COLÉGIO INTEGRADO Av. Irmãos Pereira, 670 Campo Mourão/PR – CEP 87301-010 FONE: 0xx 44 3523-1982 FILOSOFIA Apostila/ TERCEIRÃO (M3) – E. Médio VOL. II Aluno(a): Professor (a): Nº.: Data: UNIDADE 02 HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA e ESCOLÁSTICA (IDADE MÉDIA) A filosofia entra agora em um novo momento de sua história, bem distante da Atenas de Sócrates ou do mundo grego. Ela passará por um universo cultural diferente daquele onde nasceu. O contexto em que vamos nos inserir é eminentemente cristão. Nesta unidade, estudaremos como a filosofia, durante determinado período, teve como objetivo principal responder a questões ligadas à existência e à bondade de Deus através das idéias e convicções de dois representantes do pensamento religioso: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino1. O mundo medieval: formas sociais, elementos históricos e culturais Ao longo do século V d. C., o império do Ocidente sofreu diversos ataques dos chamados povos bárbaros. O período medieval é fruto desse confronto, e a partir das muitas invasões foi-se constituindo uma nova organização social na Europa. Devido ao esfacelamento do Império Romano, a Igreja Católica passa a ocupar o poder na sociedade medieval e se mantém como a maior instituição social e política na Idade Média, acumulando muito poder e riqueza, consolidando sua organização religiosa e política, difundindo o cristianismo e mantendo muitos elementos da cultura greco-romana. A base da economia na Idade Média é o campo; há um enfraquecimento comercial, o modo de produção é o sistema feudal, e a sociedade permanece 1 Esses dois pensadores cristãos não viveram na mesma época. Eles estão separados por 900 anos, estando Santo Agostinho no início da Idade Média e Santo Tomás de Aquino em seu apogeu. hierarquizada em clero, nobres e plebeus. No sistema feudal, as relações entre as classes era de vassalagem e suserania, a saber: Suserano – era quem dava um lote de terra ao vassalo, que deveria jurar fidelidade e ajuda ao seu suserano. Vassalo – oferecia ao senhor feudal, ou suserano, fidelidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem estendiam-se por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso. A sociedade tinha pouca mobilidade social. A nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadava impostos dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica), além de ser formado por senhores feudais, tinha um grande poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade e mantinha-se isento de impostos e arredava o dízimo. Presentes em todos os níveis de uma sociedade marcada pela religiosidade, os membros da Igreja Medieval fomentaram valores como a passividade e a subordinação dos homens comuns perante o senhor, tanto o senhor espiritual (clérigo), encarregado de proteger as almas, quanto o senhor feudal da terra (nobre), que protegia os corpos. Com o tempo, num mundo em que a minoria era alfabetizada, as igrejas, os mosteiros e as abadias converteram-se nos únicos centros da cultura letrada. Nesses mosteiros e abadias medievais, encontravam-se as únicas escolas e era lá que se preparavam e restauravam textos antigos da herança greco-romana. O poder religioso, entretanto, necessitava de suporte filosófico para sua vigência histórica. Motivados por esse intento, dois pensadores cristãos destacaram-se nesse período: Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino. Agostinho encontrou em Platão e Tomás de Aquino em Aristóteles, elementos da razão (grega) que pudessem auxiliar a compreensão “racional” da fé religiosa. Assim sendo, as soluções filosóficas para a questão do ser contaram com a mediação da doutrina religiosa católica. Mais que isso, a filosofia será um instrumento muito útil a serviço da teologia. O tema central é a tentativa de conciliar Fé e Razão. De maneira simplista, é possível dividir a filosofia medieval em dois grandes períodos, a saber: a Patrística e a Escolástica. A PATRÍSTICA A patrística precede a escolástica medieval, e sua principal característica reside no seu caráter apologético: é preciso defender os ideais cristãos perante os