VÍRUS INTRODUÇÃO A palavra vírus origina do latim e significa veneno ou fluido venenoso. Os vírus como partículas extracelulares, não têm atividades metabólicas independentes e são incapazes de reprodução por cissiparidade, gemulação ou outros processos observados entre as bactérias e outros microrganismos, sendo portanto parasitas intracelulares. HISTÓRICO A virologia teve seu início no final do século XIX, com o reconhecimento da existência de agentes infecciosos capazes de passar através de filtros que retinham bactérias, sendo portanto menores do que estas. A primeira descrição do vírus devemos a Dmitrii Iwanowski que em 1892, referiu que o agente da doença do “mosaico do tabaco”, poderia passar livremente através dos filtros, pois utilizando-se de filtrados de plantas sofrendo da dessa doença, foram capazes de produzir a doença em uma nova planta hospedeira. Figura 1: Filtração de extrato de plantas contaminadas com a doença do mosaico do tabaco utilizando filtros bacteriológicos (vermelho), os vírus passam junto com o filtrado para o frasco. Iwanowski e colaboradores concluíram que tinham descoberto uma nova forma de vida patogênica, que eles chamaram de seres inanimados, mas funcionais. Hoje com a evolução dos conhecimentos teóricos e científicos verificou-se que nem todos os agentes filtráveis podiam ser classificados como vírus, pois sabe-se que as menores bactérias como Chlamydia e Mycoplasma são tão pequenas quanto os maiores vírus e portanto podem passar por filtros que retêm 99% de outras espécies de bactérias. A virologia expandiu-se consideravelmente nos primeiros 30 anos deste século, com a caracterização de um número crescente de doenças humanas, animais e vegetais causadas por vírus. Neste período, foram também descritos vírus capazes de infectar bactérias, os chamados bacteriófagos. Os bacteriófagos (“comedores de bactérias”), foram observados independentemente nos anos de 1915 (TWORT), na Inglaterra e 1917 (d`HERELLE), no instituto Pasteur de Paris. Os vírus, no entanto, não foram visualisados até o desenvolvimento do microscópio eletrônico, na década de 30 verificando-se que os bacteriófagos são considerados os vírus de estrutura mais complexa. Novos vírus estão sendo descobertos o tempo todo. O marco fundamental na história da virologia corresponde ao momento em que foi descoberto por Stanley (1940) que o vírus do mosaico do tabaco podia ser cristalizado (assim como os sais inorgânicos e proteínas moleculares) e que os cristais inanimados, podiam produzir doença em plantas sadias. A controvérsia, de serem os vírus organismos vivos ou não, foi então novamente reanimada. Essa descoberta teve um grande impacto no campo das ciências biológicas em geral, da ciência médica, e dentro do próprio campo da bioquímica, onde os conhecimentos que se acumulam, sobre a estrutura viral, deram origem a uma nova área do conhecimento, a biologia molecular. Existem diferenças fundamentais entre os vírus e as células vivas, que foram enumeradas por Stainer e colaboradores (1969) que são: a) apresentam propriedades muito diferentes da unidade estrutural de um ser vivo, a célula; b) Enquanto o genoma celular é constituído por DNA e RNA, no genoma viral só se encontra um dos dois ácidos nucléicos; c) apresentam como constituintes orgânicos apenas ácido nucléico e proteína; d) podem conter uma ou algumas enzimas, porém seu complemento enzimático é insuficiente para reproduzir outro vírus, ou seja, o vírus não possui portanto, ao contrário da célula, sistema enzimático próprio; e) é sempre replicado exclusivamente a partir de seu material genético por uma célula; f) o vírus finaliza seu processo de multiplicação por organização de seus constituintes sintetizado pela célula. Estas diferenças, e o fato de os vírus poderem ser cristalizados, sem perder o poder infeccioso, permite-nos, numa análise simplista, considerar os vírus como microrganismos de grande simplicidade ou moléculas de grande complexidade. Além de seu tamanho reduzido de 20 nm (10-9 metro) a 250 nm, os vírus replicam seu material genético, que como todas as formas de vida, é composto por polímeros de ácidos nucléicos. Os vírus têm características em comum: são entidades parasitas intracelulares obrigatórios, são incapazes de crescer e reproduzir-se fora de uma célula viva, apresentam uma organização e composição estruturais características, além de um processo único de replicação. Para uma análise mais cuidadosa da estrutura e natureza dos vírus, é necessário um estudo mais detalhado em relação a caracterização dos vírus, e morfologia viral. 1. MORFOLOGIA VIRAL Com a descoberta da microscopia eletrônica, tornou-se possível estudar a morfologia dos vírus. As fotografias das imagens virais em microscopia eletrônica, revelaram suas formas, dimensões e estruturas internas, demonstrando que cada vírus possui características próprias. Cada partícula viral ou virion é constituída por cerne ou núcleo de ácido nucléico (DNA ou RNA, mas nunca ambos) recoberto por um invólucro protéico denominado cápside ou capsídio; o conjunto ácido nucléico/invólucro protéico constitui a nucleocápside ou nucleocapsídeo. A cápside é formada por múltiplas subunidades denominadas capsômeros. Existem ainda nucleoproteínas que envolvem o DNA ou RNA viral, como uma capa. É proteção contra ataques das enzimas da célula infectada. Além delas alguns vírus carregam proteínas que ajudam na replicação. Alguns vírus possuem a nucleocápside envolvida por um envoltório, envelope ou invólucro de glicoproteínas e/ou lipídios. Os vírus sem esse envelope são denominados vírus nus, e aqueles que possuem esse envelope são denominados encapsulados ou envelopados. As espículas são constituídas de proteína, e são essas estruturas presentes nos vírus com envoltório que se ligam aos receptores expressos na superfície da célula, a forma dessas espículas e dos receptores é o que define que partes do corpo o vírus vai infectar. Estes vírus podem ser organizados segundo estruturas icosaédricos, helicoidais e de estrutura complexa: Tipos morfológicos: 1) Vírus Icosaédricos: Os capsômeros organizam-se em icosaédricos (20 faces triangulares eqüiláteras, 12 vértices, e 30 arestas), os capsômeros dos vértices de cada face são chamados “pentons” e os capsômeros das faces de “hexons” . Ex. poliomielite, adenovírus, herpesvírus. 2) Vírus Helicoidais ou Tubulares: Os capsômeros organizam-se segundo simetria do tipo helicoidal (vírus do mosaico do tabaco, da batata, vírus da influenza e caxumba), dispondo-se o ácido nucléico na parte interna das unidades protéicas, associado as mesmas. 3) Vírus Complexos: Possuem envelope e são geralmente pleomórficos, pois o envelope não é rígido. Exs. Esféricos (arbovírus; arboencefalites), paralelepípedos (poxvírus; varíola), da raiva e os bacteriófagos.