Economia Monetária II Revisão em 25/10/2016 (Aula 14) Prof: Francisco Eduardo Pires de Souza Email: [email protected] Os Primórdios da Teoria Quantitativa da Moeda: o Debate Monetário nos Séculos XVII e XIX (“desde os seus primórdios, o desenvolvimento da teoria monetária esteve relacionado à necessidade de definição de diretrizes políticas para aplicação no mundo real”) O mecanismo preço-fluxo de metais preciosos (price-specie-flow mechanism) de Hume Mecanismo de ajuste simétrico, com preços flexíveis e sem fluxo de capitais País A (deficitário) (X-M) < 0 => saída de ouro => Ms (Oferta de Moeda)↓ => P↓ => competitividade ↑ => (X-M) ↑ País B (superavitário) (X-M) > 0 => entrada de ouro => Ms↑ => P↑ => competitividade↓ => (X-M) ↓ Mecanismo de ajuste simétrico, com preços flexíveis e fluxo de capitais País A (deficitário) (X-M) < 0 => saída de ouro => Ms↓ => i↑ + P↓ => competitividade ↑; i > i* => (X-M) ↑ + F↑ Obs: neste caso tanto o ajuste para baixo dos preços quanto o ajuste necessário na balança comercial são menores do que no caso anterior, sem fluxo de capitais. País B (superavitário) (X-M) > 0 => entrada de ouro => Ms↑ => i↓ + P↑ => competitividade↓; i < i* => (X-M) ↓ + F↓ A Controvérsia Bulionista gold bullion • Fev/1797 na Inglaterra: corrida bancária => suspensão (pelo governo) da conversibilidade; financiamento da guerra; inflação e depreciação cambial • Posição bulionista (Thornton, Ricardo e outros) – inflação decorre da expansão monetária provocada pela compra de títulos públicos (usados para financiar a guerra) pelo Banco da Inglaterra, o que só foi possível pela suspensão da conversibilidade. A posição bulionista, portanto, está associada à TQM. Solução para estabilizar os preços e a taxa de câmbio seria o retorno a conversibilidade. • Posição anti-bulionista (defendida principalmente pela direção do BOE) – inflação decorreu da quebra de safras e consequente escassez de alimentos além dos gastos de guerra ... • Relatório da Comissão do Ouro (Bullion Comittee’s Report) de 1810 deu razão à posição bulionista. Parlamento não acatou recomendações. Só após o fim das guerras napoleônicas (1815). Em 1821 retorna a conversibilidade. O Debate entre as Escolas do Meio Circulante e Bancária • Debate envolve as políticas do BOE (deveria ter o monopólio da emissão de notas? Deveria ou não haver regras de emissão?). • Escola do Meio Circulante (Currency School) – advoga regra rígida de emissão de notas: emissão deve estar atada à variação no estoque de ouro. Assim, comportamento do estoque de moeda mista seria semelhante ao comportamento do estoque de moeda metálica (mecanismo de Hume). • Escola Bancária (Banking School) – volume de notas em circulação é determinado pela demanda derivada das necessidades dos negócios. Deve ser flexível para se adaptar a esta. Nunca será excessiva se o Banco apenas descontar títulos reais • Escola dos Bancos Livres (Free Banking School) – livre competição entre bancos, para emprestar e para emitir notas, porque a competitividade no setor depende da manutenção da confiança. • A lei bancária de 1844: concedeu o monopólio da emissão de notas na Inglaterra ao BOE e estabeleceu que toda emissão teria que estar atrelada a um aumento do estoque de ouro, (vitória da escola do Meio Circulante). Colocou a Inglaterra num padrão ouro pleno. TQM: a Versão de Transações de Fisher MV = PT A identidade e a teoria: • MV = PT => identidade, vale sempre. • Hip: Lei de Say => T é constante • Hip: V depende de hábitos e instituições => muda lentamente, constante (ou pelo menos estável) a CP • Sobram M e P e o postulado da TQM é que M determina P TQM: da versão transações à versão de Cambridge Renda real no lugar de transações: MV = Py • V = Py/M Versão dos Saldos Monetários (cash balances) de Cambridge • M = kPy • onde: • k , chamada de “constante marhalliana é igual a 1/V • Saldos monetários são estoques • Equilíbrio no mercado monetário: M = Ms = Md = kPy Wicksell e o Processo Cumulativo • Relação entre moeda e preços se dá