pagãos e convertê-los. Presencia-se a retomada da filosofia platônica, especialmente por Santo Agostinho, bem como do neoplatonismo por Plotino. Agostinho vai ser, de certo modo, o sistematizador da experiência cristã até o século V, assim como, anteriormente a ele, os autores cristãos (padres da Igreja – por isso , em termos de filosofia, esse período foi denominado de patrística) debateram-se no desejo de produzir uma organização da doutrina cristã. Foi um período muito polemico, tendo em vista que uma doutrina nova, para se estabelecer, tem de agir e reagir em um meio que já tem práticas e concepções arraigadas a respeito do mundo e da vida. A organização da doutrina cristã debatese com as formulações gregas cristalizadas. Assim, nesse contexto, os padres da tradição oriental ou grega esforçaram-se por harmonizar o pensamento grego com a nova doutrina, e os padres ocidentais ou latinos trabalharam no sentido de exorcizar o paganismo, isto é, toda a doutrina contrária à da religião católica, e firmar o valor da doutrina cristã. Entre os apologetas defensores da Igreja que viveram no século II da era cristã, pode-se contar com Justino, Taciano, Atenágoras, Marco Aurélio, Teófilo de Antioquia e Tertuliano de Cartago; Clemente e Orígenes, de Alexandria, viveram no século III e criaram a primeira escola catequética em sua cidade de origem, sendo mais suaves em sua oposição ao mundo pagão e mais construtivos doutrinariamente, procurando formular uma compreensão em que a fé e a razão pudessem se auxiliar mutuamente, no entendimento e no direcionamento da vida. Santo Agostinho é considerado o considerado o construtor da grande síntese filosófico-teológica da Igreja católica antiga. Ele meditou sobre as experiências vigentes em seu momento e em seu lugar. Santo Agostinho (354-430) A vida de Santo Agostinho pode servir de paradigma2 ao que estava acontecendo em seu tempo. Nascido na África, mais precisamente na cidade de Tagaste, Numídia, Agostinho estudo em Cartago, onde entrou em contato com a 2 Em termos filosóficos, paradigma é um “modelo” ou “exemplo” ideal. O uso desse conceito remete, portanto, à idéia de que os dois termos são semelhantes ou, no caso, que alguns aspectos do desenvolvimento de seu tempo ocorreram de forma parecida. Página 3 filosofia greco-romana. Primeiro estudou Cícero, depois se tornou discípulo da filosofia maniqueísta3 por dez anos, até abandoná-la em 383, para, anos depois, descobrir o neoplatonismo4. Santo Agostinho converteu-se ao cristianismo em 386, com 32 anos. Isso que dizer que ele carregou dentro de si, assim como seu tempo, a filosofia e o cristianismo, procurando conciliar suas visões sobre o conhecimento de Deus e do homem. O ponto de partida da meditação filosófica de Agostinho é o homem, considerado sede de Deus, que mora no seu interior. À medida que o ser humano investiga a si mesmo, investiga Deus, pois que este reside nas profundidades do seu ser. Para ele, não há, então, como colocar o problema do homem sem pôr o problema de Deus. Já o mundo exterior só faz sentido nesse contexto do homem que tem Deus dentro de si. Ele tem uma fórmula que diz: “de fora para dentro e de dentro para Deus”, ou seja, o caminho é para o divino, tendo o ser humano como mediador entre o mundo exterior e o divino, que mora dentro dele mesmo. A verdade, pois, está dentro de cada um; é preciso, pela meditação, pela conversa consigo mesmo (soliloquium), entrar em contato com a verdade. Agostinho acreditava, então, que o limite do homem era a medida de sua comunhão com Deus nesta vida terrestre. Segundo o pensador cristão, o mais próximo que as pessoas conseguem chegar de Deus será quando morrerem e forem para o céu. Se quisermos 3 O maniqueísmo surgiu com o pensador persa Mani (215-376) e baseava-se na idéia de que o mundo é regido por dois princípios absolutos: o bem e o mal. Daí a expressão maniqueísta usada para definir pessoas que consideram tudo em seus opostos: ou uma coisa ou outra, sem meio-termo. 