Denis – Março de 2009 Hoje, falaremos sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que entrou em vigor em 2009. Este tema está relacionado à parte da gramática que se chama ortografia. O que é ortografia? A palavra ortografia deriva das palavras gregas ortho, que significa "correto" e graphos, que quer dizer "escrita", ou seja, ortografia é a forma correta de se escrever as palavras. A ortografia define o conjunto de símbolos da escrita (letras e sinais diacríticos), a pontuação, o uso de maiúsculas e minúsculas etc. Mas, não confunda! A ortografia estuda o modo como se escreve as palavras, e não os sons da fala! Vamos ver um pouco da história da língua portuguesa? Observe a gramática a seguir. Imagine que ao abrir essa gramática, você comece a ler sobre os sons da linguagem que as letras representam, e encontre as seguintes anotações: • • • • letra b:” pronuncia-se entre os beiços apertados, lançando para fora o bafo com ímpeto e quase com baba”; letra f: “sua pronunciação fecha os dentes de cima sobre o beiço de baixo”; letra m: “sua pronunciação muge entre os beiços apertados, apanhando para dentro”. letra u: “aperta as queixadas e prega os beiços, não deixando entre eles mais do que só um canudo por onde sai um som escuro”. E essa gramática existe? Sim! A gramática que você acabou de observar é a primeira gramática da língua portuguesa, confeccionada em 1536 por Fernão de Oliveira! As orientações que você seguiu sobre a pronúncia que algumas letras representam são apenas uma amostra do que nela contém! Fernão de Oliveira foi o primeiro gramático da língua portuguesa a realizar uma tentativa de reforma e unificação da grafia (escrita) do nosso idioma. Nessa época, o português estava sendo amplamente difundido, pois Portugal conquistava novos territórios por meio das grandes navegações. Além disso, o uso da escrita estava sendo ampliado, devido ao Renascimento literário, à invenção da imprensa... Fonte: tribunadonorte.com.br/especial/br500/ca p1_f1.jpg Assim, era cada vez mais urgente o estabelecimento de uma ortografia para o Português... Após essa gramática surgiram outras, mas antes do século XX, a ortografia da língua portuguesa não era padronizada, ou seja, uma mesma palavra era escrita de várias maneiras... A palavra homem, por exemplo, era escrita como • O til indica nasalidade. Isso por que os primeiros textos escritos em português trazem uma grafia muito próxima da oralidade, pois havia uma preocupação muito grande em se representar graficamente os sons da fala. Hoje em dia, com o uso da escrita tão difundido, imagine encontrar um texto em que uma única palavra é escrita de várias maneiras? Seria complicado... Por isso a necessidade de se uniformizar a grafia das palavras – com a ortografia! Como surgiram os acordos (ou reformas) ortográficos? Com a implantação da república em Portugal (5 de Outubro de 1910) foi nomeada uma comissão de filósofos lusitanos para estabelecer uma ortografia simplificada a usar nas publicações oficiais e no ensino, que foi oficializada em setembro de 1911. Esta foi, então, a primeira reforma ortográfica de Portugal. No Brasil, entretanto, essa reforma gerou muitas discussões, e acabou não sendo adotada. Desse modo, o português ficou com duas variedades escritas (padrões) reconhecidas internacionalmente: •Português europeu e africano (português europeu) •Português do Brasil (português brasileiro) Isso porque a unificação dos sistemas ortográficos dos países lusófonos não é tarefa fácil, pois as divergências de pronúncia entre esses países acabam determinando grafias diferentes para as mesmas palavras. Os sete países que têm o português como língua oficial são chamados de lusófonos. Em 1945 houve, em Lisboa, um outro acordo, que também não efetivou a unificação, pois foi adotado apenas em Portugal. O sistema ortográfico adotado anteriormente (até 2008) no Brasil era, então, o aprovado pela Academia Brasileira de Letras em 1943, e simplificado pela Lei nº. 5.765, de 18 de dezembro de 1971. O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Com o objetivo de criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa surgiu, então, Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Os países que possuem o Português como língua oficial e participam desse Acordo são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Veja-os no mapa a seguir. Calculam-se em mais de 200 milhões as pessoas que falam Português em todo o mundo. A língua portuguesa é a 5ª mais falada do planeta! Esclarecimentos acerca do Novo Acordo Ortográfico O Acordo Ortográfico -muda a grafia de certas palavras, a maneira como se escrevem, mas não altera a pronúncia de nenhuma palavra. -não tem a ver com as variações de uso ou significado de palavras, mas sim com a maneira como se escrevem. -não estabelece regras de sintaxe (modo como se combinam as palavras para a expressão do pensamento); tem a ver somente com a maneira de escrever as palavras. -não interfere na coexistência ou com as regras de normas linguísticas regionais (cada região tem a sua maneira própria da falar). - não introduz uma completa uniformização na grafia das palavras, mas naturalmente a redução ao mínimo possível das diferenças é um dos objetivos. Com o acordo escreveremos as palavras nos países de língua portuguesa com uma única norma. Com o Acordo Ortográfico a grafia das palavras passa a ser regulamentada nos países de língua portuguesa por uma única norma. Dicionário com indicação das palavras alteradas com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico. Fonte: Wikipédia. *Estes esclarecimentos foram adaptados do texto O que é e o que não é o Acordo Ortográfico, disponível em http://orto.no.sapo.pt/c00.htm. Por que uns são contra e outros são a favor do Novo Acordo Ortográfico? Você já deve ter ouvido falar que o Novo Acordo Ortográfico tem sido alvo de muitas