O Ensino de Filosofia e os Procedimentos Metodológicos

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O ENSINO DE FILOSOFIA E OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Luiz Maximiano da Silva Fernandes1
Raimunda Lucena Melo Soares2
Este trabalho visa analisar as dificuldades pedagógicas e filosóficas do ensino da filosofia
aos alunos do curso do nível médio, assim como os procedimentos metodológicos usados pelos
professores em sala de aula. Nesse sentido verificamos o apoio pedagógico dado ao professor pela
instituição educacional e a metodologia trabalhado per ele com ou sem apoio pedagógico. Desse
modo pelos dados coletados por meio de entrevistas, questionários e observações, feitas em três
turmas de uma escola pública, e as leituras das obras de alguns teóricos podemos perceber que a
filosofia não está sendo ensinada corretamente em alguns aspectos conforme a LDB e o PCN de
filosofia.
Palavras Chaves: metodologia, prática, ensino.
A tradição filosófica ocidental compreende uma história de 2500 anos, e ao longo
desse tempo a filosofia sempre esteve ligada à educação e, como hoje, o seu ensino já encontrava
algumas barreiras metodológicas à formação do homem da polis grega, a partir disto pensou-se
então no que ensinar, o para quem, e no como. Atualmente as questões metodológicas ainda são
discutidas por alguns teóricos, isto porque a filosofia conseguiu resistir ao tempo e, a duras penas,
ainda é ministrada nas escolas de quase todo ocidente.
No Brasil alguns teóricos sempre estiveram preocupados em discutir os assuntos
relacionados ao ensino da filosofia, como por exemplo, Sílvio Gallo e Walter Kohan (2003), tanto
para um como para o outro a forma como a filosofia se faz presente nas escolas não oferece as
mínimas condições para a prática da filosofia, que deveria ajudar na transformação do indivíduo
Discente do 9° semestre do curso de Filosofia , na Universidade Federal do Pará, bolsista PROINT/BIA,
[email protected]
2
Orientadora, Mestre em Educação: Políticas Públicas, na Universidade Federal do Pará, Centro de Educação,
Departamento de Fundamentos da Educação, [email protected]
1
num ser crítico. A disciplina em alguns estados, se não na maioria, ainda encontra-se limitada a
duas horas semanais, perdida entre uma quantidade de outras disciplinas, sendo muitas vezes
ministrada por professores formados em outras áreas. Esse fato exige do professor um grande
esforço metodológico para não comprometer o ensino da filosofia.
Nesse sentido, este projeto tem como objetivo estudar os procedimentos
metodológicos utilizados no ensino da filosofia no curso do nível médio, tendo em vista as
dificuldades do professor em ensinar a disciplina. O ensino da filosofia tem como competência
“promover as condições da formação de uma cidadania plena e a finalidade de aprimorar no
educando uma formação ética e o desenvolvimento de uma autonomia intelectual e de um
pensamento crítico” (LDB art 35 inciso III), porém isso é dificultado levando-se em consideração
o fato de que em algumas escolas, como as públicas, é destinada a cada turma apenas duas horas
de aula por semana, sendo que em nosso estado, a disciplina faz parte apenas da grade curricular
da primeira série do ensino médio, o que torna impossível ao professor desenvolver de forma
coerente uma metodologia que esteja de acordo com os conteúdos filosóficos. Nesse sentido, se
tentará mostrar, após a averiguação de alguns dados, como esses procedimentos metodológicos
são afetados por essas dificuldades e até que ponto isto pode ser determinante no entendimento e
aprendizado do aluno, referente à disciplina.
Apesar da filosofia não ser uma novidade no ensino do curso do nível médio, visto que
a sua reinclusão no currículo escolar vem ocorrendo de forma gradativa há quase duas décadas,
ela continua a ser uma disciplina questionada como: o que é filosofia? Para que serve? Por que
deve ser estudada? E qual é sua importância no ensino médio?
A filosofia, assim como as ciências humanas, possui atribuições pedagógicas
garantidas em lei, mas nem sempre as da filosofia são respeitadas, por vários motivos, como por
exemplo, o fato de algumas instituições fornecerem à disciplina uma carga horária muito
reduzida, só para o cumprimento de uma grade curricular estabelecida em lei, que no artigo 36 da
seção IV, em seu parágrafo primeiro do inciso III da LDB não caracteriza a obrigatoriedade do
ensino da filosofia no curso do nível médio, o que faz pensar a mesma apenas como uma
disciplina complementar permitindo com que as direções de algumas instituições ,como as
privadas, ofertem ou não, dentro do quadro a ser preenchido de 25% das disciplinas optativas.
