M3 Filosofia Medieval

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COLÉGIO INTEGRADO
Av. Irmãos Pereira, 670
Campo Mourão/PR – CEP 87301-010
FONE: 0xx 44 3523-1982
FILOSOFIA
Apostila/ TERCEIRÃO (M3) – E. Médio
VOL. II
Aluno(a):
Professor (a):
Nº.:
Data:
UNIDADE 02
HISTÓRIA DA FILOSOFIA:
PATRÍSTICA e ESCOLÁSTICA
(IDADE MÉDIA)
A filosofia entra agora em um
novo momento de sua história, bem
distante da Atenas de Sócrates ou do
mundo grego. Ela passará por um
universo cultural diferente daquele onde
nasceu. O contexto em que vamos nos
inserir é eminentemente cristão.
Nesta unidade, estudaremos como a
filosofia, durante determinado período,
teve como objetivo principal responder a
questões ligadas à existência e à bondade
de Deus através das idéias e convicções
de dois representantes do pensamento
religioso: Santo Agostinho e Santo
Tomás de Aquino1.
O mundo medieval: formas sociais,
elementos históricos e culturais
Ao longo do século V d. C., o império do
Ocidente sofreu diversos ataques dos
chamados povos bárbaros. O período
medieval é fruto desse confronto, e a
partir das muitas invasões foi-se
constituindo uma nova organização social
na Europa. Devido ao esfacelamento do
Império Romano, a Igreja Católica passa
a ocupar o poder na sociedade medieval e
se mantém como a maior instituição
social e política na Idade Média,
acumulando muito poder e riqueza,
consolidando sua organização religiosa e
política, difundindo o cristianismo e
mantendo muitos elementos da cultura
greco-romana.
A base da economia na Idade Média é o
campo;
há
um
enfraquecimento
comercial, o modo de produção é o
sistema feudal, e a sociedade permanece
1
Esses dois pensadores cristãos não viveram na
mesma época. Eles estão separados por 900 anos,
estando Santo Agostinho no início da Idade
Média e Santo Tomás de Aquino em seu apogeu.
hierarquizada em clero, nobres e plebeus.
No sistema feudal, as relações entre as
classes era de vassalagem e suserania, a
saber:
Suserano – era quem dava um lote de
terra ao vassalo, que deveria jurar
fidelidade e ajuda ao seu suserano.
Vassalo – oferecia ao senhor feudal, ou
suserano, fidelidade e trabalho, em troca
de proteção e um lugar no sistema de
produção.
As
redes
de
vassalagem
estendiam-se por várias regiões, sendo o
rei o suserano mais poderoso. A
sociedade tinha pouca mobilidade social.
A nobreza feudal (senhores
feudais, cavaleiros, condes, duques,
viscondes) era detentora de terras e
arrecadava impostos dos camponeses. O
clero (membros da Igreja Católica), além
de ser formado por senhores feudais,
tinha um grande poder, pois era
responsável pela proteção espiritual da
sociedade e mantinha-se isento de
impostos e arredava o dízimo.
Presentes em todos os níveis de
uma
sociedade
marcada
pela
religiosidade, os membros da Igreja
Medieval fomentaram valores como a
passividade e a subordinação dos homens
comuns perante o senhor, tanto o senhor
espiritual (clérigo), encarregado de
proteger as almas, quanto o senhor feudal
da terra (nobre), que protegia os corpos.
Com o tempo, num mundo em que a
minoria era alfabetizada, as igrejas, os
mosteiros e as abadias converteram-se
nos únicos centros da cultura letrada.
Nesses mosteiros e abadias medievais,
encontravam-se as únicas escolas e era lá
que se preparavam e restauravam textos
antigos da herança greco-romana.
O poder religioso, entretanto,
necessitava de suporte filosófico para sua
vigência histórica. Motivados por esse
intento,
dois
pensadores
cristãos
destacaram-se nesse período: Agostinho
de Hipona e Tomás de Aquino.
