Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 32 Bohr chegou aos mesmos resultados através da sua teoria. Este resultado é importante porque veio a confirmar a teoria da Mecânica Quântica de Schrödinger. A Figura 2.6 apresenta o potencial de Coulomb V(r) para o átomo de um electrão e os seus valores próprios En. A energia total do sistema é: E n K Veff . Espera-se que a maior probabilidade de encontrar o electrão esteja associada com a região permitida do movimento clássico, definida a partir da relação E n Veff 0 , porque E n Veff K é a energia cinética e K 0 sempre. Substituindo En e Veff obtemos: Z 2 e 4 Ze 2 l l 1 2 0 40 2 2 2 n 2 40 r 2r 2 (2.65) Figura 2.6. O potencial de Coulomb V(r) e os seus valores próprios En. Para valores grandes de n, os valores próprios tornam-se muito pouco espaçados em energia porque En se aproxima de zero quando n tende ao infinito. Observe que a intersecção de V(r) com En, que define a posição de um limite da região clássica permissível, move-se para fora quando n aumenta. A figura não ilustra o contínuo das energias positivas correspondentes aos estados não ligados. Igualo a equação a zero e a multiplico por 2 2 Z 2 e 4 r 2 40 2 2 4 n 2 Notas de Aula 2004/05 2r 2 : 2 2Ze 2 r 2 l l 1 0 40 rh 2 (2.66) Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. substituo Átomos de Um Electrão 33 40 2 a0 : e 2 Z 2 r 2 2Zr l l 1 0 a0 a02 n 2 (2.67) ou r2 2 a0 n 2 a n2 r 0 2 l l 1 0 Z Z (2.68) Esta equação é uma equação de segundo grau, cujas raízes são: r1, 2 a0 n n n 2 l l 1 2Z (2.69) e r está situado entre a raiz r1 e r2. Significa que num estado estacionário definido pelos números quânticos n e l, o electrão estará localizado com uma probabilidade máxima a n2 an numa região de largura r r1 r2 0 n 2 l l 1 em torno do valor rn 0 . Z Z Para n=1 e Z=1, rn=a0 e o electrão move-se numa região esférica bem definida pelo raio de Bohr. Figura 2.7. Região permitida do movimento clássico. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 34 É importante observar que enquanto os valores próprios do átomo de um electrão dependem somente do número quântico n, as funções próprias dependem de todos os três números quânticos uma vez que corresponde ao produto das três funções m Rnl, Pl u e m( ). O aparecimento dos números quânticos é uma consequência do facto de que a equação de Schrödinger independente do tempo contém três variáveis independentes, uma para cada coordenada espacial. Concluímos que os valores permitidos dos números quânticos, associados às soluções aceitáveis da equação de Schrödinger em coordenadas esféricas são: n = 1, 2, 3.... para E n Z 2 e 4 40 2 2 2 n 2 l 0,1,2,..., n 1 para L l l 1 m l ,l 1,...,0,...,l 1, l para (2.70) Lz m 2.6 Funções Próprias. Degenerescência. Densidade de Probabilidade. As funções próprias dão uma série de informações sobre as propriedades do átomo. As funções próprias do átomo de um só electrão são: nlm r , , Rnl r Pl|m| cos m (2.71) e satisfazem a equação de Schrödinger: 2 1 2 1 2 1 r 2 sin V r E 2 2 2 2 2 r r r r sin r sin (2.72) Em geral, para um determinado valor de n, temos vários valores possíveis para l e m, como já vimos em (2.70). Como a forma das funções próprias dependem de todos os números quânticos, poderá haver o caso em que funções próprias diferentes corresponderão a um mesmo valor de energia En, e uma vez que as funções próprias descrevem o comportamento do átomo, existirá estados com comportamentos totalmente diferentes, mas que têm a mesma energia total. A física chama a este fenómeno de degenerescência e a funções próprias correspondentes ao mesmo valor próprio são chamadas de degeneradas. A degenerescência ocorre tanto na mecânica clássica como na antiga teoria quântica a ela relacionada. Para as órbitas elípticas do átomo de Bohr- Sommerfeld, um electrão descreve órbitas diferentes, mas com a mesma energia total. O mesmo se passa com os