4 O neoplatonismo pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo intransponível no dualismo e racionalismo gregos – dualismo e racionalismo que nem sequer o gênio sintético e profundo de Aristóteles conseguiu superar. realmente conhecer Deus, teremos de esperar pelo fim de nossa vida, quando nossas almas poderão experimentar a realidade divina sem estar presas à realidade física. Essa visão põe as pessoas a certa distância de Deus e o faz parecer ainda mais perfeito e poderoso, enquanto faz as pessoas parecerem ainda mais fracas e pecadoras. Se as coisas não são como queremos, é por causa de nossa culpa. Eis o que Agostinho diz: “Mesmo assim, o fato de não podermos experimentar Deus plena e diretamente não significa que não devamos tentar compreender a verdade divina nesta vida.” Através destas palavras, percebese o quanto Agostinho estava preocupado com a relação entre Deus e a alma humana como uma chave para o entendimento da verdade divina. Santo Agostinho começou como cético, ou seja, não acreditava na unidade nem em muitas outras coisas. Ele lidou com seu ceticismo como o filósofo René Descartes faria séculos depois: voltou-se para dentro de si a fim de verificar se havia algo de que pudesse ter certeza. Concluiu que, mesmo que estivesse errado sobre todo o resto, poderia ter certeza de que Deus existia. Daí concluiu que a relação entre o eu interior e Deus era de suma importância. “Crer para compreender, compreender para crer”. Frase utilizada por Agostinho para demonstrar que a razão humana é limitada e necessita da ajuda (iluminação) divina, que se manifesta na forma de revelação pelas Sagradas Escrituras. Por outro lado, a razão auxilia a mente humana na compreensão da fé. No que se refere ao mundo, criado e contingente, Agostinho enfrenta o problema do mal. E esse era um dos grandes problemas que dificultavam a aceitação de agostinho em relação à idéia de divindade. Por que um criador divino e perfeito teria criado também o mal? Página 4 O mal é visto do ponto de vista metafísico, o mal não existe, mas há apenas graus inferiores de seres se comparados a Deus; do ponto de vista moral, o mal nasce da vontade má que, em vez de se dirigir ao Sumo Bem, tende a bens inferiores; por fim, do ponto de vista físico, é uma conseqüência do pecado original, todavia, pode servir de purificação para a salvação. O homem é livre como um dom dado por Deus. Agostinho concebe, a partir de sua visão judaico-cristã, que o homem foi criado por Deus com dons sobrenaturais. O homem era livre e capaz de escolher entre o bem e o mal, com inclinação para escolher o bem. Para conservar esse bem, segundo Agostinho, Adão era ajudado pela graça divina; porém ele pecou e foi abandonado por Deus. Adão se corrompeu e, com ele, toda a humanidade; nele existia a natureza seminal (aquela que dá origem a todas as coisas por evolução). Assim, Adão perdeu a liberdade plena, restandolhe a liberdade de escolha – o Livrearbítrio. Em resumo, Agostinho foi responsável por uma espécie de sacralização de Platão, visto que admitiu que a alma, criada por Deus, habita o corpo e deve buscar sua perfeição, voltando-se para Deus, até atingir o estágio em que, auxiliado pela graça, possa exclusivamente escolher o bem. Aí, então, terá reencontrado Deus. Platão pensara na alma que retorna ao mundo das idéias perfeitas. Aplicação em Sala! 01 (UEM/2008) – A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o pensamento filosófico greco-romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta frase: “Credo ut intelligam” (Creio para entender). A esse respeito, assinale o que for correto. 01) Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Idéias à luz do cristianismo e formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. 02) De acordo com Santo Agostinho, a razão é superior e precede a fé; pois, se o homem, ser racional, for incapaz de entender os ensinamentos religiosos, não poderá acreditar neles. 04) Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria auxiliar da fé e estaria a ela subordinada. 08) Para Santo Agostinho, fé e razão são inconciliáveis, pois os mistérios da fé são insondáveis e manifestam-se como uma loucura para a razão humana. 