Agostinho encontrou em Platão e Tomás
de Aquino em Aristóteles, elementos da
razão (grega) que pudessem auxiliar a
compreensão “racional” da fé religiosa.
Assim sendo, as soluções
filosóficas para a questão do ser contaram
com a mediação da doutrina religiosa
católica. Mais que isso, a filosofia será
um instrumento muito útil a serviço da
teologia.
O tema central é a tentativa de
conciliar Fé e Razão. De maneira
simplista, é possível dividir a filosofia
medieval em dois grandes períodos, a
saber: a Patrística e a Escolástica.
A PATRÍSTICA
A patrística precede a escolástica
medieval, e sua principal característica
reside no seu caráter apologético: é
preciso defender os ideais cristãos
perante os pagãos e convertê-los.
Presencia-se a retomada da filosofia
platônica, especialmente por Santo
Agostinho, bem como do neoplatonismo
por Plotino.
Agostinho vai ser, de certo modo,
o sistematizador da experiência cristã até
o século V, assim como, anteriormente a
ele, os autores cristãos (padres da Igreja –
por isso , em termos de filosofia, esse
período foi denominado de patrística)
debateram-se no desejo de produzir uma
organização da doutrina cristã. Foi um
período muito polemico, tendo em vista
que uma doutrina nova, para se
estabelecer, tem de agir e reagir em um
meio que já tem práticas e concepções
arraigadas a respeito do mundo e da vida.
A organização da doutrina cristã debatese com as formulações gregas
cristalizadas. Assim, nesse contexto, os
padres da tradição oriental ou grega
esforçaram-se por harmonizar o
pensamento grego com a nova
doutrina, e os padres ocidentais ou
latinos trabalharam no sentido de
exorcizar o paganismo, isto é, toda a
doutrina contrária à da religião
católica, e firmar o valor da doutrina
cristã.
Entre os apologetas defensores da
Igreja que viveram no século II da era
cristã, pode-se contar com Justino,
Taciano, Atenágoras, Marco Aurélio,
Teófilo de Antioquia e Tertuliano de
Cartago; Clemente e Orígenes, de
Alexandria, viveram no século III e
criaram a primeira escola catequética em
sua cidade de origem, sendo mais suaves
em sua oposição ao mundo pagão e mais
construtivos
doutrinariamente,
procurando
formular
uma
compreensão em que a fé e a razão
pudessem se auxiliar mutuamente, no
entendimento e no direcionamento da
vida.
Santo Agostinho é considerado o
considerado o construtor da grande
síntese filosófico-teológica da Igreja
católica antiga. Ele meditou sobre as
experiências vigentes em seu momento e
em seu lugar.
Santo Agostinho (354-430)
A vida de Santo Agostinho pode
servir de paradigma2 ao que estava
acontecendo em seu tempo. Nascido na
África, mais precisamente na cidade de
Tagaste, Numídia, Agostinho estudo em
Cartago, onde entrou em contato com a
2
Em termos filosóficos, paradigma é um
“modelo” ou “exemplo” ideal. O uso desse
conceito remete, portanto, à idéia de que os dois
termos são semelhantes ou, no caso, que alguns
aspectos do desenvolvimento de seu tempo
ocorreram de forma parecida.
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3
filosofia greco-romana. Primeiro estudou
Cícero, depois se tornou discípulo da
filosofia maniqueísta3 por dez anos, até
abandoná-la em 383, para, anos depois,
descobrir o neoplatonismo4.
Santo Agostinho converteu-se ao
cristianismo em 386, com 32 anos. Isso
que dizer que ele carregou dentro de si,
assim como seu tempo, a filosofia e o
cristianismo, procurando conciliar suas
visões sobre o conhecimento de Deus e
do homem.
