depressão como mal-estar contemporaneo

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DEPRESSÃO COMO MAL-ESTAR CONTEMPORÂNEO
NASCIMENTO, Nilva Teresinha Gonçalves do Nascimento2;
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Depressão como Mal-Estar Contemporâneo;
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Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia;
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Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) , Santa Maria, RS, Brasil;
E-mail:[email protected].
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo averiguar os principais aspectos da depressão. Através
de uma pesquisa bibliográfica, verificar como este fenômeno está sendo pensado na clínica
psicanalítica contemporânea, dando também importância para as formas de sofrimento psíquico
correlacionadas com a nossa cultura acelerada, do narcisismo e da lógica do espetáculo. Este escrito
pretende dar suporte ao que desde os primeiros atendimentos nos estágios curriculares do curso de
Psicologia da Universidade ULBRA SM, tem nos feito pensar e nos perguntar, de que forma a clínica
psicanalítica tem acompanhado as recorrentes queixas dos pacientes de um sentimento de vazio
para viver.
Palavras-chaves: Depressão; Clínica Psicanalítica, mal-estar contemporâneo.
1. INTRODUÇÃO
Um assunto atual que torna-se importante conhecer a história, o contexto social e as
variações do olhar clínico e social sobre o mesmo, para que os paradigmas nos quais a
prática do profissional está baseada se tornem explícitos.
O interesse pelo tema apareceu nos primeiros atendimentos clínico dos estágios
específicos, desde então busquei apoio na bibliografia, a minha leitura suscitou minha
escrita. Busco entender um pouco mais sobre esse tema que é inerente ao nosso fazer não
só na clínica mas em todos lugares que o nosso saber for solicitado.
Promover questionamentos, é justamente esse movimento a que nos propomos
durante essa escrita. Pensar nas novas formas de sintoma na atualidade, a qual o sujeito
esta organizado e o lugar que a clínica oferece como suporte para o sofrimento psíquico?
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Assim como muitos autores ao se referirem à depressão fazem alusão a um vazio, uma falta
de vontade, de coragem, de forças na queixa dos pacientes, me pergunto o que tais termos
nos apontam para essa questão eminentemente contemporânea?
2. UM POUCO DA HISTÓRIA...
A fenomenologia do termo depressão como novo sofrimento psíquico passa pela
investigação psiquiátrica e pela dimensão da psicanálise.
O termo depressão, foi inicialmente usado no século XVIII na medicina, para designar
um estado fortemente conexo à melancolia, mas que estendia-se
para um estado de
tristeza geral da mente, de um ser abatido e consternado. No século XIX, a psiquiatria
moderna, consolidou a ampliação do uso desse termo nos quais as depressões
configuraram-se sob os nomes modernos de doenças afetivas ou distúrbios de humor.
(DELOUYA, 2010)
Já na psicanálise a partir de 1895, o fenômeno depressivo será, iluminado quase
exclusivamente, em relação a um quadro patológico demarcado pela melancolia, desde
então sua definição e elucidações serão elaboradas, em relação ao luto, uma análise sobre
o luto e a melancolia. A melancolia, definida por Freud a partir de 1923 como neurose
narcísica, foi um desenvolvimento associado a introdução do narcisismo, depois da histeria,
talvez a maior repercussão na psicanálise pós-freudiana. (DELOUYA, 2010)
Na década de 1950, os antidepressivos foram descobertos, ocasionando um avanço
para o tratamento da depressão. Os mecanismos de ação mantêm relação com os
neurotransmissores, porém ainda não há pesquisas conclusivas confirmando quais são os
neurotransmissores que regulam as emoções. A preocupação atual com o diagnóstico é
muito grande, porém pesquisas demonstram que, em média, 50% das pessoas que chegam
à rede básica de saúde com sintomas de depressão não recebem diagnóstico e tratamento
corretos. ( MACHADO et al.,2007)
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2.1 Depressão hoje
As estatísticas são alarmantes: em 1970, havia cerca de cem milhões de deprimidos no
mundo; trinta anos mais tarde chegam, talvez a um bilhão. A Organização Mundial de Saúde
prevê para os próximos anos, que a depressão seja um dos dois grandes problemas de
saúde pública, podendo mesmo ultrapassar as doenças cardiovasculares. Apesar da
dificuldade em definir a depressão, há um consenso em considerá-la a doença do homem
contemporâneo, a doença da atualidade (PERES, 2010).
Como escreve Porto (1999) o termo depressão, na linguagem corrente, tem sido
empregado para designar tanto um estado afetivo (tristeza), quanto um sintoma e uma , ou
várias doenças. A tristeza constitui-se na resposta humana universal ás situações de perda,
derrota, desapontamento e outras adversidades. Enquanto sintoma, a depressão pode
surgir nos quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático,
demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas.
