Prof. MSc. David Roza José [email protected] 1/32 Prólogo Veremos aqui processos associados à mudança de fase de um fluido. Em particular, considerarmos processos que ocorrem na interface sólido-líquido ou sólido-vapor; respectivamente ebulição e condensação. Nestes casos, os efeitos do calor latente associado à mudança de fase são significativos. A mudança de líquido para vapor devido à ebulição é sustentado por transferência de calor da superfície sólida; alternativamente, a condensação de um vapor para líquido resulta da transferência de calor para a superfície sólida. Como existe mudança de fase, a transferência de calor ocorre sem afetar a temperatura do fluido. Através da ebulição ou condensação, altas taxas de transferência de calor são atingidas com pequenas diferenças de temperatura. Além do calor latente hfg, outros dois parâmetros importantes caracterizam estes processos: tensão superficial – na interface líquido vapor; e a diferença de densidade entre as fases. Devido aos efeitos combinados do calor latente e da força de empuxo, ebulição e condensação possuem coeficientes muito mais altos que os associados à transferência de calor sem mudança de fase. Aplicações. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 2/32 Parâmetros Adimensionais Em diversos fenômenos da transferência de calor e mecânica dos fluidos, adimensionalizamos equações governantes para identificar grupos adimensionais importantes. Como é difícil desenvolver equações governantes para a ebulição e condensação, os parâmetros adimensionais apropriados podem ser obtidos ao se utilizar o Teorema de Pi de Buckingham. Para ambos os processos, o coeficiente de convecção depende da diferença entre a temperatura da superfície e a temperatura de saturação; da força de corpo oriunda da diferença de densidade entre o líquido e o vapor; do calor latente, da tensão superficial, de um comprimento característico e das propriedades termofísicas do líquido ou vapor: densidade, calor específico, condutividade térmica e viscosidade. Ou seja: Prof. MSc. David Roza José [email protected] 3/32 Parâmetros Adimensionais Como existem 10 variáveis e 5 dimensões (m, kg, s, J, K); existem então 5 grupos adimensionais, que podem ser apresentados da seguinte forma: Tal que Ja é o número de Jakob; Bo é o número de Bond; e o outro parâmetro lembra o número de Grashoff. O número de Jakob é a razão entre a energia sensível máxima absorvida pelo líquido/vapor e a energia latente absorvida pelo líquido/vapor durante a condensação/ebulição. O número de Bond é a razão entre a força de empuxo e a tensão superficial. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 4/32 Modos de Ebulição Quando a evaporação ocorre em uma interface sólido-líquido, é chamada de ebulição. O processo ocorre quando a temperatura Ts da superfície excede a temperatura de saturação Tsat correspondente à pressão do líquido. Calor é transferido da superfície para o líquido, de forma que: Ts-Tsat é chamado de temperatura em excesso. O processo é caracterizado pela formação de bolhas de vapor; que crescem e soltam-se da superfície. O crescimento e dinâmica das bolhas de vapor depende da temperatura em excesso, da natureza da superfície, das propriedades termofísicas do fluido. A dinâmica da formação da bolha de vapor afeta o movimento do líquido perto da superfície e altera fortemente o coeficiente de convecção. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 5/32 Modos de Ebulição Entre as várias condições que a ebulição pode ocorrer: Ebulição em Piscina – O líquido é quiescente e seu movimento próximo à superfície é devido à convecção livre e ao misturação induzida pelo crescimento e desprendimento das bolhas. Ebulição com Convecção Forçada – O movimento fluido é induzido por meios externos, assim como pela convecção livre e misturação induzida pelas bolhas. A ebulição também pode ser classificada em subresfriada ou saturada. Subresfriada – A temperatura de maioria da massa líquida está abaixo da temperatura de saturação e as bolhas formadas na superfície sólida podem condensar no líquido. Saturada – A temperatura do líquido está levemente acima da temperatura de saturação; e as bolhas formadas na superfície ascendem devido ao empuxo, escapando por uma superfície livre. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 6/32 Modos de Ebulição Ebulição em piscina saturada tem sido extensivamente estudada. Existe um grande aumento na temperatura do líquido próximo à superfície, mas maioria do líquido permanece com temperatura levemente acima da de saturação. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 7/32 Curva de Ebulição A curva de ebulição é uma maneira de compreendermos melhor os mecanismos físicos da ebulição. O experimento – de Nukiyama – que deu origem à curva é explicado. Fluxo de calor de um fio horizontal de nicromo imerso em água saturada é determinado através da medição da corrente I e da diferença de potencial E. A temperatura do fio é determinada do conhecimento de como sua resistência elétrica varia com a temperatura. Este arranjo chama-se de aquecimento com potência controlada. Assim, o excesso de temperatura é a variável dependente e o fluxo de calor é a variável independente. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 8/32 Curva de Ebulição No experimento foi observado que a ebulição – evidenciada pela presença de bolhas – não começou até a temperatura em excesso ser 5ºC. Com um maior aumento na potência, o fluxo de calor aumentou para níveis bastante altos até que subitamente, para um valor um pouco maior que q’’max, a temperatura do fio subiu para o ponto de fusão e a queima ocorreu. Entretanto, ao se repetir a experiência com um fio de platina (2045K vs 1500K), um fluxo de calor superior a q’’max pôde ser mantido sem a queima. Ao se reduzir a potência – e consequentemente a temperatura em excesso – a variação da temperatura em excesso com o fluo de calor seguiu a curva de resfriamento. Quando o fluxo de calor atingiu o ponto mínimo, q’’min, uma redução na potência fez a temperatura em excesso cair abruptamente, e o processo seguiu a curva original de aquecimento até o ponto de saturação. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 9/32 Curva de Ebulição A forma como o experimento foi feito, aquecimento com potência controlada, causou o efeito de histerese. Ao se refazer a experiência condensado vapor dentro de um tubo a diferentes pressões, foi possível controlar o valor do excesso da temperatura e encontrar o pedaço faltante da curva. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 10/32 Modos de Ebulição em Piscina Veremos os diversos modos de ebulição em piscina que explicam o formato da curva do experimento que foi realizado por Nukyiama. Os modos são: Ebulição com convecção natural Ebulição nucleada Ebulição no regime de transição Ebulição em filme (película) Prof. MSc. David Roza José [email protected] 11/32 Modos de Ebulição em Piscina Prof. MSc. David Roza José [email protected] 12/32 Ebulição com Convecção Natural Este modo ocorre quando: A temperatura da superfície deve estar acima da temperatura de saturação para gerar uma formação estável de bolhas. Conforme o excesso de temperatura aumenta, o desprendimento de bolhas irá ocorrer eventualmente; mas abaixo do ponto A – Início de Ebulição Nucleada – o movimento fluido é causado principalmente pelos efeitos da convecção livre. Nesta situação, para uma grande placa horizontal em regime turbulento, pode-se utilizar as correlações vistas anteriormente (Capítulo 9) para determinar o coeficiente de convecção. Equação 9.31. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 13/32 Ebulição Nucleada Este modo ocorre quando: Aqui, dois regimes distintos podem ser apontados: (i) Na região AB, bolhas isoladas se formam nos locais de nucleação e se separam da superfície. Esta separação induz mistura de fluido considerável próximo da superfície, aumentando substancialmente o h. Neste regime, maioria da troca de calor ocorre diretamente da superfície para o líquido em movimento, e não através das bolhas de vapor que se desprendem. (ii) Conforme a diferença de temperatura aumenta, entrando na região BC, mais locais de nucleação se tornam ativos e a grande formação de bolhas causa interferência e coalescência. Assim, o vapor escapa em jatos ou colunas que logo se unem para formar bolsões de vapor. A grande criação de bolhas inibe o movimento de líquido próximo à superfície sólida. Após o ponto P, o fluxo de calor aumenta mais morosamente conforme a Temp. Exc. Aumenta; até que se atinja o ponto onde q ’’max. Neste ponto, com uma alta formação de vapor, é difícil para o líquido molhar a superfície sólida. