Saber docente: o domínio do conhecimento e a competência pedagógica Miriam Struchiner Lúcia Inês Kronemberger Andrade Taís Rabetti Giannella Regina Ricciardi No dia-a-dia da escola, é comum serem ouvidas queixas dos professores em relação ao desempenho dos alunos, atribuindo o fracasso à imaturidade intelectual e pessoal; às deficiências do ensino; ao descaso quanto ao conteúdo que está sendo ensinado; à falta de motivação para o aprender. Esta situação vem provocando uma constante reflexão sobre COMO ENSINAR, já que os professores, em geral, têm clareza em definir O QUE ENSINAR, o que fica evidente no momento de elaboração do planejamento didático. O que fazer para superar esta problemática? Estudos recentes, longe de apontarem uma resposta ou “solução mágica”, mostram a importância de o professor lançar um olhar crítico-reflexivo e investigativo sobre sua atuação, buscando compreender sua visão sobre os alunos e sobre as diversas situações de ensino (Villani & Pacca, 1997). Para a prática educativa, é de fundamental importância que o professor compreenda que cada aluno traz uma bagagem de conhecimentos espontâneos, construídos a partir das experiências vividas e de acordo com suas características intelectuais, emocionais e sócio-culturais, que irá influenciar o processo de construção do seu conhecimento acadêmico. Além disso, é também importante, que o professor compreenda o ambiente de aula como um espaço de intercâmbio de informações e construção cooperativa do conhecimento entre todos os atores do processo educativo, cabendo-lhe o papel de orientador do processo de aprendizagem do aluno. Tradicionalmente, a competência do professor era medida pela amplitude e pela profundidade do conhecimento transmitido aos alunos. Hoje em dia, a concepção construtivista de educação ressalta a importância de o professor ter, além do domínio do conhecimento científico, competência pedagógica e habilidades para o diálogo produtivo com os alunos. No decorrer do exercício profissional, os docentes desenvolvem, ainda, um saber prático através de um processo de reelaboração de seu saber inicial, a partir das diferentes situações de ensino que vivencia. Assim, sua competência pedagógica é aperfeiçoada ao longo de sua carreira, a partir da reflexão permanente sobre sua prática e do confronto com as diferentes situações ocorridas no contexto escolar. Uma pesquisa realizada por Galthier et al. (1998, apud Nunes, 2001, p.6) apontou que existem ainda outras dimensões do saber docente que norteiam a prática educativa, conforme ilustra o quadro a seguir: Disciplinar referente “ao conhecimento do conteúdo a ser ensinado” Curricular referente “à transformação da disciplina em programa de ensino” das Ciências da Educação referente “ao saber profissional específico” ou seja, ao conhecimento das teorias pedagógicas que norteiam a prática docente da Tradição Pedagógica referente “ao saber de dar aulas que será adaptado e modificado pelo saber experencial e, principalmente, validado ou não pelo saber da ação pedagógica” da Experiência referente ao saber originado do cotidiano e do meio vivenciado pelo professor da Ação Pedagógica referente “ao saber experencial tornado público e testado”, ou seja, resultante da experiência do professor consolidada em sua atuação Quadro 1: Dimensões do Saber Docente Poderíamos dizer que as duas primeiras categorias referem-se ao domínio do conhecimento científico – O QUE ENSINAR - e as demais se referem à competência pedagógica – COMO ENSINAR. Esta discussão em torno dos saberes docentes está situada em um contexto mais amplo que explora os diferentes papéis e funções dos professores. De um modo geral, podemos dizer que o professor do Ensino Fundamental assume as funções de: 1) professor propriamente dito, ou orientador do processo de aprendizagem; 2) pesquisador e investigador e 3) membro ativo de uma comunidade acadêmica específica. Assim, além de assumir o papel de especialista, conhecedor e investigador de um determinado campo do saber, o docente necessita desenvolver habilidades pedagógicas. Em teoria, a relação docência/investigação poderia configurar um processo de potencialização mútua. Como discute Marcelo (1995), relacionar o processo de investigação às atividades de ensino pode repercutir na familiarização dos alunos, como futuros profissionais, com os problemas, dificuldades e rigor científico da disciplina que estão estudando. Dessa forma, a relação entre a produção de conhecimento e a sua comunicação deveria ser lógica, estável e fluida (Muñoz-Repiso, 2001). No entanto, sabemos que a realidade é outra. Na maioria das vezes, os alunos não conseguem relacionar as informações que os professores estão apresentando às práticas que estes desenvolvem. Em geral, os professores exercem a prática de ensino por um processo de formação didática e/ou pedagógica distanciado da realidade que trabalhará. Por outro lado, a maioria dos cursos de pedagogia e de planejamento de ensino apresenta uma visão restrita sobre o processo educativo, sendo essencialmente “conteudistas” e se limitando a conceituações e procedimentos. Acreditamos que os professores devem entrar em contato com as discussões atuais referentes às questões, teorias e tendências educacionais; porém, atualização deve ser cotidiano, de o processo de integrado ao seu maneira que possam “A educação permanente deve contemplar a diversidade de interesses e necessidades dos docentes, ser flexível, estar vinculada à prática, ser adaptável às constantes mudanças, ser equilibrada entre o conteúdo e o componente didático”. (Lampert, 1999) compreender e aplicar as novas metodologias e estratégias de ensino à luz de suas áreas do conhecimento. Neste sentido, a Internet pode oferecer ambientes de formação/atualização informais para os professores: portais temáticos especializados na área de educação (com artigos, exemplos de experiências, propostas de atividades); páginas das instituições de ensino, que apresentam as estruturas curriculares das disciplinas e fornecem meios de contato com os pesquisadores; listas de discussão sobre o campo educacional; cursos de atualização como este que estamos vivenciando. Além disso, a possibilidade de publicar suas páginas na Internet motiva os professores na divulgação de seus conhecimentos e experiências, ampliando a rede de troca de informação. Referências Bibliográficas LAMPERT, Ernani. O Professor Universitário e a Tecnologia. Universidade e Sociedade. Brasília (DF), v.9, n.20, 65-68, set-dez, 1999. MUÑOZ-REPISO, A. G. (Org.). Didáctica universitaria. Madrid: La Muralla, 2001. MARCELO, C. Formácion del professorado para el cambio educativo. Barcelona: EUB, 1995. NUNES, Célia Maria Fernandes. Saberes Docentes e Formação de Professores: Um Breve Panorama da Pesquisa Brasileira. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302001000100003&lng=pt&nrm=iso VILLANI, Alberto & PACCA, Jesuina Lopes de Almeida. Construtivismo, Conhecimento Científico e Habilidade Didática no Ensino de Ciências. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010225551997000100011&lng=pt&nrm=iso