16) A fé, para Santo Agostinho, não oprime a razão, mas, ao contrário, abrelhe os olhos que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas próprias forças, deduzirá conseqüências e tentará resolver os problemas que Deus deixou para nossas livres discussões. A ESCOLÁTICA Até o século XIII, quando começa a formação das universidades, as escolas tinham por missão a transmissão dos ensinamentos religiosos. Só nos séculos XII e XIII formaram-se as primeiras universidades, com conseqüências notáveis, como a contribuição na formação de uma classe de intelectuais. Página 5 Apesar de toda essa imagem de tempo de declínios, ou seja, da queda de Roma, da queda do comércio, da vida borbulhante nas cidades, enfim, a Idade Média, ou “idade das trevas”, também contou com uma vida cultural, que era exercida primordialmente por trás dos muros dos monastérios. Essa vida cultural, que podemos imaginar ligada ao cristianismo, incluía a atividade dos copistas, que eram monges dedicados a traduzir e a copiar textos antigos, o que garantiu a continuidade da existência dessas obras para a posteridade. A atividade dos copistas medievais foi, em parte, estimulada pelo ensinamento de São Bento (480-547), que idealizou a sentença: “ora et labora” (reza e trabalha). Sendo assim, enquanto as autoridades da Igreja procuravam em Platão sabedoria e discernimento, professores e acadêmicos das universidades voltavam-se para Aristóteles. E um exemplo clássico para ilustrar a efervescência intelectual dessa fase encontra-se na questão dos universais. A questão dos universais Pedro Abelardo foi o primeiro filósofo a discutir os universais. A grande questão a ser descoberta era: os universais têm existência real, independente das coisas que exibem? Por exemplo, o vermelho possui uma existência real fora de todas as coisas vermelhas? Para entendermos melhor, os universais são conceitos aplicáveis a qualquer número de objetos particulares. Como resposta a essa questão podemos destacar três posições distintas: a primeira era o realismo, cujos pensadores acreditavam que os universais são reais e existem independentemente dos objetos particulares e das pessoas que pensam neles; a segunda era o nominalismo, que sustenta que os universais não passam de nomes que usamos para descrever objetos particulares; e a terceira era o conceitualismo, que corresponde à visão de que os universais existem como conceitos na mente. Santo Tomás de Aquino “A filosofia tomista” Tomás de Aquino (1225-1274) dedicou sua vida à religião e à educação. Estudou em Nápoles, Paris e Colônia, na atual Alemanha, e lecionou, dentre outras, na Universidade de Paris, em que se tornou doutor em teologia. Tomás é autor de diversas obras teológicas e, também, de comentários a livros bíblicos. Sua obra mais conhecida é Suma Teológica, na qual apresenta conceitos aristotélicos para comprovar a existência de Deus. Enquanto Agostinho sacralizou Platão, utilizando-se dos dados da revelação judaico-cristã, oficializada pela Igreja Católica, Tomás de Aquino, utilizando a mesma fonte religiosa, sacralizou Aristóteles. Mas ambos se opõem em seu modo de ver o mundo. Agostinho é mais coração, e Tomás mais razão, tanto é assim que, em Agostinho, importa “crer, para compreender” e, em Tomás, importa “entender, para crer”. Entre o fim do século IV e o século VIII, parece não ter havido um movimento significativo de produção cultural. É com o denominado “Renascimento Carolíngeo”, no século VIII, que há uma retomada construtiva da cultura. Muitos pensadores poderiam ser estudados nessa fase, como Erígena, Anselmo, Pedro Abelardo, Alberto Magno etc., porém, vamos nos ater a Tomás de Aquino, que foi o pensador de maior destaque da escolástica. A questão emergente enfrentada por Tomás foi a relação entre fé e razão. Esforçou-se para demonstrar que fé e razão não se opõem, pois que derivam de Deus; assim sendo, não haveria verdades discordantes entre dois níveis. Elas são distintas, mas integradas. A partir desse entendimento, colocou-se a Página 6 filosofia, como pensamento racional, a serviço da teologia, que é uma forma de pensar a fé. Para Aquino, a filosofia deve oferecer uma compreensão racional das experiências da fé, de tal forma que a fé