Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira O risco de emagrecer com remédios Patrícia Medeiros* Há uma semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aumentou o controle sobre a venda dos anorexígenos - medicamentos que inibem o apetite e, por isso, são usados para emagrecer. A decisão tem por objetivo restringir o consumo desses medicamentos, que causam dependência física e mental. Hoje, existe o mito da pessoa magra e estes fármacos têm sido utilizados de forma abusiva na busca do emagrecimento rápido, pois, além de inibirem o apetite, agem queimando a gordura. Os profissionais de saúde têm buscado o uso racional de medicamentos, a conscientização e a reeducação alimentar, bem como a atividade física regular. Mas o problema reside no fato de as pessoas substituírem as mudanças de estilo de vida pela ingestão de remédios. Alguns medicamentos utilizados para depressão, por exemplo, também possuem a propriedade de moderador de apetite. Torna-se então comum a associação destes antidepressivos com os anorexígenos. Nesses casos, no entanto, somam-se os efeitos desejáveis e também os indesejáveis. Tanto os anorexígenos como alguns antidepressivos estimulam o chamado sistema nervoso simpático - responsável pela reação de fuga e catabolismo do nosso organismo. Isso provoca a queima da gordura. Entretanto, aumenta-se também o sistema de alerta, podendo causar insônia e irritabilidade. A associação não é indicada ainda para pessoas com hipertensão ou arritmia cardíaca, pois faz o coração bater mais rápido e mais forte; ou para quem tem glaucoma, porque causa a dilatação da pupila. A combinação ainda prende o intestino e a urina, e torna mais lenta a digestão. Na busca de corrigir os efeitos indesejáveis dos inibidores de apetite, costumava-se manipular estes remédios com ervas (maracujá, mulungu, erva cidreira, hortelã). Porém, para a erva ser considerada uma planta medicinal, existem critérios rígidos. Ela deve constar como extrato seco e ter prescritos a dose, o horário, os efeitos adversos e as interações medicamentosas possíveis, entre outros. Mas, na maioria das vezes, a pessoa toma a planta moída sem qualquer controle de qualidade. O sene, por exemplo, é utilizado para soltar o intestino, mas, ao chegar neste órgão, a planta se transforma em um álcool que pode causar câncer intestinal. Neste ponto, a decisão da Anvisa em impedir qualquer tipo de associação na prescrição evitará esse tipo de prática e vai ajudar a combater a falsa idéia de que os produtos naturais não fazem mal. Uma prática clandestina, por vezes denunciada em noticiários, é a utilização de inibidores de apetite misturado com ervas, que são vendidos como produtos naturais para emagrecer. A pessoa utiliza sem qualquer precaução pois acredita que não causará nenhuma complicação. Mas esse tipo de comércio foge à fiscalização e ao controle de receita especial, podendo causar danos irreversíveis à saúde. O remédio é, ao mesmo tempo, um anjo bom e um anjo ruim. As pessoas devem ser alertadas que os produtos naturais para emagrecer também apresentam os mesmos efeitos indesejáveis e só podem ser tomados com prescrição médica. Atualmente, está em vigor o conceito de polifarmácia, usado para denominar um composto com muitos medicamentos associados. Entretanto, o termo também é utilizado quando se toma um remédio para corrigir o efeito indesejável de outro. A Anvisa agiu corretamente ao restringir a associação de um antidepressivo associado a uma anorexígeno para aumentar a capacidade de inibir o apetite. Utilizada contra a depressão, a fluoxetina também age como um anorexígeno - e, por isso, é muitas vezes consumido para esse fim. Mas este fármaco continua no organismo por cinco semanas após a interrupção do tratamento. Então, outro remédio com a mesma finalidade terapêutica só pode ser tomado após estas cinco semanas, para que não ocorra uma reação indesejável - como a síndrome serotoninérgica, que, em casos mais graves, pode levar a óbito. No caso de intoxicação, os sintomas são aumento da temperatura corporal (em torno de 42°C) e dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila, tremor, convulsão e salivação intensa, entre outros. Os moderadores de apetite devem ser utilizados com precaução, durante um curto período de tempo, e como co-adjuvante de tratamento para emagrecimento. A prescrição deve ser feita exclusivamente por um médico, e com a orientação sobre os efeitos indesejáveis e o monitoramento de todos as suas reações adversas. Acredita-se que a medida da Anvisa de restringir o número de caixa na receita dificultará o comércio clandestino desta classe de remédios, que, se utilizada de forma incorreta, deixa de ser medicamento e passa a ser droga. *Patrícia Medeiros é professora de Farmacologia Clínica e Farmácia Hospitalar da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, onde também coordena o Curso de Especialização em Farmacologia Clínica. É mestre e doutora em Farmacologia pela Universidade Estadual de Campinas.