1 CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRÁFICOS 1.1 Introdução Um dos aspectos mais importantes em Fı́sica é o da apresentação e análise de resultados experimentais. Pôr meio de experiências simples, tem sido descobertas grande número de relações funcionais entre duas grandezas x e y, onde y, função de x é simbolizada y = f (x). Os resultados de uma experiência podem ser apresentados com simplicidade e clareza e facilmente analisados por meio de gráficos, que permitem muitas vezes descobrir a expressão algébrica que relaciona estas grandezas fı́sicas. A curva aproximada que se obtém, cujo traçado é orientado pelos pontos experimentais marcados no papel de gráfico, é uma imagem intuitiva e concisa da relação funcional a investigar. Inicialmente, formularemos algumas definições e convenções que permitirão maior familiaridade na utilização e interpretação dos dados apresentados em um gráfico. 1.2 Definições e convenções • Escala : É qualquer trecho de curva (em geral uma reta) marcada por traços, os quais estão em correspondência com valores ordenados de uma grandeza. • Passo (∆L): É a distância (em cm, mm, etc) entre dois traços numerados e consecutivos numa escala. • Degrau (∆f (x)): É a variação da grandeza em um passo. • MÓDULO (M ): É a constante de proporcionalidade existente entre o passo ∆L e o degrau ∆f (x). 1.3 Escala Linear Escala linear é aquela que possui passo e degrau constantes. M = (a × 10n )u com a = 1; 2; 4 ou 5 De acordo com as Normas Brasileiras de Desenho Técnico NB-8, onde n é inteiro e u é a unidade da grandeza fı́sica. Exemplo: Para a escala acima temos: • PASSO - constante = 5 cm • DEGRAU - constante = 1 N • MÓDULO - constante = M = 1.4 5cm = 5 cm/N 1N Construção de uma Escala Linear Inicialmente, qualquer que seja a escala (linear ou não), deve-se indicar junto ao eixo o nome ou sı́mbolo da grandeza, com a sua respectiva unidade de medida (u). 1 1.4.1 Escolha do Módulo Deve-se levar em conta, na escolha, o comprimento disponı́vel para o eixo, a variação da grandeza a ser representada, o interesse ou não de fazer o “zero da grandeza coincidir com a origem da escala e as limitações de ordem prática impostas na escolha do valor de M . Convém observar que, na determinação das dimensões do gráfico deve-se levar em consideração que o gráfico a ser construı́do, possa ser arquivado ou encadernado. Convenciona-se, por isso, deixar margens de aproximadamente 2 cm. Pode ocorrer que a grandeza a ser estudada não varie a partir do zero. Nestes casos costumase fazer coincidir o inı́cio da escala com um inteiro imediatamente abaixo do limite inferior da grandeza a ser representada ou seja, não precisamos necessariamente iniciar a escala a partir da sua origem. Conhecido o intervalo de variação da grandeza e o comprimento disponı́vel para o eixo, divide-se o comprimento disponı́vel para o eixo pelo intervalo de variação da grandeza a ser representada, determinando-se assim o módulo M . Exemplo: Construir uma escala linear para representar uma diferença de potencial que varia de 0,328 V até 0,850 V sendo de 18 cm o comprimento disponı́vel para o eixo. 1. Se a origem for ponto de interesse: M= 18cm = 21, 2cm/V = 2, 12 × 10cm/V 0, 850V Este valor de a = 2,12 não é conveniente. Devemos tomar o valor inferior mais próximo isto é : M = 2 × 10cm/V Pois com essa escolha estaremos usando 17 cm dos 18 cm disponı́veis para o eixo. Assim, com PASSO = 1 cm, teremos para o DEGRAU: DEGRAU = P ASSO 1cm = = 0, 5 × 10−1 V = 5 × 10−2 V M ODU LO 2 × 10cm/V Observação : Não se deve escrever nos eixos todos os valores da grandeza medida. Por exemplo, se uma das medidas foi 1,3 × 10−1 V, o ponto correspondente será colocado no gráfico, mas esse valor não aparecerá na escala. 