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 14/32 Ebulição Nucleada Como altas taxas de transferência de calor e coeficientes de convecção estão associados a baixos valores de excesso de temperatura, é desejável que equipamentos operem nesta região da ebulição nucleada. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 15/32 Ebulição no Regime de Transição Corresponde à região onde: Além do nome de Ebulição de Transição, também conhecida por Ebulição de Filme Instável ou Ebulição Parcial de Filme. A formação de bolhas é rápida o suficiente para gerar um filme (ou colchão) de vapor na superfície sólida. Em qualquer ponto da superfície a condição pode oscilar entre filme e ebulição nucleada; mas a fração da superfície total coberta por filme aumenta conforme o excesso de temperatura aumenta. Como a condutividade térmica do vapor é muito menor que a do líquido, h reduz conforme o excesso de temperatura aumenta. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 16/32 Ebulição em Filme (película) Esta região corresponde a: É caracterizada por um filme de vapor perene. No ponto D, também chamado de ponto Leidenfrost, o fluxo de calor é mínimo. Conforme a temperatura da superfície aumenta, a radiação através do filme de vapor torna-se mais significativa e o fluxo de calor aumenta conforme o excesso de temperatura aumenta. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 17/32 Pool Boiling Experiment Prof. MSc. David Roza José [email protected] 18/32 Leidenfrost Effect Prof. MSc. David Roza José [email protected] 19/32 Correlações Conforme dito anteriormente, para a região de Ebulição com Convecção natural, pode-se utilizar as correlações do Cap 9 para se calcular o coeficiente de convecção. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 20/32 Correlação – Ebulição Nucleada A análise deste tipo de correlação requer prever a quantidade de locais de nucleação e a taxa na qual as bolhas se originam em cada local. Apesar de mecanismos associados a este regime terem sido extensivamente estudados, modelos matemáticos completos e confiáveis ainda não foram desenvolvidos. Rohsenow desenvolveu uma correlação experimental que é bastante utilizada. Todos as propriedades são para o líquido, exceto a rho_v; e todas devem ser avaliadas em Tsat. O coeficiente Cs,f e o expoente n dependem da combinação sólido-fluido, e valores representativos são apresentados na Tabela 10.1 Valores para a tensão superficial e calor latente para a água estão na Tabela A.6; e para fluidos diversos na Tabela A.5 Prof. MSc. David Roza José [email protected] 21/32 Correlação – Ebulição Nucleada Prof. MSc. David Roza José [email protected] 22/32 Correlação – Ebulição Nucleada A correlação de Rohsenow pode ser aplicada somente para superfícies limpas. Ao se utilizar para estimar o fluxo de calor, os erros podem ser da ordem de 100%. Entretanto, ao se utilizar para estimar a temperatura em excesso, são da ordem de 33%. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 23/32 Correlação – Fluxo de Calor Crítico O fluxo de calor crítico representa um ponto importante na curva de ebulição. Deseja-se sempre operar próximo a este pronto, mantendo claro que existe um risco em se dissipar tanto calor assim. Uma correlação que independe da superfície do material e da geometria foi desenvolvida por Kutateladze e Zuber, dada por: Para grandes cilindros horizontais, esferas e muitas superfícies finitas aquecidas, C=pi/24; Para placas horizontais grandes, C=0.149. Esta equação aplica-se especialmente quando o comprimento característico L é grande em relação ao diâmetro das bolhas. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 24/32 Correlação – Fluxo de Calor Mínimo O regime de transição não possui nenhum interesse prático, e não existe nenhuma teoria desenvolvida para este tipo de regime, principalmente devido ao tipo de contato instável na interface fluido-superfície. Entretanto, o limite superior – dado pelo ponto de Leidenfrost – é de interesse porque caracteriza a formação de uma camada estável de vapor. Caso o fluxo de calor caia abaixo deste mínimo, a camada de vapor colapsa. C=0.09 , e todas as propriedades são avaliadas na temperatura de saturação. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 25/32 Ebulição em filme (película) Como as condições de uma camada estável de vapor se parecem bastante com aquelas da condensação de filme (que veremos na próxima aula), é normal basear correlações de ebulição nos resultados obtidos da teoria da condensação. No caso de ebulição num cilindro ou esfera de diâmetro D: C=0.62 para cilindros e C=0.67 para esferas. Todas as propriedades são avaliadas na temperatura de filme Tf = (Ts + Tsat)/2; enquanto rho_l e h_fg são avaliados na temperatura de saturação. O calor latente corrigido h’ leva em consideração a energia sensível necessária para manter as temperaturas dentro da camada de vapor acima da temperatura de saturação, e pode ser aproximado por. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 26/32 Ebulição em filme (película) Em temperaturas de superfícies elevadas (temp. acima de 300ºC), o calor oriundo da radiação através do vapor de filme torna-se significativo. Como a radiação age para aumentar a espessura do filme, não é razoável supor que o processo radiativo e convectivo são simplesmente somados. Uma equação transcedental pode ser utilizada para se calcular o coeficiente de convecção efetivo. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 27/32 Efeitos Paramétricos na Ebulição em Piscina Alguns parâmetros possuem efeitos na ebulição em piscina. A gravidade é um deles; e deve ser considerada em aplicações no espaço e em máquinas rotativas. A influência da rugosidade superficial é insignificante para os fluxos máximo e mínimo de calor; e também para a ebulição em filme. Entretanto, ela é significativa para o regime de ebulição nucleada. O aumento da rugosidade superficial pode aumentar significativamente a transferência de calor durante a ebulição nucleada. Uma superfície bastante rugosa possui bastantes cavidades que servem para aprisionar o vapor, além de fornecer mais locais para nucleação e crescimento de bolhas. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 28/32 Efeitos Paramétricos na Ebulição em Piscina Determinados arranjos especiais podem fornecer um aumento estável de ebulição nucleada, e estão disponíveis comercialmente. Existem dois tipos: (1) Revestimentos de material poroso formado por sinterização, deposição eletrolítica, brasagem, etc; (2) Cavidades duplamente reentrantes feitas por usinagem ou outros processos de remoção de material, de forma a garantir aprisionamento contínuo de vapor. Estas superfícies provém uma renovação continua de vapor nos locais de nucleação; acarretando num aumento de transferência de calor mais de uma ordem de grandeza maior. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 29/32 Ebulição em Convecção Forçada Na ebulição em piscina, o escoamento fluido deve-se principalmente ao movimento das bolhas – guiado pelo empuxo – que se originam na superfície aquecida. Na ebulição em convecção forçada, o escoamento deve-se ao movimento forçado do fluido, além dos efeitos do empuxo. As condições dependem fortemente da geometria, que podem envolver escoamento interno ou externo forçado. O escoamento interno é comumente chamado de escoamento bifásico, caracterizado por mudanças súbitas de líquido para vapor na direção do escoamento. Prof. MSc. David Roza José [email protected] 30/32 Ebulição em Convecção Externa Forçada Para convecção externa sobre uma placa plana, o fluxo de calor pode ser estimado por correlações de convecção até o início da nucleação. Conforme a temperatura da placa aumenta, ebulição nucleada ocorrerá, o que fará o fluxo aumentar. Para um líquido em escoamento cruzado a uma velocidade V sobre um cilindro de diâmetro D, Lienhard e Eichhorn desenvolveram uma expressão para baixa e alta velocidade de escoamento; tal que as propriedades são avaliadas na temperatura de saturação. BV AV Prof. MSc. David Roza José [email protected] 31/32 Ebulição em Convecção Externa Forçada A condição para alta e baixa velocidade são determinadas por Prof. MSc. David Roza José [email protected] 32/32