O ponto de partida da meditação
filosófica de Agostinho é o homem,
considerado sede de Deus, que mora no
seu interior. À medida que o ser humano
investiga a si mesmo, investiga Deus,
pois que este reside nas profundidades do
seu ser. Para ele, não há, então, como
colocar o problema do homem sem pôr o
problema de Deus. Já o mundo exterior
só faz sentido nesse contexto do homem
que tem Deus dentro de si. Ele tem uma
fórmula que diz: “de fora para dentro e de
dentro para Deus”, ou seja, o caminho é
para o divino, tendo o ser humano como
mediador entre o mundo exterior e o
divino, que mora dentro dele mesmo. A
verdade, pois, está dentro de cada um; é
preciso, pela meditação, pela conversa
consigo mesmo (soliloquium), entrar em
contato com a verdade.
Agostinho acreditava, então, que
o limite do homem era a medida de sua
comunhão com Deus nesta vida terrestre.
Segundo o pensador cristão, o mais
próximo que as pessoas conseguem
chegar de Deus será quando morrerem e
forem para o céu. Se quisermos
3
O maniqueísmo surgiu com o pensador persa
Mani (215-376) e baseava-se na idéia de que o
mundo é regido por dois princípios absolutos: o
bem e o mal. Daí a expressão maniqueísta usada
para definir pessoas que consideram tudo em seus
opostos: ou uma coisa ou outra, sem meio-termo.
4
O neoplatonismo pode ser considerado como o
último e supremo esforço do pensamento clássico
para resolver o problema filosófico, que tinha
encontrado um obstáculo intransponível no
dualismo e racionalismo gregos – dualismo e
racionalismo que nem sequer o gênio sintético e
profundo de Aristóteles conseguiu superar.
realmente conhecer Deus, teremos de
esperar pelo fim de nossa vida, quando
nossas almas poderão experimentar a
realidade divina sem estar presas à
realidade física. Essa visão põe as
pessoas a certa distância de Deus e o faz
parecer ainda mais perfeito e poderoso,
enquanto faz as pessoas parecerem ainda
mais fracas e pecadoras. Se as coisas não
são como queremos, é por causa de nossa
culpa. Eis o que Agostinho diz:
“Mesmo assim, o fato de não
podermos experimentar Deus plena e
diretamente não significa que não
devamos tentar compreender a verdade
divina nesta vida.”
Através destas palavras, percebese o quanto Agostinho estava preocupado
com a relação entre Deus e a alma
humana como uma chave para o
entendimento da verdade divina.
Santo Agostinho começou como
cético, ou seja, não acreditava na unidade
nem em muitas outras coisas. Ele lidou
com seu ceticismo como o filósofo René
Descartes faria séculos depois: voltou-se
para dentro de si a fim de verificar se
havia algo de que pudesse ter certeza.
Concluiu que, mesmo que estivesse
errado sobre todo o resto, poderia ter
certeza de que Deus existia. Daí concluiu
que a relação entre o eu interior e Deus
era de suma importância.
“Crer
para
compreender,
compreender para crer”. Frase
utilizada por Agostinho para demonstrar
que a razão humana é limitada e necessita
da ajuda (iluminação) divina, que se
manifesta na forma de revelação pelas
Sagradas Escrituras. Por outro lado, a
razão auxilia a mente humana na
compreensão da fé.
No que se refere ao mundo, criado
e contingente, Agostinho enfrenta o
problema do mal. E esse era um dos
grandes problemas que dificultavam a
aceitação de agostinho em relação à idéia
de divindade. Por que um criador divino
e perfeito teria criado também o mal?
Página
4
O mal é visto do ponto de vista
metafísico, o mal não existe, mas há
apenas graus inferiores de seres se
comparados a Deus; do ponto de vista
moral, o mal nasce da vontade má que,
em vez de se dirigir ao Sumo Bem, tende
a bens inferiores; por fim, do ponto de
vista físico, é uma conseqüência do
pecado original, todavia, pode servir de
purificação para a salvação.
