“Qualidade de vida e relacionamento interpessoal no trabalho” Gabriel Careli Hoje em dia muitas pessoas têm escolhido suas carreiras levando em consideração além da remuneração, realização pessoal e estabilidade a qualidade de vida que o trabalho pode oferecer. Esta escolha é diferente de escolher um trabalho que ofereça um bom salario e possibilite a compra uma casa maior ou um carro do ano. As pessoas atualmente desejam ter prazer no trabalho e não somente fora dele. No trabalho vários fatores podem ajudar a favorecer a qualidade de vida das pessoas. Entre eles estão o ambiente físico onde trabalham, a organização e divisão do trabalho, a autonomia que elas tem para realizar as tarefas entre outros. Um dos fatores mais importantes para promover a qualidade de vida no trabalho é sem dúvida o relacionamento interpessoal. A maneira como tratamos os outros e somos tratados contribui muito para nossa qualidade de vida. Em geral não somos ensinados a como tratar as pessoas para além da educação que recebemos de nossa família, amigos e escola. Ser educado é um ponto de partida importante para favorecer a qualidade de seu entorno interpessoal mas existem outras maneiras de atenção para com o outro que podem nos ajudar a ir além. No ambiente de trabalho uma dar principais relações que estabelecemos com nossos líderes, equipes e colegas são na forma de feedback. Comumente costumamos ouvir feedback tendo o significado de bronca ou repreensão. O que iremos considerar como feedback aqui é qualquer informação sobre desempenho de outra pessoa que possibilita que ela mude sua maneira de se comportar. Não é fácil conversar com outras pessoas sobre o desempenho delas no trabalho e por isso mesmo muitas vezes a qualidade de vida fica comprometida. O trabalhador pode se sentir desvalorizado, desorientado e desmotivado. Isso pode acontecer por dois motivos: Falta de feedback ou com o feedback sendo oferecido de maneira incorreta. No caso da falta de feedback adequado a pessoa deixa de ter informações relevantes sobre o que está fazendo ou sobre o que deveria estar fazendo. Desta maneira não consegue melhorar o seu desempenho no trabalho e assim comprometer o prazer que poderia ter ao ter sucesso nos seus esforços. Quando o feedback é dado de maneira incorreta ele toma geralmente a forma de “bronca”. Ser repreendido e em alguns casos exposto publicamente por seus erros não ajuda muito as pessoas melhorarem seu desempenho. Em geral, tem o efeito contrário. A pessoa começa a ter medo até mesmo de fazer seu trabalho. Desta maneira além do medo e da insegurança ela não tem prazer ao fazer seu trabalho. O que podemos fazer então para melhorar nossos relacionamentos no trabalho? Oferecendo um feedback que seja construtivo e ajude as pessoas a melhorarem seus resultados. A primeira maneira de melhorar nossa comunicação é ser o mais específico o possível na hora de falar sobre o trabalho dos outros. Ao invés de falar “Seu trabalho está ruim, refaça por favor.”, tente ressaltar quais são as características específicas que as pessoas devem mudar na maneira de realizar a tarefa. Um exemplo específico poderia ser “O relatório que você me entregou possui erros de digitação, refaça por favor.” Atenha-se aos resultados desejados e se observará uma melhora considerável no desempenho. O feedback não serve somente para corrigir o trabalho das pessoas, na verdade, ele é uma ferramenta muito mais poderosa quando ele é usado para apontar os pontos positivos no trabalho das pessoas. Ser reconhecido por um trabalho bem feito traz muito mais prazer do que ser repreendido. Usando o modelo apresentado anteriormente poderíamos oferecer para uma pessoa uma informação positiva “O relatório que você me entregou está preciso e conciso da maneira como foi solicitado, continue fazendo desta maneira.” Quando recebemos informações que nos ajudam à reconhecer o que estamos fazendo corretamente é aumentada a probabilidade de que façamos de maneira correta no futuro. Outro fator muito importante é o tempo. Quando dizemos para as pessoas o que elas fizeram corretamente logo depois que o desempenho foi entregue, esta relação se fortalece e nós garantimos que ela continue fazendo corretamente o que apontamos com mais precisão. Quando esperamos muito tempo para apontar os pontos positivos no desempenho a relação entre uma boa entrega e o feedback se enfraquece. No entanto quando precisamos dar um feedback para auxiliar alguém a fazer um trabalho de maneira diferente é importante que a informação seja dada logo antes da oportunidade de fazer aquilo novamente. Por exemplo, dizer que o relatório anual que alguém redigiu possuía erros só vai surtir resultado se a pessoa puder corrigir imediatamente. Esta informação vai surtir pouco efeito se ela precisar esperar um ano inteiro para redigir outro relatório. Os feedbacks construtivos devem ser dados antes do desempenho se iniciar e o apontamento de pontos positivos logo depois que ela tiver terminado de fazer corretamente. Por fim, para ter mais qualidade de vida nos relacionamentos pessoais de trabalho, busque entender o que as outras pessoas que estão ao seu redor gostam e o que não gostam. Caso você possa oferecer o que gostam e afastá-las do que não gostam não hesite em fazê-lo. Se você se torna uma fonte de relações positivas as outras pessoas irão sempre buscar proximidade. O segredo para auxiliar na qualidade de vida das pessoas é criar um ambiente onde elas queiram dar o seu melhor. O reconhecimento social tem uma função muito importante para este fim. Fazer com que as pessoas se sintam reconhecidas e empoderadas no trabalho é um grande passo na produção da qualidade de vida delas. Gabriel Careli é psicólogo e Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tendo como foco da formação a Gestão de Pessoas, em especial o tema Organizational Behavior Management. Em seu mestrado investigou a efetividade de intervenções da Análise do comportamento em organizações. Além disso é Turismólogo formado pelo Centro Universitário SENAC, com parte de sua carreira focada em Planejamento e Execução de Eventos. Desempenhou a função de coordenação dos Encontros da ABPMC em 2010 (Campos do Jordão) e 2011 (Salvador). É sócio-fundador e designer organizacional na empresa de consultoria Neulogic, cujo foco é o desenvolvimento, por meio da Análise do Comportamento, de processos eficientes de Gestão de Pessoas. Atua também como docente de Psicologia do Trabalho, Psicologia Organizacional e Processos de Investigação Científica na graduação de Psicologia da Universidade São Judas Tadeu. Foi docente em alguns cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário Senac, entre eles, nas áreas de Hotelaria e Eventos.