altitude de 311m. Essas áreas se encontravam a 4.000m de distância e foram conduzidas no mesmo período. O clima da região de Nova Xavantina é do tipo Aw na classificação de Köppen, com seis a oito meses de chuva, com precipitação anual média de 1300 a 1500 mm e temperatura média mensal de 25°C (COCHRAME et al., 1985 apud MARIMON, 2003). Na área de primeiro ano foi realizado o desmatamento, o enleiramento e a queima da leira. O preparo do solo foi feito no sistema convencional um mês antes do plantio, com duas gradagens aradora e uma gradagem niveladora. Após o preparo do solo foi realizada a catação manual de restos de raízes e tocos, após isso a área ficou em repouso até a semeadura, não sendo realizada a calagem. Já na área de segundo ano de cultivo de arroz, do período da colheita até a semeadura do experimento, a área ficou em repouso, mantendo-se os restos culturais da safra anterior e também realizou-se o pastoreio de gado sobre a palhada, com o objetivo de o gado se alimentar desses restos culturais, após isso foi realizada a dessecação das plantas daninhas existentes 15 dias antes da semeadura com os herbicidas Glifosate (na dosagem de1,55 L/ha de i. a.), Flumioxazim (na dosagem de 3,0 g/ha de i. a.) e 2,4-D (na dosagem de 25 ml/ha de i.a.). Após a dessecação foi realizado o preparo do solo com uma gradagem niveladora. Nas duas áreas foi realizada a amostragem do solo na profundidade de 0 a 20 cm e os resultados obtidos foram os seguintes: Área de primeiro ano 4,2 pH em CaCl2;; 5,2 pH em SMP; 105,0 H+Al mmolc/dm3; 10 Al mmolc/dm3; 42 M.O. g/dm3; 4,0 Ca mmol/dm3; 3,0 Mg mmol/dm3; 1,8 K mmol/dm3; 6,0 P mg/dm3: 3,6 S mg/dm3; 9,0 SB mmol/dm3; 53 M%; 114 CTC mmol/dm3; 8 V%; 19,0 Mn mg/dm3; 121,0 Fe mg/dm3; 0,9 Cu Mg/dm3; 3,0 Zn mg/dm3 e 0,21 de B mg/dm3. 20 Já os resultados para a área de segundo ano foram: 4,5 pH em CaCl2;; 5,6 pH em SMP; 66,0 H+Al mmolc/dm3; 7,0 Al mmolc/dm3; 38,0 M.O. g/dm3; 11,0 Ca mmol/dm3; 4,0 Mg mmol/dm3; 0,7 K mmol/dm3; 11,0 P mg/dm3: 3,1 S mg/dm3; 16,0 SB mmol/dm3; 30 M%; 81 CTC mmol/dm3; 19 V%; 15,7 Mn Mg/dm3; 67,7,0 Fe mg/dm3; 0,4 Cu mg/dm3; 3,8 Zn mg/dm3 e 0,21 de B mg/dm3. A adubação N-P-K foi realizada de acordo com a análise do solo, sendo recomendado 160 kg de 08-28-16 por ha-1, onde cada parcela recebeu 0,544 kg. E não foi realizada a calagem em nenhuma das áreas. Para a semeadura foi utilizada a cultivar BRS Sertaneja, sendo ela uma cultivar precoce, de grãos longofinos, caracterizada por plantas vigorosas, moderadamente perfilhadoras, porte médio, folhas largas, e com mediana resistência ao acamamento. Suas panículas são longas e com elevado número de espiguetas. É uma cultivar de ampla adaptação, com bom comportamento nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, etc. com ciclo de aproximadamente 120 dias. E antes da semeadura foi realizado o tratamento das sementes com fungicida Carboxina (na dosagem de 5 mL de i.a. para 100 kg de semente) e também teve o tratamento com inseticida Carbofuran (na dosagem de 3.5litros de i.a. para cada 100 kg de semente). A semeadura foi realizada em dezembro com trator CBT modelo 2105, 130CV e semeadora do modelo Baldan5000 com 20 linhas de plantio e 0,17 m no espaçamento entrelinhas na quantidade de 115 kg de semente por ha, sendo que para cada parcela foi utilizado a quantidade de 0,391 kg de semente, sendo que foi utilizado em todo experimento 18,7 kg de sementes de arroz. Aos 32 dias após a emergência (DAE) foi realizado a aplicação do herbicida 2,4-D (na dosagem de 28,8 ml/ha de i.a.), com objetivo de controlar as plantas daninhas de folhas largas e também foi realizada a aplicação do fungicida tebuconazole (na dosagem de 0,5 L/ha de i.a.). Aos 45 DAE foi realizada a adubação nitrogenada, utilizando a fonte uréia (45% de N) na dose de 50 kg