Estudo de caso OS EFEITOS DO MÉTODO ISOSTRETCHING NA FLEXIBILIDADE DO PACIENTE PORTADOR DE ESCOLIOSE IDIOPÁTICA THE EFFECTS OF ISOSTRETCHING METHOD IN FLEXIBILITY PATIENT SUFFERING FROM IDIOPATHIC SCOLIOSIS Aline Fretta de Sá* Inês Alessandra Xavier Lima** ................................................................................................................................................... *Acadêmica do curso de fisioterapia da Universidade do sul de Santa Catarina – UNISUL **Professora Especialista do curso de fisioterapia da Universidade do sul de Santa Catarina – UNISUL RESUMO As alterações posturais como a hipercifose, hiperlordose cervical e lombar e escoliose interferem na qualidade de vida do indivíduo adolescente de maneira insidiosa, pois este período está relacionado com a instalação, desenvolvimento e acentuação das alterações posturais. Na presente pesquisa aplicou-se o método Isostretching para tratamento fisioterapêutico de um paciente adolescente, do sexo masculino, portador de escoliose idiopática, tendo como proposta a análise da flexibilidade pré e pós intervenção fisioterapêutica através de avaliação postural sob o princípio das cadeias musculares com registros fotográficos, além de testes específicos como o teste de elevação da perna reta, teste sentar e alcançar (banco de Wells), teste de inclinação lateral e cálculo do ângulo de Cobb. Os resultados foram analisados através de estatística descritiva por meio de figuras e quadros. Após o tratamento verificou-se melhora do alinhamento postural, como a diminuição da hiperlordose e hipercifose e realinhamento das escápulas e da cabeça. Pôde-se observar a diminuição das retrações das cadeias musculares, aumento da flexibilidade com conseqüente aumento do alongamento e força dos músculos isquiotibiais e espinhais do tronco, músculos estes que fazem parte da cadeia posterior. Foi provado que o método utilizado num período de um mês não reduziu as curvas escolióticas, porém com o aumento da flexibilidade e liberação das retrações das cadeias musculares houve diminuição do grau de rotação das vértebras L3 e L4, retardando desta maneira a instalação e desenvolvimento da escoliose. A conscientização corporal e respiratória também foram proporcionadas ao sujeito. Palavras-chave: escoliose, Isostretching, flexibilidade ABSTRACT Posture alterations such as hyperkyphosis, cervical and back hyperlordosis and scoliosis interfere insidiously in the teenage induvidual’s quality of life, for this period is related to installation, development and increase in posture alterations. In this research the Isostretching method for physiotherapeutic treatment of a male teenage patient suffering from idiopathic scoliosis. The proposal is to carry out the flexibility analysis in pre and post physiotherapeutical intervention through posture evaluation under the principle of muscular chains with photographic records, besides specific testing such as straight leg rising, sitting and reaching (Wells bench), lateral inclination, besides Cobb angle calculation. The results were analysed through descriptive statistics, by means of figures and tables. After treatment, improvement of posture alignment was verified, with decrease of hyperlordosis and hyperkyphosis, realignment of scapulas and head. Decrease of muscular chain retraction could be observed, along with increase in the flexibility with consequent increase in stretching and force of trunk isquithtibial and spine muscles, which are part of the posterior chain. The method was proven not to reduce scoliotic curves whithin the period of a month, but as flexibility and liberation of retraction in the muscular chain was achieved, L3 And L4 vertebra rotation angle decreased, retarding installation and development of scoliosis. Bodily and breathing consciousness were gained by the