não pareça ser irracional. Caso haja discordância entre um argumento da teologia e um argumento da filosofia, esta última deve rever sua argumentação, desde que não possa contestar um argumento da fé, que é mais elevado que o da razão. Para Tomás de Aquino, razão e fé possuem domínios diferentes de tratamento; a filosofia trata das questões da verdade natural, a teologia trata da verdade sobrenatural; são verdades que não se contradizem, mas também não se confundem. A filosofia auxilia a compreensão da teologia e nela se inclui. E uma das demonstrações disso encontrase em sua tentativa de provar a existência de Deus. Ao indagar-se sobre a existência de Deus, propôs, com seu estilo argumentativo, cinco vias (provas) da existência; “Respondo dizendo que a existência de Deus pode ser demonstrada por cinco vias:” “A primeira e mais evidente é a que toma por base o movimento. É certo, e está de acordo com a nossa experiência, que algo se move no mundo. Tudo que se move é movido por outra coisa, pois nada se move se não estiver em potência para aquilo para o que se move: porém, o que move deve estar em ato para aquilo que move, já que mover não é senão fazer algo passar de potencia para ato; ora, mas nada pode passar de potência para ato senão por meio de um ser que já está em ato; por exemplo, o quente em ato, como o fogo, torna a madeira, que é quente em potência, em quente em ato, movendo-a e alterando-a. É impossível que a mesma coisa seja ao mesmo tempo em potência e em ato em relação ao mesmo, mas apenas em relação a diversas coisas: aquilo que é quente em ato não pode ser ao mesmo tempo quente em potência. É impossível que no mesmo sentido e do mesmo modo algo seja movente e movido, ou que se mova a si mesmo. Tudo que se move deve, portanto, ser movido por outra coisa. Mas, se aquilo pelo qual algo é movido também se move, é indispensável que seja movido por outra coisa, e assim sucessivamente. Se não houvesse um primeiro movente, cairíamos então em um processo indefinido ou, caso contrário, chegaríamos a algo que não seria movido, já que os segundos moventes só movem se forem movidos pelo primeiro movente, assim como a bengala nada move, se não for ela própria movida pela mão. Portanto, é necessário chegar a um primeiro movente que não seja movido por nenhum outro; e este todos entendem ser Deus. A segunda via baseia-se na causa eficiente. Encontramos nas coisas sensíveis (“materiais”) uma ordem de causas eficientes, já que nada pode ser causa eficiente de si mesmo, pois se assim o fosse existira antes de si mesmo, o que é impossível. Também não é possível proceder indefinidamente nas causas eficientes. Em todas as causas eficientes ordenadas, em primeiro lugar está a causa do que se encontra no meio, e o que está no meio é a causa do que está em último lugar, tanto se os intermediários forem muitos, quanto se for um só; tiradas as causas, tira-se o efeito; logo, se não for primeiro nas causas eficientes, não será nem em último, nem no meio. Se, porém, procedermos indefinidamente nas causas eficientes, não haverá primeira causa eficiente e, portanto, não haverá também nem efeito último nem causas intermediárias, o que é videntemente falso. Logo, é necessário admitir alguma causa eficiente primeira, à qual todos chamam Deus. A terceira via é baseada no possível e no necessário. Encontramos dentre as coisas algumas que podem ser ou não ser, já que encontramos algumas que são geradas e se corrompem, e por isso mesmo podem ser ou não ser. É impossível que todas essas coisas existam sempre, pois o que pode não ser alguma vez não é. Se todas as coisas podem não ser, alguma vez nada existiu. Se assim fosse na verdade, também agora nada existiria, pois o que não existe não começa a existir senão a partir de algo que existe; se, entretanto, nada existia, seria impossível que algo começasse a existir, e assim nada absolutamente existiria, o que é evidentemente falso. Portanto, nem todos os seres são possíveis, mas é indispensável que algum ser seja necessário. Todo o ser necessário ou tem a causa de sua necessidade como externa ou não. É impossível, porém, que procedamos