No documento do CEE (Conselho Estadual de Educação), Resolução N° 333/99, de 11 março de
1999, a disciplina é obrigatória, pelo menos nas escolas públicas é ministrada durante todo o ano
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letivo com uma carga horária definida, na primeira série do ensino médio, porém algumas escolas
privadas aproveitando brechas deixadas pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases), CEB (Conselho de
Educação Básica) e CED (Conselho de Educação), ministram a disciplina na metade do ano ou
então como oficinas. Toda essa situação concorre para que o aluno não perceba minimamente a
contribuição prática e pedagógica que a filosofia pode oferecer a sua formação ética e intelectual.
“[...] Ensinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
sua própria produção, ou a sua construção[...]”(Freire, 1996, p.52). Portanto, o papel do professor
como mediador, é propiciar aos alunos meios para que ele próprio possa produzir os seus
conhecimentos. Para o professor de filosofia esta responsabilidade é ainda maior, uma vez que,
faz parte de suas habilidades e competências formar no aluno um olhar crítico, o qual possa lhe
garantir um maior poder sobre os conteúdos que lhe forem apresentados.
Por a filosofia, na maioria das escolas, ter uma carga horária muito reduzida fica difícil
para um professor deixar de comprometer a sua aula e o desenvolvimento educacional do seu
aluno, ou seja, pela falta de tempo o professor na maioria das vezes compromete os seus
procedimentos metodológicos, tendo dificuldades em explicar e fazer com que os seus alunos
entendam o que é filosofia. Nesse sentido, o presente trabalho tem como mérito mostrar quais os
procedimentos metodológicos e as práticas que são usadas hoje pelo professor no ensino de
filosofia, e que a qualidade deste ensino esta ligada ao uso adequado de uma metodologia unida a
uma prática pedagógica que não faz do ensino filosófico uma mera reprodução de conhecimentos
já constituídos.
O principal papel da escola, é de educar o indivíduo para que seu aprendizado possa o
ajudar na sua vida cotidiana, já que se considera a mesma como “um fenômeno anterior e muito
mais amplo do que a própria escola” Paviani (1988, p.9). Desse modo, não devemos pensar a
educação, apenas como o que é possível aprender dentro de uma sala de aula, é necessário para o
desenvolvimento educacional do aluno que o professor aproveite parte do que o aluno aprendeu e
continua a aprender no seu bairro, na sua rua, na igreja, com amigos e família, com os meios de
comunicação enfim com tudo e todos que a todo instante lhe colocam de frente com o novo, com
o desconhecido, que por vezes lhe desencanta e encanta.
O professor como mediador do conhecimento deve ter um bom relacionamento com a
escola e com o seu aluno. Porém esse relacionamento passa a ser ameaçado na medida em que o
professor se coloca como um modelo do saber ou um paradigma, um tipo exemplar como diria
3
Platão, que só existiria em um mundo abstrato 3, além disso, esta questão ameaça também a
própria educação, pois como se sabe os paradigmas de tempos em tempos, entram em crise e isso
não seria diferente com um professor que se considera ou é tomado como tal.
Para Maria Aparecida Neves, quando um professor é tomado pelos seus alunos como
um sujeito do conhecimento, um exemplo do saber, passa ele próprio a ser um entrave para o
desenvolvimento educacional do seu aluno e um empecilho para a ação pedagógica, pois por
conta de uma postura como esta o professor passa a ser odiado por seu aluno que, também passa a
odiar a disciplina que é ministrada por seu professor, assim diz a autora.
Curiosamente, por vezes, a projeção, pelo aluno no professor, de “sujeito
do saber”, acaba sendo repudiada pelo próprio aluno, posto que ele espera
que o professor não se ponha nesta posição, ao mesmo tempo em que
espera ser compreendido e aceito no seu não saber (Neves, 1999. p.54)
A partir do que foi observado, podemos dizer que a autora foi feliz no que disse, pois
os alunos, hoje, apesar de projetarem no professor um “sujeito do saber” não querem encontrar no
mesmo esse sujeito, há neles a esperança de encontrar no professor uma espécie de amigo e
parceiro. Para o desenvolvimento educacional é necessária uma parceria como essa, é importante
que não só o professor, mas também o aluno, abra mão de suas porções narcisistas, para que
possam dialogar e um ouvir o que o outro tem a dizer.