subject. Key-Words: scoliosis, isostretching, flexibility INTRODUÇÃO Crianças e adolescentes em fase de crescimento permanecem grande parte de seu tempo realizando suas atividades em posição estática, sentadas por longos períodos, seja na sala de aula, em atividades extra-curriculares e em casa. Posturas inadequadas durante períodos prolongados de tempo, quando não corrigidas, podem tornar-se maus hábitos, levando eventualmente o indivíduo ao desenvolvimento de alterações posturais. Estudos comprovam que existe uma grande variação fisiológica na postura e na mobilidade da coluna durante o crescimento e que o período de estirão de crescimento na adolescência está correlacionado com o desenvolvimento e acentuação de desvios posturais. (BRACCIALI, 2000). Na escoliose, as curvaturas da coluna vertebral provocam uma mudança na biomecânica corporal resultando em desequilíbrios de força muscular e flexibilidade. Na escoliose tridimensional caracterizada, as vértebras inclinam-se no plano frontal, giram no plano axial (onde os processos espinhosos se voltam para a concavidade) e colocam-se em póstero-flexão no plano sagital (anulação/diminuição da cifose torácica). (SOUCHARD; OLLIER, 2001, p. 17). A etiologia é desconhecida em 70-75% dos casos de escoliose. Tribastone (2001). Escoliose essencial ou idiopática: não tem causa imediatamente aparente, mas, segundo Souchard e Ollier (2001), um ponto pode estar acertado: têm origem hereditária multifatorial (as formas familiares podem atingir 43%). O Isostretching é um método de ginástica para a coluna, que vem sendo divulgado no Brasil desde 1994. Este método favorece a atividade postural, melhorando a flexibilidade, prevenindo e/ou corrigindo posturas habituais defeituosas e possibilitando a realização de alongamento, fortalecimento e conscientização corporal. Portanto, as características do referido método lhe conferem um importante papel na prevenção do aumento e adaptação da curvatura escoliótica. A escolha deste recurso como base de tratamento fisioterapêutico aconteceu pelo fato de o mesmo provocar-me curiosidade diante dos resultados na correção e modificação da atitude postural, comprovado em estudos já publicados, melhorando a qualidade de vida do paciente portador de alteração postural. A diversidade das posturas que compõem o método, o esforço voluntário e concentração do paciente exigidos durante o tratamento são aspectos atraentes. Deste modo, o objetivo da pesquisa foi mostrar os efeitos do método Isostretching na flexibilidade do paciente portador de escoliose idiopática. Foram levantados dados sobre desconfortos corporais, identificação das cadeias musculares comprometidas e grau de flexibilidade do paciente pré e pós intervenção fisioterapêutica, além da graduação da curvatura escoliótica e posicionamento vertebral. METODOLOGIA 1- Tipo de pesquisa A pesquisa foi um estudo de caso, de natureza experimental, sendo uma variação do plano clássico apresentando pré e pós-teste sem grupo controle. 2- Caracterização do sujeito Indivíduo adolescente, sexo masculino, 13 anos de idade, portador de escoliose idiopática de grau leve confirmado por diagnóstico médico, residente no município de Tubarão- Santa Catarina. A escoliose em questão é classificada como “escoliose torácica esquerda e tóraco-lombar a direita.” 