de N por ha, onde se aplicou 0,377 kg de uréia por parcela após uma chuva de 11 mm. Aos 50 DAE foi realizada a segunda aplicação do fungicida tebuconazole (na dosagem de 10L/ha de i.a.), com objetivo de controlar a doença fungica bruzone. E aos 102 DAE foi realizada a colheita 21 manual dos tratamentos, quando os grãos apresentavam em média 16,7% de umidade. O delineamento experimental utilizado foi em blocos inteiramente casualizados com 6 tratamentos e 4 repetições em dois ambientes de produção (área de primeira ano e área de segundo ano), perfazendo um total de 48 parcelas de 34m2. Cada parcela teve 3,4 m de largura por 10 m de comprimento, onde cada parcela teve 20 linhas de semeadura de arroz. Foram utilizados 6 tratamentos de boro na fonte de ácido bórico (17% de B), sendo as doses de: 0 kg de B por ha (testemunha), 0,5 kg de B por ha, 1 kg de B por ha, 1,5 kg de B por ha, 2 kg de B por ha e 2,5 kg de B por ha. A adubação com Boro foi realizada juntamente com a adubação de plantio nos sulcos e a dose foi correspondente aos tratamentos testados como se pode ver na tabela abaixo: Tabela 1 - Doses de Boro Dose de B (kg/ha) 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Dose de Ácido Dose Ácido Bórico Bórico (kg/ha) por parcela (g/34m2) 0,00 2,95 5,90 8,85 11,80 14,75 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 Durante e após o experimento 6 itens foram avaliados, sendo: quantidade de panículas, altura média das plantas, produtividade, peso de 1.000 grãos, qualidade dos grãos (inteiros) e qualidade dos grãos (rendimento). Para a avaliação de todos os itens foram descartadas as bordaduras, coletando-se os dados apenas as 10 linhas centrais de 6 m de comprimento. Totalizando 10,2 m2 de cada tratamento. Aos 83 DAE foi realizada a avaliação de altura das plantas e número de panículas, onde a cultura se encontrava no estádio fonológico R2. A avaliação de 22 altura de plantas foi realizada através de amostragem, onde 20 plantas foram selecionadas ao acaso e a partir dessas plantas foi feita uma média para cada parcela. Sendo que a altura considerada foi da base do solo até ao ápice da panícula. Para avaliação de produtividade, coletou-se todas as panículas de cada parcela, essas panículas foram debulhadas manualmente. Realizou-se a secagem dos grãos ao sol e depois foi realizada a limpeza manualmente através do peneiramento dos grãos com passagem de ar e esses grãos foram coletados, pesados e armazenados em sacos de papel. Para avaliação do peso de 1.000 grãos foram coletados 1.000 grãos ao acaso de cada parcela e foi realizada a pesagem. E para a avaliação da qualidade de grãos inteiros e rendimento, foram coletados 100 gramas de sementes de arroz de cada parcela, essas sementes passaram pela máquina de teste de arroz MT onde ele faz o teste de rendimento e qualidade do arroz. A distribuição pluviométrica durante o ciclo da cultura do arroz nos dois ambientes de produção avaliados pode ser vista na figura 1. FIGURA 1 - Distribuição pluviométrica durante o ciclo da cultura do arroz 23 Os dados originais foram submetidos à análise de regressão, em que foi ajustada a equação linear significativa até 1% de probabilidade pelo teste Tukey. 24 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO FIGURA 2 - Altura de plantas de arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. Analisando a altura das plantas de arroz, na área de primeiro ano (área 1), em relação a diferentes doses de boro, pode-se notar que a altura das plantas aumentaram de acordo com que se aumentou as doses de B. Onde a maior dose de B avaliada (2,5 kg de B), obteve-se os melhores resultados em relação a altura da planta, sendo que as plantas nessa dose, tiveram um crescimento médio de 95 cm de altura (figura 2). Já a área de segundo ano (área 2) de cultivo de arroz, a altura das plantas não respondeu as doses avaliadas, onde a altura média das plantas de arroz foi de 79,1 cm de altura como se pode ver na figura 2. Do fato da área de segundo ano sofrer um período de estiagem de 10 dias e ter um menor volume pluviométrico durante o seu ciclo, contribuiu para que as plantas desenvolvessem menos. 