sistemas planetários. Esta degenerescência clássica é comparável à degenerescência em l, que acontece no átomo de um electrão da mecânica quântica. A energia de um átomo de Bohr – Sommerfeld ou do sistema planetário também não Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 35 depende da orientação espacial do plano da órbita, o que corresponde a degenerescência m do átomo da mecânica quântica. Através de (2.70) podemos saber quantas funções próprias degeneradas existem para um átomo de um electrão isolado, correspondente a um valor particular de En. A partir da Tabela 2.1, que mostra todos os números quânticos possíveis para n=1, 2 e 3, concluímos que: Para cada n, existem n valores possíveis de l. Para cada valor de l, existem (2l+1) valores possíveis de m. Para cada valor de n, existe um total de n2 funções próprias degeneradas. Todas as funções próprias têm basicamente a mesma estrutura matemática, embora os polinómios em r e cos aumentem de complexidade para valores crescentes de n e l. A Tabela 2.2 mostra as funções próprias para até n = 3. Agora vamos extrair informações das funções próprias analisando as formas das funções densidade de probabilidade Pnlm r , , correspondentes. A probabilidade de encontrar um electrão, descrito pela função de onda nlm r , , , num elemento de volume dV r 2 drd é: Pnlm r , , dV = nlm r , , r 2 drd Rnl r Ylm , r 2 drd 2 2 (2.73) Tabela 2.1. Valores possíveis de l e m, para n=1,2,3. onde Ylm , = Pl|m| cos m , localiza o electrão dentro de um ângulo sólido 2 2 2 d sin dd , em torno da origem. Então: Pnlm r , , dV = Rnl r Pl|m| cos m r 2 drd 2 Notas de Aula 2004/05 2 2 (2.74) Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 36 A densidade de probabilidade é independente de , porque: m m m 2 * 1 im 1 im 1 e e 2 2 2 (2.75) * nlm é completamente especificado Logo, o comportamento tridimensional de Pnlm nlm pelo produto das funções radiais Rnl* r Rnl r Pnl r / 4 2 e pelas funções de Legendre associadas Pl | m| cos *lmlm . Esta última desempenha o papel de factor de 2 modulação relativamente à direcção. Veja Figura 2.8. Tabela 2.2. Algumas funções próprias do átomo de um electrão. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 37 Na Figura 2.8 ilustramos um exemplo da dependência da forma: lm lm Pl|m| cos 2 (2.76) Figura 2.8. Um gráfico polar que determina a dependência direccional da densidade de probabilidade do átomo de um electrão. (a) (b) Figura 2.9. Diagramas polares da dependência direccional das densidades de probabilidade do átomo de um electrão para: a) l=3, ml ( m) 0,1,2,3 b) l=0,1,2,3 e ml ( m) l. A densidade de probabilidade radial Rnl r r 2 representa a densidade electrónica em função de r ao longo de uma determinada direcção e a função de distribuição radial: 2 Pnl r dr Rnl r r 2 dr 2 (2.77) e corresponde a probabilidade de se encontrar o electrão entre r e r+dr. O volume compreendido entre as esferas é proporcional a r2. A Figura 2.10 mostra a densidade de probabilidade radial para os átomos de um electrão com n = 1, 2, 3. Podemos observar que para um dado conjunto pertinente de números quânticos, Pnl r só tem valores apreciáveis em intervalos relativamente reduzidos da coordenada radial. O electrão se encontrará provavelmente dentro de uma camada contida entre duas esferas concêntricas e centradas no núcleo e o raio característico desta camada é determinado Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 38 fundamentalmente pelo número quântico n, embora exista uma pequena dependência em l. Figura 2.10. Densidade de probabilidade radial para o electrão num átomo de um electrão para n=1,2,3 e valores de l indicados nos gráficos. Podemos caracterizar o raio da camada pelo cálculo do valor esperado: r nl 2 r Pnl dr Rnl r r 3dr (2.78) 0 Substituindo as funções radiais normalizadas obtemos: r Notas de Aula 2004/05 nl n 2 a0 1 l l 1 1 1 Z 2 n 2 (2.79) Ana Rodrigues