3- Instrumentos Radiografias panorâmicas P.A. (póstero-anterior), e segmentadas da coluna vertebral, máquina fotográfica digital MAVICA-MVC-FD75, para registro de fotos digitais na avaliação postural e testes de flexibilidade, negatoscópio Konex para visualização das radiografias, fita Métrica, bastão, colchonete, maca, goniômetro, escala de desconforto para as diferentes partes do corpo, protocolo de avaliação global da postura, constando os seguintes testes: teste de Adams teste de flexibilidade – sentar e alcançar, teste para revelar o encurtamento dos músculos da cadeia anterior e posterior, teste de flexão da coluna lombar com medição da distância do dedo médio ao chão e teste de inclinação lateral da coluna. Foram realizados também o cálculo do ângulo de Cobb e grau de rotação vertebral. PROCEDIMENTOS No momento pré intervenção fisioterapêutica foi realizada a coleta de dados na Clínica Escola de Fisioterapia, além de trabalho de reeducação respiratória. Os procedimentos foram os seguintes: - Análise da radiografia panorâmica da coluna vertebral na incidência P.A, a fim de avaliar os ângulos escolióticos, através da medida do ângulo de Cobb, e o grau de rotação vertebral; - Medição e pesagem do paciente; - Posicionamento do paciente para avaliação e registro fotográfico. A distância do paciente em relação à parede foi de 40 cm, e a máquina fotográfica digital estabilizada pelo terapeuta, foi posicionada a 3 m do plano de análise. O registro fotográfico para a subsequente análise deu-se nas posições anterior, posterior, perfil esquerdo e perfil esquerdo com tronco fletido. O paciente estava vestido apenas com calção, possibilitando a visualização total das cadeias musculares. - Aplicação do protocolo de avaliação global da postura pré-tratamento, onde foram obtidas informações necessárias para a detecção e confirmação do desvio da coluna vertebral no plano frontal; No teste de flexibilidade Sentar-alcançar utilizando o banco de Wells, foi utilizada a média dos resultados. Os demais testes foram realizados conforme descrito anteriormente. - Reeducação respiratória: com uma linguagem simples, o paciente foi orientado na posição em pé, a realizar respiração diafragmática, bloqueando a respiração apical ou costal superior. O mesmo realizou uma inspiração pelo nariz, de modo a levar todo o ar diretamente ao abdômen, “empurrando” o umbigo para fora, manter flexão de joelhos com rotação externa, rodar a pelve no sentido da retroversão, contrair as nádegas e “empurrar” o umbigo para dentro no momento da expiração. O posicionamento da pelve e a reeducação respiratória são pré-requisitos na realização do método Isostretching, Para tanto, é necessário desenvolver atenção e concentração para efetividade da técnica. A partir da avaliação inicial, foi traçado o plano de intervenção fisioterapêutica baseado na técnica Isostretching, descrita por Redondo (2001), adequado ao quadro identificado. O programa de tratamento foi composto por duas sessões semanais, com o tempo de 50 minutos cada, por um período de 1 mês, período este baseado no tempo de tratamento padrão utilizado na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL, totalizando 11 sessões, sendo que a primeira foi realizada para coleta de dados e reeducação diafragmática. Durante este período de trabalho, o paciente foi orientado a não participar de outra forma de tratamento fisioterapêutico. O plano de tratamento foi constituído de posturas sentada, em pé e deitada. No início do programa de tratamento, foram escolhidas em média 12 posturas. Posteriormente, a partir da quarta sessão, passaram a ser realizadas de 15 a 20 posturas, evidenciando assim, maior tolerância ao alongamento e adaptação às posturas por parte do sujeito Por fim, no momento pós intervenção fisioterapêutica, foi novamente aplicado o protocolo de avaliação global da postura seguindo os procedimentos utilizados na avaliação pré intervenção fisioterapêutica, além de registro fotográfico, a fim de analisar a retração das cadeias musculares, na posição perfil esquerdo com tronco fletido. Nesta etapa foi realizada reavaliação dos ângulos de Cobb e do grau de rotação vertebral através de uma radiografia segmentada da coluna vertebral na incidência P.A. A partir dos instrumentos reaplicados após o tratamento pôde-se comparar os dados pré e pós intervenção fisioterapêutica. DISCUSSÃO 