APÊNDICE

Propaganda
ApÊNDICE
RESUMO DA CONCLUSÃO DO DEBATE
por Mareel Mauss
,
Levantou-se o problema muito sério das categorias do espírito. Tinha-se direito a isso, pois seu estudo é
um dos pontos em que nossos trabalhos se reúnem. Queremos, de fato, como os senhores, que essas categorias
sejam analisadas de modo concreto, não dialético. Quero declarar aos senhores por que não me aventurei nesse
sentido. :É que ainda se fazem necessários muitos trabalhos de aproximação. Sem dúvida, é prematuro oferecer
algo além de indicações. De outro lado, precisamente entre os trabalhosos estudos que seriam necessários, os
mais necessários não nos são comuns: trata-se dos estudos históricos, a respeito dos quais, para os senhores, eu
não teria o que falar.
As categorias aristotélicas não são, realmente, as únicas exis
tentes em nosso espírito, ou que nele existiram e das quais é necessário tratar. Antes de tudo é preciso elaborar
um catálogo de categorias, o maior possível, a partir daquelas que, sabe-se, foram utilizadas pelos homens.
Ver-se-á então que houve e que ainda há muitas luas mortas, ou pálidas, ou obscuras no firmamento da razão.
O pequeno e o grande, o animado e o inanimado, o direito e o esquerdo têm sido categorias. Entre as que
conhecemos, tomemos, por exemplo, a de substância, a que dediquei uma atenção muito técnica: quantas
vicissitudes não foram por ela enfrentadas? Ela teve, por exemplo, entre seus protótipos, uma outra noção,
particularmente na tndia, na Grécia: a noção de alimento.
Todas as categorias são apenas símbolos gerais que, como os demais, só lentamente foram adquiridos pela
humanidade. :É preciso descrever esse trabalho de construção, que é precisamente um dos principais capítulos
da sociologia tratada do ponto de vista histórico.
206 Sociologia e Antropologia
Tal trabalho foi complexo, erradio, arriscado. A humanidade edificou seu espírito com todos os meios: técnicos
e não-técnicos, místicos e não-místicos, servindo-se de seu espírito (sentido, sentimentos, razão), servindo-se
de seu corpo, ao azar das escolhas, das coisas, dos tempos, ao azar das nações, de suas obras e de suas ruínas.
Nossos conceitos gerais são ainda instáveis e imperfeitos. Creio sinceramente que será por esforços
conjugados, mas provindos de direções opostas, que nossas ciências, psicológicas, sociológicas, históricas,
poderão um dia tentar uma descrição desta penosa história. E creio que será essa ciência, esse sentimento da
relatividade atual da nossa razão, que talvez há de inspirar a melhor filosofia. Permitam-me concluir assim.
II
Download