Ainda, Porto (1999) enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do
humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também
uma gama de outro aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas
(sono e apetite). E enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na
dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado.
Na literatura atual: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante
do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc...
Kehl (2009), acha importante diferenciar a depressão tanto dos episódios depressivos
quanto dos casos prolongados ou intermináveis de luto, mas acha mais importante abrir
espaço, no terreno da psicanálise, para outro entendimento a respeito daqueles que,
excluídos do diagnóstico da melancolia, se apresentam ao psicanalista como depressivos
crônicos. Diz ainda que se a psicanálise não reconhecer as particularidades deste estado só
resta a estes depressivos recorrer, de forma igualmente crônica, aos tratamentos
medicamentosos.
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Para Delouya (2010) , a depressão assim como a dor e a angústia, denota um estado
afetivo, porém privado, ou que, talvez prive o sujeito das qualidades e figuras singulares que
animam e dotam o afeto de sua especificidade. Considera a depressão uma patologia se a
entendermos não como termo médico, de doença, mas como um atributo da
impossibilidade, de exercer ou possuir algo que é fundamental para o viver humano. O
ponto crucial é que o contexto psicanalítico perderia todo seu sentido se a depressão não
fosse contemplada como fenômeno unitário.
2.2 Depressão como sintoma social
Ao analisar o aumento significativo das depressões como sintoma do mal-estar social no
século XXI significa dizer que sofrimento dos depressivos funciona como sinal de alarme
contra aquilo que faz água na grande nau da sociedade maníaca em que vivemos. Que
muitas vezes as simples manifestações de tristeza sejam entendidas como depressões
graves só faz confirmar essa idéia. A tristeza, os desânimos, as simples manifestações da
dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta na euforia como valor
agregado a todos os pequenos bens em oferta no mercado ( KEHL, 2009).
Constata-se, nesse âmbito, que a crença narcísica aparece hoje, muitas vezes, como via
privilegiada de relação com o outro, bem como de organização no mundo deflagrando.
Dentre as mudanças ocorridas, podemos ressaltar a remodelação dos valores tradicionais, a
substituição da moral dos sentimentos pela moral sensorial, a substituição das relações de
proximidade real pelas relações de intercâmbio virtual e a proliferação das patologias
corporais (FREIRE, 2004).
2.3 O tempo no contexto da depressão
Do direito à saúde e à alegria passamos à obrigação de ser felizes. A tristeza é vista
como uma deformidade, um defeito moral. Ao patologizar a tristeza, perde-se um importante
saber sobre a dor de viver. Aos que sofreram o abalo de uma morte importante, de uma
doença, de um acidente grave, a medicalização da tristeza ou do luto rouba ao sujeito o
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tempo necessário para superar o abalo e construir novas referências, e até mesmo outras
formas de vida, mais compatíveis com a perda ou com a eventual incapacitação (KEHL,
2009).
Segundon Ramalho(2001) atualmente se vive no presente, apenas no presente e não em
função do passado e do futuro, essa perda do setido de continuidade histórica, essa erosão
do sentimento de pertença a uma sucessão de gerações enraizadas no passado e
prolongando-se no futuro. A nossa sociedade baseia-se na produção em massa e no
consumo em massa, estimulando uma incrível atenção às imagens e impressões
superficiais e tornando as pessoas frágeis e dependentes do olhar do outro. Diz ainda haver,
uma substituição do predomínio de referenciais simbólicos pela proliferação de imagens
propostas enquanto ideais identificatórios.
Costa (2004) diz ainda exister uma angústia frente às perdas dos valores, o mundo
estaria dividido entre esses valores a serem preservados e a moral do espetáculo, em que a
imagem do corpo é o centro das atenções. Os sintomas corporais resultam do conflito entre,
de um lado, incorporar e manter a imagem narcísica propagada pela mídia e, de outro,
manter o sentimento de continuidade.
Kehl (2009) o próprio fato de a mãe estar incluída na temporalidade acelerada da vida
contemporânea faz com que ela se apresse, automaticamente, a atender da forma mais
eficiente possível aos apelos da criança. Mães excessivamente preocupadas com seu
desempenho e angustiadas com o pouco tempo que poderão dedicar a seus bebês, tende a
abreviar o tempo vazio necessário para instaurar o trabalho psíquico, de representação do
objeto de satisfação.
2.4 O depressivo na clínica psicanalítica
Que lugar o desejo ocupa no sujeito depressivo se é que existe, e como a psicanálise
pode lidar com esse impasse? Qual suporte oferecer, para dar conta da falta, do vazio que
tanto se questiona.