indefinidamente em ralação aos seres necessários, que têm uma causa de sua necessidade, como também nas causas eficientes, da forma como provamos. Logo, é necessário admitir algo que seja necessário por si, não tendo fora dele a causa de sua necessidade, antes pelo contrário, que seja ele mesmo a causa da necessidade dos outros: a este ser todos chamam de Deus. A quarta via tem por base os graus que se encontram as coisas. Encontramos, com efeito, Página 7 nas coisas, algo mais ou menos bom, verdadeiro, nobre, e assim por diante. O “mais” ou “menos” é dito acerca dos diversos seres conforme se aproximam de forma diferente daquilo que é o máximo, como o mais quente é aquilo que aproxima do quentíssimo. Existe algo que é verdadeiríssimo, ótimo, mobilíssimo e, por conseguinte, o ser máximo, pois as coisas que são verdadeiras ao máximo são os maiores seres, como é dito no livro II da Metafísica (de Aristóteles). O que é máximo em algum gênero é causa de tudo o que é daquele gênero, como o fogo, que é o máximo do quente, é a causa de todos os quentes, como é dito no mesmo livro. Logo, existe algo que é a causa da existência de todos os seres, e da bondade e de qualquer perfeição, e a este chamamos Deus. A quinta via é derivada do governo das coisas. Vemos que as coisas que não têm inteligência, como, por exemplo, os corpos naturais agem para uma finalidade (objetivo), o que se mostra pelo fato de sempre ou frequentemente agirem da mesma forma, para conseguirem o máximo, donde se segue que não é por acaso, mas intencionalmente, que atingem seu objetivo. As coisas, entretanto, que não têm inteligência só podem procurar um objetivo se dirigidas por alguém que conhece e é inteligente, como a flecha dirigida pelo arqueiro. Logo, existe algum ser inteligente que ordena todas as coisas que ordena todas as coisas da natureza para seu correspondente objetivo: a este ser chamamos Deus”. (MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 69-71.) Aplicação em Sala! 01 (UEM/2008) – A Filosofia Medieval a partir do século IX é chamada escolástica. Ensinada nas escolas ou nas universidades próximas das catedrais, a filosofia escolástica tinha por problema fundamental levar o homem a compreender a verdade revelada pelo exercício da razão, todavia apoiado na autoridade (Auctoritas), seja da Bíblia, seja de um padre da Igreja, seja de um sistema de filosofia pagã. Sobre a escolástica, assinale o que for correto. 01) O pensamento platônico, ou mais exatamente o neoplatonismo de Plotino, porque mais facilmente conciliável com as doutrinas cristãs, foi a única filosofia pagã aceita durante toda a escolástica. 02) A fermentação intelectual e o interesse pelo racional na escolástica evidenciam-se pela criação de universidades por toda a Europa; o método de exposição das idéias filosóficas nessas escolas era a disputa: uma tese era colocada e passava-se a refutála ou a defendê-la com argumentos retirados de alguma autoridade. 04) Representante do pensamento político da escolástica, o cardeal Martin Heidegger trata, em sua obra Ser e Tempo, do problema da subordinação do poder temporal dos reis e dos nobres ao poder espiritual do Papa e da Igreja. 08) Um tema recorrente na filosofia escolástica foi a demonstração racional da existência de Deus. Santo Anselmo (1034-1109) formula a prova tradicionalmente chamada argumento ontológico, no qual deduz a existência de Deus da própria idéia de perfeição de Deus. 16) O apogeu da escolástica acontece no século XIII com Santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o pensamento de Aristóteles, fez a síntese mais fecunda da filosofia com o cristianismo na Filosofia Medieval. REFERÊNCIAS: 1 - Referência Básica Página 8 REALE. G. & ANTISERI. D. História da Filosofia. Tradução de Ivo Stomiolo. São Paulo, SP: Editora Paulus, 2005, 8 vols 2 - Referência Complementar ARANHA. M. & MARTINS. M. Filosofando. – São Paulo, SP: Editora Moderna, 2008, 3 edição. CHAUÍ. M. Convite à Filosofia. – São Paulo: Editora Ática, 2005, 13 edição. COTRIM. G. Fundamentos da Filosofia: Histórias e grandes temas. – São Paulo, Editora Saraiva, 2006, 16 edição. Página 9