O professor deve ter consciência de seu papel de agente transformador, e ao de
filosofia este papel dá uma responsabilidade maior, pois é ele quem ministra a disciplina que tem
como uma das especificidades ajudar o aluno, enquanto indivíduo, a refletir, a partir dos
conceitos filosóficos, a realidade que o cerca, assim diz Evandro Ghedin “A filosofia há de ajudar
o jovem pensar a realidade e a repensá-la com base no próprio contexto que esta inserido” (2002,
p.215). É importante que o professor de filosofia tenha um bom relacionamento com seus alunos
para ter acesso ao mundo destes e com isso possa inserir os conteúdos filosóficos para que os
mesmos possam ter uma melhor visualização do que seja a filosofia.
A questão da parceria do professor com os seus alunos também passa pela linguagem
usada pelo docente em sala de aula. Para que se possa fazer compreender por seus alunos, é
necessário que utilize uma linguagem acessível, isso não quer dizer que deva banalizar o ensino
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Esta questão e vista em algumas passagens da república onde Platão expõe sua teoria sobre as idéias
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da filosofia, mas possibilitar o acesso do aluno aos conteúdos e conceitos filosóficos, pois como
sabemos a linguagem filosófica e difícil e quase inacessível ao aluno do nível médio, e como diz
Ghedin “[...] cabe aos professores não o simplismo filosófico, mas a simplicidade do filosofar”
(2002, p.223). Para que o aluno possa ter acesso ao processo de sistematização do pensamento
filosófico é necessária que o nível do ensino que lhe é destinado seja adequado a sua dificuldade,
pois muitos não sabem nem ler e nem interpretar um texto comum que dirá um texto filosófico.
Como percebemos é importante ao professor ter acesso à realidade do seu aluno para
que possa usar esta como ferramenta no ensino da filosofia. Por mais que ela tenha uma
linguagem demasiadamente abstrata, muitos dos seus conceitos podem ser contextualizados com
a realidade do aluno, e com isto concorda Ghedin quando fala que a linguagem da filosofia
consiste numa "linguagem mais abstrata, mas que, nem por isso, deixa de traduzir a linguagem
mais concreta” (2002, p.222). Temos que ter o cuidado de, em sala de aula, usar um vocabulário
que torne a disciplina mais compreensível e não cause, a custa de uma linguagem rebuscada, a
reprodução de certos preconceitos por parte dos alunos à disciplina, ao contrário disso é
necessário fazer com que os alunos peguem gosto pela reflexão.
A partir do que foi pesquisado e do que os autores dizem, podemos perguntar: será que
não podemos pensar a questão da parceria aluno - professor como o primeiro passo de uma ação
pedagógica para o bom desenvolvimento do ensino da filosofia? Ou será que esta parceria se
mostra irrelevante ao seu ensino e não teria nenhuma relação com os procedimentos
metodológicos usados pelo professor em sala de aula?
A relação aluno-professor não acontece de modo isolado mas num contexto ou
cenário maior, na escola, que abriga dentro de si um conjunto de relações dinâmicas e complexas.
Os indivíduos que dela fazem parte não se encontram isolados, porém situados em grupos de
alunos, professores, coordenadores, serventes e direção, cada qual com sua função, direitos e
deveres. Por isso há dentro da escola um jogo de interesses, em que os interesses de um grupo
nem sempre são os de outro, o que acaba ocasionando uma tensão, Paviani chama a atenção a esse
respeito “[...] partindo da premissa que antes de tudo existem, de fato, grupos e não indivíduos
isolados, grupos de pessoas e não prédios; a educação por origem, essência e finalidade é uma
ação comunitária” (1988, p.60)
A escola encontra-se dentro de uma sociedade que é, de certa forma, produzida por
ela, isso por que a educação não é neutra, ela se faz por homens e mulheres que pensam de formas
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distintas e em coisas diferentes. Cada um representa um universo diferente, cheio de problemas e
soluções. Mas dentre esses o aluno é o mais importante, ao entrar na escola, ele leva consigo toda
uma cultura que teria adquirido fora dela ou na sociedade, que é produto da própria escola. Esse
aluno aparenta-se estranho à escola, pois esta não cria meios para estreitar laços com o mesmo e
sociedade em que vive. É como diz Paviani: “[...] só a dimensão comunitária da escola permite
transformar o ensino em educação, pois somente a escola que conhece a realidade de seus alunos
e o contexto social de onde provém, pode realizar eficazmente o processo de aprendizagem”
(1988, p.60)
Mas temos que levar em consideração que para uma escola pública conhecer a
realidade de seu aluno é difícil, não adianta somente a boa vontade da direção e dos professores, é
necessário um subsidio material, para criar as possibilidades que a ajudem no estreitamento das
relações com os alunos e com a comunidade em que se encontram inseridos.