1- Primeiramente foi realizada a análise postural nas vistas anterior, lateral e posterior. Na análise pré intervenção fisioterapêutica referente à vista anterior (figura 1), a cabeça do indivíduo mostrouse inclinada à D, ombro E apresentou-se elevado em relação ao ombro D e MMSS em rotação interna. O triângulo de Tales mostrou uma acentuação muito leve à D, levando em consideração a existência de uma escoliose torácica com convexidade à esquerda (compensatória), há uma tendência de inclinação de tronco para o lado D podendo aumentar a distância membro superior direito (MSD) e tronco. No pós intervenção fisioterapêutica os resultados foram pouco significativos quanto a simetria corporal, uma vez que a cabeça e o ombro apresentaram diminuição das alterações citadas acima. Quanto ao nível das cristas ilíacas, joelhos, arcos plantares e antepés mostraram-se sem alterações antes e após o tratamento. Os dados coletados referentes à análise postural mostram resultados mais evidentes na vista lateral, sugerindo melhora da simetria corporal nesta vista. Na análise pré intervenção fisioterapêutica referente a essa vista (figura 2), a cabeça mostrou-se protrusa ou anteriorizada com ombros e abdômen também protrusos. Quanto ao tronco e coluna vertebral observou-se a presença de hiperlordose lombar, hipercifose torácica, lordose cervical diminuída e a pelve mostrou uma anteversão. No pós intervenção fisioterapêutica os resultados foram satisfatórios no que diz respeito à simetria da cabeça e ombros, pois estes voltaram ao alinhamento. Quanto à coluna vertebral, apesar de uma diminuição em suas alterações, tais como a hiperlordose lombar e hipercifose torácica, as alterações persistiram. A coluna cervical teve sua lordose aumentada, conferindo uma normalização da mesma. O abdômen teve sua protrusão diminuída devido à diminuição da hiperlordose lombar. A pelve preservou a anteversão, e os joelhos permaneceram semifletidos antes e após teste. Figura 1 Figura 2 Na análise pré intervenção fisioterapêutica referente à vista posterior (figura 3), assim como na anterior, a cabeça do indivíduo mostrou-se inclinada à D, ombro E elevado em relação ao ombro D, joelhos em posição normal, retropé e calcâneo valgo à D. As escápulas E elevada e D basculada medialmente foram alterações muito evidentes. No pós intervenção fisioterapêutica os resultados mostraram uma diminuição das alterações de cabeça e ombro; ainda que com persistência das mesmas; e joelhos, calcâneo e retropé conservando suas características acima citadas. Já as escápulas obtiveram resultados bastante animadores no que diz respeito ao realinhamento e simetria. Figura 3 Já as escápulas obtiveram resultados bastante animadores no que diz respeito ao realinhamento e simetria. Como pode-se observar na figura 4, com uma diminuição da elevação do ombro E, pôde-se concluir que o ângulo inferior da escápula E retornou ao seu posicionamento normal, sugerindo uma depressão da mesma. Nesta figura percebe-se uma leve elevação do ombro D, o que pode também ter contribuído para este realinhamento, além da diminuição da báscula medial da mesma, graças ao fortalecimento e readaptação muscular. Figura 4 2- Na realização do teste de Adams, para avaliação da gibosidade, não foi identificado desequilíbrio na musculatura paravertebral que indique rotação de vértebras em nenhuma das curvas escolióticas no pré e pós teste. A curva escoliótica tóraco-lombar não apresentou sinais visíveis no teste de presença de gibosidade, entretanto, na análise radiográfica (figura 17), fica evidenciada a presença de rotação vertebral nas terceira vértebra lombar (L3) e quarta vértebra lombar (L4), com diminuição da distância processo espinhosos e processo transverso em ambos lado esquerdo da vértebra, indicando uma rotação do processo espinhoso em direção à concavidade da