25 Em experimento realizado por KAPPES et al. (2008), mostrou que a altura de plantas de soja respondeu significativamente a adubação boratada, onde os melhores resultados foram alcançados quando se utilizou a dose de 200 a 300 g de B/ha-1 via foliar. FIGURA 3 - Número de panículas de arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. O número de panículas de arroz na área de primeiro ano, não foi significativo, não havendo variação entre as doses avaliadas (figura 3) O número de panículas respondeu significativamente as doses de B estudadas na área de segundo ano, onde a dose de 2,0 kg de boro proporcionou o desenvolvimento de 2.872 panículas (figura 3). Como essa área teve menor altura das plantas e também sofreu uma estiagem, estimulou o perfilhamento das plantas de arroz, tendo assim um maior número de panículas. Se observar a área de primeiro ano, que teve um ambiente melhor de produção e assim, tendo um estande 26 mais uniforme, o maior resultado alcançado foi o de 2.022 panículas, 29,6% panículas a menos que a área de segundo ano. FIGURA 4. Peso de 1.000 grãos de arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. O peso de 1.000 grãos tanto para área de abertura de cerrado (área 1) como para área de segundo ano de cultivo de arroz não foi influenciado pelas doses de B avaliadas (figura 4). Silvestrin et al. (2010) e Kappes et al. (2007), também não obtiveram resultados significativos em relação a massa de 1.000 grãos em relação a adubação boratada nas culturas de milho e soja respectivamente. A produtividade foi significativa para área de primeiro ano (área 1), isso pode ter ocorrido devido ao fato de que essa área apresentou melhor desenvolvimento vegetativo, conforme confirmado nos valores obtidos com a altura das plantas, e ainda menor quantidade de panículas, no qual conseqüentemente, essas plantas aproveitaram melhor os nutrientes disponíveis no solo durante a 27 formação de grãos (figura 5). A produtividade respondeu linearmente a adubação boratada, onde a maior dose de B avaliada (2,5 kg) alcançou a produtividade de 2.677 kg por hectare. Foloni et al. (2010) observou que o B aplicado no sulco de semeadura, promoveu incremento de fitomassa e produção de grãos na cultura do girassol. Valores esses também confirmados por Silvestrin et al. (2010), onde a produtividade do milho aumentou quando se aplicou a dose de 3 kg de B/ha-1. FIGURA 5 - Produtividade do arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. A adubação boratada não foi significativa na produtividade do arroz na área de segundo ano de cultivo (figura 5). 28 FIGURA 6 - Grãos inteiros do arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo. A porcentagem de grãos inteiros expressa a quantidades de grãos de arroz que se mantiveram inteiros (intactos após o beneficiamento na máquina de teste de arroz). Como se pode ver na figura 6 a variável grãos inteiros na área de primeiro ano apresentou resultado significativo, corroborando com as variáveis altura de plantas, número de panículas e produtividade. No qual a área de primeiro ano teve um ambiente de produção mais favorável (figura 1), tendo assim menos falhas durante o desenvolvimento inicial da cultura do arroz, o que é comprovado na variável número de panículas, pois, quando há uma falha no crescimento inicial da cultura, as plantas de arroz tendem a perfilhar mais. Com uma quantidade menor de perfilhos, há uma melhor relação entre a quantidade de nutrientes disponível no solo com o número de panículas, ou seja, se tem menos panículas competindo pela mesma quantidade de nutrientes e conseqüentemente, proporcionando um melhor desenvolvimento e qualidade dos grãos. Sendo assim, com panículas mais bem formadas, se tem mais grãos inteiros, havendo menores perdas durante o processo de colheita e beneficiamento da cultura do arroz. A área de primeiro apresentou 74% de grãos inteiros. 