2. Suponha que não haja interesse que a origem apareça na escala (o primeiro valor medido foi 0,328 V). Neste caso: M= 18cm 18cm → = 3, 0 × 10cm/V (0, 850 − 0, 328)V (0, 90 − 0, 30)V Então o valor inferior mais próximo e conveniente para o módulo é: M = 2, 0 × 10cm/V Assim, com PASSO = 2 cm temos: DEGRAU = P ASSO 2cm = = 1 × 10−1 V M ODU LO 2 × 10cm/V 2 1.5 Papel Milimetrado É o tipo mais comum de papel para representar funções ou relações funcionais y = f (x) entre duas grandezas fı́sicas. Presta-se para a construção de escalas lineares com passo mı́nimo de um milı́metro. Ao traçar o gráfico, é importante: 1. Escolher os eixos mais convenientes para abcissas e ordenadas e os módulos das escalas como explicado no item anterior, deixando cerca de 2 cm de margem ao marcar os eixos para garantir um espaço razoável para anotar valores, sı́mbolos necessários e permitir encadernar ou arquivar. 2. A marcação dos eixos deverá ser realizada em intervalos regulares e de forma a não congestioná-los. 3. As linhas de chamada, assim como as coordenadas dos pontos não deverão ser apresentadas. 4. Representar as barras de incertezas. 1.5.1 Determinação da Relação Funcional Freqüentemente no curso de nossa investigações encontramos situações em que duas grandezas x e y apresentam-se relacionada da forma y = f (x). Um dos casos mais simples, é o caso em que a relação é linear, isto é, da forma: y = a + bx onde a e b são parâmetros a serem determinados. 1. Determinação do parâmetro linear: É obtido no gráfico, determinando o valor de y para x = 0. x=0⇒y=a 2. Determinação do coeficiente angular: É obtido no gráfico, tomando-se dois pontos quaisquer sobre a reta mas, suficientemente afastados para garantirmos boa precisão e calculando a declividade: ∆y y2 − y1 = b= x 2 − x1 ∆x 3 Note que, como x e y estão sujeitos a erros experimentais, os parâmetros a e b também estarão sujeitos a indeterminações que deverão ser avaliadas da seguinte forma: 1. Traçar a melhor reta, isto é, aquela que mais se aproxima dos pontos e calcular os parâmetros a e b. 2. Baseado na melhor reta e nos pontos experimentais, avaliar a variação dos parâmetros, considerando para isto, retas próximas à melhor reta. O cálculo das indeterminações é feita matematicamente pelo método dos mı́nimos quadrados, que embora simples, envolve um número grande de cálculos aritméticos. O uso de uma pequena calculadora programável ou microcomputador torna o método rápido e aplicável na maioria das situações. 1.6 Escala Logarı́tmica Uma década logarı́tmica, corresponde a uma variação de uma unidade de potência de 10 (isto é, de 10n a 10n+1 ) no valor numérico da grandeza. 1.6.1 Construção da Escala Logarı́tmica A confecção de uma escala logarı́tmica, corresponde à divisão de um determinado segmento de reta em partes proporcionais aos valores dos logarı́tmos dos números numa determinada base a. Consideremos, um segmento de reta de comprimento L e que desejamos dividido-lo em partes proporcionais aos logarı́tmos dos números n = 1, 2, . . . , 10. Conforme definição, o módulo para esta escala será dado pôr: M= L2 − L1 L2 − L1 |∆L| = = x2 |∆f (x)| loga x2 − loga x1 loga x1 Se aplicarmos a relação acima para a base 10, tomando a variação de x2 ÷ x1 = 10. 