curva, característica esta, da escoliose estrutural. Rotação vertebral Vértebra L3 Vértebra L4 Pré interveção fisiot Grau II Grau II Pós intervenção fisiot. Grau I Grau I Quadro 1: Comparação da rotação vertebral no pré e pós intervenção fisioterapêutica Para Hebert e Xavier (1998), sendo a curva principal e progressiva, ela tem maior rotação. O que confere que a curva onde existe rotação é realmente a curva principal, isto é, a curva tóraco-lombar. Nash e Moe (apud HEBERT; XAVIER, 1998), propõem uma classificação de acordo com a rotação vertebral, sendo que a rotação aqui em questão foi classificada como grau II. No pós intervenção fisioterapêutica foi realizada nova inspeção da radiografia (figura 17), onde foi verificado diminuição da rotação das vértebras L3 e L4, passando de grau II para grau I, uma vez que os processos espinhosos encontravam-se mais medializados em comparação à avaliação, e a distância processo espinhoso e processo transverso encontrava-se mais próxima do normal. Figura 5: Comparação da coluna vertebral no pré e pós intervenção fisioterapêutica Foi realizado o cálculo do ângulo de Cobb nas duas curvas, evidenciadas na figura acima. A partir da radiografia panorâmica da coluna vertebral na incidência P.A, foram localizadas as vértebras limite. Na curva torácica, o cruzamento das perpendiculares mostrou um ângulo de 6 °. Já para na curva tóraco-lombar, resultou o ângulo de 12°, provando que esta foi a curva principal e a torácica, a curva compensatória. Segundo Rosenthal (2003), curvas que medem entre 10 e 20° merecem observação, pois podem progredir durante o crescimento. Para Knoplick (1984, p. 151), com o crescimento das vértebras, essa curvatura vai se acentuando e continuará progredindo enquanto o indivíduo estiver se desenvolvendo [...] a maioria dos ossos se desenvolve até 17-18 anos. Após o tratamento foi realizada nova radiografia segmentada da coluna vertebral na vista P.A, realizados os ângulos de Cobb na curva torácica e tóraco-lombar, a fim de verificar se com o tratamento houve variação, ou seja, diminuição dos graus das mesmas. Pôde-se concluir então que os ângulos de ambas curvaturas conservaram-se os mesmos. 3- No teste sentar-alcançar foi analisado o quadro abaixo. 1a tentativa 2a tentativa 3a tentativa Média Pré intervenção fisiot. - 9 cm - 10 cm - 6 cm - 8,3 cm Pós intervenção fisiot. - 6 cm + 2 cm + 4 cm 0 cm Quadro 2: Comparação do teste sentar e alcançar no pré e pós intervenção fisioterapêutica. A diferença da média entre os dois resultados revelou um aumento de 8, 3 cm de distância comparado ao primeiro teste, sugerindo assim, alongamento da musculatura isquiotibial e região lombar, as quais fazem parte da cadeia posterior. 4- Para análise do teste de encurtamento dos músculos da cadeia anterior, segue-se o quadro abaixo: Pré intervenção fisiot. Pós intervenção fisiot. Flexão de joelhos Flexão de joelhos diminuída Extensão de tronco Extensão de tronco diminuída Quadro 4: Comparação da avaliação da cadeia anterior no pré e pós intervenção fisioterapêutica. Tanto no pré e pós intervenção fisioterapêutica a retroversão de quadril foi acompanhada de uma flexão de joelhos seguida de inclinação do tronco para trás, confirmando o encurtamento da cadeia em questão. Verificou-se diminuição dos resultados no pós intervenção fisioterapêutica, sugerindo deste modo, alteração do encurtamento da cadeia anterior do indivíduo. O músculo diafragma junto ao peitoral maior, escalenos e intercostais constitui a cadeia anterior/respiratória. (MARQUES, 2000). O uso do padrão diafragmático na realização das posturas de alongamento permitiu aumentar sua flexibilidade e mobilidade, liberando assim parte dessa cadeia. 