O homem é livre como um dom
dado por Deus. Agostinho concebe, a
partir de sua visão judaico-cristã, que o
homem foi criado por Deus com dons
sobrenaturais. O homem era livre e capaz
de escolher entre o bem e o mal, com
inclinação para escolher o bem. Para
conservar esse bem, segundo Agostinho,
Adão era ajudado pela graça divina;
porém ele pecou e foi abandonado por
Deus. Adão se corrompeu e, com ele,
toda a humanidade; nele existia a
natureza seminal (aquela que dá origem a
todas as coisas por evolução). Assim,
Adão perdeu a liberdade plena, restandolhe a liberdade de escolha – o Livrearbítrio. Em resumo, Agostinho foi
responsável por uma espécie de
sacralização de Platão, visto que admitiu
que a alma, criada por Deus, habita o
corpo e deve buscar sua perfeição,
voltando-se para Deus, até atingir o
estágio em que, auxiliado pela graça,
possa exclusivamente escolher o bem. Aí,
então, terá reencontrado Deus. Platão
pensara na alma que retorna ao mundo
das idéias perfeitas.
Aplicação em Sala!
01 (UEM/2008) – A Patrística foi a
Filosofia Cristã dos primeiros séculos de
nossa era. Consistia na elaboração
doutrinal das crenças religiosas do
cristianismo e na sua defesa contra os
ataques dos pagãos e contra as heresias.
Dado o encontro entre a nova religião e o
pensamento filosófico greco-romano, o
grande tema da Filosofia Patrística foi o
da possibilidade ou impossibilidade de
conciliar fé e razão. Santo Agostinho,
expoente dessa filosofia, sobre a relação
fé e razão, defendia a tese que se pode
resumir nesta frase: “Credo ut intelligam”
(Creio para entender). A esse respeito,
assinale o que for correto.
01) Santo Agostinho retoma a célebre
teoria platônica das Idéias à luz do
cristianismo e formula a teoria da
iluminação segundo a qual o homem
recebe de Deus o conhecimento das
verdades eternas: à semelhança do sol,
Deus ilumina a razão e torna possível o
pensar correto.
02) De acordo com Santo Agostinho, a
razão é superior e precede a fé; pois, se o
homem, ser racional, for incapaz de
entender os ensinamentos religiosos, não
poderá acreditar neles.
04) Segundo Santo Agostinho, a fé não
conflita com a razão, esta última seria
auxiliar da fé e estaria a ela subordinada.
08) Para Santo Agostinho, fé e razão são
inconciliáveis, pois os mistérios da fé são
insondáveis e manifestam-se como uma
loucura para a razão humana.
16) A fé, para Santo Agostinho, não
oprime a razão, mas, ao contrário, abrelhe os olhos que a falta de fé mantinha
fechados. A partir dos princípios da fé, a
razão, por suas próprias forças, deduzirá
conseqüências e tentará resolver os
problemas que Deus deixou para nossas
livres discussões.
A ESCOLÁTICA
Até o século XIII, quando começa a
formação das universidades, as escolas
tinham por missão a transmissão dos
ensinamentos religiosos. Só nos séculos
XII e XIII formaram-se as primeiras
universidades,
com
conseqüências
notáveis, como a contribuição na
formação de uma classe de intelectuais.
Página
5
Apesar de toda essa imagem de tempo de
declínios, ou seja, da queda de Roma, da
queda do comércio, da vida borbulhante
nas cidades, enfim, a Idade Média, ou
“idade das trevas”, também contou com
uma vida cultural, que era exercida
primordialmente por trás dos muros dos
monastérios.
Essa vida cultural, que podemos imaginar
ligada ao cristianismo, incluía a atividade
dos copistas, que eram monges dedicados
a traduzir e a copiar textos antigos, o que
garantiu a continuidade da existência
dessas obras para a posteridade. A
atividade dos copistas medievais foi, em
parte, estimulada pelo ensinamento de
São Bento (480-547), que idealizou a
sentença: “ora et labora” (reza e
trabalha).