através de dois mecanismos: • Mecanismo direto: DM=> D saldos reais=>Ddemanda =>DP (TQM tradicional, numa economia de moeda pura) • Mecanismos indireto: DM=> i =>Ddemanda =>DP , e vice-versa (numa economia com bancos) Wicksell e o Processo Cumulativo O processo cumulativo deriva da discrepância entre duas taxas de juros • Taxa de juros de mercado (observada no mercado de crédito) • Taxa natural de juros – aquela que iguala, ex-ante, a poupança desejada ao investimento planejado Taxa Natural e Taxa de Juros de Mercado Produtividade Marginal do Capital (x EMgK) Relembrando: Keynes x Clássicos • Com teoria da preferência pela liquidez, Keynes criticou a tradição clássica (taxa de juros como o “preço” que equilibra a demanda por recursos para investir (dada pela PMgK) e a propensão de abster-se do consumo imediato. • Para Keynes, em contraste, a taxa de juros é definida como uma recompensa por abrir-se mão da liquidez • Ou seja: taxa de juros é fenômeno monetário • Em síntese, a moeda, para Keynes, é uma forma de riqueza e a taxa de juros o preço que guia a escolha entre as formas líquida e ilíquida de riqueza, ao invés da escolha entre consumo presente e consumo futuro, concebida pela teoria clássica A teoria monetária de Keynes na Teoria Geral: os motivos para demandar moeda Motivos para demandar moeda: • Motivo Transação (saldos monetários ativos) – moeda retida/demandada por este motivo é função da renda. • Motivo Precaução (saldos monetários inativos) – para atender despesas inesperadas e aproveitar oportunidades imprevistas de bons negócios. Demanda associada à renda (simplificação feita por Keynes) e, principalmente, da incerteza em relação ao futuro (Richard Khan). Por que não manter estes saldos aplicados em títulos? • Motivo Especulativo (saldos monetários inativos)- moeda demandada em função da diferença entre a taxa de juros presente e a taxa de juros esperada para o futuro. Dada uma taxa de juros esperada para o futuro, quanto menor a taxa de juros presente, maior a demanda por moeda Ursos, Touros e a Demanda Especulativa por Moeda • Ursos: rc – rn < 0 => E(dr/dt)>0 => E(dPt/dt)<0 => Ls>0 • Onde: • rc = taxa de juros corrente (observável no mercado) • rn = taxa de juros normal (subjetiva, considerada por cada agente como o nível para o qual tende a taxa de juros) • E(dr/dt) = expectativa de variação da taxa de juros • E(dPt/dt) = expectativa de variação dos preços dos títulos • Ls = demanda especulativa por moeda • Touros: rc – rn > 0 => E(dr/dt)<0 => E(dPt/dt)>0 => Ls = 0 (dinheiro é usado para comprar títulos. • Quanto mais baixa for rc, mais agentes econômicos tendem a passar para o lado dos ursos. Isso leva a um aumento da demanda especulativa por moeda (Ls) Ou seja, em vez da taxa de juros ser determinada conjuntamente pela PMgK e por uma curva de oferta de poupança, como na teoria clássica, ela é primeiro determinada pela oferta e demanda por moeda e, depois, dada a taxa de juros assim determinada, teremos o nível de investimento determinado pela EMgK. Teoria de Keynes Teoria Clássica r S (r) r0 r r, EMgK r0 r0 I (r) I0 I,S L M EMgK I0 I A demanda por motivo financeiro e a demanda total por moeda • Motivo financeiro (finance motive) – relacionado à necessidade de realização de desembolsos volumosos e não rotineiros (embora planejados), como a compra de bens de investimento. • Demanda total por moeda => Md = L1 (Y) + L2 (r) +L3 () + L4 (I) • Equilíbrio no mercado monetário: Ms = Md Características dos ativos Ativos a q-c L Bens de Capital Negativa Positivo Muito baixa Imóveis Positiva/nula Positivo Muito baixa Títulos Positiva ou Negativa Normalmente positiva Variável, mas normalmente alta Moeda Zero Zero Elevada (máximo) Obs: a liquidez dos ativos não monetários, depende de vários fatores, entre os quais se destaca a existência de mercados secundários. Keynes por Tobin (A teoria da preferência pela liquidez de Keynes formalizada por Tobin) • Retorno total de um título: e = r + g • PT = A/r ; PeT = A/re r • g = (r/re)-1 • e = r + (r/re)-1 • rc = re/(1+re) rc • re = rc/(1-rc) Curva de preferência (especulativa) pela liquidez de um indivíduo W M/P Tobin por Tobin: • no modelo de Tobin há uma incerteza sobre “g” => risco que depende da distribuição de frequência dos valores possíveis dos ganhos esperados de capital. • Carteira de Ativos (Portfolio) é composta por: moeda, na proporção A1 e títulos, na proporção A2. • Retorno “R” de um portfolio será então: • R = A2 (r+g) 0 ≤ A2 ≤ 1 • Hipótese: “g” é uma variável aleatória com valor esperado zero. • E(R) = mR = A2 (r+g) = A2 . r • sR = A2 sg ; A2 = sR/sg • mR = (r/sg) sR 0 ≤ A2 ≤ 1 0 ≤ sR ≤ sg A Demanda Transacional como Função dos Juros: A Abordagem Baumol-Tobin Pressuposto: indivíduo maximizador desejará, se houver oportunidade, aplicar em títulos parte de sua renda a ser gasta enquanto antes do momento do desembolso. Estratégia 0: renda mensal (Y) de R$100.000,00 é mantida em dinheiro para fazer face aos gastos (distribuídos uniformemente) ao longo do mês. Saldo Monetário Y 0 1 t Estratégia 1: Metade da renda é mantida em dinheiro para fazer gastos na primeira quinzena e a outra metade é mantida em títulos por uma quinzena, finda a qual os títulos são resgatados, convertidos em dinheiro para fazer face aos gastos da segunda quinzena. Hipótese: Custo de transação para aplicar em títulos é de R$250,00 fixos por transação. Receita de juros ~ = (r/2)x(Y/2) =rY/4 Saldo Monetário Títulos Y/2 0 Y/2 1/2 1 t 0 1/2 1 t Estratégia 2: Renda é dividida em 3 partes: a primeira fica em dinheiro, a segunda fica em títulos que serão mantidos em carteira para serem resgatados no início do último terço do mês; e a terceira, em títulos que serão resgatados no início da segunda terça parte do mês. Receita de juros ~=(r/3)x(2Y/3)+(r/3)x(Y/3)=2rY/9 + rY/9=rY/3 Saldo Monetário Títulos 2Y/3 Y/3 0 Y/3 1/3 2/3 1 t 0 1/3 2/3 1 t Estratégia 3: Renda é dividida em 4 partes: a primeira fica em dinheiro, a segunda fica em títulos que serão mantidos em carteira para serem resgatados no início da última quarta parte do mês, e assim por diante. Receita de juros ~ = (r/4)x(3Y/4)+(r/4)x(Y/2) +(r/4)x(Y/4)=3rY/16 + rY/8+ rY/16=6rY/16=3rY/8 Saldo Monetário Títulos 3Y/4 Y/2 Y/4 Y/4 0 1/4 1/2 3/4 1 t 0 1/3 2/3 1 t Assimetria de Informação e Racionamento de Crédito (Stiglitz e Weiss) • Argumento central: mercado de crédito não funciona como mercado de bens, no qual desequilíbrio entre oferta e demanda é resolvido via variações de preços. • A razão fundamental é a existência de assimetria de informação. O que é? • Assimetria de informação: existe quando as duas partes de um negócio não tem as mesmas informações sobre o objeto da negociação. Implicações da Assimetria de Informações • Seleção Adversa – um risco para o credor que tem a ver com as características ou comportamento (desconhecidos) do devedor antes que o crédito seja concedido. • “Moral hazard” ou risco moral – um risco que decorre de ações ou comportamentos do tomador após a concessão do crédito. Seleção adversa No mercado de crédito é fundamental conhecer a quem se está emprestando dinheiro para avaliar o risco de que o empréstimo não seja pago. Porém existe uma assimetria de informações: o tomador de empréstimo conhece muito mais sua capacidade e disposição para pagamento do que o credor. Isto pode levar a um problema de seleção adversa. Exemplos: • Seguro de vida • Mercado de carros usados • Mercado de crédito – tomadores de crédito com maior risco deveriam pagar juros mais elevados. Porém, ao elevar os juros (cobrar um spread médio de risco) para cobrir o risco médio de inadimplência ... pode surgir o problema da seleção adversa. Racionamento de Crédito • O racionamento de crédito se refere a uma situação em que os credores limitam a oferta adicional de crédito aos clientes que demanda fundos, mesmo que os últimos estejam dispostos a pagar taxas de juros mais altas. É portanto um exemplo de falha de mercado, já que o mecanismo de preços não é capaz de levar o mercado para o equilíbrio