5- Para análise do teste de encurtamento dos músculos da cadeia posterior, segue-se o quadro abaixo: Pré intervenção fisiot. Acentuado encurtamento Pós intervenção fisiot. Leve encurtamento Quadro 5: Comparação da avaliação da cadeia posterior no pré e pós intervenção fisioterapêutica. No teste de encurtamento dos músculos da cadeia posterior, o indivíduo realizou uma flexão total de tronco. No pré intervenção fisioterapêutica o sujeito apresentou acentuado encurtamento da cadeia posterior, apresentando ângulo coxofemural e tíbio társico aberto, com tendência à verticalização de tronco, além de muita dor na musculatura isquiotibial, referida por ele e hipercifose evidente. No pós intervenção fisioterapêutica observou-se evolução do quadro com leve encurtamento da cadeia posterior, apresentando ângulo coxofemural diminuído, com tendência à horizontalidade de tronco e nenhuma dor na musculatura isquiotibial, além da diminuição da hipercifose. O movimento de flexão de tronco foi suprido em maior parte pela coluna torácica superior, sugerindo além de alongamento de extensores do tronco, força da musculatura abdominal, conforme a figura 6. No pré intervenção fisioterapêutica o sujeito apresenta uma protrusão de cabeça, hipercifose e há uma leve inclinação do corpo para trás na tentativa de suprir a falta de alongamento e flexibilidade da cadeia posterior. O ângulo coxo-femural aberto em torno de 140° sugere fraqueza de musculatura abdominal e retração dos paravertebrais. Pires (1999, p. 50), afirma que “[...] a fraqueza do abdômen resulta em diminuição da capacidade de fletir a coluna vertebral.” No pós intervenção fisioterapêutica, o sujeito teve sua hipercifose diminuída, sem protrusão de cabeça, não havendo inclinação do corpo para trás. Seu ângulo coxo-femural fechou, apresentando em torno de 125°. Sugerindo assim melhora da flexibilidade, alongamento e fortalecimento da cadeia posterior, e da força abdominal. Houve considerável diminuição do encurtamento da cadeia posterior, com alongamento da mesma. Figura 6: Comparação da avaliação de cadeia posterior pré e pós intervenção fisioterapêutica. Figura 7: Comparação da avaliação de cadeia posterior pré e pós intervenção fisioterapêutica com retificação das curvas vertebrais 6- Para análise do teste de elevação da perna reta, segue-se o quadro abaixo: MID MIE Pré intervenção fisiot. 60° 45° Pós intervenção fisiot. 75° 80° Quadro 6: Comparação do teste de elevação da perna reta pré e pós intervenção fisioterapêutica. Foi demonstrado o aumento da flexibilidade e alongamento da musculatura isquiotibial de ambos membros inferiores (MMII). Mensurou-se, através da goniometria de flexão de quadril em quantos graus deu-se este aumento, junto à elevação passiva do membro com joelho estendido. No pré intervenção fisioterapêutica foi observado, quanto ao membro inferior direito (MID), uma ADM de flexão de quadril com joelho estendido medindo 60°, caracterizando um leve encurtamento da musculatura isquiotibial direita, com comprimento normal da coluna lombar e dos flexores do quadril contralateral, conforme Alter (1999). Quanto ao membro inferior esquerdo (MIE), observou-se uma ADM de flexão de quadril com joelho estendido ainda menor, 45°, caracterizando dessa maneira importante encurtamento da musculatura isquiotibial esquerda. De acordo com Alter (1999), quando a perna é elevada passivamente somente até um ângulo de 50°, indica um notável encurtamento dos músculos isquiotibiais. Para o autor citado, a diminuição da flexibilidade nos músculos isquiotibiais têm relação com a posição sentada prolongada na escola. Os tendões destes músculos estão frouxos na posição sentada. Sendo que se a permanência nesta posição for muito longa, os tendões irão se encurtar para corrigir este afrouxamento. No pós intervenção fisioterapêutica pôde-se perceber aumento na flexibilidade de ambos MMII. MID teve aumento da ADM de flexão do quadril em 15° a mais comparado à avaliação. Foi percebido que quanto maior é a tolerância de alongamento dos músculos posteriores da perna, maior a ADM de flexão de quadril com a perna estendida. Quanto ao MIE na realização do teste houve notável extensão dos isquiotibiais. A ADM de flexão de quadril com 35° a mais comparado à avaliação, chegou aos 80° de flexão. Para Alter (1999), quando a perna pode ser elevada passivamente até um ângulo de 80 a 85° de flexão do quadril, considera-se normal o comprimento dos isquiotibiais. 