Arte como lição de

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Leandro de Barros. Atividade PIBID 2015.
Sequencia didática: “A caracterização de Arte como algo capaz de
transmitir lições morais”.
Duração: 02 a 03 aulas.
Objetivo:
Discutir o que é e qual o valor da Arte através do critério estético de arte
como “transmissora de lições morais”.
Pretende-se também discutir se determinadas obras de arte são
capazes de transmitir lições morais e se essa característica aumenta o seu
valor estético.
Sensibilização:
O professor pode mostrar para sala exemplos de obras de arte cujo
principal objetivo seria transmitir alguma lição ou valor moral, pode ser uma
cena de um filme/série, uma música com sua respectiva letra ou uma pintura
ou fotografia, abaixo, algumas sugestões:
Filmes:
Up! Altas aventuras.
Rei Leão.
Central do Brasil.
Letras de músicas:
U2: Sunday bloody Sunday.
John Lennon: Imagine.
Após mostrar a obra, o professor deve começar a discussão,
perguntando se os alunos percebem qual a lição ou valor moral a obra quer
passar.
Contextualização:
De acordo com Baggini e Stangroom (2006) um dos critérios estéticos
possíveis é a arte como algo que pode transmitir uma lição moral importante
ou algo que pode nos ajudar a viver melhor nossas vidas, nesse critério, a arte
teria a função de promover a elevação moral nas pessoas.
Segundo os autores, para Tolstói (1828-1910), um importante escritor e
pensador russo, seria possível julgar uma obra de arte por seu conteúdo moral,
assim, se um romance apresentasse uma mensagem moral poderia ser julgado
para além de critérios subjetivos de gosto.
Outros Filósofos têm opiniões semelhantes, Schiller (1759-1805)
acreditava que a função da arte é elevar o espírito humano nos fazendo
pessoas melhores e segundo Gabellieri (2010) a questão da moralidade nas
obras de arte permeia boa parte da historia da estética enquanto disciplina
filosófica.
Mas será a mensagem moral, mais objetiva do que um juízo de gosto?
Usaremos como exemplo uma música na qual o autor quer
propositalmente oferecer uma mensagem moral, digamos contrária às guerras,
o fato da letra falar de paz, o faz ser melhor enquanto obra de arte?
E mais, seria possível chegar a um consenso sobre a beleza de uma
música assim, ou somente esse critério não é suficiente para julgarmos seu
valor?
Se pensadores como Tólstoi e outros tem razão, deveríamos valorizar
filmes, músicas e obras em geral que tenham uma “mensagem positiva” e que
tenham uma função “formadora”, desse modo, obras com o único propósito de
divertir e entreter, não teriam qualquer valor estético.
Alguns argumentos possíveis são:
Argumento 1:
Premissa 1: Toda obra de arte deve transmitir uma mensagem de valor moral
elevada para ser considerada uma boa obra de arte.
Premissa 2: A obra de arte X não possui uma mensagem de valor moral
elevada.
Conclusão: A obra de arte X não pode ser considerada uma boa obra de arte.
Argumento 2:
Premissa1: Valores morais elevados são aqueles que elevam o espirito
humano.
Premissa 2: A mensagem de Paz eleva o espirito humano.
Conclusão: A mensagem de Paz é um valor moral elevado.
Mas será que todos concordariam sobre o que seriam os valores morais
que as artes deveriam transmitir?
Investigação textual:
Texto 1: A relação entre arte e moral.
(Excerto de GABELLIERI, Paula. A relação entre arte e moral: o moralismo moderado de Nöel Carroll.
2010 p.9-10).
A relação entre arte e moral é uma discussão antiga. Muitos filósofos consideraram que a arte
desempenha um papel privilegiado no acesso às nossas emoções e que, por isso mesmo,
desempenha uma importante função moral.
óteles valorizava a arte precisamente por esta nos ensinar a controlar as nossas emoções e
isso ter um efeito positivo nos nossos comportamentos. A tragédia suscita emoções como a
piedade e o medo educando o espectador, libertando-o de uma pressão emocional negativa.
Neste sentido, todo o espectáculo, assim como a caracterização do herói trágico, são
pensados a partir de referências morais que permitem envolver o espectador num processo
psicológico de catarse, essencial a uma educação emocional. Aristóteles é bem claro no
primado que atribui à acção como finalidade da tragédia. Mais do que qualidades de carácter,
as personagens imitam acções verosímeis e a boa ou má fortuna destes depende
exclusivamente das acções praticadas. Acção que desperta em nós certos sentimentos, e tal é
possível porque o espectáculo é elaborado segundo a verosimilhança e necessidade
adequada aos sentimentos humanos. É por isso que o herói trágico tem de ser uma pessoa
semelhante a nós, com respeito pela virtude, que passa de afortunado a desafortunado. Por
outro lado, a sua má sorte tem de resultar de um erro, de um equívoco. Só esta combinação
poderá produzir o efeito desejado pela tragédia e esta cumprir a sua finalidade.