29 A porcentagem de grãos inteiros não respondeu a adubação boratada (figura 6) na área de segundo ano de cultivo de arroz. Observando a variável número de panículas (figura 3) que respondeu a adubação boratada, pode-se concluir que devido ao maior perfilhamento que se teve nessa área, o boro disponível no solo, foi utilizado durante o desenvolvimento das plantas e na formação das panículas. O rendimento de grãos de arroz expressa a porcentagem do rendimento (arroz puro, sem impureza) dos grãos de arroz em relação a porcentagem dos grãos inteiros, ou seja, dos grãos de arroz que foram aproveitados após a primeira seleção (grãos inteiros). O rendimento de grãos foi significativo em relação às doses de B avaliadas (figura 7). FIGURA 7 - Rendimento dos grãos arroz, sobre diferentes doses de boro e em área de primeiro ano (área 1) e área de segundo ano de cultivo de arroz (área 2). **significativo a 1%, nsnão significativo 30 O rendimento dos grãos aumentou linearmente de acordo com que se utilizou maiores quantidades de B no solo. Observando a variável peso de 1000 grãos (figura 4), mesmo não podendo fazer uma comparação entre as duas áreas estudadas, pois essas áreas apresentaram diferentes teores de nutrientes no solo e ainda tiveram ambientes totalmente distintos de produção, percebe-se, que o peso de 1.000 grãos da área de segundo ano, teve uma ligeira queda em relação a área de abertura de cerrado, cerca de 3,1 gramas por 1.000 grãos. Sendo assim, a área de segundo ano, teve grãos menos desenvolvidos, conseqüentemente grãos menores, o que provoca uma menor porcentagem de quebra durante a colheita e o beneficiamento do arroz, proporcionando um melhor rendimento. Onde a maior dose avaliada de 2,5 kg/ha-1 alcançou o valor máximo do rendimento dos grãos (78% de rendimento). Ainda observando a figura 7, notou-se que o rendimento de grãos da área de abertura de cerrado, não respondeu as doses de B no solo. Isso se deve ao fato de que, como essa área apresentou uma maior porcentagem de grãos inteiros (figura 6), havia grãos mais saudáveis, e por isso, houve menor variação durante o processo de beneficiamento do arroz. TABELA 2 - Relação Custo/Beneficio da adubação boratada da área de primeiro ano (ha) Produtividade1 (sc 60 kg) Receita2 Custo/Beneficio3 R$ 0,00 R$ 6,34 R$ 12,69 R$ 19,03 R$ 25,37 R$ 31,71 -8,13 5,88 1,63 0,04 1,08 -R$ 251,00 R$ 182,13 R$ 50,38 R$ 1,29 R$ 33,33 -R$ 257,34 R$ 169,44 R$ 31,35 -R$ 24,08 R$ 1,62 Tratamento Custo (Kg de B/ha) 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Valores baseados no preço do kg do ácido bórico a R$2,15 e a saca de 60 kg de arroz a R$31,00 (CONAB, 2011). 1Produtividade superior em relação a testemunha (Saca 60 Kg); 2Receita com base na produtividade (há); 3Custo/Beneficio =(Receita – Custo). 