críticas e enfrenta oposição de diversos grupos sociais. Estudiosos da língua portuguesa, jornalistas, escritores, tradutores e personalidades dos setores artístico, político e empresarial manifestaram-se contra a Reforma Ortográfica, por motivos linguísticos, políticos, econômicos e jurídicos. Principais argumentos a favor da Reforma Ortográfica - Há um enorme custo econômico e financeiro na produção de edições diferentes de dicionários e livros ou mesmo em outros planos em que a forma escrita é utilizada (cinema, teatro, textos de contratos etc) para o Brasil e para Portugal, custo que diminuirá com a unificação da ortografia portuguesa. - Aproximação da oralidade à escrita. - Simplicidade de ensino e aprendizagem. - Unificação dos países que adotam o português como língua oficial. - Pequena quantidade de vocábulos alterados (1,6% em Portugal e 0,45% no Brasil). - Aumento da força da língua portuguesa no panorama mundial. Principais argumentos contra a Reforma Ortográfica - Muitos críticos acreditam que a proposta do Acordo é inadequada para atingir seus objetivos, pois muitas palavras continuarão apresentando possíveis variantes ortográficas (múltiplas grafias). Exemplo: fenómeno / fenômeno, amígdalas/amídalas, amnistia/anistia. - Dicionários, gramáticas e livros terão que ser substituídos e isso acarretará num custo elevado para as editoras. - Editores têm afirmado que o acordo envolve um jogo de interesses de editoras brasileiras que querem entrar em países africanos (que adotavam a ortografia de Portugal). - Linguistas portugueses afirmaram que a adoção deste tratado acarretará um “abrasileiramento” do português (a quantidade de vocábulos alterados será de 1,6% em Portugal e apenas de 0,45% no Brasil). - Afeto pela grafia atual. O que mudou afinal? Mudanças no alfabeto O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram incorporadas as letras k, w e y. A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X, Y, Z Trema Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano. Mudanças nas regras de acentuação 1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos em éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). Ex. alcateia, androide, hebreia, apoio, apoia, asteroide, celuloide, colmeia, boia, coreia, epopeia, estreia, geleia, heroico, ideia, jiboia, joia, odisseia, paranoia, plateia. Mudanças nas regras de acentuação Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. Mudanças nas regras de acentuação Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo. Ex. bocaiuva, feiura, taoista. Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (seguidos ou não de s), o acento permanece. Se não ocorrerem depois de ditongo idem. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí, saúde, saída. Mudanças nas regras de acentuação 3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s). Ex. abençoo, creem, leem, doo, enjoo, perdoo, veem, voos, povoo. Mudanças nas regras de acentuação 4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Ex. Ele para o carro. / Ele foi ao polo norte. / Esse gato tem pelos brancos. / comi uma pera. (Pelos pelos) (Passeata para Brasília) Mudanças nas regras de acentuação Atenção: • Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode. Mudanças nas regras de acentuação • Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim. • Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros. Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba. Uso do hífen 1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos: anti-higiênico, antihistórico, co-herdeiro macro-história, mini-hotel, proto-história sobrehumano, super-homem, ultrahumano Exceção: subumano (nesse caso, a palavra humano perde o h). Uso do hífen 2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Exemplos: aeroespacial agroindustrial, anteontem, antiaéreo, antieducativo, autoaprendizagem, autoescola, autoestrada, autoinstrução, coautor, coedição, extraescolar, infraestrutura, plurianual, semiaberto, semianalfabeto, semiesférico, semiopaco. Uso do hífen 3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s. Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autopeça, autoproteção, coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudoprofessor, semicírculo, semideus, seminovo, ultramoderno. Uso do hífen 4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos: antirrábico, antirracismo, antirreligioso, antirrugas, antissocial, contrarregra, contrassenso, cosseno, infrassom, microssistema, minissaia, neossimbolista, semirreta, ultrarresistente, ultrassom Uso do hífen 5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal. Exemplos: anti-ibérico, antiimperialista, anti-inflacionário, antiinflamatório, auto-observação, contra-almirante, contra-atacar, contra-ataque, micro-ondas, microônibus, semi-internato, semi-interno. Uso do hífen 6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante. Exemplos: hiper-requintado, inter-racial, interregional, sub-bibliotecário, superracista, super-reacionário, superresistente, super-romântico. Uso do hífen Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante, etc. • Nos demais casos não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção. Uso do hífen 7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal. Exemplos: hiperacidez, hiperativo, interescolar, interestadual, interestelar, interestudantil, superamigo, superaquecimento, supereconômico, superexigente, superinteressante, superotimismo. Uso do hífen 8. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição. Exemplos: girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas, paraquedista, pontapé. Uso do hífen 9. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, prévestibular, pró-europeu. Uso do hífen 10. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos: Na cidade, conta-se que ele foi viajar. O diretor recebeu os ex-alunos.