7- Para análise do teste de inclinação lateral de tronco, segue-se o quadro abaixo: D E Pré intervenção fisiot. 40 cm 45 cm Pós intervenção fisiot. 51 cm 50 cm Quadro 7: Comparação do teste de inclinação de tronco no pré e pós intervenção fisioterapêutica. No teste de inclinação lateral foi mensurada a distância do dedo médio ao chão, com auxílio da fita métrica, verificando o máximo de inclinação de tronco para direita (D) e para esquerda (E). Primeiramente mensurou-se 40 cm na flexão lateral D, e para E, 45 cm. A escoliose tóraco-lombar direita sugeriu a diminuição da inclinação à D comparada com a inclinação à E. No pós intervenção fisioterapêutica, a flexão lateral D media 51 cm, resultando num aumento de 11 cm, enquanto a flexão lateral E media 50 cm, resultando num aumento de 5 cm em relação à avaliação. Isso ocorreu devido à utilização das variadas posturas, que permitindo contração e alongamento das musculaturas sinergista, antagonista e agonista simultaneamente, contribuíram para o aumento da mobilidade articular, flexibilidade e tonicidade da coluna vertebral, melhorando a qualidade e capacidade do movimento. 8- Para análise da escala de desconforto para as diferentes partes do corpo, segue-se o quadro abaixo: Partes do corpo Coluna cervical Ombro Coluna torácica Braço/cotovelo/antebraço Coluna lombar Quadril/coxa Punho/mão Joelho/perna/tornozelo/pé Pré intervenção fisiot. Dor intensa Nehuma dor Dor suportável Nehuma dor Dor intensa Nehuma dor Nehuma dor Nehuma dor Pós intervenção fisiot. Dor suportável Nehuma dor Nehuma dor Nehuma dor Dor suportável Nehuma dor Nehuma dor Nehuma dor Quadro 8: Comparação do teste de desconforto para as diferentes partes do corpo pré e pós intervenção fisioterapêutica. No pré intervenção fisioterapêutica, as partes do corpo que o indivíduo relatava dor intensa, referente à cor “alaranjada” eram: a coluna cervical e lombar. Referiu dores na coluna quando mantinha uma mesma posição por longo período de tempo, principalmente sentado, pois essa posição aumenta a tensão mecânica e muscular nas costas. Essas dores tornaram-se dores suportáveis, referente à cor “azul”, ao final do tratamento. O paciente referiu dor suportável na coluna torácica principalmente entre as escápulas, onde era evidente sua assimetria. Ao final do tratamento, com suas escápulas já realinhadas, sentia nenhuma dor, referente à cor “verde”. Nas demais regiões o indivíduo não referiu dor alguma, antes e após o tratamento. Pôde-se perceber que, com o uso das posturas não foram apenas alongados e fortalecidos músculos das cadeias anterior/respiratória e posterior, aqui propostas, mas outras, tais como: cadeias ântero-interna da bacia, cadeia anterior do braço e cadeia ântero-interna do ombro. O adequado comprimento dos músculos, maior relaxamento muscular, e diminuição das tensões, retrações e encurtamentos de forma global no sujeito provocaram diminuição ou ausência de desconforto corporal antes referidos por ele. Se o tempo de tratamento fosse maior, imagina-se que as dores do sujeito poderiam extinguir-se por completo. CONCLUSÃO A proposta da presente pesquisa foi destacar os resultados obtidos pela técnica de alongamento muscular, através de posturas que utilizam contração concêntrica e excêntrica simultaneamente para o aumento da flexibilidade e tonicidade da coluna vertebral e das demais cadeias musculares. Sendo essa, uma