Apesar de tudo o que foi dito, o mais importante para o nosso trabalho, que estuda a
questão dos procedimentos metodológicos usados no ensino da filosofia, é saber o quanto é
importante para o ensino desta o apoio pedagógico dado a ela pela instituição. Neste sentido
temos, a partir do que foi observado, uma certa dificuldade em pensar o que é este apoio
pedagógico, será que devemos pensar este apenas como um subsidio material (biblioteca,
laboratório de informática etc.) que é dado à disciplina? Ou, além disso, devemos pensar também
a liberdade que é dada ao professor, de tratar certos conteúdos que levem o aluno a pensar o seu
próprio ser, a sua realidade, e até mesmo a sua escola?
Colocamos essa questão por sabermos que a escola é um ambiente heterogêneo em
que há relações complexas e polêmicas. Por ser pública acaba por servir como instrumento de
manipulação nas mãos de governos elitistas e conservadores. Isso não é difícil de ser provado, os
próprios alunos como vimos na pesquisa, salvo 32%, entram na escola pública com ou sem
objetivo, outros apenas com o interesse no certificado de conclusão do ensino médio, a fim de
facilitar uma colocação no mercado de trabalho, virando assim mão de obra, quase sempre barata,
para a sociedade capitalista. É apenas para isto que a escola serve? A finalidade da escola não é a
educação de forma ampla? É este o fim da educação? Sendo assim, como ficaria o ensino da
filosofia?
Apesar do professor de filosofia se encontrar nesse espaço, ele não deve esquecer o
seu papel político, para possibilitar “ao educando a descoberta do lugar social que ele ocupa”
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(Ghedin, 2002, p.227), é necessário que ele ajude o aluno a tirar o véu que encobre as relações de
poder existente em sua escola e sociedade. Tendo o professor como mediador do conhecimento e
a filosofia como a ajuda na reflexão dos problemas de nossa realidade, e tendo como base à
realidade da escola, quais seriam os melhores procedimentos metodológicos usados no ensino da
filosofia e que conteúdos deveriam ser ensinados?
Apesar dos professores terem um bom relacionamento com os seus alunos, com a
direção da escola, com os colegas de profissão e com os outros funcionários, não podemos dizer
que só por isso há um bom trabalho desenvolvido no ensino da filosofia, existem dificuldades que
estão relacionadas no como, e no o que ensinar, pois a forma de como se ensina filosofia está
ligada com o que se ensina. É dado, pela Secretária de Educação aos professores de filosofia, um
programa, onde os conteúdos encontram-se distribuídos em eixos temáticos, até aí tudo bem, mas
o problema encontra-se no fato dos professores usarem para ministrar esses conteúdos, quase
sempre, somente textos ou livros didáticos, dificilmente há a preocupação em usar os textos
fontes de algum filósofo que trate do assunto que esteja sendo ministrado. Esses recursos são as
vias mais fáceis, não exigem do professor grande esforço científico, pois não requer pesquisa.
Para os professores, é melhor trabalhar um programa temático do que historiográfico
ou misto (historiográfico e temático). Do ponto de vista metodológico esse talvez não seja o
maior problema, mas sim a falta de consciência da importância de se trabalhar os textos fontes
para que a aula seja realmente de filosofia, pois sem as fontes ela seria vazia filosoficamente.
Apesar dos professores trabalharem alguns conceitos de filosofia muitos deles ficam soltos, pois
quase sempre não são situados a nenhum autor e a nenhuma obra, isso tudo é um resultado do uso
exagerado dos manuais ditos “didáticos” que além de serem simplistas não trazem fragmentos
dos textos fontes, salvo algumas exceções.