31 Analisando a tabela 2, pode-se notar que a maior relação custo beneficio na área de primeiro ano, foi alcançada quando se utilizou a dose de 1 kg de boro, onde essa dose proporcionou um incremento de 5,88 sacas de arroz (60 kg) em relação a dose zero (testemunha). Considerando o preço da saca de arroz a R$ 31,00 (CONAB, 2011), o custo beneficio do aumento da produtividade foi de R$169,00 por hectare. Percebe-se também valores positivos no custo beneficio nas doses de 1,5 e 2,5 kg de B, onde obtiveram a receita liquida de R$31,35 e R$1,62 respectivamente. A dose de 0,5 kg foi a que obteve o pior resultado, onde a produtividade obtida com o uso desta dose foi de 8,13 sacas de arroz a menos que a testemunha. TABELA 3 - Relação Custo/Beneficio da adubação boratada da área de segundo ano (ha) Produtividade1 (sc 60 kg) Receita2 Custo/Beneficio3 R$ 0,00 R$ 6,34 R$ 12,69 R$ 19,03 R$ 25,37 R$ 31,71 5,13 1,30 1,00 10,00 11,80 R$ 154,04 R$ 164,04 R$ 41,33 R$ 308,71 R$ 365,54 R$ 147,70 R$ 151,35 R$ 22,30 R$ 283,34 R$ 333,83 Tratamento Custo (Kg de B/ha) 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Valores baseados no preço do kg do ácido bórico a R$2,15 e a saca de 60 kg de arroz a R$31,00 (CONAB, 2011). 1Produtividade superior em relação a testemunha (Saca 60 Kg); 2Receita com base na produtividade (há); 3Custo/Beneficio =(Receita – Custo). Todas as doses de boro utilizadas na área de segundo ano proporcionaram resultados positivos na receita e no custo beneficio quando comparados a dose que não utilizou boro. A maior receita e conseqüentemente o maior custo beneficio foi alcançado com a dose de 2,5 kg de boro, que proporcionou um ganho de R$333,83 por hectare (11,80 sacas de arroz). O menor custo beneficio foi obtido com a dose de 1,5 kg de boro por hectare, que proporcionou o ganho de 1 32 saca de arroz por hectare, e sendo assim, tirando o custo da adubação que foi de R$19,03 a receita liquida deste tratamento foi de R$22,30 (Tabela 3). Esses resultados demonstram que o uso do boro em áreas novas de cerrado, pode compensar o baixo nível tecnológico que é empregado na formação de lavouras comerciais. Tanto para a área de primeiro ano como para a área de segundo ano, o uso do boro proporcionou valores positivos no custo benefício mesmo sem a calagem. O uso do boro em áreas novas, em hipótese alguma é uma técnica que visa substituir a calagem, mas sim, é uma técnica que visa obter produtividades maiores, quando não se faz a calagem (devido ao custo), e conseqüentemente se tem receitas maiores, não elevando o custo de produção, em vista de que, o custo dessas novas áreas já são elevados devido as grandes operações agrícolas que são necessárias para implantar essas lavouras. 33 5 CONCLUSÕES O uso do boro em áreas novas do cerrado compensou o baixo nível tecnológico que foi empregado na formação das lavouras, proporcionando resultados positivos no custo beneficio da lavoura sem acréscimos significativos no custo de produção. 34 BIBLIOGRAFIA BARRIGOSSI, J; LANNA, A; FERREIRA, E. Agrotóxicos no cultivo do arroz no Brasil: análise do consumo e medidas para reduzir o impacto ambiental negativo. Santo Antônio de Goias – GO: Embrapa, 2008. BOARETTO, R. Boro em Laranjeira: absorção e mobilidade. 2006. 120 p. Tese (Doutorado) – Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo. Piracicaba. BROWN, P; SHELP, B. Boron mobility in plants. The Hague, Plant and Soil, v. 193, p. 85-101, 1997. COCHRANE, T. Chemical properties of native savanna and forest soils in central Brazil. Soil Science Society of America Journal, Madison, v. 53, p. 139-141, 1989. CRUSCIOL, C. et al. Produtividade do arroz irrigado por aspersão em função do espaçamento e da densidade de semeadura. Pesq. Agropec. Bras., v. 35, p. 10931100, 2000. CRUSCIOL, C. et al. Matéria seca e absorção de nutrientes em função do espaçamento e da densidade de emeadura em arroz de terras alta. Scientia Agricola, v. 5, p. 63-70, 1999. CRUZ, M. C. P.; NAKAMURA, A. M.; FERREIRA, M. E. Adsorção de boro pelo solo: efeito da concentração e do pH. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 22, p. 621-626, 1987. DÍAZ-ZORITA, M. Manejo de la nutricion mineral de cultivos de girasol. In: XIV REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE GIRASSOL, XIV, SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE A CULTURA DO GIRASSOL, II., 2001, Rio Verde. Anais... Rio Verde: FESURV/IAM, 2001. p. 5-13. ENGLER, M; BUZETTI, S. et al. Ways of applying boron and zinc to two upland rice cultivars. Científica, Jaboticabal, v. 34, n. 2, p. 129-135, 2006. 