alternativa de tratamento conservador da escoliose em um paciente esqueleticamente imaturo. Os objetivos da pesquisa foram a verificação e análise das alterações posturais, comprometimento das cadeias musculares e grau de desenvolvimento do alongamento e flexibilidade a partir da aplicação do método Isostretching através dos testes aplicados pré e pós intervenção fisioterapêutica; assim como pela elaboração de uma revisão de literatura que envolveu postura, cadeias musculares, escoliose, flexibilidade e alongamento e Isostretching. Após as 10 sessões de fisioterapia realizadas foi possível comprovar o aumento da flexibilidade geral do paciente, melhora do alinhamento postural, redução do quadro álgico, aumento da ADM dos MMII e coluna vertebral graças ao desenvolvimento do alongamento, flexibilidade e força dos músculos isquiotibiais e paravertebrais, e demais cadeias musculares. Não houve alteração quanto ao ângulo de Cobb das curvas escolióticas, porém com o aumento da flexibilidade e liberação das retrações das cadeias musculares, houve diminuição da rotação vertebral, concluindo que a musculatura encurtada e retraída, antes do tratamento, tracionava as vértebras em direção ao lado côncavo da curva tóraco-lombar. Deste modo, a aplicação da técnica Isostretching durante 1 mês não foi suficiente para diminuir os graus de ambas as curvas escolióticas, porém com a diminuição da rotação vertebral a técnica se mostrou eficiente. Retardando desta maneira a instalação e o processo de evolução da escoliose. O tratamento baseado no método Isostretching visou não só a adaptação às posturas utilizadas nas sessões fisioterapêuticas, como também a conscientização da postura fora da clínica, ou seja, no ambiente de vida do sujeito, como casa, escola e na prática de esportes, diminuindo o gasto energético na manutenção da mesma. A escala de desconforto e os demais testes provaram que estes bons hábitos foram incorporados pelo paciente durante todo o mês de atendimento, tendo este então compreendido a verdadeira essência do método Isostretching, onde o tratamento não termina com a saída do sujeito da clínica de fisioterapia. Tem continuidade na sua vida diária, aumentando sua qualidade de vida. Percebeu-se ao realizar o referencial teórico sobre escoliose, muitas divergências e diferentes opiniões sobre fisiopatologia e métodos de tratamento desta patologia. Esse assunto é foco de muitas pesquisas e experimentos que tem ainda muito por descobrir. Sugere-se portanto, que sejam realizadas novas pesquisas em torno da escoliose associada às técnicas de ginástica postural ou outros métodos de tratamento, tal qual a terapia manual, já que a fisioterapia, em alguns casos, é o meio mais utilizado, sendo fundamental no tratamento da escoliose. REFERÊNCIAS ALTER, M. J. Ciência da flexibilidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. BRACCIALI, L. M. Estudos das relações existentes entre crescimento e desvios na postura. Reabilitar, n. 9, p. 19-24, 2000. HEBERT, S; XAVIER, R. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. KNOPLICH, J. Viva bem com a coluna que você tem: dores nas costas, tratamento e prevenção. 10. ed. São Paulo: Ibrasa, 1984. MARQUES, A. P. Cadeias musculares: um programa para ensinar avaliação fisioterapêutica global. São Paulo: Manole, 2000. PIRES, A. N. et al. Prevenção de escoliose em crianças da 1° série do 1° grau. Fisioterapia em movimento. São Paulo, n. 2, p.49-52, mar 1999. REDONDO, B. Isostretching: a ginástica da coluna. Tradução Benedita N. Barbosa. São Paulo: Skin Direct Store, 2001. ROSENTHAL M. S. Escoliose: uma abordagem sensata. Disponível em: <http://www.geocities.com/quackwatch/escoliose.html> Acesso 12 jul. 2003. SOUCHARD, P; OLLIER, M. As escolioses: seu tratamento fisioterapêutico e ortopédico. 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