Sendo assim, enquanto as autoridades da
Igreja procuravam em Platão sabedoria e
discernimento, professores e acadêmicos
das universidades voltavam-se para
Aristóteles. E um exemplo clássico para
ilustrar a efervescência intelectual dessa
fase encontra-se na questão dos
universais.
A questão dos universais
Pedro Abelardo foi o primeiro
filósofo a discutir os universais. A grande
questão a ser descoberta era: os
universais
têm
existência
real,
independente das coisas que exibem? Por
exemplo, o vermelho possui uma
existência real fora de todas as coisas
vermelhas? Para entendermos melhor, os
universais são conceitos aplicáveis a
qualquer número de objetos particulares.
Como resposta a essa questão podemos
destacar três posições distintas: a
primeira era o realismo, cujos pensadores
acreditavam que os universais são reais e
existem independentemente dos objetos
particulares e das pessoas que pensam
neles; a segunda era o nominalismo, que
sustenta que os universais não passam de
nomes que usamos para descrever objetos
particulares; e a terceira era o
conceitualismo, que corresponde à visão
de que os universais existem como
conceitos na mente.
Santo Tomás de Aquino
“A filosofia tomista”
Tomás de Aquino (1225-1274)
dedicou sua vida à religião e à educação.
Estudou em Nápoles, Paris e Colônia, na
atual Alemanha, e lecionou, dentre
outras, na Universidade de Paris, em que
se tornou doutor em teologia. Tomás é
autor de diversas obras teológicas e,
também, de comentários a livros bíblicos.
Sua obra mais conhecida é Suma
Teológica, na qual apresenta conceitos
aristotélicos para comprovar a existência
de Deus.
Enquanto Agostinho sacralizou
Platão, utilizando-se dos dados da
revelação judaico-cristã, oficializada pela
Igreja Católica, Tomás de Aquino,
utilizando a mesma fonte religiosa,
sacralizou Aristóteles. Mas ambos se
opõem em seu modo de ver o mundo.
Agostinho é mais coração, e Tomás mais
razão, tanto é assim que, em Agostinho,
importa “crer, para compreender” e, em
Tomás, importa “entender, para crer”.
Entre o fim do século IV e o
século VIII, parece não ter havido um
movimento significativo de produção
cultural. É com o denominado
“Renascimento Carolíngeo”, no século
VIII, que há uma retomada construtiva da
cultura. Muitos pensadores poderiam ser
estudados nessa fase, como Erígena,
Anselmo, Pedro Abelardo, Alberto
Magno etc., porém, vamos nos ater a
Tomás de Aquino, que foi o pensador de
maior destaque da escolástica.
A questão emergente enfrentada
por Tomás foi a relação entre fé e
razão. Esforçou-se para demonstrar que
fé e razão não se opõem, pois que
derivam de Deus; assim sendo, não
haveria verdades discordantes entre dois
níveis. Elas são distintas, mas integradas.
A partir desse entendimento, colocou-se a
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filosofia, como pensamento racional, a
serviço da teologia, que é uma forma de
pensar a fé. Para Aquino, a filosofia deve
oferecer uma compreensão racional das
experiências da fé, de tal forma que a fé
não pareça ser irracional. Caso haja
discordância entre um argumento da
teologia e um argumento da filosofia,
esta última deve rever sua argumentação,
desde que não possa contestar um
argumento da fé, que é mais elevado que
o da razão.
Para Tomás de Aquino, razão e fé
possuem
domínios
diferentes
de
tratamento; a filosofia trata das questões
da verdade natural, a teologia trata da
verdade sobrenatural; são verdades que
não se contradizem, mas também não se
confundem. A filosofia auxilia a
compreensão da teologia e nela se inclui.
E uma das demonstrações disso encontrase em sua tentativa de provar a existência
de Deus. Ao indagar-se sobre a existência
de Deus, propôs, com seu estilo
argumentativo, cinco vias (provas) da
existência;
“Respondo dizendo que a
existência de Deus pode ser demonstrada
por cinco vias:”
“A primeira e mais evidente é a que toma por
base o movimento. É certo, e está de acordo com a
nossa experiência, que algo se move no mundo.