35 FAGERIA, A. S. Solos tropicais e aspectos fisiológicos das culturas. Brasília, DF:Embrapa-DPU, 1989. 425 p. (EMBRAPA-CNPAF. Documentos.18). FAGERIA, N. K. Soil acidity affects availability of nitrogen, phosphorus, and potassium. Better Crops International, v. 10, p. 8-9, 1994. FAGERIA, N. Níveis adequados e tóxicos de boro na produção de arroz, feijão, milho, soja e trigo em solo de cerrado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 4, p. 57-62, 2000. FAGERIA, N. K. A cultura do arroz no Brasil. 2.ed. Santo Antônio de Goiás : Embrapa Arroz e Feilão, 2006. FAGERIA, N. Manejo da calagem e adubação do arroz. In: BRESEGHELLO, F.; STONE, L. Tecnologia para o arroz de terras altas. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1998. p. 67-78. FAGERIA, N. Níveis adequados e tóxicos de boro na produção de arroz, feijão, milho, soja e trigo em solo de cerrado. R. Bras. de Eng. Agr. e Amb., v. 4, p. 57-62, 2000. FAGERIA, N. et al. Response of upland rice and common bean to liming on an Oxisol. In: WRIGHT, R. J.; BALIGAR, V. C.; MURRMAN, R. P. (eds.). Plant-soil interactions at low pH. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, The Netherlands. 1991. p. 519-525. FAGERIA, N; SOUZA, N. Resposta das culturas de arroz e feijão em sucessão à adubação em solo de cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 30, n. 3, p. 359-368, mar. 1995. FAGERIA, N; GHEYI, H. Efficient crop production. Campina Grande: UFPB, 1999. 547 p. FAGERIA, N. K.; STONE, L. F. Manejo da acidez dos solos de cerrado e de várzea do Brasil. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 42 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 92). 36 FAGERIA, N; BARBOSA M; STONE, L. Doses e teores adequados e tóxicos de micronutrientes no solo e plantas de culturas anuais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 19., Ribeirão Preto, 2003. Resumos... Ribeirão Preto, 2003. CD-ROM FAGERIA, N. K.; BRESEGUELLO, F. Nutritional dignostic in upland rice production in some munipalities of state of Mato Grosso, Brazil. Journal of Plant Nutrition, v. 27, n. 15-28, 2004. FAGERIA, N; FILHO, M; SOARES, D. Nutrição de plantas: diagnose foliar em grandes culturas. Jaboticabal-SP: Funep, 2008. 331 p. FOLONI, J. et al. Desenvolvimento de grãos e produção de fitomassa do girassol em função de adubações boratadas. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 2, p. 273-280, Mar./Apr. 2010 GOEDERT, W. Região dos cerrados: potencial agrícola e política para seu desenvolvimento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 24, n. 1, p. 1-17, jan. 1989. GOEDERT, W. Management of the cerrado soils of Brazil: A review. Journal of Soil Science, Oxford, v. 34, p. 405-428, 1983. HU, H. et al. Isolation and characterization of soluble boron complexes in higher plants: the mechanism of phloem mobility of boron. Plant Physiology, Waterbury, v. 113, p. 649-655, 1997. KAPPES, C; GOLO, A; CARVALHO, M. Doses e épocas de aplicação foliar de boro nas características agronômicas e na qualidade de sementes de soja. Scientia Agraria, Curitiba, v. 9, n. 3, p. 291-297, 2008. KEREN, R.; BINGHAM, F. T.; RHOADES, J. D. Effect of clay mineral content in soil on boron uptake and yield of wheat. Soil Science Society of America Journal, Madson, v. 49, p. 1466-1470, 1985. KLAMT, E; KAMPF, N; SCHENEIDER, P. Solos de várzea no Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 1985. (Boletim Técnico de Solos, 4). 