4 ou seja , ∆L = L10 e µ log10 x2 x1 Ã ¶ = log10 10n+1 10n ! = log10 10 = 1 Portanto: L10 = L10 log10 10 Isto é, o módulo M na base 10 é igual à distância do ponto representativo do número 1 ao ponto representativo do número 10. Por outro lado, a qualquer segmento de reta L(x) medido a partir da origem 1, corresponderá o valor numérico do log x pela relação abaixo: M= L(x) = M log1 0x = L10 log x ou seja: L(x) L10 Por esta relação podemos calcular o logaritmo de qualquer número x na base 10. log x = Tudo que foi feito até agora para a base 10 poderá ser feito para qualquer base. O comprimento L em vez de estar associado ao número 10, estará associado ao da base em que se irá operar. Então, generalizando: L(x = 2) M2 = = L(x = 2) log2 2 L(x = 3) M3 = = L(x = 3) log3 3 L(x = N ) MN = = L(x = N ) logN N Pode ocorrer, como no caso de escalas lineares, que a grandeza varie a partir de um determinado valor. Neste caso, a origem da escala logarı́tmica não se inicia pelo 1 e sim por uma potência de 10 conveniente. Exemplo: Construir uma escala para os números inteiros, entre 2 e 20 cujo comprimento seja 20 cm. Aplicando a definição de módulo obtemos: M= L(x) − L(2) L(x) − L(2) = 20cm = log x − log 2 log x2 Portanto: x + L(0) 2 Mas 2 é a origem da nossa escala; logo sua distância à origem da escala é L(2) = 0. As distâncias procuradas serão dadas pela expressão: µ ¶ x L(x) = 20 log (cm) 2 L(x) = 20 log 5 X log x/2 2 0 3 0,176 4 0,301 5 0,398 6 0,477 7 0,544 8 0,602 9 0,653 10 0,699 11 0,740 12 0,778 13 0,813 14 0,845 15 0,875 16 0,903 17 0,929 18 0,954 19 0,978 20 1,000 1.7 L(x) (cm) 0 3,5 6,0 8,0 9,5 10,9 12,0 13,1 14,0 14,8 15,6 16,3 16,9 17,5 18,1 18,6 19,1 19,6 20,0 Exercı́cios Resolvidos Utilizando a folha de papel mono-log de 3 décadas determine: 1. log 2 2. log e 3. log 20 4. log 3525 5. log 0,0148 6. ln 2 7. ln 20 8. ln 3525 9. ln 0,0148 Soluções: 1. log 2 = 25mm = 0, 30 84mm 2. log e = 36mm = 0, 43 84mm 3. log 20 = 110mm = 1, 31 84mm 4. log 3525 = log(3, 525 × 103 ) = 3 + 46mm = 3, 55 84mm 6 5. log 0,0148 =log(1, 48 × 10−2 ) = −2 + 14mm = −1, 83 84mm 25mm = 0, 69 36mm 110mm 7. ln 20 = = 3, 1 36mm 6. ln 2 = 84mm 46mm +3 = 8, 3 36mm 36mm 14mm 84mm 9. ln 0,0148 = ln(1, 48 × 10−2 ) = ln 1, 48 − 2 ln 10 = + = −4, 3 36mm 36mm 8. ln 3525 =ln(3, 525 × 103 ) = ln 3, 525 + 3 ln 10 = 1.8 Papel Logarı́tmico É utilizado para representar relações funcionais não lineares entre duas grandezas fı́sicas. Basicamente, existem dois tipos de papel logarı́tmico: * MONO-LOG: Neste papel, um dos eixos é uma escala logarı́tmica e o outro é uma escala linear. Este tipo de papel é utilizado quando a função a ser representada é do tipo: y = keax * LOG-LOG ou DI-LOG: Neste papel, ambos os eixos são escalas logarı́tmicas. Este tipo de papel é utilizado quando a função a ser representada é do tipo: y = kxa 1.9 Papel Mono-Log Aplicando logarı́tmo neperiano (base e) aos dois membros da relação y = kxa , obtemos: ln y = ln k + ax Que é uma relação linear entre ln y e x. Para se construir o gráfico, não há necessidade de calcular os valores de ln y. É suficiente marcar diretamente o valor y na escala logarı́tmica. O “coeficiente linear” da equação é obtido diretamente da ordenada y0 correspondente a x = 0: ln k = ln y0 Disso se conclui que: y0 = k O “coeficiente angular” da reta será dado pela relação: a= ln y2 − ln y1 x2 − x1 Lembrando que L1 = Me ln y1 substituindo na relação acima obtem-se: a= L2 − L1 Me (x2 − x1 ) portanto: ∆L Le (x2 − x1 ) onde ∆L = L2 − L1 e Le são obtidos diretamente do gráfico, bastando medir as distâncias correspondente com uma régua. a= 7 Referências [1] ABNT, Guia para a Expressão da Incerteza da Medição, Terceira Edição Brasileira, Agosto 2003. INMETRO: Rio de Janeiro. [2] VUOLO, J.H.(1995), Fundamentos da Teoria de Erros. 2a edição. Edgard Blücher: São Paulo. [3] STEMPNIAK, R.A.(1997), Noções Básicas sobre Medições Fı́sicas. Apostila, São José dos Campos. [4] INMETRO(1995). Vocabulário Internacional de Termos fundamentais e Gerais de Metrologia. Rio de Janeiro. [5] site da internet: http://www.fis.ita.br/labfis13/outros/principal.htm, link “modelo de relatório”, consultado em 06/07/2005. 8