Delouya (2010) escreve que a psicanálise situa a sensibilidade depressiva no momento
constitutivo da configuração do objeto, ocorrendo conjunta e concomitantemente à do eu, do
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sujeito. A depressão eclode, segundo essa concepção, coma consciência de ser separado
da mãe ou com a perda progressiva dela, na esteira do nascimento do sujeito, do eu e o
conseqüente reinvestimento de si. A superação ou a vulnerabilidade a esse estado
dependerão, em primeiro lugar, da mãe, da sua disponibilidade para com a criança desde os
primeiros momentos da vida, e conseqüentemente, do trabalho de luto posterior.
Siqueira (2006) considera que a depressão é o oposto do desejo. Enquanto o sujeito
deprimido cede de seu desejo, a psicanálise começa por ajudá-lo a sair desse estado de
letargia, efeito de evitar a falta. Escreve que não há como falarmos em desejo sem
considerar a falta, a angústia, enfim, o mal-estar, que está sempre presente para o ser
falante, que ao falar, reencontra continuamente a falta.
Para Birman (2000) o desejo implica o Outro, o descentramento, no entanto, tem
tomado o sentido contrário, o autocentramento e a volta para si mesmo. A alteridade e a
intersubjetividade são modalidades de existência que foram deixadas de lado, o que por
conseqüência levou o sujeito ao esvaziamento e ao silêncio. O sujeito vazio e silencioso faz
com que o individualismo e as relações sociais descartáveis sejam tratados como naturais
nas vidas dos indivíduos. Entretanto, o autor também pontua a existência de outros modos
de subjetivação, em que o sujeito se vê em meio a valores totalmente opostos, como valores
de interioridade e exterioridade. Essa oposição de valores é um dos fatores que também
acabam por levar o sujeito ao esvaziamento, pois implica a perda de limites entre o eu e o
outro.
Lambote (2001) chama a atenção para a tomada em tratamento, acha que a
dificuldade, de cert modo, é a de não apoiar ou causionar o que o melancólico está dizendo,
no sentido em que tudo o que ele diz, "não tem sentido", a verdade não existe, etc".Escreve
que se concordar com ele ou se o confortar no que está dizendo, que bloquearemos e
fecharemos o único ponto, o único apelo, a única abertura que ele se permitiria manifestar
em presença do analista.
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3. CONCLUSÃO
Encerro meu trabalho ainda com muitas indagações, faltando muitas respostas, ainda
bem, pois não era essa a minha pretensão. Por ser um tema extenso, teorias diversas e
relacionado com outros estados emocionais, fica difícil a delimitação, acredito ter sido essa
a minha maior dificuldade. No entanto busquei fazer um caminho mais superficial com
autores que tivessem uma experiência clínica e que nos oferecessem assim, um aparato
teórico atual.
Sabe-se que a psicanálise não tem resposta para todas as questões da atualidade, mas
o fato de estar aberta a escutar e acolher a dor do sujeito contemporâneo, penso que ela
pode ser reinventada, para lidar com os novos sintomas. Assim como o profissional pautado
pela ética psicanalítica pode estar disposto a compreender as novas subjetivações, as
novas singularidades e permitir que os pacientes sejam protagonistas de suas próprias
histórias e vivam de forma autêntica.
REFERÊNCIAS
BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. 3.
ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
COSTA, Jurandir Freire: O Vestígio e a Aura: corpo e consumismo na moral do espetácvulo.
-Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
DELOUYA, Daniel. Depressão. - 5 ed. - São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. (coleção
clínica psicanalítica.
KEHL, Maria Rita. O Tempo e o Cão: a atualidade das depressões.- São Paulo: Boitempo,
2009.
LAMBOTTE,Marie-Claude. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre/Associação
Psicanalítica de Porto Alegre.-20,.2001.-Porto Alegre: APPOA,1995.
MACHADO, Ana Lúcia et al. Depressão, o Mal do Século: de que século? Rio de Janeiro,
2007.
PERES, Urania Tourinho. Depressão e Melancolia. - 3 ed. - rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2010.
PORTO, José Alberto Del. Revista Brasileira de Psiquiatria.vol.21 s.1 São Paulo, 1999.
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RAMALHO,Rosane Monteiro. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre/
Associação Psicanalítica de Porto Alegre.-20,.2001.-Porto Alegre: APPOA,1995.
SIQUEIRA, Érica de Sá Earp. Pesquisadora do Prograa de Mestrado em Pesquisa e Clínica
em Psicanálise do Instituto de Psicologia da UERJ, 2006.
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