ALIMENTAÇÃO NO FAXINAL DOS MARMELEIROS, REBOUÇAS (1960-1980) Rosemari Patczyk (PIBIC/CNPq/UNICENTRO-Irati) Valter Martins (Orientador) e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro Oeste/Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes (SEHLA) Irati – PR Palavras-chave: faxinal, alimentação, povos tradicionais Resumo Esse trabalho apresenta aspectos das práticas alimentares dos moradores do Faxinal dos Marmeleiros, situado no Município de Rebouças, PR. Entre esses aspectos destacam-se os alimentos mais consumidos: os cotidianos, os de dias de festa; como são preparados; por quem; que utensílios são utilizados e sua origem: se comprados ou produzidos em casa. A alimentação dos faxinalenses nessa pesquisa é abordada e compreendida a partir da perspectiva da História Cultural e Social. Introdução Os alimentos, não apenas enquanto algo que nutrem o corpo mas a “alma” dos homens, que os reúnem em torno de uma mesa em casa, em um restaurante, em uma festa ou em outro lugar, têm sua história. Uma história que rompe as artificiais fronteiras do conhecimento, misturando, como em uma receita elaborada e complexa, ingredientes como economia, antropologia, dietética, culinária e mesmo a medicina. Nunca se falou tanto em alimentação como na atualidade. A boa alimentação é tida e havida como sinônimo de boa saúde. Uma verdadeira guerra midiática é travada divulgando pesquisas médicas condenando ou redimindo esse ou aquele alimento. Mas o que dizer sobre as comunidades rurais conhecidas como faxinais? Como a alimentação é vista, obtida e elaborada por sua população? Que influências alimentares externas à comunidade foram ou não incorporadas ao seu cardápio cotidiano? Quais alimentos se revestem de um caráter simbólico? Questões multidisciplinares que essa pesquisa busca responder. Materiais e Métodos Essa pesquisa localiza-se espacialmente no Faxinal dos Marmeleiros, mais precisamente no Faxinal dos Marmeleiros de Baixo, localizado na área rural do município de Rebouças, região centro-sul do Paraná. Seu desenvolvimento ocorreu, do ponto de vista teórico, a partir dos pressupostos da História Cultural e Social, com o apoio das técnicas da História Oral. Esse recurso foi necessário para analisar a temática da alimentação nessa comunidade tradicional, uma vez que a bibliografia específica sobre os faxinais ainda é bastante reduzida. A utilização desse método pressupõe a realização de entrevistas com pessoas escolhidas por seu destaque na vida local, pautadas por um questionário previamente elaborado e com a gravação das mesmas para posterior transcrição e análise. Resultados e Discussão A pesquisa no Faxinal dos Marmeleiros revelou que muitas mudanças tem ocorrido nas práticas alimentares de seus habitantes, especialmente a partir da chegada da eletricidade, televisão e dos alimentos industrializados. Mesmo assim, muitas permanências poder ser observadas como o cultivo de verduras e legumes nas hortas que são uma extensão das moradias. O consumo de carne é garantido pela criação de animais no regime de compáscuo, que caracteriza o Sistema de Faxinal e é diretamente associado à alimentação e ao uso comum da terra. Técnicas de cultivo utilizando ferramentas manuais, tração animal e o uso de alimentos frescos ou conservados por métodos tradicionais como salga, defumação, conservas e doces continuam presentes no cotidiano dos faxinalenses que mantém a fabricação da cerveja caseira. A agricultura de subsistência permite aos faxinalenses relativa segurança alimentar mesmo em situações financeiras desfavoráveis. A alimentação no faxinal é simples, variada e seu preparo é geralmente realizado pelas mulheres mas quando se trata da carne os homens assumem seu papel no abate, divisão e preparo, geralmente assada quando se trata de festa. Bovinos, suínos e aves constituem o rebanho desses trabalhadores rurais que vendem pequenos excedentes para comprar o que não produzem. Conclusões Mesmo com o avanço da agricultura mecanizada, dos alimentos industrializados e do consumismo disseminado principalmente pela televisão, os habitantes do Faxinal dos Marmeleiros, município de Rebouças, Paraná, ainda preservam práticas de cultivo e alimentação que remontam há muitas décadas. Essas práticas estão sendo incentivadas entre os faxinalenses, aliadas a um discurso voltado para a produção de alimentos orgânicos, utilização de sementes crioulas e a preservação das matas e sua biodiversidade. A associação de uma prática antiga e um discurso “ecológico” bastante atual tem sido uma das bandeiras de luta e organização dos faxinalenses para defender os direitos desses povos tradicionais do sul do Brasil. Agradecimentos Agradeço ao Prof. Dr. Valter Martins pela orientação. Referências BRILLAT-SAVARIN, J. A. A fisiologia do gosto São Paulo: Companhia das Letras, 1995. CAMPORESI, P. Hedonismo e exotismo São Paulo: Editora da UNESP, 1996. CÂNDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito São Paulo: Duas Cidades, 1977. CARNEIRO, H. Comida e sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CASCUDO, C. História da alimentação no Brasil Belo Horizonte: Itatiaia, 1983. FERREIRA, M. de M. e AMADO, J. (orgs.) Usos & abusos da História Oral Rio de Janeiro: FGV, 1996. FLANDRIN, J.L.; MONTANARI, M. História da Alimentação São Paulo: Estação Liberdade, 1998. LE GOFF, J. História e memória Campinas: Editora da UNICAMP, 1996. MENDRAS, H. 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