Tudo que se move é movido por outra coisa, pois
nada se move se não estiver em potência para
aquilo para o que se move: porém, o que move
deve estar em ato para aquilo que move, já que
mover não é senão fazer algo passar de potencia
para ato; ora, mas nada pode passar de potência
para ato senão por meio de um ser que já está em
ato; por exemplo, o quente em ato, como o fogo,
torna a madeira, que é quente em potência, em
quente em ato, movendo-a e alterando-a. É
impossível que a mesma coisa seja ao mesmo
tempo em potência e em ato em relação ao
mesmo, mas apenas em relação a diversas coisas:
aquilo que é quente em ato não pode ser ao
mesmo tempo quente em potência. É impossível
que no mesmo sentido e do mesmo modo algo
seja movente e movido, ou que se mova a si
mesmo. Tudo que se move deve, portanto, ser
movido por outra coisa. Mas, se aquilo pelo qual
algo é movido também se move, é indispensável
que seja movido por outra coisa, e assim
sucessivamente. Se não houvesse um primeiro
movente, cairíamos então em um processo
indefinido ou, caso contrário, chegaríamos a algo
que não seria movido, já que os segundos
moventes só movem se forem movidos pelo
primeiro movente, assim como a bengala nada
move, se não for ela própria movida pela mão.
Portanto, é necessário chegar a um primeiro
movente que não seja movido por nenhum outro;
e este todos entendem ser Deus.
A segunda via baseia-se na causa eficiente.
Encontramos nas coisas sensíveis (“materiais”)
uma ordem de causas eficientes, já que nada pode
ser causa eficiente de si mesmo, pois se assim o
fosse existira antes de si mesmo, o que é
impossível. Também não é possível proceder
indefinidamente nas causas eficientes. Em todas
as causas eficientes ordenadas, em primeiro lugar
está a causa do que se encontra no meio, e o que
está no meio é a causa do que está em último
lugar, tanto se os intermediários forem muitos,
quanto se for um só; tiradas as causas, tira-se o
efeito; logo, se não for primeiro nas causas
eficientes, não será nem em último, nem no meio.
Se, porém, procedermos indefinidamente nas
causas eficientes, não haverá primeira causa
eficiente e, portanto, não haverá também nem
efeito último nem causas intermediárias, o que é
videntemente falso. Logo, é necessário admitir
alguma causa eficiente primeira, à qual todos
chamam Deus.
A terceira via é baseada no possível e no
necessário. Encontramos dentre as coisas
algumas que podem ser ou não ser, já que
encontramos algumas que são geradas e se
corrompem, e por isso mesmo podem ser ou não
ser. É impossível que todas essas coisas existam
sempre, pois o que pode não ser alguma vez não
é. Se todas as coisas podem não ser, alguma vez
nada existiu. Se assim fosse na verdade, também
agora nada existiria, pois o que não existe não
começa a existir senão a partir de algo que existe;
se, entretanto, nada existia, seria impossível que
algo começasse a existir, e assim nada
absolutamente existiria, o que é evidentemente
falso. Portanto, nem todos os seres são possíveis,
mas é indispensável que algum ser seja
necessário. Todo o ser necessário ou tem a causa
de sua necessidade como externa ou não. É
impossível,
porém,
que
procedamos
indefinidamente em ralação aos seres necessários,
que têm uma causa de sua necessidade, como
também nas causas eficientes, da forma como
provamos. Logo, é necessário admitir algo que
seja necessário por si, não tendo fora dele a causa
de sua necessidade, antes pelo contrário, que seja
ele mesmo a causa da necessidade dos outros: a
este ser todos chamam de Deus.