Na Crítica da Faculdade do Juízo Kant procurou fazer uma ponte entre a Crítica da Razão
Pura e Crítica da Razão Prática. Ao querer conciliar dois campos aparentemente
inconciliáveis, Kant abriu-nos um ―novo mundo‖ e um novo olhar sobre nós próprios. O
mundo do conhecimento, da natureza do qual impera uma necessidade e rigidez que exclui a
liberdade, e, por outro lado, o mundo da vontade moral, da liberdade são, afinal, conciliáveis.
É através do momento estético e da actividade judicativa acerca da beleza e do sublime que
se estabelece a conciliação.
Esta tarefa levada a cabo por Kant na Crítica da Faculdade do Juízo permite-nos compreender
a sua filosofia como um sistema unificador, ajudando-nos a compreender todos os dualismos
existentes nas outras críticas, alargando a nossa compreensão do homem e da natureza. A
atitude estética permite-nos compreender um sujeito que, para além de conhecer e de agir,
sente e é nessa capacidade de sentir que o homem consegue realizar melhor a sua
Humanidade.
Já Platão, no Livro X da República, reconhecendo o poder da arte em lidar com as emoções,
censura-a, considerando-a uma perigosa manifestação de irracionalidade que através da
manipulação das emoções pode constituir um obstáculo ao conhecimento da Verdade e do
Bem. O domínio da arte é o da imitação e não o da Verdade. Neste sentido, Platão retira
qualquer valor cognitivo e moral à arte, atribuindo-lhe um papel negativo na formação dos
cidadãos.
Independentemente do valor atribuído à Arte, o que parece evidente é a pertinência de pensar
numa relação mais ou menos íntima entre a arte e moralidade, quer na compreensão do
processo artístico, quer na concepção das obras de arte.
Texto 2: Arte e valor
(Excerto de Robinson, Jenefer, Problemas da estética, Crítica na rede.
Disponível em http://criticanarede.com/problemasdaestetica.html, acesso em
24/03/2015).
As perspectivas sobre o valor da arte variam dependendo do que se entende que são as
características essenciais da arte (Budd 1995). Para os formalistas, o valor da arte é com toda
a probabilidade puramente estético: consiste em fornecer prazer estético ou emoção estética
(Bell 1914). Os defensores da teoria da expressão valorizam as artes porque estas podem
articular as emoções do artista (Collingwood 1938, Dewey 1934) ou comunicar emoções de
uma pessoa para outra (Tolstoi 1960). As teorias cognitivas da arte que sublinham o
significado e interpretação das obras de arte sublinham os valores cognitivos da arte, a sua
capacidade para melhorar a nossa agnição perceptiva e emocional do mundo (Goodman
1976, Langer 1953). Destes tipos de valor, o valor estético parece um valor genuinamente
intrínseco e um valor intrínseco da arte. Uma compreensão mais alargada e uma melhor
comunicação entre as pessoas são sem dúvida também valores intrínsecos, mas não são
exclusivos da arte. Em contraste, as teorias da arte que a definem em termos do seu contexto
cultural ou das instituições que a rodeiam não parecem explicar por que razão a arte tem
valor.
Um problema que tem sido muito discutido conduz-nos de volta ao séc. XVIII e às origens da
teoria estética. A questão é saber se o valor estético das artes inclui outros géneros de valor.
Na sua maior parte, os pensadores da área rejeitaram a ideia de que o valor monetário tem
qualquer relação com o valor estético, distinguindo também a maior parte deles o valor
estético de uma obra de arte do seu valor como documento histórico ou arqueológico. Mas
não há um consenso claro sobre se o valor da arte inclui o valor moral, ou se devemos manter
uma divisão nítida entre os domínios do moral e do estético (Lamarque e Olsen 1994, Gaut
1998). Quem pensa que as obras de arte são primariamente concebidas para fornecer
experiências estéticas (Beardsley 1958, Iseminger 2004), tem maior probabilidade de pensar
que o valor moral é irrelevante para o valor estético. Mas para quem pensa que as artes são
repositórios ricos de valores de todos os géneros, incluindo valores cognitivos e emocionais
(Goldman 1995), o valor moral será apenas uma fonte mais de valor artístico numa obra.
Prática:
Debate:
Tema: A boa arte deve ter uma mensagem moral.
Avaliação:
1- Você concorda com o critério de arte como algo que transmite um
valor moral? Justifique.
2- Qual o argumento de Tóltoi para seu critério de arte?
3- De acordo com o texto 1, porque Platão censura as emoções na
arte?
4- Em grupos ou individual, pesquise obras de arte que tem uma função
moral e a explique para a sala em um seminário.
Referências:
GABELLIERI, Paula. A relação entre arte e moral: o moralismo
moderado de Nöel Carroll. (dissertação de mestrado) 2010.
Barros, Fernando R. de Moraes, Estética filosófica para o ensino
médio. Belo horizonte: Auténtica editora, 2012.
Baggini, Julian, Stamgroom, Jeremy, Você pensa o que acha que
pensa? Rio de Janeiro : Zahar,2010.
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