37 LOPES, A. S. Micronutrientes: filosofias de aplicação e eficiência agronômica. São Paulo: ANDA, 1999, 72 p. (ANDA. Boletim Técnico, 8). LOPES, M. et al. Efeito de micronutrientes sobre o rendimento de grãos de arroz irrigado. In: REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 14., Pelotas, 1985. Anais... Pelotas, Embrapa – CPATB, 1985. 226-234 p. LOPES, A. Micronutrientes filosofias de aplicação e eficiência agronômica. São Paulo: Associação Nacional para Difusão de Adubos, 1999. 70 p. (Boletim Técnico, 8). LUND, S; SMITH, A; HACKETT, W. Cuttings of tabacco mutant, rac, undergo cell divisions but do not initiate adventitious roots inresponse to exogenous auxina. Physiol. Plant, v. 97, p. 372-380, 1996. MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980. 251 p. MALAVOLTA, E.; KLIEMANN. Desordens nutricionais no cerrado. Piracicaba: Potafós, 1985. 136p. MALAVOLTA, E; VITTI, G; OLIVEIRA, S. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba: POTAFOS, 1997. 319 p. MARIMON, B. S. et al. Padrões de distribuição de espécies na mata de galeria do córrego Bacaba, Nova Xavantina, Mato Grosso, em relação a fatores ambientais. B. Herb. Ezechias Paulo Heringer, Brasília, v. 12, p. 84-100, 2003. MARINHO, J. et al. Crescimento vegetativo do algodoeiro submetido a adubação de boro em região de cerrado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 7., 2009, Foz do Iguaçu. Sustentabilidade da cotonicultura Brasileira e Expansão dos Mercados: Anais... Campina grande: Embrapa Algodão, 2009. p. 1885-1891. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. New York: Academic Press, 1995. 674 p 38 MORTVEDT, J. J.; WOODRUFF, J. R. Technology and application of boron fertilizers for crops. In: GUPTA, U. C. (Ed.). Boron and its role in crop production. Boca Raton: CRC Press Inc., 1993. p. 157-176. OBATA, H. Micro essential elements. In: MATSUO, T. et al. (eds.). Science of the rice plant. Tokyo: Food and Agriculture Police Research Center, 1995. 402-417 p. OERTLI, L; GRGURVIC. Effect of pH on the absorption of boron by excised barley roots. Agron. J., v. 67, p. 278-80, 1975. ONO, E.; RODRIGUES, J. Aspecto da fisiologia do enraizamento de estacas caulinares. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 1996. 83 p. PRADO, R. Nutrição de Plantas. 1.ed. São Paulo, 2008. p. p. 213-215. RAIJ, B. VAN, et al. Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285 p. RERKASEM, B.; JAMJOD, S. Genotypic variation in plant response to low boron and implications for plant breeding. Plant and Soil, Dordrecht, v. 193, p. 169-180, 1997. ROSOLEM, C; ZANCANARO, L; BISCARO, T. Boro disponível e resposta da soja em latossolo vermelho-amarelo do Mato Grosso. Rev. Bras. Ciênc. Solo, Viçosa , v. 32, n. 6, dez. 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010006832008000600016&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16 jul. 2010. SANTOS, A. B.; STONE, L. F.; VIEIRA, N. A. (Editores). A cultura do arroz no Brasil. 2.ed. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feilão, 2006. 1000 p. SCIVITTARO, W; MACHADO, O. Adubação e calagem para a cultura do arroz irrigado. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas, 2004. p. 259-297. SILVESTRIN, V. et al. Produção de grãos de milho em função de níveis de adubação de boro no solo, região dos campos gerais, Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas Guarapari, 29., 2010, Guarapari, Anais... Guarapari, 2010. 39 SHORROCKS, V. M. The ocorrence and correction of boron deficiency. Plant and Soil, Dordrecht, v. 193, p. 121-148, 1997. UNGARO, M. R. G. Cultura do girassol. Campinas: Instituto agronômico, 2000. 36 p. WELCH R. Micronutrient nutrition of plants. Plant Science, v. 14, n. 1, p. 49-82, 1995. WERNER, J. C. Calagem para plantas forrageiras. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 8., Piracicaba, 1986. Anais... Piracicaba, FEALQ, 1986. p. 191-198.