A quarta via tem por base os graus que se
encontram as coisas. Encontramos, com efeito,
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nas coisas, algo mais ou menos bom, verdadeiro,
nobre, e assim por diante. O “mais” ou “menos” é
dito acerca dos diversos seres conforme se
aproximam de forma diferente daquilo que é o
máximo, como o mais quente é aquilo que
aproxima do quentíssimo. Existe algo que é
verdadeiríssimo, ótimo, mobilíssimo e, por
conseguinte, o ser máximo, pois as coisas que são
verdadeiras ao máximo são os maiores seres,
como é dito no livro II da Metafísica (de
Aristóteles). O que é máximo em algum gênero é
causa de tudo o que é daquele gênero, como o
fogo, que é o máximo do quente, é a causa de
todos os quentes, como é dito no mesmo livro.
Logo, existe algo que é a causa da existência de
todos os seres, e da bondade e de qualquer
perfeição, e a este chamamos Deus.
A quinta via é derivada do governo das coisas.
Vemos que as coisas que não têm inteligência,
como, por exemplo, os corpos naturais agem para
uma finalidade (objetivo), o que se mostra pelo
fato de sempre ou frequentemente agirem da
mesma forma, para conseguirem o máximo,
donde se segue que não é por acaso, mas
intencionalmente, que atingem seu objetivo. As
coisas, entretanto, que não têm inteligência só
podem procurar um objetivo se dirigidas por
alguém que conhece e é inteligente, como a flecha
dirigida pelo arqueiro. Logo, existe algum ser
inteligente que ordena todas as coisas que ordena
todas as coisas da natureza para seu
correspondente objetivo: a este ser chamamos
Deus”. (MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia. 3.
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 69-71.)
Aplicação em Sala!
01 (UEM/2008) – A Filosofia Medieval a
partir do século IX é chamada
escolástica. Ensinada nas escolas ou nas
universidades próximas das catedrais, a
filosofia escolástica tinha por problema
fundamental levar o homem a
compreender a verdade revelada pelo
exercício da razão, todavia apoiado na
autoridade (Auctoritas), seja da Bíblia,
seja de um padre da Igreja, seja de um
sistema de filosofia pagã.
Sobre a escolástica, assinale o que for
correto.
01) O pensamento platônico, ou mais
exatamente o neoplatonismo de Plotino,
porque mais facilmente conciliável com
as doutrinas cristãs, foi a única filosofia
pagã aceita durante toda a escolástica.
02) A fermentação intelectual e o
interesse pelo racional na escolástica
evidenciam-se
pela
criação
de
universidades por toda a Europa; o
método de exposição das idéias
filosóficas nessas escolas era a disputa:
uma tese era colocada e passava-se a
refutála ou a defendê-la com argumentos
retirados de alguma autoridade.
04) Representante do pensamento
político da escolástica, o cardeal Martin
Heidegger trata, em sua obra Ser e
Tempo, do problema da subordinação do
poder temporal dos reis e dos nobres ao
poder espiritual do Papa e da Igreja.
08) Um tema recorrente na filosofia
escolástica foi a demonstração racional
da existência de Deus. Santo Anselmo
(1034-1109)
formula
a
prova
tradicionalmente chamada argumento
ontológico, no qual deduz a existência de
Deus da própria idéia de perfeição de
Deus.
16) O apogeu da escolástica acontece no
século XIII com Santo Tomás de Aquino
(1225-1274),
que,
retomando
o
pensamento de Aristóteles, fez a síntese
mais fecunda da filosofia com o
cristianismo na Filosofia Medieval.
REFERÊNCIAS:
1 - Referência Básica
Página
8
REALE. G. & ANTISERI. D. História da Filosofia. Tradução de Ivo Stomiolo. São
Paulo, SP: Editora Paulus, 2005, 8 vols
2 - Referência Complementar
ARANHA. M. & MARTINS. M. Filosofando. – São Paulo, SP: Editora Moderna,
2008, 3 edição.
CHAUÍ. M. Convite à Filosofia. – São Paulo: Editora Ática, 2005, 13 edição.
COTRIM. G. Fundamentos da Filosofia: Histórias e grandes temas. – São Paulo,
Editora Saraiva, 2006, 16 edição.
Página
9
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