Antes de ter começado a falar sobre o programa da disciplina, deveríamos ter aberto
uma pequena discussão sobre a questão, o que é a filosofia? Mas como já sabemos não há
consenso entre os teóricos, em relação a uma resposta a essa questão. Cada autor irá definir de
forma diferente, seja ou como reflexão, ou como contemplação, ou a arte da comunicação. Para
Silvio Gallo, tendo por base Deleuze e Guattari que a definem como a “atividade de criar
conceitos”, seria a disciplina que ajuda na criação de conceitos. Se tomarmos essa definição como
parâmetro, poderemos dizer que as aulas que foram observadas não se caracterizam como de
filosofia.
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Segundo a visão do autor, os alunos devem aprender a produzir conceitos a partir dos
conceitos já produzidos por outros autores, seriam “ferramentas que usamos ou não na medida em
que são ou não interessantes para nossos problemas” (Gallo, 2002. p. 221). Para o aluno do nível
médio é útil uma filosofia que lhe ajude nas soluções das diversidades que a vida lhe impõe, é
importante que ele deixe de ser passivo, um mero depósito de conhecimento, e passe a ser ativo na
produção deste, ele próprio deve produzir os seus conceitos. Neste ponto, o autor vê a importância
dos pensamentos já consagrados, pois a diversidade das filosofias ao decorrer na história serve
como a “matéria prima” para a produção do aluno. A partir disso o professor deve selecionar
problemas filosóficos que tenham algo a ver com a realidade, ou com os problemas vividos pelos
alunos.
Essa seria a proposta do autor para o ensino da filosofia e a ela seriam aplicados, até
como forma metodológica, problemas que forcem os alunos a criarem ou recriarem conceitos a
partir dos já consagrados. Porém isso é difícil, se considerarmos a realidade do ensino da filosofia
hoje, e pelas dificuldades, como as que foram descritas no início deste trabalho, por que passam
os professores e a escola. Mas talvez esta seja a saída. Por que não usar estas dificuldades como
problemas? Será que os professores estão atentos para isso?
Kohan também compartilha da mesma idéia que Gallo, para o autor o ensino da
filosofia hoje não faz o aluno pensar, mas apenas imitar modelos de pensamentos já pensados,
isso por que o professor que “ensina com vistas a um modelo a imitar nada ensina” (Kohan, 2002.
p.35) fazendo assim com que o aluno não pense e não aprenda a pensar. O professor deve apenas
mostrar o caminho que o faça chegar a pensar por si mesmo. Mas, qual seria esse caminho? Para
o autor não há “o caminho”, mas os métodos os quais são os mais variados, cabe a cada professor
escolher os mais viáveis e que mais se abdiquem ao perfil do seu aluno.
Pelo que notamos em alguns autores, como nos mencionados, há uma relação do que
eles propõem para o ensino da filosofia com a liberdade de pensar. Nesses termos, um programa
de conteúdos para o ensino da filosofia tiraria esta liberdade, ficando o professor, de certo modo,
preso ao cumprimento do programa estabelecido. Hoje sabemos que em alguns estados se vem
dando uma importância maior à filosofia, e o efeito disso estaria na inclusão da disciplina nos
vestibulares, porém uma vez inclusa, torna-se exigido dela um programa a ser estudado pelos
alunos do ensino médio, mas é necessário levantar algumas questões como: de que maneira as
universidades cobram os conteúdos filosóficos dos alunos do nível médio? Quais os
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conhecimentos necessários a serem cobrados dos alunos, os pensamentos já consagrados ou
conceitos elaborados por eles mesmos? Caso seja, os pensamentos já consagrados, como fica a
questão do aluno com os seus conceitos? Será que estando preso a um programa para um exame
de vestibular o professor é capaz de ensinar filosofia ou apenas irar repassar os conteúdos e
conceitos já consagrados?
O PCN de filosofia propõe que a metodologia a ser usada para o ensino da filosofia, no
que se refere ao programa, seja ou por eixo temático, ou por via da história da filosofia, ou de
forma mista, trabalhando com aquelas duas formas. Além disso, esse documento também diz que
o aluno, que estuda filosofia, deve ter certas habilidades como “ler textos filosóficos de modo
significativo” e “ler de modo filosófico diferentes estruturas e registros”. Mas como percebemos,
uma vez que em sala de aula não se faz uso dos textos filosóficos, fica difícil atender a essas duas
habilidades contidas no PCN, assim como as outras que são exigidas.
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